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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Como achar um papa no palheiro - The Wall Street Journal

Um artigo interessante, parte de um livro a ser publicado nos EUA.

Fifteen Days in Rome: How the Pope Was Picked

The Wall Street Journal, April 14, 2013

The inside story: From the Red Room where Bergoglio's name was first dropped to a faithful night on Rome's Piazza Navona

Excerpted from The Wall Street Journal's new e-book "Pope Francis: From the End of the Earth to Rome," available at PopeFrancisTheBook.com.

On Feb. 27, a mild, dewy morning, Alitalia Flight 681 landed at Leonardo da Vinci airport in Rome after 13 hours in the air. A balding man with gray-white wisps of thin hair stepped out of coach class. He wore thick-rimmed brown glasses, black orthopedic shoes and a dark overcoat. He had a slight limp, and his back was stiff from the long flight. His belly was a bit swollen, due to many decades of cortisone treatments to help him breathe after he had lost part of a lung as a young man. No one could see the silver pectoral cross he wore under his coat, though it was the symbol of his authority.

Back home in Buenos Aires, Cardinal Jorge Mario Bergoglio was a prominent figure, the highest-ranking Catholic prelate in his country and to many a beloved figure known especially for his work in the city's teeming slums. Here he was one of 115 cardinals converging on Vatican City for important business: the election of a new leader for the Catholic Church.
Two weeks earlier, Pope Benedict XVI had suddenly announced his resignation from office, becoming the first pontiff in 600 years to renounce a job traditionally held until death. In church teaching, the position had been handed down for two millennia, starting when Jesus said to St. Peter, "On this rock I will build my church."
Cardinal Bergoglio expected his trip to be brief. He was already carrying in his black leather briefcase the airplane ticket that would return him home in time for Holy Week, the most important week of the year for a Catholic prelate. His Easter Sunday homily was already written too, and in the hands of parishioners back home.
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New WSJ E-Book

The Wall Street Journal's new e-book, "Pope Francis: From the End of the Earth to Rome," chronicles the unlikely ascension of Jorge Mario Bergoglio to the papacy. With original reporting by a team of journalists around the world, the Journal takes an in-depth look at the man charged with leading the Catholic Church in a time of challenges. Pre-order the book now at popefrancisthebook.com

(...)
Para ler a íntegra da matéria "How the Pope Was Picked", ver este link:
http://on.wsj.com/10ZB7Sk

A version of this article appeared April 13, 2013, on page C1 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Fifteen Days in Rome How the Pope as Picked.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ensinando Padre-Nosso ao vigario...

Nossa Senhora de Forma Geral deve estar aconselhando demais...

Dilma cobra que papa respeite “opções diferenciadas das pessoas”

Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 18/03/2013
 
ROMA – A presidente Dilma Rousseff cobra o papa Francisco, às vésperas da posse do novo pontífice amanhã. Em Roma, Dilma alertou que apenas a atenção à pobreza, já prometida pelo argentino, não seria suficiente.
“É uma postura importante”, disse Dilma em relação ao discurso de combate à pobreza de Francisco. Mas completou: “É claro que o mundo pede hoje além disso que as pessoas sejam compreendidas e que as opções diferenciadas das pessoas sejam compreendidas”, declarou.
Para Dilma, o argentino não deve ter posições revolucionárias em relação a temas como casamento entre pessoas do mesmo sexo ou aborto. “Não me parece que seja um tipo de papa que vai defender esse tipo de posição”, disse. “Não está me parecendo”, completou.
As declarações foram dadas pela presidente enquanto ela visitava uma exposição do pintor Tiziano, em Roma. A assessoria de imprensa da presidente não divulgou que ela estaria na exposição e a delegação chegou a sair por uma porta dos fundos do hotel onde se encontra.
Ontem, Dilma também usou seu tempo para fazer turismo por Roma, visitando duas igrejas. “Quem não gosta de Roma”, declarou.
Amanhã, ela estará no entronamento do papa Francisco, ao lado de 150 autoridades de todo o mundo.

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Dilma desembarca em Roma dando conselhos ao papa Francisco
O Globo, 18/03/2013

A presidente brasileira, Dilma Rousseff, disse no início da manhã desta segunda-feira que o Papa Francisco não pode ficar somente na defesa dos pobres, mas deve respeitar as opções de cada um. Em encontro com o imprensa, ela acrescentou que o Pontífice tem "uma missão a cumprir" e mostrou estar contente pela escolha de um chefe da Igreja Católica que seja latino-americano.

- É uma postura importante (a Igreja para os pobres). É claro que o mundo pede hoje, além disso, que as pessoas sejam compreendidas e que as opções diferenciadas sejam entendidas - disse à imprensa, após uma visita na exposição do pintor italiano Tiziano, na Scuderie Quirinale.

Sobre uma reforma maior na defesa de temas polêmicos da Santa Sé, Dilma não acredita que o novo Papa poderá mudar a Igreja em questões morais como o aborto ou o casamento homossexual:

- Não me parece que seja um tipo de Papa que vai defender esse tipo de posição. Não está me parecendo, pelo menos vocês (a imprensa) dizem isso.

A presidente destacou a importância de um Papa argentino para a América Latina.

- Em qualquer hipótese, um Papa latino-americano é uma honra pra a América Latina. Acho que é uma afirmação da região.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Sobre o novo papa, Francisco - John Allen Jr.

Este blog não tem nenhuma preferência religiosa, e, no mais das vezes, é completamente indiferente à religião, salvo quando a religião não é indiferente à política, à vida em sociedade, às relações internacionais, à economia, enfim a qualquer aspecto relevante da modernidade. E ela não é.
A Igreja, e os homens que a dirigem, suas ideias, suas pregações e ações, são tremendamente importante no mundo, qualquer que seja a dimensão que se queira dar às mensagens da Igreja e de seus representantes.
Ou seja, mesmo sendo um irreligioso completo, definitivo, não sou indiferente ao que pensa, fala, faz a Igreja, qualquer Igreja, mas sobretudo a Católica. Não se pode negar, por exemplo, a tremenda influência que o papa Wojtilla, mais conhecido como João Paulo II, teve na derrocada do comunismo. Foi um papel relevante, sob qualquer aspecto. De fato, que uma "ideologia" de dois mil anos tenha conseguido vencer uma de apenas 150 anos, e pretendidamente moderna, ou "social", testemunha da importância da Igreja e da religião no mundo moderno.
E o fato de que a maior parte dos países islâmicos, no mundo, seja relativamente atrasada, com muitos problemas no tratamento da mulher, com recaídas recorrentes no arcaísmo institucional, no reacionarismo jurídico, no atraso educacional, testemunha também que a religião pode ser um fator relevante, também, no encaminhamento das questões sociais e políticas. Existe algum país islâmico que seja avançado, onde as mulheres sejam liberadas, que tenha contribuído decisivamente para os progressos científicos e tecnológicos do mundo? Pode ser, mas não conheço muitos, talvez nenhum. Mas conheço países que, ao retornarem para a sharia, ao aderirem a versões estritas dos ensinamentos corânicos -- como o Paquistão, por exemplo -- podem ter chegado ao limiar do que se designa por um Estado falido. Na Nigéria do norte, outro exemplo,  se cometem crimes atrozes contra comunidades cristãs, ou simplesmente não muçulmanas. E o Irã é uma teocracia ditatorial, regressiva, opressiva.
Enfim, apenas por estas considerações, é que posto aqui uma informação sobre o novo papa.
Apenas para deixar meus leitores bem informados.
Desfrutem...
Paulo Roberto de Almeida

A Igreja de Francisco I, o jesuíta, está profundamente comprometida com os pobres e com os que me mais sofrem, mas também com a doutrina
Reinaldo Azevedo, 13/03/2013
Abaixo, reproduzo o texto de autoria de John Allen Jr., jornalista do site americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/). Ele fez um perfil de todos os papáveis. Seu texto sobre Jorge Mario Bergoglio, publicado no dia 10 deste mês, é excelente. Lembra, entre outras coisas, que o então arcebispo de Buenos Aires foi alvo da fúria de Cristina Kirchner por ter criticado a lei que permite a adoção por homossexuais — segundo ele, uma forma de discriminação contra as crianças. A presidente da Argentina o acusou de cultivar preconceitos medievais. Também no que diz respeito ao aborto e à contracepção, o papa Francisco I é um fiel seguidor da orientação oficial da Igreja.

*
Enquanto não há pesquisas de opinião para estabelecer quem tem mais musculatura como candidato ao papado, o conclave de 2013 tem pelo menos uma medida objetiva a mais que o de 2005: o desempenho anterior. Muitos dos cardeais vistos como candidatos agora estavam também disponíveis da última vez, e alguém que teve força há oito anos poderia ser um competidor novamente. Por essa medida isolada, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires (Argentina), merece alguma atenção.

Depois que a poeira da eleição de Bento XVI assentou, vários repórteres identificaram o jesuíta argentino como o principal desafiante do então cardeal Joseph Ratzinger. Um eleitor disse, depois, que o conclave teve “um quê de corrida de cavalos” entre Ratzinger e Bergoglio, e um diário anônimo do conclave que circulava entre a mídia italiana em setembro de 2005 indicava que Bergoglio chegou a receber 40 votos na terceira votação, a que ocorreu imediatamente antes daquela em que Ratzinger cruzou a linha dos dois terços e se tornou papa. Embora seja difícil dizer o quanto se pode levar isso a sério, o consenso geral é de que Bergoglio foi realmente um candidato de peso no último conclave. Ele chamou a atenção dos ortodoxos do Colégio de Cardeais como um homem que conseguiu segurar os avanços das correntes liberais entre os jesuítas, enquanto para os moderados era um símbolo do compromisso da Igreja com o mundo em desenvolvimento.

Ainda em 2005, Bergoglio marcou muitos pontos como um intelectual dedicado, que estudou teologia na Alemanha. Seu papel de liderança durante a crise econômica argentina deu polimento à sua reputação de ser a voz da ponderação e fez dele um potente símbolo do que os custos da globalização podem representar para o mundo pobre. A proverbial simplicidade pessoal também exerceu inegável atração – é um príncipe da Igreja que escolheu viver em um apartamento simples em vez de habitar um palácio episcopal, que abriu mão da limusine com motorista e prefere usar o transporte público, e que cozinha suas próprias refeições.

Outra medida da seriedade de Bergoglio como candidato é a campanha negativa feita em torno dele há oito anos. Três dias antes da abertura do conclave de 2005, um advogado argentino da área de direitos humanos entrou com uma ação em que Bergoglio era apontado como cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas, em 1976, sob o regime militar que então vigorava no país. Bergoglio negou terminantemente a acusação. Houve também uma campanha por e-mail, que parece ter sido orquestrada pelos confrades jesuítas que conheciam Bergoglio dos tempos em que ele foi provincial da ordem na Argentina. Segundo a campanha, “ele jamais sorria”.

Dito isso tudo, o fato é que Bergoglio definitivamente esteve sempre no radar. É claro que está oito anos mais velho agora, e que, aos 76, já está fora da faixa etária que muitos cardeais consideram ideal. Além disso, o fato de não ter conseguido transpor a barreira do número de votos necessário da última vez pode convencer alguns cardeais de que não vale a pena voltar a tentar. Ainda assim, muitas das razões que levaram membros do colégio a tomá-lo como sério candidato oito anos atrás ainda estão de pé.

Nascido em Buenos Aires, em 1936, Bergoglio é filho de um ferroviário que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. O plano original do cardeal era ser químico, mas, em vez disso, ele ingressou em 1958 na Companhia de Jesus para começar os estudos preparatórios para a ordenação sacerdotal. Passou boa parte do início da carreira lecionando Literatura, Psicologia e Filosofia, e muito cedo era visto como uma estrela em ascensão. De 1973 a 1979 foi provincial dos jesuítas na Argentina.

Depois disso, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual havia se formado. Eram os anos do regime militar na Argentina, quando muitos sacerdotes, incluindo líderes jesuítas, gravitavam em torno do movimento progressista da Teologia da Libertação. Como provincial jesuíta, Bergoglio insistiu em um mergulho mais profundo na tradição espiritual de Santo Inácio de Loyola, ordenando que os jesuítas continuassem seu trabalho nas paróquias e atuassem como vigários em vez de se meterem em “comunidades de base” e ativismo político.

Embora os jesuítas sejam, em geral, desencorajados de receber honrarias eclesiásticas, especialmente fora de seus países, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. João Paulo II fez Bergoglio cardeal em 2001, designando-lhe a igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.

Ao longo dos anos, Bergoglio se aproximou tanto do movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo padre italiano Luigi Giussani, que às vezes discursava no grande encontro anual do grupo, em Rimini, na Itália. Ele também chegou a divulgar os livros de Giussani em feiras literárias na Argentina. Isso acabou gerando consternação entre os jesuítas, uma vez que os ciellini, como são chamados os adeptos do movimento, já eram vistos com os principais opositores do colega jesuíta de Bergoglio em Milão, o cardeal Carlo Maria Martini. Por outro lado, isso tudo é parte do apelo de Bergoglio, um homem que pessoalmente se divide entre os jesuítas e os ciellini e, em maior escala, entre os reformistas e os ortodoxos da Igreja.

Bergoglio apoiou o ethos de justiça social do catolicismo latino-americano, inclusive com robusta defesa dos pobres. “Vivemos na parte mais desigual do mundo, que tem crescido muito, mas que pouco tem feito para reduzir a miséria”, afirmou ele durante um encontro do episcopado latino-americano em 2007. “A injusta distribuição de renda persiste, criando uma situação de pecado social que clama aos céus e que limita as possibilidades de uma vida plena para muitos de nossos irmãos.” Ao mesmo tempo, ele tende mais a se empenhar pelo crescimento em graça pessoal do que por reformas estruturais.

Bergoglio é visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em 2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001, por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12 pacientes soropositivos.

Bergoglio também marca pontos por sua apaixonada reposta ao atentado a bomba ocorrido em 1994 no prédio de sete andares que abrigava a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires. Foi um dos maiores ataques a alvos judeus já registrados na América Latina e, em 2005, o rabino Joseph Ehrenkranz, do Centro para a Compreensão Judaico-Cristã, ligado à Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, no estado norte-americano de Connecticut, louvou a liderança de Bergoglio para superar a dor do episódio. “Ele estava muito preocupado com o que havia ocorrido”, disse Ehrenkranz. “Tinha vivido a experiência.”

Apesar disso, depois do conclave de 2005 alguns cardeais admitiram inocentemente duvidar de que Bergoglio realmente tivesse a forja e a força necessárias para liderar a Igreja universal. Mais que isso, para muitos dos não latino-americanos Bergoglio era um número desconhecido. Uns poucos relembraram de sua liderança no Sínodo de 2001, quando ele substituiu Edward Egan, de Nova York, como relator do encontro porque o cardeal norte-americano teve de voltar às pressas para casa para ajudar as vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro. Naquela ocasião, Bergoglio deixou uma impressão basicamente positiva, mas pouco marcante.

Bergoglio pode ser fundamentalmente conservador em muitas questões, mas não é um defensor dos privilégios do clero ou um homem insensível às realidades pastorais. Em setembro de 2012, ele disparou um ataque contra os padres que se negavam a batizar crianças nascidas fora do casamento, classificando a recusa como uma forma de “neoclericalismo rigoroso e hipócrita”.

As chances de Bergoglio em 2013 repousam em quatro pontos.

O primeiro, e mais básico, é que ele teve grande apoio da última vez, e alguns cardeais podem pensar em uma nova tentativa agora.

Segundo, Bergoglio é um candidato que traz consigo o Primeiro Mundo e o mundo em desenvolvimento. É um latino-americano de raízes italianas que estudou na Alemanha. Como jesuíta, é integrante de uma comunidade religiosa internacionalmente confiável, e sua ligação com o movimento Comunhão e Libertação faz dele parte de outra rede global.

Terceiro, Bergoglio ainda é atraente diante da usual divisão da Igreja, angariando com seu afiado senso pastoral, sua inteligência e sua modéstia pessoal o respeito tanto dos ortodoxos quanto dos moderados. Ele também é visto como uma alma genuinamente espiritualizada e um homem de profunda oração. “Somente alguém que tenha encontrado a misericórdia, que tenha sido agraciado com a ternura da misericórdia, está feliz e em paz com Deus”, disse Bergoglio em 2001. “Eu peço aos teólogos presentes que não me enviem ao Santo Ofício ou à inquisição; no entanto, forçando um pouco as coisas, ouso dizer que o lugar privilegiado do encontro é a bondade da misericórdia de Cristo sobre meus pecados.”

Quarto, ele é também visto como um evangelista bem-sucedido. “Temos de evitar a doença espiritual de uma Igreja autorreferente”, disse recentemente. “A verdade é que, quando se sai às ruas, como fazem todos os homens e mulheres, acidentes acontecem. No entanto, se a Igreja se fechar em si mesma, se torna ultrapassada. Entre uma Igreja que sofre acidentes lá fora e outra adoecida pela autorreferência, não tenho dúvidas em preferir a primeira.”

Na contramão, há razões para acreditar que a janela de oportunidade para Bergoglio alcançar o pontificado já se fechou.

Afinal, ele está oito anos mais velho que em 2005 e, aos 76 , seria apenas dois anos mais jovem do que era Bento XVI quando se tornou papa. Especialmente nos calcanhares de uma renúncia papal fundamentada nos problemas da idade e da exaustão, muitos cardeais podem se recusar a eleger alguém tão idoso por temer que isso exponha a Igreja a um novo choque.

Em segundo lugar, embora fosse um sério concorrente em 2005, o fato é que ele não conseguiu atrair apoio suficiente para superar a barreira de dois terços dos votos necessários para a eleição. Especialmente no que se refere aos 50 cardeais que estiveram presentes no último conclave, o clima tende a ser de ceticismo quanto à possibilidade de resultados diferentes desta vez.

Terceiro, as dúvidas sobre a resistência de Bergoglio espalhadas nos últimos oito anos podem agora ser argumentos ainda mais corrosivos, dado que a habilidade para governar e manter sob controle a burocracia vaticana parece ser o item mais importante nas listas dos eleitores. Embora Bergoglio integre muitos departamentos do Vaticano, inclusive a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para o Clero, ele nunca trabalhou realmente dentro do Vaticano, e podem surgir preocupações sobre sua capacidade para controlar o lugar.

Um quarto obstáculo é a ambivalência padrão quanto aos jesuítas no alto escalão, tanto dentro quanto fora da ordem. Esse pode ter sido o fator a frear o avanço de Bergoglio da última vez, e nada mudou no cálculo desde então.

Que Bergoglio se coloca novamente como candidato parece óbvio. Um escritor italiano, citando um cardeal anônimo, disse, no dia 2 de março, que “quatro anos de Bergoglio seriam suficientes para mudar as coisas”. Levando em conta seu perfil, no entanto, Bergoglio parece destinado a cumprir um importante papel neste conclave – se não como rei, será como fazedor de reis.

Tradução: Maria Sandra Gonçalves

John Allen Jr. é um dos mais experientes vaticanistas da atualidade. Jornalista do site norte-americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/), ele também colabora com o canal de televisão CNN e com a National Public Radio norte-americana. Allen é autor de vários livros sobre a Igreja Católica, incluindo duas biografias de Bento XVI, uma delas escrita quando Joseph Ratzinger ainda era cardeal. Duas de suas obras foram traduzidas para o português: Opus Dei, mitos e realidade, de 2005, e Conclave, de 2002, em que ele descreve os rituais que envolvem a sucessão do papa e apontava vários favoritos para assumir o posto após a morte de João Paulo II.