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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Revolucao Industrial, por seu mais famoso historiador: David Landes - resenha Paulo R Almeida


16. “Um Prometeu Industrial Desengonçado”, Brasília, 17 abril 2005, 2 p. Resenha de David S. Landes: Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje (2ª ed.; Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.). Publicado na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 10, maio 2005, p. 76; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1772:catid=28&Itemid=23). Relação de Trabalhos nº 1420. Relação de Publicados nº 561.

Um Prometeu industrial desengonçadoImprimirE-mail
por Paulo Roberto de Almeida
A tradução do título para o português é imprecisa: trata-se de um Prometeu unbound, isto é, liberado, não unchained. Mas isso não tira o valor da segunda edição deste clássico, agora com novo prefácio e epílogo - no mais o texto permanece igual ao de 1969, originalmente um ensaio da Cambridge Economic History. David Landes, professor emérito de Harvard, já tinha feito um complemento a Adam Smith, em A Riqueza e a Pobreza das Nações (Campus, 1998), soberbo nos desenvolvimentos globais, mas falho no que toca à América Latina e ao Brasil, analisados pela ótica enviesada da ("esqueçam-o-que-escrevi") teoria da dependência de FHC.

O titã liberado é o sistema fabril: seu aparecimento na Inglaterra chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China modorrava na imobilidade industrial. Hoje as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século 19. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os antiglobalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as "muralhas da China", o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.

A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização "não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza". A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário ainda não conseguiu romper os grilhões do subdesenvolvimento? É que empréstimos, ensinamentos e presentes podem até ajudar, mas de nada adiantam se o movimento não for conduzido a partir de dentro.

Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa Ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente - como o Japão, a Coréia e, agora, a China - lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as técnicas, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os "orientais" não tenham seguido a via do liberalismo, e sim que tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem.

O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos "copiadores" e sim um fascinante racconto storico do desenvolvimento tecnológico da industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre cada fase. Uma introdução metodológica explica por que a revolução industrial ocorreu na Europa e não em outros lugares. Coloca a questão - que será seguida ao longo do livro - das razões pelas quais as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de um país para outro. Nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, grandes e pequenas, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais.

Desde a Revolução Industrial inglesa, disseminada pelo continente, até o período entre guerras e a reconstrução subseqüente, Landes descreve as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxtil, metalúrgica, química e de maquinaria, além da mineração de carvão por seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, da coordenação dos fatores de produção e do manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da "hegemonia" ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim da capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.
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Confesso que não conferi para ver se foi publicado in totum, por isso reproduzo aqui. Aliás, cansado dos cortes dos meus editores, comecei, finalmente, a fazer resenhas mais curtas...

Um Prometeu Industrial Desengonçado

David S. Landes: Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje (2ª ed.; Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.)

O título do livro, em português, é impreciso: trata-se de um Prometeu unbound, isto é liberado, não unchained. Isso não muda o valor da segunda edição deste clássico, agora com novo prefácio e epílogo; no resto, o livro permanece igual ao texto de 1969, originalmente um ensaio da Cambridge Economic History (1965). David Landes, emérito de Harvard, já tinha feito um complemento a Adam Smith, em A Riqueza e a Pobreza das Nações (Campus, 1998), superbo nos desenvolvimentos globais, mas falho no que toca a América Latina e o Brasil, vistos pela ótica enviesada da (“esqueçam-o-que-escrevi”) teoria da dependência de FHC.
O titã liberado refere-se ao sistema fabril: seu aparecimento, na Inglaterra, chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China, até ali a maior economia, modorrava na imobilidade industrial, só voltando a praticar a abjeta exploração mais de dois séculos depois. Hoje, as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século XIX, mas as marcas são ocidentais. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os anti-globalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as “muralhas da China”, o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.
A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a única parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização “não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza” (p. 600). A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário não conseguiu ainda romper os grilhões do subdesenvolvimento no resto do planeta? É que empréstimos, ensinamentos, presentes podem até ajudar, mas de nada adianta se o movimento não for conduzido a partir de dentro.
Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente – como o Japão a Coréia e, agora, a China – lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as boas técnicas européias, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os “orientais” não tenham seguido a via do liberalismo e sim que eles tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem.
O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos “copiadores” e sim um fascinante racconto storico dos desenvolvimentos tecnológicos que permearam a industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre o estado das técnicas em cada fase. Uma introdução metodológica visa explicar por que a revolução industrial ocorreu na Europa, e não em outros lugares, e coloca a questão – que será seguida ao longo do livro – de por que as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de uma nação para outra (nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, países grandes e pequenos, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais).
Desde a revolução industrial inglesa, seguida de sua disseminação no resto do continente, até o período do entre-guerras e a reconstrução subseqüente, Landes retraça as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxteis, metalurgia, química e maquinaria, com a mineração de carvão apenas pelo seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, a coordenação dos fatores de produção e o manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da “hegemonia” ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim pela sua capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.

Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)



Historia nao carioca-centrica do Brasil: Evaldo Cabral de Melo - resenha de Paulo R Almeida


15. “História quase virtual do Brasil”, Brasília, 20 março 2005, 2 p. Resenha de Evaldo Cabral de Mello: A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824 (São Paulo: Editora 34, 2004, p. 260; ISBN: 85-7326-314-8). Revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 9, abril 2005, p. 71; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1770:catid=28&Itemid=23). Relação de Trabalhos nº 1411. Relação de Publicados nº 553.
História quase virtual do BrasilImprimirE-mail
por Paulo Roberto de Almeida
livro01
O novo livro do diplomata-historiador (ou vice-versa) Evaldo Cabral de Mello explora a possibilidade de uma independência alternativa, não como hipótese virtual, mas como realização efetiva, tal como tentada nas cidades e nos campos da Bahia e de Pernambuco, entre a insurreição precoce de 1817 e a Confederação do Equador, em 1824. Esses movimentos, com outros do Sul, ficaram agrupados sob o amálgama de "separatismo", ao passo que os construtores do Império, a partir do Rio de Janeiro, passaram para a história com o beau rôle de unitários e de nacionalistas. Essa é, porém, uma perspectiva equivocada, uma vez que, no momento da Independência, o Brasil era um ajuntamento de províncias que se relacionavam mais com a metrópole (ou com a África) do que entre si. Luiz Felipe Alencastro já tinha alertado para esse arquipélago de sistemas desvinculados, sem unidade econômica real.

Esse livro conta a história desse "destino não manifesto", traduzido no desejo de algumas elites regionais, no caso as do Nordeste, de recuperar o poder local perdido quando da vinda da família real e a centralização operada em favor do Rio de Janeiro. O federalismo, segundo Cabral de Mello, era uma possibilidade real, se alguns destes processos não tivessem ocorrido: a manutenção da dinastia bragantina no Rio, um tratamento mais conforme às aspirações das elites regionais pelas cortes de Lisboa e a determinação da "administração" da corte no Rio em preservar sua posição hegemônica. Mas foi uma luta bárbara, na qual a força foi mais importante que a persuasão. A historiografia ulterior alimentou o "rio-centrismo", descurando ou desvalorizando os "separatismos" regionais, uniformemente agrupados na rubrica contrária à unidade nacional, quando o que eles pretendiam, na verdade, era uma forma diferente de organização do Estado (e do equilíbrio entre as províncias), provavelmente mais conforme ao modelo proposto nos Estados Unidos poucas décadas antes.

A Bahia, como se sabe, ficou sob ocupação portuguesa no episódio da separação, razão pela qual coube a Pernambuco a liderança federalista. Longe de obedecerem a impulsos regionais anárquicos, como a propaganda fluminense quis fazer acreditar (dando os exemplos caóticos dos Estados hispano-americanos), os patriotas do Nordeste queriam a verdadeira liberdade e a igualdade, num regime de poderes compartilhados.

José Bonifácio foi, nesse caso, menos sábio do que o habitualmente afirmado, pois que, partindo da idéia de uma "peça majestosa e inteiriça desde o Prata até o Amazonas", denegriu o projeto federalista, assimilando-o ao republicanismo e acusando seus líderes de pretenderem um "governo monstruoso", para serem nas províncias "chefes absolutos, corcundas despóticos". Os "bispos sem papa", no dizer de Bonifácio, foram esmagados, e assim o Brasil continua a ser até hoje, a despeito da ironia de carregar no nome o adjetivo federalista, a mais unitária das repúblicas americanas.


Não sei se está completo, assim, coloco meu texto original aqui: 

História quase virtual do Brasil

Evaldo Cabral de Mello:
A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824
(São Paulo: Editora 34, 2004, 260 p.; ISBN: 85-7326-314-8).

   Estamos tão habituados à versão tradicional da independência do Brasil, de cunho unitário e quase que “naturalmente monarquista”, que negligenciamos outros modos possíveis de desenvolvimento da nação ou de formação do Estado. Já não falo de uma história declaradamente virtual, que poria em confronto “o que efetivamente se passou”, segundo a visão rankeana, com possibilidades inesperadas ou puramente hipotéticas, como uma separação holandesa do Nordeste, em caráter permanente, ou um movimento inconfidente bem sucedido nas Gerais, de caráter republicano, ou ainda uma divisão de fato entre as várias províncias do norte e do sul no processo de independência, o que teria conformado um arquipélago de nações luso-parlantes na América do Sul (a exemplo da fragmentação hispano-americana na vertente andina).
   Este novo livro do diplomata-historiador (ou vice-versa) Evaldo Cabral de Mello explora justamente essa última possibilidade, a de uma outra independência possível, não como hipótese virtual, mas como realização efetiva, tal como tentada nas cidades e nos campos da Bahia e de Pernambuco, entre a insurreição precoce de 1817 e a Confederação do Equador em 1824. Esses movimentos, junto com outros do Sul, ficaram agrupados sob o amálgama enganador de “separatismo”, ao passo que os construtores do Império, a partir do Rio de Janeiro, passaram para a história com o beau rôle de unitários e de nacionalistas. Essa é, porém, uma perspectiva equivocada, uma vez que, no momento da independência, o Brasil era tudo menos Brasil, e sim um ajuntamento de províncias que se relacionavam mais com a metrópole (ou com a África, por exemplo) do que entre si. Luiz Felipe Alencastro já tinha alertado para esse arquipélago de sistemas desvinculados entre si, sem unidade econômica real.
   Este livro conta a história desse “destino não manifesto”, traduzido no desejo de algumas elites regionais, no caso as do Nordeste, de recuperar o poder local perdido quando da vinda da família real e a centralização operada em favor do Rio de Janeiro. O federalismo, segundo Evaldo, era uma possibilidade real, se alguns destes processos não tivessem ocorrido: a manutenção da dinastia bragantina no Rio, um tratamento mais conforme às aspirações das elites regionais pelas Cortes de Lisboa e a determinação da “administração” da Corte no Rio em preservar sua posição hegemônica. Mas foi uma luta bárbara, na qual a força foi mais importante do que a persuasão. A historiografia ulterior alimentou o “rio-centrismo”, descurando ou desvalorizando os “separatismos” regionais, uniformemente agrupados na rubrica contrária à unidade nacional, quando o que eles pretendiam, na verdade, era uma forma diferente de organização do Estado (e do equilíbrio entre as províncias), provavelmente mais conforme ao modelo proposto nos Estados Unidos poucas décadas antes.
   A Bahia, como se sabe, ficou sob ocupação portuguesa no episódio da separação, razão pela qual coube eminentemente a Pernambuco a liderança federalista, quando na verdade ambas as províncias tinham condições econômicas de sustentar um modelo diferente, singularmente autonomista, de construir um Estado não centralizado, ainda que passavelmente unitário, sob a égide da monarquia (mesmo se muitos liberais fossem declaradamente republicanos). Longe de obedecerem a impulsos regionais anárquicos e anti-patrióticos, como a propaganda fluminense quis fazer acreditar (dando os exemplos caóticos dos estados hispano-americanos), os patriotas do Nordeste queriam a verdadeira liberdade e a igualdade, num regime de poderes compartilhados.
José Bonifácio foi, neste caso, menos sábio do que o habitualmente afirmado, pois que, partindo da idéia de uma “peça majestosa e inteiriça desde o Prata até o Amazonas”, denegriu o projeto federalista, assimilando-o ao republicanismo e acusando seus líderes de pretenderem um “governo monstruoso”, para serem nas províncias “chefes absolutos, corcundas despóticos”. Os “bispos sem papa”, no dizer de Bonifácio, foram esmagados e assim o Brasil continua a ser até hoje, a despeito da ironia de carregar no nome o adjetivo federalista, a mais unitária das repúblicas americanas.
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Brasília, 1411: 20 março 2005

Ideias que movem o mundo: Felipe Fernández-Armesto - resenha Paulo R. Almeida

Continuando com as resenhas desparecidas e reaparecidas: 

14. “Ideias que movem o mundo”, Brasília, 20 março 2005, 2 p. Resenha de Felipe Fernández-Armesto: Ideias que mudaram o mundo (São Paulo: Editora Arx, 2004, 400 p.; ISBN: 85-7581-147-9). Revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 9, abril 2005, p. 70; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1769:catid=28&Itemid=23). Divulgado no blog Diplomatizzando (30/01/2012; link: ). Relação de Trabalhos nº 1410. Relação de Publicados nº 551.

Idéias que movem o mundoImprimirE-mail
por Paulo Roberto de Almeida
livro02
A evolução nas sociedades humanas libertou-se dos constrangimentos do mundo natural e tornou-se essencialmente cultural ou basicamente tecnológica. Os seres humanos, eles mesmos, estão sendo mudados pelas técnicas de intervenção cromossômica e de manipulação genética (ou pelo menos existe capacidade potencial de fazê-lo). A despeito disso tudo, a humanidade continua a ser movida por sentimentos ancestrais, como o desejo sexual, o amor, o ódio, a vontade de poder e outros tantos impulsos mais ou menos nobres ou simplesmente mesquinhos.

Esse livro, do conhecido historiador, professor na Universidade de Londres, identifica e explica quase duas centenas de idéias que influenciaram o destino da humanidade, desde 30 mil anos atrás até a atual era da incerteza. Atento para não parecer "ocidentalocêntrico", o autor buscou em civilizações orientais conceitos e princípios que também se tornaram universais. Mas reconhece que predominam as idéias ocidentais, pois são as que moldaram o mundo tal como o conhecemos hoje. Ele também aceita que a maior parte das mudanças tem origem intelectual e que as idéias são poderosos agentes transformadores. Os conceitos estão cronologicamente organizados em sete partes, desigualmente distribuídas: o primeiro capítulo cobre 20 mil anos, na era dos caçadores primitivos, ao passo que os últimos dois séculos merecem um capítulo cada um. Ainda assim, a maior parte das idéias tidas como importantes tem origens antiquíssimas. Como ele diz na introdução, "é humilhante para o homem moderno admitir que uma parcela tão grande de seu pensamento foi antecipada há muito tempo e que a modernidade acrescentou pouquíssimo a nosso equipamento intelectual básico".

A organização do livro permite uma leitura não linear, e cada página dupla que explora um conceito particular remete a outras idéias a ele vinculadas, assim como sugere leituras adicionais. Verdade que nem todas são idéias, no entendimento habitual do termo, pois comparecem hábitos ancestrais, como o canibalismo, ou práticas de governos que depois foram formalizadas por "filósofos morais", como o mercantilismo. Ainda assim, o livro mapeia um conjunto impressionante de princípios norteadores de nosso tempo, tirados de todas as épocas e várias sociedades. Para os que crêem que o capitalismo é uma noção tipicamente ocidental, desenvolvida nos últimos cinco séculos, vale conferir a defesa que o filósofo indiano fundador do jainismo, Mahavira, do século VI a.C., fez da criação de riqueza, estimando que o rico trabalha "para que muitos desfrutem dos seus ganhos". Esse verbete remete tanto a Karl Marx como a Milton Friedman e Max Weber, cuja tese sobre as "afinidades eletivas" entre capitalismo e protestantismo é considerada "desacreditada".

O livro começa por desmistificar a idéia de que "mentes primitivas" não possam ter idéias brilhantes, relativizando a noção de progresso. Termina pelo conceito de aldeia global, ou seja, a idéia do pluralismo cultural, remetendo ao pensador Isaiah Berlin: para ele existe uma "pluralidade de valores", que são inúmeros mas não infinitos, o que difere do relativismo cultural. Os antiglobalizantes, que lutam contra a dominação mundial do capital, são contrários ao "pensamento único". Suas idéias são provavelmente inexeqüíveis na sociedade capitalista abrangente e multiforme. Esta é a mensagem final do livro: "O pluralismo é obviamente o único futuro prático para um mundo multiforme. Talvez seja o único interesse uniforme que todos têm em comum". Esta é a sociedade humana: unidade na diversidade.

Enfrentando ostras em Paris (sorry, gourmets)

Sorry, gourmands e gourmets que por acaso frequentam este blog.
Não resisti a esta oportunidade para tripudiar sobre alguns famintos e desnutridos, publicando esta foto com meu esporte atual favorito: praticar gastronomia diferente a cada dia.
Ontem foi num restaurante japonês ao lado do hotel: sopa, salada japonesa, brochete de frutos do mar (vieira, camarão, salmão), cerveja japonesa Asahi.
Hoje foi num restaurante chamado justamente
Restaurant de Haute Mer (bar a huitres de St. Germain)
no número 33 da rue Saint Jacques, próximo ao boulevard St. Germain, perto do Metro Maubert-Mutualite, quase na esquina da rua Dante (sim, o poeta).
Começamos com uma bisque de crevette, como entrada, depois enfrentei as ostras de Noumoutier (dentre as muitas outras qualidades oferecidas, grandes, pequenas, gigantes); apenas no limão e com uma pequena vinaigrette rose, com cebolas. Posto aqui a foto de um momento culminante (não conseguia olhar para a câmera), feita por Carmen Lícia.

Depois fui de Saumon a la planche, e Carmen Lícia de Dourade grillé, ambos com um molho insuperável e purée de pommes de terre, que é o nosso purê simples.
O vinho foi um blanc Macon-Villages Geoges Dubeuff 2007, bem geladinho, e uma garrafa de Perrier bleue.
Terminei com um meio abacaxi (mas não foi o melhor), e um café.
Preço final, no cartão: Euros 98,40.
Existem, obviamente, muitos outros lugares para se comer frutos do mar, e especificamente ostras em Paris, inclusive o Grand Café des Capucines, no boulevard do mesmo nome, perto da Opera (onde pretendemos ir uma noite), mas este restaurante é um dos melhores que vi.
A carta está todo no iPad2, e você vai clicando e tendo fotos de cada prato, escolhendo dentre as muitas variedades de vinhos, etc.
Dois velhotes ao nosso lado tinham alguma dificuldade com a tecnologia, mas o garçon foi ajudando-os a clicar nos lugares certos...
Fica a dica (mas a conta pode desequilibrar orçamentos mais reduzidos).

Da minha serie de "manchetes idiotas": essa foi forte...

Em Cuba só existe um único jornal, o do Partido Comunista Cubano. Os próprios cubanos acham que ele não é o ideal para usar como... vocês sabem o que, quando se vai ao banheiro. Mas o que se há de fazer se os planos econômicos da ilha-prisão não conseguem colocar no mercado a quantidade certa de papel higiênico? Vai com o Gramna mesmo, incômodo como pode ser (inclusive nem vem picotado, para poder cortar na medida certa, e a tinta é muito... denunciativa...).
Mas a manchete, que ilustra a suprema idiotice de um site servil aos companheiros da ilha, é de Carta Maior, um apenas entre os maiores mentirosos dentre os sites dos companheiros...


Dilma chega a Cuba e é destaque de primeira página do Granma

Por que o Brasil ficou caro? Monopolios sao uma das razoes...

Um aviso circular de um ministério da República.
Eu só não compreendo por que, em lugar de estimular a concorrência, fazendo leilões para receber as melhores ofertas de preços para sua própria utilização, esse ministério prefere favorecer um monopólio, e ainda alertar os incautos que eles não podem usar qualquer outro serviço, sequer Skype.
Ou é mesmo para dar mais dinheiro a monopólios semi-estatais, ou é burrice consumada: 


"Operadora de longa distância nacional e internacional
A Dxx informa a todos os usuários do Ministério que a única empresa contratada e autorizada para fazer ligações de longa distância, nacional e internacional, tanto para telefonia fixa como telefonia móvel é a Embratel, cujo código é 21. Por falta de amparo legal, o uso de qualquer outra operadora será de responsabilidade única e exclusiva do usuário."


Isso ocorre em todo o Brasil, em todas as áreas: em lugar de concorrência, monopólio.
Em lugar de abertura dos mercados, cartéis autorizados pelo governo.
Em lugar de liberdade, escravidão.


Como já dizia Hipólito da Costa, duzentos anos atrás, o Brasil está condenado a ser um país de escravos.
Paulo Roberto de Almeida