O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 19 de setembro de 2020

O Brasil e o Abolicionismo Tardio, Nunca Completado - Paulo Roberto de Almeida

 O Brasil e o Abolicionismo Tardio, Nunca Completado

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

Publicado em O Veterano (Rio de Janeiro: periódico semanal estudantil da FGV EPGE; no aniversário da abolição da escravidão: 13/05/2020; link: https://medium.com/o-veterano/coluna-o-brasil-e-o-abolicionismo-tardio-nunca-completado-paulo-roberto-de-almeida-b0807425fd32). 

Relação de Publicados n. 1347.


 

Sumário: 

A escravidão na história humana e o comércio de escravos

O Brasil: relutante em extinguir o tráfico

O lento e delongado processo abolicionista

Um país notável pela ausência de qualquer sentido de política de capital humano

 

Família brasileira sendo servida por escravos no século XIX: Pintura por Jean-Baptiste Debret.

 

 

O presente ensaio tem o objetivo principal de argumentar que a eterna relutância do Brasil em abolir o tráfico e, depois, a escravidão, constitui um dos mais poderosos fatores que podem explicar, ainda hoje, a persistente dificuldade do país em elevar os padrões e o próprio ritmo de um processo sustentado de crescimento econômico, com destaque para a área da produtividade do capital humano. Essa delonga na adoção de reformas sociais também está na raiz do grau anormalmente elevado das desigualdades sociais e da distribuição de renda, que estão vinculadas, por sua vez, à ausência de reforma agrária, ainda no século XIX, e em especial a completa ausência de uma política de educação de massa, uma deficiência permanente, praticamente desde antes da independência, que atravessa toda a fase monárquica e que se prolonga por boa parte do regime republicano. O tráfico negreiro e a escravidão foram formalmente abolidos em 1850 e em 1888, respectivamente, mas seus efeitos delongados na estrutura econômica e no tecido social nunca foram efetivamente superados em toda a trajetória da nação independente. A ausência de políticas consistentes nos terrenos da propriedade fundiária e da educação de massas é responsável, por sua vez, pelos baixos níveis de renda per capita, pela persistência da pobreza, assim como da enorme concentração de renda. 


 (...)


Ler a íntegra na plataforma Academia.edu; link:

https://www.academia.edu/44123455/3667_O_Brasil_e_o_Abolicionismo_Tardio_Nunca_Completado_2020_

O desenvolvimento econômico do Brasil: uma visão histórica (2020) - Paulo Roberto de Almeida (Quem leu o trabalho?)

Alguém lê o que escrevo?  Certamente. 

Para me certificar disso, peguei um trabalho ao acaso, dentre as dezenas, centenas que já disponibilizei na minha página da plataforma Academia.edu, e fui verificar quem tinha lido, ou pelo menos acessado: 

O desenvolvimento econômico do Brasil: uma visão histórica (2020)

2020, O desenvolvimento econômico do Brasil: uma visão histórica
130 Views26 Pages
O desenvolvimento econômico do Brasil: uma visão histórica 
Paulo Roberto de Almeida 
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com) 
Sumário: 
1. Introdução: a natureza do exercício 
2. Do Império à velha República: o lento desenvolvimento social 
3. A modernização conservadora sob tutela militar: 1930-1985 
4. As insuficiências sociais da democracia política: 1985-2020 
5. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil? 
     5.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais)
     5.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis)
     5.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes)
     5.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional)
     5.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais. 
6. Conclusões: o que falta ao Brasil? 

Quem leu? Este povo: 

Paulo Roberto de Almeida
Ministry of External Relations of Brazil
Adjunct
Diplomat, Professor; Complete list of Books at the website: www.pralmeida.org; See complete CV and academic production at: http://lattes.cnpq.br/9470963765065128

Desinformação e fanatismo na era da superabundância de informação - Wilson Gomes (Cult)

Desinformação e fanatismo na era da superabundância de informação 

Desinformação e fanatismo na era da superabundância de informação
47
O excesso de informação disponível pode ter um efeito diferente do que se espera (Foto: YTUZ/Unsplash)

 

Por muito tempo acreditamos que o acesso à informação seria uma coisa extremamente boa para o conhecimento e o debate políticos. Os iluministas nos fizeram acreditar nisto. Como o fanatismo político do passado era em parte resultado da ignorância das populações, quanto mais informações as pessoas tivessem, acreditávamos, mais inteligentes elas seriam e, portanto, seriam mais prudentes, mais tolerantes, mais certas das suas incertezas, menos dogmáticas. Além disso, quanto mais fontes de informações as pessoas tivessem à disposição, mais complexas se tornariam suas ideias e discussões, mais amplas as suas visões de mundo, menos afeitas a paixões cegas e à parcialidade.

Qual o quê?

Parafraseando Walter Lippmann (Public Opinion, 1922) – que há um século fez uma devastadora crítica da democracia por achar que a opinião pública era um produto de valor baixo demais para que pudesse sustentar dignamente um regime político qualificado -, quando as pessoas buscam informação política, frequentemente não estão procurando a verdade, o esclarecimento mútuo, cooperação das outras pessoas para compreender a complexidade do mundo. Não, na verdade, elas estão amiúde buscando confirmar os estereótipos, quer dizer, as simplificações do mundo que já adotam, reforçar os seus pré-conceitos. Eu diria mais, estão buscando informação para, com mais frequência do seria razoável esperar, satisfazer as suas angústias ao mesmo tempo políticas e existenciais. Muito pouco a ver com verdade, conhecimento, esclarecimento.

Com efeito, e para sermos justos, a divisa adotada pelo Iluminismo, o “sapere aude” – tenha a audácia de saber, atreva-se a conhecer, ouse servir-se do seu próprio entendimento – não é um incentivo à busca sôfrega e sem discernimento por informação. É um conselho justamente para evitar o dogmatismo, o conhecimento não devidamente escrutinado pelos nossos próprios recursos intelectuais, sugerindo justamente que o indivíduo assuma como responsável por usar um dos seus maiores recursos, a inteligência a fim de examinar pessoalmente cada ideia transmitida, cada conceito que lhe foi ensinado, cada sentença que a sociedade, a religião ou os mestres lhe passaram como se fosse verdade. Tenha o atrevimento de pensar com a sua própria cabeça, diziam, então.

Lippmann achava que não, que não tem “sapere aude” certo se as pessoas não possuem experiência direta da maioria dos fatos, dependem de informação de segunda ou terceira mão para construir as suas ideias sobre a realidade, e, além disso, não têm formação, discernimento, nem mesmo vocabulário suficiente, para conhecer a complexidade do mundo de forma complexa. Em vez do imperativo “sapere aude”, o imperativo, “simplifica”, use o que você já sabe ou acha que sabe para lidar com a informação nova, não gaste muito tempo com isto.

Cem anos depois de Lippmann, vivemos uma era de abundância de informação e de fontes de informação online, que em vez de superar o fanatismo do passado criou novos fanáticos. A informação não é a água com que apagaríamos o fogo do dogmatismo, mas é a pólvora que a gente lança gostosamente nas chamas do fanatismo. E mesmo grupos que há alguns anos construíam pontes posto que, como minorias, sabiam que precisavam de alianças para sobreviver e prosperar, agora afiam facas, patrulham os seus domínios como vigilantes implacáveis e atacam à menor aparência de provocação das susceptibilidades tribais. Temos, paradoxalmente e ao mesmo tempo, muita informação, variadas fontes de informação, de um lado, e muita treta, muita busca desenfreada por conflito, muita vontade de calar a boca do oponente, de humilhá-lo, expô-lo à fúria pública, puni-lo incessantemente.

A questão-chave sobre informação e democracia estava equivocada, se colocada em termos quantitativos. O fanatismo e o dogmatismo não decorriam simplesmente da falta de informação ou da diversidade de fontes. Tudo depende, na verdade, do que as pessoas decidem fazer com a informação à disposição, usando-a para o esclarecimento, a tolerância e o progresso, ou, ao contrário, para o dogmatismo e como combustível para o autoritarismo ou para o ódio. A informação, portanto, não é instrumento de opressão, de geração conflito, de tentativa de dominação apenas quando é escassa e reservada a poucos. Ela pode ser tudo isso mesmo quando há abundância e quando é segmentada conforme ideologias e interesses.

Infelizmente, em uma sociedade em que temos informação abundante, de todos os tipos, origens e níveis de profundidade, completude e alcance, o que não falta é quem a use para ficar mal-informado ou desinformado. Não, não me refiro às fake news, mas ao uso da informação para paradoxalmente, reforçar a ignorância e o fanatismo. O sujeito iluminista que aprendeu a desconfiar das tradições e das doutrinações como típicas formas de reprodução do dogmatismo, e a usar como método para a verdade a suspensão do julgamento até que pessoalmente examinasse a razões que lhes eram apresentadas, cedeu o passo e o compasso para o cidadão pragmático que busca informações para satisfazer às suas necessidades e vontades. Inclusive necessidades nascidas do pré-conceito e do dogmatismo.

A diversidade de fontes acabou se transformando numa forma de rápida satisfação das várias necessidades cognitivas políticas. A esfera pública brasileira virou isso. Não tem maluquice que não tenha um professor, um pregador online. Se você acredita que o Estado é laico, mas o governo pode ter uma religião, haverá alguém que ensine tal disparate. Do mesmo modo, se você é comunista em 2020 e anda meio por baixo vai encontrar um youtuber que o tranquilize dizendo que Stalin até que nem era um genocida tão ruim assim. Dá arrepios. Para qualquer posição política estúpida, perigosa ou antissocial, haverá online um número suficientemente grande de provedores da informação e das interpretações necessárias para a sua confirmação. Em suma, sempre haverá um Olavão ou de direita ou de esquerda para suprir de informações e interpretações quem precisa de fanatismo político como motor da própria existência.

Claro que há também abundante informação política de qualidade à disposição. Mas as barraquinhas do fast-food político entregam mais rápido e entregam coisas mais gostosas.


Wilson Gomes é doutor em Filosofia, professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA e autor de A democracia no mundo digital: história, problemas e temas (Edições Sesc SP)