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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 10 de setembro de 2023

A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico (2010) - Paulo Roberto de Almeida

Um texto já antigo, que talvez eu escrevesse de outra maneira, atualmente, mas que ainda apresenta alguma validade, em função de alguns desvarios observados nos ciclos ditos superiores de ensino. Pouco a pouco a qualidade da academia brasileira tem melhorado, mas outros modismos tem contaminado a velha e boa pesquisa científica baseada em evidências empíricas. Como sempre, importações feitas de modo imitativo deformam alguns trabalhos recentes, mas no geral, creio que o quadro que eu tracei treze anos atrás parece ter melhorado.

Em todo caso, coloco o texto novamente à disposição dos interessados, inclusive em minha página da plataforma Academia.edu, neste link:

https://www.academia.edu/44249737/2169_A_Ignorancia_Letrada_ensaio_sobre_a_mediocrizacao_do_ambiente_academico_2010_

2169. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Dubai-São Paulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010, 10 p. Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis. Disponível no blog Diplomatizzando (1.08.2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/08/sobre-ignorancia-letrada-algumas.html). Revista Espaço Acadêmico (ano 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; links: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10774; pdf: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Publicada na revista acadêmica Espaço da Sophia (ano 4, n. 41; janeiro-março 2011; ISSN: 1981-318X). Reproduzido na revista Aeronáutica (Rio de Janeiro: Clube da Aeronáutica, vol. X, n. 308, julho a setembro 2020, p. 20-25; ISSN: 0486-6274; link: http://www.caer.org.br/downloads/revistas/revista308.pdf); disponível na plataforma Academia.edu (7/10/2020; link: https://www.academia.edu/44249737/2169_A_Ignorancia_Letrada_ensaio_sobre_a_mediocrizacao_do_ambiente_academico_2010_). Publicados n. 985, 1016 e 1469. Nova postagem a respeito desse texto no blog Diplomatizzando (27/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/a-ignorancia-letrada-uma-critica.html). 


quinta-feira, 27 de abril de 2023

A ignorância letrada, uma crítica contundente à academia, ainda se sustenta como conceito e como realidade? - Paulo Roberto de Almeida

 Hoje, 26/04/2023, tomei conhecimento de que um antigo texto meu, elaborado improvisadamente entre duas ou três viagens entre um canto e outro do mundo, foi citado num livro do conhecido "provocador cultural" Antonio Risério, o que confesso não sabia, e sobre o qual gostaria de ser informado para adquirir e ler.

O texto, também provocador, é o seguinte, com todos os links a que ele teve direito, por publicações sucessivas, em periódicos acadêmicos com os quais colaborava, ou até  um dos aviadores, sem que eu o tivesse encaminhado (eles o quiseram, dez anos depois de sua publicação original, e eu não objetei).

2169. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Dubai-São Paulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010, 10 p. Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis. Disponível no blog Diplomatizzando (1/08/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/08/sobre-ignorancia-letrada-algumas.html). Revista Espaço Acadêmico(ano 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10774; pdf: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Publicada na revista acadêmica Espaço da Sophia (ano 4, n. 41; janeiro-março 2011; ISSN: 1981-318X). Reproduzido na revista Aeronáutica (Rio de Janeiro: Clube da Aeronáutica, vol. X, n. 308, julho a setembro 2020, p. 20-25; ISSN: 0486-6274; link: http://www.caer.org.br/downloads/revistas/revista308.pdf); disponível na plataforma Academia.edu (7/10/2020; link: https://www.academia.edu/44249737/2169_A_Ignorancia_Letrada_ensaio_sobre_a_mediocrizacao_do_ambiente_academico_2010_). Publicados n. 985, 1016 e 1469.


Todos os links acima, permanecem funcionais, mas eles reproduzem apenas o artigo em si, não necessariamente o debate que ele possa ter suscitado, e do qual não devo ter tomado conhecimento, pois que permaneci fora do Brasil (na China) até quase o final do ano de 2010.

Permito-me apenas reproduzir, abaixo, um comentário que permaneceu na postagem do meu blog Diplomatizzando.

Informo, por fim, que nunca mais voltei ao tema, e não mais fiz "pesquisas" para comprovar se as minhas críticas acerbas eram legitimas, na ocasião (provavelmente não), ou se elas se mantêm contra meus colegas de academia. Imagino que a qualidade tenha melhorado E piorado, pois, como naquele velho filme de faroeste italiano, temos de tudo, do bom, do mau e do feio.

Será que estou sendo injusto com minha "alma mater" (ironia involuntária)?

Não sei, preciso reler o trabalho, já quase esquecido, e repensar meu ataque feito com metralhadora ponto 50.

Aguardo críticas dos "companheiros" (no pun intended). 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/04/2023


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Leonardo disse... (01/12/2010)

Excelente! Nunca pensei que fosse um dia encontrar um Cientista Social brasileiro sem fortes inclinações marxistas! (Desculpe a brincadeira. Isso é consequência da MINHA ignorância letrada, muito influenciada por um preconceito que surgiu devido a uns panelaços e gritaria enquanto eu fazia prova na Universidade).
Quanto ao assunto do artigo, lembro-me de ter sido fortemente influenciado pela escola quando ainda era uma inocente criança. Me diziam: Papai Noel existe; Jesus vai te salvar; o rico é rico porque toma do pobre; é uma injustiça social colher os frutos da sua iniciativa, criatividade e esforço pessoal.
Acredito que essa lavagem cerebral feita nas escolas, provavelmente influenciada por teorias ultrapassadas e inúteis, com conteúdo ideológico e gente mal intencionada por trás, ajude a perpetuar esse quadro de mediocrização do ambiente acadêmico, já tornando o indivíduo permanentemente desinformado antes mesmo dele perder a virgindade. É uma pena.
Parabéns pelo artigo e pelo blog! Um abraço!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Leonardo,
Acabo de voltar ao Brasil, depois de oito meses no exterior, tendo acompanhado pela internet alguns dos"debates" acadêmicos a propósito das eleições. Confesso a você que fiquei assustado com o que li e ouvi, pela extrema vulgaridade dos argumentos expostos, pelo militantismo da pior espécie exposto em todas as esferas e pela mediocridade continuada já por mim criticada neste ensaio. Você deve ter lido, por exemplo, o manifesto dos reitores a favor da candidata oficial. mandei uma carta resposta para a SBPC que obviamente não foi publicada, mas que você pode encontrar aqui neste blog, colocando carta dos reitores ou algo do genero.
Estou realmente assustado com a mediocrização galopante da academia brasileira.
O abraco do
Paulo R Almeida



quarta-feira, 7 de outubro de 2020

A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico (2010) - Paulo Roberto de Almeida

Uma pequena história para introduzir um artigo de DEZ ANOS atrás.

 

No dia de ontem, 6/10/2020, recebi uma demanda de assistente da Revista Aeronáutica para fornecer meu endereço, para remessa de um exemplar de número da revista que havia publicado um artigo meu. Não tinha a menor ideia de que artigo seria, e não tinha a menor ideia de que eu havia enviado um artigo para essa revista de “aviadores” (da ativa e reformados). 

 

Apenas hoje, dia 7, ao receber um arquivo digital dessa revista, tomei conhecimento de que se tratava de um artigo que eu havia escrito DEZ ANOS ATRÁS

Eu mantenho um registro relativamente fiel e detalhado de TODOS os meus trabalhos, que recebem um número da Relação de Originais assim que são terminados. Eis aqui a ficha original do trabalho n. 2.169, escrito em viagem da China ao Brasil em 2010, e terminado de volta a Xangai no final de julho daquele ano. Eu o postei imediatamente em meu blog, mas poucas semanas depois ele foi publicado numa revista acadêmica com a qual eu colaborava então. Seis meses depois, ele foi publicado em outra revista com a qual colaborava (mas que já não mais existe, por isso não existe link de URL). 

A comprovação de que eu não enviei o artigo para a revista está no fato de que eles o publicaram com o meu endereço do Twitter; ora, eu NUNCA usei esse endereço como contato comigo, e, sim, uso meu site pessoal (www.pralmeida.org), onde existe um formulário de contato, através do qual recebo mensagens de leitores e curiosos. 

 

2169. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Dubai-São Paulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010, 10 p. Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis. Disponível no blog Diplomatizzando (1/08/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/08/sobre-ignorancia-letrada-algumas.html). Revista Espaço Acadêmico (ano 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10774; pdf: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Publicada na revista acadêmica Espaço da Sophia (ano 4, n. 41; janeiro-março 2011; ISSN: 1981-318X). Relação de Publicados n. 985 e 1016. 

 

         Acrescentado dia 7/10/2020: 

Reproduzido na revista Aeronáutica (Rio de Janeiro: Clube da Aeronáutica, vol. X, n. 308, julho a setembro 2020, p. 20-25; ISSN: 0486-6274; link: http://www.caer.org.br/downloads/revistas/revista308.pdf); disponível na plataforma Academia.edu (7/10/2020; link: https://www.academia.edu/44249737/2169_A_Ignorancia_Letrada_ensaio_sobre_a_mediocrizacao_do_ambiente_academico_2010_). Relação de Publicados n. 1469.

 

Ao reproduzir essa ficha, posso informar que, naquele ano, eu estava num serviço provisório junto ao Consulado do Brasil em Xangai, mas para trabalhar no pavilhão do Brasil na Shanghai Universal Exhibition, que foi realizada de maio a outubro daquele ano. Ocorre que eu também era diretor executivo da BRASA, Brazilian Studies Association, que estava realizando seu congresso bienal em Brasília. Comecei a escrever esse trabalho no longo trajeto aéreo entre Dubai e São Paulo, e só fui terminá-lo de volta a Xangai. Depois das duas publicações, o artigo desapareceu de meus registros, como se pode ver pela ficha, e só reapareceu agora, quando a revista Aeronáutica o desenterrou de algum lugar (talvez o meu blog, talvez a Espaço Acadêmico), mas não sei por que colocaram meu endereço de Twitter como contato.

Ao tomar conhecimento dessa publicação, escrevi o que segue, pelo mesmo canal de contato utilizado para me informar sobre sua inesperada publicação: 

 

Muito grato, vou registrar na minha lista de publicados.

            Acredito que não serei mais convidado a colaborar, pois se existe um processo deliberado de mediocrização, de embrutecimento, de emburrecimento e de idiotice generalizada, ele vem sendo conduzido pelo governo atual, especialmente pelo seus estúpidos ministros da educação, que conduzem um ataque deliberado à inteligência, um assalto às instituições de ensino público, à cultura de forma geral.

            Lamento que as FFAA estejam sendo coniventes com a desgovernança atual no Brasil do capitão aloprado.

            Desculpe o desabafo, mas nunca me eximi de expressar minha opinião sobre o estado da nação, sobretudo na fase do lulopetismo, quando foi escrito esse texto agora reproduzido. 

            Pois a situação agora é infinitamente pior, com o bando de novos bárbaros ignorantes no poder.

            Façam um trabalho digno, para restaurar o prestígio, outrora alto, atualmente um pouco diminuído, das FFAA.

            Cordialmente,

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Paulo R. de Almeida

 

Creio que a história está contada. Agora, quem quiser ler o artigo, pode fazê-lo num dos links de contato acima reproduzidos. De minha parte, se eu tivesse que comentar sobre o assunto, eu o faria nos termos da mensagem que mandei como recado aos militares.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 7 de outubro de 2020

 


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A ignorância triunfou (por enquanto) - José de Souza Martins

O artigo de um dos melhores sociólogos do Brasil — ou seja, da minha tribo — é relativamente pessimista, pois dá a entender que a ignorância triunfou.
Concordo com ele, em grande medida, mas isso não é novo.
Já no começo do século XIX, observando as massas incultas que desembarcavam nos EUA, James Fenimore Cooper (sim, o romancista do Último dos Moicanos), constatava também de forma pessimista que a democratização andava de par com a mediocrização, o que é inevitável quando se abandona uma cultura de elite pela das massas populares.
O Brasil passou por uma grande processo de democratização social desde o início dos anos 40, com a urbanização e a industrialização, e depois, a partir dos anos 1960 com a ampliação do acesso às instituições de ensino. Era inevitável certa mediocrização da cultura popular e dos estratos participantes do jogo político, pois já não se podia manter apenas líderes cosmopolitas, com educação superior, nos mecanismos de decisão.
A República Sindical — corrupta, ignorante, sectária — que não tivemos em 1964, por força do golpe militar, veio com toda força a partir de 2003, com o lulopetismo no poder.
O problema aí não foi tanto a mediocrização de todas as instituições e instâncias de poder — como transparece nesse triunfo da ignorância de que fala José de Souza Martins— mas o fato de que, por um lado, o lulopetismo não foi apenas ignorante, mas também corrupto e criminoso, e que, por outro lado, as elites — industriais, banqueiros, membros das chamadas profissões liberais, a academia — se revelaram singularmente ineptas, quando não coniventes com o poder corruptor da nova República Sindical,  corrupta, medíocre, ignorante, e dominada por um líder carismático que mais se aproxima de um chefe mafioso, e que continua a desafiar as instituições, com parte do Judiciário também medíocre e rastaquera — quando não conivente — incapaz de prendê-lo como reles bandido que é.
Esse é o triunfo da ignorância, da mediocridade e da completa inépcia das elites econômicas incapazes de encontrar em seu meio um estadista capaz de conduzir o Brasil para fora disso tudo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14/02/2018

A nova ignorância
José de Souza Martins
Valor Econômico / Eu &Fim de Semana, 9-1-11/02/2018

Historicamente, no Brasil, ignorância é um juízo de valor e manifestação de poder de quem, em posição de mando, não se considera ignorante. Era a definição que os poucos escolarizados davam aos muitos não escolarizados nas primeiras décadas do século passado. Estes, considerados socialmente inferiores, porque trabalhadores, mestiços ou descendentes de escravos, gente ao longo das gerações condenada ao trabalho braçal, supostamente vazio de trabalho intelectual.

No entanto, seja na lavoura, no artesanato, no trabalho doméstico, havia e há sistemas complexos de conhecimento, modos de fazer e de pensar que a maioria dos críticos da ignorância ignora. Aliás, analfabeto não quer dizer ignorante. Os estudos antropológicos nas áreas das etnociências mostram que o conhecimento popular tem elaborações e peculiaridades lógicas que indicam um labor cognitivo que não é antagônico ao da ciência e ao da arte.

Ao ignorar essa cultura, em vez de uma ponte de diálogo criativo e de aprendizado, a escola preferiu o abismo que a separa daqueles que pretende educar. Raramente nos lembramos de que a escola é um poder e instrumento de poder. Foi esse poder que decretou que aqueles aos quais o trabalho impediu a escolarização fossem definidos como ignorantes.

Ignorância é um rótulo, um dos conceitos de nossa cultura de preconceitos. A ignorância muda com o tempo, a circunstância e a mentalidade dominante. Ignorantes de hoje, na classe média e mesmo na elite, passaram pela escola e até mesmo pela universidade. Apesar de terem opinião sobre todos os assuntos, quando muito dominam apenas uma área do saber. Fora de sua área, são ignorantes pela especialização, pelo raciocínio estereotipado e desvinculado do pensamento crítico.

No plano das condutas e da visibilidade da ignorância, há meio século, os ignorantes já sabiam o motivo pelo qual eram assim definidos. Desenvolveram formas de dissimulação de sua ignorância para enfrentar as adversidades numa sociedade em que ser ignorante tornara-se motivo de discriminação e vergonha. A ignorância expressava-se não só na fala e nos simplismos, mas na apresentação pessoal, no uso impróprio de coisas e modos do que Erving Goffman define como equipamento de identificação.

Uma técnica tem sido a de copiar formas de expressão e de apresentação pessoal em público, prestar muita atenção no que os outros fazem e dizem e tentar imitá-los. Imita-se na fala, no traje, nos gestos. Mas a dissimulação da ignorância tinha e tem limites. Não raramente, gestos, palavras e trajes impróprios denunciam que a pessoa desconhece o que é apropriado para assegurar a eficácia da imitação. É ignorante.

Mas a concepção de que é socialmente mais decisivo parecer do que ser se difundiu, criou uma cultura, definiu valores e regras de penosos esforços de apresentação e de conduta. A forma aparente incluiu socialmente os excluídos. A superficialidade tornou-se democrática e, mesmo, decisiva, para incluir enganosamente o ignorante. Há uma função terapêutica no uso desses recursos numa sociedade que enfrenta, cada vez mais, limites no acesso à cultura erudita e que, cada vez mais, oferece recursos de dissimulação da ignorância. A sabedoria popular foi confrontada com a frágil sabedoria de ocasião.

Nos anos 1960, a difusão da leitura dinâmica, de ler apenas uma de cada duas palavras, ou de cada três, permitia "ler" um livro na metade do tempo da leitura normal. Não era ler para saber, era para que o "leitor" fizesse de conta que o havia lido, para simular conhecimento. O importante não era e não é deixar de ser ignorante. Importante é fingir não ser ignorante. Uma nova forma social de ignorância estava nascendo.

Nos anos 1970, as chamadas classes populares emergiram no cenário político brasileiro. Em alguns anos elegeriam um presidente da República. A intelectualidade dos movimentos populares produziu racionalizações que na essência asseguravam que o ignorante é sábio, na contramão dos valores da própria classe trabalhadora que, desde sua constituição entre nós, sempre valorizou a escola. Ignorância e poder se encontraram. Difundiu-se aqui a raiva como fundamento dos confrontos sociais, uma concepção antipolítica da luta de classes. O novo saber superficial e manipulável amalgamou-se com a raiva política, a incultura tornou-se prepotente. Durante quase um século a consciência da ignorância levou à busca da escola, à valorização da escola. Agora, a nova ignorância elegeu a escola como inimiga.

Da universidade ao palanque e do palanque ao botequim, o ignorante perdeu a consciência da ignorância, ao ponto de questionar o conhecimento erudito e minimizar e afrontar os profissionais do saber.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “O Coração da Pauliceia Ainda Bate” (Ed. Unesp/Imprensa Oficial) 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A ignorancia letrada: ensaio sobre a mediocrizacao do ambiente academico - Paulo Roberto de Almeida

Um antigo trabalho meu, que me parece cada vez mais apropriado, ao simplesmente contemplar certas manifestações em universidades públicas: 
 
985. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Espaço Acadêmico (vol. 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Relação de Originais n. 2169.


A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico

Paulo Roberto de Almeida
Relação de Originais n. 2169. Relação de Publicados n. 1016.

Nota preliminar 1: Sempre me lembro de um aforismo de Ferreira Gullar quando vou escrever um texto a partir do zero, sem notas e sem preparação: “A crase não foi feita para humilhar ninguém”. Pois bem: este ensaio não foi feito para humilhar nenhum acadêmico, nem para ofender a categoria, de modo geral. Apenas desejei externar uma reflexão feita inteiramente a partir do que constato nos ritos e nas práticas acadêmicas, com base na interação com outros professores, no exame de artigos submetidos ao meu parecer e também formada na leitura de muitos artigos publicados. O uso do conceito de “mediocrização”, em relação à academia, e não simplesmente em conexão com a televisão aberta, por exemplo, ou, de maneira geral, com a cultura de massas no Brasil, pode parecer exagerado e indevido, mas me pareceu necessário nas circunstâncias atuais. Em qualquer hipótese, a mediocridade reinante não é obra de um ou dois acadêmicos; ela é um empreendimento coletivo de longa duração, que já vem desde algum tempo no passado recente e que promete se estender por um tempo ainda indefinido no futuro da academia brasileira.
Nota preliminar 2: Talvez o adjetivo “letrada” pudesse ser substituído por um equivalente mais culto, “ilustrada” digamos, para caracterizar a ignorância ostentada na “parte alta” da sociedade, isto é, naquela supostamente dedicada ao conhecimento de alto nível. No meu conceito, porém, essa ignorância não merece a caracterização “ilustrada”, pois se trata mesmo, apenas e tão somente, de cultura “letrada”, na sua acepção mais elementar. Com estes “avisos” a toda a comunidade, agora começo.

1. O problema
A universidade brasileira, como todos sabem, é uma construção tardia. Talvez alguma sumidade acadêmica atribua seus evidentes traços negativos ao chamado “capitalismo tardio” em nosso país, qualquer que seja o significado desse conceito histórico naturalmente anacrônico (pois que todo processo complexo e multissecular, como o capitalismo, apresenta defasagens temporais em suas manifestações concretas, em cada situação social determinada); mas a verdade é que a mediocrização também é uma obra tardia, pois o fenômeno só surge depois que a universidade foi inteiramente construída. Formada a partir de escolas e faculdades isoladas na primeira metade do século 20, a universidade brasileira só começou a erigir um sistema de pós-graduação a partir do final dos anos 1960: a “substituição de importações” nessa área foi um processo lento, ainda não de todo acabado, mas já bastante consolidado para os padrões habituais dos países em desenvolvimento. Pode-se dizer que, do ponto de vista dos procedimentos administrativos e das técnicas de formação e de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior, a missão foi razoavelmente bem cumprida, muito embora as “importações” ainda permaneçam como um componente importante em várias áreas do sistema (o que é absolutamente natural e necessário).
Essa construção se deu basicamente sob o regime militar (1964-1985), não ocorrendo depois, na redemocratização e no período recente, nenhuma “revolução” no terceiro ciclo, pelo menos não comparável ao processo de rupturas registrado durante a fase autoritária. Os governos posteriores se limitaram a expandir o sistema, por vezes de forma anárquica, abrindo novos espaços ao setor privado, na ausência de investimentos estatais no setor, ou na incapacidade de governos estaduais e do próprio governo central fazê-lo de modo compatível com as necessidades detectadas. Essa expansão se deu de forma mais “elástica” do que sistêmica, bem mais do lado quantitativo do que qualitativo, embora se possa dizer que a produção ampliada também melhorou sensivelmente de qualidade em muitas áreas.
O que a redemocratização trouxe de diferente foi, justamente, um simulacro de “democratização” das instituições universitárias, sob a bandeira da “autonomia”. Na verdade, um aumento extraordinário e uma forte consolidação do corporativismo e do sindicalismo em todas as faixas profissionais, ambos os fenômenos dominados por partidos e movimentos de esquerda e pelo chamado “baixo clero” (e, portanto, já tendente ao que chamei de mediocrização das instituições). Não existe novidade nesse tipo de “evolução”, mesmo quando não aceitamos a legitimidade de uma cultura de “elite”; o romancista americano James Fenimore Cooper – mais conhecido entre nós por seu romance histórico bem pesquisado O Último dos Moicanos – já tinha detectado a crescente mediocrização da vida intelectual nos Estados Unidos desde o início do século 19, sociedade que não pode ser tida como exemplo de elitismo aristocrático, ao contrário: ele indicava o fenômeno como coetâneo ao processo de democratização social, em forte ascensão naquele país recentemente independente.
Sem ter apoio em pesquisas específicas ou estudos setoriais empiricamente embasados – correndo o risco, nesse particular, de algum subjetivismo – é possível afirmar-se que o crescimento e a expansão do terceiro ciclo ocorreram paralelamente ao enorme crescimento quantitativo e à perda de qualidade dos dois primeiros ciclos de ensino. Existem muitas evidências prima facie de que esses dois processos paralelos e aparentemente contraditórios – embora concordantes no aspecto quantitativo – aconteceram ao longo das quatro últimas décadas e meia, ou seja, nos 21 anos do regime militar e nos 25 anos decorridos desde a redemocratização. Ao longo desse processo de inegável democratização de oportunidades sociais – embora insuficiente e longe de ter sido completada, sobretudo devido ao estrangulamento do secundário – os dois movimentos se reforçaram mutuamente e consolidaram seus traços mais negativos, evidenciados justamente no elemento característico que constitui o elemento central desta análise: a perda de qualidade e a mediocrização geral do ensino no Brasil, em especial em sua vertente “superior”.

2. As causas
Como para todo fenômeno complexo, a perda de qualidade do ensino público em geral, no Brasil, possui múltiplas causas, diversas variáveis intervenientes e diferentes tipos de condicionantes, que foram se alterando ao longo do tempo. Pode-se, no entanto, tentar isolar algumas causas aparentes que foram interagindo entre si desde os anos 1960 e que se reforçaram conjuntamente no final do período, ou seja, atualmente, e que prometem continuar agindo no futuro previsível.
Tudo tem início na geração precedente e no movimento pela reforma do ensino e de reforço da escola pública, começado na sequência da Revolução de 1930, continuado na implantação do Estado autoritário no Brasil, em 1937, e em sua consolidação nos anos seguintes, movimento que se prolongou na República de 1946. Os líderes militares e civis que comandaram esses processos nos trinta anos seguintes à Revolução de 1930 foram bem sucedidos em criar um sistema de escolas públicas de qualidade, ainda que bastante seletivo em sua capacidade de recrutamento – basicamente a classe média urbana – e tendente a um mínimo denominador comum – horários reduzidos e reforço limitado de mecanismos extra-escolares – mais do que à ampliação progressiva dos conteúdos e metodologias.
Essa escola “republicana” funcionava razoavelmente bem, ainda que de modo restrito, quando os militares tomaram o poder e decidiram fazer uma revolução nas carências educacionais mais sentidas no Brasil dessa época: criar uma universidade compatível com as necessidades industrializantes e, sobretudo, operar a implantação de programas de pós-graduação. Os militares provavelmente partiram do pressuposto de que a escola pública já estava montada e funcionando adequadamente, e que os esforços mais importantes deveriam ser dirigidos, portanto, para a graduação universitária, em especial para a pós-graduação. Recursos foram maciçamente direcionados a esses dois sistemas, ao mesmo tempo em que os dois primeiros ciclos recebiam os influxos de milhões de novas crianças e adolescentes, sob o impacto do crescimento demográfico e da urbanização, bastante rápidos no Brasil dos anos 60 aos 80. As entidades de fomento cresceram, as bolsas se multiplicaram, os salários dos professores universitários eram relativamente elevados.
Paradoxalmente, um dos principais fatores da perda progressiva de qualidade do ensino público nos dois primeiros ciclos foi a concentração – e a centralização e a reconcentração – dos recursos públicos no terceiro ciclo, este ultra-privilegiado pelas autoridades em relação aos dois primeiros ciclos e, por isso mesmo, capaz de “produzir” universidades relativamente dinâmicas ao longo das últimas três décadas (sem prejulgar aqui e agora quanto à sua capacidade de produzir boa ciência). O Brasil representa verdadeira anomalia internacional, provavelmente universal, sob a forma de uma pirâmide invertida de gastos entre os ciclos. É absolutamente único na desproporção inusitada, e aberrante, com que são alocados os recursos no topo da educação (na verdade transformado em base superior da pirâmide), em detrimento dos “primos pobres” dos dois ciclos de base (e da educação técnico-profissional, também). Isso em flagrante contraste com o que acontece na maior parte dos países (notadamente naqueles de melhor performance educacional e de maior produtividade no sistema econômico de maneira geral).
Essa desigualdade distributiva não explica tudo, porém, sendo necessário completar o quadro mediante um fator causal de natureza mais qualitativa, representado pelas orientações políticas e pedagógicas adotadas nos cursos de formação de professores, especialmente nas faculdades de pedagogia (que formam formadores, eventualmente também formadores de formadores). Não é segredo para ninguém que o ensino no Brasil, em geral, e os cursos de pedagogia, em particular, são tremendamente influenciados – se não dominados – pelas ideologias tidas por “progressistas” (as aspas indicam obviamente o subjetivismo da expressão), com ênfase naquelas aproximadas ao marxismo; bem como pelas correntes pedagógicas identificadas de perto ou de longe com modismos da área (entre eles o chamado “construtivismo”) e com um amálgama já difuso a partir da cepa original “freireana”, ou seja, a chamada “pedagogia do oprimido” produzida por Paulo Freire.
Dito assim, com essa simplicidade redutora, parece que se trata de  um aspecto desimportante no mar de problemas – materiais, curriculares, humanos – da educação brasileira, embora ele seja, do ponto de vista da abordagem adotada neste ensaio, um dos problemas mais sérios envolvidos nos processos gerais e específicos da deterioração da qualidade do ensino no Brasil (em vários níveis). As pedagogias freireanas estão no centro da tragédia educacional brasileira. Ponto, parágrafo.
Estou plenamente consciente de que as próprias corporações engajadas no ofício (e no comércio) educacional no Brasil – em qualquer ciclo – tendem a enfatizar os fatores pecuniários – insuficiência dos orçamentos públicos, no plano institucional, modéstia ou mesmo depressão salarial dos professores, no plano individual – como estando na origem de todas as mazelas da educação brasileira. Não descarto, obviamente, essa linha explicativa – embora eu prefira enfatizar o escândalo da pirâmide invertida da distribuição de gastos educacionais; mas os fatores políticos e ideológicos são para mim bem mais relevantes, e mesmo determinantes, na erosão qualitativa de todos os níveis da educação e de todo o ensino (público ou particular) no Brasil.

3. As consequências
A tese principal deste ensaio provocador – deliberadamente focado nas áreas de humanidades – é a de que, depois de ter se beneficiado – e beneficiado a sociedade – com a construção de um sistema universitário relativamente completo, e aparentemente eficiente, com a formação de recursos humanos de melhor qualidade que aqueles previamente existentes, a universidade brasileira deu início a um processo de introversão autosustentada, o que a levou a se isolar da sociedade e a desenvolver comportamentos entrópicos e autistas que, ao fim e ao cabo, redundaram no referido processo de mediocrização atual (aliás, em crescimento e expansão).
De fato, esse processo apresenta, pelo lado das humanidades, um aspecto de ignorância letrada que surpreende pela sua extensão e profundidade. Ele não é, exclusivamente, o resultado das ditas pedagogias freireanas – que explicam mais diretamente a perda de qualidade dos ciclos iniciais de ensino; mas ele é a consequência de anos, mais exatamente décadas, de ideologias “educativas” marcadas pelo que existe de mais atrasado na teoria social contemporânea. Ademais da ausência de controles de qualidade, da falta de sistemas de metas fixadas e resultados cobrados – que explicam sua falta de produtividade – o que mais distingue a área de humanidades, no Brasil, é uma adesão acrítica a correntes e movimentos típicos do capitalismo atrasado que aqui vigora. (Parêntese rápido: obviamente meu comentário não vale para os que professam a fé religiosa nas alternativas socialistas ao capitalismo, mas estes já pararam de ler este meu ensaio desde o começo, se é que começaram; quanto a mim, estou certo de que o Brasil é um país capitalista, ainda que atrasado, mas “condenado” a se desenvolver no âmbito do capitalismo, ponto.). As concepções dessas correntes de “pensamento” são as de um anticapitalismo instintivo, as de um forte sentimento antimercado, um estatismo exacerbado, enfim, uma crença ingênua nas virtudes da “engenharia social”, características, aliás, bastante disseminadas em diversas universidades da região; e, até, em muitas universidades de países perfeitamente capitalistas (como exemplo a França, por isso mesmo em declínio intelectual e com baixa produtividade geral nos terrenos aqui focados).
Aqui existe uma correlação circular e cumulativa de fatores causais: os ignorantes letrados e as corporações sindicais se multiplicam e se reforçam mutuamente, disseminando tentáculos por todos os poros universitários. Os que alcançam funções “pedagógicas” formam as pedagogas freireanas que, por sua vez, vão formar os professores do primário e do secundário – qualquer que seja a estrutura e os títulos desses cursos –, que se tornam, no momento devido, seus pupilos e orientandos, uma audiência cativa (muitas vezes passiva) dos novos mandarins universitários. Nos vários componentes dessa complexa equação, pedagogas freireanas, sinecuras acadêmicas, sindicalismo de baixa extração e ideologias anticapitalistas e antimercado se combinam e se reforçam para destruir a educação brasileira, pelo menos naquelas funções iluministas que ela deveria exibir, colocando em seu lugar esses elementos característicos da ignorância letrada.
No curto prazo, o resultado global é o aprofundamento da mediocridade que já vinha marcando as áreas de humanidades do sistema universitário – tanto público quanto privado – nos últimos anos (possivelmente nas duas últimas décadas), contribuindo, no médio e no longo prazo, para reforçar as tendências brasileiras à estagnação ou ao atraso relativo. Essas características não são percebidas, obviamente, pelos que integram o próprio sistema, sobretudo por aqueles que vivem exclusivamente a vida universitária brasileira, em tudo o que ela apresenta de autista e de entrópico. Os acadêmicos que já viajaram, que já conviveram com universidades estrangeiras – refiro-me, obviamente, às boas universidades americanas, e algumas boas europeias – e que já se utilizaram de serviços e mercados nesses países, devem ter perfeita consciência, se tiverem as mentes abertas, para o verdadeiro atraso em que vive o Brasil, mesmo com todos os seus sinais de aparente modernidade. O Brasil é um país que caminha lentamente, que praticamente se arrasta, penosamente, em direção à modernidade.
Esse lento caminhar no sentido dos avanços científicos e tecnológicos mais dinâmicos da contemporaneidade é evidente, mesmo comparando o Brasil a outros países emergentes que se integram aos mercados globais da atualidade, sobretudo na Ásia. Não se trata apenas ou exatamente de dificuldades em aceitar os requerimentos do progresso em suas diversas expressões materiais e culturais; afinal de contas, como já dizia Mário de Andrade mais de setenta anos atrás, “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”. Trata-se, sobretudo, de bloqueios burocráticos e materiais a um progresso mais rápido: qual é o país emergente que possui uma carga fiscal típica de país rico: 38% do PIB? (Atenção: essa é a taxa média nos países da OCDE, sendo que alguns estão abaixo de 30% e que sua renda per capita ultrapassa 40 mil dólares, mais de seis vezes a brasileira.) Qual é o país no qual a atividade empreendedora é tão cercada de entraves e dificuldades? (No que o Brasil empata, talvez, com a Índia, outro país capitalista atrasado. Atualmente, mesmo aquele outro grande país burocrático, que é a China, é mais capitalista que o Brasil.)

4. As evidências
Independentemente dos lentos progressos materiais que o Brasil consiga realizar nos terrenos vinculados a mercados capitalistas – no que ele vem sendo superado por países de crescimento e de modernização mais rápidos – o fato é que o panorama acadêmico vem experimentando nítido declínio de qualidade no âmbito das humanidades, o que é revelado, por exemplo, pela forma e substância dos artigos publicados ou apresentados para publicação nos veículos da área (muitos deles existindo apenas e tão somente para cumprir requisitos de pontuação estabelecidos de forma puramente quantitativista pelos organismos de fomento acadêmico).
O problema vai muito além do que já tinha constatado, desde 1985, Edmundo Campos Coelho, em seu aclamado (e pouco lido) A sinecura acadêmica: a ética universitária em questão (São Paulo: Vértice, 1985), já que atingindo bem mais do que bancas de seleção de professores, cargos comissionados, apoios financeiros e prebendas institucionais de modo geral. Ele transformou-se num problema sine cura, alcançando o próprio núcleo do sistema de produção acadêmica, ou seja, sua própria substância, que é a capacidade de produzir obras originais, em linguagem acessível a um público mais vasto, mas dentro de rigorosos padrões acadêmicos de qualidade.
Com efeito, um dos aspectos mais preocupantes dessa involução no período recente, aliás, estimulada em grande medida pelas próprias autoridades da área, é a tendência ao enclausuramento acadêmico, à diminuição dos esforços de cooperação com o Norte e, no sentido contrário, o reforço de intercâmbios variados com países do Sul, numa discriminação política que não faz sentido no plano científico; dificilmente se poderá sustentar que entidades de pesquisa da América Latina ou de continentes assemelhados possuam maior e melhor substância científica do que seus equivalentes do Norte. Não existe maior demonstração da vontade de autocondenar-se a viseiras mentais do que a frase sumamente imbecil, bastante repetida em certos meios, que proclama que o “Sul é o nosso Norte”. Toda e qualquer ciência, toda e qualquer abordagem acadêmica que se autodireciona para um lado, ignorando todos os outros, é por definição estúpida e autolimitativa em termos estritamente científicos.
Acadêmicos defensores dessa postura se orgulham de exibir uma proclamada “latinoamericanidad” que não faz o menor sentido no plano das metodologias e das pesquisas de ponta, como se o fato de pertencer ao mesmo arco cultural ou a uma mesma zona geográfica representasse qualquer garantia de qualidade acadêmica. O “indigenismo” ingênuo e canhestro presente em algumas dessas novas experiências de cooperação introduz um elemento totalmente estranho nas tradições de pesquisa brasileira, já que referidos a um universo civilizatório que não tem nada a ver com os componentes antropológicos ou culturais da formação histórica e social do Brasil.
A busca sôfrega por identidades nessas áreas, certamente forçada, mas intensamente praticada nos últimos anos, representa um atraso e uma dispersão de esforços que vão, inevitavelmente, cobrar um preço na produção acadêmica brasileira. As interpretações classistas e “campesinas” da história social e do desenvolvimento econômico na região, a adesão pouco refletida a supostas causas de “oprimidos” e de “injustiçados” reforçam os componentes do atraso acadêmico; interpretações, aliás, que vêm acompanhadas de um inacreditável apoio a uma das experiências políticas mais nefastas já assistidas em todo o mundo, que é a construção progressiva de um fascismo tido supostamente por ser de esquerda, apenas porque o caudilho promotor emite invectivas “anti-imperialistas”. Uma falsa noção de segurança e de soberania alimentar condena a atividade primário-exportadora como sendo negativa do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, quando ela é o sustentáculo da modernidade no campo, independentemente de considerações ad hoc sobre as dimensões regionais das propriedades ou seus vínculos com o mercado externo.
São muitos os exemplos de posturas anacrônicas no plano das humanidades, assim como são muitos os componentes da mediocridade universitária, entre eles um “gramscianismo” instintivo e até ignaro (já que não corresponde a uma verdadeira leitura aberta da obra original). Esses exemplos podem até corresponder a uma atitude militante compatível com preferências manifestas na vida civil; mas jamais aos requisitos do trabalho acadêmico tal como reconhecido pelos padrões normais da pesquisa científica. Todos eles vão reforçar as deficiências metodológicas, a ignorância letrada e o atraso substantivo nas pesquisas relevantes para o progresso e o desenvolvimento do Brasil. Em algum momento, o ambiente acadêmico vai emergir das camisas de força ideológicas e buscar a atmosfera mais arejada da pesquisa de boa qualidade. Mas esse processo promete ser longo e custoso, tendo em vista os equívocos e desvios já incorridos no cenário universitário brasileiro.
Quero crer, também com base em evidências subjetivas, que o atraso é apenas relativo, e não absoluto, pois em algumas áreas ou situações específicas a racionalidade tem condições de se impor contra as ideologias ingênuas. No cômputo geral, contudo, a situação atual nas humanidades da academia brasileira aparece como quase desesperadora, necessitando, praticamente, o estabelecimento de um quilombo de resistência intelectual contra os assaltos à racionalidade mais elementar por parte de tribos crescentes de ignorantes letrados. Gostaria de estar errado, e de ser apenas um pessimista elitista (não: não tenho nenhuma vergonha em buscar a elite do saber). Gostaria de registrar uma rápida correção da academia brasileira em direção de padrões de comportamento institucional mais consentâneos com sua vocação humanista e, sobretudo, constatar uma produção intelectual à altura dos requisitos de modernidade e progresso que estamos no direito de esperar de um país inserido na globalização do conhecimento. Não é o que tenho observado até aqui.
Esperemos que seja um fenômeno passageiro, embora meu pessimismo realista tenha sólidas razões para existir: afinal de contas, o otimismo da vontade, ou da prática, não consegue prevalecer num ambiente de mentes fechadas, o que só alimenta o pessimismo da razão, ou do intelecto. O problema parece estar em que os acadêmicos gramscianos só pretendem ler Gramsci, jamais as críticas que lhe são feitas, mesmo as de um intelectual socialista (embora liberal) como Norberto Bobbio, por exemplo. As viseiras mentais daqueles mesmos que posam de sumidades acadêmicas de relevo, e que são lidos e repetidos nas universidades brasileiras, chegam a ser assustadoras, inclusive e sobretudo porque parecem ter assegurado o seu próprio sucesso continuado, a julgar pela bibliografia distribuída e pelos trabalhos produzidos nessas esferas.
Não é preciso, aqui, citar nomes e ensaios publicados, pois é muito fácil deduzir quem, ou quais são as “vacas sagradas” do processo de mediocrização da universidade brasileira. Talvez dois pequenos trechos retirados de texto de um dos gurus da nova ignorância sejam representativos do que estou analisando: “Entra governo, sai governo, as leis do mercado parecem dominar irreversivelmente o mundo, o estilo de vida norte-americano devasta espaços nunca antes alcançados – seja na China ou na periferia das grandes metrópoles do sul do mundo...”; “A crise da URSS não deu lugar a um socialismo superador dos problemas desse modelo e, ao contrário, disseminou o neoliberalismo nas terras de Lênin. O capitalismo abandonou seu modelo keynesiano por um modelo de extensão inaudita da mercantilização de todos os rincões do mundo.” Um acadêmico capaz de escrever tamanha bobagem é capaz de qualquer impostura intelectual, que ele aliás não cessa de praticar.
Os quilombos de resistência intelectual a esses processos de indigência acadêmica e de desonestidade no plano das ideias – o que ocorre sempre quando os argumentos exibidos estão longe de corresponder à realidade mais evidente – são ainda muito tênues e pouco numerosos. A esperança é que eles se multipliquem nos anos à frente e possam superar os imensos pântanos de mediocridade que se espalham de modo preocupante pela universidade brasileira. Estou sendo muito pessimista?

[Dubai-SãoPaulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010]
Resumo: Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis, de modo indireto. Ademais das pedagogias freireanas, que estão na raiz da tragédia educacional nos dois primeiros ciclos de ensino, o sistema de educação superior padece de viseiras mentais criadas por ideologias supostamente progressistas que deformam a percepção da realidade e contribuem para a erosão de qualidade nos diferentes ciclos de ensino.
Palavras-chave: Academia brasileira. Mediocrização. Pedagogias equivocadas.

 

sábado, 13 de dezembro de 2014

9 bilhoes que voce vai pagar, leitor: apenas um dos custos economicos da presidente

O PT, como todos sabemos, cometeu muitos crimes. Não me refiro apenas a crimes comuns, desses equivalentes a assaltos a bancos, furto qualificado em residências privadas, como podem ser os assaltos aos cofres públicos, as fraudes nas compras governamentais, os superfaturamentos em transações públicas, as aquisições milionárias sem licitações públicas, os desvios nos repasses governamentais, as dotações para ONGs fantasmas, sem falar das comissões recebidas a títulos diversos, enfim, todos crimes comuns, pelos quais bandidos comuns vão para a cadeia devidamente enquadrados pelos Códigos penal e criminal, coisas de bandidos ordinários.
Mas, além desses, pelos quais o partido totalitário e os que cometeram esses crimes comuns merecem ser condenados e encarcerados, o partido e seus chefes aloprados também cometem o que eu chamo de crimes econômicos, aqueles que não se enquadram exatamente nos termos dos códigos acima referidos, mas que costumam provocar despesas e perdas patrimoniais para a nação infinitamente maiores, uma vez que não apenas incorrem em perdas efetivas, nominais, nos valores aferidos, como o que vai abaixo explicitado, como também em perdas potenciais, o que entra na categoria do chamado custo-oportunidade, aquelas perdas que os economistas estimam a partir do que poderia ser potencialmente feito, investido, com esse dinheiro que se perdeu (mas que existe, de fato).
Além disso tudo, tem os crimes derivados da teimosia da mais alta esfera do país, que é um misto de arrogância, suficiência, ignorância deliberada, e demagogia deslavada, como essa que redundou em perdas imensas para todo o setor elétrico, apenas porque o poste, por populismo eleitoreiro, resolveu "baixar" as tarifas de eletricidade. Em lugar de reduzir seus próprios impostos e contribuições, os aloprados econômicos que mal aconselham quem deve tomar a decisão, quiseram obrigar as produtoras e intermediárias a não corrigir seus custos por repasse no preço final, o que deveria ter sido compensado com subsídios do Tesouro. Pois bem, as perdas aqui vão a dezenas de bilhões de reais, e só no caso deste empresa, a Eletrobras, a conta vai a quase 10 bilhões.
Creio que está na hora de fazer um Código Penal para Crimes Econômicos.
Só eu vou ter dezenas de casos para serem enquadrados na nova figura do direito penal.
Paulo Roberto de Almeida

Estatal terá socorro de R$ 9 bilhões
Danilo Fariello, Geralda Doca, Cristiane Bonfanti e Henrique Gomes Batista

O Globo, 12/12/2014

Dinheiro quitará dívida com Eletrobras. Para analistas, medida resolve "esqueleto" criado por MP do Setor Elétrico

Antes da posse da nova equipe econômica, que promete ser mais austera, o governo federal valeu-se de mais uma manobra para reforçar o caixa da Petrobras e aliviar as contas da Eletrobras, que também enfrenta dificuldades financeiras. A empresa do setor elétrico tem dívida de cerca de R$ 9 bilhões junto à petroleira decorrente do fornecimento de combustível para as usinas térmicas da Região Norte. Com a operação, confirmada ontem pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e antecipada pela "Folha de S. Paulo", o governo vai autorizar a Petrobras a captar recursos no mercado por meio de papeis lastreados nessa dívida e com a garantia do Tesouro. Como possui uma dívida de R$ 6 bilhões com a Eletrobras, o Tesouro vai bancar a maior parte dessa operação. A emissão de títulos deve ocorrer ainda neste ano.
Segundo analistas, além de afetar as contas públicas, a operação mostra que há esqueletos que podem representar trabalho adicional ao futuro ministro Joaquim Levy. A dívida da Eletrobras remonta à decisão da presidente Dilma Rousseff de baratear a conta de luz em 2012 por meio da Medida Provisória 579. Nivalde de Castro, da UFRJ, lembra que o governo tentou desonerar a conta de lux tirando encargos como a chamada CCC (Conta de Consumo de Combustíveis) - atual Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - que era uma forma de todos os consumidores subsidiarem a energia elétrica de alguns estados da Região Norte, que têm geração de energia mais cara, a diesel e óleo.
Para que não houvesse grande diferença tarifária entre estes clientes e o resto do país, o valor arrecadado pela CCC diretamente pela Eletrobras compensava a compra de combustível da Petrobras para quitar esta conta. Mas com a extinção da CCC, a conta ficou para ser paga pelo Tesouro Nacional.
Segundo Lobão, R$ 6 bilhões do total da emissão referem-se a valores que o governo federal já deveria ter transferido. A previsão do governo não é de desembolso imediato . Esses valores e seus custos deverão ser parcelados em até 120 meses, sendo posteriormente pagos pelos consumidores de energia elétrica ou pelo Tesouro Nacional, por meio da CDE.
bb vê "oportunidade"
Imersa em uma grave crise, a Petrobras poderá, por meio desta operação, captar recursos sem ter de aumentar sua dívida líquida. Sem esse aval do governo, a Petrobras correria o risco de não conseguir levantar os recursos ou ter de pagar juros muito elevados em razão das denúncias de corrupção.
- Assina-se o contrato de reconhecimento da dívida entre Eletrobras e Petrobras com o aval do Tesouro Nacional e aí a Petrobras vai ao mercado financeiro emitir papel. Com a garantia do Tesouro - explicou Lobão.
O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse ontem que as instituições financeiras brasileiras têm apetite em participar da operação.
- É uma oportunidade para os bancos, já que a Petrobras não vai conseguir captar no mercado externo. É a maior empresa brasileira, mas que está com dificuldade em acessar o mercado externo. Vai ter um interesse óbvio - afirmou ontem, apos encontro anual da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
Para Bendine, a operação não oferece risco:
- A empresa não publicou balanço por causa do processo de investigação. Mas todos os bancos brasileiros conhecem a situação de caixa da Petrobras.
Para a professora de Economia Margarida Gutierrez, da UFRJ, o governo não tinha outra solução:
- Trata-se de um problema criado no passado, o governo tinha de assumir este esqueleto, pois a outra alternativa, não fazer nada, significaria quebrar de vez o setor elétrico. Mas isso mostra os graves problemas do setor elétrico brasileiro - disse.
pagamento de terceirizados
Raul Velloso, especialista em contas públicas, destaca que estes esqueletos serão um desafio a mais para as contas públicas:
- Há vários esqueletos rondando o governo, que só conhecemos na hora que saem do armário. Temos de enfrentá-los, mas o importante é matá-los de vez, e não deixar estes esqueletos vivos, gerando filhotes que serão novos problemas no futuro - disse.
Ontem, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que é conselheira da Petrobras, disse que os investimentos no pré-sal terão continuidade e que o patamar atual do preço do petróleo - que fechou a US$ 63,68 ontem - permite a manutenção da carteira de negócios da empresa.
O governo quer ainda que a Petrobras assuma as dívidas com trabalhadores terceirizados de empresas prestadoras de serviço, cujos contratos estão sendo revistos por suspeitas de irregularidades apontadas na operação Lava-Jato. A medida, defendida pelas centrais sindicais, prevê que a Petrobras deposite os valores devidos, numa espécie de adiantamento, e depois desconte as quantias do montante a ser pago a esses fornecedores. Os trabalhadores seriam beneficiados porque poderão receber mais rapidamente, sem precisar recorrer à Justiça.
Para firmar um acordo com abrangência nacional, o Planalto quer o aval do Ministério Público e da Advocacia-Geral da União (AGU). Os detalhes serão discutidos na próxima segunda-feira em reunião coordenada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com a presença das autoridades envolvidas e sindicalistas.
Anteontem, trabalhadores das obras da Refinaria de Abreu e Lima (PE) conseguiram fechar um acordo para o recebimento das verbas trabalhistas, em audiência no Tribunal Regional do Trabalho (6ª região), com o sindicato da categoria, a Petrobras e as empresas contratadas. Segundo a Força Sindical, há problemas com trabalhadores terceirizados de prestadores de serviço da Petrobras na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Rio (Comperj).
Cerca de mil trabalhadores do estaleiro Enseada Indústria Naval realizaram passeata ontem no centro comercial de Salvador e ato em frente à sede regional da Petrobras, em protesto contra 470 demissões no estaleiro, localizado em Maragogipe. O estaleiro tem entre os sócios companhias que estão sendo investigadas na Operação Lava-Jato, como Odebrecht, OAS e UTC.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Catolicismo e liberalismo sao incompativeis? Assessor do papa Francisco

Se for verdade, ou seja, se o papa Francisco pensa realmente isso, então a Igreja está se colocando contra as liberdades em geral, e a liberdade econômica em particular.
Ou então, faz parte da tradicional ignorância da Igreja Católica em matéria de economia e processos de desenvolvimento.
Deve ser um cardeal totalmente ignorante em economia, e sobretudo em liberdades.
Ou então, está interpretando o "peronismo" do papa.
Em qualquer das duas hipóteses é grave. E muito ruim para a Igreja e para o mundo.
Seria a Igreja um fator de atraso econômico mundial?
Paulo Roberto de Almeida

Catholic and libertarian? Pope’s top adviser says they’re incompatible

WASHINGTON — Taking direct aim at libertarian policies promoted by many American conservatives, the Honduran cardinal who is one of Pope Francis’ top advisers said Tuesday (June 3) that today’s free market system is “a new idol” that is increasing inequality and excluding the poor.
This economy kills,” said Cardinal Oscar Rodriguez Maradiaga, quoting Francis frequently in a speech delivered at a conference on Catholicism and libertarianism held a few blocks from the U.S. Capitol.
The pope, Maradiaga said, grew up in Argentina and “has a profound knowledge of the life of the poor.” That is why, he said, Francis continues to insist that “the elimination of the structural causes for poverty is a matter of urgency that can no longer be postponed.”
“The hungry or sick child of the poor cannot wait,” the cardinal said.
Maradiaga, who heads a kitchen cabinet of eight cardinals from around the world that Francis established to advise him shortly after his election last year, also argued that personal charity was insufficient to solve global problems.
“Solidarity is more than a few sporadic acts of generosity,” he said.
Instead, he said, solidarity with the poor, as envisioned by Catholic social teaching, calls for “dealing with the structural causes of poverty and injustice.” The cardinal stressed that the church “by no means despises the rich,” and he said Francis “is also not against the efforts of business to increase the goods of the earth.”
“The basic condition, however, is that it serves the common good,” he said.
A charismatic churchman who speaks fluent English, Maradiaga was animated in his criticism of the effects of today’s free market capitalism and he peppered his remarks with digs at economic conservatives.
Trickle-down economics, he said, is “a deception,” and he declared that the “invisible hand” of the free market — the famous theory advanced by the 18th-century philosopher Adam Smith — was instead being used as a cruel trick to exploit the poor.
Maradiaga at one point brushed aside the fierce criticism that many conservatives have leveled at Francis by noting that “many of these libertarianists do not read the social doctrine of the church.”
“But now they are trembling before the book of Piketty,” he said with a laugh, referring to the controversial best-seller on the wealth gap by the French economist Thomas Piketty. “At least it is making them think,” he added.
Maradiaga was the keynote speaker at the conference, called “Erroneous Autonomy: The Catholic Case Against Libertarianism.”
The daylong seminar waded deep into the contentious American political debate over the economy and the role of government, and it showed once again how the moral implications of that debate are playing out most vividly in the Catholic Church.
Paul Ryan, the Wisconsin Republican who chairs the House Budget Committee, is a Catholic who is also his party’s champion for budget cuts for social programs, cuts that are opposed by the church hierarchy. He is also a disciple of the libertarian philosopher Ayn Rand.
Sen. Rand Paul, R-Ky., while not a Catholic, is the GOP’s most prominent exponent of libertarian ideas and is being widely touted as a leading candidate for his party’s presidential nomination in 2016 — a race that increasingly looks as though it will serve as a national referendum on libertarian ideas.
Tuesday’s conference was sponsored by Catholic University’s Institute for Policy Research & Catholic Studies, and the speakers — bishops and theologians, as well as pundits such as Mark Shields and academics like John DiIulio — were almost universally antagonistic to free market libertarianism.
Yet it was CUA’s own business school that last year sparked a controversy by accepting $1 million from the foundation of Charles Koch, a billionaire industrialist who is an influential supporter of libertarian-style policies.
Critics accused the university of taking money to promote ideas that are opposed to Catholic social teaching. University officials rebuffed those charges, joined by many bishops and conservative Catholics who have become prominent advocates of the idea that Catholicism and libertarianism can coexist or even support each other.
That notion, however, found little backing and much opposition at Tuesday’s sessions.
Bishop Blase Cupich of Spokane, Wash., one of the U.S. hierarchy’s more prominent champions of Catholic social teaching, warned that growing inequality is creating “a powder keg that is as dangerous as the environmental crisis the world is facing today.”
Cupich said political leaders cannot wage this debate “from the 30,000-foot level of ideas” but must take into account the real-life implications of policies as they play out on the ground. “Reality,” he said, quoting Francis, “is greater than ideas.”
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terça-feira, 1 de outubro de 2013

O triunfo de Paulo Freire no aumento do analfabetismo: ou o Brasil acaba com as sauvas, ou...

Nos tempos botocudos de Monteiro Lobato, quando o Jeca Tatu morria de doença do pé, ele dizia, a propósito da nossa única "indústria"  produtiva, a agricultura: "Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil", indicando estar nos famintos insetos o principal mal da principal, única, e atrasada atividade econômica brasileira.
Pois bem: o Brasil acabou com as saúvas, ou melhor, modernizou a agricultura, adotou defensivos e métodos para a produção acrescida no setor primário, sendo hoje um campeão mundial, absoluta e relativamente, na produção agrícola competitiva, isto é, em condições de mercado, sem subsídios e sem proteção (a que existe são para as saúvas do MDA, o ministério do MST, que vive sugando recursos públicos sem produzir nada).

Mas as saúvas não morreram: elas estão vivinhas da silva, fortes e cada vez mais prósperas, desde que se mudaram todas para o MEC, desde os anos 1960, aliás, quando uma outra praga, muito mais poderosa, se instalou no Brasil para nunca mais largar e nunca mais ser combatida, aliás, até promovida pelos ignorantes que fazem de líderes deste país do nunca antes: refiro-me à pedagogia do oprimido, essa idiotice absoluta de um dos grandes idiotas da nação, Paulo Freire.
Todas as saúvas freireanas campeiam soltas nas faculdades de pedagogia e dominação a educação brasileira, do pré-primário ao pós-doc. São elas que estão enterrando o Brasil no abismo da ignorância, da estupidez, da burrice consumada. São elas as responsáveis por esse quadro lamentável refletido no editorial do Estadão.
Paulo Roberto de Almeida

Editorial de O Estado de S.Paulo, 1/10/2-13

Depois da universalização das matrículas no ensino fundamental, que foi uma das principais conquistas do país das décadas de 1990 e 2000, era de esperar uma significativa melhoria na qualidade das escolas nos últimos anos. Mas, em vez do desenvolvimento natural rumo a uma educação básica mais eficiente, capaz de assegurar ao país a formação de capital humano de que necessita para poder crescer e passar para níveis mais sofisticados de produção, o Brasil está retrocedendo.

Essa é uma das mais importantes ─ e preocupantes ─ conclusões que podem ser extraídas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, divulgada pelo IBGE. A pesquisa é realizada desde 1967 e traz informações sobre população, migração, trabalho, rendimento e domicílios, além de educação. A partir de 2004, ela passou a cobrir todo o país. Para realizar a Pnad de 2012, os técnicos do IBGE consultaram 147 mil domicílios.
Segundo os indicadores da Pnad na área de educação, o analfabetismo ─ que vinha em queda constante desde 1998 ─ voltou a crescer no ano passado. Os técnicos do IBGE identificaram 13,163 milhões de pessoas que não sabiam ler nem escrever ─ o equivalente a 8,7% da população com 15 anos ou mais. Em 2011, o número de analfabetos era de 12,866 milhões. Em termos absolutos, o aumento foi de 297 mil analfabetos e se concentrou no Nordeste ─ especialmente nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia e Alagoas. A taxa de analfabetismo na região passou de 16,9%, em 2011, para 17,4%, em 2012. O Nordeste concentra 54% do total de analfabetos do País. Ou seja, um em cada dois analfabetos é nordestino.
No Centro-Oeste, a taxa de analfabetismo passou de 6,3%, em 2011, para 6,7%, em 2012. Na Região Norte, ela foi de 10%, no ano passado. As menores taxas foram registradas nas regiões mais desenvolvidas. No Sul, a taxa de analfabetismo foi de 4,4% da população com 15 anos ou mais. No Sudeste, ela chegou a 4,8%. Santa Catarina é o Estado com a menor taxa de analfabetismo do País, com 3,1%.
Os números da Pnad também mostram como o analfabetismo incide sobre a população mais velha. Entre os que têm 60 anos ou mais de idade, 24,4% não sabem ler ou escrever. Na faixa dos 49 aos 59 anos, a proporção é de 9,8% do total. Já na faixa dos 30 aos 39 anos, 5,1% são analfabetos. As menores taxas ─ de 2,8% e 1,2% ─ estão nas faixas de 25 a 29 anos e de 15 a 19 anos, respectivamente.
Os técnicos do IBGE também constataram uma melhora na taxa de analfabetismo funcional, que passou de 20,4%, em 2011, para 18,3%, em 2012 ─ uma queda de 2,1 pontos porcentuais. Em termos absolutos, isso significa que o país tinha no ano passado 27,8 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de escolaridade ─ um número muito alto de brasileiros incapazes de ler e compreender um simples manual de instrução de equipamentos. O levantamento do IBGE mostra ainda que 11,9% da população com 25 anos ou mais de idade não tinha qualquer instrução ou tem menos de um ano de estudo. Em 2011, a proporção era de 15,1%.

Os números da Pnad mostram, no entanto, que, em vez de aumentar o número de pessoas preparadas para enfrentar o ambiente competitivo de um mercado de trabalho cada vez mais sofisticado em termos tecnológicos, a educação brasileira está no caminho inverso. E, com isso, o Brasil permanece com um importante segmento da população à margem do processo econômico, por falta de instrução, o que agrava a desigualdade. Esse é o atestado do fracasso da política educacional adotada nos últimos anos. Ela agitou bandeiras politicamente vistosas, como a adoção do sistema de cotas raciais, a democratização do ensino superior e a criação de universidades. Mas revelou-se incapaz de alfabetizar e preparar milhões de brasileiros para o mercado de trabalho, negando-lhes com isso as condições para que possam se emancipar econômica e socialmente.