segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Pedro Dutra: premio da Academia Brasileira de Letras pela biografia de San Tiago Dantas (2015)

Transcrevo do blog do advogado do advogado Pedro Dutra, com data de 2/10/2015:

Agradecimento na recepção do prêmio Senador José Ermírio de Moraes




Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Brasileira de Letras, Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti.

Excelentíssimo Senhor Presidente da Comissão do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes – Acadêmico Marcos Vilaça.

Excelentíssimo Senhor Relator da Comissão do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes – Acadêmico Alberto Venâncio Filho.

Excelentíssimas Senhoras Acadêmicas.

Excelentíssimos Senhores Acadêmicos.

Excelentíssimo Senhor Professor José Pastore, digno representante do Instituto Votorantim.

Senhoras e Senhores.

O prêmio Senador José Ermírio de Moraes, que essa Academia vem de outorgar àA Razão Vencida, é uma generosa retribuição ao esforço de seu Autor.

Mas este prêmio tem um outro – e maior – destinatário: Francisco Clementino de San Tiago Dantas.

1.0. Cumprindo mandato de deputado federal, no início de 1964 San Tiago tentou unir, em uma frente parlamentar, as forças políticas de sustentação do presidente da república, João Goulart. Estava San Tiago advertido de que a extremação ideológica em curso, aprofundando o dissídio entre as correntes de direita e de esquerda, iria ter o seu desfecho, como veio a ter, na ruptura da ordem democrática.

Então, a doença já o visitara, e ele sabia contados os seus dias, assim como vencidos estavam os seus dias no poder, breves, mas superiormente exercidos, em meio a maior crise política vivida na frágil república de 1946.

Por essa altura, San Tiago buscou a Academia, onde contava com inúmeros amigos de mocidade, entre eles, Alceu Amoroso Lima e Afonso Arinos; e, ainda hoje, conta nessa Casa com seus jovens amigos, o crítico literário Eduardo Portella e o advogado Alberto Venâncio Filho.

San Tiago formalizou a sua postulação e cumpriu os procedimentos de praxe. Mas a eleição realizou-se a dois de abril de 1964, já vitorioso o golpe militar e deposto o governo João Goulart.

E o nome de San Tiago não alcançou a maioria necessária à sua admissão a essa Casa. Meses depois, a 6 de setembro, morria, aos 53 anos incompletos.

2.0. Não foi a Academia Brasileira de Letras a única Casa a lhe recusar ingresso. Em junho de 1962, os seus pares na Câmara de Deputados lhe haviam negado a chefia do gabinete, no curto interregno parlamentar então aberto na vida política nacional.

O regime parlamentar surdira de um golpe: os militares, estimulados por radicais da UDN, negavam posse ao vice-presidente João Goulart, alegando a sua simpatia e leniência às forças de esquerda, em sequência à renúncia de Jânio Quadros.

Ao aceitar a implantação do regime parlamentarista em troca de sua posse na presidência da república, Jango começou a trabalhar contra a sobrevivência desse regime. E nesse ofício contou com apoio de candidatos que já abertamente postulavam a sua sucessão.

No turbilhão em que a vida política do país se transformou, San Tiago distinguia-se: era um homem de Estado.

3.0. Tinha ele a noção moderna da democracia renovada pelos valores apurados pela experiência dramática da Segunda Guerra.  E entre esses valores renovados, San Tiago reclamava fosse assegurada ao trabalho a mesma ordem de garantias jurídicas havia muito o nosso Direito já assegurava ao capital.

Essa reforma seria a nutriz de outras reformas estruturais, mas estas reformas não poderiam ser, como observou, “ocasionadas pela avulsão de certos valores, pela eclosão revolucionária”; ao contrário, elas deveriam ser, todas elas, debatidas com a sociedade e aprovadas pelo Congresso.

San Tiago mirava as reformas das principais instituições político-jurídicas do país, e estava ciente das palavras de Rui Barbosa, a quem votava justa admiração: a República “não é uma série de fórmulas, mas um conjunto de instituições, cuja realidade se afirma pela sua sinceridade no respeito às leis e na obediência à justiça”.

O homem de Estado era, e é, uma figura estranha à política nacional. Esta, mesmo quando contou com razoável número de parlamentares talentosos, o que certamente não é o caso hoje a ocorrer, não conseguiu afirmar linhas ideológicas, que reclamassem aos partidos a elaboração e a defesa de programas de governo consistentes, a serem oferecidos à consideração do eleitor.

Antes, a política nacional atrai, quando não o celebra, o político que opera distante de temas e de ideias, e sobretudo de procedimentos, que consultem os interesses maiores do Estado brasileiro.

Nesse contexto, em que a ação política é reduzida à destreza em manipular as cordas do governo e o Tesouro Nacional, não surpreende San Tiago ter sido visto como um adversário da cultura política nativa. E, assim, negar-lhe a investidura na chefia do gabinete afigurou-se um imperativo inafastável à maioria dos deputados, para ser evitado o risco de ele conduzir a nação ao regime parlamentar.

San Tiago estava ciente da desconfiança que o seu nome suscitava, ainda que publicamente exibisse a crença em sua aprovação. Defendeu a sua indicação, apresentando, em um dos mais notáveis discursos feitos ao plenário da Câmara dos Deputados, o seu programa de governo, cujo núcleo seria as reformas de estrutura do Estado brasileiro, muitas delas até hoje reclamadas.

A derrota sofrida na Câmara dos Deputados não o desencantou. Já muito doente, serviu ao país à frente do Ministério da Fazenda no primeiro semestre de 1963, buscando a um só tempo combater a inflação e reanimar a economia.

Mas não achou o apoio da classe política; o seu próprio partido, então liderado por Leonel Brizola, somou-se à oposição tradicional da UDN ao governo e promoveu uma agitação social sem precedentes, precipitando o país em uma crise cujo desfecho, dali a pouco, poria termo à ordem democrática.

4.0. Qual o legado desse fidalgo da inteligência, do mestre da sua geração, do advogado excepcional? Qual o legado desse raro homem de Estado, talhado para o exercício superior do poder, mas que acumulou sucessivas derrotas políticas? Qual o legado desse escritor extraordinário, de um estilo de uma severa simplicidade, onde não sobram adjetivos, não se acha o verbo mais exato e não se tem a síntese mais justa?

Não há uma resposta única e precisa, ao se lidar com uma personalidade tão rica e complexa, mas a sua obra pode nos indicar caminhos. Ela é uma obra de circunstância, produto da sua ação múltipla, de professor, de advogado, de jurista, de político, de ensaísta, atividades exercidas simultaneamente, incansavelmente, excelentemente.

A maior parte dessa obra notável está por publicar, e deve compor, como esperamos, os escritos já conhecidos. A esses trabalhos soma-se a sua correspondência, extraordinária pela sua riqueza documental, e é sem dúvida uma obra literária superior.

Nela surge o homem austero e grave, que amava a família e via nos sobrinhos os filhos que não pode ter, e era o companheiro fiel cujos amigos de mocidade com ele estiveram até a última hora.

5.0. O percurso ideológico de San Tiago é riquíssimo, e traz o selo da coerência e do desassombro, como mostram os seus escritos.

Defendeu suas ideias energicamente, publicamente. Foi capaz de rejeitar aquela que primeiro abraçou ao vê-la infiel aos propósitos que ele, como tantos outros, aspirou ver realizados.

Passou a defender uma ordem social democrática, onde o trabalho e o capital se alinhassem em um mesmo plano de direitos e deveres.

Um dos maiores advogados do país e um intelectual justamente respeitado, não hesitou em buscar infundir ao trabalhismo brasileiro – atrelado ao Estado e cevado por suas verbas – as ideias reformistas do trabalhismo britânico, que no poder transformara a vida social e econômica daquele país.

Ao ver de San Tiago, a política não é um conjunto de ações mecanicamente executadas. Ela deve desdobrar, congruentemente, ideias nascidas pela consulta à realidade e aos valores de cada país.

Em um de seus notáveis ensaios, San Tiago desenhou o seu perfil político, ao traçar o de Rui Barbosa: “todo o verdadeiro grande homem, observou, é um ideólogo: seus pensamentos, sua vida pública, vestiram certos imperativos da existência brasileira, deram forma e teoria a impulsos vitais, que se formaram na sociedade de seu tempo”.

Em uma de suas notas pessoais, San Tiago escreveu que sabia ter a inteligência de um grande homem, mas não era um grande homem, pois a sua inteligência ainda não encontrara um norte ao qual deveria concentrar-se.

San Tiago enganou-se, como tantas outras vezes ao falar de si próprio.

A sua luta política, de maior projeção, não durou mais de cinco anos; e, como a de nenhum outro grande politico brasileiro, à exceção de Rui Barbosa, levantou tanta incompreensão, tanta crítica, mesmo daqueles que o admiravam.

San Tiago estaria fora de seu lugar. Aquele homem refinadíssimo, tendo à sua disposição todos os favores materiais que o seu talento reunira, e era uma das máximas expressões da elite do país, assombrava a todos ao defender a causa trabalhista, em meio aqueles que a agitavam com um discurso populista, frenético e irresponsável.

Mas a sua determinação era inabalável. Ali ele deveria estar, pois, como a entendia, “o dever da inteligência é esclarecer”.

San Tiago era um homem só, na política brasileira. Porém ele já se preparara para essa caminhada.

Isso nos disse ainda em 1947 em seu ensaio sobre a obra maior de Cervantes. No cavaleiro manchego, em sua insânia, na entrega delirante a tarefas irrealizáveis, San Tiago viu “o dom de si mesmo”, isto é, o domínio integral sobre a própria existência, subtraindo o cavaleiro ao destino o seu comando.

Contudo, o heroísmo do Quixote é frustro, e ele só pode ser compreendido reversamente, não pelo seu “resultado imediato alcançado, mas pela repercussão do exemplo”. Esse exemplo, diz San Tiago, é o heroísmo qualificado, paradoxalmente, pelo aparente fracasso da empreitada: os atos malogrados do Quixote são recebidos “a crédito, para compensação das injustiças e agravos que ele não soube ver, nem reparar”, nas palavras do próprio San Tiago.

O dom de si mesmo restitui ao homem a sua liberdade suprema, que só a pureza da ação que não busca crédito pode dar, e, por isso, é capaz de frutificar em exemplos transcendentes; o “dom de si mesmo”, conclui San Tiago, “resolve o problema do destino, vence as hesitações que o temor do erro tanto nos infunde, e, fazendo-nos olhar para fora de nós, permite que, um dia, nos reencontremos”.

Estamos certos de que San Tiago reencontra-se a si mesmo nessa Casa, neste dia de hoje.

Muito obrigado.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Argentina: muito bela, mas de servicios precarios nas estradas - de Cordoba a Mendoza

Hoje, Carmen Lícia e eu, fizemos a nossa terceira grande etapa de viagem, quinto dia percorrendo a Argentina.
Pelas serras cordobesas (havia um caminho alternativo por Rio Cuarto, mas o GPS indicou esse, o que foi até interessante para conhecer), entre Córdoba e Mendoza, quer dizer, pelas serras até Vila Dolores, pelo menos, daí a estrada é reta e aborrecida.
Fizemos bem mais do que mostra este Google Map, 750 kms de um hotel a outro.
Tendo partido as 10hs do DoctaSuites de Córdoba, chegamos a Mendoza às 18:20, ou seja, mais de 8 horas de viagem quase sem paradas.

O mais surpreendente é a total precariedade dos serviços ao longo das estradas argentinas, nas quais é comum encontrarmos famílias modestas paradas ao borde da estrada, retirando cadeiras dobráveis, para fazer o seu almoço, mesmo sob sol...
Claro, ambições mais modestas podem sempre parar nos comedores e parrillas que pipocam aqui e ali durante todo o percurso, mas a qualidade do ambiente (e dos toilettes) deixa muito a desejar.
Mesmo nas estradas nacionais (Ruta Nacional 7, por exemplo, que vai de Buenos Aires a Mendoza, e que percorremos a partir de San Luís), ninguém espere achar aqueles imensos restaurantes climatizados estilo Graal ou Frango Assado. Nada disso: a Argentina não tem muito conforto a oferecer a seus viajantes, turistas, curiosos ou simples passantes acima da categoria de caminhoneiros.
Logo na saída de Córdoba, como era sábado de férias, pegamos uma fila enorme de carros, vários ônibus, poucos caminhões, mas muitos daqueles carrinhos estilo Trabant socialistas, atravancados de famílias prolíficas, carregando seus pertences no teto, e obviamente desenvolvendo uma velocidade compatível com a potência do motor (ou com a renda familiar). Assim, durante várias dezenas de kms, fizemos filas atrás desses bravos representantes da classe média argentina (provavelmente peronistas de carteirinha), tentando manter algo em torno dos 60 kms/h. Paisagens muito bonitas no alto da serra cordobesa, mas paradas precárias como já informado.
A solução foi se contentar com um sanduíche de jamon con queso (eu) e alfajores (Carmen Lícia), e depois galletitas sem grandes atrativos gourmands. E muita água ou refrigerante, pois a temperatura, mesmo no alto da montanha, podia ultrapassar 30 graus (40 nas zonas baixas).
Finalmente, chegamos no Hotel Diplomatic (de luxo) em Mendoza, nosso primeiro exagero nesta viagem. Breve descanso, copa de vino de cortesia no hotel, e depois jantar na Estância La Florência, eu gambas al ajillo, com salada de palmito, abacate e cogumelos, Carmen Lícia sua preferida bisteca milanesa, tudo regado a um bom Malbec Tomero 2015, do Valle del Uca, região vinícola próxima a Mendoza, uma casa que remonta a 1884.
O hotel é superconfortável, com visão das cordilheiras a partir do 19. andar, onde estamos.
Dois dias de visitas a vinícolas, aos atrativos culturais e gastronômicos da cidade, antes de encetarmos a aborrecidíssima viagem de volta (a San Luís), ou de ida a Buenos Aires, uma reta sem cessar, com as paradas precárias que já antecipamos, com a única vantagem que o sol da tarde vai estar atrás de nós.
O que tem pelo caminho, entre Mendoza e Buenos Aires? Nada, absolutamente nada, com exceção de San Luis e de umas aldeias sem graça perdidas no meio da pampa. Nada de mais aborrecido do que isso, mas não temos tempo para descer a Rio Negro, Bariloche e atravessar para a costa atlântica por baixo (o que aliás já fizemos, no sentido inverso, entre Trelew e Neuquén, paisagens de filmes de cowboy).
Estou com muito trabalho no meu pipeline (trouxe uma mala inteira de livros) e por isso não tenho muito tempo para digressões filosóficas sobre a Argentina contemporânea (e precisa?; depois de Borges, nada surgiu de novidade, ou estou errado?).
Vamos ao trabalho...
Paulo Roberto de Almeida
Mendoza, 21/01/2017

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O efeito China sobre a industria de manufaturados do Brasil - Estudo do IEDI

Aqui abaixo figura apenas o sumário deste importante estudo.
Para ler por inteiro, os interessados precisam acessar este link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html

Exportação de manufaturados: Concorrência China x BrasilIEDI,  20/01/2017

Sumário
Esta Carta IEDI atualiza nosso estudo de 2013 (Carta IEDI n. 590) sobre a concorrência entre Brasil e China na exportação de manufaturados nos três principais mercados regionais para as empresas brasileiras – Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (EUA, Canadá e México). Na edição anterior fizemos uma comparação entre os anos de 2008 e 2012, isto é, após o aprofundamento da crise global; agora, tratamos do quadro em 2015, ano de forte crise da indústria e da economia brasileiras, comparando-o com 2012.

O desempenho da balança comercial brasileira, desde 2003, tornou-se estreitamente vinculado ao crescimento econômico e da demanda externa da China mediante dois efeitos antagônicos. Por um lado, o “efeito complementaridade”, que beneficiou (sobretudo, antes da crise financeira global) as exportações brasileiras tanto de forma direta (impulsionando as vendas externas de commodities), como indireta (aumentando as exportações de bens manufaturados para países latino-americanos exportadores de commodities). Por outro lado, o “efeito concorrência”, associado à consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados, afetou negativamente a indústria brasileira por dois canais: a invasão de importados no Brasil e o crescimento das exportações chinesas para mercados tradicionalmente atendidos pela indústria brasileira.

Após 2008, o “efeito concorrência” ganhou intensidade devido à estratégia da China de aumentar sua presença na periferia para compensar a perda de dinamismo das economias centrais, atingidas pela crise global. No âmbito dessa estratégia, aumentaram as exportações chinesas para as principais regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados – Mercosul, Aladi e Nafta – a ponto de superarem o valor registrado pelo Brasil em 2012.

Para 2015, entre outros indicadores que são analisados nesta Carta, calculamos o nível de ameaça das exportações chinesas às exportações brasileiras. Foram criadas quatro categorias: Ameaça Direta quando, para um produto, há aumento de market-share da China nas regiões selecionadas, ao mesmo tempo em que o Brasil reduz seu market-share; e Ameaça Indireta quando o aumento do market-share da China for maior do que o aumento do market-share do Brasil. Os produtos que não estão sendo ameaçados pelas exportações chinesas foram classificados como Sem Ameaça.

Ainda que nos dois períodos analisados (2008-2012 e 2012-2015) o desempenho, em valor, das exportações chinesas e brasileiras para as regiões selecionadas tenha sido bastante diferente, como mostram os itens abaixo, do ponto de vista do dinamismo e do grau de ameaça, várias tendências negativas identificadas em 2012, que eram motivo de preocupação para o Brasil, não se intensificaram ou mudaram de direção e tendências positivas se intensificaram.

     •  Exportações brasileiras: crescimento de +1,9% entre 2008 e 2012 e -21,8% entre 2012 e 2015

     •  Exportações chinesas: crescimento de +47,6% e +8,3%, respectivamente

No que se refere ao grau de ameaça das exportações chinesas, em 2015 elas representavam uma ameaça direta principalmente nos produtos em que o Brasil perdeu oportunidades de mercado, isto é, nos produtos cuja participação na pauta das regiões consideradas neste estudo cresce, mas cuja participação do Brasil cai. Porém, essa ameaça direta da China recuou de 76%, em 2012, para 68,7%, em 2015.

Outro motivo de preocupação em 2012 era a ameaça indireta das exportações da China (de 36,4%) nas exportações de produtos cuja participação na pauta das três regiões estudas crescia assim como a participação do Brasil em tais produtos. Contudo, em 2015, o grau de ameaça indireta das vendas externas chinesas nesses produtos recuou para menos de 5%.

Em termos de região de destino das exportações, no caso dos produtos exportados pelo Brasil que sofriam Ameaça Direta das exportações chinesas e tinham como destino o Nafta, a participação aumentou de 39,5% em 2012 para 45,2% em 2015. Esse resultado é desfavorável, já que no âmbito das três regiões consideradas, o Nafta foi o mercado mais dinâmico no período analisado devido ao desempenho dos Estados Unidos. Em contrapartida, a redução da participação da Aladi neste grupo sob ameaça direta (de 23,4% para 17,3%) é positiva, pois essa região é o principal destino de produtos manufaturados brasileiros.

No que se refere aos produtos que sofreram Ameaça Indireta, o Mercosul foi o principal destino em 2015 (42,2%), assim como nos dois anos anteriores (em 2012 o percentual era um pouco maior, enquanto em 2008 menor). Já as posições do Nafta e da Aladi se inverteram entre 2012 e 2015. A Aladi tornou-se a segunda principal região de destino dessa categoria de produtos em 2015 (29,8%), seguida pelo Nafta (27,9%).

Em suma, considerando os resultados em termos de dinamismo e grau de ameaça, a trajetória de aumento do “efeito-concorrência” das exportações chinesas entre 2008 e 2012 nas principais regiões de destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados não persistiu no triênio subsequente. Esta Carta IEDI também traz informações que contribuem para a compreensão das mudanças no perfil do comércio exterior brasileiro em 2015 mencionadas acima, sobretudo o melhor desempenho das exportações da indústria de transformação.

Embora estudos adicionais sejam necessários para identificar de forma mais precisa os determinantes da interrupção da tendência de perda de dinamismo e de market-share das exportações brasileiras nas regiões selecionadas entre 2012 e 2015, é possível identificar alguns fatores externos e internos que contribuíram para este resultado.

Do lado externo, o contexto internacional foi desfavorável tanto do ponto de vista do crescimento da demanda externa como dos preços das commodities, mas a apreciação do dólar no biênio 2014-2015 favoreceu as exportações brasileiras já que significou, igualmente, apreciação da moeda chinesa (a paridade fixa com o dólar foi abandonada em 2010, mas o regime cambial vigente desde então procura manter a cotação do Renminbi relativamente estável em relação à moeda americana).

Do lado interno, dois fatores atuaram positivamente: a desaceleração da atividade econômica, que culminou na recessão em 2015; e, sobretudo, a desvalorização da moeda brasileira em termos reais. Assim, para que as exportações brasileiras de bens manufaturados não retomem aquela tendência, seria fundamental a manutenção da taxa de câmbio em patamares competitivos. A dependência do câmbio pode diminuir ao longo do tempo, desde que fatores relacionados à produtividade/custo de natureza sistêmica (infraestrutura, tributação, custo financeiro) tenham evolução e que a indústria amplie sua produtividade.

Finalmente, é importante mencionar que as exportações brasileiras de bens manufaturados para os países latino-americanos das regiões analisadas também foram negativamente afetadas pelos múltiplos acordos comerciais que têm sido assinados com países externos à região, que acabam beneficiando produtos provenientes de países com vantagens competitivas, como a China. Assim, o governo brasileiro também deve adotar uma estratégia de política que busque um modelo favorável para a penetração de nossas exportações e estimule a integração da indústria brasileira nas cadeias regionais e globais de valor mediante a diversificação da base industrial e investimentos no mercado regional.

Leia o estudo completo neste link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html

O que sobrou da diplomacia sul-sul? Foi desmantelada? Acabou? - Augusto Nunes

Este texto, do conhecido crítico do lulopetismo diplomático, e do lulopetismo em geral, foi escrito logo após a derrocada (que ainda era provisória) dos companheiros no poder, mais exatamente em 20 de maio de 2016.
Lembro-me que as previsões feitas por eles sobre a política externa do "governo golpista" eram as piores possíveis: que voltariamos para o nosso cantinho com o rabo entre as pernas, que acabaria a diplomacia ativa e altiva, que voltaríamos a ser subordinados ao Império, que abandonaríamos os nossos vizinhos, preferindo olhar só para o Norte, que acabaria a brilhante diplomacia Sul-Sul, enfim, toda espécie de alarmes alarmistas (a redundância é necessária) sobre como estaríamos condenados a uma política externa diminuída, alinhada, submissa, anti-progressista, essas coisas horríveis que só os companheiros conseguiriam evitar.
Enfim, não vou me estender sobre o terror político.
Fica de lembrança sobre o resto de ano de 2016 que se passou sem os companheiros no poder, o que já foi uma grande coisa. A corrupção pode não ter acabado, mas acho que diminuiu um pouquinho. Ou terá sido um poucão?
Paulo Roberto de Almeida
Córdoba, 20/012017

O fim da política externa da canalhice

A drástica mudança de rota anunciada pelo chanceler José Serra implodiu a opção preferencial pela infâmia que envergonhou o país decente por mais de 13 anos

Augusto Nunes, blog na Veja, Publicado em 20 de maio de 2016
O pedido de socorro remetido por Dilma Rousseff à comunidade internacional foi ouvido por cinco países da série D ─ Cuba, Nicarágua, Bolívia, Venezuela e Equador ─ e duas organizações regionais: Alba e Unasul. A isso se resumiu a aliança com a qual a presidente de férias no Palácio da Alvorada pretendia neutralizar o golpe imaginário e voltar ao emprego: uma ditadura caribenha, uma irrelevância centro-americana, três vizinhos bolivarianos e duas siglas inúteis. Sete anões. Com a adesão de El Salvador, segundo baixinho da América Central a meter-se em assunto de gente grande, os sete viraram oito. Ou sete e meio.
Dilma viu no punhado de pigmeus insolentes a perfeita tradução da “indignação internacional diante da farsa aqui montada”. Governantes de nações civilizadas, que têm mais o que fazer, só conseguiram ver um tedioso esperneio de cúmplices da nulidade demitida com a aplicação de normas constitucionais. O ministro das Relações Exteriores, José Serra, viu um bando de embusteiros insones com a suspeita de que uma das primeiras vítimas da troca de governo seria a política externa da cafajestagem. E decidiu mostrar com quantas palavras se desfaz um desfile de bravatas.
Bastaram duas notas oficiais e meia dúzia de declarações para calar o coro dos cucarachas. Nesta quarta-feira, em seu discurso de posse, o chanceler concluiu o desmonte da usina de falsidades. Como constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o país que presta não vai mais envergonhar-se com a submissão do Itamaraty aos velhacos da seita lulopetista e aos matusaléns do Foro de São Paulo. “A política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido”, resumiu Serra ao anunciar a prioridade número 1.
A prioridade número 2 formalizou a retomada da defesa sistemática dos direitos humanos, da democracia e da liberdade “em qualquer país e qualquer regime político”. Que se cuidem, portanto, os gigolôs da diplomacia do cinismo, nascida do acalamento incestuoso de stalinistas farofeiros do PT e nacionalistas de gafieira do Itamaraty — uns e outros ainda sonhando com a Segunda Guerra Fria que destruirá para sempre o imperialismo ianque. Em janeiro de 2003, acampado na cabeça baldia de Lula, o aleijão que pariram subiu a rampa do Planalto.
Nos oito anos seguintes, fantasiado de potência emergente, o Brasil acanalhado pela revogação de valores morais eternos não perderia nenhuma chance de reafirmar a opção preferencial pela infâmia. O governo Lula acoelhou-se com exigências descabidas do Paraguai e do Equador, suportou com passividade bovina bofetadas desferidas pela Argentina, hostilizou a Colômbia democrática para afagar os narcoterroristas das FARC, meteu o rabo entre as pernas quando a Bolívia confiscou ativos da Petrobras e rasgou o acordo para o fornecimento de gás, .
Confrontado com bifurcações ou encruzilhadas, nunca fez a escolha certa. E frequentemente se curvou a imposições de parceiros vigaristas. Quando o Congresso de Honduras, com o aval da Suprema Corte, destituiu legalmente o presidente Manuel Zelaya, o Brasil se dobrou às vontades de Hugo Chávez. Decidido a reinstalar no poder o canastrão que combinava um chapelão branco com o bigode preto-graúna, convertido ao bolivarianismo pelos petrodólares venezuelanos, Chávez obrigou Lula a transformar a embaixada brasileira em Tegucigalpa na Pensão do Zelaya.
Para afagar Fidel Castro, o governo deportou os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, capturados pela Polícia Federal quando tentavam fugir para a Alemanha pela rota do Rio. Entre a civilização e a barbárie, o fundador do Brasil Maravilha invariavelmente cravou a segunda opção. Com derramamentos de galã mexicano, prestou vassalagem a figuras repulsivas como o faraó de opereta Hosni Mubarak, o psicopata líbio Muammar Kadafi, o genocida africano Omar al-Bashir, o iraniano atômico Mahmoud Ahmadinejad e o ladrão angolano José Eduardo dos Santos.
Coerentemente, o último ato do mitômano que se julgava capaz de liquidar com conversas de botequim os antagonismos milenares do Oriente Médio foi promover a asilado político o assassino italiano Cesare Battisti. Herdeira desse prodígio de sordidez, Dilma manteve o país de joelhos e reincidiu em parcerias abjetas. Entre o governo constitucional paraguaio e o presidente deposto Fernando Lugo, ficou com o reprodutor de batina. Juntou-se à conspiração que afastou o Paraguai do Mercosul para forçar a entrada da Venezuela. Rebaixou-se a mucama de Chávez até a morte do bolívar-de-hospício que virou passarinho. Para adiar a derrocada de Nicolás Maduro, arranjou-lhe até papel higiênico.
Ao preservar a política obscena legada pelo padrinho, a afilhada permitiu-lhe que cobrasse a conta dos negócios suspeitíssimos que facilitou quando presidente, sempre em benefício de governantes amigos e empresas brasileiras bancadas por financiamentos do BNDES. Disfarçado de palestrante, o camelô de empreiteiras que se tornariam casos de polícia com a descoberta do Petrolão ganhou pilhas de dólares, um buquê de imóveis e a gratidão paga em espécie dos países que tiveram perdoadas suas dívidas com o Brasil. Fora o resto.
Enquanto Lula fazia acertos multimilionários em Cuba, Dilma transformava a Granja do Torto na casa de campo de Raúl Castro, também presenteado com o superporto que o Brasil não tem. Ela avançava no flerte com os companheiros degoladores do Estado Islâmico quando a Operação Lava Jato começou. Potencializada pela crise econômica, a maior roubalheira da história apressou a demissão da mais bisonha governante do mundo.
Os crápulas que controlavam o Itamaraty hoje descem ao lado da chefe a ladeira que conduz ao esquecimento. “O Brasil vai perder o protagonismo e a relevância mundial”, miou Dilma nesta quinta-feira. O que o país perdeu foi o papel que desempenhou desde 2003: o de grandalhão idiota e obediente aos anões da vizinhança. A recuperação da altivez há tanto tempo sumida vai antecipar a colisão entre o Brasil e os populistas larápios, os ditadores assumidos e os tiranos ainda no armário que prendem quem discorda, assassinam oposicionistas e sonham com a erradicação do Estado de Direito.
O compadrio vergonhoso acabou. Os incomodados que se queixem ao bispo. Ou a Dilma, caso a desterrada do Alvorada esteja por lá. Ou a Lula, se o parteiro da Era da Canalhice ainda estiver em liberdade.

Cesar Maia sobre as crises da atualidade: leituras

O ex-prefeito Cesar Maia demonstra que é um bom leitor, mas nem sempre tira as conclusões corretas de suas leituras. Concordo em que exista hoje uma "crise" (êta palavrinha maldita, conceito ambíguo que se aplica a qualquer coisa, em qualquer tempo e lugar) do atual modelo europeu de integração (mas modelos existem aos milhares, basta escolher o seu nas estantes sempre repletas de modelitos dos tecnocratas inevitáveis, dos modelos prêt-à-porter, aos customized, segundo o tamanho e as preferências dos clientes). 
Não concordo, porém, em absoluto, em que exista uma crise do capitalismo e outra da democracia. O ex-prefeito se engana redondamente: nunca foram tão fortes, e reais, o capitalismo e a democracia. O ex-prefeito confunde crise das políticas econômicas de governos gastadores com crise da economia de mercado, que continua pujante como sempre, mas os governos se esforçam em impedi-la de funcionar livremente. Da mesma forma, a democracia nunca foi tão atuante como está sendo agora, com o povinho miúdo -- o popolo minuto, como diria Maquiavel, em contraposição ao popolo grosso, ou seja, os poderosos -- votando segundo suas (más) convicções do que devem ser as políticas públicas para favorecê-lo, contra as opiniões dos doutos, da tecnocracia, dos intelectuais, dos grandes meios de comunicação (e seus jornalistas esquerdistas), dos políticos do sistema, enfim, com seus financiadores habituais, os capitalistas promíscuos e seus lobbies clandestinos.
A democracia continua se exercendo, mesmo quando o povão (outro nome para o povinho miúdo) vota pelos candidatos de direita, pelos racistas, xenófobos, protecionistas e outros seres execráveis (como esse que toma posse hoje no maior império decadente do mundo). Afinal de contas, não se pode considerar que só vale a democracia dos que votam por causas progressistas, de esquerda, ou dentro do politicamente correto. Democracia é isso, até no erro. Vamos dar quatro anos para os eleitos oferecerem suas soluções, e a sociedade assume a responsabilidade do que acontecer.
Tirando essas restrições (intelectuais?), o texto de Cesar Maia é perfeitamente lisível e interessante.
Paulo Roberto de Almeida
Córdoba, RA, 29/01/2017

EUROPA DESINTEGRANDO? 
Cesar Maia, 20/01/2017

1. (The New York Review of Books - "A Europa está desintegrando?" - Timothy Garton Ash, escritor, historiador e professor de Estudos Europeus da Universidade de Oxford) A mudança espetacular da luz para a escuridão levanta questões interessantes sobre a periodização histórica e a forma como os historiadores são influenciados pelos tempos nos quais eles escrevem. Uma das melhores histórias da Europa do século XX, o "Continente Sombrio" de Mark Mazower, publicado pela primeira vez em 1998, é uma exceção parcial, conscientemente escrita contra o triunfalismo liberal dos anos 90. Poucos historiadores poderiam ter sido mais céticos quanto às platitudes auto-congratulatórias do europeuismo liberal do que Tony Judt. Ele dissecou e desafiou-os em um conjunto de palestras originalmente publicado em 1996 como “Uma Grande Ilusão?”. O período da história europeia após a queda do Muro de Berlim em 1989 poderia ser chamado, em resumo, de "pós-muro". Mas então enfrentamos uma outra pergunta: Ainda estamos nesse período? Me parece plausível sugerir que a crise financeira de 2008-2009, que começou nos EUA, mas rapidamente se espalhou para a Europa, iniciou um novo período caracterizado por três crises maiores: do capitalismo, da democracia, e do projeto de integração europeia.

2. A tese central do livro de Philipp Ther, historiador alemão na Universidade de Viena, exige séria consideração. Ele argumenta que um "trem neoliberal", posto nos trilhos na Grã-Bretanha de Margaret Thatcher e nos Estados Unidos de Ronald Reagan, começou a "atravessar a Europa em 1989". Ele diz usar o neoliberalismo como um “termo neutro e analítico” e com razão distingue sua história intelectual e as circunstâncias sociais e políticas específicas de sua implementação. Ele sustenta que suas características cruciais, aplicadas na Europa Oriental, foram liberalização, desregulamentação e privatização, e que suas consequências na deslocação social e crescente desigualdade foram muito prejudiciais. Sim, havia "Thatcheristas Orientais" como Václav Klaus, o padrinho da transformação econômica da República Tcheca - e Klaus era mais Thatcherista do que Thatcher. Mas este não era um movimento ideológico de massa como o comunismo ou o fascismo nas décadas de 1920 ou 1930, conduzidos por líderes que acreditavam apaixonadamente e dogmaticamente em seus “ismos”. A maioria dos que abraçaram essas políticas "neoliberais" depois de 1989 o fizeram pragmaticamente, por falta de qualquer alternativa crível.

3. Vindo de perspectivas ideológicas e nacionais muito diferentes, os escritores Claus Offe, Hans-Werner Sinn, Joseph Stiglitz e François Heisbourg concordam que foi um grande erro criar a eurozona com seu design e tamanho atuais - uma moeda comum sem um tesouro comum e unindo dezenove economias bastante diversas. Pretendendo fomentar a unidade europeia, o "tamanho único serve para nenhum" do Euro está, na realidade, dividindo a Europa. Esses autores propõem diferentes soluções. Uma chave para uma solução, no entanto, está claramente na Alemanha de Angela Merkel e Wolfgang Schäuble deixar de tratar a economia como um ramo da teologia. Esta doença crônica da zona do euro alimentou populistas de esquerda e direita, no sul e no norte. E nem comecei a discutir essa crise de refugiados, que ainda agita a sociedade alemã; A crise do Brexit; A crise da Ucrânia; O desafio frontal colocado pela Rússia de Vladimir Putin tanto para a segurança europeia como para as democracias europeias; A crise do terrorismo; A crise demográfica; E a insegurança que assola muitos dos jovens do continente, hoje conhecida como "o precariado". Todas estas são partes distintas, mas que se reforçam mutuamente, de uma crise existencial global que ameaça todo o projeto pós-1945 da União Europeia. E todos alimentam a metástase da política populista.

4. No domingo, 4 de dezembro de 2016, a Áustria decidiu não eleger um populista de direita, Norbert Hofer, como presidente, mas ele ainda conseguiu cerca de 46% dos votos. Naquele mesmo dia, em meio à discussão do Trumpismo, a Itália votou "não" em um referendo sobre as reformas constitucionais propostas pelo reformista ex-primeiro-ministro Matteo Renzi. Embora muitos tenham votado contra a substância das propostas, este foi um impulso para o movimento populista Cinco Estrelas liderado pelo comediante Beppe Grillo e levantou a perspectiva de maior instabilidade, especialmente nos bancos frágeis da terceira maior economia da zona do Euro. Em 2017, enfrentaremos as eleições parlamentares na Holanda, onde o partido populista de Geert Wilder está indo bem, as eleições presidenciais na França, onde Marine Le Pen parece quase certa de enfrentar o conservador François Fillon no segundo turno e, em seguida, as eleições gerais na Alemanha no outono. Destes, a mais perigosa é a eleição francesa, que tem sido descrita como "Stalingrado da Europa".

5. Se a era do pós-muro vai de 1989 a 2009, em que época estamos agora? Nós quase certamente não saberemos por uma década ou três. Nós que acreditamos na liberdade e no liberalismo devemos lutar contra os exércitos do Trumpismo que avançam. O ponto de partida para lutar bem é entender exatamente quais as consequências de quais aspectos do liberalismo econômico e social da era do pós-muro - e de desenvolvimentos relacionados, como a rápida mudança tecnológica - alienaram tantas pessoas ao ponto de agora votarem em populistas que, por sua vez, ameaçam os fundamentos do liberalismo político em casa e no exterior. Tendo feito um diagnóstico preciso, a esquerda liberal e a direita liberal precisam encontrar políticas, e uma acessível, emocionalmente apelativa linguagem em torno dessas políticas, para ganhar esses eleitores descontentes de volta. Do resultado dessa luta dependerá o caráter e futuro nome de nossa era, atualmente sem nome.

Adam Smith in Mediterranean world and beyond: last call for papers (Palermo, july 2017)

FROM SCOTLAND TO THE SOUTH OF THE MEDITERRANEAN.
THE THOUGHT OF ADAM SMITH THROUGH EUROPE AND BEYOND


International Conference
History of Economics Society and
University of Palermo, Sicily (Italy)

6-7 July 2017

CALL FOR PAPERS

Adam Smith is one of those authors who have left a significant mark on the history of ideas. His influence has not only contributed to shaping the culture but also the institutions and the policy of modern society, and this can be seen in the international spread of his thought, which rapidly reached every corner of the world.
Yet, the reception of Smithian ideas was not a unique or uniform process, equal to every country, because different regional contexts conditioned them. Smith's works entered through institutional, cultural, linguistic, religious, and political filters, which were not neutral and affected the reading, understanding and use of them. Europe and the Mediterranean are two geographical areas –  but not the only – to observe the spread of Smithian thought because of the rich pluralism characterizing their regions and nations.
Bearing this in mind, the University of Palermo – supported by the History of Economics Society (HES New Initiatives Fund) – invites proposals for papers and/or sessions along the lines listed below or on other relevant matters on the topic.

The thematic directions suggested are:
·  Adam Smith, the Scottish Enlightenment and the European Enlightenment: similarities, differences in methods and analysis, influences, intellectual disagreements;
·  The intellectual link between Smith’s teaching and the development of a national style of economics in the various countries from the 18th to the 20th centuries;
·  The reception of Smithian thought in different religious frameworks: Catholic, Protestant, Orthodox, Muslim and Jewish;
·  Smithian liberalism as an intellectual source of the liberal revolutionary phase that changed the political and economic face of Europe and the Mediterranean in the 19th century;
·  The works of Adam Smith: language, style, translations.


Official language: English

The Scientific Committee:

Christopher Berry (University of Glasgow)
Giovanni Iamartino (University of Milan)
Maria Pia Paganelli (Trinity University)
Sandra Peart (University of Richmond)
Fabrizio Simon (University of Palermo)
Craig Smith (University of Glasgow)

The Organizing Committee:

Fabrizio Simon
Anna Li Donni
Cristina Guccione

Scholars planning to participate should submit a 500-word abstract for a paper or a 1000-word abstract for a session, specifying: the title of their presentation and the conference theme, their full name and institutional affiliation, and an e-mail address for correspondence.
Please submit the abstract by e-mail to <fabrizio.simon@unipa.it> and <cristina.guccione@unipa.it>.

Deadlines to remember:

Submission of abstracts                             No later than 25 January 2017
Notification of acceptance                         28 February 2017
Registration                                                No later than 30 April 2017
Sending of paper                                        No later than 31 May 2017

For further information on the conference (venue, registration, accommodation) see the conference website at http://www.unipa.it/dipartimenti/seas/SmithConference/

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Dia quase normal na terceira etapa na Argentina: paradas muito precárias - PRAlmeida, Carmen Lícia Palazzo

Dia quase normal de viagem na Argentina, nesta quinta-feira, véspera da posse do maior idiota a começar seu reino demencial na maior potência do planeta, depois daqueles imperadores loucos que destruiram o Império Romano.
Digo quase normal, pois o trajeto, sem maiores problemas de estrada, carece quase totalmente de boas paradas. Aliás, eu diria que carece TOTALMENTE de boas paradas. Mesmo se quiséssemos fazer um almoco decente, não havia exatamente onde. Paradores ou comedores muito precários ao longo da estrada, coisa de Brasil anos 1950 ou 60.
Amanhã vamos passear na cidade, que conheci como jovem mochilero, aos 18 anos, viajando de boléia de caminhão, como se dizia antigamente. Naquela oportunidade, achei a Argentina um país desenvolvido, isso antes de o Brasil enveredar pela sua fase de alto crescimento e muita transformação modernizante. A Argentina parece realmente ter parado no tempo, se não fossem essas modernidades superficiais tipo celular e internet.
Aliás, as razões do atraso -- que é sobretudo mental, antes que material -- da Argentina e do Brasil são relativamente similares: políticos medíocres, militares nacionalisteiros, instintos protecionistas de industriais cevados nos subsídios estatais, classe média focada em empregos públicos, burocracia mandarinesca inteiramente concentrada em defender, criar e ampliar privilégios que recaem sobre a população pagadora, e com tudo isso, eleitores mal informados votando pelo populismo econômico e pela demagogia política.
Não poderia dar certo, como não deu, até agora.
As pessoas em geral, quero dizer, aquelas que não viajam muito para fora, ou que quando viajam fazem questão de não largar o arroz com feijão e batata frita, onde quer que estejam, essas pessoas não têm consciência de como o Brasil é atrasado (e a Argentina até um pouco mais, a despeito de serem mais dolarizados do que os brasileiros).
As pessoas não têm consciência de que vivem sob o domínio de Estados fascistas, sem qualquer liberdade para exercer normalmente atividades econômicas que deveriam ser livres, as pessoas vivem naquele mundinho medíocre da televisão aberta, nos horríveis programas de auditório que embrutecem, além de emburrecer continuamente.
Lamento dizer disso, mas é o que percebo, vindo de todos os insumos que recebo, que vejo, que escuto, todos os dias.
Nosso mundinho é medíocre, com políticos ultra-medíocres, burocratas não tão medíocres, mas submetidos a dirigentes medíocres, que continuam estimulando comportamentos bregas, kitsch, vulgares, em todas as esferas tocadas pelos seus discursos nefastos.
Acho que Brasil e Argentina vão continuar a se arrastar penosamente na mediocridade do crescimento, em direção a uma modernidade muito distante no tempo.
Infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida
Córdoba, 19 de janeiro de 2017

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...