No dia seguinte ao Natal terminei uma compilação de trabalhos publicados numa revista digital editada em Porto Alegre, com a qual colaborei entre 2006 e 2009, esta aqui:
3219. Um contrarianista no limbo: artigos em Via
Política, 2006-2009 (Brasília: Edição do Autor), Brasília, 26
dezembro 2017, 247 p. Compilação de três dezenas de escritos publicados em Via
Política, dentro as oito dezenas constantes do registro. Feito em formato pdf,
e divulgado através de Academia.edu (https://www.academia.edu/35509310/3219ViaPoliticaBook2006a2009.pdf),
informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/um-contrarianista-no-limbo-artigos-em.html)
e no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1759904837406292),
ou via Twitter (https://shar.es/1MV892).
Nesta data, 1 de janeiro de 2018, recebi este alerta de Academia.edu:
Se não for o scholar americano, pode ser uma contrafação. Em todo caso, fui verificar no Analytics e não achei nenhum registro em nome dele, mas nunca existem nomes, como se pode verificar abaixo.
https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida/Analytics/activity/documents/35509310
5 dias em
dezembro:
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Piracicaba
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Undergraduate
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Porto Alegre
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Brazil
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Colombo
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Brazil
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21:42 Dec 30
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Colombo
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Brazil
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Undergraduate
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Porto Alegre
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Brazil
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Graduate Student
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Unknown
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Poland
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Manaus
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Manaus
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Brazil
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Brasília
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Brasília
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Brazil
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student
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Petrolina
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student
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Brazil
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student of international relations
and diplomacy
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Caxias Do Sul
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Cuiabá
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Brazil
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Brazil
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2
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Graduate Student
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Porto Alegre
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Department Member
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Recife
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Recife
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Brazil
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Caxias Do Sul
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Brazil
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Recife
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Brazil
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Caracas
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Undergraduate
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Buenos Aires
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Argentina
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Emeritus
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Buenos Aires
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Belfast
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the United Kingdom
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Guarujá
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Brazil
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Brasília
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Brazil
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Brazil
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researcher
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Maputo
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Mozambique
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2
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15:36 Dec 26
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Belfast
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the United Kingdom
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researcher
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Maputo
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Mozambique
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Glew
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Argentina
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Israel
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Israel
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Alumnus
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Unknown
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Rio De Janeiro
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Brazil
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Brazil
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O Sumário e a apresentação seguem abaixo:
Índice
Apresentação: Resquícios de
um quilombo de resistência intelectual 11
O Brasil e os problemas brasileiros
1. Dicionário
político dos novos pecados capitais 17
2. Prioridades
possíveis em uma administração racional 19
3. Uma verdade
inconveniente: pode o Brasil crescer 5% ao ano? 24
4. Reflexão
pessoal sobre as relações entre Estado e governo 30
5. Pequeno manual
prático da decadência 33
6. Prometeu
acorrentado: o Brasil amarrado por sua própria vontade 45
7. Algumas coisas simples que deveríamos
ter no Brasil 52
8. Como criar uma nação de assistidos 54
9. Duro de crescer: obstáculos políticos
ao crescimento no Brasil 57
10. Presença da universidade no desenvolvimento:
perspectiva histórica 68
11. O afundamento da educação no Brasil 73
12. O problema da universidade no Brasil: do público ao privado? 81
13. Fim de consenso na diplomacia? 87
O mundo e seus problemas
14. O Brasil no índice dos Estados falidos 91
15. América do Sul: desintegração política e à fragmentação
econômica? 97
16. O papel dos BRICs na economia mundial 106
17. Fórum Social Mundial: propostas idealistas, grandes
equívocos 112
18. Socialismo do século XXI?: apenas para os incautos... 123
19. Sete teses impertinentes sobre o Mercosul 127
20. Terrorismo islâmico-fundamentalista: uma
quarta guerra mundial? 132
21. Duzentos anos da vinda da família real: o que
Portugal nos legou? 136
22. Um outro Fórum
Social Mundial é possível… 151
23. O império
americano em sete teses rápidas 159
24. O império e sua
segurança: quatorze novas teses 164
25. O Brasil e o cenário
estratégico mundial: breves considerações 173
26. O legado de Henry Kissinger 177
27. Pequena lição de Realpolitik
182
28. Bric:
anatomia de um conceito 187
29. Fórum
Surreal Mundial: globalizados contra a
globalização 217
Apêndices
30. Relação dos artigos publicados em Via Política,
2006-2009 237
31. Livros de Paulo Roberto de Almeida 242
32. Nota sobre o autor 245
Resquícios de um quilombo de resistência
intelectual
Considero os trabalhos reunidos neste volume, que de outra forma
poderiam ser chamados de “crônicas do limbo,” como remanescentes de alguns dos
meus quilombos de resistência intelectual, quando eu estava reduzido a um
ostracismo funcional, ou seja, confinado a uma espécie de limbo institucional
por razões que muitos sabem quais foram, mas que talvez não seja o caso de
discutir aqui. Em todo caso, basta informar que, convidado no início de 2003 a
assumir a coordenação do mestrado em diplomacia do Instituto Rio Branco, fui
“desconvidado” logo em seguida, por motivos obscuros mas que podem ser
deduzidos mediante uma simples consulta à lista de minha produção acumulada
desde muitos anos. O fato é que, desde então, e pelos 13 anos seguintes,
permaneci sem qualquer função na Secretaria de Estado, uma travessia do deserto
que apenas foi interrompida com o impeachment de certa senhora. Tudo coincidência,
claro.
Enterrado um regime, iniciado um outro, retomei meus trabalhos,
não exatamente na Secretaria de Estado, mas numa função de corte acadêmico, que
por acaso coincide com meus interesses intelectuais. Durante aquele longo
período – do início de 2003 a meados de 2016 –, frequentei, ou criei, vários
tipos de “quilombos”, que eu chamei de “resistência intelectual”, em geral sob
a forma de blogs, que eu mantinha e alimentava com objetivos variados: resenhas
de livros, transcrição de escritos alheios, usos tópicos diversos (por ocasião
de eleições presidenciais, por exemplo), e mais frequentemente para finalidades
pessoais (como o DiplomataZ, entre vários
outros), ou blogs de caráter geral, dos quais o mais constante, e até hoje em
uso, é o Diplomatizzando.
Num desses quilombos, ou fora deles, a verdade é que eu estava no
limbo, o que até pode parecer anacrônico, uma vez que a Cúria do Vaticano
parece ter extinguido esse “território” muitos anos atrás. Enfim, sempre podem
subsistir limbos virtuais. O limbo, segundo os dicionários, representa, na
teologia cristã, uma região próxima do inferno, um refúgio para as almas dos
homens bons, que viveram antes da chegada de Cristo, e para as almas das
crianças falecidas não batizadas. Num sentido civil, pode aproximar-se de uma
espécie de prisão, ou confinamento, o que deve ter sido o meu caso. No sentido
mais comum do termo, seria um lugar ou a condição de negligência ou de esquecimento aos quais
seriam relegadas coisas ou pessoas não desejadas. Estas são, em todo caso, as
definições que retiro do Webster's New
Universal Unabridged Dictionary (2nd edition; New York: Simon and Schuster,
1979), p. 1.049. Os muito curiosos por outras significações, ou por explicações
mais detalhadas, podem procurar o verbete na Wikipédia.
Retomemos o meu caso. Consciente do ostracismo que me foi imposto,
por decisões provavelmente políticas (ainda que não declaradas), continuei a
fazer o que sempre fiz, no decorrer de toda uma vida dedicada a uma atividade
fundamental: ler, refletir, escrever, eventualmente divulgar meus escritos
pelos meios disponíveis. Estes meios não eram muitos; ao início, na verdade,
nenhum, uma vez que eu só dispunha, em 2003, de meu próprio site pessoal (www.pralmeida.org), que se
destinava unicamente a divulgar alguns trabalhos acadêmicos, em temas sobre os
quais eu era frequentemente consultado por estudantes, jornalistas ou colegas
acadêmicos: integração regional, política externa brasileira, relações
internacionais de modo geral. O site pessoal era um instrumento passivo, pois
nunca fiz dele um instrumento de comunicação, ou plataforma para qualquer outro
objetivo, senão a compilação de trabalhos de natureza intelectual, que
refletiam essa minha produção de tipo acadêmico. A partir de certo momento,
para facilitar o trabalho de carregamento e disponibilização de trabalhos mais
curtos, passei a utilizar a ferramenta dos blogs, o único free lunch real, conhecido sob o capitalismo.
Por inépcia pessoal, incompetência técnica notória, tive vários
deles, sucessivos, até conseguir estabilizar no Diplomatizzando, sem que todos os demais tivessem sido desativados;
foram apenas sendo deixados de lado, para não complicar muito a vida. O fato é
que comecei a postar um volume crescente de materiais suscetíveis de atrair a
atenção de um número maior de leitores, e até de “editores” de ferramentas
semelhantes ou até de instituições de ensino e pesquisa espalhadas pelo Brasil.
De várias recebi convites para colaborar, o que procurei atender na medida de
minhas possibilidades e, sobretudo, interesse no tipo de veículo, seu perfil
social e nicho de interesse intelectual.
Um deles foi a revista eletrônica Via Política (Porto Alegre), animada pelos
jornalistas gaúchos Omar Luiz de Barros Filho e Sylvia Bojunga, que me
localizaram em algum momento do início de 2006 e formularam o convite para que
eu colaborasse. Refleti por algum tempo, sobre se deveria aceitar ou não, e
resolvi colaborar, tanto porque havia sido contatado quase simultaneamente por
dois outros veículos online de comunicação, e também porque, desde 2001, já
contribuía mensalmente com a revista digital Espaço Acadêmico, um bem sucedido empreendimento editorial mantido
em condições quase artesanais pelo professor Antonio Ozaí, da Universidade de
Maringá, no Paraná. Depois de ter inaugurado minhas colaborações mensais nessa
revista por um texto – “Dez novas regras de diplomacia” – que deve ter sido o
mais acessado de toda a minha produção acadêmica (na verdade diplomática), continuei
durante dez anos com meus artigos provocadores (ao ambiente de gramscismo
disseminado), até que o corpo editorial deve ter se cansado de meus ataques à
nossa miséria acadêmica e resolveram dispensar-me dos colaboradores regulares.
Ufa! Poupou-me uma obrigação adicional.
Em Via Política, com
total liberdade de colaboração, cheguei até a dispor de uma coluna dedicada e
especial, que reproduzia o título de um dos meus blogs na ocasião – a
“Diplomatizando”; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando
– e mandava minhas contribuições a intervalos regulares, embora sem uma
periodicidade fixa. No total, salvo engano de registro, contei 87 publicações,
mas pelo menos duas delas foram longos artigos divididos em postagens diferidas
ao longo de algumas semanas, como foi o caso de um ensaio sobre o Brics e uma
análise das parvoíces do Fórum “Surreal” Mundial (que parecem ter desaparecido
da paisagem, mais por falta de dinheiro oficial do que de besteirol à
disposição dos incautos).
Nesta minha seleção
ilustrativa, escolhi três dezenas de trabalhos, reproduzidos neste volume de
compilação (nem sempre fiel aos textos efetivamente publicados, pois que
buscados nas minhas pastas de “originais”, organizadas ano a ano. Creio que
podem ser considerados os trabalhos mais representativos, e ainda válidos, de
minhas reflexões e de minha produção intelectual nesses anos em que me
encontrava afastado de qualquer atividade funcional na Secretaria de Estado ou
de postos no exterior. Depois da decisão de efetuar o “renascimento” desta
colaboração com um blog infelizmente já desaparecido, comecei a pensar em como intitular esta
nova série de trabalhos atinentes às minhas pesquisas, reflexões e escritos. Diferentes
opções estavam à disposição deste autor: crônicas do deserto, do cerrado, do
agreste, ou qualquer outro conceito denotando uma situação áspera, difícil, de
isolamento ou de dificuldade, enfim, algo conforme às minhas condições naquele
período.
Resolvi então adotar o que era mais característico quanto ao autor
e sua situação: um “contrarianista” – ou seja, alguém não absolutamente
contrário a tudo o que vê, ou encontra, mas praticando o que eu sempre chamei
de “ceticismo sadio” – ,“no limbo”, pois esta era, efetivamente, a minha
situação naquele momento. Esta foi, pois, a decisão de deixar registrados trabalhos
de uma fase já passada, mas que ainda pode voltar a ocorrer novamente, pois
nunca se sabe que tipo de complicações esses contrarianistas profissionais
podem criar para si mesmos, em termos de projetos de vida, tanto pelo lado
profissional, como pelo lado acadêmico ou pessoal. Acredito que as pessoas são responsáveis,
em grande medida, pelo seu próprio destino, na medida em que fazem escolhas,
adotam posturas, assumem atitudes que as colocam em maior ou menor conformidade
com o seu meio social, com o seu ambiente profissional, com o seu universo de
relacionamentos e interações. Sou o resultado de minhas próprias escolhas,
ainda que outros possam ter contribuído, direta ou indiretamente, para minha
condição, em determinados momentos de minha carreira profissional ou itinerário
acadêmico.
Não pretendo lamentar nada, ainda que exercícios de autorreflexão
e revisões críticas de trajetórias passadas e presentes sejam sempre
desejáveis, na perspectiva de corrigir o que está errado e impulsionar caminhos
mais atrativos, ou interessantes. Ao refletir sobre esse tipo de situação, em
dezembro de 2006, ao confirmar-se o limbo no qual eu andava metido, escrevi num
dos textos pessoais: “Vou estabelecer, neste final de ano [2006], um plano de
trabalho para enfrentar os próximos meses, talvez anos, de travessia do meu
deserto particular”. Não sabia, naquela momento, que o limbo teria a exata
duração de dez anos, durante os quais preferi ficar com minha consciência e em
defesa de certos princípios e valores, do que aderir a um governo que sempre
considerei um desastre no plano econômico, político, institucional, e até ético
e moral. Acho que eu não estava errado a este respeito, como constatamos pelos
incontáveis processos, delações, investigações sendo feitas e casos sendo
julgados atualmente no Judiciário.
O Brasil atual, de certo modo, me dá vergonha, pelo aspecto de
corrupção impune a que se assiste. Mas, por outro lado, existem pessoas e
instituições lutando para que tal vergonha seja corrigida, punida, senão
eliminada, pelo menos limitada. É isso que eu sempre procurei fazer através de
meus escritos e publicações. Eles não são fortuitos, ou puramente
circunstanciais. Eles traduzem um compromisso com certos princípios de vida,
com certos valores que julgo importantes, para minha geração e as que se
seguirão nas décadas seguintes, agora representadas por meus filhos e netos.
A palavra limbo talvez não é mais adequada à minha situação atual.
Ela fica, em todo caso, como conceito chave destas minhas crônicas de um
período especial, hoje felizmente superado, mas que talvez possa voltar pelo
lado de um contrarianismo sempre presente em meus textos. Nesse caso, eu talvez
tenha de escolher algum substantivo mais apropriado. No momento este é o que me
convém para expressar estas contribuições a um dos muitos veículos com os quais
colaborei ao longo dos anos.
Paulo Roberto
de Almeida
Brasília, 26 de
dezembro de 2017