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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 30 de junho de 2022

O Brasil perdeu o rumo em sua postura enquanto nação civilizada? - Paulo Roberto de Almeida

Vou ser bastante claro em relação ao que penso a respeito da política externa e da diplomacia brasileira desde o início do século, do milênio, dos tempos atuais: a diplomacia profissional brasileira foi impedida de pensar, pelo menos desde 2003; pensou ter recuperado um pouco de liberdade (parcial) para formular suas próprias ideias nessa área crucial para o desenvolvimento do Brasil, mas foi logo assaltada por outra corrente de amadorismo e de obscurantismo ainda mais degradante do que o exercício anterior de desvios graves em seus métodos de trabalho e em suas diretrizes principais. Nos dois casos, recebeu um pacote pronto vindo de cima e aplicou as diretrizes da melhor forma que pode, mas considero que foi mais uma conduta de autômatos do que profissionais altamente capacitados podendo exercer o conhecimento acumulado em caráter coletivo ou a nível individual, com vistas a cuidar exclusivamente dos interesses nacionais. No primeiro caso, a diplomacia profissional teve de servir a um megalomaníaco comprometido com ditaduras execráveis e concepções deformadas do sistema internacional. No segundo caso, foi dominada por uma franja lunática de incompetentes alucinados que isolaram completamente o Brasil no contexto regional e da comunidade internacional.

Imagino como será o novo período: vamos prosseguir sendo impedidos de pensar?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de junho de 2022

PS.: link para o debate a respeito do futuro do grupo Brics, realizado na tarde deste dia 30/06/2022, em transmissão pelo canal youtube:  https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 


O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics.

  

Uma reflexão à sombra da guerra de agressão da Rússia autocrática contra a Ucrânia democrática

Que uma sociedade inteira viva anos, décadas de equívocos e escolhas erradas não é surpreendente: uma sociedade é algo muito complexo para ser totalmente controlada por um poder central; parece que só a Coreia do Norte conseguiu estabelecer o totalitarismo absoluto, o que nem a União Soviética, nem a China maoísta, muito menos a Cuba castrista ou o Irã teocrático o conseguiram.

Sociedades erram pelo peso do passado, pela força de líderes especialmente carismáticos e por rupturas muito fortes de seu tecido social (guerras externas, guerras civis, confrontos religiosos, epidemias, catástrofes naturais, etc.).

Mas é surpreendente que corporações educadas, como a diplomacia, por exemplo, embarquem em aventuras desprovidas da necessária fundamentação empírica por indução superior, como verifiquei na diplomacia partidária do lulopetismo triunfante. O entusiasmo da projeção externa ganhou terreno sobre a reflexão ponderada em torno de certos dossiês: o apoio a ditaduras execráveis, comandado pelos chefes megalomaníacos pode explicar em parte o desvario de certas escolhas diplomáticas.

Atuou, nesse caso, o constrangimento moral imposto pelo feudalismo do Itamaraty: os malfadados princípios da hierarquia e da disciplina, importados do estamento militar, foram mais fortes.

Funcionou em certos casos a prevalência da obediência sobre a inteligência, do voluntarismo sobre o conhecimento, da submissão sobre o pensamento crítico.

De minha parte, posso afirmar que nunca renunciei a pensar com minha própria cabeça, independentemente das propostas pouco fundamentadas que brotavam dos ideólogos de plantão.

Sempre me pautei pela exposição objetiva de meus argumentos sobre as políticas públicas, inclusive e sobretudo na diplomacia. 

Os petistas intolerantes me deixaram na geladeira por 13,5 anos. Continuei fazendo o que sempre fiz: lendo, refletindo e escrevendo, no meu quilombo de resistência intelectual, representado pelo blog Diplomatizzando e por meus escritos.


 Meu novo livro sobre a aventura do Brics é mais uma prova dessa disposição a resistir a uma diplomacia paralela sem base em nossos padrões de trabalho, que são o exame cuidadoso e circunstanciado de qualquer nova proposta antes de colocá-la em prática. O Brics entrou no entusiasmo de uma nova iniciativa apelativa, sem um mínimo de estudo ou embasamento técnico. Ninguém resistiu ao comando das chefias: foi levado de roldão na esteira da publicidade fácil na mídia internacional.

Sempre considerei o Brics uma miragem sem sentido e uma anomalia em nossa trajetória de difícil construção de uma diplomacia autônoma e operando estritamente em função do interesse nacional. O Brics representa uma renúncia a um projeto de diplomacia independente em favor de um mínimo denominador comum que, em última instância, é determinado por duas grandes potências autocráticas.

O caso trágico da guerra de agressão de um tirano obcecado contra o seu vizinho que buscava escapar do abraço do urso imperial coloca a diplomacia brasileira num dos maiores dilemas conceituais de sua história. Essa guerra de agressão confronta diretamente não só o Direito Internacional, consagrado na Carta da ONU, mas também a própria Constituição brasileira.

Como pode a diplomacia brasileira, seja sob Bolsonaro, seja sob Lula, contrariar princípios tão sagrados do Direito e até da moral, inclusive padrões civilizatórios, ao preferir se abster em face de violações tão flagrantes de cláusulas fundamentais de suas relações internacionais?

Como pode o substrato moral que ainda existe na diplomacia e na tecnocracia mais esclarecida do Brasil suportar o espetáculo grotesco dos crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade, certamente contra a paz, que emana da destruição mais cruel e desumana que vem sendo perpetrado continuamente contra a Ucrânia e o seu povo? 

É possível conviver com um horror que nos remete aos tempos mais sombrios do hitlerismo expansionista contra a pobre Polônia, contra as democracias ocidentais (começando antes, pela Áustria e pela Tchecoslováquia), e contra o aliado totalitário de ideologia oposta?

Que o atual mandatário brasileiro ainda decida apoiar objetivamente uma contrafação de Hitler é compreensível dentro da sua ideologia de direita extrema.

Que a diplomacia não se revolte contra a violação dos princípios mais sagrados que deveriam orientar a sua ação é menos compreensível. A permanência do e no Brics pode explicar em parte a atual flacidez moral que tomou conta do Itamaraty. Mas outras demonstrações imorais do atual chefe de Estado — no campo dos DH sobretudo — tornam insuportável o atual estado de coisas. 

Continuarei em meu quilombo.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 12/06/2022 

Apresentação de meu livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira.

Resumo:

Coletânea de ensaios e artigos se estendendo desde a concepção do conceito do Bric, na planilha de um economista profissional de um banco de investimentos, no início dos 2000, até a situação em 2022, depois da invasão da Ucrânia por um dos membros do Brics, a Rússia. A maior parte da análise é de natureza histórica, cobrindo aspectos econômicos e diplomáticos do empreendimento, e focando particularmente nos interesses do Brasil, suas motivações e capacidades, como um dos propositores originais do grupo, e a letra inicial no acrônimo apelativo. Pelo seu título, A grande ilusão do Brics, há uma clara visão crítica em torno das razões e motivações para a criação desse grupo, como se os quatro membros originais estavam tentando confrontar o G7 e buscando uma ordem mundial alternativa. Como revelado pelo subtítulo, o universo paralelo da diplomacia brasileira, existe também uma discussão sobre o tipo de novo direcionamento da política externa brasileira, fugindo de seus padrões tradicionais que visam a criação de uma postura autônoma nas relações internacionais, vinculando sua diplomacia essencialmente aos interesses nacionais de desenvolvimento econômico e social. 

Summary

 

A collection of essays and articles spanning from the inception of the Bric concept, at the table of a professional economist from an investments bank, in early 2000s, up to the situation in 2022, after the invasion of Ukraine by one of Brics members, Russia. Most of the analysis is of a historical nature, dealing with economic and diplomatic aspects of the endeavor, and focusing especially on Brazil’s interests, inducements, and capabilities, as one of the first proponents of the group, and the initial letter of the appealing acronym. By its title, The Great Illusion of the Brics, there is a clear critical standpoint about the reasons and motivations for the creation of this group, as if the four original members seek to be countering the G7 and looking to offer an alternative world order. As revealed by the subtitle, a parallel universe of the Brazilian diplomacy, there is also a discussion about a kind of a new driving line in Brazilian foreign policy, deviating from its traditional patterns towards the building up of an autonomous stance in regional and international relations, connecting its diplomacy essentially with its national interests of social and economic development.

 

 

A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira

 

Índice

 

Prefácio: Brics: uma ideia em busca de algum conteúdo

1. O papel dos Brics na economia mundial

O Bric e os Brics

A Rússia, um “animal menos igual que os outros”

A China e a Índia

E o Brasil nesse processo?

 

2. A fascinação exercida pelo Brics nos meios acadêmicos

Esse obscuro objeto de curiosidade

O Brasil, como fica no retrato?

Russia e China: do comunismo a um capitalismo especial

O fascínio é justificado?

O que os Brics podem oferecer ao mundo?

 

3. Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil

Introdução: a caminho da Briclândia

Radiografia dos Brics

Ficha corrida dos personagens

De onde vieram, para onde vão?

New kids in the block

Políticas domésticas

Políticas econômicas externas

Impacto dos Brics na economia mundial

Impacto da economia mundial sobre os Brics

Consequências geoestratégicas

O Brasil e os Brics

Alguma conclusão preventiva?

 

4. A democracia nos Brics

A democracia é um critério universal?

Como se situam os Brics do ponto de vista do critério democrático?

Alguma chance de o critério democrático ser adotado no âmbito dos Brics?

 

5. Sobre a morte do G8 e a ascensão do Brics

Sobre um funeral anunciado

Qualificando o debate

O que define o G7, e deveria definir também o Brics e o G20

Quais as funções do G7, que deveriam, também, ser cumpridas pelo G20?

 

6. O Bric e a substituição de hegemonias

Introdução: por que o Bric e apenas o Bric?

Bric: uma nova categoria conceitual ou apenas um acrônimo apelativo?

O Bric na ordem global: um papel relevante, ou apenas uma instância formal?

O Bric e a economia política da nova ordem mundial: contrastes e confrontos

Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História

Conclusão: um acrônimo talvez invertido

 

7. Os Brics na crise econômica mundial de 2008-2009

Existe um papel para os Brics na crise econômica?

Os Brics podem sustentar uma recuperação financeira europeia?

A ascensão dos Brics tornaria o mundo mais multipolar e democrático?

 

8. O futuro econômico do Brics e dos Brics

Das distinções necessárias

O Brics representa uma proposta alternativa à ordem mundial do G7?

O que teriam os Brics a oferecer de melhor para uma nova ordem mundial?

O futuro econômico do Brics (se existe um...)

Existe algum legado a ser deixado pelo Brics?

 

9. O Brasil no Brics: a dialética de uma ambição

O Brasil e os principais componentes de sua geoeconomia elementar

Potencial e limitações da economia brasileira no contexto internacional

A emergência econômica e a presença política internacional do Brasil

A política externa brasileira e sua atuação no âmbito do Brics

O que busca o Brasil nos Brics? O que deveria, talvez, buscar?

 

10. O lugar dos Brics na agenda externa do Brasil

Uma sigla inventada por um economista de finanças

Um novo animal no cenário diplomático mundial

Existe um papel para o Brics na atual configuração de poder?

Vínculos e efeitos futuros: um exercício especulativo

 

11. Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria

Introdução: o que é um relatório de minoria?

O que é estratégico numa parceria?

Quando o estratégico vira simplesmente tático

Parcerias são sempre assimétricas, estrategicamente desiguais

A experiência brasileira de parcerias: formuladas ex-ante

A proliferação e o abuso de uma relação não assumida

 

Posfácio: O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

Indicações bibliográficas

Nota sobre o autor

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4171: 12 junho 2022, 5 p.


Não constam do livro os últimos artigos sobre a questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: 


4188. “O Brics e o Brasil: quem comanda?”, Brasília, 28 junho 2022, 3 p. Artigo para a revista Crusoé.  Publicado na revista Crusoé (1/07/2022; link: https://crusoe.uol.com.br/secao/reportagem/a-ampliacao-do-brics-e-o-interesse-nacional/). 

 

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022). Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html).

domingo, 19 de junho de 2022

Indicadores econômicos e sociais regridem até três décadas e comprometem desenvolvimento - Cassia Almeida (O GLOBO)

Indicadores econômicos e sociais regridem até três décadas e comprometem desenvolvimento

CÁSSIA ALMEIDA (cassia@oglobo.com.br)
O Globo, 18/06/2022

Brasil voltou ao passado na economia, no bem-estar da população, na educação e no meio ambiente, exibindo indicadores que remontam a até 30 anos. Recessão, pandemia e desmonte de políticas públicas acentuaram nos últimos dois anos um processo de retrocesso social. Trouxeram de volta a fome, a pobreza, a evasão escolar, o desmatamento, a inflação, ameaçando o desenvolvimento do país, alertam especialistas. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, surpreendeu-se com o recuo de tantos índices. "É uma volta muito grande no tempo", diz, referindose ao Produto Interno Bruto (PIB) de hoje, equivalente ao de 2013, e à produção de automóveis, a mesma de 2006, há 16 anos:

-- A produção de bens de consumo duráveis (carros e eletrodomésticos) está igual à de 18 anos atrás. Parece uma situação de guerra, voltando tragicamente no tempo.

A economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre/FG V, calculou que somente em 2029 vamos voltar ao maior valor real do PIB per capita, de R$ 44 mil, atingido em 2013, considerando a média de crescimento dos últimos anos do país, em torno de 1,5%.

-- Vamos conviver com menos crescimento, inflação difícil de ser combatida, mais juros e equilíbrio ruim no mundo- prevê.

Retrocessos sociais se acumulam. A fome agora atinge 33 milhões de brasileiros, mesmo número de 1992. Quando o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, em 2014, eram 9,5 milhões nessa situação.

-- O país desabou -- resume Francisco Menezes, consultor da ActionAid, uma das organizações da Rede Penssan, que divulgou os números da fome semana passada. Três fatores explicam essa situação. O primeiro é o forte empobrecimento de grande parte da população. O segundo foi o comportamento do mercado de trabalho, com desalento e queda da renda média (que é a mesma de 2011). O terceiro é o desmonte dos programas de segurança alimentar e proteção social.

Na educação, as crianças perderam mais. A evasão escolar na faixa de 5 a 9 anos está igual à de 2012, de acordo com estudo do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social:

-- Chamou a atenção a piora entre as crianças mais novas, especialmente entre 5 e 6 anos, depois de grandes progressos nos últimos 40 anos.

'DESAFIOS SÃO ENORMES'

Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco, diz, com base em avaliação feita no estado de São Paulo, que houve atraso escolar em todas as etapas, porém com mais intensidade entre as crianças, ameaçando uma etapa da educação que ele considera ser a que mais precisa da socialização proporcionada pela escola. O nível de aprendizado de matemática voltou a 2007, e o de português, a 2011.

--Na educação, o retrocesso é categórico. Os desafios são enormes. São alguns anos a serem recompostos -- diz.

No meio ambiente, voltouse ao passado de desmatamento crescente. Na Amazônia, onde há duas semanas foram assassinados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, o corte de árvores nunca foi tão grande. Saímos de uma área desmatada de 4.571 quilômetros quadrados em 2012 para 13.235 quilômetros quadrados em 2021.

-- Nunca imaginávamos voltar a 10 mil quilômetros de área desmatada. É um método de desfazer a governança sobre o tema ambiental que vem sendo feito sistematicamente em todas as áreas. Tira o orçamento, tira o pessoal competente, cria níveis de burocracia adicionais para penalizar pelo ilícito, legaliza coisas ilegais, não cria unidades de conservação e tenta eliminar as que existem - afirma Tasso Azevedo, coordenador do Mapeamento Anual da Cobertura do Solo no Brasil (Mapbiomas).

quinta-feira, 14 de abril de 2022

ONGs se posicionam criticamente ao Brasil em diversos quesitos da demanda de ingresso na OCDE

Correio Braziliense desta quinta-feira, 14/04/2022, reflete preocupações de ONGs com os retrocessos do Brasil nos campos do meio ambiente, combate à corrupção e proteção da imprensa e de normas elementares no campo da democracia.



quinta-feira, 17 de março de 2022

Rússia: Putin está retrocedendo o país pelo menos três décadas - Olivier Knox (WP)


Putin has set back his country by decades

The Washington Post, March 17, 2022
A poster of Putin on the facade of the Museum of Medical History building in front of the Russia Embassy in Riga, Latvia. Mandatory Credit: Photo by TOMS KALNINS/EPA-EFE/Shutterstock

A poster of Putin on the facade of the Museum of Medical History building in front of the Russia Embassy in Riga, Latvia. Mandatory Credit: Photo by TOMS KALNINS/EPA-EFE/Shutterstock

By invading Ukraine, Russia has done severe economic damage to itself that could take years to heal — perhaps however long President Vladimir Putin rules the Kremlin. 

The global response to the bloody, three-week-old onslaught has not just closed Russia’s stock market and collapsed the ruble’s value, but set Moscow back 30 years, reversing decades of integration into the global economy since the U.S.S.R.’s fall.

And if the 400 companies that have withdrawn from Russia, scaled back operations there, or suspended their activities (connoting temporariness) start thinking about a return, there are at least five big reasons that will prove difficult, barring global action from governments.

  • Let’s call them: the banking sanctions; suspending Russia’s World Trade Organization benefits; Putin’s nationalization threat; the crash of the ruble; and “I think he is a war criminal.”

This obviously may feel like a premature discussion while Russian missiles and shells pour down every day on apartment buildings, schools and hospitals, and Ukraine begs for helpEven as Putin admits the sanctions’ biting impacton his economy, he hasn’t halted his war.

But Tufts University Professor Dan Drezner recently looked at ways to turn the sanctions from a somewhat ad hoc means of punishing Moscow into an institutionalized regime of containment. Typically judicious word choice: Containment helped beat the Soviet Union.


sábado, 19 de junho de 2021

À espera dos bárbaros? - Paulo Roberto de Almeida

 À espera dos bárbaros?

Paulo Roberto de Almeida


Um poeta grego expressou certa vez sua surpresa pelo fato de seus concidadãos ainda estarem à espera dos bárbaros: eles teriam sido a solução ante à irresolução.

E no caso dos bárbaros já estarem entre nós? Resolveram alguma coisa? Diminuiu o grau de irresolução em face de problemas concretos? Ainda vivemos em tempos homéricos, nos quais pessoas acreditam sinceramente que são os deuses que guiam os seus passos e suas ações?

Progredimos alguma coisa desde a guerra de Troia no “Ocidente”, desde as guerras entre os reinos no “Oriente”?

A humanidade avançou realmente alguma coisa nos últimos seis ou sete mil anos?

Geologicamente é um tempo muito curto para certas acomodações de terreno.

Mas intelectualmente se poderia esperar algo mais avançado desde o Aufklarung.

E, no entanto, depois disso, ainda tivemos o racismo, a intolerância religiosa, os Gulags, o Holocausto, os diversos genocídios voluntários e involuntários, o terrorismo sempre presente, a corrupção política e as desigualdades sociais evitáveis. 

A humanidade me decepciona, mas os bárbaros não são a solução…


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 19/06/2021

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Mini-reflexão sobre os descaminhos do Brasil atual - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre os descaminhos do Brasil atual

Paulo Roberto de Almeida


Por que certas nações se deixam arrastar ao retrocesso nas mãos de populistas nefastos, alguns deliberadamente perversos? 

Isso se deve ao desespero dos mais humildes, geralmente ignorantes e ingênuos, ansiosos por alguma mudança, qualquer uma. 

Costuma dar errado, mas o mais triste é que reincidimos no erro de achar que existe essa coisa impossível chamada “salvador da pátria “. 

Sabemos que não existe, mas o fato é que a maioria do eleitorado não têm capacidade cognitiva, discernimento ou conhecimento suficiente para escolher políticas públicas, projetos de nação, não personagens providenciais que prometem resolver os grandes problemas da nação. Aliás, nem as próprias elites, geralmente mesquinhas e autocentradas, sabem ou querem fazê-lo. Estão por demais concentradas na defesa egoista de seus privilégios.

Nações desprovidas de educação de massa não costumam produzir estadistas em profusão; só muito excepcionalmente.

E assim a nave vai, muitas vezes a nau dos insensatos.

É exatamente esta a situação do Brasil atual; só não sei se por muito tempo, por quanto tempo mais. Só sei que  a restauração de padrões mínimos de políticas públicas consistentes, a construção de uma democracia de média qualidade — nem peço de alta qualidade — no Brasil, a redução das tremendas iniquidades sociais de que padecemos não é mais obra de minha geração, que falhou terrivelmente na missão de construir um país melhor, e agora deixa os comandos para uma geração mais jovem.

Que ela possa fazer melhor do que o cenário de terra arrasada que deixamos nas últimas duas décadas e meia (com nossas humildes desculpas).

De minha parte, continuarei na minha resistência contra a burrice e a irracionalidade, persistindo em minha ofensiva pedagógica em favor do conhecimento, do estudo, da reflexão a partir da observação do mundo e das experiências de vida. Devo isso aos mais jovens, em especial em direção daqueles que veem de meios modestos, de lares humildes, de situações de pobreza como era o caso de minha familia na origem.

O fato de pertencer hoje ao estrato minoritário dos privilegiados não me exime de responsabilidade pela sorte dos que não tiveram sorte na vida, como eu tive, ainda que pelo trabalho e pelo estudo.

Cabe persistir: nossos filhos e netos esperam o melhor de nós mesmos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 23/04/2021

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Mini-reflexão sobre os tempos que correm (ops, que escoam) - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre os tempos que correm (ops, que escoam)

Paulo Roberto de Almeida

No imediato seguimento da Grande Destruição lulopetista da economia, 2015-16 — quando caímos -3,8 e -3,5 no PIB e -10% na renda — eu imaginava que a recuperação se daria entre 7 e 10 anos. Superavit primário consistente, só ali por 2029, com sorte, e se tudo corresse bem no ajuste macroeconômico e nas reformas estruturais.

Agora, com a pandemia e a terra devastada sendo produzida atualmente, eu chuto a recuperação plena aí por 2032-33, com a mesma renda per capita de 2014!

Com a desvalorização voltamos a ficar pobres e, nas “comemorações” (se houver) do bicentenário em 2022, teremos a mesma renda de dez anos antes (ou mais).

Se isso não é retrocesso relativo e absoluto, encontrem-me um outro nome. 

Mais catastrófico, quero dizer. 

Depois da Grande Destruição de Dona Dilma, teremos o Grande Retrocesso do Grande Mentecapto, que vai deixar um rastro de devastação ainda pior do que a recessão lulodilmista: esta atingiu basicamente a economia e os empregos. Agora, estamos sendo invadidos por uma malta de reacionários anacrônicos (sic!; redundância autorizada), que além de destruírem as instituições, a cultura e a nossa autoestima, ainda atuam como “body snatchers”, roubando o cérebro de muita gente (muitos, com só dois neurônios, nem precisa muito esforço).

Meus caros: nem a catástrofe da Revolução Cultural de um Mao já demencial, causou tanto estrago...

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25/11/2020

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Nacionalismo, antiglobalismo: o que pode diminuir o crescimento econômico - Editorial Estadão

Nacionalismo, risco global

Com o multilateralismo em xeque, ficam em xeque também a prosperidade e a estabilidade econômica, a segurança geopolítica e a preservação ambiental

Editorial Estadão, 17/01.2020


Com a trégua assinada pelos governos de Estados Unidos e China, o risco de um ano conturbado por disputas comerciais parece atenuado, mas é muito cedo para relaxar. Continuam no horizonte as ameaças de turbulência geopolítica, de confrontos econômicos entre grandes potências, de ações unilaterais, de polarização política interna e internacional, de entraves ao comércio e de enfraquecimento da economia global. Esses alertas aparecem no Relatório 2020 de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, normalmente divulgado uma semana antes do encontro anual em Davos. As limitações ao comércio, já presentes em 2019, dificultam a reativação dos negócios. Mas há mais motivos para preocupação, segundo o relatório. 
Munição para prevenir uma recessão escasseia. Seis das sete maiores economias do mundo – a japonesa é a exceção – já desaceleraram no terceiro trimestre de 2019. Mais de metade da produção mundial provém dessas potências. Num quadro de endividamento recorde, cresce o estresse financeiro e é difícil dizer se os governos têm condições fiscais de produzir suficiente estímulo, repetindo a ação de dez anos atrás, na pior fase da última grande crise. Com juros muito baixos e risco de instabilidade financeira, também as possibilidades da política monetária parecem esgotadas, como têm advertido especialistas e dirigentes de grandes bancos centrais. 
Na última grande crise, espalhada pelo mundo em 2008, a ação coordenada de governos, bancos centrais e instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, facilitou a recuperação econômica. As possibilidades de cooperação e coordenação parecem hoje muito menos claras, com o ressurgimento do nacionalismo e a rejeição, por muitos governantes, dos padrões de ordenamento multilateral.
Não há citação de nomes, mas é evidente a referência às políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de governantes de alguns países europeus, como a Hungria. Na lista de seguidores de Trump o primeiro poderia ser o presidente Jair Bolsonaro. 
Essa configuração do quadro internacional ocasiona incertezas também quanto às formas de assimilação e de uso das novas tecnologias. Em maio de 2019, assinala o relatório, os 36 países-membros da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, adotaram princípios comuns a respeito da inteligência artificial (IA). 
Por esse acordo, esses países se comprometeram a promover uma inteligência artificial “inovativa, confiável e respeitosa dos direitos humanos e dos valores democráticos”. O relatório menciona em seguida um comentário de Eleonore Pauwels, do Centro Universitário das Nações Unidas para Política de Pesquisa: “O ressurgimento de agendas nacionalistas em várias partes do mundo pode sinalizar uma capacidade minguante do sistema multilateral de desempenhar um papel significativo na governança global da IA”. 
Os problemas econômicos, políticos, geopolíticos e tecnológicos aparecem no relatório como riscos de curto prazo destacados pela maioria dos cerca de 800 líderes empresariais e formuladores de políticas consultados na pesquisa do Fórum. Confrontos econômicos, polarização política interna, ataques cibernéticos e protecionismo são citados por mais de 75% dos entrevistados. Mas há também riscos de longo prazo, com impacto previsível nos próximos dez anos. Aqui surge uma novidade. 
Pela primeira vez nessa consulta, iniciada na edição de 2007, temas ambientais aparecem nos cinco primeiros lugares da lista: condições extremas de tempo, fracasso na ação climática, desastres naturais, perda de biodiversidade e desastres ambientais provocados pelo homem. Também a prevenção desses perigos será dificultada, alerta o relatório, pelo ambiente desfavorável à cooperação e à coordenação internacionais. Com o multilateralismo em xeque, ficam em xeque também a prosperidade e a estabilidade econômica, a segurança geopolítica e a preservação ambiental. Dificilmente haveria um apelo mais forte em favor do retorno ao bom senso das políticas civilizadas.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

2019: o ano dos retrocessos - Eliane Cantanhede (OESP)

Coleção de retrocessos

Em 2019, Brasil avançou devagar na economia e recuou velozmente no resto

Eliane Catanhêde, O Estado de S.Paulo 
31 de dezembro de 2019 | 03h00 

Último dia do ano, hora de discutir o que deu certo, o que deu errado, o que poderia ser melhor. No governo Jair Bolsonaro, a economia andou devagar, mas andou. O problema foi o resto, que andou rápido, mas em marcha a ré. Uma coleção de retrocessos. 
reforma da Previdência foi o grande marco político e econômico de 2019. O grande mérito do governo foi enviar o projeto e o do Congresso foi ter encaminhado, debatido e votado com razoável rapidez e com a menor desidratação possível. Bolsonaro jogou o pacote no Congresso e lavou as mãos, deixando a condução, a negociação, os ajustes e os votos por conta de dois personagens-chave no seu primeiro ano de governo: Rodrigo Maia, do Legislativo, e Paulo Guedes, do Executivo. Com a reforma da Previdência aprovada, abriu-se uma avenida de oportunidades para novas reformas e a própria economia.  
A previsão do PIB foi ao fundo do poço em meados do ano, mas recuperou-se e é otimista neste 31 de dezembro. A inflação e os juros estão baixos como nunca e o desemprego continua dolorosamente alto, mas caindo. Logo, as condições são boas. O preço da carne precisa baixar e Bolsonaro tem de parar de atrapalhar.  
Quando se fala (ou reclama) em recuos, pensa-se logo em Meio Ambiente, que jogou o Brasil na imprensa internacional e abriu atritos desnecessários com parceiros como França, Alemanha, Suécia. E Bolsonaro também bateu de frente com China, Argentina, Chile, o mundo árabe, além de chegar no Paraguai elogiando Stroessner.  
Houve ainda recuos assustadores na Cultura, até na última semana do ano, com o veto ao projeto de incentivo ao audiovisual, e na Educação, que saiu de um ministro inútil para outro que só vê “balbúrdia” nas universidades. Cultura e Educação não são inimigas, presidente! Nem a mídia e os jornalistas.  
De tudo isso, fica o histórico de manifestações do presidente da República, ora machistas, ora homofóbicas, ora pró-ditadores sanguinários, ora acusando Paulo Freire de “energúmeno”. Para que? Ninguém sabe, mas o fato é que os filhos vão atrás. Sem citar hienas e “golden shower”, ambas de péssima lembrança.  
Por falar nisso, a ida do deputado Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington foi um sonho de verão para ele e um pesadelo para muita gente, dentro e fora do Itamaraty. E o ano termina deixando em aberto a situação do senador Flávio Bolsonaro, alvo do Ministério Público do Rio de Janeiro e com muitas histórias mal contadas a explicar à opinião pública brasileira. Carlos Bolsonaro? Esse continua lá, tuitando.  
Se as pesquisas registram a baixa popularidade do presidente, não captaram o esforço do Legislativo, que trabalhou muito e bem ao longo de 2019. Motivo: continua “dando Ibope” falar mal do Congresso. Faz parte.  
Quanto ao Judiciário, esteve no centro da suspeita de um cerco institucional à Lava Jato. Vamos combinar que o fim da prisão em segunda instância e os meses de interrupção de investigações pautadas pelo Coaf foram ataques frontais à maior operação de corrupção, talvez, do mundo. E ambos conduzidos pelo Supremo.  
No foco, o presidente Dias Toffoli, determinado a derrubar a prisão em segunda instância e autor da canetada que feriu gravemente a atuação do Coaf e suspendeu as investigações com base na inteligência financeira. O discurso “em javanês” do ministro é um dos destaques de 2019. Cada um conclua o que quiser.  
No mais, o governo abriu tudo para os EUA, mas, até agora, ninguém sabe, ninguém viu, no que isso conta a favor dos interesses do Brasil. A olho nu, não se vê pragmatismo, muito menos reciprocidade. Só Trump ri. Não tem graça nenhuma.