O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Livre comercio faz progressos... na Asia Pacifico: Brasil e EUA de fora, China lidera - Marcos Troyjo

A China é uma perfeita autocracia no plano polįtico. No plano econômico, ela é mais capitalista que o Vrasil, muito mais livre economicamente, bem mais aberta e amigável a negócios. Brasil e Estados Unidos vão ficar para trás...
Paulo Roberto de Almeida

Alca não, Alcap

Marcos Troyjo

Folha de S. Paulo, Sexta, 7 de novembro de 2014

Ajudada pela conjuntura, a China está prestes a aplicar nos EUA um golpe de mestre em termos de estratégia diplomático-comercial.

Pequim proporá a criação da Alcap (Área de Livre Comércio da Ásia-Pacífico). A iniciativa será formalizada nesta semana na capital chinesa durante a cúpula de chefes de Estado da Apec, bloco que congrega países banhados pelo Pacífico nas Américas, Ásia e Oceania.

Desde o anúncio de que sua política externa promoveria um "pivô para o Pacífico", Washington pouco realizou em termos de sua suposta prioridade diplomática na Ásia. E, agora, esse "timing" da iniciativa chinesa não poderia ser pior para Obama.

Recorrentes tensões no Oriente Médio e na complexa equação Rússia-Ucrânia consomem foco dos EUA que deveria lançar-se sobre a Ásia. Pior ainda, os republicanos acabam de obter importante vitória no Congresso dos EUA, o que atravancará qualquer projeto mais ambicioso de Obama para a política externa.

Com a nova configuração de forças em Washington, dificilmente Obama conseguirá avanços significativos na meganegociação comercial que vem mantendo com a União Européia. No Pacífico, a proposta de um parceria de investimentos e comércio por parte da Casa Branca, que até agora excluía Pequim das conversações, também perderá força.

Países de renda mais baixa no Pacífico sentem-se cada vez mais atraídos ao campo magnético chinês. Além de sediar o futuro banco dos Brics, a China também acaba de lançar uma nova agência para investimentos em infraestrutura na Ásia, que tem tudo para desbancar tradicionais veículos nipo-americanos como o Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB). 

Desde sua fundação nos anos 60, o ADB sempre teve um japonês como seu presidente e contabiliza mais de 30% de seu capital no poder decisório de Tóquio e Washington. Reproduz, assim, o ridículo compadrio também observado no FMI e no Banco Mundial, onde a chefia executiva sempre cabe, respectivamente, a um europeu e um norte-americano.

Se Obama insistir em sua visão de integração econômica do Pacífico sem a China, arrisca mostrar-se em confronto comercial aberto com a principal potência econômica da Ásia e segunda maior do mundo. 

Caso aceite embarcar num processo liderado por Pequim, a mera ideia de uma área de livre comércio com a China embrutecerá os mais duros setores protecionistas de empresas e sindicatos nos EUA, cujos interesses encontram-se bem encastelados no Capitólio.

Obama concluirá sua presidência sem consolidar novas áreas de cooperação econômica nos dois oceanos moldadas a partir da liderança dos EUA. Estes aparecerão à opinião pública global como mais protecionistas -- e a China mais aberta a abraçar o livre comércio.

Nesse jogo de xadrez, é intensa a movimentação de potências do Pacífico para inserir-se competitivamente em cadeias de valor. Integrar geometrias comerciais dinâmicas é absoluta prioridade.

As Américas desperdiçaram a oportunidade de desenhar a sua Alca. Já a Ásia, de uma forma ou outra, terá a sua Alcap.

Porque nao se deve aceitar a desonestidade intelectual de votantes esclarecidos - Marcelo Viveiros de Moura

PORQUE NÃO CONSIGO ENGOLIR O VOTO “ESCLARECIDO” EM DILMA

Blog Prosa e Política

 Um texto de Marcelo Viveiros de Moura

marcelo viveirosPrezados,

Eu relutei muito em escrever isso, por várias razões. Em primeiro lugar, porque tenho amigos que são petistas ferrenhos. Pessoas que estudaram comigo, amigos mais recentes, pessoas de quem gosto e que admiro e que já manifestaram o voto “esclarecido” em Dilma.

Em segundo lugar, porque sei que vou atrair para mim uma saraivada de comentários preconceituosos e de discussões acaloradas, muitas vezes irracionais. Entretanto, acho que estamos em um momento crucial para o país e não podemos nos furtar a nos manifestar (enquanto podemos fazê-lo livremente…).

Vou começar dizendo que respeito – e muito! – o voto que chamo de “não esclarecido” em Dilma. É o voto típico do cidadão que no máximo tem o ensino fundamental e é habitante das cidades com menos de 50.000 habitantes, em especial do Nordeste, onde Dilma tem maioria absoluta. Esse cidadão é beneficiário dos programas sociais do Governo e vota com medo de perder esses programas, como martelado pela propaganda petista.

Esse cidadão não entende que independência do Banco Central não vai tirar comida da mesa dele. Esse cidadão acredita que o PSDB vai cortar os programas sociais, vai discriminar pobres, negros e nordestinos e vai piorar a vida dele. Esse cidadão não entende o que é o “mensalão” e o “petrolão” e acha que todo governo é mesmo corrupto. Enfim, esse cidadão acredita que a Marina é vendida aos banqueiros, que o Aécio é um “filhinho de papai” que bate em mulher, que a Dilma é uma gerente eficiente e tudo o mais que o João Santana lhe impinge todos os dias, em programas de televisão caríssimos.

Entretanto eu não respeito – sinto, não respeito, mas acato por amor à democracia – o voto na Dilma do cidadão urbano, das cidades com mais de 500.000 habitantes e nível de escolaridade superior. Os argumentos são muitos.

Em primeiro lugar, desonestidade intelectual. Qualquer um que colabore com essa campanha sórdida que o PT está fazendo de desconstrução dos adversários e de mentiras deslavadas sobre tudo e sobre todos é intelectualmente desonesto.

Eu fico realmente incomodado quando vejo pessoas inteligentes e supostamente esclarecidas tentando defender que o petrolão é a mesma coisa que o aeroporto (vai, faz por pista de pouso!) de Cláudio, que é necessário um “marco regulatório” para a imprensa, que é dominada pela “direita”, que a economia está ruim por conta da crise mundial, que o voto em Dilma é “progressista” e que o voto em Aécio é “conservador” ou “reacionário”.

O “mensalão”, como agora o “petrolão”, têm uma importância crucial neste país. Obviamente, não é a corrupção “comum”, para fazer mais rico o Paulinho, amigo do Lula e convidado do casamento da filha da Dilma. Não é uma empresa comprando a fábrica de videogames do filho do Lula por vários milhões,para depois deixá-la falir. Não, o objetivo dos desvios em uma companhia aberta de economia mista, em que recentemente os trabalhadores foram chamados a investir com o saldo dos seus FGTS é um só: fazer caixa para o partido e para as campanhas eleitorais e corromper parlamentares e governadores (inclusive, aparentemente, do PSDB) para que ajam como o governo quer. Isso é muito, mas muito mais grave do que o Paulinho ficar rico às nossas custas! Isso é um projeto de tomada e manutenção do poder por um grupo e só não vê quem não quer! Isso é corroer as instituições do país para manutenção  de um grupo no poder. Só isso, por si só, seria motivo para a Dilma não ter nenhum voto “esclarecido” e para a população, desta vez com muito mais razão, ir às ruas protestar.

Um partido que teve sua cúpula julgada e condenada pela mais alta corte do país e que, logo depois se vê envolvido em outro escândalo de ainda maior monta, agora de desvio de recursos da maior empresa do país para o mesmo fim não poderia receber um voto “esclarecido” sequer! A menos que sejam daqueles que coadunam da idéia de que os meios justificam os fins e que vale tudo para chegar ao nirvana da esquerda (que coisa mais antiga isso, de direita e esquerda…).

A pista de pouso (sim, porque chamar de aeroporto é até engraçado) de Cláudio chega a ser pueril neste contexto. Pode-se discutir se Cláudio comporta ou não uma pista de pouso de R$ 18 milhões e se o Aécio se beneficia ao pousar lá quando vai para a fazenda da família. Talvez não devesse mesmo ter sido construída.
Mas só o Paulinho está devolvendo aos cofres públicos R$ 70 milhões, meu Deus! Isso para não falar dos bilhões que foram parar (segundo o Paulinho) nos cofres do partido. Comparar uma coisa com a outra é desonestidade intelectual.

Quem elegeu o Paulinho? O acionista controlador, leia-se, a União. Quem era o Presidente do Conselho de Administração na gestão do Paulinho? A atual Presidente da República. Qual é uma das funções do Conselho de Administração? Fiscalizar a gestão dos diretores. Como o Paulinho foi demitido? Ele renunciou e recebeu do acionista controlador agradecimentos penhorados pelos “relevantes serviços prestados”. Cadê a nossa “gerenta”? Ela não sabia? Nunca ficou sabendo que o Paulinho dava dinheiro para o partido dela e para a campanha dela e para comprar apoio para ela? Alguém acredita nisso? Alguém acredita que foi ela que “mandou investigar”? Alguém acha que as combinações de perguntas e respostas na CPI da Petrobrás não é um ataque às nossas instituições e que a “gerentona”, de novo, não sabia que um funcionário do Planalto participou disso?

Agora, se querem comparar o aeródromo de Cláudio com alguma coisa, quer uma comparação que faz sentido? O financiamento à construção do aeroporto de Havana, do metrô de Caracas ou do porto de Mariel. Porque cargas d’água um país que tem o déficit de infra-estrutura que nós temos está financiando a construção de infra-estrutura em outros países? Ah, é para a exportação de serviços das empreiteiras brasileiras e criação de empregos no Brasil, diz a Dilma, são elas que estão sendo financiadas, não o Governo dos países “amigos” (amigos de quem, cara pálida?).

Mas é isso mesmo? Quem é o cliente das empreiteiras? Se a empreiteira recebe o dinheiro do BNDES para construir a infra-estrutura, quem paga o BNDES? Ah, o cliente. Quem é o cliente? Ah, os governos desses países. Alguém acha mesmo que a pujante economia caribenha vai devolver US$ 2 bilhões aos cofres do BNDES? Ou vai-se fazer a mesma coisa que se fez com as ditaduras africanas, ou seja, perdoar a dívida? Ah, mas e o aeroporto de Cláudio? Faça-me o favor, respeite o meu intelecto: prefiro que se faça aeroporto em Cláudio, que é no Brasil do que em Havana, que é em um país estrangeiro. Cláudio fica no Brasil, em Minas Gerais e só vai servir a brasileiros (nem que sejam os da família Tolentino). O aeroporto de Havana só vai servir aos cubanos (aliás, nem a eles, pois eles não podem muito usar o avião).

O marco regulatório para a imprensa é outro assunto interessante. A ideia, diz-se, é cumprir a Constituição de 1988, que proíbe monopólios e oligopólios no setor. Para tanto, é necessário um marco regulatório. Ué, mas existe oligopólio ou monopólio no setor? Onde? Antes de responder, sugiro que leiam com cuidado a definição de oligopólio e monopólio. E se, ainda assim, quiserem considerar que temos um, ou outro, não existe um sistema de defesa da concorrência criado em 1994 exatamente para combater monopólios e oligopólios? Para que serve o CADE?

Ah, então, qual é mesmo o objetivo do marco regulatório? É óbvio que é um só: controlar conteúdo, para que o Bonner e a Miriam Leitão, nas palavras do nosso guia, não falem mal da Dilma na televisão.

A imprensa no Brasil é tão golpista e vendida para a chamada “direita” que aquele sujeito presidente do MTST que defende o aumento da cobertura de celulares nas periferias entre outras pérolas, virou colunista da Folha. Ah, mas isso é só para a Folha posar de moderna, dizem os xiitas do PT, no fundo ela é vendida também. Em outras palavras, querem sim controlar o conteúdo, que eles reputam controlado por outros que não eles.

Crise econômica. Vamos combinar que estamos vivendo uma crise econômica com 7% de inflação (com preços represados) e 0% de crescimento? Não, não podemos combinar isso, pois a turma do PT entende que não há crise, pois não há desemprego e que só não crescemos mais porque a “crise mundial” não deixa. Mas, espera, não é verdade que os EUA cresceram 4%? E a China cresceu “só” 7%? E que o Brasil só cresce mais que, surpresa, Venezuela e Argentina na América do Sul? Que crise mundial é essa?

E quanto ao desemprego? Se a indústria está parada, se o comércio não vende, se as famílias estão endividadas e há, ainda assim uma inflação de 7% por quanto tempo o emprego vai se manter? Alguém já viu manutenção de emprego sem que a economia estivesse rodando?

Ah, mas o governo é desenvolvimentista (outra palavra muito usada, junto com neoliberal quando se fala nos “tucanos”), vai gastar mais do dinheiro que não tem no BNDES para gerar emprego. Por mais incrível que pareça, a Dilma, torturada pela ditadura, segue o modelo que os nossos generais seguiram e que deu na hiperinflação dos anos 80.

Como pode o governo querer fazer girar toda a roda da economia sozinho? Vai continuar a escolher nossos “campeões nacionais”, como o Eike, para investir e dizer que são exemplos de empresários? Vai continuar a gerar emprego exportando dinheiro que não temos para construir infra-estrutura em países periféricos?

Eu gostaria muito que alguém citasse um modelo de país que estamos seguindo. É a Venezuela, Argentina, China, Cuba, Angola, Russia, em que país nos espelhamos no nosso desenvolvimentismo? Que país deu certo com essa receita macroeconômica? Em que condições? O modelo desenvolvimentista é dos anos 50, foi testado no Brasil nos anos 70 e foi um fracasso. No momento, o modelo “desenvolvimentista” conseguiu desenvolver o PIB em 0% e aumentar a inflação para 7%. Sinto, mas o nome disso não é desenvolvimento é estagflação…

O voto em Aécio é “conservador” e “reacionário”. Espera aí! Quem está no governo há doze anos e quer se manter? Conservador é votar no que está aí, é conservar o status quo, não? Querer alternância de poder é ser conservador? Reacionário?

Quem tem o apoio do Collor, do Sarney, do Renan Calheiros? Quem tem o apoio da Marina, do Eduardo Jorge, da família Campos? Quem representa a novidade na política?

Mas os PTistas têm o monopólio da bondade e são progressistas. Meus intelectuais e artistas são melhores do que os seus. O Chico Buarque e o Gregório Duvivier são modernos e progressistas. O Wagner Moura e o Luis Eduardo Soares são reacionários. Poupe-me!

Finalmente, essa falácia de que o Aécio é um filhinho de papai mimado que quer ser Presidente por direito divino. A Dna. Dilma, “enfant de Sion” não é filhinha de papai, porque ela pegou em armas na juventude contra a ditadura e foi torturada (a Miriam Leitão também, mas ela não conta porque segundo o grande guia fala mal da Dilma). O que mais a Dilma fez mesmo?

Que outro cargo, que não fosse indicado por alguém, ela exerceu? Que importância ou protagonismo ela teve até ser chefe da casa civil do Lula e ser alçada reconhecidamente como um “poste” para presidir o Brasil?

O Aécio, jovem, já fazia política no movimento Diretas Já, ao lado do avô que, sim, foi um dos melhores políticos que esse país produziu. O Aécio foi Governador de Minas entre 2003 e 2010, foi Deputado Federal por quatro mandatos, foi Presidente da Câmara dos Deputados e Senador da República, com a maior votação do Estado. Saiu do Governo de Minas com aprovação de 90% da população. Esse é o CV de um “filhinho de papai”? É esse sujeito que o PT demoniza em público, como se fosse um playboy desmiolado? Não há aí preconceito de classe? Só existe preconceito do rico com o pobre no Brasil, não existe preconceito contra o rico neste país?

Por tudo isso, por todo esse discurso falso e ideológico, cujo único objetivo é o poder pelo poder, que eu não respeito o voto “esclarecido” no PT, embora o aceite porque é assim que funciona a democracia e como dizia Churchill, a democracia é o pior regime que existe, exceto por todos os outros (embora eu não ache que a turma do PT vá concordar com essa frase também).

Enfim, desculpem o longo desabafo, mas não quis me furtar a declarar o que eu penso de tudo isso que estamos lendo diariamente nas redes sociais.

Marcelo Viveiros de Moura

Economia companheira fez o Brasil estagnar: pobres e miseraveis aumentaram - Reinaldo Azevedo

Sabem por que a miséria cresceu? Porque o modelo petista morreu! O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procriaReinaldo Azevedo, 6/11/2014

O Brasil elegeu um governo que já nasce morto, infelizmente! O PT não tem mais nada a oferecer ao país. Os dados sobre miséria e pobreza coligidos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad, do IBGE, indicam que, de 2012 para 2013, o número de miseráveis no país cresceu: de 10,081 milhões para 10,452 milhões — um acréscimo de 371.158 pessoas. Os dados estão no site do Ipea, órgão subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). O instituto, por orientação da SAE, escondeu esses dados durante a campanha eleitoral alegando que a lei impedia que fossem divulgados. É mentira. Foi só uma trapaçazinha eleitoral.
O que é um miserável? É a pessoa que não tem renda para suprir as suas necessidades calóricas mínimas. O que isso quer dizer? É uma perífrase da fome. Sim, no país de cartão-postal da propaganda eleitoral petista, ainda há quase 11 milhões de famintos.
Segundo o Ipea, o número de pessoas pobres teve uma queda no período: de 30,35 milhões para 28,69 milhões em 2013. O que é um pobre? É aquele que tem o dobro da renda do miserável. Vale dizer: consegue ao menos comer. No país das Alices petistas, pois, há praticamente uma Argentina (perto de 40 milhões), em que quase 29 milhões conseguem ao menos comer — e só — e mais de 10 milhões, nem isso. Onde eles estão? Mais da metade, no Nordeste, que concentra, por isso mesmo, o maior percentual de beneficiários do Bolsa Família e onde o terrorismo eleitoral petista foi mais eficiente. Como escrevi numa coluna da Folha, a culpa não é do Nordeste, é da pobreza.
Mas há outro corte igualmente desagradável para o governo Dilma, que lançou o tal programa Brasil sem Miséria. Segundo esse programa, a linha de corte para definir um miserável, creiam, é R$ 77. Com R$ 78, ele será apenas um pobre… Pois é. Caso se leve esse número em conta, os miseráveis cresceram de 3,6% para 4% e são agora 8,05 milhões de pessoas — 870.784 pessoas a mais.
É claro que, um dia, ainda vamos nos indignar com uma “elite” (né, Lula?) que considera que o sujeito se livra da miséria com R$ 78. Mas vá lá. Volto ao começo. Digo que o país reelegeu um governo já morto porque parece evidente que os mal chamados “programas de renda” (eu acho que o Bolsa Família é assistencialismo necessário, não programa de renda) já deram o que tinham de dar.
É claro que a inflação corroeu parte do ganho dos muito pobres — a velha inflação, tão tolerada pelo governo. Segundo a candidata Dilma, só é possível diminuí-la gerando desemprego, lembram-se? Gênio da raça. Mas há uma questão de fundo: se o país não voltar a crescer a níveis aceitáveis, há pouco a fazer com os miseráveis, com os muito pobres, a não ser tentar expandir ainda mais os programas assistencialistas, aumentando o número de cativos. E, ainda assim, ficarão sujeitos à incompetência gerencial — esta mesma que flertou com a inflação e puniu quem menos tem.
Enquanto o país foi beneficiado por um ciclo da economia mundial que lhe permitiu ancorar o crescimento no consumo — deixando de lado todos os outros fundamentos da economia —, foi possível crescer um pouco e minorar os extremos da miséria. Mas falta muito, muito mesmo!, para vencer a pobreza. O Brasil “de classe média” é uma fantasia estatística. É preciso alargar muito o conceito para chegar a essa conclusão.
O país precisa voltar a crescer. E, até onde a vista alcança, o PT não sabe como fazê-lo sem gerar mais inflação. De maneira realmente desafiadora para a inteligência, tem conseguido o contrário: crescer perto de zero com inflação alta. Dilma foi eleita pelos pobres, como quer o petismo? Como se vê, pior… para os pobres.
A miséria cresceu porque o modelo petista morreu. O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procria, como escreveu o poeta.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Shadow diplomacy bolivariana (e bota shadow nisso...): Itamaraty, o ultimo a saber...

Itamaraty questiona Venezuela sobre acordo com MST
VEJA.com, 6/11/2014

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, chamou na quarta-feira o encarregado de negócios da Venezuela, Reinaldo Segovia, para manifestar a insatisfação do governo brasileiro com as atividades do vice-presidente e ministro para o Poder Popular das Comunas e Desenvolvimento Social, Elías Jaua, no Brasil. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira.
Figueiredo afirmou a Segovia que o governo brasileiro viu com “estranheza” o fato de Jaua ter vindo ao país sem informar e ter tido uma agenda de trabalho, inclusive com assinatura de acordos, e que isso poderia significar uma “interferência nos assuntos internos do país”. Figueiredo cobrou explicações do governo venezuelano.
De acordo com o ministro, o diplomata foi informado de que o Brasil considera que “o fato não se coaduna com o excelente nível das relações entre os dois países”. A decisão de chamar o representante diplomático da Venezuela – o embaixador está viajando – foi conversada com a presidente Dilma Rousseff depois de ter virado notícia o fato de Jaua ter usado seu tempo no Brasil, em que teoricamente estaria acompanhando a mulher em um tratamento médico, para assinar um convênio com o Movimento Sem Terra (MST), além de outras ações relativas a seu cargo de ministro.
A visita silenciosa de Jaua, que não informou o Itamaraty sobre a sua viagem, causou mal-estar no governo brasileiro. Apesar de não ser obrigatório no caso de uma visita particular, seria de praxe um aviso. No caso do ministro venezuelano, que ainda fez algumas atividades de trabalho, a situação ficou ainda pior.
Na terça, a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou um convite para que Figueiredo dê explicações sobre a passagem do venezuelano pelo Brasil.
De acordo com o jornal, o ex-chanceler do governo Nicolás Maduro esteve no país na última semana de outubro e não fez qualquer comunicado ao governo brasileiro. A embaixada ainda negou que houvesse qualquer comitiva de governo venezuelana no país. O Itamaraty foi informado da chegada dele pela Polícia Federal.

Mal-estar
A situação causou mal-estar no Itamaraty, e diplomatas já falavam que o governo brasileiro questionaria a Venezuela em algum “encontro futuro”. Só ontem, no entanto, Figueiredo pôde conversar com a presidente a respeito de tomar alguma medida mais dura em relação ao caso. A convocação de um embaixador tem um significado forte nos meios, especialmente associada à cobrança de explicações do governo.
Depois de buscar informações, o Itamaraty recebeu como resposta que Jaua teria trazido a mulher para fazer exames no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e os médicos decidiram operá-la imediatamente. Por isso, ele teria decidido trazer para o Brasil os filhos, a sogra e a babá – que acabou presa por trazer uma maleta de Jaua onde havia um revólver.
No entanto, mais tarde, descobriu-se que o ministro venezuelano teve encontros em Curitiba, sobre mobilidade urbana, e assinou um convênio com o MST para “treinamento, organização e conscientização do povo” para a revolução. Segundo o MST, o objetivo do acordo é trocar experiências na área de agroecologia.

Totalitarismo enraivecido: a Resolucao Politica do PT e o stalinismo embutido

Andei lendo a Resolução Política do Diretório Nacional do PT -- que todo mundo pode consultar neste link: http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Resolu%C3%A7%C3%A3o-Pol%C3%ADtica.pdf  -- e pensei que tínhamos recuado no tempo e no espaço.
Pensei que estávamos no início da Guerra Fria, numa dessas "democracias populares" da Europa oriental, onde o Exército Soviético ajudava os frágeis partidos comunistas da região a "revolucionar a sociedade", a "criar o homem novo", tentando convencer os desconfiados cidadãos que tudo aquilo era luta anti-fascista, que tudo aquilo era a continuidade da luta contra o nazismo, e que o socialismo em construção representaria a verdadeira liberdade e que tudo isso iria trazer prosperidade ao povo.
Só trouxe miséria e opressão, obviamente, e por isso esses povos se revoltaram várias vezes, até tudo desmoronar na queda do muro de Berlim, exatamente 25 anos atrás (vejam post anterior).
Pois bem: ao ler essa resolução do PT pensei que estivéssemos recuando para tempos anteriores, e que o PT, como esses partidos do stalinismo triunfante apenas desejasse confirmar velhas mentiras, e convencer todo mundo que a sua visão do mundo é que está certa.
Destaco algumas pérolas desse documento.

1) "Uma vitória comemorada por todos os setores democráticos, progressistas e de esquerda no mundo e, particularmente, na América Latina e no Caribe. "
PRA: Sem dúvida: os comunistas cubanos (que devem sua sobrevivência financeira aos companheiros brasileiros) e os bolivarianos em geral rejubilaram com essa notícia. Ufa!, disseram.

2) " Foi uma disputa duríssima, contra adversários apoiados pela direita, pelo oligopólio da mídia, pelo grande capital e seus aliados internacionais. "
PRA: Exatamente a mesma linguagem que os stalinistas usavam nos anos 1950: sempre o grande capital e a grande mídia são os inimigos dos companheiros. Que coisa hem?

3) " Vencemos graças à consciência política de importantes parcelas de nosso povo, da mobilização da antiga e da nova militância de esquerda, da participação de partidos de esquerda ..."
PRA: Essa consciência política se chama dependência dos mais pobres do Bolsa Família, submetidos ao terrorismo eleitoral dos companheiros, que nunca deixaram de dizer que a prebenda só continuaria com o voto no partido do poder. Pobres em geral sempre votam no governo. Basta ver a alta correlacão entre voto no oficialismo e proporção da população inscrita no BF. Quanto aos militantes, metade dispõe de uma boquinha no Estado, e não poderiam ficar fora da luta pelo continuismo.

4) " A oposição, encabeçada por Aécio Neves, além de representar o retrocesso neoliberal, incorreu nas piores práticas políticas: o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar. "
PRA: Essas foram justamente as mentiras e as calúnias usadas intensamente durante a campanha. Nunca antes no Brasil um partido havia descido tão baixo na fraude política.

5) " É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia. "
PRA: Exatamente a linguagem do gramscismo de botequim que eles usam em todas as ocasiões. O partido deve controlar a sociedade, o partido é maior do que o país. Isso se chama totalitarismo.

6) "...será  necessário, em conjunto com partidos de esquerda, desencadear um amplo processo de mobilização e organização dos milhões de brasileiros e brasileiras que saíram às ruas
para apoiar Dilma Rousseff, mas também para defender nossos direitos humanos, nossos direitos à democracia, ao bem estar social, ao desenvolvimento, à soberania nacional."
PRA: Idem, idem. Registre-se que se trata de "nossos direitos humanos, nossos direitos à democracia"; ou seja, são os deles, não os de toda a população.

7) "... para transformar o Brasil, é preciso combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural. "
PRA: Revolução Cultural? Vai ter algum livrinho vermelho, vão colocar os professores em campos de reeducação?

8) "... certas medidas, impostas pela realidade internacional e nacional, mas principalmente pela atitude de reação permanente da oposição, precisam ser tomadas imediatamente. "
PRA: O partido totalitário tem pressa em assegurar sua hegemonia sobre toda a sociedade. O projeto orwelliano precisa ser implementado rapidamente.

9) " Adotar iniciativas para dar organicidade ao grande movimento político-social que venceu o segundo turno... Compor uma ampla frente... em defesa de reformas democrático-populares."
PRA: O mesmo gramscismo incontido, a mesma vontade de se impor sobre toda a sociedade. Reformas democrático-populares são todas aquelas que servem ao partido totalitário.

10) " Relançar a campanha pela reforma política e pela mídia democrática ..."
PRA: Ou seja, dominar completamente a sociedade, como sempre fizeram os partidos stalinistas.

11) "... reforma política, precedida de um plebiscito, através de uma Constituinte exclusiva;"
PRA: Leia-se: contornar os obstáculos constitucionais e legais à ditadura stalinista.

12) " democracia na comunicação, com uma Lei da Mídia Democrática "
PRA: Leia-se: desmantelar o Partido da Imprensa Golpista, ou seja, a imprensa não subordinada ao partido e ainda independente.

13) " democracia representativa, democracia direta e democracia participativa, para que a mobilização e luta social influenciem a ação dos governos, das bancadas e dos partidos políticos. O governo precisa dar continuidade à participação social na definição e acompanhamento das políticas públicas e tomar as medidas para reverter a derrubada da Política Nacional de Participação Social, objeto de um decreto presidencial cancelado pela maioria conservadora da Câmara dos Deputados ..."
PRA: A ofensiva pelo estrangulamento de toda a sociedade e sua submissão ao partido stalinista vai continuar...

14) " compromisso com as reformas estruturais, com destaque para a reforma política, as reformas agrária e urbana, a desmilitarização das Polícias Militares; "
PRA: Como as Forças Armadas ainda não se deixaram submeter, vão tentar começar pelas forças militares estaduais, colocando-as se possível sob o mando federal, do governo stalinista.

15) " ampliar a importância e os recursos destinados às áreas da comunicação, da educação, da cultura e do esporte, pois as grandes mudanças políticas, econômicas e sociais precisam criar raízes no tecido mais profundo da sociedade brasileira; "
PRA: Este é o terreno de ação por excelência do gramscismo stalinista: quanto mais dinheiro da sociedade para as suas correias de transmissão melhor para os totalitários.

16) " Afirmamos o compromisso com a revisão da Lei da Anistia de 1979 e com a punição dos torturadores. "
PRA: os guerrilheiros derrotados querem se vingar dos que os derrotaram.

17) " controle democrático e republicano sobre as instituições que administram a economia brasileira, entre as quais o Banco Central, a quem compete entre outras missões combater a especulação financeira. "
PRA: cenas explícitas de intervencionismo econômico e de estatistmo desenfreado.

18) "... o Partido tem que retomar sua capacidade de fazer política cotidiana, sua independência frente ao Estado, e ser muito mais proativo no enfrentamento das acusações de corrupção, em especial no ambiente dos próximos meses, em que setores da direita vão continuar premiando delatores. "
PRA: O problema não é a corrupção, ela pode e deve continuar. O problema são as acusações de corrupção, que devem ser combatidas. Elementar, não é mesmo?

19) "... sugerir medidas claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política e em defesa da democracia nos meios de comunicação. É preciso incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato: as definições sobre os rumos da política econômica."
PRA: Idem, idem. Os stalinistas precisam controlar tudo, do contrário nunca estarão satisfeitos.

20) "... avançaremos em direção a um Brasil democrático-popular. "
PRA: Todos os regimes ditatoriais do extinto socialismo pretendiam ser "democrático-populares". O partido totalitário não tem vergonha de propor esse modelo para a sociedade brasileira.

Não é preciso dizer mais nada sobre o partido totalitário. Ele se revelou totalmente nessa declaração política que é absolutamente clara nos seus objetivos de converter o Brasil num país dominado pelo partido stalinista, nos mesmos moldes do que existia nas antigas "democracias populares" do universo concentrácionario soviético que desmoronou com o muro de Berlim.
Os companheiros ainda não se converteram: eles continuam no stalinismo puro e duro da época triunfante do sistema soviético.

Para os que não conhecem suficientemente esse universo de totalitarismo, de privações política, de opressão individual e de miséria econômica, eu recomendaria os livros de Archie Brown, sobre a história do comunismo, e os dois de Anne Applebaum, sobre o Gulag e sobre a Europa oriental nos anos do stalinismo triunfante no imediato pós-Segunda Guerra. Leituras depressivas, mas necessárias.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 6 de novembro de 2014
(25 anos da queda do muro de Berlim)


Muro de Berlim: os 25 anos de sua queda, e o começo do fim do socialismo

Eu me lembro bem desses dias momentosos, inclusive porque havia estado diversas vezes na Alemanha dividida e em Berlim totalmente esquartejada pelo horrível muro da vergonha.
Nos vinte anos da queda escrevi algo a respeito:

2048. “Outro mundo possível: alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim”, Paris-Digne-Asti-Veneza-Torino-Lisboa, 25 setembro-6 outubro 2009, 18 p. Ensaio preparado como texto guia para o seminário “Além do Muro” (UnB, 12 de novembro de 2009). Revisto em 25.10.2009. Revista Espaço Acadêmico (ano 9, n. 102, Novembro 2009, ISSN: 1519-6196, p. 25-29; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8586/4777). Relação de Publicados n. 931.
 
 Também fiz um outro texto, publicado como capítulo de um livro articulado em torno do evento: 

O Brasil e as relações internacionais no pós-Guerra Fria”; In: Nilzo Ivo Ladwig e Costa, Rogério Santos da (orgs.), Vinte anos após a queda do muro de Berlim: um debate interdisciplinar (Palhoça-SC: Editora da Unisul, 2009, p. 15-38; ISBN: 978-85-86870-910; link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2018GuerraFriaBrasilBook.pdf); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5794536/083_O_Brasil_e_as_rela%C3%A7%C3%B5es_internacionais_no_p%C3%B3s-Guerra_Fria_2009_). Relação de Publicados n. 934. Relação de Originais n. 2018.
Uma revista espanhola dedica todo seu número corrente a esse evento formidável, que simplesmente mudou a história mundial.
Paulo Roberto de Almeida 

BERLÍN, 1989: 25 AÑOS TRAS LA CAÍDA DEL MURO
Qué supuso este acontecimiento histórico y cómo el mundo se tornó diferente, si es que es tan diferente...
Un balance de 25 años que cambiaron Europa. 
He aquí un análisis que podría desmontar esta teoría.
Aquello que nadie se imaginó que pasaría.
Los muros siguen de moda
Todo aquello que siguió a la caída del Muro de Berlín.
Entrevistas a cinco europeos sobre cómo vivieron la caída, qué cambió para siempre y qué muros quedan por derribar.