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domingo, 6 de abril de 2014

Um retrato do Brasil analfabeto (pior do que se possa imaginar) - Veja

A matéria se refere apenas aos analfabetos nominais. Existem muitas dezenas de milhões mais que são analfabetos funcionais.

Paulo Roberto de Almeida 

Um retrato do Brasil analfabeto – Sobrevivendo na selva das vogais e consoantes

Os obstáculos enfrentados diariamente pelos brasileiros que não sabem ler

Branca Nunes
Revista Veja, 5/04/2014

"Onde é a saída?", perguntou Maria Verônica Marcelino da Cruz Conceição a um funcionário da linha 4 do metrô de São Paulo ao desembarcar pela primeira vez na estação República, no centro da maior metrópole brasileira. "É só subir a escada rolante que você já verá as placas", ouviu em resposta. Essas 12 palavras teriam bastado se não tropeçassem na barreira invisível. Verônica não sabe ler (nem escrever) – e, naquele 13 de fevereiro de 2014, como o trajeto lhe era desconhecido, não podia contar com a maior aliada dos 14 milhões de analfabetos que circulam diariamente pelo território brasileiro: a rotina."Às vezes tenho a sensação de que não sou ninguém, mas eu sou alguém. Posso não ler, mas sou inteligente", diz Verônica
É graças a essa rotina que utilizar o transporte público para ir e voltar do trabalho, fazer compras no supermercado ou buscar o filho na escola se tornam atividades tão banais. Quando está no ponto perto de casa, Verônica sabe dizer, por exemplo, se o ônibus que desce a rua é o Tamboré ou o Vale do Sol só de olhar para o desenho do nome escrito no letreiro do coletivo.
Mas naquele 13 de fevereiro, quando precisou utilizar um metrô que não conhecia, andar por ruas onde nunca tinha estado e ir até um prédio que jamais tinha visto, o sentimento que a acompanhava era o medo. "Tenho medo de me perder, ou que me passem a informação errada", confessou. "Tenho medo do que não conheço".
Aos 49 anos, com menos de 1,60 de altura, pele morena e cabelos alisados tingidos num tom puxado para o vermelho (a cor preferida), ela montou um acervo de técnicas para vencer desafios semelhantes: primeiro, pede alguma dica sobre o trajeto para quem lhe passou o endereço (qual linha de ônibus, trem ou metrô deve pegar, para qual direção, o nome do bairro e pontos de referência). Antes de sair de casa, a filha mais nova ou a patroa escrevem o nome da rua em um pedaço de papel. Por fim, sai perguntando, a cada nova etapa do caminho, qual o próximo passo a seguir.
Tão próximas quanto um ex-namorado com quem Verônica se relacionou por dois anos. Ele mandava mensagens por celular, ela mostrava para a filha. Ele pedia para Verônica ler alguma coisa, ela dizia que estava sem óculos. Ele perguntava por que ela nunca lhe escrevia, ela justificava que preferia conversar por telefone. "Acho que ele desconfiava, mas nunca perguntou nada", conta. "Morria de medo que ele deixasse de gostar de mim".​Dentro dos vagões de trens e metrôs, o áudio que informa em voz alta qual é a estação é uma ajuda e tanto. Do lado de fora, Verônica depende da bondade de estranhos. Com o papel na mão e baseando-se em critérios bastante pessoais, mostra o nome da rua para aqueles que considera confiáveis – curiosamente, a maioria dos escolhidos naquele dia eram homens, com menos de 40 anos, bem vestidos, quase todos com um celular na mão – e pergunta: "Como faço para chegar aqui?". Jamais confessa que não sabe ler. Esconde a informação não só de desconhecidos como de pessoas próximas.
Noel, o segundo marido de Verônica (e o que a fez mais feliz), demorou três anos para descobrir o segredo. "Eu queria perguntar uma coisa, mas não é para você ficar chateada", ensaiou Noel. "Você sabe ler?". Ela criou coragem e respondeu: "Presta atenção, porque eu só vou falar isso uma vez: eu não sei ler". Nunca mais tocaram no assunto até que ele morreu de enfarte algum tempo depois.
Com o segundo marido, teve Giovana – a quem chama Jojó –, a caçula de seis filhos: Cláudia, Ana Paula, Liliane e Jonathan, do primeiro casamento, e Daiane, sobrinha da ex-mulher de Noel, adotada pelo casal aos 10. Embora todos saibam ler, só um terminou o ensino médio. A esperança é Jojó que, aos 11 anos, sonha ser pediatra. 
O começo - Paraibana de Santa Rita, município na região metropolitana de João Pessoa distante 11 quilômetros da capital, Verônica foi confrontada aos 9 anos com o dilema: estudar ou trabalhar? Obrigada a optar pelo segundo para ajudar a mãe a conseguir comida, tornou-se babá de outra criança sete anos mais nova. "Ela era uma menina má, que dizia que eu roubava seus brinquedos", recorda. Quando a situação da família tornou-se insustentável, o pai abandonou a mulher com os nove filhos e partiu para São Paulo.
A babá se transformou em ajudante de cozinha num restaurante e, depois, em operária de uma fábrica de bolachas. Aos 15 anos, foi levada com a mãe e os irmãos para São Paulo pelo tio, que já não suportava ver a cunhada e os sobrinhos em estado tão degradante. Quando chegaram ao destino, o pai de Verônica tinha outra vida, outra casa e outra família – que acabou deixando ao deparar-se com a visita inesperada. Os pais, que continuam juntos, moram hoje em Registro, no litoral paulista.
Verônica casou com Manoel logo depois do desembarque na metrópole. "Achei que ganharia minha liberdade. Foi um doce engano". O relacionamento durou 16 anos. Desde a mudança para São Paulo, nunca mais colocou os pés – nem pretende colocar – na Paraíba. "Não tenho nenhuma lembrança boa da minha infância", encerra o assunto.
Até matricular os filhos na escola, a leitura nunca lhe fizera falta. "Eu conseguia me virar bem", garante. "Mas comecei a querer acompanhar as lições de casa e participar mais da reunião de pais". Hoje, o analfabetismo é um tormento.
montagem empregada

Embora não saiba escrever, quando está calma Verônica consegue desenhar o próprio nome (Foto: Ivan Pacheco)
"Às vezes tenho a sensação de que não sou ninguém, mas eu sou alguém. Posso não ler, mas sou inteligente", diz. Verônica reconhece marcas como Café Pilão, Coca-Cola, McDonald’s e Adidas pelo logotipo. Para fazer a lista de compras na casa de Regina Vilma Ruiz, onde trabalha como empregada doméstica há mais de duas décadas, copia o nome dos produtos da embalagem – de vez em quando consegue associar que o 'A', de arroz, é a mesma letra do 'A', de açúcar. Tornou-se uma exímia cozinheira apenas observando outras pessoas ao pé do fogão e, quando não está nervosa, é capaz de desenhar o primeiro nome.
Alguns anos atrás perdeu a carteira de identidade. Decidida a não ter mais a digital estampada no documento sobre a sentença "não alfabetizada", matriculou-se num curso de alfabetização de adultos. Estava quase conseguindo juntar consoantes e vogais quando foi surpreendida pela morte de dois irmãos – um de morte morrida, o outro de morte matada. Cláudio, o xodó de Verônica, foi assassinado ao ser confundido com o patrão no momento em que chegava para trabalhar. O choque foi tão grande e a depressão tão intensa que as letras simplesmente desapareceram da memória.
Também é para não expor o analfabetismo que ela optou por fazer parte da multidão de mais de 50 milhões de brasileiros que não possuem conta bancária. Alçada à nova classe média pelos malabarismos federais, Verônica insiste em continuar considerando-se pobre. Os cerca de 1 500 reais – somados vale transporte, seguro saúde e outros benefícios – que recebe de salário desaparecem no fim do mês. Roupas novas, restaurantes e viagens são luxos que ela não pode ter nem proporcionar para os filhos. Por causa do aumento dos preços dos alimentos – inflação que só o governo insiste em não enxergar – o sonho de conhecer Porto Seguro nas férias que se aproximam precisará ser adiado por mais um ano.
Outro documento que a intimida é o título de eleitor. Embora não seja obrigada, garante que participa de todas as eleições. Apesar disso, não se recorda em quem votou em 2012 nem em 2010. Não sabe o nome do prefeito e do governador de São Paulo nem quem foi o presidente da República antes de Lula – só faz questão de dizer que nunca votou nele. Se lhe pedem que cite algum político, lembra de Dilma Rousseff, Lula, Paulo Maluf e Marta Suplicy e em seguida ressalva que não simpatiza com nenhum. "Gostava muito do José Sarney, aquele que morreu", confunde-se. Sobre o mensalão? "Não sei o que é". Propina envolvendo a construção do metrô da capital paulista? "Nunca ouvi falar".
Suas fontes de informação são os telejornais, as novelas ou conversas com vizinhos e amigos. Adora filmes, principalmente as sequências de Harry Porter e Rambo, mas raramente vai ao cinema. Afirma que não gosta de espetáculos de teatro antes de admitir que nunca viu uma peça. Prefere o forró com o namorado.
Maria Verônica Marcelino da Cruz Conceição
Maria Verônica em frente à casa onde mora em Barueri, na Grande São Paulo (Foto: Ivan Pacheco)
Vaidosa, abusa dos decotes que exibem o bonito colo e jamais usa saias para ocultar as varizes que deixam ainda mais doloridas as pernas castigadas pelos 54 degraus absurdamente íngremes que é obrigada a subir diariamente para sair de casa.
Na residência alugada de três cômodos em que mora com a filha caçula, localizada num bairro pobre de Barueri, na Grande São Paulo, o bordado dos panos de prato e da toalha sobre o fogão combina com o rosa da parede da cozinha. O azul do quarto aparece também no enfeite do armário recém-comprado em seis prestações pelo carnê das Lojas Marabrás e a sala, pintada de laranja, ostenta porta-retratos com fotos de Jojó e de Mery, a melhor amiga. É ali que Verônica guarda seu maior tesouro: uma antiga coleção de livros de receitas que ganhou da patroa faz três anos.
Não conseguiu ler nenhum. Mas folheia com olhar apaixonado os cinco volumes, observa as imagens desbotadas, tenta adivinhar os ingredientes pelas fotos e reproduzir os pratos. São os únicos livros da casa.
Há um mês, fez uma promessa: "Vou conseguir ler esses livros". Para isso, vai matricular-se novamente num curso de alfabetização para adultos. Quando isso acontecer, a jornada, que começa diariamente às 5h30 e é encerrada por volta das 19h, depois de quase duas horas nos vagões dos trens metropolitanos lotados, será prorrogada até as 22h, quando as aulas terminam.
Caso complete o curso, ela fará parte de uma minoria. De cada 10 adultos que decidem se alfabetizar, sete desistem do objetivo antes de ler a primeira palavra. Enquanto isso, Maria Verônica Marcelino da Cruz Conceição será apenas mais um nome entre os milhões de brasileiros perdidos na selva das vogais e consoantes.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O triunfo de Paulo Freire no aumento do analfabetismo: ou o Brasil acaba com as sauvas, ou...

Nos tempos botocudos de Monteiro Lobato, quando o Jeca Tatu morria de doença do pé, ele dizia, a propósito da nossa única "indústria"  produtiva, a agricultura: "Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil", indicando estar nos famintos insetos o principal mal da principal, única, e atrasada atividade econômica brasileira.
Pois bem: o Brasil acabou com as saúvas, ou melhor, modernizou a agricultura, adotou defensivos e métodos para a produção acrescida no setor primário, sendo hoje um campeão mundial, absoluta e relativamente, na produção agrícola competitiva, isto é, em condições de mercado, sem subsídios e sem proteção (a que existe são para as saúvas do MDA, o ministério do MST, que vive sugando recursos públicos sem produzir nada).

Mas as saúvas não morreram: elas estão vivinhas da silva, fortes e cada vez mais prósperas, desde que se mudaram todas para o MEC, desde os anos 1960, aliás, quando uma outra praga, muito mais poderosa, se instalou no Brasil para nunca mais largar e nunca mais ser combatida, aliás, até promovida pelos ignorantes que fazem de líderes deste país do nunca antes: refiro-me à pedagogia do oprimido, essa idiotice absoluta de um dos grandes idiotas da nação, Paulo Freire.
Todas as saúvas freireanas campeiam soltas nas faculdades de pedagogia e dominação a educação brasileira, do pré-primário ao pós-doc. São elas que estão enterrando o Brasil no abismo da ignorância, da estupidez, da burrice consumada. São elas as responsáveis por esse quadro lamentável refletido no editorial do Estadão.
Paulo Roberto de Almeida

Editorial de O Estado de S.Paulo, 1/10/2-13

Depois da universalização das matrículas no ensino fundamental, que foi uma das principais conquistas do país das décadas de 1990 e 2000, era de esperar uma significativa melhoria na qualidade das escolas nos últimos anos. Mas, em vez do desenvolvimento natural rumo a uma educação básica mais eficiente, capaz de assegurar ao país a formação de capital humano de que necessita para poder crescer e passar para níveis mais sofisticados de produção, o Brasil está retrocedendo.

Essa é uma das mais importantes ─ e preocupantes ─ conclusões que podem ser extraídas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, divulgada pelo IBGE. A pesquisa é realizada desde 1967 e traz informações sobre população, migração, trabalho, rendimento e domicílios, além de educação. A partir de 2004, ela passou a cobrir todo o país. Para realizar a Pnad de 2012, os técnicos do IBGE consultaram 147 mil domicílios.
Segundo os indicadores da Pnad na área de educação, o analfabetismo ─ que vinha em queda constante desde 1998 ─ voltou a crescer no ano passado. Os técnicos do IBGE identificaram 13,163 milhões de pessoas que não sabiam ler nem escrever ─ o equivalente a 8,7% da população com 15 anos ou mais. Em 2011, o número de analfabetos era de 12,866 milhões. Em termos absolutos, o aumento foi de 297 mil analfabetos e se concentrou no Nordeste ─ especialmente nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia e Alagoas. A taxa de analfabetismo na região passou de 16,9%, em 2011, para 17,4%, em 2012. O Nordeste concentra 54% do total de analfabetos do País. Ou seja, um em cada dois analfabetos é nordestino.
No Centro-Oeste, a taxa de analfabetismo passou de 6,3%, em 2011, para 6,7%, em 2012. Na Região Norte, ela foi de 10%, no ano passado. As menores taxas foram registradas nas regiões mais desenvolvidas. No Sul, a taxa de analfabetismo foi de 4,4% da população com 15 anos ou mais. No Sudeste, ela chegou a 4,8%. Santa Catarina é o Estado com a menor taxa de analfabetismo do País, com 3,1%.
Os números da Pnad também mostram como o analfabetismo incide sobre a população mais velha. Entre os que têm 60 anos ou mais de idade, 24,4% não sabem ler ou escrever. Na faixa dos 49 aos 59 anos, a proporção é de 9,8% do total. Já na faixa dos 30 aos 39 anos, 5,1% são analfabetos. As menores taxas ─ de 2,8% e 1,2% ─ estão nas faixas de 25 a 29 anos e de 15 a 19 anos, respectivamente.
Os técnicos do IBGE também constataram uma melhora na taxa de analfabetismo funcional, que passou de 20,4%, em 2011, para 18,3%, em 2012 ─ uma queda de 2,1 pontos porcentuais. Em termos absolutos, isso significa que o país tinha no ano passado 27,8 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de escolaridade ─ um número muito alto de brasileiros incapazes de ler e compreender um simples manual de instrução de equipamentos. O levantamento do IBGE mostra ainda que 11,9% da população com 25 anos ou mais de idade não tinha qualquer instrução ou tem menos de um ano de estudo. Em 2011, a proporção era de 15,1%.

Os números da Pnad mostram, no entanto, que, em vez de aumentar o número de pessoas preparadas para enfrentar o ambiente competitivo de um mercado de trabalho cada vez mais sofisticado em termos tecnológicos, a educação brasileira está no caminho inverso. E, com isso, o Brasil permanece com um importante segmento da população à margem do processo econômico, por falta de instrução, o que agrava a desigualdade. Esse é o atestado do fracasso da política educacional adotada nos últimos anos. Ela agitou bandeiras politicamente vistosas, como a adoção do sistema de cotas raciais, a democratização do ensino superior e a criação de universidades. Mas revelou-se incapaz de alfabetizar e preparar milhões de brasileiros para o mercado de trabalho, negando-lhes com isso as condições para que possam se emancipar econômica e socialmente.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Lulo-petismo ANALFABETIZA o Brasil: estrito e lato senso...

Sim, eles conseguem ser piores do que a encomenda.
Em matéria de analfabetismo são campeões: não apenas contribuem para o embrutecimento da população em geral, deseducando brasileiros do jardim da infância à pós-graduação -- com suas mentiras e propaganda enganosa, bem como com todo o besteirol ideologicamente motivado -- como também estão aumentando, literalmente, o número absoluto e relativo de analfabetos no país.
Nunca antes isso havia acontecido, ou talvez sim, mais de cem anos atrás, quando a população cresceu rapidamente, mas não as oportunidades educacionais: a consequência foi o aumento do número e da proporção de analfabetos no país. Mas, nos últimos 80 anos, a proporção vinha decrescendo gradualamente, e o processo se acelerou no odiado regime tucanês, quando as taxas de matrículas, em diversos níveis, se expandiram rapidamente. Não mais no maravilhoso regime do nunca-antes: eles conseguiram fazer o Brasil recuar também nesse vetor que bastava manter constância nas políticas que tinham sido criadas pelo ancien régime tucanês.
Os petralhas se superam: mais um pouco conseguem fazer o Brasil reverter à idade da pedra lascada...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 27/09/2013

O Brasil teve um grande ministro da Educação. Seu nome: Paulo Renato Souza. Foi, mais de uma vez, alvo da máquina de destroçar reputações criada pelo PT, por intermédio, no caso, de seu braço sindical. Em junho de 2011, por ocasião de sua morte, escrevi aqui um post sobre os números da educação brasileira, desfazendo alguns mitos. O décimo item da minha lista era este, que reproduzo na íntegra (em azul):
“10 – Cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula – e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho. Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% – E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 E 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe? O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa ‘Brasil Alfabetizado’ como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado – isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passando a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se veem.”
Retomo
É isso aí. Com base nos dados no PNAD, apontei, então, que caía o ritmo da redução de analfabetos, o que estava a indicar o constante aumento do número absoluto de analfabetos. Mantida a tendência, é claro que acabaria acontecendo o que agora se verifica: haveria um aumento da taxa — pela primeira vez em 15 anos. É matemática, não tem jeito. Os “companheiros” podem até achar que essa ciência só existe para sabotar seus propósitos, mas a gente sabe que não é assim.
O dado, que reproduzi no texto de novembro de 2011, já estava num artigo que escrevi em agosto de 2010. Três anos depois, o fatal acontece.
Notem: quando, então, naquele agosto de 2010, apontei que havia a tal redução da queda do analfabetismo, eu não o fazia porque, afinal de contas, não comungo — e não comungo mesmo, com todo o direito que tenho! — dos valores petistas (ou da falta deles). Eu o fiz porque era um dado da realidade, haurido dos números oficiais.
Alguns abestalhados acharam que se tratava apenas de má vontade, uma forma de negar os formidáveis avanços obtidos pelos companheiros na educação. Já então Fernando Haddad estava sendo treinado para vir a ser um “líder” no petismo. Deu no que deu. Imaginem o escândalo que não se faria nas redes sociais e na máquina de propaganda das esquerdas e assemelhados se uma reversão dessa natureza tivesse se dado num governo tucano.
Analfabetismo universitário
No ano passado, a ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro divulgaram dados sobre o Alfabetismo Funcional (Inaf) segundo a escolaridade. O quadro é este.

Em 2001/2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800 estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos. Espantoso? Em 2001/2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em 2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!
Concluo
Sim, meus caros, o diabo é invariavelmente mais feio do que se pinta — ou não seria o diabo, mas outra coisa de menor malignidade. Aquela taxa lá do alto, que aumentou, é do analfabetismo mesmo, a parte do Brasil que forma a sociedade ágrafa. Caso se leve em consideração o analfabetismo funcional, aí é que a gente se defronta com uma parte do Brasil real que o discurso ufano-triunfalista esconde.
Nas democracias convencionais, exemplos escandalosos de ineficiência, como o que se vê acima, costumam ser levados para as campanhas eleitorais. É o certo. “Você prometeu fazer e não fez etc.” É um direito da sociedade confrontar intenções com gestos. No Brasil jabuticaba, como tenho tratado aqui há tempos, não só inexiste um grande partido conservador que seja alternativa de poder (única democracia da Terra com essa característica) como inexistem forças políticas capazes de fazer essa cobrança. Ao contrário: todas as campanhas eleitorais, da oposição ou da situação, exploram o Brasil grande, o Brasil que vai pra frente, o ninguém segura este país.
Algumas drogas perigosas atentam contra o nosso futuro: o ufanismo sem lastro é uma delas.

Quando apontei a redução do ritmo da queda de analfabetismo, algo deveria ter sido feito. Já estaria dando resultado. E deveria não porque fui eu a apontar, claro!, mas porque eram números extraídos de dados oficiais. Mas quê… Fernando Haddad saltou do Ministério da Educação (“o melhor ministro da história destepaiz”, segundo Lula) para a Prefeitura de São Paulo. Ele tinha uma grande tarefa a cumprir: prometer o Arco do Futuro e, no presente, devolver o Centro de São Paulo aos traficantes e consumidores de crack. “O que uma coisa tem a ver com outra?” Só estou evidenciando como o processo político brasileiro, por um conjunto de razões que não cabem neste artigo, premia a ineficiência.