O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador livros. Mostrar todas as postagens

domingo, 25 de dezembro de 2016

Retratos sul-americanos: um empreendimento exemplar, em 4 volumes

Tive o privilégio, a chance e a honra de participar de todos os quatro volumes publicados de ensaios diversos sobre a América do Sul, sob a iniciativa de Elisa Sousa Ribeiro Pinchemel e Camilo Negri, agora com todos os livros disponíveis em formato digital.
Basta clicar aqui ou acessar a página  https://brasilia.academia.edu/ElisaRibeiroPinchemel. É necessário se inscrever gratuitamente no site para completar os downloads e receber automaticamente outras publicações de temas do seu interesse, caso deseje.
Reproduzo abaixo das chamadas para os 4 volumes, os índices de cada um deles.
Paulo Roberto de Almeida


BOOKS

COORDENADORES:
CAMILO NEGRI
ELISA DE SOUSA RIBEIRO

VOLUME I

A AMÉRICA LATINA NA ORDEM ECONÔMICA MUNDIAL, DE 1914 A 2014
Paulo Roberto de Almeida

AS ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PARA A AMÉRICA LATINA
Sonia Ranincheski e Henrique Carlos de Oliveira de Castro

“CLÁUSULAS DEMOCRÁTICAS” E TRANSCONSTITUCIONALISMO NA AMÉRICA DO SUL: UMA ANÁLISE BASEADA NA RUPTURA INSTITUCIONAL NO PARAGUAI
Carina Rodrigues de Araújo Calabria e Felipe Neves Caetano Ribeiro

O DESAFIO ESTÁ LANÇADO: O BRASIL EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA SUL-AMERICANA (2000-2010)
Helen Miranda Nunes

PARADIGMAS DA ATUAÇÃO BRASILEIRA NO MERCOSUL
Elisa de Sousa Ribeiro e Felipe Pinchemel

RECOMPENSA, HONRA, SUBMISSÃO: VERSÕES DA ENTRADA DO BRASIL NA SOCIEDADE DAS NAÇÕES
Mariana Yokoya Simoni

DA HESITAÇÃO À AFIRMAÇÃO: A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PARA A REGIÃO PLATINA NA 2ª CHANCELARIA DE PAULINO JOSÉ SOARES DE SOUZA (1849-1853)
Hugo Freitas Peres

A INTERVENÇÃO BRASILEIRA DE 1851 NO URUGUAI: CONDICIONANTES, OBJETIVOS E RESULTADOS
Rafael Braga Veloso Pacheco

INTEGRAÇÃO E DIREITO AO DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA DO SUL
Alex Ian Psarski Cabral e Cristiane Helena de Paula Lima Cabral


VOLUME II

A GRANDE DIVERGÊNCIA NA ECONOMIA MUNDIAL E A AMÉRICA LATINA (1890-1940)
Paulo Roberto de Almeida

MEDIAÇÃO BRASILEIRA EM CONFLITOS SUL-AMERICANOS NA DÉCADA DE 1930: A QUESTÃO DE LETÍCIA E A GUERRA DO CHACO
Vinícius Fox Drummond Cançado Trindade

OS PROJETOS SUL-AMERICANOS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL: A “IMPLOSÃO” DO PROJETO DA ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS E AS ALTERNATIVAS EM CONSTRUÇÃO
Marco Antônio Alcântara Nascimento

A DIFÍCIL ARTE DE ENTENDER O QUE O OUTRO QUER DIZER
Luiz Eduardo Abreu

ENTRAVES CONSTITUCIONAIS BRASILEIROS A UMA INTEGRAÇÃO REGIONAL
Carolina Nogueira Lannes Gonçalves

DEZ ANOS DE CRIAÇÃO DO PARLAMENTO DO MERCOSUL: HÁ ALGO QUE COMEMORAR COM A PARTICIPAÇÃO SOCIAL MERCOSULINA?
Alex Ian Psarski Cabral e Cristiane Helena de Paula Lima Cabral

INTEGRAÇÃO REGIONAL E SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS: ADEQUAÇÃO ENTRE MEIOS E FINS
Patrícia Cristina Orlando Villalba

TELEVISÃO, DOMINANTES CULTURAIS E DISCURSOS HEGEMÔNICOS NA CONSTRUÇÃO DA BRASILIDADE E DA ARGENTINIDADE EM PERSPECTIVA COMPARADA
Li-Chang Shuen

PRIVATIZAÇÃO DA VIDA URBANA E RESTRIÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO NAS METRÓPOLES LATINO-AMERICANAS
Rafael de Aguiar Arantes


VOLUME III

MIGRAÇÃO INTERNACIONAL, REFÚGIO E TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS NA AMÉRICA DO SUL: ESCLARECENDO, CONTABILIZANDO(!), DESCORTINANDO E PROTEGENDO
Alline Pedra Jorge Birol

RETRATOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS SOBRE OS DIFERENTES PARADIGMAS APLICADOS NA FAIXA DE FRONTEIRA DO BRASIL (1872-2010)
Eloisa Maieski Antunes

AMAZÔNIA: UMA ANÁLISE SOBRE A SOBERANIA E A DEFESA ESTRATÉGICA DO ESTADO BRASILEIRO
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha e Romeu Costa Ribeiro Bastos

CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS, 1824-1946
Paulo Roberto de Almeida

O PRIMEIRO EMBAIXADOR, À SOMBRA DO BARÃO
Luigi Bonafé

AS CENTRAIS SINDICAIS NO MERCOSUL: ENTRE UM COLABORACIONISMO CRÍTICO E UMA CRÍTICA COLABORACIONISTA
Paulo Afonso Velasco Júnior

O PAÍS DE ORIGEM DE UMA EMPRESA MULTINACIONAL IMPORTA? LÓGICAS
INSTITUCIONAIS EM CONFLITO E EM COOPERAÇÃO NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
Annie Lamontagne

ANOTAÇÕES SOBRE OS INSTITUTOS DO MATCHING CREDIT E TAX SPARING NOS ACORDOS INTERNACIONAIS
Patrícia Cristina Orlando Villalba


VOLUME IV

TOCQUEVILLE REVÊ A AGRURAS DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA DO SUL
Paulo Roberto de Almeida

O PAPEL DA UNASUL NO DESENVOLVIMENTO DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA: A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA CLAÚSULA DEMOCRÁTICA
Diaulas Costa Ribeiro e Júlio Edstron S. Santos

A ESTRUTURA DE OPORTUNIDADE POLÍTICA E CULTURAL: A CRIAÇÃO DA REDE BRASILEIRA DE INTEGRAÇÃO DOS POVOS (REBRIP)
Edélcio Vigna

A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS COMO FONTE DE INTEGRAÇÃO DOS ESTADOS SUL-AMERICANOS: OS CASOS DE DECLARAÇÃO DE INCONVENCIONALIDADE DAS LEIS DE AUTOANISTIA NOS PAÍSES DO CONE SUL
Liziane Angelotti Meira, Júlio Edstron S. Santos e Hadassah Laís de Sousa Santana

ELEMENTOS DE CONTINUIDADE E RUPTURA DA POLÍTICA EXTERIOR VENEZUELANA: DO PUNTOFIJISMO AO CHAVISMO
Carolina Silva Pedroso

A COOPERAÇÃO ENTRE O BRASIL E A UNIÃO EUROPEIA: UMA ABORDAGEM A PARTIR DA ARGUMENTAÇÃO DE MORAVCSIK
Almeida Falcão e Lucas Ribeiro Guimarães

ESTRATÉGIAS DE COOPERAÇÃO SUL-SUL: A EXPERIÊNCIA DO BRASIL COM A GUINÉ BISSAU
Maria do Carmo Rebouças dos Santos, Richard Santos e Umberto Euzebio

A REFORMA POLÍTICA BRASILEIRA DE 2015 SOB AS ÓTICAS DO NEO-INSTITUCIONALISMO
Robson Rael

A EXPORTAÇÃO DE CARNE BRASILEIRA PARA OS MERCADOS KOSHER E HALAL APÓS O PLANO REAL
Bruno Henrique Faria Cabral

CONSTRUCCIÓN HISTÓRICA DEL ESTRUCTURALISMO LATINOAMERICANO
Laura Emilse Brizuela

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Secao Brasil da LASA abre inscricoes para premios: melhores livros, teses, artigos (até 17/02/2017)

Atenção membros da Seção Brasil da Latin American Studies Association:

Please do not reply to this email address. For questions, please contact the Section Chairs: Tracy Devine Guzmán (tdguzman@miami.edu) and Joseph Marques (joseph.marques@graduateinstitute.ch)

​Happy Holidays & Boas Festas!

BRAZIL SECTION AWARDS -- CALL FOR SUBMISSIONS

The Brazil Section at LASA invites members to submit scholarly work for annual prizes in Brazilian Studies. Submissions in Portuguese, English, or Spanish will be considered in the following categories: a) best book; b) best article; c) best doctoral thesis.

In all cases, the Brazil Section award committees shall recognize innovative, rigorous, and well-crafted scholarship that contributes significantly to our understanding of Brazil, past and/or present.

Monographs and articles published in the 2016 calendar year are eligible. The same applies to Ph.D. dissertations, which must have been​ approved in 2016. 

All members of the Brazil Section are eligible to submit their work. 

Submission Deadline: February 1, 2017

a. D​octoral theses. Please submit electronically to:

Thomas J. Vicino (Chair) (t.vicino@northeastern.edu)
Tereza Albuquerque (campitele@terra.com.br)
Fabrício H. Chagas Bastos (fchagasbastos@gmail.com)
   
​Doctoral theses​ should include the front​ page with signatures of professors / supervisors / committee members and the approval date (2016).

b. Published articles. Please submit electronically to:

​Joseph Marques (Chair) (joseph.marques@graduateinstitute.ch)
Paulo Ferreira (pauloraferreira@hotmail.com)
Alvaro Jarrin (ajarrin@holycross.edu)
Darien Lamen (darien.lamen@gmail.com)
Gislene Aparecida dos Anjos (gislene@usp.br

c.  Scholarly books. Please submit one copy of the volume to each committee member:

Tracy Devine Guzmán (Chair)
University of Miami
Merrick Building 210-03
P.O. Box 248093
Coral Gables, FL 33124
​ ​
Angela Alonso
Rua Boquim, 693
Vila Ida – São Paulo
São Paulo, Brasil 05454-001

Jeffrey Hoelle
Department of Anthropology
University of California
Santa Barbara, CA 93106-3210

Adam Joseph Shellhorse
Department of Spanish and Portuguese
Temple University
Anderson Hall, 4th Floor
1114 W. Polett Walk
Philadelphia, PA 19122-6090

In all cases, please add to your submission your complete address, institutional affiliation, phone number, and e-mail address.

Please note:

a.  If your submission does not reach the respective committee by the deadline (Feb 1) we will not be able to consider it for an award.

b. If your membership to the Brazil Section cannot be confirmed, we will not be able to consider your work for an award.

Multidisciplinary committees will evaluate all submissions. We are unable to return articles, books, or Ph.D. Winners will be announced in advance of the Brazil Section meeting at the 2017 LASA conference in Lima.

**********************************************************************

 **********************************************************************

PRÊMIOS da SEÇÃO BRASIL - Chamada de Trabalhos

A Seção Brasil da LASA convida todos os membros a apresentar sua produção acadêmica para os prêmios anuais. Submissões em português, inglês e espanhol serão consideradas nas seguintes categorias: a) melhor livro; b) melhor artigo; c) melhor tese de doutorado.

Em todos os casos, as comissões julgadoras reconhecerão produções acadêmicas baseadas em pesquisa inovadora e rigorosa, e que contribua de maneira significante à nossa compreensão do Brasil, passado ​​e/ou presente. Livros e artigos publicados em 2016 são elegíveis. Teses de doutorado devem ter sido aprovadas em 2016.

Todos os membros da Seção Brasil são elegíveis para apresentar seu trabalho.


Submissões:  Prazo - 1 de Fevereiro de 2016

a. Teses doutorais - por favor, envie eletronicamente a:
Thomas J. Vicino (Chair) (t.vicino@northeastern.edu)
Tereza Albuquerque (campitele@terra.com.br)
Fabrício H. Chagas Bastos (fchagasbastos@gmail.com)

A tese deve incluir a página frontal com as assinaturas dos professores / orientadores / membros da comissão de defesa e a data de aprovação (2016).

b. Artigos publicados -  por favor enviar eletronicamente a:
Joseph Marques (Chair) (joseph.marques@graduateinstitute.ch)
Paulo Ferreira (pauloraferreira@hotmail.com)
Alvaro Jarrin (ajarrin@holycross.edu)
Darien Lamen (darien.lamen@gmail.com)
Gislene Aparecida dos Anjos (gislene@usp.br)

Indique claramente o título da revista e a data de publicação.

c. Livros. Por favor, envie uma cópia a cada membro do comitê:
Tracy Devine Guzmán (Chair)
University of Miami
Merrick Building 212
P. O. Box 248093
Coral Gables, FL 33124

Angela Alonso
Rua Boquim, 693
Vila Ida – São Paulo
São Paulo, Brasil 05454-001

Jeffrey Hoelle
Department of Anthropology
University of California
Santa Barbara, CA
93106-3210

Adam Joseph Shellhorse
Department of Spanish and Portuguese
Temple University
Anderson Hall, 4th Floor
1114 W. Polett Walk
Philadelphia, PA 19122-6090

Em todos os casos, por favor, adicione à sua submissão seu endereço completo, filiação institucional, número de telefone, e endereço de e-mail.

Observe:
a. Se a submissão não chegar à comissão até o prazo (1 de Fevereiro), não poderemos considerar o trabalho.
b. Se a adesão do autor à Seção Brasil não pode ser confirmada, não poderemos considerar o trabalho.

Todas as submissões serão avaliadas por comissões multidisciplinares. Não podemos devolver cópias dos artigos, livros ou teses doutorais. Os autores premiados serão informados antes do congresso da LASA em Lima.
--
You received this message because you are subscribed to the Google Groups "LASA - Brazil Section" group.
To unsubscribe from this group and stop receiving emails from it, send an email to lasa-brazil+unsubscribe@googlegroups.com.
For more options, visit https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Memorial Organico de Varnhagen (1849-50), republicado pela Funag: Introducao do Prof. Arno Wehling

Com longa introdução, revisão de texto e extensivas notas do presidente do IHGB, Prof. Arno Wehling, a Funag acaba de publicar este importante livro de um "geopolítico" esquecido do século XIX:

Francisco Adolfo de Varnagen:
Memorial Orgânico (uma proposta para o Brasil em meados do século XIX)
Com ensaios introdutórios de Arno  Wehling
Brasília: Funag, 2016, 228 p.; ISBN: 978-85-7631-631-2.


SUMÁRIO
Apresentação
        Sérgio Eduardo Moreira Lima
Introdução: Varnhagen história, diplomacia e um projeto para o Brasil
I. A Trajetória: o historiador diplomata e o diplomata historiador
II. O conservadorismo reformador de um liberal: Varnhagen, publicista e pensador político
   Arno Wehling
Memorial Orgânico
  Francisco Adolfo de Varnhagen 

Ele complementa este livro já publicado anteriormente: 
 
SUMÁRIO
Introdução
      Sérgio E. Moreira Lima
Integridade e integração nacional: duas ideias-força de Varnhagen           Arno Wehling
Varnhagen: A formação do Brasil vista de “fora” e de “dentro
   Luiz Felipe de Seixas Corrêa
A geração de Varnhagen e a definição do espaço brasileiro
   Synesio Sampaio Goes Filho
Varnhagen: O inventor de Brasília
   Carlos Henrique Cardim
O pensamento estratégico de Varnhagen: contexto e atualidade
   Paulo Roberto de Almeida
Varnhagen e a América do Sul
   Luis Cláudio Villafañe Gomes Santos
 

sábado, 8 de outubro de 2016

Mini-reflexão sobre o significado da satisfação intelectual como objetivo de vida

O prazer intelectual como objetivo de vida

Paulo Roberto de Almeida
 [Mini-reflexão sobre minhas preferências em matéria de hobby e conduta.] 

Eu venho de uma família bem mais pobre do que a condição social de grande parte dos brasileiros da atualidade: meus pais não tinham sequer primário completo, sem qualquer profissão definida, pois meu pai era motorista e minha mãe lavava roupa para fora para o sustento da família. Eu também passei a trabalhar desde muito cedo na vida. A grande diferença em minha vida e formação foi a de que eu residia próximo a uma biblioteca infantil, que comecei a frequentar ainda antes de aprender a ler. Foi o que me permitiu ascender na vida por meus próprios esforços, estudando em escola pública e trabalhando desde criança, e por isso mesmo estudando de noite, lendo no ônibus ou em qualquer lugar. Eu me fiz por minhas leituras e por meu trabalho, mas nunca pensei em ganhar dinheiro ou ficar rico, e sim em ter prazer intelectual pela leitura, e através do estudo, que resumem todos os meus objetivos de vida.
O que se puder fazer para estimular o gosto, e mesmo a necessidade da leitura, constante, regular, intensa, dos bons livros, nos jovens, nos nossos filhos e netos, é um empreendimento meritório em si, e digno de ser levado adiante, em quaisquer circunstâncias, em qualquer tempo e lugar. Não tenho nenhuma outra recomendação a fazer senão esta, muito simples na verdade: o estímulo ao estudo, à leitura, a reflexão própria, a produção intelectual, a promoção do saber, pelo saber em si, não necessariamente por qualquer outro objetivo. 
Ajudou-me, nessa trajetória individual de ascensão social, que pode ser considerada exitosa -- uma vez que hoje faço parte de um grupo considerado de elite dentro do funcionalismo público, o dos diplomatas -- justamente o fato de ter podido, por mérito e esforço próprios, ingressar por concurso, ou por seleção pelo talento, a profissões, na academia e na diplomacia, que me são amplamente gratificantes, no plano puramente intelectual, do ponto de vista do que mais prezo na vida, e que nunca foi o dinheiro, a riqueza ou o conforto material, e sim o prazer intelectual, a satisfação espiritual, a realização pessoal, que é a de viver num mundo de livros, de saber, de conhecimento, para mim, se possível ajudando outros a ter o mesmo tipo de perspectiva na vida.
Contribuiu também enormemente para isso o fato de ter encontrado alguém, Carmen Lícia, minha mulher, que também mantém, e exerce intensamente, o mesmo gosto pela leitura, pelas viagens, pelas descobertas intelectuais, pelo prazer de ter conhecimento das coisas. Fui gratificado por essa circunstância, que se não é excepcional, no sentido de ser exclusiva, constitui pelo menos uma condição essencial para uma vida de satisfação intelectual.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de outubro de 2016

PS.: Se, um dia, eu resolver escrever minhas memórias (eu não tenho muito o que contar no plano das atividades públicas), elas serão basicamente intelectuais, ou seja, falando de livros, de ideias, de teorias, de conhecimento, e das ideologias, das falsas ideias e dos equívocos conceituais que muito fizeram por afundar o Brasil (e boa parte da América Latina), nestas décadas e décadas de frustração com a roubalheira, a incompetência, o atraso, a desigualdade, a miséria intelectual de nosso continente.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Socorro! Ajudem a esquerda! Sem as boquinhas e a corrupcao, ela vai definhar: liquidando livros

Poxa vida, sem estas liquidações, a vida vai ficar muito difícil para o pessoalzinho do PCdoB, que está perdendo todas as boquinhas no governo federal, e todas aquelas possibilidades de concorrências fraudadas, licitações pré-arranjadas, compras super-faturadas em nome de órgãos públicos, só está sobrando mesmo a grande boca da UNE.
Pessoal, que vai deixar de conhecer a vida patriótica de Maurício Grabois, de Pedro Pomar, e de tantos herois das lutas proletárias, como Lênin (coração e mente), descontos atraentes.
Pelamô de deus, comprem...
Paulo Roberto de Almeida



Promoções Editora Anita Garibaldi

Maurício Grabois - uma vida de combates
Biografias
De R$ 50,00
Por R$ 30,00

Pedro Pomar - Ideias e Batalhas
Biografias
De R$ 50,00
Por R$ 30,00

Lenin - Coração e Mente
Socialismo e Marxismo
De R$ 15,00
Por R$ 12,75

Racismo à Brasileira - Raízes Históricas
Brasil
De R$ 55,00
Por R$ 33,00

A ESQUERDA AUSENTE
Livros
R$ 45,00

Repensando o marxismo
Socialismo
R$ 25,00

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Visita do Professor A. A. Cancado Trindade, juiz da CIJ, a Funag-IPRI (8/09/2016)


Visita do Professor Cançado Trindade, juiz da CIJ, à Funag-IPRI

Paulo Roberto de Almeida
 [Registro da visita de AACT à Funag, livros publicados]

No dia 8 de setembro, realizou visita de cortesia ao presidente da Funag, embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, e também ao Diretor do IPRI, ministro Paulo Roberto de Almeida, o eminente juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ), na Haia, professor Antônio Augusto Cançado Trindade, ex-Consultor Jurídico do Itamaraty (1985-1990) e ex-juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CtIADH). O prof. Cançado Trindade veio ao Brasil para proferir a aula inaugural no V Curso Brasileiro Interdisciplinar em Direitos Humanos, realizado recentemente na Universidade de Fortaleza (Ceará), sob a organização conjunta do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos (IBDH) e do Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH).

Na ocasião, o prof. Cançado Trindade ofereceu ao presidente da Funag e ao Diretor do IPRI o seu livro mais recente, preparado especialmente para o V curso sobre direitos humanos: A visão humanista das missão dos tribunais internacionais contemporâneos (Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016), reunindo, em oito partes, suas reflexões de uma década inteira dedicada ao estudo dos grandes temas do direito internacional, com os quais possui maiores afinidades intelectuais, resultado de conferências e aulas magnas, mas também de sua atuação jurisdicional nas duas cortes referidas. 

Apresentou, ao mesmo tempo, dois outros livros recentemente publicados, que cobrem aspectos diversos, e complementares, das mesmas pesquisas, apresentações e atividades práticas naquelas cortes, em muitos institutos da mesma área e em grandes universidades, várias das quais, aliás, já lhe agraciaram com onze doutorados honoris causae: The access of individuals to international Justice (Oxford University Press, 2011) e The construction of a humanized international Law: a collection of individual opinions , 1991-2013 (Brill Nijhoff, 2014), este último o sexto de uma série especial sobre eminentes juízes que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do direito internacional. 

De partida para a Haia, onde deverá apresentar dois novos votos no âmbito de processos em curso na CIJ, o prof. Trindade prometeu visitar novamente a Funag em futuro próximo, quando poderá proferir uma palestra nos temas de sua especialização, numa intensa atividade sempre voltada para a formação de jusinternacionalistas das novas gerações e contribuindo para reforçar a visão humanista já em consolidação nos tribunais internacionais. Como escreveu ele no prefácio ao livro preparado para o curso de Fortaleza: “Todos os que nos engajamos neste caminho, sabemos que não tem fim: é certo que se têm logrado muitos avanços nos últimos anos, mas ainda resta – e continuará restando – um longo caminho a percorrer.”



[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de setembro de 2016]

terça-feira, 10 de maio de 2016

Paulo Mercadante: uma redescoberta providencial - Olavo de Carvalho

Existem autores que nos marcam a trajetória intelectual, e que no entanto são fugídios.
Paulo Mercadante é um desses. Li o seu livro Consciência Conservadora no Brasil imediatamente após que regressei de um longo exílio na Europa, em 1977, portanto, e confesso que fiquei encantando pelo pensamento do autor.
Nunca mais vi o livro sendo reeditado, e suponho que não tenha sido, pois ele é tão extraordinário, que escapa ao universo mental restrito da nossa intelectualidade.
Agora, um amigo, Ricardo Wagner Roquetti, me faz referência a uma outra obra dele, que eu não conhecia em absoluto: Militares e Civis: a ética e o compromisso (publicado pela Zahar, em ano que ainda não pesquisei). Vou atrás dele.
Mas, ao simplesmente tentar localizar esse livro em algum sebo eletrônico, cai num prefácio do Olavo de Carvalho a um outro livro dele, que eu tampouco conhecia: A Coerência das Incertezas, tal como transcrito abaixo. Apresso-me a registrar essa introdução, que fala muito do Consciência Conservadora, e vou já buscar esses dois outros livros.
Buscar livros inteligentes para ler é o meu esporte favorito, infelizmente nem sempre contemplado devidamente no nosso universo gramscista de academia.
Vamos à luta pessoal, ou seja, aos sebos eletrônicos.
Paulo Roberto de Almeida

Addendum: Eis o que a Wikipedia tem sobre Paulo Mercadante:
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Mercadante
Paulo de Freitas Mercadante (Santa Luzia do Carangola, 23 de julho de 1923 - 20 de maio de 2013), ou simplesmente Paulo Mercadante, foi um jurista eescritor brasileiro.

Obras principais[editar | editar código-fonte]

  • A Consciência Conservadora
  • Tobias Barreto na Cultura Brasileira
  • Tobias Barreto, Estudos Alemães
  • Tobias Barreto, o feiticeiro da tribo
  • Os Sertões do Leste, Estudo de uma região: A Mata Mineira
  • Militares e Civis: a Ética e o Compromisso
  • Crônica de uma Comunidade Cafeeira, Carangola: o vale e o rio
  • A Constituição de 1988, o Avanço do Retrocesso
  • Graciliano Ramos, o Manifesto do Trágico
  • A ideação no direito autoral
  • Estudos de Filosofia
  • Portugal Ano Zero
  • Da Aventura Pioneira, ao Destemor à Travessia, Santa Luzia do Carangola
  • Introdução a Fazendas, solares da Região Cafeeira do Brasil Imperial
Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Agora Olavo de Carvalho:
Texto de 5/11/2000, neste link: http://www.olavodecarvalho.org/textos/pmercadante.htm

Paulo Mercadante e a alma brasileira
Olavo de Carvalho
Introdução de A Coerência das Incertezas. Símbolos e Mitos na Fenomenologia Histórica Luso-Brasileira, publicado pela É Realizações.

Paulo Mercadante destacou-se entre os historiadores brasileiros sobretudo por um de seus primeiros livros, A Consciência Conservadora no Brasil. É obra tão essencial que, até certo ponto, justifica a relativa desatenção com que foram recebidos seus escritos posteriores. Tal é, aliás, o destino de muitos escritores brasileiros, vítimas de estréias felizes que obscurecem toda a sua produção subseqüente. 
Na área do pensamento e das ciências humanas, esse fenômeno é ainda mais marcante. Não lhe escapou nem o próprio Gilberto Freyre, enquadrado para sempre na imagem inicial moldada pelo sucesso de Casa Grande & Senzala.
Não há nisso, aliás, injustiça nenhuma: não se espera nem se exige que um pesquisador, tendo resolvido uma questão central da disciplina que o ocupa, faça novas descobertas mais decisivas em seguida. Mas às vezes ele de fato as faz, como as fez o Gilberto de Sociologia e de Além do Apenas Moderno, e como as faz Paulo Mercadante neste surpreendente e enigmático A Coerência das Incertezas. Quando essas descobertas passam despercebidas pelo público, o escritor, garantido por seu prestígio inicial, nada perde. Quem perde é o público, que, satisfeito com o antigo dom, se esquece de estender a mão para receber o novo.
Mas o que Paulo Mercadante dá aos leitores neste novo livro é ao mesmo tempo algo de precioso e de sutil, que não se entregará facilmente nem mesmo a quem estenda a mão. O que este livro tem a dar não é aquilo que a maioria dos interessados na nossa História está costumeiramente buscando. É a resposta a perguntas que só os mais atentos e os mais finos observadores chegaram a fazer. Os demais, mesmo que passem por aqui, talvez nem cheguem a perceber de que raio de coisa o autor está falando.
Para dar aos leitores uma idéia do que encontrarão nas páginas que se seguem, talvez seja bom voltar um pouco à Consciência Conservadora. O problema de que ali se trata é decerto o mais decisivo na história de qualquer país: o que pensam e por que assim pensam os homens que mandam. No jargão das ciências sociais, é “a ideologia da classe dominante”.     Mas o termo ideologia tem, desde seu inventor, Napoleão Bonaparte, a acepção de um discurso evanescente, ideal, irreal. Segundo Marx, esse véu de irrealidades, Ideenkleid, “vestido de idéias”, encobre a dura realidade da luta econômica. De outro lado, toda ideologia tende a organizar-se em sistema, a racionalizar-se e justificar-se mediante cadeias de argumentos, mobilizando exércitos de intelectuais e de educadores para que façam da cultura e do ensino a ampliação e reprodução desse sistema.
E aí já começavam, para o investigador da ideologia brasiliensis, os problemas cabeludos. De um lado, a nossa classe conservadora era muito pouco inclinada aos discursos e teorizações. Pragmática e imediatista, raramente fazia questão de elaborar justificativas meticulosas para o que fazia, contentando-se em apelar a algum pretexto convincente, para fins do imediato, e em contar com o esquecimento geral, a longo prazo. Assim, essa ideologia não podia ser constatada diretamente em textos e documentos: tinha de ser escavada como que do subconsciente, à maneira daqueles discursos silenciosos que um psicanalista desentranha das condutas mudas que os encobrem. Em segundo lugar, tão logo o conteúdo mais ou menos implícito do pensamento das nossas classes dominantes começava a mostrar-se aos olhos do investigador, não se parecia em nada com um vestido de idéias a encobrir uma realidade, mas bem ao contrário, era de certo modo o traslado mesmo dessa realidade, apreendida da maneira mais simples, direta e chã. A “consciência conservadora” era de fato um pragmatismo, um arranjo oportunista de soluções oportunas. Que esse arranjo, no mais das vezes, se compusesse de ideais teoricamente contraditórios, cuja acomodação resultaria escandalosa do ponto de vista das mentes mais apegadas à coerência discursiva, era coisa que não abalava no mais mínimo que fosse a classe dos senhores, mais interessada em viver do que em filosofar. Mais ainda, a coexistência de valores incompatíveis, longe de ser sinal de irrealismo ou de falta de sensibilidade, era muitas vezes a expressão a mais exata possível do quadro de circunstâncias, a equação certeira das forças econômicas e políticas em jogo. Por exemplo, o Brasil de 1822 não podia abdicar nem das idéias liberais que inspiravam o movimento de independência, absorvidas na Europa pelos filhos da nossa aristocracia que lá iam estudar, nem das bases econômicas, fundamentalmente agrícolas e escravistas, que davam a esses jovens os meios de ir lá estudar e adquirir essas idéias. A solução pragmática foi “conciliar, antes de tudo, a revolução nas relações externas de produção com o escravismo nas relações internas de produção”, “conciliar o instituto da escravatura e o liberalismo econômico”.[1]
Mas em 1822 não se tratava só de uma revolução, e sim da fundação de um país, da busca de um senso de unidade profunda, de um “instinto da nacionalidade”, para usar a expressão consagrada de Machado de Assis. A rebelião anticolonial, para justificar a existência do novo país, recorre ao discurso do romantismo, de Burke, Savigny e Adam Müller, reação conservadora aos excessos da razão iluminista. “Ao invés de considerar a sociedade e o Estado como resultante de relações contratuais, o romantismo os vê como unidade espiritual; prefere as mudanças imperceptíveis que se acumulam silenciosamente, repelindo as transformações violentas provocadas pelas rebeliões; coloca a superioridade dos costumes como sedimentação da consciência jurídica de um povo e em lugar de um Direito Natural comum a todas as épocas e a todas as latitudes estatui que todas as normas de comportamento se vinculam necessária e historicamente a cada nação.” Porém, ao mesmo tempo, o desejo mesmo de dar expressão jurídica à nacionalidade produz a tendência de “realizar-se através de uma unificação apelando para uma superestrutura jurídica que tudo abrangesse e justificasse”. Transplantado para a nação nova e emergente, o primado romântico do costume sobre a lei assume a figura paradoxal de um formalismo jurídico avassalador. Não menos paradoxalmente, os valores liberais eram afirmados como inspiração perfeitamente autêntica e sincera dos próceres da independência e, ao mesmo tempo, neutralizados pela sua absorção no aparato jurídico “que tudo abrangia”: “O próprio liberalismo econômico seria reduzido a preceito de direito público.”[2]
Conceitos como revolução, reação, liberalismo, nacionalismo, etc., foram criados na Europa para refletir as forças em jogo em diferentes fases de uma sucessão histórica, à medida que ela se desenrolava ante os olhos de seus intérpretes. Amoldá-los a uma situação na qual essas forças, sucessivas do outro lado do oceano, apareciam simultâneas e entremescladas, foi a grande realização ideológica das nossas classes conservadoras. Conciliação e adaptação têm sido, desde então, os instrumentos de uma sobrevivência que de outra forma seria inexplicável. Os arranjos e improvisos, requerendo de um lado uma extrema finura psicológica e um senso prático formidável, dificultavam, de outro lado, a elaboração teórica mais demorada, lançando uma névoa geral no campo das idéias ao mesmo tempo que, na prática, as coisas se resolviam de algum modo. Daí a pobreza teórica do nosso conservadorismo e a facilidade pragmática e quase cínica com que, no poder, ele absorve o discurso e os ideais da oposição progressista ou mesmo revolucionária, para realizar, na prática, o que seus inimigos sonharam em teoria.
Ter chegado a essa profundidade na sondagem das raízes da política nacional fez de A Consciência Conservadora no Brasil um clássico da “história das mentalidades”.
Mas, nos trinta e cinco anos que se passaram desde sua publicação, a curiosidade investigativa de Paulo Mercadante não só foi ampliando o horizonte de temas e problemas que interessavam à sua devoção científica (a mentalidade do homem regional, em Os Sertões do Leste; o confronto de duas éticas em Militares e Civis; a influência paralisante das doutrinas comunistas na cultura brasileira, em Graciliano Ramos), mas, graças aos estudos filosóficos a que se dedicou com intensidade crescente ao longo dos anos, foi observando as coisas desde um ponto de vista cada vez mais profundo e mais pessoal. Em A Consciência Conservadora, movíamo-nos ainda num terreno que, malgrado a originalidade do ponto de vista, era ainda o da tradição historiográfica e sociológica brasileira. A partir de um certo ponto da sua carreira, Mercadante desembocou em questões que escapavam formidavelmente ao horizonte de consciência dos nossos cientistas sociais em geral -- limitado por um materialismo e um imediatismo superficial que muito têm a ver com a formação da mentalidade das nossas classes conservadoras -- e abriam um campo totalmente novo de investigações. A partir daí, ironicamente, o investigador se tornou um outsider precisamente no momento em que se viu dotado de seu mais fino instrumental analítico. Por uma infeliz coincidência, isso se deu contemporaneamente à tomada dos meios de comunicação cultural por um movimento político que, na ideologia, é herdeiro direto daquele do qual Mercadante, com toda uma geração de intelectuais de esquerda, se desligou quando da revelação do célebre Relatório Kruschev de 1956, e, na psicologia, é um fruto do irracionalismo sociopático infundido na intelligentzia esquerdista do Terceiro Mundo pela crescente influência da New Age, do ecologismo e da apologia marcusiana do lumpenproletariado.  O pensamento de Mercadante se tornava mais sutil e mais profundo justamente na hora em que a vida intelectual neste país sacrificava tudo no altar do simplismo e se reduzia cada vez mais à obsessiva repetição de slogans e cacoetes. Concomitante ao florescimento geral do imbecil coletivo, a individualização da forma mentis de um grande espírito resultou num isolamento monástico imposto pelas circunstâncias. Seus trabalhos, muitos da mais alta relevância para todos os estudiosos da área, como por exemplo a monumental edição anotada das obras de Tobias Barreto, em dez volumes, passaram a ser recebidos com o silêncio sepulcral que, na falta de coragem para a difamação direta, é a reação-padrão da esquerda brasileira às realizações valiosas de seus desafetos.
Mercadante é um dos homens mais humildes, bondosos e ternos que já habitaram esse planeta. Além disso, é inteligente demais para esperar que cretinos o compreendam, e foi dotado pela Providência com um senso de humor que lhe permite sair incólume das mais deprimentes situações mediante um sorrisinho irônico e um gracejo. Admiradores seletos, entre os homens mais cultos do país, – um Roberto Campos, um Vamireh Chacom, um Meira Penna – nunca lhe faltaram. Dos outros ele nada tinha a receber, e, se não recebiam o que lhes dava, eles é que perdiam.
Esse mesmo isolamento contribuiu, decerto, para que as meditações do estudioso fossem tomando um rumo cada vez mais peculiar, mais distante das preocupações (ou meras ocupações) dos nossos cientistas sociais acadêmicos.
Quando levada às suas últimas conseqüências, a história das mentalidades desemboca na história do subconsciente, que é, a fortiori, o subconsciente da história. Por baixo das ideologias, começa a se revelar a camada mais decisiva e misteriosa dos nexos sutis entre a história linear e o tempo cíclico do mundus imaginalis, a esfera dos símbolos, mitos e imagens primordiais que, desaparecendo e aparecendo à superfície dos fatos com regularidade assustadora, parecem constituir algo como o quadrante onde se movem os ponteiros da história. A partir dos anos 60, esse domínio, que mui apropriadamente recebeu o nome de meta-história, foi despertando a atenção de notáveis pesquisadores em todo o mundo. Henry Corbin, Jean-Charles Pichon, Eric Voegelin, Raymond Abellio mostraram que as relações entre história e mito não se explicavam pela mera distinção grosseira da infra-estrutura material e da superestrutura ideal a que as tinha reduzido a mistura de marxismo e positivismo, dominante nos meios acadêmicos desde o século passado e hoje, felizmente, moribunda. Muitas vezes, os mitos pareciam prefigurar a história, determinando de algum modo o seu curso: longe de ser puras criações dos homens históricos, eles tinham uma força criadora e determinante por si próprios. Sua presença ativa, encoberta pela sucessão dos fatos político-sociais, revelava-se de tempos em tempos pela recorrência dos mesmos símbolos, das mesmas imagens, que, emoldurando o imaginário dos personagens,  determinava invisivelmente o curso dos seus pensamentos e das suas decisões. Foi ao estudo dessa ordem de coisas que Mercadante, isolado da tagarelice ambiente, se dedicou cada vez mais.
Porém, a essa ciência misteriosa e desafiadora, Mercadante acrescentou uma ênfase nova e pessoal, derivada dos estudos de ciência física que, desde a juventude, o ocuparam apaixonadamente. Isso permitiu que ele se integrasse, como portador de uma contribuição bastante original, numa linha de investigações que, no mundo, é ainda nova e mal compreendida e, no Brasil, é radicalmente ignorada pelo establishmentuniversitário.
Vamos defini-la. À medida que no campo das ciências humanas se desmoralizavam as noções de progresso linear e de causalidade predominante, dissolução similar sofria, na ciência física, o determinismo mecanicista. A constatação desse duplo fracasso abriu para alguns estudiosos um campo de trabalho que é hoje o mais promissor de todos: a investigação das analogias entre causalidade física e causalidade histórica, ambas compreendidas segundo uma matriz quântica e indeterminista.
Tal é o tema das investigações que, referidas especificamente à fenomenologia histórica luso-brasileira, Paulo Mercadante nos apresenta neste livro extraordinário.
Nesse campo, os símbolos, surgidos do impacto das percepções sensíveis sobre a memória e a imaginação, aparecem como condensados de experiências e de expectativas, formando como que o substrato imaginativo da inteligência racional. Assim, no domínio da ação coletiva, qualquer idéia, qualquer decisão, remetem sempre a um fundo simbólico que as emoldura, limita e, até certo ponto, determina.
Os símbolos pairam sobre a história como possibilidades de concepção que, em certos momentos, “descem” e se convertem em possibilidades de ação. O que determina sua descida e seu retorno, seu aparecimento e desaparecimento no cenário da história, parece ser um fator tão misteriosamente individual e irredutível como aquele que, em física subatômica, determina os movimentos de uma partícula singular. Na escala humana, porém, essa irredutibilidade não pode ser explicada como “irracional”: o indivíduo que apreende o nexo simbólico e o converte em ação deliberada opera, como bem percebeu Weber, de maneira estritamente racional. O irracional, o imprevisível, está somente no acaso que, em certos momentos, fornece ou sonega às forças históricas em conflito o personagem individual decisivo, a mente consciente capaz de apreender o novo sentido de velhos símbolos e, articulando-os com a situação presente, inaugurar uma nova possibilidade e um novo estilo de ação histórica. À análise desse personagem, o líder articulador como o chama Paulo Mercadante, são dedicadas algumas das páginas mais luminosas deste livro. Entre o encadeamento das ações pretéritas, a recorrência cíclica dos símbolos, o acaso que produz ou não produz o líder articulador e por fim a interferência do indivíduo consciente que interpreta a situação à luz dos símbolos e desencadeia novas ações, a rede de ligações é sutil e incerta demais para poder condensar-se num determinismo, ainda que atenuado, porém ao mesmo tempo é coerente demais para que nela nada se veja além de uma sucessão de casualidades furiosas. Daí o título: A Coerência das Incertezas. Trata-se de apreender um nexo de sentido onde não é possível (ainda) falar de uma conexão causal direta.
Os capítulos de teoria estão, decerto, entre os mais interessantes deste livro. Mas a passagem à ilustração concreta, à fenomenologia dos símbolos e de sua recorrência na história luso-brasileira mostra que a especulação teórica não trabalhou no terreno das meras hipóteses. O tecido de símbolos no qual nossa história nacional se move mostra aqui, pela primeira vez, seu padrão, sua forma, sua figura. Nossa vida coletiva já não é uma “história contada por um idiota”. De maneira ainda obscura, mas firme e decisiva, ela expressa um fundo de sentido sobre o qual os indivíduos, seja como líderes articuladores, seja como simples particulares, podem projetar o sentido de suas vidas pessoais, seguros de se integrar num projeto histórico já quase milenar. Após ler o livro de Paulo Mercadante, dissolve-se, como num exorcismo, muito da impressão de gratuidade, de absurdo e de inutilidade que infecta e debilita a experiência de ser brasileiro. De fato, essa experiência tem sido, muitas vezes, a de viver jogado num aglomerado caótico de átomos errantes ou a de tentar vencer o absurdo mediante o apelo – e o apego -- a algum mito arbitrário, sem raiz, escolhido pela força da moda ou pela invencionice individual, um arremedo de sentido da vida. É só quando se descobre o nexo de mito e história que a unidade do sentido ideal pode encontrar, na multiplicidade dos fatos, o terreno fértil onde consiga passar da potência ao ato, realizar-se não como ficção histericamente reiterada, mas como vida autêntica.
Sob esse aspecto, este livro de Paulo Mercadante tem, sobre a alma brasileira, um efeito nitidamente curativo.
Não que esse efeito seja fácil de obter. A leitura deste livro é por vezes árdua, tantas são as alusões e subentendidos que entremeiam a exposição, e que, como os símbolos históricos mesmos, requerem um leitor capaz daquela apreensão criativa sem a qual a mágica não se realiza.
Mas o esforço será amplamente recompensado. Pois aqui já não se trata somente de história, nem mesmo de história mítica e simbólica, mas sim de, através dessas disciplinas, abrir uma passagem para o sentido da vida.
Este é, pois, para quem o saiba ler, um livro de sabedoria.
São Paulo, 5 de Novembro de 2000


[1] A Consciência Conservadora no Brasil, Rio, Saga, 1965, pp. 249-250.
[2] Id., p. 252.