A ausência de três quartos das 40
empresas esperadas pelo governo - entre elas 5 das maiores companhias
internacionais - na disputa do primeiro leilão do pré-sal dá a dimensão da
frustração das autoridades do setor, que, porém, evitam falar em fracasso. Para
quem acompanha a lenta evolução do processo de licitação do petróleo do
pré-sal, no entanto, seria surpreendente se todas, incluindo gigantes como as
americanas Exxon Mobil e Chevron, as britânicas BP e BG e a norueguesa Statoil,
tivessem se habilitado para disputar a área. Era sabido que o excessivo poder
concedido ao governo na definição dos programas de exploração da área e os
altos investimentos necessários poderiam afastar muitas empresas da disputa.
O Campo de Libra, na Bacia de Santos,
a ser leiloado no dia 21 de outubro, foi apresentado como a maior área de
petróleo já oferecida no mundo. O campo tem reserva estimada entre 8 bilhões e
12 bilhões de barris. Isso quer dizer que, sozinho, ele pode fazer as reservas
provadas do País, de 15 bilhões de barris, aumentarem de 53% a 80%.
Mesmo com todo o potencial de Libra,
no entanto, o leilão não foi considerado interessante por 29 empresas
habilitadas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) para operar em águas profundas. Apenas 11 das registradas na ANP, sendo 6
estatais, pagaram R$ 2 milhões para se inscrever no leilão. Entre as que se
habilitaram estão gigantes privadas como a anglo-holandesa Shell e a francesa
Total. Não é certo, porém, que todas ofereçam lances.
Entre o anúncio da descoberta do
petróleo do pré-sal e a definição do marco regulatório para essas áreas, o
governo consumiu seis anos. As regras, mesmo tendo demorado tanto para serem
elaboradas, criaram muitas incertezas, sobretudo quanto à rentabilidade do empreendimento
e aos limites para a interferência estatal. O alto volume dos investimentos
necessários agravou as dúvidas das empresas privadas.
Segundo algumas informações, até
dentro do governo se admite que o valor do bônus de assinatura, de R$ 15
bilhões, a ser pago à vista pela empresa vencedora na assinatura do contrato,
limitou o número de participantes. A própria Petrobrás - que, qualquer que seja
o resultado do leilão, terá um papel decisivo na exploração do pré-sal, como
empresa operadora e sócia do grupo vencedor com 30% de seu capital - admitiu
que não tinha condições financeiras para fazer esse pagamento. O bônus estava
fixado inicialmente em R$ 10 bilhões, mas, com as crescentes dificuldades de
caixa do governo, foi elevado para o valor atual. É dinheiro necessário para o
governo cumprir a meta de superávit fiscal.
O regime de partilha definido para o
pré-sal, pelo qual a proposta vencedora será a que oferecer ao governo a maior
parcela do óleo excedente (isto é, descontados os custos de extração), dificulta
o cálculo da taxa de retorno do empreendimento. Trata-se de um cálculo
indispensável a qualquer plano de investimento, e vital para um empreendimento
tão vultoso e de longo prazo de maturação, como o de exploração do pré-sal.
A forte presença da Petrobrás, como
operadora e sócia, também pode ter afugentado empresas privadas cujos critérios
de aferição de eficiência, rentabilidade e produtividade podem ser mais
rigorosos do que os da estatal brasileira.
Deve ter assustado ainda mais as
petrolíferas privadas o poder de interferência estatal, por meio da
recém-criada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A.
- Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que, mesmo sem participação no capital do
consórcio vencedor, tem poder de veto no seu comitê operacional.
Se não bastassem esses obstáculos
criados pelo próprio governo brasileiro, outros surgiram com as mudanças no
mercado mundial de energia. O longo período de cinco anos sem leilões de novos
campos de petróleo no Brasil levou algumas empresas a desmobilizar suas
estruturas no País e a buscar alternativas em outros. Nesse período, a
descoberta de grandes reservas de gás de xisto nos Estados Unidos forçou a
revisão das estimativas de demanda mundial de petróleo.
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Gigantes Exxon, BP e BG não
participarão do leilão do pré-sal
Onze empresas vão participar do 1º
leilão do pré-sal, número bem abaixo das expectativas da ANP
RIO - A diretora-geral da Agência
Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), Magda
Chambriard, afirmou nesta quinta-feira, 19, ter recebido telefonema de três
gigantes do setor petroleiro, Exxon Mobil, BP e BG, dizendo que não
participarão do leilão de Libra, o 1º do pré-sal e o
campo com a maior reserva. A disputa está marcada para dia 21 de outubro.
Segundo ela, as companhias disseram
que não participariam por questões próprias internas muito específicas, mas as
três reafirmaram interesse em futuras oportunidades no Brasil. "Existe um
contexto mundial, situações muito específicas que levam a isso", disse.
A agência informou que o número
oficial de empresas inscritas para o leilão chegou a onze. Elas pagaram a taxa
de R$ 2,076 milhões de inscrição. Os documentos enviados pelas candidatas estão
em análise na Área de Licitações da ANP e ainda não é certo que a lista nominal
das empresas será divulgada nesta quinta.
Magda disse nesta quinta-feira que
esperava que até 40 empresas participassem da disputa, mas que a
"conjuntura" fez com que o número fosse menor. "Esperava 40
empresas, mas agora existe um contexto mundial de situações muito específicas
de cada empresa que levam a essa situação", afirmou.
A ANP estimou que as reservas
recuperáveis no prospecto de Libra poderão atingir entre 8 e 12 bilhões de
barris, o que faria da área a maior do país, superando Tupi, com volumes que
foram estimados em 2007 entre 5 a 8 bilhões de barris de óleo equivalente.
Uma fonte com conhecimento direto do
processo disse à Reuters que a Shell, e as chinesas Sinopec,
Sinochem e China National Petroleum Corp (CNPC) haviam pago a taxa de pouco
mais de R$ 2 milhões que dá direito a participar do certame.
A fonte afirmou que não houve
pagamento por parte da Chevron, a segunda petroleira dos Estados Unidos, e de
nenhuma outra norte-americana.
A Chevron, durante a tarde, confirmou
que ficaria de fora do leilão.
Uma segunda fonte, próxima à Shell,
disse que o fato de a companhia ter pago a taxa não significa necessariamente
que ela fará lances no leilão.
Uma certeza entra as ofertantes é a
Petrobrás, que será operadora obrigatória da área de Libra e deverá ter, por
lei, pelo menos 30% de participação em qualquer consórcio vencedor.
A assessoria de imprensa da ANP
corrigiu uma informação passada mais cedo pela diretora-geral da autarquia, que
chegou a dizer que haviam sido registrados os pagamentos de pelo menos 12
empresas.
Adesão baixa é surpresa. O número reduzido de
participantes também surpreendeu um consultor e ex-diretor da Petrobrás.
"É uma surpresa. A área (de Libra) é extremamente promissora, e não tem
oportunidades no mundo (em exploração de petróleo) como áreas do pré-sal
brasileiro", afirmou Paulo Roberto Costa, da Costa Global Consultoria.
Ele também se disse surpreso com o
fato de companhias como Exxon, BP e BG não terem pago a taxa de participação no
leilão, o que as exclui do processo.
"É uma coisa a ser pensada sobre
o motivo de isso ter acontecido", disse ele, referindo-se ao número
relativamente limitado de companhias.
Questionado sobre os motivos da baixa
adesão, ele avaliou que isso poderia ter relação com o fato de a lei determinar
a Petrobrás como operadora única, com no mínimo 30 por cento de participação na
reserva.
"Pode ser que isso tenha
afugentado as empresas... Talvez, se tivesse uma abertura para a Petrobrás não
ser a operadora...", afirmou ele, indicando que as petroleiras poderiam
ter mais autonomia para operar, não fosse a dominância da estatal exigida pela
lei. "Esperava um numero bem maior pela potencialidade de Libra, isso é
fato."
(Agência Estado e Reuters)
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