O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A Igreja Catolica e o capitalismo: duas posicoes em debate


As duas posições são de um lado, as minhas, e de outro as de um leitor deste blog, que não preciso identificar pelo nome, pois o que interessa, na verdade, é o debate de ideias, o confronto de posições, não quem expressa os argumentos.
Então vamos a ele.
Nesta quarta-feira, 18/11/2015, como sempre faço quando encontro um excerto interessante de algum livro escrutinado pelo serviço de extratos de livros DelanceyPlace, postei um trecho de uma biografia do homem mais rico do mundo na passagem da Idade Média para a era moderna, Jacob Fugger:

O homem mais rico do mundo, Jacob Fugger - livro de Greg Steinmetz 

 http://www.diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/11/o-homem-mais-rico-do-mundo-jacob-fugger.html

O que eu disse na introdução à transcrição do excerto  que causou tanto frisson num leitor manifestamente defensor da Igreja Católica?
Isto (e transcrevo primeiro o que eu disse):

"A Igreja Católica sempre teve essa inacreditável capacidade de pecar fragorosamente contra as principais leis da economia, pecados mortais, não simples pecados veniais, talvez atrasando o surgimento do capitalismo na Europa em um ou dois séculos.
Meu argumento é certamente impressionista, mas a Igreja continua a ser altamente expressionista contra a economia de mercado, contra o lucro, contra qualquer coisa que cheire a dinheiro.
Isso, mesmo sendo detentora de um banco (falido por roubo, corrupção e incompetência) e de imensos, gigantescos, incomensuráveis ativos materiais e muitos outros intangíveis.
O atual papa, por exemplo, é um peronista econômico, ou seja, um aloprado em matéria de economia. No resto ele é até bonzinho, reformista, e um bom sujeito, mas se os pobres dependessem dele para ficarem ricos, estão perdidos: é um grande destruidor de riquezas..."

E o que me escreve um leitor atento, que confessa estar decepcionado comigo, me equipara a Carta Capital e disse que vai abandonar este blog? Isto:

Caro PRA,
Afirmar haver a Igreja Católica 'talvez' atrasado o capitalismo na Europa em 'um ou dois séculos' não é um argumento 'impressionista', mas sim duplamente leviano:
. pela infantilidade da assertiva em si mesma;
. e pela impossibilidade de demonstração histórica séria de tal acontecimento.
Como leitor assíduo de seu blog, decepcionei-me ao ler uma colocação dessa espécie, não me surpreendendo, entretanto, com o nível dos comentaristas atraídos por tal postagem.
Pelo que vejo, esse blog assemelhou-se àqueles mantidos nos sites da Carta Capital e da Agência Carta Maior.
De hoje em diante, procurarei leitura mais saudável.
Cordialmente.

[Leitor que se foi..., supostamente]

Bem, vamos ao debate, agora.
Sinto decepcionar outra vez esse leitor, e talvez muitos outros mais -- o que não me preocupa muito, pois debate de ideias servem justamente para que cada um exponha suas posições -- mas vou recrudescer na minha afirmação sobre o papel essencialmente negativo da Igreja Católica na questão da economia, do desenvolvimento econômico, do surgimento e expansão do capitalismo.
A Igreja Católica fez um imenso bem à humanidade, durante séculos e séculos, ao preservar a cultura, a civilização, os valores cristãos (que são todos muito bons, comparativamente a outros, de outras religiões) e ao cuidar dos pobres e dos miseráveis por meio de suas obras caridosas e muitas coisas mais. Tudo isso não impediu certos papas de serem devassos, de cuidarem mais dos bens materiais do que dos valores espirituais e de terem incitado à violência contra heréticos (ou considerados tais) e infiéis, numa missão evangelizadora por vezes agressiva, estúpida e altamente danosa para certos povos. Todas as suas boas contribuições à cultura, à defesa da dignidade humana e da mulher tampouco impediram a Igreja Católica, sobretudo sua versão ultra-montana e carola, de ser uma barreira por vezes formidável ao desenvolvimento do espírito científico (que o digam Galileu, Copérnico, Giordano Bruno, Teilhard de Chardin e tantos outros).
Indo especificamente ao caso da economia, permito-me ressaltar o papel essencialmente negativo da Igreja Católica na acumulação de riquezas, no desenvolvimento dos negócios, no livre funcionamento dos mercados e na promoção da prosperidade dos mais pobres.
A própria biografia do Fugger demonstra isso, pelo lado do comércio de dinheiro, ou seja, empréstimos usurários ou próximos disso. O próprio papa Francisco não cessa de falar contra os mercados e contra a "sede de lucros". Tudo isso é essencialmente negativo, sobretudo para os mais pobres.
Em parte é ignorância econômica, o que se compreende do lado dos preconceitos ancestrais na história da humanidade; mas ao persistirem os preconceitos por tanto tempo, isso já se torna estupidez consumada, e eu não tenho nenhum problema em acusar o papa Francisco de estupidez econômica crassa, e de preconceito infantil contra o capitalismo e contra os mercados.
Por tudo isso, ouso dizer, mesmo correndo o risco de ser impressionista, mas não temendo sê-lo, que a Igreja Católica não atrasou o desenvolvimento do capitalismo em apenas um ou dois séculos, mas provavelmente muito mais, até hoje aliás, com suas posições alopradas em matérias econômicas.

Ao leitor frustrado com minhas posições, eu diria o seguinte.
Ser infantil ou não nessas minhas posições é meu direito, como é meu direito achar que esse leitor está mais preocupado com a reputação da Igreja do que com os fatos históricos.
Ser duplamente leviano é também um direito meu, mas tampouco o leitor me trouxe argumentos que fossem contrários às minhas posições -- ele só fez acusações contra mim, segundo aquele velho costume de atirar contra o mensageiro, em lugar de debater a mensagem -- e menos ainda trouxe argumentos em favor de suas posições, que seriam supostamente a de que a Igreja não apenas não atrasou o capitalismo, como ela contribuiu tremendamente para o seu desenvolvimento.
Pode até ser, mas se ele não avançar fundamentações empíricas a esse tipo de posição, suas acusações ou defesas não valem absolutamente nada.
Minhas posições estavam apoiadas nesse livro de história, de biografia do banqueiro Fugger, que teve de fazer contorsionismos para manter uma atividade altamente capitalista em face da hostilidade de certos homens da Igreja (que nada mais faziam senão refletir as posições retrógradas da Igreja em matéria econômica).
Quanto a dizer que meu blog está ficando parecido com Carta Capital e Agência Carta Maior, é simplesmente ridículo, mas eu acrescento mais uma coisa a esse respeito.
Como acadêmico não religioso e não fundamentalista, eu leio absolutamente de tudo, inclusive esses dois sites, constatando, na maior parte das vezes como eles são, pela ordem: 1) estúpidos; 2) de má-fé; 3) desonestos "subintelequitualmente". Mas nem por isso tenho problemas em lê-los, uma vez que eles refletem exatamente o que pensam os subinteliquituais da esquerda, e milhares, talvez a maioria, dos acadêmicos gramscianos (que nunca leram Gramsci) de nossas universidades.

Um último desejo: que o leitor expresse, uma última vez, antes de abandonar definitivamente este blog, seus argumentos em favor das "consequências econômicas da Igreja Católica".
Meu argumento é de que essas consequências foram essencialmente prejudiciais ao desenvolvimento econômico e à expansão do capitalismo, historicamente e mesmo agora. Basta considerar, por exemplo, as posições expressas na encíclica do papa peronista sobre o meio ambiente, que não falha em atribuir os desequilíbrios ecológicos e ambientais ao mercado, o que não é apenas ingênuo, mas estúpido. Ainda que certos capitalistas possam causar danos ao meio ambiente, é o livre jogo de preços, num mercado que expresse claramente a raridade relativa de bens escassos, e que precifique tudo isso, que vai contribuir para o equilíbrio ambiental, bem mais do que medidas regulatórias de governos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2015

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Catolicismo e liberalismo sao incompativeis? Assessor do papa Francisco

Se for verdade, ou seja, se o papa Francisco pensa realmente isso, então a Igreja está se colocando contra as liberdades em geral, e a liberdade econômica em particular.
Ou então, faz parte da tradicional ignorância da Igreja Católica em matéria de economia e processos de desenvolvimento.
Deve ser um cardeal totalmente ignorante em economia, e sobretudo em liberdades.
Ou então, está interpretando o "peronismo" do papa.
Em qualquer das duas hipóteses é grave. E muito ruim para a Igreja e para o mundo.
Seria a Igreja um fator de atraso econômico mundial?
Paulo Roberto de Almeida

Catholic and libertarian? Pope’s top adviser says they’re incompatible

WASHINGTON — Taking direct aim at libertarian policies promoted by many American conservatives, the Honduran cardinal who is one of Pope Francis’ top advisers said Tuesday (June 3) that today’s free market system is “a new idol” that is increasing inequality and excluding the poor.
This economy kills,” said Cardinal Oscar Rodriguez Maradiaga, quoting Francis frequently in a speech delivered at a conference on Catholicism and libertarianism held a few blocks from the U.S. Capitol.
The pope, Maradiaga said, grew up in Argentina and “has a profound knowledge of the life of the poor.” That is why, he said, Francis continues to insist that “the elimination of the structural causes for poverty is a matter of urgency that can no longer be postponed.”
“The hungry or sick child of the poor cannot wait,” the cardinal said.
Maradiaga, who heads a kitchen cabinet of eight cardinals from around the world that Francis established to advise him shortly after his election last year, also argued that personal charity was insufficient to solve global problems.
“Solidarity is more than a few sporadic acts of generosity,” he said.
Instead, he said, solidarity with the poor, as envisioned by Catholic social teaching, calls for “dealing with the structural causes of poverty and injustice.” The cardinal stressed that the church “by no means despises the rich,” and he said Francis “is also not against the efforts of business to increase the goods of the earth.”
“The basic condition, however, is that it serves the common good,” he said.
A charismatic churchman who speaks fluent English, Maradiaga was animated in his criticism of the effects of today’s free market capitalism and he peppered his remarks with digs at economic conservatives.
Trickle-down economics, he said, is “a deception,” and he declared that the “invisible hand” of the free market — the famous theory advanced by the 18th-century philosopher Adam Smith — was instead being used as a cruel trick to exploit the poor.
Maradiaga at one point brushed aside the fierce criticism that many conservatives have leveled at Francis by noting that “many of these libertarianists do not read the social doctrine of the church.”
“But now they are trembling before the book of Piketty,” he said with a laugh, referring to the controversial best-seller on the wealth gap by the French economist Thomas Piketty. “At least it is making them think,” he added.
Maradiaga was the keynote speaker at the conference, called “Erroneous Autonomy: The Catholic Case Against Libertarianism.”
The daylong seminar waded deep into the contentious American political debate over the economy and the role of government, and it showed once again how the moral implications of that debate are playing out most vividly in the Catholic Church.
Paul Ryan, the Wisconsin Republican who chairs the House Budget Committee, is a Catholic who is also his party’s champion for budget cuts for social programs, cuts that are opposed by the church hierarchy. He is also a disciple of the libertarian philosopher Ayn Rand.
Sen. Rand Paul, R-Ky., while not a Catholic, is the GOP’s most prominent exponent of libertarian ideas and is being widely touted as a leading candidate for his party’s presidential nomination in 2016 — a race that increasingly looks as though it will serve as a national referendum on libertarian ideas.
Tuesday’s conference was sponsored by Catholic University’s Institute for Policy Research & Catholic Studies, and the speakers — bishops and theologians, as well as pundits such as Mark Shields and academics like John DiIulio — were almost universally antagonistic to free market libertarianism.
Yet it was CUA’s own business school that last year sparked a controversy by accepting $1 million from the foundation of Charles Koch, a billionaire industrialist who is an influential supporter of libertarian-style policies.
Critics accused the university of taking money to promote ideas that are opposed to Catholic social teaching. University officials rebuffed those charges, joined by many bishops and conservative Catholics who have become prominent advocates of the idea that Catholicism and libertarianism can coexist or even support each other.
That notion, however, found little backing and much opposition at Tuesday’s sessions.
Bishop Blase Cupich of Spokane, Wash., one of the U.S. hierarchy’s more prominent champions of Catholic social teaching, warned that growing inequality is creating “a powder keg that is as dangerous as the environmental crisis the world is facing today.”
Cupich said political leaders cannot wage this debate “from the 30,000-foot level of ideas” but must take into account the real-life implications of policies as they play out on the ground. “Reality,” he said, quoting Francis, “is greater than ideas.”
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quarta-feira, 13 de março de 2013

Sobre o novo papa, Francisco - John Allen Jr.

Este blog não tem nenhuma preferência religiosa, e, no mais das vezes, é completamente indiferente à religião, salvo quando a religião não é indiferente à política, à vida em sociedade, às relações internacionais, à economia, enfim a qualquer aspecto relevante da modernidade. E ela não é.
A Igreja, e os homens que a dirigem, suas ideias, suas pregações e ações, são tremendamente importante no mundo, qualquer que seja a dimensão que se queira dar às mensagens da Igreja e de seus representantes.
Ou seja, mesmo sendo um irreligioso completo, definitivo, não sou indiferente ao que pensa, fala, faz a Igreja, qualquer Igreja, mas sobretudo a Católica. Não se pode negar, por exemplo, a tremenda influência que o papa Wojtilla, mais conhecido como João Paulo II, teve na derrocada do comunismo. Foi um papel relevante, sob qualquer aspecto. De fato, que uma "ideologia" de dois mil anos tenha conseguido vencer uma de apenas 150 anos, e pretendidamente moderna, ou "social", testemunha da importância da Igreja e da religião no mundo moderno.
E o fato de que a maior parte dos países islâmicos, no mundo, seja relativamente atrasada, com muitos problemas no tratamento da mulher, com recaídas recorrentes no arcaísmo institucional, no reacionarismo jurídico, no atraso educacional, testemunha também que a religião pode ser um fator relevante, também, no encaminhamento das questões sociais e políticas. Existe algum país islâmico que seja avançado, onde as mulheres sejam liberadas, que tenha contribuído decisivamente para os progressos científicos e tecnológicos do mundo? Pode ser, mas não conheço muitos, talvez nenhum. Mas conheço países que, ao retornarem para a sharia, ao aderirem a versões estritas dos ensinamentos corânicos -- como o Paquistão, por exemplo -- podem ter chegado ao limiar do que se designa por um Estado falido. Na Nigéria do norte, outro exemplo,  se cometem crimes atrozes contra comunidades cristãs, ou simplesmente não muçulmanas. E o Irã é uma teocracia ditatorial, regressiva, opressiva.
Enfim, apenas por estas considerações, é que posto aqui uma informação sobre o novo papa.
Apenas para deixar meus leitores bem informados.
Desfrutem...
Paulo Roberto de Almeida

A Igreja de Francisco I, o jesuíta, está profundamente comprometida com os pobres e com os que me mais sofrem, mas também com a doutrina
Reinaldo Azevedo, 13/03/2013
Abaixo, reproduzo o texto de autoria de John Allen Jr., jornalista do site americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/). Ele fez um perfil de todos os papáveis. Seu texto sobre Jorge Mario Bergoglio, publicado no dia 10 deste mês, é excelente. Lembra, entre outras coisas, que o então arcebispo de Buenos Aires foi alvo da fúria de Cristina Kirchner por ter criticado a lei que permite a adoção por homossexuais — segundo ele, uma forma de discriminação contra as crianças. A presidente da Argentina o acusou de cultivar preconceitos medievais. Também no que diz respeito ao aborto e à contracepção, o papa Francisco I é um fiel seguidor da orientação oficial da Igreja.

*
Enquanto não há pesquisas de opinião para estabelecer quem tem mais musculatura como candidato ao papado, o conclave de 2013 tem pelo menos uma medida objetiva a mais que o de 2005: o desempenho anterior. Muitos dos cardeais vistos como candidatos agora estavam também disponíveis da última vez, e alguém que teve força há oito anos poderia ser um competidor novamente. Por essa medida isolada, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires (Argentina), merece alguma atenção.

Depois que a poeira da eleição de Bento XVI assentou, vários repórteres identificaram o jesuíta argentino como o principal desafiante do então cardeal Joseph Ratzinger. Um eleitor disse, depois, que o conclave teve “um quê de corrida de cavalos” entre Ratzinger e Bergoglio, e um diário anônimo do conclave que circulava entre a mídia italiana em setembro de 2005 indicava que Bergoglio chegou a receber 40 votos na terceira votação, a que ocorreu imediatamente antes daquela em que Ratzinger cruzou a linha dos dois terços e se tornou papa. Embora seja difícil dizer o quanto se pode levar isso a sério, o consenso geral é de que Bergoglio foi realmente um candidato de peso no último conclave. Ele chamou a atenção dos ortodoxos do Colégio de Cardeais como um homem que conseguiu segurar os avanços das correntes liberais entre os jesuítas, enquanto para os moderados era um símbolo do compromisso da Igreja com o mundo em desenvolvimento.

Ainda em 2005, Bergoglio marcou muitos pontos como um intelectual dedicado, que estudou teologia na Alemanha. Seu papel de liderança durante a crise econômica argentina deu polimento à sua reputação de ser a voz da ponderação e fez dele um potente símbolo do que os custos da globalização podem representar para o mundo pobre. A proverbial simplicidade pessoal também exerceu inegável atração – é um príncipe da Igreja que escolheu viver em um apartamento simples em vez de habitar um palácio episcopal, que abriu mão da limusine com motorista e prefere usar o transporte público, e que cozinha suas próprias refeições.

Outra medida da seriedade de Bergoglio como candidato é a campanha negativa feita em torno dele há oito anos. Três dias antes da abertura do conclave de 2005, um advogado argentino da área de direitos humanos entrou com uma ação em que Bergoglio era apontado como cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas, em 1976, sob o regime militar que então vigorava no país. Bergoglio negou terminantemente a acusação. Houve também uma campanha por e-mail, que parece ter sido orquestrada pelos confrades jesuítas que conheciam Bergoglio dos tempos em que ele foi provincial da ordem na Argentina. Segundo a campanha, “ele jamais sorria”.

Dito isso tudo, o fato é que Bergoglio definitivamente esteve sempre no radar. É claro que está oito anos mais velho agora, e que, aos 76, já está fora da faixa etária que muitos cardeais consideram ideal. Além disso, o fato de não ter conseguido transpor a barreira do número de votos necessário da última vez pode convencer alguns cardeais de que não vale a pena voltar a tentar. Ainda assim, muitas das razões que levaram membros do colégio a tomá-lo como sério candidato oito anos atrás ainda estão de pé.

Nascido em Buenos Aires, em 1936, Bergoglio é filho de um ferroviário que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. O plano original do cardeal era ser químico, mas, em vez disso, ele ingressou em 1958 na Companhia de Jesus para começar os estudos preparatórios para a ordenação sacerdotal. Passou boa parte do início da carreira lecionando Literatura, Psicologia e Filosofia, e muito cedo era visto como uma estrela em ascensão. De 1973 a 1979 foi provincial dos jesuítas na Argentina.

Depois disso, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual havia se formado. Eram os anos do regime militar na Argentina, quando muitos sacerdotes, incluindo líderes jesuítas, gravitavam em torno do movimento progressista da Teologia da Libertação. Como provincial jesuíta, Bergoglio insistiu em um mergulho mais profundo na tradição espiritual de Santo Inácio de Loyola, ordenando que os jesuítas continuassem seu trabalho nas paróquias e atuassem como vigários em vez de se meterem em “comunidades de base” e ativismo político.

Embora os jesuítas sejam, em geral, desencorajados de receber honrarias eclesiásticas, especialmente fora de seus países, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. João Paulo II fez Bergoglio cardeal em 2001, designando-lhe a igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.

Ao longo dos anos, Bergoglio se aproximou tanto do movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo padre italiano Luigi Giussani, que às vezes discursava no grande encontro anual do grupo, em Rimini, na Itália. Ele também chegou a divulgar os livros de Giussani em feiras literárias na Argentina. Isso acabou gerando consternação entre os jesuítas, uma vez que os ciellini, como são chamados os adeptos do movimento, já eram vistos com os principais opositores do colega jesuíta de Bergoglio em Milão, o cardeal Carlo Maria Martini. Por outro lado, isso tudo é parte do apelo de Bergoglio, um homem que pessoalmente se divide entre os jesuítas e os ciellini e, em maior escala, entre os reformistas e os ortodoxos da Igreja.

Bergoglio apoiou o ethos de justiça social do catolicismo latino-americano, inclusive com robusta defesa dos pobres. “Vivemos na parte mais desigual do mundo, que tem crescido muito, mas que pouco tem feito para reduzir a miséria”, afirmou ele durante um encontro do episcopado latino-americano em 2007. “A injusta distribuição de renda persiste, criando uma situação de pecado social que clama aos céus e que limita as possibilidades de uma vida plena para muitos de nossos irmãos.” Ao mesmo tempo, ele tende mais a se empenhar pelo crescimento em graça pessoal do que por reformas estruturais.

Bergoglio é visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em 2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001, por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12 pacientes soropositivos.

Bergoglio também marca pontos por sua apaixonada reposta ao atentado a bomba ocorrido em 1994 no prédio de sete andares que abrigava a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires. Foi um dos maiores ataques a alvos judeus já registrados na América Latina e, em 2005, o rabino Joseph Ehrenkranz, do Centro para a Compreensão Judaico-Cristã, ligado à Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, no estado norte-americano de Connecticut, louvou a liderança de Bergoglio para superar a dor do episódio. “Ele estava muito preocupado com o que havia ocorrido”, disse Ehrenkranz. “Tinha vivido a experiência.”

Apesar disso, depois do conclave de 2005 alguns cardeais admitiram inocentemente duvidar de que Bergoglio realmente tivesse a forja e a força necessárias para liderar a Igreja universal. Mais que isso, para muitos dos não latino-americanos Bergoglio era um número desconhecido. Uns poucos relembraram de sua liderança no Sínodo de 2001, quando ele substituiu Edward Egan, de Nova York, como relator do encontro porque o cardeal norte-americano teve de voltar às pressas para casa para ajudar as vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro. Naquela ocasião, Bergoglio deixou uma impressão basicamente positiva, mas pouco marcante.

Bergoglio pode ser fundamentalmente conservador em muitas questões, mas não é um defensor dos privilégios do clero ou um homem insensível às realidades pastorais. Em setembro de 2012, ele disparou um ataque contra os padres que se negavam a batizar crianças nascidas fora do casamento, classificando a recusa como uma forma de “neoclericalismo rigoroso e hipócrita”.

As chances de Bergoglio em 2013 repousam em quatro pontos.

O primeiro, e mais básico, é que ele teve grande apoio da última vez, e alguns cardeais podem pensar em uma nova tentativa agora.

Segundo, Bergoglio é um candidato que traz consigo o Primeiro Mundo e o mundo em desenvolvimento. É um latino-americano de raízes italianas que estudou na Alemanha. Como jesuíta, é integrante de uma comunidade religiosa internacionalmente confiável, e sua ligação com o movimento Comunhão e Libertação faz dele parte de outra rede global.

Terceiro, Bergoglio ainda é atraente diante da usual divisão da Igreja, angariando com seu afiado senso pastoral, sua inteligência e sua modéstia pessoal o respeito tanto dos ortodoxos quanto dos moderados. Ele também é visto como uma alma genuinamente espiritualizada e um homem de profunda oração. “Somente alguém que tenha encontrado a misericórdia, que tenha sido agraciado com a ternura da misericórdia, está feliz e em paz com Deus”, disse Bergoglio em 2001. “Eu peço aos teólogos presentes que não me enviem ao Santo Ofício ou à inquisição; no entanto, forçando um pouco as coisas, ouso dizer que o lugar privilegiado do encontro é a bondade da misericórdia de Cristo sobre meus pecados.”

Quarto, ele é também visto como um evangelista bem-sucedido. “Temos de evitar a doença espiritual de uma Igreja autorreferente”, disse recentemente. “A verdade é que, quando se sai às ruas, como fazem todos os homens e mulheres, acidentes acontecem. No entanto, se a Igreja se fechar em si mesma, se torna ultrapassada. Entre uma Igreja que sofre acidentes lá fora e outra adoecida pela autorreferência, não tenho dúvidas em preferir a primeira.”

Na contramão, há razões para acreditar que a janela de oportunidade para Bergoglio alcançar o pontificado já se fechou.

Afinal, ele está oito anos mais velho que em 2005 e, aos 76 , seria apenas dois anos mais jovem do que era Bento XVI quando se tornou papa. Especialmente nos calcanhares de uma renúncia papal fundamentada nos problemas da idade e da exaustão, muitos cardeais podem se recusar a eleger alguém tão idoso por temer que isso exponha a Igreja a um novo choque.

Em segundo lugar, embora fosse um sério concorrente em 2005, o fato é que ele não conseguiu atrair apoio suficiente para superar a barreira de dois terços dos votos necessários para a eleição. Especialmente no que se refere aos 50 cardeais que estiveram presentes no último conclave, o clima tende a ser de ceticismo quanto à possibilidade de resultados diferentes desta vez.

Terceiro, as dúvidas sobre a resistência de Bergoglio espalhadas nos últimos oito anos podem agora ser argumentos ainda mais corrosivos, dado que a habilidade para governar e manter sob controle a burocracia vaticana parece ser o item mais importante nas listas dos eleitores. Embora Bergoglio integre muitos departamentos do Vaticano, inclusive a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para o Clero, ele nunca trabalhou realmente dentro do Vaticano, e podem surgir preocupações sobre sua capacidade para controlar o lugar.

Um quarto obstáculo é a ambivalência padrão quanto aos jesuítas no alto escalão, tanto dentro quanto fora da ordem. Esse pode ter sido o fator a frear o avanço de Bergoglio da última vez, e nada mudou no cálculo desde então.

Que Bergoglio se coloca novamente como candidato parece óbvio. Um escritor italiano, citando um cardeal anônimo, disse, no dia 2 de março, que “quatro anos de Bergoglio seriam suficientes para mudar as coisas”. Levando em conta seu perfil, no entanto, Bergoglio parece destinado a cumprir um importante papel neste conclave – se não como rei, será como fazedor de reis.

Tradução: Maria Sandra Gonçalves

John Allen Jr. é um dos mais experientes vaticanistas da atualidade. Jornalista do site norte-americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/), ele também colabora com o canal de televisão CNN e com a National Public Radio norte-americana. Allen é autor de vários livros sobre a Igreja Católica, incluindo duas biografias de Bento XVI, uma delas escrita quando Joseph Ratzinger ainda era cardeal. Duas de suas obras foram traduzidas para o português: Opus Dei, mitos e realidade, de 2005, e Conclave, de 2002, em que ele descreve os rituais que envolvem a sucessão do papa e apontava vários favoritos para assumir o posto após a morte de João Paulo II.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Chavez compra briga com o Vaticano...

Como o Vaticano não possui tanques, como disse uma vez Stalin, só lhe resta apelar para el pueblo cristiano y catolico, sem saber qual será o resultado disso tudo.
Vamos ver a próxima novela venezuelana, em longuissimos e aborrecidos capítulos de embates ideoloógicos e golpes baixos políticos...
Paulo Roberto de Almeida

República Bolivariana de Venezuela
Asamblea Nacionales [sic]

Comunicado

La Jerarquía Eclesiástica y el Cardenal Jorge Urosa Savino, han venido formulando denuncias y acusaciones en forma sistemática en contra del Comandante Hugo Chávez, Presidente Constitucional de la República Bolivariana de Venezuela y de las instituciones del Estado Venezolano.

Esta conducta no es nueva. Durante más de diez años consecutivos la jerarquía de la Iglesia Católica ha atacado a las instituciones que conforman el Estado Venezolano, tratando de manipular con mentiras la buena fe de los venezolanos y venezolanas.

Cabe destacar que es un hecho público, notorio y comunicacional, la participación de la cúpula eclesiástica en el Golpe de Estado del año 2002, así como en la firma del decreto de Pedro Carmona Estanga por parte del Cardenal Ignacio Velasco, con lo cual esta Jerarquía Eclesiástica apoyó la derogación de la Constitución de la República Bolivariana de Venezuela y la disolución del Poder Público Nacional.

No obstante, la conducta abiertamente política y de oposición sostenida por la Jerarquía Eclesiástica, la Asamblea Nacional cursó una cordial invitación al Cardenal Urosa Savino, para que argumentara y presentara las pruebas, en caso de tenerlas, que sustentan sus acusaciones en contra del Presidente de la República y de las instituciones del Estado Venezolano.

El Cardenal asistió a la reunión con la Comisión Coordinadora de la Asamblea Nacional el día martes 27 de julio del año 2010. En la misma leyó un documento que previamente su auxiliar se había ocupado de distribuir a los medios de comunicación social, en cuyo contenido ratifica sus argumentos que descalifican al modelo Socialista en construcción, mediante la satanización de las políticas públicas adelantadas por el Ejecutivo Nacional y las leyes aprobadas por la Asamblea Nacional.

A pesar del encuentro promovido por la Asamblea Nacional, que se consideraba positivo, la respuesta del Cardenal Urosa Savino y la Conferencia Episcopal Venezolana fue mantener sus acusaciones contra el Presidente de la República y las instituciones del Estado, lo cual reafirma que seguirán actuando como operadores y voceros políticos de oposición. Tanto es así, que mientras el Cardenal Urosa Savino leía su documento en el Parlamento, otros voceros de la conferencia episcopal agredían al Estado Venezolano a través de los medios de comunicación social.

La Jerarquía Eclesiástica, así como el Cardenal Urosa Savino, emplean un lenguaje pretendidamente pastoral para ocultar la intención de provocar temor entre los venezolanos y la feligresía católica, mediante el viejo expediente del anticomunismo. El señalamiento que hacen de la inconstitucionalidad de las leyes aprobadas por la Asamblea Nacional no lo demuestran ni en el documento leído por Urosa Savino, ni en la respuesta que dio a los diputados y diputadas en la reunión de la Comisión Coordinadora. En este sentido, esas aseveraciones de inconstitucionalidad se quedan en el mero discurso propagandístico y de descalificación a priori, sin esconder la conducta hostil y beligerante, que obliga a revisar las relaciones entre la República Bolivariana de Venezuela y el Estado del Vaticano.

Estas relaciones, se fundamentan en los contenidos del Convenio entre la Santa Sede y la República de Venezuela de 1964, el cual fue suscrito bajo la vigencia de la derogada Constitución de 1961, y se promovió con base en la Ley de Patronato Eclesiástico de 1824, reafirmado mediante decreto de fecha 24 de marzo de 1833, que no se ajusta a las realidades sociales, constitucionales y legales de nuestra República Bolivariana de Venezuela.

Las frases “convivencia democrática”, “convivencia social” y “constructores de la paz”, reiteradas en el documento leído por el Cardenal Urosa Savino, no se corresponden con las posiciones conspirativas asumidas en el pasado reciente, por parte de los obispos y jerarcas de la Conferencia Episcopal Venezolana, ni con las agresiones actuales contra el Jefe del Estado y contra los millones de hombres y mujeres que en reiterados procesos electorales han respaldado al Presidente Hugo Chávez con la propuesta de construcción del Socialismo Bolivariano, como instrumento para alcanzar la mayor suma de felicidad de nuestro pueblo. Estas agresiones sistemáticas, tienen como objetivo y propósito incidir en el resultado electoral del 26 de septiembre de 2010.

A la luz de los hechos anteriormente señalados, la Asamblea Nacional:

ACUERDA

PRIMERO. Rechazar la agresión política por parte del Cardenal Jorge Urosa Savino y la Jerarquía Eclesiástica, en contra del Comandante Hugo Chávez, Presidente Constitucional de la República Bolivariana de Venezuela y de las instituciones del Estado Venezolano y del pueblo bolivariano.

SEGUNDO. Deplorar el uso de la investidura arzobispal en función de políticas opositoras, así como la desviación por parte de la Jerarquía Eclesiástica de la misión espiritual y religiosa que debe cumplir la Iglesia Católica.

TERCERO. Exhortar al Ejecutivo Nacional, para que revise el Convenio entre la Santa Sede y la República de Venezuela, publicado en la Gaceta Oficial Nº 27.551 de fecha 24 de septiembre de 1964.

CUARTO. Solicitar la evaluación y la aplicación de mecanismos diplomáticos necesarios para revisar la designación del Cardenal Jorge Urosa Savino como Arzobispo de Caracas.

QUINTO. Dar publicidad al presente Comunicado.

Dado, firmado y sellado en el Palacio Federal Legislativo, sede de la Asamblea Nacional, en Caracas, a los veintinueve días del mes de julio de dos mil diez. Año 200° de la Independencia y 151° de la Federación.

CILIA FLORES
Presidenta de la Asamblea Nacional
DARÍO VIVAS VELASCO
Primer Vicepresidente
MARELIS PÉREZ MARCANO
Segunda Vicepresidenta
IVÁN ZERPA GUERRERO
Secretario
VÍCTOR CLARK BOSCÁN
Subsecretario
29 de julio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Igreja em que pagando, tudo se perdoa, até assassinatos...

Calma, não é dessa Igreja que vocês conhecem, que estou falando, a tal que pratica a teologia da prosperidade: pagou, levou (ou seja, contribuiu, levou uma promessinha para casa, antecipando a riqueza próxima, o emprego, a casa própria, o carro, ou qualquer outra coisa).
Não, estou falando mesmo da Igreja Católica, especialista na venda de indulgências. Certo, certo, depois que Lutero se revoltou contra esse tipo de prática, quase quinhentos anos atrás, a Igreja resolveu reformar suas tabelas, ou melhor, abolir o horrível recurso ao pagamento de multas (a ela mesma, quem mais poderia ser?) para ser redimido de estupro, adultério, incesto, sodomia, pedofilia, zoofilia, e até assassinatos de padres e da própria mulher. Pagou, levou...
OK, isso acabou, mas se a Igreja pudesse pagar um pouquinho, hoje, para que esqueçam todos esses casos escabrosos que estão vindo atualmente à tona, talvez ela decidisse pagar. O pior é que ela já está pagando, mas os casos seguem aparecendo, numa corrente sem fim.

Em todo caso, para melhorar o conhecimento histórico de todos e cada um, transcrevo aqui a lista das indulgências e seus respectivos valores, tal como posta na página do jornalista (judeu, mas isso não tem nada a ver) Carlos Brickmann:

[ALERTA: um leitor atento, recolhido nos Comentários, me avisa que esse documento é falso, como aliás eu alertava que poderia ser no meu acréscimo final, depois da lista. Em todo caso, transcrevo tambem, a nota da Wikipedia que discute a questão.]

Taxa de venda de indulgências pelo papa Leão X (1517)
Brickmann e Associados Comunicação, site www.brickmann.com.br
30/04/2010 13:15

Obs.: A libra, ou lira, usada nos domínios papais da época, equivaleria hoje, grosseiramente, a algo como mil dólares, pouco menos de dois mil reais. Uma libra, ou lira, se divide em 240 soldos.
Fonte: IICPA - International Institute of Certified Public Accountants

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados.

Todos os delitos poderiam ser perdoados em troca do pagamento das taxas. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem cometido crimes, desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

São 35 artigos:

1. O eclesiástico que cometa o pecado da carne, seja com freiras, seja com primas, sobrinhas ou afilhadas suas, seja, por fim, com outra mulher qualquer, será absolvido, mediante o pagamento de 67 libras e 12 soldos.

2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, quiser ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deve pagar 219 libras e 15 soldos. Mas se tiver apenas cometido pecado contra a natureza com meninos ou com animais, e não com mulheres, pagará 131 libras e 15 soldos.

3. O sacerdote que deflorar uma virgem pagará 2 libras e 8 soldos.

4. A religiosa que quiser alcançar a dignidade de abadessa depois de se ter entregue a um ou mais homens, simultânea ou sucessivamente, quer dentro, quer fora do seu convento, pagará 131 libras e 15 soldos.

5. Os sacerdotes que quiserem viver maritalmente com parentes pagarão 76 libras e 1 soldo.

6. Para todos os pecados de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo; no caso de incesto, acrescentar-se-ão 4 libras.

7. A mulher adúltera que queira ser absolvida para estar livre de todo e qualquer processo e obter uma ampla dispensa para prosseguir as suas relações ilícitas pagará 87 libras e 3 soldos. Em idêntica situação, o marido pagará a mesma soma; se tiverem cometido incesto com seus filhos acrescentarão 6 libras.

8. A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.

9. A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.

10. Se o assassino tiver morto dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.

11. O marido que tiver maltratado sua mulher pagará 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, 17 libras e 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.

12. Quem afogar seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.

13. A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.

14. Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.

15. Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e 6 dinheiros.

16. O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.

17. O bispo ou abade que cometa homicídio por emboscada, por acidente ou por necessidade, pagará 179 libras e 14 soldos.

18. Quem quiser comprar antecipadamente a absolvição, por todo e qualquer homicídio acidental que venha a cometer no futuro, terá de pagar 168 libras e 15 soldos.

19. O herege que se converta pagará pela sua absolvição 269 libras. O filho de um herege queimado, enforcado ou de qualquer outro modo justiçado, só poderá reabilitar-se mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos e 9 dinheiros.

20. O eclesiástico que, não podendo saldar as suas dívidas, não quiser ver-se processado pelos seus credores, entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 dinheiros, e a dívida ser-lhe-á perdoada.

21. A licença para instalar pontos de venda de vários géneros, sob o pórtico das igrejas, será concedida mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 dinheiros.

22. O delito de contrabando e as fraudes relativas aos direitos do príncipe custarão 87 libras e 3 dinheiros.

23. A cidade que quiser obter para os seus habitantes ou para os seus sacerdotes, frades ou monjas autorização de comer carne e lacticínios nas épocas em que está vedado fazê-lo pagará 781 libras e 10 soldos.

24. O convento que quiser mudar de regra e viver com menos abstinência do que a que estava prescrita pagará 146 libras e 5 soldos.

25. O frade que para sua maior conveniência, ou gosto, quiser passar a vida numa ermida com uma mulher, pagará 45 libras e 19 soldos.

26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem travas pagará o mesmo montante pela absolvição.

27. O mesmo montante terá de pagar o religioso, regular ou secular, que pretenda viajar vestido de leigo.

28. O filho bastardo de um prior, que queira herdar a cura de seu pai, terá de pagar 27 libras e 1 soldo.

29. O bastardo que pretenda receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 dinheiros.

30. O filho de pais incógnitos que pretenda entrar nas ordens pagará 27 libras e 1 soldo.

31. Os leigos com defeitos físicos ou disformes, que pretendam receber ordens sacras e usufruir de benefícios, pagarão 58 libras e 2 soldos.

32. Igual soma pagará o cego da vista direita, mas o cego da vista esquerda pagará 10 libras e 7 soldos. Os vesgos pagarão 45 libras e 3 soldos.

33. Os eunucos que quiserem entrar nas ordens pagarão 310 libras e 15 soldos.

34. Quem por simonia quiser adquirir um ou mais benefícios deve dirigir-se aos tesoureiros do Papa que lhos venderão por um preço moderado.

35. Quem, por ter quebrado um juramento, quiser evitar qualquer perseguição e ver-se livre de qualquer marca de infâmia, pagará 131 libras e 15 soldos. Pagará ainda por cada um dos seus fiadores a quantia de 3 libras.

Fonte: Pepe Rodríguez (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica.
Terramar - Editores, Distribuidores e Livreiros
(1.ª edição portuguesa, Terramar, Outubro de 2001 - Anexo, pp. 345-348)

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Concluindo esta pouco edificante postagem sobre a conivência da criminalidade com o salvamento financeiro da Igreja, cabe registrar que são duas as fontes indicadas, uma um site internacional, outra um livro sobre as mentiras da Igreja Católica. Pode-se acreditar numa lista que trata de mentiras?


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Segue agora a matéria completa da Wikipedia italiana:

Taxa camarae
Da Wikipedia, l'enciclopedia libera.
link


La Taxa Camarae o Taxa Camerae sarebbe un elenco tariffario risalente al 1517 e dovuto a papa Leone X, redatto allo scopo di vendere assoluzioni sacramentali per peccati gravi già commessi o da commettersi in futuro. Il documento è stato e viene tuttora diffuso in seguito alla sua pubblicazione in calce al libro anticlericale dello spagnolo Pepe Rodríguez, intitolato Mentiras Fundamentales de la Iglesia Católica (tradotto in italiano: Verità e menzogne della Chiesa cattolica). Per gli storici questo documento è senza dubbio un falso.
Indice
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* 1 Il testo
* 2 Discussione intorno alla veridicità dell'elenco
* 3 Probabile modello su cui il falso è stato costruito
* 4 Note
* 5 Bibliografia
* 6 Collegamenti esterni

Il testo [modifica]

Ecco la traduzione italiana dei 35 articoli di cui il documento sarebbe composto:

1. L'ecclesiastico che incorresse in peccato carnale, sia con suore, sia con cugine, nipoti o figliocce, sia, infine, con un'altra qualsiasi donna, sarà assolto, mediante il pagamento di 67 libbre, 12 soldi.

2. Se l'ecclesiastico, oltre al peccato di fornicazione chiedesse d'essere assolto dal peccato contro natura o di bestialità, dovrà pagare 219 libbre, 15 soldi. Ma se avesse commesso peccato contro natura con bambini o bestie e non con una donna, pagherà solamente 131 libbre, 15 soldi.

3. Il sacerdote che deflorasse una vergine, pagherà 2 libbre, 8 soldi.

4. La religiosa che ambisse la dignità di abbadessa dopo essersi data a uno o più uomini simultaneamente o successivamente, all'interno o fuori del convento, pagherà 131 libre, 15 soldi.

5. I sacerdoti che volessero vivere in concubinato con i loro parenti, pagheranno 76 libbre, 1 soldo.

6. Per ogni peccato di lussuria commesso da un laico, l'assoluzione costerà 27 libbre, 1 soldo; per gli incesti si aggiungerà a coscienza 4 libbre.

7. La donna adultera che chieda l'assoluzione per restare libera da ogni processo e avere ampie dispense per proseguire i propri rapporti illeciti, pagherà al Papa 87 libbre, 3 soldi. In un caso analogo, il marito pagherà uguale somma; se avessero commesso incesto con i propri figli aggiungeranno a coscienza 6 libbre.

8. L'assoluzione e la sicurezza di non essere perseguiti per i crimini di rapina, furto o incendio, costerà ai colpevoli 131 libbre, 7 soldi.

9. L'assoluzione dell'assassinio semplice commesso sulla persona di un laico si stabilisce in 15 libbre, 4 soldi, 3 denari.

10. Se l'assassino avesse dato la morte a due o più uomini in uno stesso giorno, pagherà come se ne avesse assassinato uno solo.

11. Il marito che infliggesse maltrattamenti a sua moglie, pagherà alle casse della cancelleria 3 libbre, 4 soldi; se fosse uccisa, pagherà 17 libbre, 15 soldi, e se le avesse dato morte per sposarsi con un'altra, pagherà, inoltre, 32 libbre, 9 soldi. Coloro che avessero aiutato il marito a perpetrare il crimine saranno assolti mediante il pagamento di 2 libbre a testa.

12. Chi affogasse suo figlio, pagherà 17 libbre, 15 soldi (o sia 2 libbre in più che per uccidere uno sconosciuto), e se a uccidere fossero il padre e la madre di comune accordo, pagheranno 27 libbre, 1 soldo per l'assoluzione.

13. La donna che distruggesse il figlio che porta nel suo ventre, e il padre che avesse contribuito alla realizzazione del crimine, pagheranno 17 libbre, 15 soldi ognuno. Colui che facilitasse l'aborto di una creatura che non fosse suo figlio, pagherà 1 libbra di meno.

14. Per l'assassinio di un fratello, una sorella, una madre o un padre, si pagherà 17 libbre, 5 soldi.

15. Colui che uccidesse un vescovo o un prelato di gerarchia superiore, pagherà 131 libbre, 14 soldi, 6 denari.

16. Se l'assassino avesse dato morte a più sacerdoti in varie occasioni, pagherà 137 libbre, 6 soldi, per la prima uccisione, e la metà per quelle successive.

17. Il vescovo o abate che commettesse omicidio per imboscata, incidente o per necessità, pagherà, per raggiungere l'assoluzione, 179 libbre, 14 soldi.

18. Colui che in anticipo volesse comperare l'assoluzione di ogni omicidio incidentale che potesse perpetrare in futuro, pagherà 168 libbre, 15 soldi.

19. L'eretico che si convertisse, pagherà per l'assoluzione 269 libbre. Il figlio dell'eretico arso, impiccato o giustiziato in qualsiasi altra forma potrà essere riabilitato solo mediante il pagamento di 218 libbre, 16 soldi, 9 denari.

20. L'ecclesiastico che non potendo pagare i propri debiti volesse liberarsi dall'essere processato dai creditori, consegnerà al Pontefice 17 libbre, 8 soldi, 6 denari, e gli sarà perdonato il debito.

21. Sarà concessa la licenza per installare posti di vendita di vari generi sotto i portici delle chiese, sarà concesso mediante il pagamento di 45 libbre, 19 soldi, 3 denari.

22. Il delitto di contrabbando e frode ai diritti del principe costerà 87 libbre, 3 denari.

23. La città che ambisse per i suoi abitanti o per i suoi sacerdoti, frati o monache, la licenza di mangiare carne e latticini in epoche in cui è proibito, pagherà 781 libbre, 10 soldi.

24. Il monastero che volesse variare la regola e vivere con minore astinenza di quella prescritta, pagherà 146 libbre, 5 soldi.

25. Il frate che per migliore convenienza o gusto volesse passare la vita in un eremo con una donna, consegnerà al tesoro pontificio 45 libbre, 19 soldi.

26. L'apostata vagabondo che volesse vivere senza ostacoli, pagherà uguale quantità per l'assoluzione.

27. Uguale quantità pagheranno i religiosi, siano questi secolari o regolari, che volessero viaggiare in abiti da laico.

28. Il figlio bastardo di un sacerdote che volesse essere preferito per succedere nella cura al padre, pagherà 27 libbre, 1 soldo.

29. Il bastardo che volesse ricevere ordini sacri e goderne i benefici, pagherà 15 libbre, 18 soldi, 6 denari.

30. Il figlio di genitori sconosciuti che voglia entrare negli ordini, pagherà al tesoro pontificio 27 libbre, 1 soldo.

31.1 laici contraffatti o deformi che vogliano ricevere ordini sacri e possedere benefici, pagheranno alla cancelleria apostolica 58 libbre, 2 soldi.

32. Uguale somma pagherà il guercio dell'occhio destro, mentre il guercio dell'occhio sinistro pagherà al Papa 10 libbre, 7 soldi. Gli strabici pagheranno 45 libbre, 3 soldi.

33. Gli eunuchi che volessero entrare negli ordini, pagheranno la quantità di 310 libbre, 15 soldi.

34. Colui che per simonia volesse acquistare uno o molti benefici, s'indirizzerà ai tesorieri del Papa, che gli venderanno il diritto a un prezzo modico.

35. Colui che per avere mancato un giuramento volesse evitare ogni persecuzione e liberarsi di ogni tipo d'infamia, pagherà al Papa 131 libbre, 15 soldi. Inoltre consegnerà 3 libbre per ognuno di coloro che erano stati garantiti.
Discussione intorno alla veridicità dell'elenco [modifica]

Fin dalla pubblicazione del libro vi furono numerose reazioni, specialmente da parte di tutte quelle persone che non erano a conoscenza di questo documento e desideravano avere maggiori informazioni in merito. La lista, infatti, è stata edita senza nessun necessario riferimento bibliografico. Occorre premettere che tutti gli atti dei pontefici (per lo meno in epoca moderna) sono noti e pubblicati in raccolte ed edizioni a stampa (il Bullarium romanum, anzitutto) e di tutti siamo a disposizione dell'originale. Ogni documento infatti veniva pubblicato ufficialmente e ricopiato in centinaia di esemplari che venivano inviati in ogni regione del mondo cristiano sottoposto all'autorità del Papa. Per questo motivo tutte le bolle dei pontefici e gli atti pubblici di governo sono disponibili in diverse copie dell'epoca, regolarmente sottoscritte e bollate dalla curia romana.

Ora, il documento sopra riprodotto non è riportato in nessuna delle edizioni degli atti pontifici, non è noto in forma originale e non se ne dispone di alcuna copia coeva che abbia un valore documentale accertato. Alcuni storici, per questo motivo, si sono affrettati a domandare al signor Rodríguez le necessarie referenze che egli aveva omesso di indicare, per verificare la provenienza del documento che egli aveva pubblicato, e che ad una prima lettura sembra chiaramente un falso denigratorio. Rodríguez non è fino ad oggi stato in grado di mostrare alcun documento papale originale; ha però solamente acconsentito a qualificarlo come "dubbioso". Rimane sullo sfondo il principio metodologico secondo cui un documento non esiste fino che non viene dimostrata prova accettabile della sua esistenza, e che è colui che produce documento che è tenuto a dimostrarne l'autenticità, e non coloro che il documento non conoscono. Diversamente chiunque potrebbe fabbricare un documento e presentarlo come autentico, e chiedere ad altri di dimostrare la sua falsità. Non si può dimostrare la falsità di una cosa che documentariamente non esiste.

Ben poco valore ha l'idea secondo cui il documento sarebbe nascosto in Vaticano. Ciò significherebbe che di quel documento esiste una sola copia, il che renderebbe immediatamente incredibile la dichiarazione secondo cui le tariffe sarebbero state realmente applicate e divulgate tra i fedeli. Un atto pontificio ufficiale non pubblicato con ogni mezzo è semplicemente un atto pontificio che non esiste. Peraltro, gli archivi vaticani che contengono la documentazione di quell'epoca sono aperti agli studiosi. Infine, se un documento è nascosto in una biblioteca, non si capisce come qualcuno sia in grado di pubblicarlo ma non sia in grado di chiarire nessuna delle circostanze in cui tale documento fu per lui accessibile.

Un gruppo di ricercatori ha raccolto una serie di documentazione in proposito, riprodotta nel loro sito internet[1]. Anzitutto fu domandato al Rodríguez di produrre la documentazione su cui egli si era basato; egli rispose che il testo era stato ricavato da alcune fotocopie di pagine in lingua francese, ora sbiadite. Non fornì copie di quelle pagine né si dimostrò in grado di dare una referenza di qualche valore storico. La corrispondenza tra Rodríguez e questi ricercatori è stata resa pubblica nel sito di questi ultimi.

Alcuni sostengono l'autenticità del documento pur senza essere in grado di produrre alcuna referenza verificabile da uno storico. La discussione procede quindi - ma esclusivamente in questo campo dei non addetti ai lavori - sul piano inverificabile della personale inclinazione clericale o anticlericale.
Probabile modello su cui il falso è stato costruito [modifica]

È ben noto che in età rinascimentale sono realmente esistiti alcuni tariffari della curia romana, le cui copie autentiche sono attualmente consultabili. Essi però regolavano semplicemente il compenso da versarsi alla curia per la redazione materiale di qualche documento canonico, come tassa dovuta all'ufficio, a seconda dell'impegno che la preparazione e la scrittura in bella copia del documento richiedeva. Oggi tali elenchi di prezzi non esistono più, in quanto i dipendenti degli uffici vaticani sono stipendiati mensilmente, indipendentemente dalla quantità di documenti che producono. L'elenco di prezzi, perciò, non è altro che un tariffario di un ufficio, e non ha nulla a che fare con l'assoluzione dei peccati.

Certamente all'epoca di Leone X fu pubblicata una lista di tariffe per la curia romana, che fu in vigore durante il suo pontificato. Ma è altrettanto certo che questa ed altre simili liste "soffrirono gravi interpolazioni per opera dei protestanti, che alterarono abilmente la fraseologia e le cifre, di modo da fornire un aspetto esclusivamente venale e simoniaco alle concessioni del pontefice, per cui i poveri erano spietatamente esclusi, mentre i ricchi potevano ottenere con il denaro tutto ciò che desideravano"[2]

Esistono numerose pubblicazioni di tariffari alterati, stampati nei paesi protestanti con intenzione di screditare la Chiesa romana. Oggi gli storici di ogni orientamento ne riconoscono l'evidente falsità, e li considerano documentazione utile per studiare i rapporti tra il protestantesimo e il cattolicesimo nei secoli delle controversie. Nessuna di queste liste alterate coincide però con il testo pubblicato da Rodríguez, e nessuna di esse giunge ad un tale grado di corruzione; probabilmente i falsari dell'epoca erano ben consapevoli che un carattere eccessivamente simoniaco del documento avrebbe immediatamente fatto dubitare della sua autenticità. Se sono dunque noti i modelli, rimane da accertare a chi sia dovuta la redazione del testo pubblicato da Rodríguez.

Note [modifica]
1. ^ Sito di studio sulla Taxa Camarae
2. ^ N. Storti, La Storia e il Diritto della Dataria Apostolica dalle origini ai nostri giorni, Napoli 1969, p. 268

Bibliografia [modifica]
Studi:
* N. Storti, La Storia e il Diritto della Dataria Apostolica dalle origini ai nostri giorni, Napoli 1969, pp. 268-277
* Joseph Mendham (Emancipatus), Taxatio papalis, London 1825.
* R. Gibbings, The taxes of the apostolic penitentiary, Dublin 1872.
* P. Woker, Das kirchliche Finanzwesen der Päpste, Nördlingen 1878.
* H. C. Lea, The Taxes of the Papal Penitentiary, in “The English Historical Review” VIII (1893), 424-438.
* A. Dupin, Taxes de la pénitencerie apostolique, Paris 1879.
* T. L. Green, Indulgences, Sacramental Absolutions, and the Tax-Tables of the Roman Chancery and Penitentiary, considered in reply to the charge of Venality, London 1872.
* M. Jung, De L’authenticité du Fameux Livre des Taxes de la Chancellerie de Rome, in “Bulletin de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français”, 1857, pp.541-557.

Raccolta di fonti:
* L. Tomassetti - S. Franco (a cura di), Bullarium, Diplomatum et Privilegiorum Sanctorum Romanorum Pontificum, Torino 1857-1882.
* E. Fridberg (a cura di), Corpus Iuris Canonici, Graz (1955).
* M. Tangl, Die päpstlichen Kanzleiordnungen von 1200-1500, Aalen (1959).
* H. Denifle, Die älteste Taxrolle der apostolischen Pönitentiarie, in“Archiv für Literatur- und Kirchengeschichte des Mittlelalters” IV (1888), pp. 201-238.
Collegamenti esterni [modifica]
* Studio in italiano (sito di studio e documentazione sulla Taxa camarae e le sue probabili fonti)
* La Taxa Camarae del papa León X (sito di Pepe Rodríguez che riporta l'elenco tariffario)
* Cattolicesimo Portale Cattolicesimo: accedi alle voci di Wikipedia che trattano di Cattolicesimo

sábado, 20 de março de 2010

1889) A Igreja Catolica ainda nao enfrentou seus demonios

Primeiro um Breaking News Alert do The New York Times (Sat, March 20, 2010 -- 7:16 AM):

Pope Offers Apology for Sex Abuse Scandal

Confronting a sex abuse scandal spreading across Europe, Pope Benedict XVI on Saturday apologized directly and personally to victims and their families in Ireland, expressing "shame and remorse" and saying "your trust had been betrayed and your dignity has been violated."

His message, in a long-awaited, eight-page pastoral letter to Irish Catholics, seemed couched in strong and passionate language. But it did not refer directly to immediate
disciplinary action beyond sending a special apostolic delegation to investigate unspecified dioceses and religious congregations in Ireland. Moreover, it was, as the Vatican said it would be, focused particularly on the situation in Ireland, even as the crisis has widened elsewhere.

(Read More)

Agora um comentário meu:

Talvez a Igreja Católica não tenha uma maior proporção de "desviantes", no conceito normal dessa expressão em termos socialmente reconhecidos (homossexuais, pedófilos, sexual harassers, etc), do que as sociedades nacionais, como um todo.
Talvez não, mas o problema está em que a Igreja Católica exige de seus "funcionários" uma conduta totalmente incompatível com a expressão normal e natural dos desejos e impulsos humanos, que são o apetite sexual, a necessidade de afeto, amor, carinho e até de dominação carnal, enfim, sentimentos que se expressam naturalmente nos seres humanos e que encontram acolhimento, canalização e satisfação nas instituições e condutas que existem à disposição das pessoas "normais", quais sejam: casamento, namoro, concubinato, convivência afetiva, e outras formas de relacionamento entre pessoas dos dois sexos oficialmente reconhecidos na espécie humana, o que inclui prostituição, adultério e outras formas especiais de intercâmbio carnal (como diria o Gilberto Freyre).
Pois bem, ao proibir aos seus membros não apenas esses intercâmbios, mas a sua mera expressão oral, ao exigir fidelidade total ao princípio do celibato e da abstinência sexual, a Igreja Católica está pedindo demais a seus "funcionários" e impondo-lhes uma restrição absoluta em termos de expressão natural de seus desejos e impulsos que acabam tendo manifestações "desviantes", clandestinas e até perversões, que além de serem "pecaminosas" pelos seus códigos de conduta, acabam sendo malignos e até cruéis (como a pedofilia, por exemplo).
Tudo isso, claro, em nome da preservação do seu poder: os "homens especiais" que se dedicam à Igreja Católica deveriam ser servos fiéis de sua missão evangelizadora, mas também um exército de burocratas engajados em aumentar o poder (espiritual e material) da Igreja sobre o mundo e sobre as pessoas. Ao tolher a seu pequeno exército de burocratas e soldados da fé a expressão livre de seus desejos naturais, a Igreja acaba forçando-os a práticas imorais ou até delituosas.
Que um padre da Igreja Católica se aventure ocasionalmente em amores clandestinos, com uma mulher, em uma relação livremente consentida, não existe problema algum, posto que em outras igrejas existe casamento e outras práticas. Ao proibir qualquer tipo de amor, a Igreja Católica "força" seus funcionários a praticar sexo com seres dominados (crianças) ou colegas, com ou sem consentimento explícito.
Finalmente, essas comissões de investigação para apurar "desvios de conduta" são uma grande hipocrisia e um travestimento do problema. Não se trata de resolver, e sim de impedir a divulgação e evitar "novos" problemas.
O problema só será resolvido (parcialmente, posto que "desviantes" sempre existem, em qualquer sociedade ou grupo social) quando a Igreaja Católica terminar com o dogma estúpido do celibato e da abstinência sexual, e passar a dispor de um exército de soldados e burocratas livres para expressar naturalmente seus desejos e impulsos. Isso tornará a instituição menos "eficiente" para seus fins próprios -- que são o monopólio da fé e a conduta individual de seus filiados, membros e seguidores, tornados servos obedientes de seus dogmas ancestrais -- mas ela será provavelmente menos propensa a produzir um número tão alto de desviantes ativos.
Paulo Roberto de Almeida (20.03.2010)