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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 20 de junho de 2021

Em 2017, Palocci confirmou tudo aquilo que os petistas dizem que não existiu, mas que os tribunais confirmaram

 Depois que o aprendiz de feiticeiro do Facchin cancelou os processos contra Lula — não na substância, apenas por razões de foro —, os petistas dizem que nada está provado contra o chefão da malta. Eles são cspazes de desmentir tudo o que foi revelado pelo verdadeiro executivo da quadrilha, que devolveu algumas dezenas de milhões das centenas de milhões roubados pelo PT?

Paulo Roberto de Almeida

Em carta (2017), Palocci pede desfiliação do PT: 'Somos um partido ou uma seita guiada por uma pretensa divindade?' 

Político foi preso pela Operação Lava Jato e respondia a processo administrativo da legenda, por falas feitas contra o ex-presidente Lula.

Por Marcelo Rocha e Samuel Nunes, RPC Curitiba 

 


Palocci envia carta ao PT com duras críticas e pedido de desfiliação 


O ex-ministro Antonio Palocci enviou nesta t

Na carta, Palocci diz que:

  • Defende um acordo de leniência na Lava Jato para o PT
  • As declarações dadas no depoimento a Moro “são fatos absolutamente verdadeiros”, situações que presenciou, acompanhou ou coordenou, “normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula”
  • Diz ter certeza que Lula irá confirmar tudo, “como chegou a fazer no ‘mensalão’” em entrevista na França
  • Houve uma evolução e acúmulo de corrupções nos governos a partir do segundo mandato de Lula
  • Foi um choque ter visto “Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”
  • Que foi um erro eleger e reeleger um mau governo, que destruiu “cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados”
  • Que Lula encomendou sondas e propinas em uma reunião com Dilma e José Sérgio Gabrielli no Palácio da Alvorada, “na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história"
  • Que passou a ser alvo de “um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT” ao falar a verdade
  • Questiona “até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’”
  • Questiona se “somos partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”
  • Que mesmo nos melhores anos do governo Lula “já se via a peçonha da corrupção se criando para depois tomar conta do cenário todo”

Palocci respondia a um processo aberto pelo diretório municipal de Ribeirão Preto, em São Paulo, em que era acusado de trair a fidelidade partidária. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, ele foi alvo de uma comissão de ética pelas declarações feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no dia 6 de setembro.

Na ocasião, ele disse que Lula mantinha um “pacto de sangue” com o empresário Emílio Odebrecht, o que incluía um pacote de R$ 300 milhões em propinas para o PT, além de agrados ao ex-presidente.

Na carta, Palocci faz uma série de críticas ao PT e ao ex-presidente Lula. O ex-ministro diz que estranhou o processo aberto contra ele, não pela condenação que já recebeu na Lava Jato, mas pelas declarações contra Lula. "Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre isso", escreveu o ex-ministro.

Ele reafirma que todo o conteúdo do depoimento criticado pelo PT trata apenas da verdade dos fatos. O ex-ministro não entra em detalhes sobre o que sabe a respeito de ilegalidades, porque ainda negocia um acordo de delação com a Justiça. "De qualquer forma, quero adiantar sobre as informações prestadas em 06/09/2017 (compra do prédio para o Instituto Lula, doações da Odebrecht ao PT, ao Instituto Lula, reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a campanha de 2010, entre outros) são fatos absolutamente verdadeiros", afirma.

Ele diz acreditar que, em breve, "o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer com o 'mensalão', quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos".

Palocci diz que participou ativamente de todas as realizações do partido. "Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumi minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política, nos melhor dos momentos do seu governo", diz.

"Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do 'homem mais honesto do país' enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos à Dona Marisa? Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?", questiona.

Críticas ao jeito de governar

Além das críticas a Lula, o ex-ministro também falou sobre as gestões petistas e atacou o modo com que o PT conduziu as decisões governamentais. 

"Alguém já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe à luta pelas ideias, a corrupção prevalece. Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados, sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão", disse em referência a Dilma.

Palocci diz que o PT acabou deixando uma herança ruim ao país. "Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos", afirmou.

Por fim, ele relembra a atuação política desde a fundação do PT e dos mandatos que recebeu. "Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo toda as minhas responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos erros, nos trabalhos honrados nos piores atos de ilicitudes nunca estive sozinho", diz.

Leniência partidária

Apesar das críticas, Palocci também fez sugestões ao PT. Ele diz acreditar que o melhor caminho para o partido é reconhecer os erros e buscar um acordo com as autoridades. "Há pouco mais de um ano, tive a oportunidade de expressar essa opinião de uma maneira informal a Lula e Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari, para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato", diz.

Ele diz que ainda acredita na proposta do PT, mas defende que o partido deva se rejuvenescer. "Depurar e rejuvenescer o partido será tarefa para nossos novos e jovens líderes. Minha geração talvez tenha errado mais do que acertado. Ela está esgotada. E é nossa obrigação abrir espaço a novas lideranças, reconhecendo nossas graves falhas e enfrentando a verdade. Sem isso, não haverá renovação", afirma.

O que Lula disse a respeito?

Quando Lula foi ouvido por Sérgio Moro, no dia 13 deste mês, ele afirmou que Palocci é mentiroso e inventou a história do “pacto de sangue” para agradar os responsáveis da Lava Jato com os benefícios de uma possível delação, ainda em análise. Para a defesa do ex-ministro, Lula é "dissimulado" e mudou de opinião após Palocci ter decidido "falar a verdade".

Em nota ao Jornal Nacional nesta terça-feira, o ex-presidente declarou que Palocci inventa acusações sem provas para obter um acordo de delação premiada. A defesa do ex-presidente afirmou, ainda, que o depoimento prestado por Palocci à Justiça, no começo de setembro, é repleto de contradições com relação ao depoimento que o ex-ministro já tinha prestado em maio deste ano e que a carta divulgada nesta terça-feira segue na mesma direção.

O que diz o PT?

Em nota, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que Palocci mente. Para ela, o ex-ministro já está fora do partido "política e moralmente". "A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores", afirma. Veja a íntegra da nota.

Leia abaixo a íntegra da carta de Palocci à presidente do PT

Carta Palocci — Foto: Reprodução
Carta Palocci — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 2 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 2 — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 3 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 3 — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 4 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 4 — Foto: Reprodução


Oliveira Lima e a longa história da Independência: livro de que participei, lançamento 24/06.21, 18h30

 Prezados amigos,

Tenho a satisfação de convidá-los para o lançamento virtual do livro "Oliveira Lima e a longa história da Independência", que organizei com as acadêmicas Lucia Maria Bastos P. Neves e Lucia Maria Paschoal Guimarães, do IHGB, conforme convite abaixo. Participará do lançamento, além dos organizadores, o Professor Arno Wehling, Membro da Academia Brasileira de Letras e Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O volume inclui os textos das contribuições ao seminário que organizei em setembro de 2019 na Biblioteca Mindlin, da USP, e pretende ser uma contribuição ao debate sobre o Bicentenário da Independência. Espero que possam participar, e peço sua ajuda na divulgação do evento. Link para o Facebook:  https://fb.me/e/1vfpDgKaz

Com o abraço amigo de

André Heráclio do Rêgo

Diplomata e historiador

O Partido Militar em ação, por Marcelo Pimentel, entrevistado por Claudio Couto

 Fora da Política Não Há Salvação:

https://youtu.be/FMoqBwhmBXQ



Mercosul não é causa do isolamento do país, diz Teixeira da Costa - Alex Ribeiro (Valor)

Um trecho desta entrevista com Roberto Teixeira da Costa, ex-CVM e CEBRI: 

Valor: A saída de Ernesto Araújo do Itamaraty não ajuda a melhorar a nossa imagem no exterior?

Costa: Estávamos com uma política externa suicida. Não dava para entender aonde queríamos chegar. Agora imaginar que o sucessor venha a recolocar o Brasil numa posição que ele tinha anteriormente é um pouco o que falei antes. É uma questão de tempo, não é do dia para a noite. Não sei se foi o Fernando Henrique que falou isso: o Brasil, na América do Sul, era sempre lembrado em qualquer acordo, qualquer disputa, como na entre o Peru e o Equador. O Brasil agora é totalmente esquecido na região. Ninguém mais fala do Brasil. Nunca vi uma situação como essa. Nunca viu tamanha disparidade, desinteresse.

Mercosul não é causa do isolamento do país, diz Teixeira da Costa

Economista lança livro sobre falta de abertura do Brasil e questiona argumento do ministro da Economia

Por Alex Ribeiro — De São Paulo

Valor Econômico, 18/06/2021 

O economista Roberto Teixeira da Costa diz que é uma “desculpa” colocar no Mercosul a responsabilidade pela falta de progresso na abertura da economia brasileira ao mundo. “Botar na conta da Tarifa Externa Comum [TEC] as responsabilidade pelo insucesso do Mercosul e do Brasil é querer tapar o sol com a peneira”, afirma ele, que é conselheiro e fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

A tese tem sido levantada, ultimamente, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que na semana passada afirmou que o Mercosul foi uma “armadilha” para o Brasil que impediu que nossa economia se integrasse às cadeias produtivas globais.

“Na imagem do Brasil, vamos ter que trabalhar muito para mudar. Com esse governo, jamais vamos conseguir”

Costa, que foi o primeiro presidente da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), está lançando o livro O Brasil tem medo do mundo?, que aborda exatamente as razões do isolamento do país. O subtítulo do livro - Ou o mundo tem medo do Brasil? - é uma referência ao período mais recente, no governo Bolsonaro, quando as demais economias tomaram a iniciativa de se distanciar de nós, num movimento agravado pela pandemia.

“Na questão da imagem do Brasil, vamos ter que trabalhar muito para mudar. Quase geracional. Com esse governo, jamais vamos conseguir”, afirma.

Guedes, liberal, é defensor das virtudes da internacionalização da economia brasileira, mas anunciou uma estratégia em dois passos. Primeiro, afirma, o país deve fazer reformas, como a tributária, que vão assegurar as condições competitivas às empresas. Só então seria possível abrir o país ao mundo.

Costa discorda dessa estratégia. “O que vem antes? O ovo ou a galinha?”, pergunta, questionando se na verdade não é a abertura que traz mais eficiência e competitividade. “Vamos ter acesso a novas tecnologias, vamos ter acesso a novos mercados.”

O presidente tomou atitude incorreta em relação aos EUA, apostando todas as fichas. Isso é um erro estratégico”

Aos 86 anos, ele afirma que um dos legados da pandemia foi expor a desigualdade de renda. “Meus amigos dizem que eu virei socialista. Eu digo: não sou socialista. Como você vai criar mercado no Brasil sem distribuir renda? Me explique. O sujeito tem dez geladeiras, vai comprar mais dez?” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Por que o sr. escreveu um livro sobre o isolamento do Brasil em relação ao mundo?

Roberto Teixeira da Costa: Depois que saí da Comissão de Valores Mobiliários [CVM], comecei a dedicar um tempo importante da minha vida às relações internacionais, no Conselho Empresarial da América Latina [Ceal] e, mais tarde, principalmente com [o ex-ministro das Relações Exteriores] Luiz Felipe Lampreia, trabalhamos em conjunto com um grupo de empresários e estadistas na criação do Centro Brasileiro de Relações Internacionais [Cebri]. Concluí que, em termos comparativos, a nossa presença nas reuniões internacionais, o nosso envolvimento, estava muitíssimo abaixo do que deveria. Havia quase uma alienação do interesse brasileiro em termos internacionais. Cito no livro uma frase do Fernando Henrique Cardoso: “O brasileiro adora ser ignorado”. Não é bem assim, mas é quase assim. Há 21 anos estamos discutindo um acordo comercial com a União Europeia. Por que o Brasil está tão isolado do mundo? Devemos atribuir à geografia? Não, a geografia deixou de ser uma razão. É um país que foi descoberto por caravelas.

Valor: O Brasil tem medo do mundo, como o título do livro sugere?

Costa: Se não tem medo, é intimidado. O subtítulo do livro, “O mundo tem medo do Brasil?”, foi criado em 2020, por causa da pandemia. Ficamos execrados pelo resto do mundo. Ainda agora estava vendo que a França está se negando a receber estudantes brasileiros. Isso é algo jamais visto. O Brasil era sempre muito querido no resto do mundo. Onde você ia, as pessoas nos recebiam com um sorriso. Hoje, nos recebem com restrições e não entendem o que está acontecendo no Brasil. Há anos, participei de uma reunião em Washington, quando a inflação estava em 70% ou 80%. As pessoas perguntavam: como vocês conseguem conviver com uma inflação como essa? A inflação nos colocava numa posição de isolamento. E, hoje, é a pandemia, são os incêndios florestais, o Brasil estar mudando regras que tinham sido consideradas estáveis. A previsibilidade é um fator fundamental para um investidor.

Valor: Nosso isolamento não vem do fato de sermos um país continental, diferentemente do pequeno Chile, que tem que se abrir para sobreviver?

Costa: Numa reunião com o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos, eu fiz essa pergunta. Ele disse: “Somos diferentes, não somos um país baleia, somos um país que tem que olhar para o mercado externo”. Mas não é compreensível que o Brasil seja fechado apenas pelo tamanho. Havia um protecionismo aqui do chamado grupo de suporte: federações da indústria, comércio, sempre tivemos um viés protecionista. Em Davos, por exemplo, você vê que a federação da indústria da Índia, os argentinos, os mexicanos, os chilenos, todos têm presença maior do que o Brasil. A coisa mudou um pouco com o Collor de Mello, com a abertura unilateral. E todos dizem: nós demos muito nessa abertura unilateral e não pedimos nada. Ficou esse jargão durante muito tempo, até cairmos na real. E aí ficamos sempre pensando um novo momento para uma revisão tarifária, mas ela não veio.

Valor: O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um liberal e reconhece as vantagens da abertura. Mas ele diz que, antes, tem que fazer a reforma tributária para dar condições para o empresário nacional competir com os chineses. Não parece correto esse sequenciamento?

Costa: Eu acho que é uma desculpa. Veja bem, o que vem antes? O ovo ou a galinha? Quando se olha a internacionalização, nós só pensamos em valor do mercado. Nós não pensamos nos “plus” que vamos ter com uma empresa multinacional. Vamos ter acesso a novas tecnologias, vamos ter acesso a novos mercados. Uma coisa que ficou clara com o Collor é que não podemos mais olhar o Brasil como um mercado isolado. A crise nos ensinou que existem mercado globais. Outro dia assisti à Hillary Clinton dizendo que os Estados Unidos não podem mais ficar dependentes da compra de insumos de fora. Embora não tenha falado em China, disse nas entrelinhas. Quando os Estados Unidos se depararam com a necessidade dos insumos chineses, dos aparelhos respiradores, chegaram à conclusão de que, mesmo tendo que pagar um custo mais alto, eles vão ter que ter uma produção local. Ou, acrescento eu, uma produção num país vizinho com que tenham uma relação mais amistosa. Portanto, esse é um “plus” para o Brasil, uma oportunidade que o Brasil deve aproveitar.

Valor: O ministro Guedes disse na semana passada que o Mercosul foi uma armadilha que evitou que o Brasil se integrasse às cadeias globais. O Mercosul está travando a abertura brasileira para o mundo

Costa: De novo, é uma desculpa. Botar na conta da Tarifa Externa Comum [TEC] as responsabilidade pelo insucesso do Mercosul e do Brasil é querer tapar o sol com a peneira. Continuo sendo um grande defensor do Mercosul. Você não pode estar numa vizinhança, numa rua, com o seu vizinho do lado tendo problemas o tempo todo. Se ele tem problemas o tempo todo, vão acabar te contaminando. A Argentina não é uma opção para o Brasil. A Argentina é uma realidade que está do nosso lado. Você não pode olhar a Argentina como um concorrente. É um parceiro nosso. Uma das aberturas importantes que o Brasil fez para o mercado internacional foi para a Argentina. No tempo do [ministro da Economia argentino Domingo] Cavallo, a taxa de câmbio era extremamente favorável ao Brasil e os brasileiros descobriram a Argentina. Depois, o contrário, os argentinos descobriram o Brasil. Mas tem que ter parcerias.

Valor: Mas a Argentina não nos atrapalha na busca de um acordo de livre-comércio, por exemplo, com a União Europeia?

Costa: Quando o Brasil queria fazer, a Argentina não queria fazer, e vice-versa. O Mercosul foi abandonado. As crises, que deveriam nos unir, nos separaram. Cada um procurou o seu lado. Na área de alta tecnologia, quantas coisas poderíamos fazer com os argentinos e não fazemos? Acho que não tem sentido botar a culpa nos outros. Vamos rever a TEC? Sim, vamos rever, mas desde que seja por unanimidade. O Uruguai quer fazer um acordo bilateral com os Estados Unidos? Acho que deve ser feita uma exceção. O que Uruguai vai conseguir num acordo bilateral, francamente falando, o que o Mercosul não possa conseguir? Abandonar o Mercosul parece muito mais fácil do que realmente é. Muitas empresas se estruturaram baseadas na existência de uma TEC. Você simplesmente, agora, não pode abandoná-la.

Valor: Na última reunião do G-7, uma novidade foi os Estados Unidos procurarem criar um programa de investimentos junto com os europeus para se contrapor ao da China, que tem o “Belt and Road Initiative”. Como o Brasil deve ser portar diante desses dois polos?

Costa: Vejo muitos analistas prevendo o domínio crescente da China no mundo. Acho que essas pessoas estão subestimando o papel dos Estados Unidos. Nessa reunião do G-7, a Europa se deu conta de que tem que estar junta dos Estados Unidos para fazer frente à China. Agora, na relação com o Brasil, não devemos tomar partido nisso. Temos, sim, que olhar o que nos interessa. Programas de infraestrutura americanos interessam ao Brasil? Mais do que nunca. Infelizmente, o nosso presidente tomou uma atitude incorreta em relação aos Estados Unidos, apostando todas as fichas. Isso é um erro estratégico. A questão é que nós não damos peso à nossa importância. Nossa importância não estava nisso, em assumir posições que mais tarde iriam nos custar caro.

Valor: Mas, do ponto de vista prático, é possível manter essa equidistância? O Brasil está sendo muito pressionado dos dois lados na disputa do 5G.

Costa: O 5G é realmente difícil de equacionar. Se, de um lado, você veda a Huawei, que tem uma presença grande [no Brasil], vai ser uma destruição de uma coisa que já foi construída. Do outro lado, os Estados Unidos, em vez de ficarem barrando, deveriam fazer alguma coisa que rivalizasse com a Huawei, que pudesse ser uma alternativa para os países, e não brincar de vedar. Não acho que é uma solução inteligente que os Estados Unidos estão tomando em relação ao assunto.

Valor: O Brasil está sendo pressionado pelos Estados Unidos também na pauta ambiental. Qual é a estratégia seguir, nesse caso?

Costa: Mas o Brasil não tem estratégia. Não tem. O Brasil gasta mais tempo com o passado. A não ser algumas exceções raríssimas, está todo mundo olhando para trás. Por que a China é o que é? Eles têm planejamento, de 20 anos ou 30 anos para frente. Não nos damos conta de que temos que olhar o futuro. Aí que vem a questão de Estado e governo. Temos que ter programas de médio e longo prazo. O nosso sistema presidencialista tem esse pecado. Copiamos o modelo americano, de um país que é completamente diferente do nosso. Você elege um presidente para quatro anos de mandato, o primeiro ano ele não sabe os botões que vai apertar. No segundo, ele começa a governar. No terceiro ano está preocupado com sucessão. Sou radicalmente favorável ao parlamentarismo. Não está dando certo, muda. Aqui, se errou, vai carregar por quatro anos. É o caso do Bolsonaro. Apesar da popularidade dele, acho que muitos dos que votaram nele hoje não estariam com o mesmo entusiasmo. Principalmente a Faria Lima.

Valor: Como a pandemia afeta nossa integração com o mundo?

Costa: Infelizmente, embora seja uma pessoa com um realismo esperançoso, a pandemia nos atrapalhou muito. Os Estados Unidos chegaram a 500 mil mortos, o Brasil nas próximas semanas vai chegar a isso. Por isso que as pessoas têm medo do Brasil. Como um país que tem um sistema de saúde que era cantado em prosa e verso como eficiente se retardou tanto? A questão é política. Houve um atraso muito grande na vacinação. Acho que isso é uma chaga que vai nos acompanhar. Portanto, na questão da imagem do Brasil, vamos ter que trabalhar muito para mudar. Quase geracional. Com esse governo, jamais vamos conseguir. Temos que buscar um estadista, escolher as pessoas certas para que o Brasil recupere a sua imagem no exterior.

Valor: A saída de Ernesto Araújo do Itamaraty não ajuda a melhorar a nossa imagem no exterior?

Costa: Estávamos com uma política externa suicida. Não dava para entender aonde queríamos chegar. Agora imaginar que o sucessor venha a recolocar o Brasil numa posição que ele tinha anteriormente é um pouco o que falei antes. É uma questão de tempo, não é do dia para a noite. Não sei se foi o Fernando Henrique que falou isso: o Brasil, na América do Sul, era sempre lembrado em qualquer acordo, qualquer disputa, como na entre o Peru e o Equador. O Brasil agora é totalmente esquecido na região. Ninguém mais fala do Brasil. Nunca vi uma situação como essa. Nunca viu tamanha disparidade, desinteresse.

Valor: A pandemia nos trouxe outros prejuízos?

Costa: A pandemia não nos ajudou. Ajudou meia dúzia de empresas que se favoreceram com esse contexto. Um dos problemas cruciais no Brasil é a distribuição de renda. Meus amigos dizem que eu virei socialista. Eu digo: não sou socialista. Como você criar mercado no Brasil sem distribuir renda? Me explique. O sujeito tem dez geladeiras, vai comprar mais dez? Tem cinco carros, vai comprar mais cinco carros? Não. Tem que criar condições para as pessoas chegarem ao mercado. Você só vai fazer isso distribuindo renda.

Valor: Mas o Brasil não criou um programa imenso de transferência de renda na pandemia?

Costa: Sempre tive muita cautela em defender a renda mínima. Mas eu acho que a renda mínima é uma das possíveis soluções. Não sob o ponto de vista de distribuir dinheiro, mas sim de gerar emprego. Da mesma forma como o Estado americano está criando na infraestrutura. É muito melhor você dar dinheiro para uma pessoa do que está trabalhando do que dar dinheiro para uma pessoa apenas ficar com ele. A pandemia não piorou os problemas, ela aflorou muitos dos problemas do Brasil.

Valor: Não houve avanços?

Costa: Essa questão da representação racial no Brasil. É certo que o Brasil continua com um viés racial enorme. É uma coisa cultural. Mas a coisa está mudando. Você olha as universidades, o número de negros que tem, olha na própria televisão, hoje tem uma presença maior. O Brasil se move com as crises. As crises nos ajudam a encarar melhor os problemas. O ESG [Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês], novamente, uma coisa entre o Estado e a sociedade. Isso está andando. Quando uma empresa se dava conta de que, ao comprar uma ação, era importante saber a política dessa empresa com o meio ambiente? Isso tudo está mudando, são mudanças fundamentais. Não acredito que elas vão ter a velocidade que eu gostaria. Mas, a curto prazo, esse é um efeito. Mas, no curto prazo, as coisa pioraram também.

Valor: De tudo o que o sr. cita no livro, quais são as duas principais medidas que o Brasil deveria tomar para diminuir esse distanciamento com o resto do mundo?

Costa: Primeira, mudar o “mindset” dos empresários sobre o assunto. Os empresários são a ponta de lança numa inserção internacional. A segunda coisa é ir um pouco às origens. É um problema de educação, cidadania. Temos que cultivar um pouco essa visão de autoconfiança no Brasil. Isso requer uma mudança no processo educacional. Não nos olharmos com viés de inferioridade, olharmos olho no olho. O país tem vantagens competitivas. O binômio educação e distribuição de renda são fundamentais em termos de futuro.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/06/18/mercosul-nao-e-causa-do-isolamento-do-pais-diz-teixeira-da-costa.ghtml

Relator da CPI torna Queiroga, Pazuello e Ernesto Araújo investigados - G1 e TV Globo

 Para registro histórico: 

Relator da CPI torna Queiroga, Pazuello e Ernesto Araújo investigados; veja os 14 nomes

Renan Calheiros anunciou nova fase da apuração e disse ver indícios de crime de autoridades. Como investigados, eles podem ser alvos de medidas mais severas, como busca e apreensão.

Por Marcela Mattos, Beatriz Borges e Sara Resende, G1 e TV Globo — Brasília

G1, 18/06/2021 11h00  Atualizado há 33 minutos

O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou nesta sexta-feira (18) uma lista de 14 pessoas que passarão à condição de investigados pela comissão de inquérito.

Constam na relação o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, os ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello e das Relações Exteriores Ernesto Araújo e o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fabio Wajngarten (veja lista abaixo).

A medida, na prática, indica que o relator vê indícios de crimes por parte desses investigados. A lista já foi encaminhada ao presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) – parte já tinha sido antecipada nesta quinta (17) pelo blog do Valdo Cruz.

Cabe a Renan Calheiros como relator, ao final dos trabalhos, elaborar um parecer e encaminhar ao Ministério Público eventuais pedidos de indiciamento.

Passam a ser investigados:

·       Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

·       Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde

·       Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores

·       Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da Presidência

·       Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde

·       Nise Yamaguchi, médica defensora da cloroquina e suposta integrante do "gabinete paralelo"

·       Paolo Zanotto, virologista defensor da cloroquina e suposto integrante do "gabinete paralelo"

·       Carlos Wizard, empresário e conselheiro de Pazuello e suposto integrante do "gabinete paralelo"

·       Arthur Weintraub, ex-assessor especial da Presidência e suposto integrante do "gabinete paralelo"

·       Francieli Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização

·       Marcellus Campêlo, ex-secretário de Saúde do Amazonas

·       Elcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde

·       Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde

·       Luciano Dias Azevedo, anestesista da Marinha apontado como autor de proposta para alterar a bula da cloroquina, substância sem efeito contra a Covid

"Por que isso? Porque acentua um momento importante da investigação. Segundo, em português claro, significa dizer que com relação a essas pessoas, contra os quais já acessamos provas e indícios, nós precisamos mudar o patamar da própria investigação, transformando-os em investigados. Isso é bom para a investigação e é bom, também, para a segurança jurídica do próprio investigado", diz Renan.

"A partir da declaração dessa condição, ele passa a ter acesso a informações e acesso às provas e indícios que estão sendo juntados na investigação", explicou.

Renan não descartou a hipótese de ampliar a lista de investigados nas próximas semanas – e disse que a CPI estuda, inclusive, investigar o próprio presidente Jair Bolsonaro.

Dos nomes que compõem a lista, Francieli, Weintraub, Wizard, Zanotto, Angotti Neto e Dias Azevedo ainda não prestaram depoimento à comissão. Cinco dos seis já tiveram pedidos de convocação aprovado – a exceção é o anestesista Luciano Dias Azevedo.

Além disso, Francieli, Wizard e Zanotto também tiveram os pedidos de quebras de sigilo aprovados.

Queiroga investigado

A inclusão de Marcelo Queiroga na lista não reuniu consenso entre os membros da CPI. Ao anunciar os nomes, Calheiros afirmou que a participação de Queiroga ao depor à CPI foi "pífia, ridícula", e que celebrou contratos para aquisição de vacinas por preço mais alto que os acordos anteriores.

"Colocamos o ministro Queiroga, que é o atual ministro, que teve uma participação pífia, ridícula, aqui na Comissão Parlamentar de Inquérito no seu primeiro depoimento quando tentou dizer que teria autonomia que faltou a Teich e faltou a Mandetta e os fatos logo demonstraram o contrário", afirmou o relator.

"Ele defendeu vacinação, o presidente no dia seguinte disse que iria encomendar dele um decreto e ele teria que fazer um decreto, para minimização da utilização das máscaras. Mais do que isso, o lote de vacina cuja negociação foi comandada por ele é 20% mais caro do que o contrato anterior", prosseguiu.

À GloboNews, nesta quinta, Calheiros havia citado indícios de que Marcelo Queiroga teria debatido drogas sabidamente ineficazes para a Covid em reunião com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O senador repetiu a informação nesta sexta.

"Recentemente, em abril, nós acessamos documentos em que ele, em conversa com o diretor-presidente da OMS, ele cobra agilidade no fornecimento das vacinas e recebe um puxão de orelha, porque o diretor-presidente disse o seguinte: ‘olha, como vocês cobram agilidade da OMS se quando a OMS disponibilizou a possibilidade de aquisição de 50% de vacinas para a população brasileira, 50% da população vocês demoraram, postergaram e depois assinaram o mínimo que poderia ser assinado que era 10%. Agora nós estamos vivendo uma situação terrível de mercado e não dá mais para ajudar como nós teríamos ajudado naquela oportunidade em que oferecemos essas vacinas'", relata Calheiros.

"Aí, ele [Queiroga] aproveitou a conversa e defendeu em abril o tratamento precoce, a prescrição da cloroquina e ainda mentiu novamente dizendo que tinha tido esse tratamento uma eficácia no Brasil de 70%. Quer dizer, nós não temos como fazer outra coisa, senão colocá-lo na própria investigação", concluiu o relator da CPI.

Em seguida, ao voltar ao tema, Renan chegou a confundir o nome do ministro Queiroga, a quem chamou de "Queiroz".

"Ou seja, a comissão parlamentar de inquérito ela tem uma condição intimidatória. Ela é criada também para dissuadir determinadas práticas nocivas e irresponsáveis como do ministro Queiroz. Eu estou confundindo porque estou citando o outro lá que não chegou a ser ministro, mas é... infelizmente, ele vai ter que se investigado para que ele entenda que ele precisa parar com essas loucuras que ele não pode continuar, a pretexto do cargo que ocupa, fazendo essas atrocidades, ou concordar com as atrocidades que são feitas diariamente pelo presidente da República", declarou.

Críticas a Bolsonaro

Ao anunciar a lista, Renan Calheiros também citou a "absoluta irresponsabilidade" do presidente Jair Bolsonaro ao atacar as vacinas e defender o contágio como melhor forma de imunização – tese que já foi amplamente desmentida pela ciência.

"A CPI tem feito a sua parte, tem dado passos significativos no sentido da apuração e da consequente responsabilização dos fatos. Nós chegaremos, tristemente digo isso, neste fim de semana a mais de meio milhão de mortos no Brasil pela Covid. Diante da absoluta irresponsabilidade do chefe de governo que, ainda ontem, reiterou tudo o que havia dito com relação à defesa da imunidade de rebanho, da imunização natural. E usou ele próprio como exemplo desse crime e desse absurdo", disse Calheiros.

"Já demonstramos que o governo sempre recusou as vacinas e sempre tentou e colocou em seu lugar o chamado tratamento precoce e a utilização da hidroxicloroquina, da ivermectina, do zinco e outros produtos com comprovada ineficácia", continuou.

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/06/18/relator-da-cpi-torna-queiroga-pazuello-e-carlos-wizard-investigados-veja-outros-nomes.ghtml


Book reviews: George Packer’s “Last Best Hope”; Jonathan Rauch’s “The Constitution of Knowledge” - Emily Bazelon (NYTimes)

Acadêmicos americanos começam a analisar o impacto negativo do trumpismo para a democracia nos EUA:
Tyler Comrie

Speaking Truth to Both the Right and the Left
George Packer’s “Last Best Hope” and Jonathan Rauch’s “The Constitution of Knowledge” argue that Trump die-hards and the woke both threaten democracy.
Last Best Hope: America in Crisis and Renewal

LAST BEST HOPE: America in Crisis and Renewal
By George Packer

The Constitution of Knowledge: A Defense of Truth
THE CONSTITUTION OF KNOWLEDGE: A Defense of Truth
By Jonathan Rauch

Like many public intellectuals who are worth reading, George Packer and Jonathan Rauch don’t toe a predictable line in American political and intellectual debate. They despise Donald Trump and the disinformation-heavy discord he has spawned. But they don’t share all the views of progressives, either, as they’ve come to be defined in many left-leaning spaces. Packer and Rauch are here to defend the liberalism of the Enlightenment — equality and scientific rationality in an unapologetically Western-tradition sense. They see this belief system as the country’s great and unifying strength, and they’re worried about its future.

Packer’s slim book, “Last Best Hope,” begins with patriotic despair. “The world’s pity has taken the place of admiration, hostility, awe, envy, fear, affection and repulsion,” he writes of the perception of the United States abroad. This might have rung true in the throes of the attack on the U.S. Capitol on Jan. 6, which may also be when it was written, but it now sounds overwrought. So does Packer’s claim that “a lot of Americans have explored their options for expatriation.” (The number of expatriates is rising but small, and the cause of the uptick is likely a change in tax law, according to The Wall Street Journal.)

Once Packer gets going, however, he is forceful. His deep fear is that Americans have lost the “art” of self-government. He means, with credit to Alexis de Tocqueville, “not just rights, laws and institutions, but what free people do together, the habits and skills that enable us to run our own affairs.” Self-government depends on trust, “which we’ve lost.”

In the near past, Trump, “flimflam man and demagogue,” comes in for the most blame. But Packer also describes the incoherent response to the pandemic across the political class. He cites the mess the Centers for Disease Control made of testing for the new coronavirus in spring 2020 and the failure this year to reopen schools. The reluctance of Black and Latino parents to send their kids back became a weapon against reopening, not a reason to address the underlying problem — a history of broken promises and higher rates of sickness and death. “Imagination and initiative were in short supply,” Packer writes. Amen, alas.

Packer is at his best when he ties his thesis about Americans’ loss of the art of self-government to the inequality that he has covered extensively and intimately in his career as a journalist. “If I had to put it in a single sentence,” he writes, “I would say: Inequality undermined the common faith that Americans need to create a successful multi-everything democracy.” He recognizes that “racism is in our marrow, and enough Americans either celebrate or tolerate this evil that it came within a whisker of gaining a lasting hold on power.” (He’s talking about Trump, though he would recognize that racism has in fact gained such a hold in other ways and times.) But Packer’s lens of analysis is economic. He thinks America has fractured principally along lines of social class and material hardship, which increasingly persist across generations. He blames “the new aristocracy” and “invisible monopolies,” but also the divide between “two classes, rising professionals and sinking workers.” A few generations ago, they “were close in incomes and not so far apart in mores.” But now they “no longer believe they belong to the same country.”

In the book’s sharpest chapter, Packer describes “Four Americas.” The first, “Free America,” is irresponsibly libertarian. Hostility to government, popularized by Ronald Reagan, became an excuse for breaking unions, starving social programs and changing antitrust policy to concentrate financial power. Free America’s cousin, “Real America,” is personified by Sarah Palin. It’s evangelical and isolationist, and it “renders the Black working class invisible.” Real America is also in “precipitous decline” because of the loss of jobs in rural areas throughout the country. For this, Packer faults the false promises of the Clinton era — global trade and education did not raise all ships — as well as cultural alienation. “If the Democratic Party wasn’t on their side — if government failed to improve their lives — why not vote for the party that at least took them seriously?” he asks.

Packer is biting in depicting the left. He divides it into “Smart America” and “Just America.” Neither is a compliment. Smart Americans are the rising professional class, for whom unions hardly exist and college admissions are “the most important event in the life cycle of a family.” Packer allows that striving is human, but skewers Smart Americans for being “meritocrats by birth” yet going “to a lot of trouble not to know it.” He has receipts: “After seven decades of meritocracy, it’s as unlikely for a lower-class child to be admitted to a top Ivy League university as it was in 1954.” In Smart America’s families, passing achievement from one generation to the next is an obsession, and democracy is an afterthought.

If you feel implicated in Smart America, dear reader, that’s probably because you’re meant to be. Or perhaps you will see yourself, or resist doing so, in Packer’s Just America. Politically speaking, this part of the book is a high-wire act. Packer is not a reactionary. He credits Just America for doing “the hard essential thing” of forcing us “to see the straight line that runs from slavery and segregation to the second-class life so many Black Americans live today.” But then he attacks it for upending “the universal values of the Enlightenment: objectivity, rationality, science, equality and freedom of the individual.”

Just America “is concerned with language and identity more than material conditions.” This separates it from Marxism and also Martin Luther King Jr., whose demands for equal rights largely fell “within the framework of the Enlightenment.” According to Packer’s rendition of Just America’s ideology, on the other hand, “all disparities between groups result from systems of oppression and demand collective action for redress, often amounting to new forms of discrimination — in other words, equity. In practice, identity politics inverts the old hierarchy of power into a new one: bottom rail on top.”

Packer spells out the problems he sees with abandoning the Enlightenment framework. Fixating on language alienates sympathetic outsiders. It’s hard to build a coalition while constantly correcting how people talk. Symbolic fights distract elites while doing nothing to address economic hardship. Just America may also find itself out of touch with people it claims to represent. The activist push to defund the police in many cities, for example, “was stopped by local Black citizens, who wanted better, not less, policing.”

Packer is especially concerned about the academy and the media. Just America’s reigning focus on subjectivity and oppression of “the self and its pain — psychological trauma, harm from speech and texts,” he writes, has become “nearly ubiquitous in humanities and social science departments.” And some journalists are enforcing intellectual piety and purism, using “the power to shame, intimidate and ostracize, even turning it on their colleagues.”

As a journalist and a part-time lecturer at a university, I would have shrugged off these claims a few years ago. I still think a minority of academics and journalists are driving the shift Packer is talking about. But they have real influence. Which brings me to Jonathan Rauch.

Rauch’s subject, in “The Constitution of Knowledge,” is the building of human understanding. He takes us on a historical tour of how a range of thinkers (Socrates, Hobbes, Rousseau, Montaigne, Locke, Mill, Hume, Popper) sought truth, came to embrace uncertainty, learned to test hypotheses and created scientific communities. He is astute about the institutional support and gatekeeping that sustains “the reality-based community of science and journalism.” Social media platforms are bad at this because their profits are built on stoking users’ existing rage and spreading lies faster than truth. This is not a new critique, but it’s nice to see Rauch weave it into his larger project.

Online, Rauch argues (citing the political scientist David C. Barker), a “marketplace of realities” threatens to supplant a marketplace of ideas. He describes the danger the right poses, by trolling and spreading disinformation rather than seeking truth and checking facts.

But like Packer, Rauch reserves his most energetic criticism for the excesses of the left.

He blames it for cancel culture, defined as firing or ostracizing people for stray comments or social-media posts (some awful, some awkward, some expressing mainstream-until-yesterday views). He writes at helpful length about the difference between criticizing and canceling. “Criticism seeks to engage in conversations and identify error; canceling seeks to stigmatize conversations and punish the errant. Criticism cares whether statements are true; canceling cares about their social effects.”
By Emily Bazelon


 

sábado, 19 de junho de 2021

Grand Strategy in 10 Words: A Guide to Great Power Politics in the 21st Century, book by Sven Biscop

 

O mundo precisa de uma nova Carta do Atlântico? A primeira, em 1941, era contra o nazismo. Agora é contra a China? - Richard J. Evans (The Wall Street Journal)

Essa tal de nova "Carta do Atlântico", do Biden e do Boris Johnson, é pura demagogia, aproveitando a mística da declaração de 1941, que nem tinha esse nome, e que se destinava a salvar a Grã-Bretanha numa das horas mais dramáticas da sua história, depois da Invencível Armada (destruída pelo próprio canal da Mancha) e da ameaça napoleônica (vencida em Trafalgar). Depois dos espanhóis e dos franceses, os chineses, e contra os americanos desta vez? Joe Biden está exagerando no seu populismo histórico, se rendendo ao que as esquerdas chamariam de "complexo industrial-militar": milhões de dólares canalizados pela paranoia irracional dos generais do Pentágono e pela inacreditável demência dos acadêmicos que caíram no conto de vigário de uma fantasmagórica "armadilha de Tucídides'. Pobre Tucídides, não merecia essa...

Paulo Roberto de Almeida 

Do We Need a New Atlantic Charter?

Eighty years after FDR and Churchill pledged to defend democracy, President Biden and Prime Minister Boris Johnson want to reenergize the special relationship for a very different world.

President Biden at G-7 Summit: “America Is Back at the Table”
President Biden at G-7 Summit: “America Is Back at the Table”
President Biden at G-7 Summit: “America Is Back at the Table”
During a press conference at the conclusion of the summit between leaders of the Group of Seven on Sunday, President Biden discussed working together with allies, global vaccine donations and how the group plans to approach challenges posed by China. Photo: Kevin Lamarque/Reuters

At a summit meeting in England last week, President Joe Biden and U.K. Prime Minister Boris Johnson signed a “new Atlantic Charter,” pledging their countries to work together on a range of issues, from combating climate change and preparing effectively for future pandemics to the defense of democracy and “the rules-based international order.” The agreement intends to “build on the commitments and aspirations set out eighty years ago” in the original Atlantic Charter, signed by Franklin D. Roosevelt and Winston Churchill on August 14, 1941, at their first wartime meeting, held at a U.S. naval base in Newfoundland.

The much-publicized agreement reflects Mr. Johnson’s determination to reorient British foreign policy away from Europe in the wake of Brexit. For Mr. Biden it represents a renewed commitment to America’s traditional allies after four years of tension during the Trump presidency, with its policy of “America First.” As Mr. Johnson said in a statement, “Eighty years ago the U.S. President and British Prime Minister stood together promising a better future. Today we do the same.” But does the new Atlantic Charter really deserve the comparison with the historic original?

In fact, the Atlantic Charter of 1941 was less about remaking the world than about fighting World War II. At the time it was signed, Britain and Germany had been at war for less than two years, and the U.S. hadn’t yet entered the conflict. But the Americans had already begun to help the British, notably through the Lend-Lease Agreement signed the previous March, which provided for the U.S. to supply Britain and its allies with war materials. A major purpose of the Charter was to prepare the American people for their likely future entry into the war by telling them what they would be fighting for. 

In this sense, the Atlantic Charter was more a propaganda statement than a program for action. Its eight clauses, echoed deliberately in the eight clauses of the 2021 Atlantic Charter, affirmed the right of peoples and nations to self-determination, the desirability of lowering trade barriers, the postwar disarmament of the “aggressor nations,” the freedom of the seas, and the necessity of social welfare measures and the alleviation of poverty.

The U.S. and U.K. also said they would not seek territorial gains after the war. Importantly, the defeated nations were to be included in the lowering of trade barriers, a conscious rejection of the punitive economic measures that followed the end of World War I. But the ambitious statement wasn’t signed by the leaders and had no formal legal power. Even the name “Atlantic Charter” wasn’t official; it was invented by the Daily Herald, a left-wing British newspaper, to describe what was formally known as the Joint Declaration by the President and the Prime Minister.

À espera dos bárbaros? - Paulo Roberto de Almeida

 À espera dos bárbaros?

Paulo Roberto de Almeida


Um poeta grego expressou certa vez sua surpresa pelo fato de seus concidadãos ainda estarem à espera dos bárbaros: eles teriam sido a solução ante à irresolução.

E no caso dos bárbaros já estarem entre nós? Resolveram alguma coisa? Diminuiu o grau de irresolução em face de problemas concretos? Ainda vivemos em tempos homéricos, nos quais pessoas acreditam sinceramente que são os deuses que guiam os seus passos e suas ações?

Progredimos alguma coisa desde a guerra de Troia no “Ocidente”, desde as guerras entre os reinos no “Oriente”?

A humanidade avançou realmente alguma coisa nos últimos seis ou sete mil anos?

Geologicamente é um tempo muito curto para certas acomodações de terreno.

Mas intelectualmente se poderia esperar algo mais avançado desde o Aufklarung.

E, no entanto, depois disso, ainda tivemos o racismo, a intolerância religiosa, os Gulags, o Holocausto, os diversos genocídios voluntários e involuntários, o terrorismo sempre presente, a corrupção política e as desigualdades sociais evitáveis. 

A humanidade me decepciona, mas os bárbaros não são a solução…


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 19/06/2021