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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

1584) Fraude e falsidade na ciencia: a proposito do "climategate"

Fraude e falsidade
JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO
Folha de São Paulo, Domingo, 20 de dezembro de 2009

Vários e-mails trocados entre integrantes do IPCC indicam a manipulação de dados para ocultar a queda de temperatura na Terra

O LIVRO "Betrayers of the Truth - Fraud and Deceit in the Halls of Science" ("Traidores da Verdade - Fraude e Falsidade nos Umbrais da Ciência"), de W. Broad e N. Wade, analisa casos de fraude e falsidade na comunidade científica e como elas permanecem não detectadas durante anos.
Ptolomeu, por exemplo, considerado o maior astrônomo da Antiguidade, não teria feito observações astronômicas, mas adaptado para a cidade de Alexandria as feitas por Hiparco na ilha de Rodes, o que gerou distorções identificáveis. O caso Ptolomeu é analisado em detalhes no livro de R. Newton, "The Crime of Claudius Ptolemy", e por J. Rawlins, no "Journal of the History of Astronomy".
Falsidades cometidas por Galileu, Newton, Dalton, Mendel, J. Bernoulli -que tomou de seu filho a equação que leva o seu nome- e outros são analisadas por Broad e Wade.
Essas observações vêm a propósito da divulgação ("climategate") pela internet de 1.079 e-mails e 79 documentos dos computadores do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade East Anglia (CRU, na sigla em inglês), órgão de referência mundial sobre o clima. Vários e-mails trocados entre integrantes do IPCC indicam a manipulação de dados para ocultar a queda de temperatura na Terra.
Paul Chesser, correspondente do Heartland Institute, revelou que M. Mann -que fraudou dados sobre o clima dos últimos mil anos para levar à crença de que há o aquecimento global antropogênico- recebeu US$ 6 milhões por seus artigos e projeções.
Mann está sob investigação pela Universidade Estadual da Pensilvânia.
P. Jones, diretor do CRU, afastou-se ou foi afastado do cargo e há suspeita de ter recebido dinheiro para fraudar dados. E o Senado dos EUA, por iniciativa do senador J. Inhofe, abriu investigação sobre o "climategate", que ele considera ser a maior fraude científica dos tempos modernos.
A leitura de vários e-mails robustece a antiga suspeita de que há fraude na manipulação de dados do CRU, que sempre se recusou a revelá-los, contrariando procedimento salutar e usual da comunidade científica.
Até agora, nada disso foi objeto de consideração na reunião em Copenhague, que parece cuidar mais de pancadarias e passeatas, na melhor tradição da juventude nazista, como lembrou o visconde Monckton.
Parece que não há previsão sobre as conclusões da reunião, dita científica, e que a fantástica soma de US$ 300 bilhões/ano pleiteada para "combater o aquecimento" ficará aquém disso.
I. Plimer é um respeitado geólogo da Universidade de Adelaide, Austrália, editor e coautor da "Encyclopedia of Geology", um trabalho de fôlego com cinco volumes, 2.750 páginas e 320 colaboradores.
Plimer publicou recentemente o livro "Heaven and Earth: Global Warming - the Missing Science" ("Céu e Terra: Aquecimento Global - a Ciência que Falta"), com 2.311 referências científicas que convalidam o que diz o livro, que é uma crítica fundamentada ao IPCC e às projeções feitas por computador, que não têm valor porque a ciência do clima não existe.
O IPCC não consegue explicar o que ocorreu nos últimos mil anos nem por que, no final da última glaciação, o Norte dos EUA, acima do paralelo de Washington, a Europa e a Ásia estavam sob camada de geleiras cuja espessura variava de 2 km a 5 km.
Esse gelo derreteu, o nível dos oceanos subiu 130 m e atingiu o nível atual. Nessa ocasião -e em nenhuma Era Glacial anterior- houve CO2 "antropogênico" para derreter geleiras. Sobre isso o IPCC nada diz.
O livro de Plimer é leitura recomendada a todos os que se interessam pelos aspectos científicos do clima e procuram saber o que há por trás dessa algaravia global, que consome bilhões de dólares, faz reuniões pseudocientíficas e nunca chega a nenhum resultado.
A maior ameaça à humanidade não é o aquecimento antropogênico. Afinal, a Terra está esfriando e se aproxima de um novo período glacial -isso é comprovado por vários fatores, incluindo a inexistência de manchas solares, que desapareceram há quase um ano. O que a ameaça a humanidade é a intromissão, na vida das pessoas e das nações, de órgãos sem mandato eletivo e de grupos econômicos, além da ONU. Eles querem nos governar e determinar às nações o que podem fazer, quanto podem crescer e consumir e se podem ser livres e independentes.

JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 77, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da Universidade de Brasília (1976 a 1985).

domingo, 20 de dezembro de 2009

1583) A partidarizacao da Politica Externa brasileira - Celso Lafer

Partidarização da política externa
Celso Lafer
O Estado de São Paulo, Domingo, 20 de Dezembro de 2009

A política externa tende a ser, no Brasil e em outras nações, uma política de Estado, e não de governo ou de partido - como vem ocorrendo na Presidência Lula -, em função de certas regularidades da inserção internacional de um país. Essas regularidades contribuem para dar, com as adaptações devidas à mudança das circunstâncias, uma dimensão de continuidade à ação diplomática. É isso que explica por que a política externa tende a ser uma política de Estado.

No caso do Brasil são exemplos esclarecedores de regularidades: a localização geográfica na América do Sul; a menor proximidade dos focos de tensão presentes no cenário internacional; a escala continental que dá relevância ao nosso país na vida internacional; a importância de um pacífico relacionamento com dez vizinhos; a natureza do contexto regional latino-americano, que é distinto de outros; os cuidados no gerenciamento da forte presença dos EUA nas Américas e no mundo; as realidades das assimetrias de poder; o desafio do desenvolvimento.

A dimensão de continuidade confere coerência à ação diplomática e contribui para a credibilidade da política externa do Estado. Continuidade, no entanto, não é imobilismo, pois o objetivo da política externa como política pública é traduzir necessidades internas em possibilidades externas. Mudanças assim ocorrem seja em função da identificação de novas necessidades internas, seja por conta da avaliação de novas possibilidades ou dificuldades externas, provenientes das transformações do sistema internacional. A construtiva interação continuidade/mudança tem feito, no correr dos tempos, da política externa brasileira, como política de Estado, uma "obra aberta", continuamente enriquecida no seu repertório por aquilo que cada governo e cada chanceler, em distintas conjunturas, acrescentam de relevante à inserção internacional do País.

É natural que a política externa leve em conta, na sua execução, além da avaliação do cenário internacional, os dados da política interna de um governo. No caso, por exemplo, das mudanças promovidas na Presidência Geisel, uma dimensão importante foi a de fazer dela um componente do processo de distensão e de encaminhamento da redemocratização. Esta dimensão, aperfeiçoada na gestão do chanceler Saraiva Guerreiro, propiciou, com a redemocratização, um consenso em torno da política externa como política de Estado. À existência deste consenso referiu-se Tancredo Neves em novembro de 1984. Evidentemente, ele pretendia acrescentar uma nota própria à diplomacia brasileira. Por isso, na sua viagem ao exterior, como presidente eleito, no começo de 1985, indicou que ia inserir na agenda externa brasileira a democracia e os direitos humanos em consonância com os dados internos, provenientes da redemocratização.

O empenho na manutenção de um consenso em torno da política externa como política de Estado foi uma das notas dos governos dos presidentes do Brasil democrático - de Sarney a FHC. Hoje esse consenso não existe mais, como vem apontando Rubens Ricupero. O esgarçamento crescente desse consenso é fruto da inédita partidarização da política externa promovida pelo governo Lula. Explicita-se pela desconsideração do que foi feito antes, por meio da asserção de um marco zero diplomático. É o tema do recorrente "nunca jamais em tempo algum na História desse país", denegador dos méritos da política externa como política de Estado.

A partidarização tem como um dos seus componentes a indicação do professor Marco Aurélio Garcia como assessor diplomático do presidente. Com efeito, este, como prócer do PT, que sempre cuidou das relações externas do partido, se incumbiu de zelar por essa partidarização, que a cúpula do Itamaraty incorporou nas suas práticas diplomáticas, a elas atribuindo, com preponderância, a nota de uma política de governo.

A partidarização vem crescendo, nos últimos tempos, facilitada pelas boas condições da presença do Brasil no cenário internacional e pela positiva imagem do presidente no mundo. Um símbolo da partidarização é a recente filiação do chanceler Celso Amorim ao PT.

A partidarização responde a três objetivos. O primeiro e o mais óbvio, desde o início, foi e é o de dar uma satisfação ideológica aos segmentos mais radicais da base de apoio do presidente para compensá-los pelos elementos de continuidade da responsável política econômica do governo FHC. O segundo foi e é o de identificar no PSDB o inimigo político com o qual cabe travar, ao modo de Carl Schmitt, em todos os campos, uma guerra pública. O terceiro, que se vincula ao anterior, é o de glorificar o presidente Lula, desconstruindo politicamente FHC, conferindo também ao seu significativo legado diplomático a característica de uma "herança maldita".

A consequência dessa postura instigará, no debate eleitoral que se inicia, um forte componente partidário no campo da política externa, em detrimento da sua dimensão de política de Estado.

Do ponto de vista da condução da política externa, a partidarização vem levando a equívocos da gestão diplomática. O mais clamoroso é a desmedida de uma ilusão voluntarista empenhada em realçar o papel da liderança do presidente no mundo e a sua capacidade de encaminhar, a partir do Brasil, todos os grandes problemas da vida internacional - da paz no Oriente Médio à não-proliferação nuclear militar do Irã, passando pelos problemas de Honduras, pela alteração da geografia econômica do mundo e pelo término planetário da fome. O ativismo voluntarista contribuiu, inter alia, para os insucessos das candidaturas brasileiras a postos internacionais.

Os antigos diziam que a diferença entre o remédio e o veneno é a medida. A falta de medida é o veneno da atual partidarização da política externa. Propicia, na incessante busca de prestígio, a inconsequência de muita agitação para poucos resultados.

Celso Lafer, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores no governo FHC

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Comentários dos leitores:
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Marcos Borges Viana em 20/12/09 ás 17:54
Não é uma liderança política é uma marca para vender qualquer coisa. De revolução comunista a capitalismo produzido na China. Marca forte mas como tal, coisa.
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Fernando Correia em 20/12/09 ás 15:43
Excelente artigo. Gostei da sugestão que ficou no ar do que a partidarização da política externa representa para a política interna no país hoje; dos pontos de regularidade. Ver Lula ao lado de Ahmadinejah para promover a diversidade é valor insustentável para o que o Brasil e seus governos vem preparando para os brasileiros. Tanto Lula quanto FHC gozaram de prestígio internacional ímpares. Claro que FHC e Lula são diferentes. Mas o que impressiona é que o momento por que passamos em 2009 foi único. O Brasil foi convidado pelo mundo a entrar no time dos grandes para reorientar a economia mundial após a crise que, digasse de passagem, só foi menor que a de 1929. Ao inves de se interessar mais pela natureza do espaço que o mundo abriu, o presidente se incumbiu de ocupar esse espaço de qualquer jeito para promover a diversidade, como se a diversidade que há para promover aqui no Brasil, por medidas administrativas, fossem poucas. O mundo é frágil e não tem a capacidade de inventar outro Brasil para ocupar o espaço da crise. Resta nós enxergarmos a responsabilidade que recai sobre nós para evitar o que a crise de 29 desenrolou.
Países emergentes com mercado interno forte é o norte.
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AUREO TORRES DE OLIVEIRA JUNIOR em 20/12/09 ás 14:45
Quem tem ou teve a curiosidade de estudar história geral sabe que os lamentos e as críticas dos comentaristas ainda estão longe de se aproximar das consequências da diplomacia gramscista do governo Lula.A continuar como está, com um professor totalmente despreparado para a função, não seRia exagêro lembrar o livro dos livros, a Bíblia.Relembremos OS MILHÕES DE MORTOS por Stalin, Lenine,PolPot,e o idolatrado Fidel,sem radicalismos.Ou temos que acreditar no inconciente coletivo, admitindo que por aqui será diferente?
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Sergio Bragatto em 20/12/09 ás 13:18
PRIVATIZAÇÃO DO ESTADO
- Talvez a maior conquista do século XX, após os fracassos e os muitos genocídios causados pelas ideologias enraizadas em Hegel e Marx, tenha sido o reconhecimento do valores da democracia, se bem aplicada em um Estado forte e enxuto.
Mas em um regime realmente democrático, a pergunta "Quem serão nossos líderes?" não é a mais importante, e deve empalidecer face a outra, que é a que realmente importa: "Como eles devem ser controlados?"
Ou seja, as Instituições democráticas precisam ser tais que um líder isolado, por mais que faça, não possa causar grandes prejuízos à Nação.
O contrário resulta nos famosos autoritarismos, a partir de governos populistas, como Fidel, Chávez, e Lula na América Latina. Sim, entre nós as tentativas são muitas e visíveis, em particular em relação à liberdade de imprensa. O que está acontecendo com o jornal O Estado de São Paulo? Qual o significado das propostas da recente Confecom? E para onde vamos com agências reguladoras aparelhadas e castradas?
O descenso no advento Lula é uma autêntica e contínua tentativa de privatizar o Estado.
Parabéns ao Prof. Celso Lafer pelo artigo.
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Braz dos Santos em 20/12/09 ás 10:23
É lamentável o que vem ocorrendo na política externa brasileira. A partidarização é coisa de gente pequena. como celso Amorim, por exemplo.
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Saulo Mundim Lenza Lenza em 20/12/09 ás 10:19
Excelente o texto do professor.
É preciso separar pensamentos ideológicos e interesses partidários da politica externa do Brasil. Coisa que infelizmente não ocorre nos dias de hoje.
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Sebastiao Adorno em 20/12/09 ás 05:26
Parabéns professor por seus comentários, de fato, política de Estado não se confunde com política partidária e muito menos personificação de um representante. O Estado (Brasil) deve ser o foco da política externa e nunca um partido muito menos uma pessoa.

1582) Relacoes Brasil-EUA: artigo de Paulo Sotero

Imagem negativa do Brasil aumenta em Washington após críticas públicas aos EUA e a Obama
Paulo Sotero*
O Estado de São Paulo, Domingo, 20 de Dezembro de 2009

Irã, Honduras e uma duvidosa aposta diplomática

Um sentimento negativo está rapidamente tomando o lugar da disposição favorável ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à crescente presença international do Brasil que prevaleceu em Washington até poucos meses atrás. Críticas aos EUA e ao próprio presidente Barack Obama feitas publicamente por altos funcionários brasileiros indicam que a recíproca é verdadeira. Platitudes sobre o caráter normal de diferenças na relação madura que supostamente existe entre os dois países, repetidas na semana passada por funcionários de ambos os governos - após uma rápida viagem inaugural a Brasília do novo secretário de Estado-adjunto para as Américas, Arturo Valenzuela -, indicam que a visita não alterou as percepções.

Divergências entre Brasil e os EUA sobre Honduras e outros episódios menores certamente contribuíram para criar animosidade. Esta se alimenta principalmente, porém, da decisão de Lula de emprestar seu prestígio pessoal e a credibilidade internacional do Brasil ao líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebendo-o em Brasília, e, depois, oferecendo os serviços do Brasil como mediador freelancer do gravíssimo confronto entre Teerã e Washington e seus aliados em torno do programa nuclear iraniano - questão estratégica número um do governo Obama. A iniciativa mobilizou o influente lobby pró-Israel em Washington, que atua tanto no Executivo como no Legislativo, e pode causar danos a interesses comerciais brasileiros. Nesse ambiente, até a controvérsia em torno da custódia do menino Sean Goldman, que corria em via própria na Justiça, acabou politizada. Na quinta-feira, o senador Frank Lautenberg, democrata de New Jersey, o Estado do pai de Sean, David Goldman, bloqueou a aprovação de lei que renovaria a concessão de isenções tarifárias a certas exportações do Brasil e outros países em desenvolvimento, em reação à decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, de conceder liminar à avó materna de Sean e sustar a sentença que ordenou a devolução do menino ao pai.

É um sentimento que vai da perplexidade dos diplomatas do Departamento de Estado à mal disfarçada hostilidade de altos funcionários de outras áreas do governo, incluindo a Casa Branca - setores que até recentemente aplaudiam o governo Lula e a ascensão do Brasil na cena global.

Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, diz hoje que "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido". Críticas públicas aos EUA e a Obama feitas em semanas recentes por Lula, pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, reforçaram conclusões semelhantes no lado oficial.

Causou espanto, por exemplo, a afirmação feita por Lula sobre a falta de "autoridade moral" dos EUA para negociar questões de não proliferação nuclear, no momento em que despachava Celso Amorim ao Irã para uma improvável missão junto a Ahmadinejad, depois de Teerã ter rejeitado a proposta de acordo apresentada pela Agência Internacional de Energia Atômica, que tornaria o programa nuclear iraniano compatível com suas obrigações de signatário do Tratado de Não Proliferação. A crítica foi tomada como prova adicional da gratuidade da oferta brasileira de mediação. O ataque mereceu registro, também, porque foi o governo Obama que reintroduziu o desarmamento na política de não proliferação dos EUA, ausente no governo do ultraconservador George W. Bush, cuja política nuclear não mereceu maiores reparos de Brasília.

Reforçaram a perplexidade americana indícios de que Lula deixou-se usar pelo líder iraniano, assim como informações publicadas pela imprensa brasileira e atribuídas a fontes diplomáticas de Brasília, segundo as quais Lula teria atuado no caso do Irã com o incentivo ou o beneplácito de Washington. Segundo um alto funcionário, diplomatas brasileiros "extrapolaram" afirmações circunstanciais, do tipo "boa sorte", que ouviram de colegas americanos depois que a visita de Ahmadinejad foi confirmada. "O Irã é hoje o terceiro trilho da política externa dos EUA", disse a fonte, referindo-se ao condutor de eletricidade de alta tensão que movimenta os trens do metrô.

ADVERTÊNCIA VELADA
Se havia dúvida, a secretária de Estado tratou de elucidá-la num breve discurso sobre as relações dos EUA com a América Latina, no dia 11. "Creio que as pessoas que querem flertar com o Irã deveriam prestar atenção às consequências", disse ela. Em contraste, a liderança brasileira em temas nos quais o país é relevante e tem influência - como no caso das questões ambientais - continua aparentemente a ser vista com bons olhos pelos EUA.

Chama a atenção em Washington o que um assessor parlamentar chamou de "esquizofrenia" da diplomacia brasileira. Segundo o assessor, para um governo preocupado com "autoridade moral" na ação externa, deveria ser evidente a contradição entre a insistência do Brasil no mais estrito respeito às regras da democracia em Honduras e o endosso oficial a Ahmadinejad, que chegou ao poder após uma eleição fraudulenta. A percepção negativa sobre a política externa do final do governo Lula, que se cristaliza em Washington, é certamente influenciada pelas fortes críticas que veteranos diplomatas brasileiros como Rubens Ricupero, Rubens Barbosa e Roberto Abdenur, todos ex-embaixadores nos EUA, vêm publicando.

"É compreensível que os governos tomem decisões de política externa mirando objetivos domésticos, mas é difícil vislumbrar os dividendos políticos que o Brasil possa obter diminuindo-se à condição de coadjuvante das políticas da Venezuela e do Irã", afirmou um alta fonte do governo. O funcionário adiantou que não se devem esperar grandes gestos por parte dos EUA, como, por exemplo, uma visita de Obama ao Brasil, que já esteve mas não está mais na pauta. Realisticamente, a melhor notícia será a retomada do diálogo diplomático pleno com a chegada a Brasília no início do ano do novo embaixador americano, Thomas A. Shannon, e do novo embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira.

* Paulo Sotero, jornalista, foi correspondente do "Estado" em Washington, onde hoje dirige o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars

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E os comentários dos leitores:

Jose Affonso em 20/12/09 ás 19:59
Eu acho muito interessante este argumento de que a politica externa do PT "nao e antiamericana". Os efeitos praticos da politica externa brasileira e a retorica sao contundentes. Este argumento do Itamaraty PT nao convence nem a brasieiros, nem, como se ve pelo artigo do Paulo Sotero, a americanos. Talvez convenca o Hugo Chavez...

Neimar Oliva em 20/12/09 ás 17:07
GCesar, concordo plenamente com você. Política internacional é como um jogo de xadrez. Não se pode avaliar o resultado final apenas por um lance. E gostaria de discordar do comentário do Alberto Nunes Filho. A política externa de Lula não é antiamericana, é a favor do Brasil soberano. Isso assusta muita gente, eu sei.
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Antonio do Vale em 20/12/09 ás 16:34
O que será que o Brasil vai ganhar ao enfurecer os Estados Unidos contra ele?
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Alberto Nunes Filho em 20/12/09 ás 11:42
Todos nós sabemos que a política externa do governo petista é antiamericana. Desde muito antes de assumir o poder o PT já rosnava contra os EUA. Vemos, agora, os enlaces com governos sul americanos que desrespeitam a democracia; isto, nada mais é que o desejo de provocar a nação americana. Estão sempre com Castro, Evo, e outros, com acordos em bilhões não publicados, e cada vez distantes da América do Norte. Ora, não precisamos de bola de cristal para perceber isso. Ao mesmo tempo, vemos internamente nossas instituições compradas pelo PT, instituições que acham que as eleições serão favoráveis ao governo Lula, entregam-se a um governo e cumprem as ordens por aquele ordenadas. Entretanto, o rombo nos cofres públicos, e o crescimento zero do país continuará, porque a cesta básica, o bolsa família engana o povo humilde, o povo que sofre já não sonha com emprego; para esse povo o governo foi enviado por Deus... No entanto, emprego e desenvolvimento são apenas promessas de grandes projetos os quais ainda não vimos, o que se vê são viagens, grandes comitivas como essa de Conpenhagen (800 pessoas), todos à custa do contribuinte. Qual o tamanho do ROMBO?
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Jose Affonso em 20/12/09 ás 11:00
Brilhante artigo! O Brasil tem todo o direito soberano de “contrapor-se” – sabe-se la a titulo de que – aos E.U.A., especialmente apoiando regimes “democraticos” como os instaurados no Ira, Coreia do Norte, Sudao, Venezuela e demais “bolivarianos”. Agora, a reciproca tambem e verdadeira e os E.U.A. tambem tem todo o direito de “contrapor-se” a politica externa brasileira. A maxima: “voces vao ter que me engolir” so vale mesmo dentro do Brasil.
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Sergio de Souza Lavinas em 20/12/09 ás 10:43
Querer não é poder, não senhor!
Lula e MAG pensam que a politica exterior é feita, como no Brasil, por bravatas e publicidade de baixa qualidade.
O Itamaraty devia intervir e não permitir que MAG mandasse e desmandasse no Lula.
O Brasil vai continuar, o Itamaraty também, não vale a pena, portanto, o Itamaraty ficar fazendo o gosto do Senhor Lula e do Sr. MAG que é somente um filósofo que jamais conseguiu usar a Razão Pura.
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Antonio Carlos Cavalli em 20/12/09 ás 10:00
De fato, a Diplomacia é uma arte e, como tal, precisa ser exercida com prudência e respeito. Lembbrar o velho ditado: "falar é prata, calar é ouro". Não tenho dúvidas que e expressão "não ter autoridade moral" é algo forte e até ofensivo. Poderia ter sido evitada naquele contexto.
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Mario Jorge em 20/12/09 ás 08:52
Como pode "eles" fazer julgamento "deles" mesmos e se condenarem?
O povo precisa aprender a votar e tirar essa corja do poder.
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Mario Jorge em 20/12/09 ás 08:44
Todos se comportam como se o USA fossem do dono do mundo, e todos devem pedir autorização para eles para quaisquer relacionamento com outros países. Bem eu acho que o Brasil deveria ficar quieto e crescermos silenciosamente, e tentarmos sair dessa verdadeira babilônia comercial praticamente imposta pelos USA.
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GCesar Santos em 20/12/09 ás 06:57
Relações internacionais: muito é comentado de falhas quanto a isso e aquilo. Pessoas há que fritam a quaze assar; posições estratégicas do Departamento de Relações Institucionais do Brasil. As Relações Internacionais são qual um tabuleiro de xadres onde as pedras tem que serem manipuladas com maestria. Cada País tem o seu código de ética e relacionamento nas Relaçôes Internacionais das diversas matizes. E muitos aspectos devem ser tratados com a prudência almejada. As vezes o que parece errado é certo. O Brasil é uma Nação soberana e pode sim; assumir posições que nem sempre são compreendidas. Vamos procurar conhecer o fio da meada; se não não há linha para as costuras.

1581) Maximas de um pais minimo...

Não, não são aforismas retirados do último livro de Reinaldo Azevedo, embora ele tenha uns excelentes (inclusive sobre política externa), que mereceriam registro e transcrição. São apenas algumas frases memoráveis que me foram remetidas por meu colega de carreira, o Embaixador José Oswaldo de Meira Penna.

Aqueles que trabalham muito, cometem muitos erros;
Aqueles que menos trabalham, cometem menor número de erros;
Aqueles que não trabalham nunca, jamais cometem erros;
Aqueles que jamais cometem erros, são promovidos.


Dixit...

1580) Bjorn Lomborg: Entrevista na Veja


"Não sou um cético da ciência,
sou um cético das políticas
de combate ao aquecimento global"

Entrevista: Bjorn Lomborg
Podemos fazer melhor
Veja, edição 2144 - 23 de dezembro de 2009

O principal representante dos céticos diz que o combate ao aquecimento global tem de se basear em tecnologia, e não em mudanças no consumo

O cientista político dinamarquês Bjorn Lomborg, de 44 anos, não tem carro. Usa bicicleta ou metrô para se deslocar em Copenhague. Lomborg é um dos mais respeitados entre os pesquisadores céticos em relação aos efeitos catastróficos do aquecimento global. Seus livros e artigos provocam a ira de ambientalistas, mas seus argumentos afiados também são ouvidos com atenção pelos cientistas. Sua descrença se dá em torno da histeria criada acerca do assunto e do que se pretende fazer para solucionar o problema da elevação da temperatura. "Não sou um crítico da ciência que prova o aquecimento. Sou um crítico da política de combate ao aquecimento." Ele concedeu a seguinte entrevista a VEJA na sede da COP15, em Copenhague.

Qual foi o estrago do "climagate", o escândalo do vazamento de e-mails em que cientistas confessam a manipulação de dados para reforçar a tese do aquecimento global?
O que está claro é que havia uma inclinação evidente para não compartilhar dados com pesquisadores cujos trabalhos não reforçariam a teoria do aquecimento global. Possivelmente, os dados foram mascarados, o que não significa exatamente uma falsificação.

Sim, mas mascarar dados não é suficiente para invalidar toda a pesquisa?
Não. É um erro achar que esse escândalo invalida todo o trabalho que os cientistas do clima produziram nas duas últimas décadas. O aquecimento global está aí. É um desafio.

Então, o senhor aconselha a esquecer o episódio e continuar levando seus autores a sério?
Não é isso. O escândalo não pode ser considerado apenas uma tempestade em copo d’água. O que eles fizeram é muito sério e perturbador. Tem implicações muito maiores. Esses cientistas formam uma máfia que se apossou da questão do clima. Tive muitos problemas com essa máfia do clima. Quando estava escrevendo meu livro, tentei me corresponder com alguns daqueles pesquisadores que detinham dados pelos quais eu tinha interesse. Recebi de volta algumas mensagens em cujo campo de destinatário eu fui incluído por engano. Foram mensagens reveladoras. Elas diziam: "Esse homem é perigoso. Não forneçam nenhum dado a ele. Devemos ter cuidado em não deixar que nossas informações apareçam em pesquisas públicas".

Por que o senhor é cético em relação às previsões sobre o aquecimento global?
Discordo da forma como as discussões sobre esse tema são colocadas. Existe a tendência de considerar sempre o pior cenário – o que aconteceria nos próximos 100 anos se o nível dos mares se elevar e ninguém fizer nada. Isso é irreal, porque é óbvio que as pessoas vão mudar, vão construir defesas contra a elevação dos mares. No entanto, isso é só uma parte do que tenho dito. Sou cético em relação a algumas previsões, sim. Mas sou cético principalmente em relação às políticas de combate ao aquecimento global. O problema principal não é a ciência. Precisamos dos cientistas. A questão é que tipo de política seguir. E isso é um aspecto econômico, porque implica uma decisão de gastar bilhões de dólares de fundos sociais. Em outras palavras, não sou um cético da ciência do clima, mas um cético da política do clima. Basicamente, digo que não estamos adotando as melhores políticas porque não estamos pensando onde gastar o dinheiro para produzir os maiores benefícios.

"ONGs verdes querem mudar a natureza humana, dizendo que não se deve querer ter ou gastar mais. É muito difícil. Prefiro ter tecnologia e fazer o que quiser, mesmo emitindo CO2"

O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) diz que a humanidade é "provavelmente" responsável pelo aquecimento. O que significa esse "provavelmente"?

Os cientistas estão dizendo que têm 90% de certeza. Que há fortes evidências de que somos responsáveis em pelo menos 50% pela elevação da temperatura. É a partir daí que temos de elaborar as políticas. Se a maior parte dos cientistas diz que algo provavelmente vai acontecer, temos de agir de acordo com essa informação. O que não significa que não se deva garantir financiamento às pessoas que trabalham para descobrir erros nessa proposição. Deveríamos gastar dinheiro com as pesquisas dos céticos justamente para aperfeiçoar a informação que tem dominado os debates.

Com que cenários é razoável trabalhar quando se fala da elevação do nível dos oceanos?
Quando perguntamos aos cientistas do IPCC qual seria o resultado mais provável do aquecimento sobre o mar, eles disseram que o nível das águas subiria entre 18 e 59 centímetros. Esse é o parâmetro mais aceitável. Não faz sentido trabalhar com cenários de até 6 metros, como quer o Al Gore, ex-vice-presidente americano. Porque é tão improvável que isso aconteça quanto que não haja elevação alguma. As pessoas que fazem projeções catastróficas acreditam que fazer mais alarde estimula a população a agir. Mas vale lembrar: análises e argumentos baseados no pior dos piores cenários induzem ao pânico, e o pânico não é a melhor forma de fazer um bom julgamento. Esse foi o mesmo argumento que George W. Bush usou quando invadiu o Iraque. Ele disse que estava absolutamente certo sobre a localização das armas de destruição em massa, e o resultado foi o que se viu. Por isso prefiro trabalhar com os impactos mais prováveis.

Quais são esses impactos?
Costumamos esquecer que a maioria dos lugares ricos no mundo conseguirá lidar com o aquecimento global. Sabemos disso porque é o que os holandeses vêm fazendo desde o século XVII. A Holanda tem 60% de sua população vivendo abaixo do nível do mar. O principal aeroporto de Amsterdã fica 3 metros e meio abaixo do nível do mar. É simplesmente uma questão de tecnologia. Ninguém que vai à Holanda fica pensando: "Ai, meu Deus, estou abaixo do nível do mar". Não que isso não seja problemático ou custoso. Mas é um custo que chega a 0,5% ou no máximo 1% do PIB. Então, é bom enfatizar, o Rio de Janeiro nunca vai submergir, tampouco Nova York. Nos últimos 150 anos, o nível do mar subiu 30 centímetros. Pergunte a uma pessoa muito idosa quais as coisas mais importantes que aconteceram no século XX. Ela vai mencionar as guerras mundiais, ou talvez a revolução tecnológica. Sua resposta não vai ser que o nível do mar subiu.

"Tive problemas com a máfia do clima. Quando escrevi meu livro, recebi por engano, de pessoas a quem pedi informações, mensagens que diziam: ‘Esse homem é perigoso, não lhe forneça nenhum dado’"

Fala-se muito do impacto causado pela forma como as pessoas desperdiçam produtos e energia. Como o senhor faz no seu dia a dia?
Há muita confusão em torno desse debate sobre consumo ético, como se a questão toda se resumisse ao que a pessoa faz. É uma visão torta porque, no fim das contas, o que nós fazemos está profundamente regulado pela forma como a sociedade funciona. Posso pegar um ônibus em vez de um carro na Dinamarca (eu nunca tive carro). Mas não poderia fazer isso nos Estados Unidos. Por isso, acho que reduzir tudo à ideia de que você deve fazer algo sobre seu consumo não é o melhor caminho. Para dar uma noção de proporção, se todos no mundo ocidental trocassem suas lâmpadas atuais por um modelo mais econômico, ao final de um ano as emissões se reduziriam apenas o equivalente à quantidade de CO2 que a China joga na atmosfera em um dia. Acho inútil adotar o argumento de que não se deve agir desta ou daquela maneira porque é imoral. Resumindo: organizações verdes querem mudar a natureza humana, dizendo que não se deve querer ter ou gastar mais. É muito difícil mudar a natureza humana. Prefiro mudar a tecnologia. Assim, poderemos fazer o que quisermos, mesmo emitindo CO2.

As empresas estão fazendo sua parte?
A maioria das coisas que se veem por aí é marketing. É o chamado banho verde. Estão fazendo economia de energia como sempre fizeram, desde o início do século XIX, de quando datam as estatísticas. Todas as empresas, em todos os lugares, inclusive nos Estados Unidos e na Europa, vêm reduzindo o desperdício de energia. Ou usando cada vez menos energia para cada dólar que produzem. O que é uma das maneiras de manter a liderança no mundo dos negócios. Cada vez que conseguem essa redução, anunciam que estão economizando CO2. Mas é óbvio que o que estão economizando são dólares. Não há nada de errado nisso. Só não devemos achar que elas estão salvando o planeta.

Por que o crescimento populacional não é levado em consideração nas discussões sobre clima?
Se fosse possível limitar substancialmente o crescimento da população mundial, provavelmente as emissões não aumentariam tanto. Mas você só consegue alterar essa variável dramaticamente num regime autoritário como o da China, onde o governo determina que os casais só podem ter um filho. Não acho que se vá reduzir a taxa de natalidade com informação. As pesquisas mostram que as pessoas agem de forma muito racional sobre o número de filhos que têm. Para os pobres, crianças são fonte de renda. Para os ricos, representam despesa. Então você pode interferir no tamanho da prole tornando as pessoas mais ricas. Independentemente disso, é preciso lembrar que a principal razão para os nascimentos até 2050 não é que muitas pessoas têm muitos filhos, mas porque há muitos jovens que ainda não têm filhos e querem ter. Até lá teremos provavelmente mais 2,5 bilhões de pessoas. Há muito pouco que se possa fazer sobre isso.

Se o senhor tivesse filhos, estaria preocupado com o futuro?
Tenho primos que têm filhos, e alguns dos meus melhores amigos também têm. Claro que desejo que eles tenham uma vida boa. E eles terão. Vão ficar bem, serão ricos. Porque todos os filhos geneticamente gerados que conheço são brancos. Não é com eles que temos de ficar mais preocupados. É com os outros três quartos das pessoas deste planeta, a quem não sou intimamente ligado, que não são brancas, são pobres e vivem hoje uma situação difícil. O paradoxo é que a ONU espera que todos enriqueçam. Os filhos dos meus primos estarão entre quatro e oito vezes mais ricos no fim do século. As pessoas nos países em desenvolvimento estarão 35 vezes mais ricas. A média das pessoas em Bangladesh não será pobre em 2100, mas classe média alta. Ou seja, estamos pensando em ajudar pessoas que serão ricas daqui a 100 anos, mas deixando de ajudar as pessoas pobres que estão aqui agora, hoje. Esse é, para mim, o grande dilema ético: nós nos importarmos tanto com os ricos do futuro e tão pouco com os pobres do presente.

O senhor pode dar um exemplo?
O caso dos países insulares é claro. Se você olhar para Tuvalu, que tem 12 000 habitantes e pode desaparecer, verá que as pessoas de lá não vão sumir. Elas terão de se mudar, o que será triste. Mas é curioso lembrar que a cada sete horas e meia um número equivalente de pessoas morre no mundo em decorrência de doenças infecciosas facilmente curáveis. São cerca de 15 milhões de pessoas que morrem desta maneira todo ano no mundo. As pessoas de Tuvalu terão apenas de se mudar. Para mim, é muito curioso que estejamos gastando tanto dinheiro para ajudar as pessoas de Tuvalu e fazendo tão pouco pelas 12 000 que morreram nas últimas sete horas e meia. Fala-se muito em aquecimento global. Mas as pessoas de verdade têm problemas mais urgentes. A maioria das pessoas nos países em desenvolvimento, ou três quartos da população mundial, quer saber como vão sobreviver até a semana que vem.

O que se pode esperar das decisões tomadas na conferência?
Quando 120 líderes se reúnem, eles não podem não fazer um acordo, em torno de números que soam agradáveis. O problema é que não conseguiremos cumpri-lo. Faremos um lindo documento, todos vão brindar com champanhe, depois vão para casa, e nada vai acontecer. Vem sendo assim nos últimos dezoito anos. Não cumprimos o que foi acertado no Rio de Janeiro em 1992. Em Kioto, houve um compromisso legalmente assumido, no qual se prometeu cortar ainda mais, e ainda nada foi feito. Acreditar que Copenhague será diferente me parece uma fantasia política.

1579) Caio Prado Junior, revisto e rejeitado...


Latifúndio
Um engenho de cana, retratado pelo pintor alemão Rugendas: nem toda a economia era voltada para a exportação

Livros
O elo perdido
Jorge Caldeira:
História do Brasil com Empreendedores
(SP: Mameluco, 2009, 336 p.)

Para Jorge Caldeira, a história brasileira do período colonial precisa ser recontada, para dar conta da existência de um mercado interno pujante e dominado por um personagem até hoje negligenciado: o empreendedor

Opostos que se tocam
O conservador Oliveira Vianna e o comunista Caio Prado Jr.: nos livros do primeiro, e não em Marx, o autor de Evolução Política do Brasil teria encontrado ideias fundamentais de sua obra

O novo livro do historiador Jorge Caldeira, História do Brasil com Empreendedores (Mameluco; 336 páginas; 49 reais), tem vocação para pôr em rebuliço, como fazia tempo não se via, os intelectuais nativos. Ele assesta os seus canhões contra um dos monstros sagrados de nossas ciências sociais, Caio Prado Jr. (1907-1990), celebrado como pioneiro do uso do marxismo na interpretação do país. Não há motivação ideológica nessa crítica. Não se trata de lançar ao chão, pelo gosto de fazê-lo, um ícone da intelligentsia de esquerda. O que irrita Caldeira é a percepção de que a avassaladora influência de Caio Prado tornou impossível enxergar a importância que os empreendedores tiveram, desde a colônia, na formação da economia e da sociedade brasileiras (a palavra empreendedor, aqui, não aponta apenas para os casos de sucesso, mas, como diz o autor, para "todos aqueles que tentaram"). Se fizesse apenas isso – demonstrar, com firmeza, como um conjunto de textos clássicos impede a adequada interpretação do passado –, o livro já seria de valor. Mas a releitura que Caldeira faz desses textos produz uma surpresa. Ele mostra que a armação teórica de Caio Prado deve muito menos ao marxismo que à obra de Francisco José de Oliveira Vianna (1883-1951). Caio Prado ocupa um lugar diametralmente oposto ao do conservador Oliveira Vianna no espectro político. A ideia de que existe uma ligação umbilical entre esses dois nomes é verdadeiramente iconoclasta.

Caio Prado Jr. é um personagem intrigante: um militante do Partido Comunista Brasileiro que nasceu no seio de uma das mais ricas e poderosas famílias brasileiras do começo do século XX. Sua conversão ao comunismo se deu em algum momento nos primeiros anos da década de 30. Em 1933, ele publicou Evolução Política do Brasil, considerado o marco zero da abordagem marxista da história brasileira. Mostrar mais precisamente como o método marxista é empregado nessa obra, no entanto, sempre levou os especialistas a contorcionismos. Na verdade, diz Caldeira, qualquer tentativa nesse sentido só pode dar com os burros n’água. À época em que escreveu Evolução Política do Brasil, Caio Prado ainda tinha um conhecimento rudimentar do marxismo. Caldeira documenta isso consultando, inclusive, os arquivos pessoais de Caio Prado, hoje depositados na Universidade de São Paulo. A tese de que Oliveira Vianna serviu de inspiração ao jovem historiador, por outro lado, não se ampara somente no fato de que ambos circulavam na mesma roda nessa época. Ela ganha incrível consistência quando o livro de Caio Prado é lido em paralelo com Evolução do Povo Brasileiro, de Oliveira Vianna. Caldeira contrapõe dez trechos dos dois livros. Não apenas as semelhanças de raciocínio são espantosas, como também aparece ali, em toda a sua glória, o conceito de latifúndio, fundamental para a argumentação de Caio Prado.

O marxismo prega que as relações sociais devem ser explicadas a partir de suas bases materiais. Foi para cumprir essa tarefa que Caio Prado lançou mão do conceito de latifúndio agroexportador. Em torno dele se organizariam a economia e a sociedade brasileiras. A lógica de funcionamento do latifúndio, durante o período colonial, seria tão somente transferir riqueza para a metrópole. Por causa dessa orientação para fora, o latifúndio teria abortado o desenvolvimento de um mercado interno pujante no Brasil. Quanto aos homens que não desempenhavam um papel crucial em seu ciclo de vida – ou seja, todos aqueles que não eram nem senhores nem escravos –, eles não constituiriam mais que uma massa amorfa e desorientada.

Caldeira afirma que esses dois corolários da teoria de Caio Prado simplesmente não condizem com a realidade. Para isso, aponta os resultados de uma série de estudos recentes que provam que o mercado interno brasileiro não era apenas pujante: ele era maior e mais dinâmico do que o setor voltado para a exportação; por volta de 1800, representava algo em torno de 84% do total da economia. Mas, para que se possa começar a entender a existência e o funcionamento desse mercado, é preciso aceitar a existência de um novo personagem na história – o empreendedor, disposto a buscar a fortuna nas trocas com outros homens. A segunda parte do livro de Caldeira é toda dedicada a explorar a miríade de relações contratuais em que os homens livres do Brasil colônia se engajavam cotidianamente, e eram capazes de produzir meios não apenas de subsistência, mas também de acumulação de riqueza. É assim que se fecha o raciocínio deste livro vigoroso e desassombrado – que terá, para muitos, um sabor de heresia.

1578) Tocqueville de novo em missao: De la Democratie au Bresil


Quase isso: não sei bem como ou por que, mas o fato é que Tocqueville foi contratado pelo Banco Mundial para fazer aquilo que os americanos chamam de fact finding mission, ou seja, uma missão de prospecção e diagnóstico sobre um dado problema. Qual o problema?
O Brasil, um problemão...
O coitado do Tocqueville saiu daqui meio desanimado.
Em todo caso, você também pode saber por que...

Veja meu trabalho mais recente publicado:

Paulo Roberto de Almeida:
De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão
Espaço Acadêmico
(ano 9, n. 103, dezembro 2009, p. 130-138; ISSN: 1519-6186;
link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822/4947).

1577) Mercosul: uma análise dos seus primeiros dez anos


Descobri, ou redescobri, que o INTAL, Instituto de Integração da América Latina, uma entidade financiada pelo BID, com sede em Buenos Aires, disponibiliza pela internet um antigo trabalho meu que tinha sido editado graças aos bons préstimos do amigo Uziel Nogueira.
Foi escrito numa fase ainda relativamente otimista quanto ao futuro do Mercosul. Desde então, as perspectivas do bloco se deterioraram sensivelmente, e continuam a se deteriorar, não por culpa minha obviamente (mas a minha análise não tem nada de complacente, como poderão constatar aqueles que desejarem conferir).
Para o arquivo do livro, siga o roteiro:

Almeida, Paulo Roberto de:
MERCOSUL em sua primeira década (1991-2001): Uma avaliação política a partir do Brasil
(Buenos Aires: INTAL, 2002, 64; ISBN: 950-738-123-6; INTALITDSTA_DD_14_2002; link: http://www.iadb.org/intal/aplicaciones/uploads/publicaciones/p_INTALITDSTA_DD_14_2002_deAlmeida.pdf)

Análisis de la evolución y de los principales problemas a través de los primeros once años de construcción del proceso integracionista en el MERCOSUR, con énfasis en su flexibilidad y adaptación a las corrientes económicas y políticas de los países miembros del bloque, su estructura institucional, su rol como garante de la estabilidad democrática de la región, sus principales desafíos externos (entre los cuales el ALCA parece ser el más importante) y el período de crisis que se manifiesta desde 1999. Una cronología anual desde 1986 informa sobre las principales decisiones adoptadas dentro del MERCOSUR.

Fuente: http://www.iadb.org/intal/detalle_publicacion.asp?idioma_pub=por&tid=8&idioma=esp&pid=73&cid=234

1576) Zelaya na Embaixada do Brasil em Honduras: alguem ainda se lembra?

Transcrevo primeiro a notícia, depois agrego um comentário pessoal...

Zelaya ficará na embaixada brasileira em Honduras ao menos até janeiro
da Efe, em Tegucigalpa
da Folha Online, 19/12/2009

A Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras, que exige a volta ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya, disse neste sábado que o líder não sairá da Embaixada Brasileira em Tegucigalpa antes de 27 de janeiro.
"Com essa atitude dos golpistas de não querer largar o poder, não acreditamos que o presidente Zelaya saia antes de 27 de janeiro, nem que ele se preste a isso só para legalizar a cerimônia da transferência de poder", afirmou o secretário-geral da Frente Nacional de Resistência Popular contra o Golpe de Estado, Juan Barahona.
O presidente interino, Roberto Micheletti, reiterou nesta semana que entregará o poder em 27 de janeiro a Porfirio Lobo, presidente eleito em 29 de novembro passado.
"Levar o presidente Zelaya em 27 de janeiro ao Estádio Nacional (à transferência de poder) burlar o povo hondurenho", disse Barahona, que reiterou que a Frente Nacional de Resistência Popular exige "sua libertação da embaixada" do Brasil "o mais rápido possível".
Segundo ele, a Frente deve realizar neste domingo uma assembleia popular em Tegucigalpa para revisar o trabalho de organização em todo o país e seguir exigindo a restituição de Zelaya no poder.
A transferência de poder em 27 de janeiro, segundo Barahona, será ilegal, porque "o presidente Zelaya e a maioria da comunidade internacional não reconhecem as eleições".

Anistia
O Congresso hondurenho aceitou na terça-feira (16) a proposta de Lobo de estudar uma anistia a todos os envolvidos na deposição de Zelaya, em 28 de junho, e também para o presidente deposto.
O governo interino de Roberto Micheletti acusa Zelaya de ter tentado violar a Constituição ao insistir em um referendo popular que abriria o caminho para sua reeleição.
O Partido Nacional de Lobo e o próprio Partido Liberal de Zelaya e Micheletti acreditam que o presidente deposto pretendia se perpetuar no poder influenciado por seu aliado, o presidente venezuelano Hugo Chávez.
As eleições de novembro não foram reconhecidas por vários países latino-americanos liderados por Brasil, Argentina e Venezuela porque foram realizadas sob o governo interino, embora tenham sido convocadas antes da deposição de Zelaya. Mas contaram com a aprovação de EUA, Colômbia, Peru, Panamá e Costa Rica.
Zelaya tentou na semana passada ir para o México com um salvo-conduto, mas o governo interino voltou atrás e disse que ele só poderia deixar o país como exilado, algo a que o presidente deposto se negou, porque poderia significar a renúncia ao cargo.

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Meu comentário:

Curiosa frase do lider da resistencia zelayista:
"...disse Barahona, que reiterou que a Frente Nacional de Resistência Popular exige "sua libertação da embaixada" do Brasil "o mais rápido possível"."
Ops, nao sabia que Zelaya estava preso na Embaixada do Brasil.
Pensava que ele fosse apenas "hospede", o que quer que isso signifique...
Alguém vai precisar pagar a conta dessa hospedagem, ainda que seja em termos de água, eletricidade, limpeza, horas de trabalho perdidas, etc. Adivinhem quem será?
Aliás, nunca se fez a conta de quanto tempo foi perdido com uma dramaturgia digna do Casseta e Planeta...
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Paulo Roberto de Almeida

1575) Copenhage: um acordo vazio de significado

Transcrevo abaixo o "acordo" (duplas, ou triplas, aspas) que "saiu" (é o verbo) de Copenhage, sem qualquer significado para o planeta ou para o clima.
Não deveria representar nada, tampouco, para pessoas inteligentes, mas como acredito que pessoas inteligentes sempre se informam sobre tudo, mesmo sobre o que é praticamente irrelavente, mas politicamente importante (já que quase todo mundo acredita no festival de bobagens que nos foi servido pela imprensa nos últimos dias), ele vai transcrito aqui a título meramente informativo, já que nem pretendo comentar o que interpreto como total irrelevância para fins práticos...
Paulo Roberto de Almeida

Advance unedited version
Decision -/CP.15
The Conference of the Parties,
Takes note of the Copenhagen Accord of 18 December 2009.

Copenhagen Accord

The Heads of State, Heads of Government, Ministers, and other heads of the following delegations present at the United Nations Climate Change Conference 2009 in Copenhagen: [List of Parties]
In pursuit of the ultimate objective of the Convention as stated in its Article 2,
Being guided by the principles and provisions of the Convention,
Noting the results of work done by the two Ad hoc Working Groups,
Endorsing decision x/CP.15 on the Ad hoc Working Group on Long-term Cooperative Action and decision x/CMP.5 that requests the Ad hoc Working Group on Further Commitments of Annex I Parties under the Kyoto Protocol to continue its work,
Have agreed on this Copenhagen Accord which is operational immediately.
1. We underline that climate change is one of the greatest challenges of our time. We emphasise our strong political will to urgently combat climate change in accordance with the principle of common but differentiated responsibilities and respective capabilities. To achieve the ultimate objective of the Convention to stabilize greenhouse gas concentration in the atmosphere at a level that would prevent dangerous anthropogenic interference with the climate system, we shall, recognizing the scientific view that the increase in global temperature should be below 2 degrees Celsius, on the basis ofequity and in the context of sustainable development, enhance our long-term cooperative action to combat climate change. We recognize the critical impacts of climate change and the potential impacts of response measures on countries particularly vulnerable to its adverse effects and stress the need to establish a comprehensive adaptation programme including international support.
2. We agree that deep cuts in global emissions are required according to science, and as documented by the IPCC Fourth Assessment Report with a view to reduce global emissions so as to hold the increase in global temperature below 2 degrees Celsius, and take action to meet this objective consistent with science and on the basis of equity. We should cooperate in achieving the peaking of global and national emissions as soon as possible, recognizing that the time frame for peaking will be longer in developing countries and bearing in mind that social and economic development and poverty eradication are the first and overriding priorities of developing countries and that a low-emission development strategy is indispensable to sustainable development.
3. Adaptation to the adverse effects of climate change and the potential impacts of response measures is a challenge faced by all countries. Enhanced action and international cooperation on adaptation is urgently required to ensure the implementation of the Convention by enabling and supporting the implementation of adaptation actions aimed at reducing vulnerability and building resilience in developing countries, especially in those that are particularly vulnerable, especially least developed countries, small island developing States and Africa. We agree that developed countries shall provide adequate, predictable and sustainable financial resources, technology and capacity-building to support the implementation of adaptation action in developing countries.
4. Annex I Parties commit to implement individually or jointly the quantified economy-wide emissions targets for 2020, to be submitted in the format given in Appendix I by Annex I Parties to the secretariat by 31 January 2010 for compilation in an INF document. Annex I Parties that are Party to the Kyoto Protocol will thereby further strengthen the emissions reductions initiated by the Kyoto Protocol. Delivery of reductions and financing by
developed countries will be measured, reported and verified in accordance with existing and any further guidelines adopted by the Conference of the Parties, and will ensure that accounting of such targets and finance is rigorous, robust and transparent.
5. Non-Annex I Parties to the Convention will implement mitigation actions, including those to be submitted to the secretariat by non-Annex I Parties in the format given in Appendix II by 31 January 2010, for compilation in an INF document, consistent with Article 4.1 and Article 4.7 and in the context of sustainable development. Least developed countries and small island developing States may undertake actions voluntarily and on the basis of support. Mitigation actions subsequently taken and envisaged by Non-Annex I Parties, including national inventory reports, shall be communicated through national communications consistent with Article 12.1(b) every two years on the basis of guidelines to be adopted by the Conference of the Parties. Those mitigation actions in national communications or otherwise communicated to the Secretariat will be added to the list in appendix II. Mitigation actions taken by Non-Annex I Parties will be subject to their domestic measurement, reporting and verification the result of which will be reported through their national communications every two years. Non-Annex I Parties will communicate information on the implementation of their actions through National Communications, with provisions for international consultations and analysis under clearly defined guidelines that will ensure that national sovereignty is respected. Nationally appropriate mitigation actions seeking international support will be recorded in a registry along with relevant technology, finance and capacity building support. Those actions supported will be added to the list in appendix II. These supported nationally appropriate mitigation actions will be subject to international measurement, reporting and verification in accordance with guidelines adopted by the Conference of the Parties.
6. We recognize the crucial role of reducing emission from deforestation and forest degradation and the need to enhance removals of greenhouse gas emission by forests and agree on the need to provide positive incentives to such actions through the immediate establishment of a mechanism including REDD-plus, to enable the mobilization of financial resources from developed countries.
7. We decide to pursue various approaches, including opportunities to use markets, to enhance the cost-effectiveness of, and to promote mitigation actions. Developing countries, especially those with low emitting economies should be provided incentives to continue to develop on a low emission pathway.
8. Scaled up, new and additional, predictable and adequate funding as well as improved access shall be provided to developing countries, in accordance with the relevant provisions of the Convention, to enable and support enhanced action on mitigation, including substantial finance to reduce emissions from deforestation and forest degradation (REDD-plus), adaptation, technology development and transfer and capacity-building, for enhanced implementation of the Convention. The collective commitment by developed countries is to provide new and additional resources, including forestry and investments through international institutions, approaching USD 30 billion for the period 2010-2012 with balanced allocation between adaptation and mitigation. Funding for adaptation will be prioritized for the most vulnerable developing countries, such as the least developed countries, small island developing States and Africa. In the context of meaningful mitigation actions and transparency on implementation, developed countries commit to a goal of mobilizing jointly USD 100 billion dollars a year by 2020 to address the needs of developing countries. This funding will come from a wide variety of sources, public and private, bilateral and multilateral, including alternative sources of finance. New multilateral funding for adaptation will be delivered through effective and efficient fund arrangements, with a governance structure providing for equal representation of developed and developing countries. A significant portion of such funding should flow through the Copenhagen Green Climate Fund.
9. To this end, a High Level Panel will be established under the guidance of and accountable to the Conference of the Parties to study the contribution of the potential sources of revenue, including alternative sources of finance, towards meeting this goal.
10. We decide that the Copenhagen Green Climate Fund shall be established as an operating entity of the financial mechanism of the Convention to support projects, programme, policies and other activities in developing countries related to mitigation including REDD-plus, adaptation, capacity-building, technology development and transfer.
11. In order to enhance action on development and transfer of technology we decide to establish a Technology Mechanism to accelerate technology development and transfer in support of action on adaptation and mitigation that will be guided by a country-driven approach and be based on national circumstances and priorities.
12. We call for an assessment of the implementation of this Accord to be completed by 2015, including in light of the Convention’s ultimate objective. This would include consideration of strengthening the long-term goal referencing various matters presented by the science, including in relation to temperature rises of 1.5 degrees Celsius.

(zero...)
APPENDIX I
Quantified economy-wide emissions targets for 2020
Annex I Parties
Quantified economy-wide emissions targets for 2020
Emissions reduction in 2020
Base year
APPENDIX II
Nationally appropriate mitigation actions of developing country Parties
Non-Annex I
Actions
(zero...)

Pela transcrição: Paulo Roberto de Almeida (20.12.2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

1574) O Brasil precisa decidir o que quer ser...

Um crônica que deveria ser engraçada, mas pode ser patética, segundo o ponto de vista...

Urubu ou faisão?
NELSON MOTTA
O Globo, 19.12.2009

O Brasil precisa decidir: se é mesmo uma potência emergente, o fenômeno econômico do momento, o último a entrar e o primeiro a sair da crise, se tem todo esse pré-sal para explorar, se quer falar de igual para igual com os gringos de olhos azuis, na hora de contribuir para o Fundo Ambiental tem que estar disposto a fazer um aporte de acordo com sua riqueza e poder — e não continuar no bloco das vítimas e oprimidos.

Temos que escolher: ou somos os novos salvadores da humanidade com nosso etanol, nossa superprodução de energia limpa e renovável, sustentável e admirável, ou somos os árabes do futuro com nossas reservas de petróleo no pré-sal — e a certeza de sua poluição massiva. As duas opções ao mesmo tempo não dá, mesmo que Lula se diga uma metamorfose ambulante, gringo não entende o humor de Raul Seixas.

Não dá para, conforme a situação, o Brasil querer ser do G-12 ou do G77, agir como potência ou como vítima.

Lula pode ser o cara, mas na hora dos acordos que vão custar caro a seus contribuintes, os japoneses, americanos e europeus mostram por que eles são eles e nós somos nós.

A obsessão de colocar nádegas brasileiras na cadeira de membro (epa! nádegas de membro?, deve ser influência do estilo Lula de oratória) do Conselho de Segurança da ONU, além do aparente prestígio e ilusório poder — o que pode o Brasil contra um veto americano, chinês ou russo? — implica em um comportamento de potência, de rico, sempre chamado a dar dinheiro às nações carentes, e eventualmente até a enviar tropas para zonas de conflito.

Sai caríssimo para os contribuintes.

Se não conseguimos resolver sequer a falta de esgoto, de água, de escolas e de hospitais para milhões de brasileiros, a corrupção endêmica e impune de nossos políticos, a criminalidade urbana galopante, o que temos a oferecer aos pobres do mundo? Um Bolsa Família pago pelos contribuintes dos países ricos? Ricos como nós ou como eles? Mas não foram eles que se ferraram com a crise? Não fomos nós que nos demos bem? Fica parecendo que o Brasil, em linguagem lulista, come urubu e arrota faisão. Ou vice versa.

1573) Oliveira Lima e a diplomacia brasileira do inicio do seculo 20

Ao percorrer o site da revista Historia Actual Online, da qual sou colaborador, descobri que um artigo meu, já antigo, tinha acabado de ser publicado. Nao me avisaram...
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Paulo Roberto de Almeida

933. “Oliveira Lima e a Diplomacia Brasileira no Início da República”
revista Historia Actual Online
(Editor: Asociación de Historia Actual; n. 19, Primavera 2009, p. 97-108; ISSN: 1696-2060;
link: http://www.historia-actual.com/HAO/pbhaopdf.asp?idi=ENG&pgt=2&pid=4&pbl=HAO&vol=1&iss=19&cont=8)
Relação de Originais n. 991.

1572) Le Monde: o aniversario de um pequeno grande jornal


O Le Monde, jornal que alimentou todo o meu período universitário europeu (mais de seis anos) e que continuou a frequentar a minha vida adulta, publicou uma edição facsimilar de seu primeiro número, aqui reproduzida.
Uma justa homenagem a seu próprio corpo redacional, editores, jornalistas e colaboradores, e um prêmio a seus muitos leitores, entre os quais me situo.
São 65 anos de atividade ininterrupta e sempre independente dos poderes constituídos. Meus votos para mais cem anos de vida ativa...
Paulo Roberto de Almeida

Les 65 balais (13 lustres) du “Monde”
Dans son édition du 19 décembre, le Monde nous a gratifiés du fac-similé recto verso de son premier numéro, daté mardi 19 décembre 1944. Un bonheur ! une mine de renseignements (notamment pour les enseignants) ! Il valait 3 francs, et son tirage se montait à 150 000 exemplaires.
Où l’on constate que le journal se réduisait à une feuille volante, un tract presque, de très grand format, comme tous les autres quotidiens de l’époque (il y en avait plusieurs dizaines à Paris). Il était imprimé très serré sur huit colonnes, avec un tout petit corps de caractère, ce qui faisait beaucoup à lire.
Aucune image, très peu de pub, mais déjà une (trop) grande place dévolue à la Bourse. Les cinémas parisiens (25) programment des films dont la plupart ne nous disent rien, sauf La Ruée vers l’or et L’Impossible M. Bébé. Il est beaucoup question de rationnement et d’épuration, et, évidemment, de la guerre.
Mussolini, qui sévit encore dans le nord de l’Italie, déclare toujours croire en la victoire de l’Axe ! Les amateurs de typo constateront à cette occasion que les citations (en l’occurrence celles de Benito) sont entre guillemets mais pas en italiques : la “marche” du Monde changera plus tard là-dessus. Une contre-offensive allemande vient de commencer dans les Ardennes. Ses premiers succès sèment la consternation dans les populations, qui craignent le retour de l’Occupation. Au même moment, les Alliés écrasent militairement la Résistance grecque à Athènes (des événements dont nous avons parlé sur ce blog) : alors qu’ils doivent battre en retraite dans les Ardennes, les Alliés se permettent d’engager des dizaines de milliers d’hommes (avec chars et avions) dans un pays pourtant abandonné par l’Axe. La guerre froide a commencé, même si elle ne dit pas encore son nom. Un petit article nous apprend que la filière espagnole est dès cette époque active pour repêcher les nazis.
La guerre du Pacifique occupe peu de place. On peut lire aussi une hagiographie de De Gaulle (ou il est qualifié notamment de prophète, excusez du peu) qui est l’article le plus long du journal, et qui donne une idée de l’adulation dont il était l’objet.

1571) Cupula do clima em Copenhage: fracasso anunciado

O FIASCO DA IGREJA DOS SANTOS DO AQUECIMENTO GLOBAL DOS ÚLTIMOS DIAS
Reinaldo Azevedo, 19/12/2009

Hoje é dia 19, né? Os jornais devem noticiar o que está sendo considerado o desastre de Copenhague. Nada aconteceu. E os Estados Unidos estão no banco dos réus, como não poderia deixar de ser. Se o país tivesse cedido às exigências dos pobres, teria sido tratado como um gigante acuado; como não cedeu, então passa a ser um vilão. Em qualquer dos casos, não se reserva ao país senão o lugar do derrotado ou do arrogante, jamais o do parceiro.

Até porque não era mesmo de parceria que se falava ali. Todos foram lá salvar o planeta desde que o outro pagasse a conta. E, nesse caso, é óbvio que todo mundo olha o rico da mesa esperando que ele diga um “deixa comigo”. Mas Obama não disse. Até porque, e muitos lastimam, os EUA são uma democracia. As metas têm de ser aprovadas pelo Congresso. E Obama tem outras urgências. E certamente já se cercou de cientistas que o advertiram contra este novo milenarismo.

Hoje é dia 19, mas antecipei aqui as razões do fracasso no dia 17, sem ter ido a Copenhague (ver texto em azul no pé deste post). É claro que é sempre bom estar no local, desde que você leve junto aquilo que não muda por mais que mude o céu: o espírito. Às vezes, nada turva mais a inteligência do que a experiência! É evidente que muita gente se deixou levar por aquele clima (ops!) de “Vamos salvar o mundo; está em nossas mãos”. Salvar? A fazer o que querem alguns, ele poderia ser destruído por uma seqüência de catástrofes.

Dou um exemplo claríssimo e que nos diz respeito de perto. Sem a China, a economia brasileira iria para o vinagre. O país responde por boa parte dos fatores que fizeram Lula voar em céu de brigadeiro. Pois é… A China cresce 8% na crise; sem crise, ela faz mais. E é esse crescimento que tem financiado boa parte do mundo, o Brasil em especial. É consenso que, nesse ritmo, ela vai aumentar a emissão de carbono, em vez de diminuir . Mas pode ficar tranqüilo, leitor; isso não ameaça ninguém.

Pois bem: alguém me diz qual é a proposta? A China tem de crescer 4%? Se isso acontecer, o mundo vai à falência. E o primeiro a afundar, acreditem, será o Brasil. Que montante do valor destinado à infra-estrutura, por exemplo, deverá ser carreado para projetos de redução da emissão de carbono? Virá junto, suponho, um programa de esterilização em massa, não é? E tudo em nome do que não passa, até agora, de uma quimera. Mas que é influente e vai continuar por aí. Tanto é que todos os esforços se voltam agora a reunião do México, em 2010. E assim vai. Os produtores de escatologia continuarão a desenhar cenários catastróficos.

Lula fez um discurso forte, emocional, falou em milagre, chamou os grandes líderes do mundo à sua responsabilidade… Foi sucedido na tribuna por um Barack Obama frio, quase esfíngico, que não deu a menor bola para a torcida. Se a China não aceita ter as suas emissões inspecionadas, por que os EUA terão de ir para o banco dos réus de um Tribunal Climático Internacional? Ora…

Ah, ok, que os países poluam menos. Isso parece bom. Mas a economia mundial é coisa séria demais para ser decidida por meteorologistas e ongueiros. Especialmente porque é uma gente que quer se impor por meio da ditadura de opinião, que não aceita o contraditório. Se a reunião do México vier nos mesmos termos de Copenhague, vai de novo para o vinagre. E não é preciso estar em Copenhague para entender por quê. A rigor, estar lá, em muitos casos, até atrapalha a percepção. Digamos que é preciso estar nos livros de história para entender a Cupula de Babel.

Anteontem, expliquei aqui por que o resultado seria esse. O texto segue abaixo. Uma releitura rápida será interessante porque ele poderia ter sido escrito agora, depois que já se sabe que Copenhague não deu em nada. Quem lembra de tudo o que vai nele já pode saltar diretamente para os comentários. Ah, sim: toda religião tem sua própria versão para o fim do mundo, mas relaxem: o mundo não vai acabar. Não precisa sair por aí “beijando a boca de quem não devia”…

*
OS RICOS E O ÓBVIO
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009 | 16:00

O discurso de Lula em Copenhague deixa claro por que a reunião já é um insucesso e por que se trata, como chamei, da última missa do aquecimento global. O assunto virou, como é natural, um braço-de-ferro entre países ricos e pobres, com o grupo dos emergentes tentando ser rico o bastante para dar as cartas e pobre o bastante para se aproveitar de eventuais incentivos. E isso, bem…, isso é contra a lógica do processo e contra a natureza dos… ricos.

Afinal, o que querem os não-ricos? Que os outros se comprometam com metas severas na emissão de carbono, por conta de seu passado, enquanto emergentes como Índia e China poderiam emitir à vontade. Reparem: se isso fosse possível, seria como propor uma troca pacífica de papéis: um grupo marcaria um encontro com o declínio econômico no médio prazo, financiando o outro. E o Brasil? A sua proposta de propaganda é boa porque a maior parte das emissões atribuídas ao país vem das queimadas. A sua redução não comprometeria tanto assim o seu desenvolvimento. Mesmo São Paulo, o estado mais desenvolvido do país, tem uma emissão considerada pequena, dado o seu PIB, em razão da grande frota de carros a álcool, da quase extinção das queimadas de cana, da existência da mata atlântica - pequena, sim, mas grande caso se considere o conjunto da economia do estado. As queimadas é que minam a nossa reputação junto aos Apóstolos da Igreja do Aquecimento Global dos Santos dos Últimos Dias.

Com os ricos e com os outros emergentes, a coisa é um pouco diferente. Metas severas de redução de carbono poderiam atingir gravemente suas respectivas indústrias. É por isso que China e Índia já disseram: “Estamos fora de qualquer meta vinculativa. Isso é coisa dos ricos. E nós não somos ricos”. O Brasil aceita o compromisso porque, em princípio, a sua colaboração não atingiria uma área vital da economia. Mas e os tais “ricos”? Os governos democráticos dos EUA e da Europa desenvolvida se entregarão, assim, ao cadafalso, com o compromisso adicional de financiar os muito pobres? Esqueçam. Trata-se de uma equação sem saída. É por isso que aquele troço não anda nem vai andar.

Vai-se criar o fundo, projetos serão desenvolvidos aqui e ali, as elites gorilas dos países muito atrasados vão se aproveitar de eventuais linhas de financiamento, e tudo vai ficando por isso mesmo. Como até Al Gore já admite que há um certo resfriamento do planeta - pelo menos se consideradas as previsões mais catastrofistas -, o que vai acabar esfriando também é o debate, que assumiu, como se nota, o viés a que estava destinado.

A turma do miolo mole deve ter achado que uma causa tão nobre como “salvar o planeta” anularia diferenças e nos colocaria a todos no mesmo barco. Pois é… Não aconteceu. O debate-boca se assemelhou a qualquer outro travado, por exemplo, na Organização Mundial do Comércio. Al Gore, o garoto-propaganda da causa, está perdidaço. Resolveu ser o aiatolá do xiismo ambientalista, o mundo achou a idéia bacana e resolveu pôr, como sempre, os EUA no banco dos réus, de sorte que a resistência de Barack Obama a Copenhague já é mais clara e mais evidente do que a resistência de Bush aos Protocolos dos Sábios de Kyoto.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

1570) Pausa para... um pouco de musica

Um colega de lista de discussão sobre temas mais sérios, fez uma pausa para mandar esta recomendação, que ainda não segui, mas vou fazê-lo, enquanto leio uma dissertação de mestrado (ugh...):

2009/12/14 Leonardo Teles:

Caros,
No inicio de uma cansativa viagem de retorno, fui deleitado com um delicioso programa da RNE (Radio Nacional Espanola) sobre musica 'moderna'. Trata-se um programa sobre a época do SWING, musica de 50 anos atras. Os comentários do apresentador explicando algo da historia das músicas da um 'que' todo especial ao programa. Recomendo. Excelente para deixar de pano de fundo em casa para relaxar.

http://www.rtve.es/programas/voces

Todos os mais de 100 programas estao disponiveis no link para que sejam ouvidos online.
Divirtam-se. O ultimo programa disponivel (Ay,que me vuelvo loca) é realmente muito gostoso. Recomendo. Podem ser acessados via o link 'PROGRAMAS', no canto superior esquerdo.
Abraços e uma ótima semana para todos,
--
Leo Teles

1569) Paul Samuelson: as razoes de sua ampla aceitacao

Why Everyone Read Samuelson
By DAVID R. HENDERSON
The Wall Street Journal, Opinion, December 14, 2009

The late Nobel laureate's mathematical approach to economics has been a mixed blessing.

Three years after World War II drew to a close, a young professor at MIT published "Foundations of Economic Analysis." Its mathematical approach to economics would revolutionize the profession. And its author, Paul Samuelson, would go on to earn many awards and honors, culminating in 1970, when he won the Nobel Prize in economics—the second year it was awarded. Samuelson died on Sunday at the age of 94.

His influence has been profound, but the mathematization of economics has been a mixed blessing. The downside is that the math hurdle in leading U.S. economics programs is now so high that people who grasp the power of economic concepts to explain human behavior are losing out in the competition to mathematicians.

The upside is that Samuelson sometimes used math to resolve issues that had not been resolved at a theoretical level for decades. As fellow Nobel laureate Robert Lucas of the University of Chicago said in a 1982 interview, "He'll take these incomprehensible verbal debates that go on and on and just end them; formulate the issue in such a way that the question is answerable, and then get the answer."

For instance, Swedish economist Bertil Ohlin had argued that international trade would tend to equalize the prices of factors of production. Trade between, say, India and the United States would narrow wage-rate differentials between the two countries. Samuelson, using mathematical tools, showed the conditions under which the differentials would be driven to zero: It's called the Factor Price Equalization Theorem.

He contributed fundamental insights in consumer theory and welfare economics, international trade, finance theory, capital theory, general equilibrium and macroeconomics. In finance theory, which he took up at age 50, Samuelson did some of the initial work that showed that properly anticipated futures prices should fluctuate randomly.

Economists had long believed that there were goods that would be hard for the private sector to provide because of the difficulty of charging those who benefit from them. National defense is one of the best examples of such a good. In the 1954 Review of Economics and Statistics, Samuelson gave a rigorous definition of a public good that is still standard in the literature.

"Let those who will write the nation's laws if I can write its textbooks," Samuelson said during a speech at Trinity University in San Antonio, Texas. He revised his own widely read textbook, "Economics," about every three years since 1948. One of the best and punchiest statements in the 1970 edition was his comment about a proposal to raise the minimum wage from its existing level of $1.45 an hour to $2.00 an hour: "What good does it do a black youth to know that an employer must pay him $2.00 an hour if the fact that he must be paid that amount is what keeps him from getting a job?"

This is the kind of comment that causes many on the left to grit their teeth; and yet Samuelson was a liberal Keynesian and the best-known rival of the late libertarian monetarist, Milton Friedman. The two men respected each other highly, but the intellectual influence was mainly one way. Over time, Samuelson came more to Friedman's views, especially on monetary policy.

In the 1948 edition of his textbook, Samuelson wrote dismissively, "few economists regard Federal Reserve monetary policy as a panacea for controlling the business cycle.'' But in the 1967 edition, he wrote that monetary policy had "an important influence'' on total spending. In the 1985 edition, Samuelson and co-author William Nordaus (of Yale) would write, "Money is the most powerful and useful tool that macroeconomic policymakers have,'' and the Fed "is the most important factor'' in making policy.

Paul Samuelson began teaching at the Massachusetts Institute of Technology in 1940 at the age of 26 and remained there, publishing on average almost one technical paper a month for over 50 years. In addition to the Nobel Prize, he also earned the John Bates Clark Award in 1947, awarded for the most outstanding work by an economist under age 40. He was president of the American Economic Association in 1961.

Samuelson, like Milton Friedman, had a regular column in Newsweek (from 1966 to 1981). Unlike Friedman, he did not have a passionate belief in free markets—or, for that matter, in government intervention in markets. His pleasure seemed to come from providing new proofs, demonstrating technical finesse, turning a clever phrase, and understanding the world better.

But not always. Samuelson had an amazingly tin ear about communism. As early as the 1960s, economist G. Warren Nutter at the University of Virginia had done empirical work showing that the much-vaunted economic growth in the Soviet Union was a myth. Samuelson did not pay attention. In the 1989 edition of his textbook, Samuelson and William Nordhaus wrote, "the Soviet economy is proof that, contrary to what many skeptics had earlier believed, a socialist command economy can function and even thrive."

Although I was never a fan of Samuelson's textbook, an appendix on futures markets in a late 1960s edition laid out beautifully how the profit motive in futures markets causes reallocation from times of relative plenty to future times of relative scarcity. In 1990 I asked him to do an article on futures markets for "The Fortune (now "Concise") Encyclopedia of Economics." He replied quickly that he did not have time and ended graciously, "My loss."

Mr. Henderson is a research fellow with Stanford University's Hoover Institution and an economics professor at the Naval Postgraduate School in Monterey, Calif. He is editor of "The Concise Encyclopedia of Economics" (Liberty Fund, 2008.)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

1568) Antiglobalizadores atacam outra vez: sim, a Attac quer uma ilusoria "justica climatica"

Abaixo o último boletim científico de uma entidade formada por lunáticos climáticos, antiglobalizadores vieux style, surrealistas econômicos e outros malucos do pensamento científico, que pretende ter um boletim do seu conselho científico (sic), atacando, de acordo com o seu nome oficial, a atual organização econômica da exploração dos recursos naturais, que eles pretendem substituir por uma fantasmagórica "justiça climática" (seja lá o que isso queira dizer).
Em todo caso, vou comentar, em próxima oportunidade, suas posições absolutamente malthusianas sobre os problemas do meio ambiente, assim que me liberar de outros encargos urgenges.
Aqueles que desejam ler os trabalhos da Attac, podem clicar aqui.


Attac - La lettre du Conseil Scientifique

La Lettre du Conseil scientifique d’Attac - numéro spécial Copenhague
Procédure d’urgence pour la planète en danger
Geneviève Azam (Attac), Annick Coupé (Solidaires), Laurent Hutinet (Amis de la Terre), Gus Massiah (CRID), Pierre Tartakowsky (LDH), Sophie Zafari (FSU), ont publié, dans le Hors-série d’octobre-novembre de Politis intitulé "Le chaos climatique", un analyse intitulée "Procédure d’urgence pour la planète en danger". On pourra la lire ici.
Voir l'intégralité de l'édito

Copenhague
> Pour une justice écologique, libérons le climat des marchés financiers
Attac a fait de l’urgence climatique et de la justice climatique une de ses priorités de campagne et d’éducation populaire. Elle a publié une brochure au contenu duquel on peut accéder ici http://www.france.attac.org/spip.ph...
Cette brochure s’inscrit dans la continuité des travaux de l’association et de ses combats et s’attache à montrer et expliciter les enjeux du financement du changement climatique, enjeux écologiques, économiques, sociaux et politiques. C’est une démarche essentielle pour s’approprier des débats qui ne peuvent être laissés seulement à des experts et pour pouvoir conjuguer écologie et solidarité, écologie et justice, écologie et démocratie. Il serait suicidaire d’oublier que la question climatique, devenue une des priorités planétaires incontestables, est d’abord et avant tout le fruit d’alertes et de travaux remarquables de la communauté scientifique académique au premier chef, mais aussi de travaux permanents de contre-expertises indépendantes et citoyennes contrebalançant les discours des gouvernements et des transnationales de tous les secteurs peu enclins à remettre à plat nos modèles de développement.

> Our world is not for sale (OWINFS)
L’ONG, "Our world is not for sale" (OWINFS) http://www.ourworldisnotforsale.org/fr se présente de la manière suivante "Notre monde n’est pas à vendre (OWINFS) est un réseau mondial d’organismes, de militants et de mouvements sociaux qui s’opposent aux ententes commerciales et aux accords d’investissement qui favorisent les intérêts des sociétés les plus puissantes du monde au détriment des personnes et de l’environnement". A l’occasion de Copenhague, OWINFS publie sur son site plusieurs textes ; on pourra lire, en particulier :
"Changez le commerce, pas notre climat !" http://www.ourworldisnotforsale.org...
"La grande rupture" http://www.ourworldisnotforsale.org...

> Les propositions de la FASE
L’importante ONG brésilienne FASE, née au tout début des années 1960 http://www.fase.org.br/v2/ qui, avec 160 autres organisations, participe au mouvement "Climate justice now" http://climatjustice.org/ En octobre 2009, FASE a défini sa position en huit points stratégiques (libre traduction de Jacques Cossart)

> Scandale : le soja GM détruit l’Amérique du Sud et cherche à encaisser des "Crédits Carbone" !
Les Amis de la Terre ont publié en octobre 2009, dans un dossier particulièrement riche intitulé "Scandale : le soja GM détruit l’Amérique du Sud et cherche à encaisser des "Crédits Carbone" !". Le sous-titre est, lui aussi éclairant "Quel rôle jouent certaines ONG ?" Ce dossier édité en Anglais a été traduit, en Français, par Christian Berdot http://www.amisdelaterre.org/Scanda... Christian Berdot présente ainsi l’ensemble : "Depuis des années, les lobbies de l’agrobusiness s’activent dans les coulisses des négociations sur le climat ! Alors que la quinzième Conférence des Parties (COP 15) sur les Climats, organisée par les Nations Unies à Copenhague, approche, un nouvel accord doit être signé pour la période post-2012. Il est de plus en plus évident que l’agrobusiness essaye de tirer profit de l’énorme marché des crédits carbone. Sous le terme d’ « agriculture de conservation », Monsanto et ses autres alliés des biotechnologies ont infiltré la FAO (l’Organisation pour l’Agriculture et l’Alimentation) et la Convention Cadre sur les Changements Climatiques des Nations Unies (UNFCCC) dans le but d’obtenir des crédits carbone pour l’agrobusiness. La certification volontaire pour le soja Roundup Ready « responsable » sponsorisé par le WWF et une nouvelle méthodologie pour les Mécanismes de Développement Propre sont deux étapes importantes pour accéder à ce marché de trois milliards de dollars"

> 7 pistes pour attraper le carbone
Terraeco, qui se définit comme "le média du développement durable", énumère "7 pistes pour attraper le carbone" http://www.planete-terra.fr/spip.ph...

> Des escrocs investissent le marché du carbone
Un article publié dans Le Monde du 27 août 2009 intitulé "Des escrocs investissent le marché du carbone". Les auteurs y décrivent parfaitement comment s’est organisée la fraude à la TVA sur ce marché. Faut-il rappeler qu’il n’y a rien là d’anormal dans une organisation de l’économie qui nous est imposée, mais au contraire le constat d’une "parfaite" conjonction : livrer le carbone aux marchés en faisant semblant de croire qu’ils font réduire ses émissions, et tolérer une concurrence fiscale.

> Rapport banque mondiale 2010
Le "World development report", que la Banque mondiale a publié officiellement à l’occasion de l’assemblée annuelle qui s’est tenue, cette fois, à Istanbul début octobre, est consacré au climat et à la manière de le sauver.
Sans surprise, et malgré une description sans concession des désastres constatés, la Banque réaffirme sa foi dans les marchés. Une présentation/analyse du rapport.

> L’Europe face au changement climatique
Pour une régulation commerciale climat-compatible
Le gouvernement français a émis en novembre 2006 l’idée d’introduire une taxe carbone sur les importations en provenance des pays refusant de s’engager en faveur du protocole de Kyoto. Cette initiative française se fondait sur le fait que la non-application de ce protocole en dehors de l’Europe donnerait lieu à un désavantage compétitif dont souffriraient les exportations de cette région. Cela d’autant plus que le Conseil européen des 8 et 9 mars 2007 avait engagé l’Europe sur un objectif unilatéral de réduction des émissions de gaz à effet de serre (GES) de 20 % en 2020, objectif qui serait porté à 30 % dans le cadre d’un accord international post-Kyoto. Le Conseil européen des 11 et 12 décembre 2008 a confirmé cet objectif tout en introduisant un système de dérogations entre les membres.
Mehdi Abbas, LEPII, Grenoble Université, CNRS.
Décembre 2008

> Une taxe carbone en trompe-l’œil
Après la disgrâce, l’engouement pour l’impôt ? Le gouvernement français a annoncé l’étude d’une taxe nationale carbone et a réuni pour cela un groupe d’experts. Qu’en est-il de cette proposition ? Au moment où ces lignes sont écrites, le rapport des experts n’est pas encore public mais plusieurs textes préparatoires, notamment le Livre blanc sur la contribution climat-énergie (taxe carbone) (http://www.contributionclimatenergie.fr/), en donnent les balises.
Geneviève Azam, Conseil scientifique d’Attac

> Le climat dans la tourmente des marchés
La négociation climatique en vue de Copenhague patine, voire recule. A moins de se ranger à une écologie qui serait affaire d’experts (et d’intérêts économiques), il est essentiel de saisir ce qui est en jeu, pour que les changements écologiques imposés par la nécessité et la contrainte, puissent devenir les supports d’un changement souhaitable, guidé par des choix collectifs de justice et de solidarité.
Geneviève Azam, Conseil scientifique d’Attac

> Climat, le marché ou les citoyens ?
Tribune "Climat, le marché ou les citoyens ?", Jacques Cossart, Hors Série Politis, Octobre-Novembre 2009.
La quinzième conférence des parties, COP 15, qui se tiendra à Copenhague en décembre 2009 mobilise la planète entière, tant les services et agences publiques que les ONG et le secteur privé. Cette mobilisation considérable est, en soi, un vrai succès pour la régulation publique en matière climatique et la Conférence sur le changement climatique des Nations Unies.
Jacques Cossart, Conseil scientifique d’Attac

> Écologie et solidarité internationale
Gustave Massiah, économiste membre du Conseil scientifique d’Attac-France, dans un article intitulé "Ecologie et solidarité internationale", dresse une fresque des combats anciens et nouveaux dans le monde qui vient. Il y dessine, en particulier, la place de l’écologie qui impose de nouvelles exigences aux mouvements écologistes. L’ambition de ce document et d’alimenter le débat indispensable à la culture des droits qui y est évoquée.
Gustave Massiah, Conseil scientifique d’Attac

Pour en savoir plus (rapports et données "officiels")
> Adaptation des pays du Sud au changement climatique
Dans une étude publiée le 30 septembre 2009, la Banque mondiale estime de 75 à 100 milliards de dollars par an le coût de l’adaptation des pays du Sud au changement climatique. La Banque estime que ce coût est insupportable pour les pays pauvres mais peut parfaitement être financé par les pays riches. A cet égard, rappelons que les calculs du Conseil scientifique d’Attac-France estime à 1 500 milliards de dollars annuels le produit des taxes globales...

> Incompatibilité entre diminution des émissions de GES et mécanismes de marché
Attac-France, et beaucoup de mouvements altermondialistes ou syndicaux, ont déjà démontré à plusieurs reprises, la parfaite incompatibilité entre diminution des émissions de GES et mécanismes de marché. En revanche, il est plus rare d’entendre des critiques venant de ceux-là même qui vivent de ce marché ! Quand cette critique vient du saint des saints capitaliste, elle mérite attention. Cette fois c’est le responsable mondial du département "management des actifs", de la Deutsche Bank, l’une des premières banques dans le monde, qui demande, sans beaucoup de retenue, une puissante intervention publique !

Toutes les lettres du Conseil scientifique

1567) Trabalhos publicados mais recentes...

...mas eles não têm diretamente a ver com a política externa brasileira...

932. “Evolução do regionalismo econômico e político da América do Sul: dilemas atuais e perspectivas futuras”. In: Danilo Nolasco Cortes Marinho (org.). Brasil e América Latina: colaboração e conflito (São Paulo: Francis, 2009, 152 p.; ISBN: 978-85-89362-98-6; p. 35-94).

931. “L’intégration de l’Amérique du Sud: une perspective historique et un bilan”. In: Christian Girault (éd.). Intégrations em Amérique du Sud (Paris: Presses Sorbonne Nouvelle, 2009, 286 p.; ISBN: 978-2-87854-473-2; p. 23-37). Relação de Originais n. 1972.

930. “Outro mundo possível: alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim”, Revista Espaço Acadêmico (ano 9, n. 102, Novembro 2009, ISSN: 1519-6196, p. 25-29). Revista digital Espaço da Sophia (ano 3, n. 32, novembro 2009; ISSN: 1981-318X). Relação de Originais n. 2048.

929. “Lula: orateur par excellence”, Décideurs: Stratégie Finance Droit (Paris: n. 109, octobre 2009, p. 13; ISSN: 1764-6774). Relação de Originais n. 2043.