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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Porque nao se deve aceitar a desonestidade intelectual de votantes esclarecidos - Marcelo Viveiros de Moura

PORQUE NÃO CONSIGO ENGOLIR O VOTO “ESCLARECIDO” EM DILMA

Blog Prosa e Política

 Um texto de Marcelo Viveiros de Moura

marcelo viveirosPrezados,

Eu relutei muito em escrever isso, por várias razões. Em primeiro lugar, porque tenho amigos que são petistas ferrenhos. Pessoas que estudaram comigo, amigos mais recentes, pessoas de quem gosto e que admiro e que já manifestaram o voto “esclarecido” em Dilma.

Em segundo lugar, porque sei que vou atrair para mim uma saraivada de comentários preconceituosos e de discussões acaloradas, muitas vezes irracionais. Entretanto, acho que estamos em um momento crucial para o país e não podemos nos furtar a nos manifestar (enquanto podemos fazê-lo livremente…).

Vou começar dizendo que respeito – e muito! – o voto que chamo de “não esclarecido” em Dilma. É o voto típico do cidadão que no máximo tem o ensino fundamental e é habitante das cidades com menos de 50.000 habitantes, em especial do Nordeste, onde Dilma tem maioria absoluta. Esse cidadão é beneficiário dos programas sociais do Governo e vota com medo de perder esses programas, como martelado pela propaganda petista.

Esse cidadão não entende que independência do Banco Central não vai tirar comida da mesa dele. Esse cidadão acredita que o PSDB vai cortar os programas sociais, vai discriminar pobres, negros e nordestinos e vai piorar a vida dele. Esse cidadão não entende o que é o “mensalão” e o “petrolão” e acha que todo governo é mesmo corrupto. Enfim, esse cidadão acredita que a Marina é vendida aos banqueiros, que o Aécio é um “filhinho de papai” que bate em mulher, que a Dilma é uma gerente eficiente e tudo o mais que o João Santana lhe impinge todos os dias, em programas de televisão caríssimos.

Entretanto eu não respeito – sinto, não respeito, mas acato por amor à democracia – o voto na Dilma do cidadão urbano, das cidades com mais de 500.000 habitantes e nível de escolaridade superior. Os argumentos são muitos.

Em primeiro lugar, desonestidade intelectual. Qualquer um que colabore com essa campanha sórdida que o PT está fazendo de desconstrução dos adversários e de mentiras deslavadas sobre tudo e sobre todos é intelectualmente desonesto.

Eu fico realmente incomodado quando vejo pessoas inteligentes e supostamente esclarecidas tentando defender que o petrolão é a mesma coisa que o aeroporto (vai, faz por pista de pouso!) de Cláudio, que é necessário um “marco regulatório” para a imprensa, que é dominada pela “direita”, que a economia está ruim por conta da crise mundial, que o voto em Dilma é “progressista” e que o voto em Aécio é “conservador” ou “reacionário”.

O “mensalão”, como agora o “petrolão”, têm uma importância crucial neste país. Obviamente, não é a corrupção “comum”, para fazer mais rico o Paulinho, amigo do Lula e convidado do casamento da filha da Dilma. Não é uma empresa comprando a fábrica de videogames do filho do Lula por vários milhões,para depois deixá-la falir. Não, o objetivo dos desvios em uma companhia aberta de economia mista, em que recentemente os trabalhadores foram chamados a investir com o saldo dos seus FGTS é um só: fazer caixa para o partido e para as campanhas eleitorais e corromper parlamentares e governadores (inclusive, aparentemente, do PSDB) para que ajam como o governo quer. Isso é muito, mas muito mais grave do que o Paulinho ficar rico às nossas custas! Isso é um projeto de tomada e manutenção do poder por um grupo e só não vê quem não quer! Isso é corroer as instituições do país para manutenção  de um grupo no poder. Só isso, por si só, seria motivo para a Dilma não ter nenhum voto “esclarecido” e para a população, desta vez com muito mais razão, ir às ruas protestar.

Um partido que teve sua cúpula julgada e condenada pela mais alta corte do país e que, logo depois se vê envolvido em outro escândalo de ainda maior monta, agora de desvio de recursos da maior empresa do país para o mesmo fim não poderia receber um voto “esclarecido” sequer! A menos que sejam daqueles que coadunam da idéia de que os meios justificam os fins e que vale tudo para chegar ao nirvana da esquerda (que coisa mais antiga isso, de direita e esquerda…).

A pista de pouso (sim, porque chamar de aeroporto é até engraçado) de Cláudio chega a ser pueril neste contexto. Pode-se discutir se Cláudio comporta ou não uma pista de pouso de R$ 18 milhões e se o Aécio se beneficia ao pousar lá quando vai para a fazenda da família. Talvez não devesse mesmo ter sido construída.
Mas só o Paulinho está devolvendo aos cofres públicos R$ 70 milhões, meu Deus! Isso para não falar dos bilhões que foram parar (segundo o Paulinho) nos cofres do partido. Comparar uma coisa com a outra é desonestidade intelectual.

Quem elegeu o Paulinho? O acionista controlador, leia-se, a União. Quem era o Presidente do Conselho de Administração na gestão do Paulinho? A atual Presidente da República. Qual é uma das funções do Conselho de Administração? Fiscalizar a gestão dos diretores. Como o Paulinho foi demitido? Ele renunciou e recebeu do acionista controlador agradecimentos penhorados pelos “relevantes serviços prestados”. Cadê a nossa “gerenta”? Ela não sabia? Nunca ficou sabendo que o Paulinho dava dinheiro para o partido dela e para a campanha dela e para comprar apoio para ela? Alguém acredita nisso? Alguém acredita que foi ela que “mandou investigar”? Alguém acha que as combinações de perguntas e respostas na CPI da Petrobrás não é um ataque às nossas instituições e que a “gerentona”, de novo, não sabia que um funcionário do Planalto participou disso?

Agora, se querem comparar o aeródromo de Cláudio com alguma coisa, quer uma comparação que faz sentido? O financiamento à construção do aeroporto de Havana, do metrô de Caracas ou do porto de Mariel. Porque cargas d’água um país que tem o déficit de infra-estrutura que nós temos está financiando a construção de infra-estrutura em outros países? Ah, é para a exportação de serviços das empreiteiras brasileiras e criação de empregos no Brasil, diz a Dilma, são elas que estão sendo financiadas, não o Governo dos países “amigos” (amigos de quem, cara pálida?).

Mas é isso mesmo? Quem é o cliente das empreiteiras? Se a empreiteira recebe o dinheiro do BNDES para construir a infra-estrutura, quem paga o BNDES? Ah, o cliente. Quem é o cliente? Ah, os governos desses países. Alguém acha mesmo que a pujante economia caribenha vai devolver US$ 2 bilhões aos cofres do BNDES? Ou vai-se fazer a mesma coisa que se fez com as ditaduras africanas, ou seja, perdoar a dívida? Ah, mas e o aeroporto de Cláudio? Faça-me o favor, respeite o meu intelecto: prefiro que se faça aeroporto em Cláudio, que é no Brasil do que em Havana, que é em um país estrangeiro. Cláudio fica no Brasil, em Minas Gerais e só vai servir a brasileiros (nem que sejam os da família Tolentino). O aeroporto de Havana só vai servir aos cubanos (aliás, nem a eles, pois eles não podem muito usar o avião).

O marco regulatório para a imprensa é outro assunto interessante. A ideia, diz-se, é cumprir a Constituição de 1988, que proíbe monopólios e oligopólios no setor. Para tanto, é necessário um marco regulatório. Ué, mas existe oligopólio ou monopólio no setor? Onde? Antes de responder, sugiro que leiam com cuidado a definição de oligopólio e monopólio. E se, ainda assim, quiserem considerar que temos um, ou outro, não existe um sistema de defesa da concorrência criado em 1994 exatamente para combater monopólios e oligopólios? Para que serve o CADE?

Ah, então, qual é mesmo o objetivo do marco regulatório? É óbvio que é um só: controlar conteúdo, para que o Bonner e a Miriam Leitão, nas palavras do nosso guia, não falem mal da Dilma na televisão.

A imprensa no Brasil é tão golpista e vendida para a chamada “direita” que aquele sujeito presidente do MTST que defende o aumento da cobertura de celulares nas periferias entre outras pérolas, virou colunista da Folha. Ah, mas isso é só para a Folha posar de moderna, dizem os xiitas do PT, no fundo ela é vendida também. Em outras palavras, querem sim controlar o conteúdo, que eles reputam controlado por outros que não eles.

Crise econômica. Vamos combinar que estamos vivendo uma crise econômica com 7% de inflação (com preços represados) e 0% de crescimento? Não, não podemos combinar isso, pois a turma do PT entende que não há crise, pois não há desemprego e que só não crescemos mais porque a “crise mundial” não deixa. Mas, espera, não é verdade que os EUA cresceram 4%? E a China cresceu “só” 7%? E que o Brasil só cresce mais que, surpresa, Venezuela e Argentina na América do Sul? Que crise mundial é essa?

E quanto ao desemprego? Se a indústria está parada, se o comércio não vende, se as famílias estão endividadas e há, ainda assim uma inflação de 7% por quanto tempo o emprego vai se manter? Alguém já viu manutenção de emprego sem que a economia estivesse rodando?

Ah, mas o governo é desenvolvimentista (outra palavra muito usada, junto com neoliberal quando se fala nos “tucanos”), vai gastar mais do dinheiro que não tem no BNDES para gerar emprego. Por mais incrível que pareça, a Dilma, torturada pela ditadura, segue o modelo que os nossos generais seguiram e que deu na hiperinflação dos anos 80.

Como pode o governo querer fazer girar toda a roda da economia sozinho? Vai continuar a escolher nossos “campeões nacionais”, como o Eike, para investir e dizer que são exemplos de empresários? Vai continuar a gerar emprego exportando dinheiro que não temos para construir infra-estrutura em países periféricos?

Eu gostaria muito que alguém citasse um modelo de país que estamos seguindo. É a Venezuela, Argentina, China, Cuba, Angola, Russia, em que país nos espelhamos no nosso desenvolvimentismo? Que país deu certo com essa receita macroeconômica? Em que condições? O modelo desenvolvimentista é dos anos 50, foi testado no Brasil nos anos 70 e foi um fracasso. No momento, o modelo “desenvolvimentista” conseguiu desenvolver o PIB em 0% e aumentar a inflação para 7%. Sinto, mas o nome disso não é desenvolvimento é estagflação…

O voto em Aécio é “conservador” e “reacionário”. Espera aí! Quem está no governo há doze anos e quer se manter? Conservador é votar no que está aí, é conservar o status quo, não? Querer alternância de poder é ser conservador? Reacionário?

Quem tem o apoio do Collor, do Sarney, do Renan Calheiros? Quem tem o apoio da Marina, do Eduardo Jorge, da família Campos? Quem representa a novidade na política?

Mas os PTistas têm o monopólio da bondade e são progressistas. Meus intelectuais e artistas são melhores do que os seus. O Chico Buarque e o Gregório Duvivier são modernos e progressistas. O Wagner Moura e o Luis Eduardo Soares são reacionários. Poupe-me!

Finalmente, essa falácia de que o Aécio é um filhinho de papai mimado que quer ser Presidente por direito divino. A Dna. Dilma, “enfant de Sion” não é filhinha de papai, porque ela pegou em armas na juventude contra a ditadura e foi torturada (a Miriam Leitão também, mas ela não conta porque segundo o grande guia fala mal da Dilma). O que mais a Dilma fez mesmo?

Que outro cargo, que não fosse indicado por alguém, ela exerceu? Que importância ou protagonismo ela teve até ser chefe da casa civil do Lula e ser alçada reconhecidamente como um “poste” para presidir o Brasil?

O Aécio, jovem, já fazia política no movimento Diretas Já, ao lado do avô que, sim, foi um dos melhores políticos que esse país produziu. O Aécio foi Governador de Minas entre 2003 e 2010, foi Deputado Federal por quatro mandatos, foi Presidente da Câmara dos Deputados e Senador da República, com a maior votação do Estado. Saiu do Governo de Minas com aprovação de 90% da população. Esse é o CV de um “filhinho de papai”? É esse sujeito que o PT demoniza em público, como se fosse um playboy desmiolado? Não há aí preconceito de classe? Só existe preconceito do rico com o pobre no Brasil, não existe preconceito contra o rico neste país?

Por tudo isso, por todo esse discurso falso e ideológico, cujo único objetivo é o poder pelo poder, que eu não respeito o voto “esclarecido” no PT, embora o aceite porque é assim que funciona a democracia e como dizia Churchill, a democracia é o pior regime que existe, exceto por todos os outros (embora eu não ache que a turma do PT vá concordar com essa frase também).

Enfim, desculpem o longo desabafo, mas não quis me furtar a declarar o que eu penso de tudo isso que estamos lendo diariamente nas redes sociais.

Marcelo Viveiros de Moura

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Propaganda Companheira: como atuam certos companheiros (inclusive diplomatas)

Um colega, cujo nome não preciso levar ao conhecimento público -- mas que vez se expondo ele mesmo, aliás bem antes do exchange abaixo transcrito, por meio da disseminação de propaganda companheira -- efetuou uma postagem no Facebook, como centenas de outras a que assistimos todos os dias, todas as horas, cada minuto, que tinha a ver com um artigo do conhecido jornalista Elio Gaspari, sobre escândalos na era do ancien régime tucanês.
[TUDO O QUE DIGO ESTÁ TRANSCRITO IN FINE]

Esse diplomata -- de quem aliás já resenhei um livro, que integra meu Kindle recém publicado, Polindo a Prata da Casa -- simplesmente transcreveu, como parte da propaganda companheira, esse artigo, cujo teor li, e verifiquei que não havia nada que já não tínhamos lido na imprensa, à época de cada escândalo.
Como a postagem estava aberta a comentários, efetuei um primeiro comentário, que transcrevo aqui:
Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...

 O diplomata respondeu de forma confusa, evadindo o problema. Voltei a escrever a esse colega:
Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????

Veio uma resposta ainda mais vaga, como se pode verificar aqui:
Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.

Voltei a insistir no tema que era objeto da sua postagem original:
Vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?

Vendo que eu não obteria resposta a minha questão, até tentei interromper o exercício:
Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.

E assim continuamos num diálogo de surdos, o que pode ser seguido abaixo, com ele terminando como segue:
Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.

Reparem que eu não o ofendi, apenas coloquei a pergunta lógica que se poderia fazer após a postagem acusatória: os companheiros tiveram 12 anos para desengavetar todas as sujeiras tucanas, e investigar, processar e condenar os tucanos envolvidos. POR QUE NÃO O FIZERAM? Foi por incompetência, conivência ou prevaricação?
Sem resposta...

Minha conclusão:
Não tenho nada contra quem defende seus pontos de vista políticos e suas opções eleitorais. Apenas que, por uma questão de respeito à lógica, às boas normas da convivência e da tolerância cidadã, acredito que pessoas de caráter precisam ser responsáveis, e não deveriam se envolver em certas atividades  suspeitas como podem ser essas propagandas maldosas feitas para denegrir oponentes.
Como o diplomata em questão tem o direito de postar o que postou, e que eu reproduzo inteiramente abaixo, acredito dispor de igual direito para interrogá-lo das razões de por que o caso não foi levado às consequências lógicas, como deixam supor as insinuações.
Quem se envolve ativamente no jogo político, pode esperar ser interrogado sobre suas opiniões e motivações sobre o objeto em pauta.
Trata-se e do livre exercício da cidadania democrática.
Não fiz e não faço propaganda por qualquer candidato.
Mas tenho horror à desonestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 20/10/2014

TRANSCRIÇÃO DO EXCHANGE:
11 hrs ·
Elio Garpari [sic], hoje na FSP 19/10/2014:
...Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".
O tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três meses.
Quando perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".
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  • Paulo Roberto de Almeida Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...
    9 hrs · Like · 2
  • Diplomata: Como disse, a diferença de forças não é pequena. E a "justiça imparcial" tem feito as vezes das elites no Brasil historicamente... "Os Donos do Poder"?! Vergonhosos são os entraves ao avanço democrático no País...
  • Paulo Roberto de Almeida Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????
  • Diplomata: Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.
  • Diplomata: Aliás, o mesmo judiciário que toma posição conservadora no tema do direito à verdade e à memória, decidindo por interpretação à revelia do sistema internacional dos direitos humanos no caso da
    lei da anistia...
  • Diplomata: Enfim, não se condenam os tucanos não por incompetência, prevaricação ou inépcia do PT nos últimos 12 anos. Mas única e tão somente por uma correlação de forças que conhecemos bem. Claro que opino pessoalmente que valeria os governos desses anos por o dedo na ferida, mas aí seria por fogo no palheiro, dizem os mais pragmáticos...
  • Paulo Roberto de Almeida vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?
    8 hrs · Like · 1
  • Diplomata: Mas as taras brasileiras fazem parte da realidade, estão aí, e explicam os 12 anos. Não? Abraço saudoso e sempre admirador
  • Diplomata: Aliás, explicam os 514 anos...
  • Paulo Roberto de Almeida Continua tergiversando. Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.
  • Diplomata: Não estou tergiversando. Para mim, é a explicação . A correlação de forçar impôs os fatos, os avanços possíveis e as dificuldades de se ir além, inclusive no combate à corrupção. Aliás, convenhamos, este é um problema lateral, historicamente vêm à tona questões como essas para atacar governos de cunho popular e soberano no Brasil. Abaixo udnismos...
  • Paulo Roberto de Almeida Menas, Murilo, menas, como diria o chefe dos chefes do governo popular e soberano. Vc continua não respondendo à minha questão e agora insisto nela: por que em 12 anos não denunciaram a roubalheira tucana? POR QUE?
  • Diplomata: Já respondi
  • Paulo Roberto de Almeida Still circumventing. Minha pergunta era simples, no macro ou no micro. Os companheiros tiveram 12 anos para soterrar os corruptos tucanos sob uma montanha de acusaçōes, processos, investigações. Por que nao o fizeram? POR QUE?
  • Diplomata: Acho que o Procurador Geral, ou, como se dizia há época, o Engavetador Geral da
    República há época deveria responder à pergunta...
  • Paulo Roberto de Almeida SE HOUVE um engavetador, por que os companheiros nao DESENGAVETARAM?
  • Diplomata: Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.

    So, be it...

    Addendum, 20/10/2014, 12:04hs: 

    Um esclarecimento do principal interessado:  

    Em carta, ex-presidente FHC presta esclarecimentos sobre escândalos em seu governo

    Resposta vem após coluna de Élio Gaspari no jornal Folha de S. Paulo, em que destacou os escândalos do governo do tucano

    SÃO PAULO - Em carta enviada à “Folha de S. Paulo” e divulgada nesta segunda-feira pelo jornal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso responde a artigo recente do colunista Elio Gaspari em que lembrava de escândalos noticiados durante o governo do tucano.
    Dentre eles, estão o "Caso Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a reeleição do presidente", entre outros. Gaspari aponta que todos os envolvidos estão soltos até hoje.
    FHC contestou na carta, dizendo que a alegada compra de votos para sua reeleição, os acusados não eram do PSDB e que nunca houve acusação formal a “ministro aludido”.
    Já em relação ao "mensalão mineiro", ele disse que, desde o início, defendeu a apuração e julgamento. "Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente".
    Sobre o "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô, ele afirmou que “provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos”.
    Confira a carta na íntegra:

    A propósito do esclarecedor artigo de Elio Gaspari "Todos soltos, todos soltos até hoje", que começa a desfazer o slogan de escândalos do PSDB, desejo esclarecer:
    a) Quanto ao caso Sivam, não só que a contratação da Raytheon se deu no governo Itamar, como que ao governo nunca foi atribuído haver participado de malfeitos. A "prensa" para que o processo andasse se referia à aprovação do mesmo pelo Senado, posto que o relator do caso demorava em se pronunciar. Houve inquérito, o servidor mostrou inocência (havia sido afastado das funções por mim) e, posteriormente, foi muito justamente nomeado embaixador na Colômbia pelo presidente Lula.
    b) A "pasta rosa", como dito no artigo, se refere a supostos recursos de campanha destinados, antes de meu governo, a candidatos parlamentares de vários partidos; o inquérito, no caso, competia à Justiça Eleitoral e a legislação nas eleições até 1994 era diferente da atual, não sendo fácil, de serem verdadeiras as suposições, tipificar os atos como crimes eleitorais.
    c) Quanto à alegada compra de votos para a reeleição, além dos acusados não serem do PSDB e terem sido objeto de inquérito no Congresso que os levou à renúncia, quanto à insinuação vaga de que teria havido envolvimento de um ministro no processo de suborno, o ministro aludido foi espontaneamente à Comissão de Justiça da Câmara e rechaçou as aleivosias. Nunca houve acusação formal ao ministro, que eu saiba.
    d) No que se refere ao chamado "mensalão mineiro", ainda "sub judice", minha opinião, independentemente de endossar as acusações, foi, desde o início, de que deveria haver apuração e julgamento. Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente.
    e) Por fim, não existe um "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô. Segundo o relatório técnico do Cade, há acusação a empresas que formaram cartel para operar tanto em obras federais como estaduais. Provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos.
    Ficarei grato se esta carta for publicada para assim complementar as informações do jornalista Elio Gaspari.
    Cordialmente,
    Fernando Henrique Cardoso

terça-feira, 27 de maio de 2014

Historia sombria: Artistas e intelectuais franceses sob o domínio nazista

Enviado de Paris por meu amigo Mauricio David (26/05/2014):

Artistas e intelectuais franceses sob o domínio nazista
Carlos Russo Jr
Espaço Literário Marcel Proust, 22/05/2014

22 maio 2014por Carlos Russo JrPublicado em:ensaio3 comentários Description: http://proust.net.br/blog/wp-content/themes/inki_v.2.1/images/comments-icon.png

Ao contrário do que se possa pensar, para a maioria dos burgueses parisienses, a ocupação nazista que durou quatro anos (1940 /1944) não foi tão má quanto poderia parecer, afirma Gerassi, o biógrafo mais importante de Sartre.
O metrô funcionava bem, os teatros faziam sucesso, os bares e os restaurantes viviam cheios. É bem verdade que o café não era mais o mesmo, que a bebida tinha uma qualidade discutível, que a suástica drapejava sobre as Tulherias, sobre a Câmara dos Deputados e sobre o Palácio de Luxemburgo. Também é verdade que a tropa alemã descia diariamente os Champs-Élysées, sempre ao meio-dia e meia, marchando a passo de ganso; que a Torre Eiffel amanhecera, num dia de verão de 1940, adornada com um V gigantesco, acompanhado por um cartaz que dizia: “Deutschland siegt auf Allen Fronten”, ou “A Alemanha vence em todas as frentes”.
Ainda assim, os burgueses comiam muito bem, graças tanto às ligações mantidas ente a cidade e o campo, quanto ao mercado negro, tolerado e mancomunado com a autoridade de ocupação.
Em Paris, a “Festa Continuou”, diz Riding, em referência ao círculo intelectual e artístico daquela cidade então considerada, até pelos ocupantes nazistas, a capital cultural do mundo. A rigor, não houve nada no mundo do entretenimento e das artes de Paris que tenha sofrido durante a ocupação; a festa simplesmente seguira adiante. Os cinemas, por exemplo, viviam cheios, pese o banimento das películas norte-americanas e do jazz, porque, de acordo com um jornal colaboracionista, tinham um sabor “negro-judeu”.
E os comportamentos individuais? Num país onde os intelectuais e artistas eram reverenciados como “entes superiores”, e no qual a população era educada para reverenciar suas teorias e atitudes, o mundo cultural teve maiores responsabilidades pelo colaboracionismo com o nazismo, graças a essa influência.
Alguns cantores como Maurice Chevalier e Édith Piaf colaboraram com os invasores, realizando tournées musicais nos campos de prisioneiros de guerra franceses, como propagandistas do “bom tratamento” dado a eles pelos nazistas. Escritores como Célinecolaboraram ativamente na França e na Itália fascista. As atrizesDanielle Darrieux e Viviane Romance esqueciam as barbáries praticadas pelos nazistas enquanto, enquanto realizavam turismo através da pátria do nacional- socialismo hitlerista.
Coco Chanel vivia em sua suíte no Ritz com um alto oficial alemão. Le Corbusier, canonizado em vida como modernista por arquitetos do mundo inteiro no pós-guerra, inclusive no Brasil, grudou nas autoridades de ocupação em busca de verbas para seus projetos; afirmou, tentando agradar ao governo de ocupação, que “a sede dos judeus por dinheiro havia corrompido o país”.
O esperto André Gide disse: “Prefiro não escrever nada hoje, que possa me deixar arrependido amanhã”, o autor que ganharia o Nobel em 1947. Outros artistas adotaram atitudes semelhantes, calaram-se e procuraram pouco aparecer. Picasso optou por permanecer em Paris durante a ocupação, vendendo discretamente seus quadros, e recusou-se, por covardia, a assinar uma petição pela liberdade de um amigo, o poeta Max Jacob, preso pela Gestapo – documento que até mesmo colaboracionistas assinaram. Jacob morreu no infame campo de concentração de Drancy.
O editor Bernard Grasset, o primeiro a editar Proust em 1913, chegou quase a implorar a Joseph Goebbels o direito de publicar na França a “obra magistral” do sumo sacerdote da propaganda nazista.
Sacha Guitry, ator e cineasta de renome no pós-guerra, tornou-se íntimo do embaixador do III Reich, Otto Abetz; Tino Rossi, um dos melhores tenores de sua época, interpretou na Ópera de Paris para a alta oficialidade das tropas de ocupação.
Os escritores Drieu de La Rochelle e Robert Brasillack viajaram a Nuremberg para aplaudirem Goebbels. Os artistas plásticos Derain,Vlaminck e Maillot cruzaram o Reno para receberem medalhas por seus trabalhos, outorgadas pelos invasores da França.
A censura era feroz. Em 1941, nada menos que duas mil obras e mais de oitocentos e cincoenta escritores haviam sido banidos e todos os editores, com exceção de Emile-Paul, o aprovaram. O Presidente da Associação dos Editores Franceses, René Philippon disse “que essas disposições (listas de proibições), não criam grande problema para a atividade editorial, pelo contrário, possibilitam o desenvolvimento do pensamento autenticamente francês… e estimulam a união dos povos.”
Gallimard, o editor de Sartre, nomeou Drieu de La Rocheleeditor da prestigiada revista Nouvelle Revue Française, a qual editou traduções de escritores nazistas. É verdade que se livrou de editar Les Décombres, um lixo literário de exaltação aos “heróis do nazismo”, escrito por Lucien Rabanet, que terminou publicada por Denoel.

É bem verdade que muitos intelectuais e artistas recusaram-se a trabalhar na França ocupada. Foi o caso do indignado Jean Renoir, diretor de obras-primas como “A Regra do Jogo”, que preferiu se refugiar nos Estados Unidos a filmar na França, no que foi seguido pelos seus colegas René ClairMax Ophalus e Duvivier, assim como pelos atores Michele MorganAumont e Dalio.
Uns poucos, bem poucos, como o ator Jean Gabin e o escritorAlbert Camus, incorporaram-se aos maquis, e colaboraram na resistência armada. Do mesmo modo que Jean Guehenno e Jean Brullerpassaram a escrever na clandestinidade fundando as clandestinasEditions de Minuit. Disse o filósofo Politzer, amigo de Sartre, em 1941:“Hoje, na França, literatura legal significa literatura de traição.”
No entanto, a grande maioria dos artistas e dos intelectuais, como o fez quase toda a burguesia francesa, simplesmente continuou sua vida normal, tentando ganhar o pão de cada dia, como se os alemães não existissem, e assim o fizeram escritores como Simenon, Paulhan e Aragon.
A divisão clássica sobre a conduta dos franceses durante os anos da ocupação, entre heroísmo e covardia, que permanece em vigor até hoje em romances e filmes, a começar pelo inevitável “Casablanca” é pura ficção. De um lado estariam os cidadãos decentes e patriotas, que optaram pela Resistência e vão combater o invasor na clandestinidade; no outro ficariam os colaboradores ou traidores, que continuam levando sua vida de sempre, convivendo em paz com o ocupante e ajudando-o a governar. Riding, entretanto, assim como Gerassi, recusam-se a aceitar essa divisão. Seus livros revisitam a vida real da gente real na Paris ocupada – e aí entramos numa zona de sombra onde é inútil procurar respostas em preto e branco.
Depois da guerra, Sartre tentaria explicar: “Durante quatro anos, nosso futuro nos foi roubado”. “Todos os nossos atos eram provisórios, seu significado limitado ao dia em que eram cometidos”. É verdade que havia uma Resistência, mas ela “afetava muito pouco a História, tinha mais um valor simbólico; é por isso que tantos resistentes entravam em desespero: sempre os símbolos! Uma rebelião simbólica numa cidade simbólica- só que as torturas eram reais”. E ainda: “O que era terrível não era sofrer e morrer, mas sofrer e morrer em vão… durante esse período, pouca gente se comportou na França com coragem e precisamos compreender que a Resistência ativa estava limitada a uma minoria que se oferecia deliberadamente e sem esperanças ao martírio, o que basta para resgatar nossas fraquezas.”
NUNCA BASTOU!

Fontes:
1. Gerassi, John. Talking with Sartre: Conversatios and debates.
2. Gerassi John. Sartre a consciência odiada de seu tempo.
3. Riding, Alain. Em Paris a Festa Continuou. Companhia das Letras, 2012.
4. Sartre, J.P. O que é um colaborador?



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