Um colega, cujo nome não preciso levar ao conhecimento público -- mas que vez se expondo ele mesmo, aliás bem antes do exchange abaixo transcrito, por meio da disseminação de propaganda companheira -- efetuou uma postagem no Facebook, como centenas de outras a que assistimos todos os dias, todas as horas, cada minuto, que tinha a ver com um artigo do conhecido jornalista Elio Gaspari, sobre escândalos na era do ancien régime tucanês.
[TUDO O QUE DIGO ESTÁ TRANSCRITO IN FINE]
Esse diplomata -- de quem aliás já resenhei um livro, que integra meu Kindle recém publicado,
Polindo a Prata da Casa -- simplesmente transcreveu, como parte da propaganda companheira, esse artigo, cujo teor li, e verifiquei que não havia nada que já não tínhamos lido na imprensa, à época de cada escândalo.
Como a postagem estava aberta a comentários, efetuei um primeiro comentário, que transcrevo aqui:
Passaram-se
12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram
investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é
isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em
qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no
passado...
O diplomata respondeu de forma confusa, evadindo o problema. Voltei a escrever a esse colega:
Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????
Veio uma resposta ainda mais vaga, como se pode verificar aqui:
Lembremos
que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e
comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua
distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que
avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem
parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o
retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.
Voltei a insistir no tema que era objeto da sua postagem original:
Vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os
companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de
sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para
responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?
Vendo que eu não obteria resposta a minha questão, até tentei interromper o exercício:
Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.
E assim continuamos num diálogo de surdos, o que pode ser seguido abaixo, com ele terminando como segue:
Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.
Reparem que eu não o ofendi, apenas coloquei a pergunta lógica que se poderia fazer após a postagem acusatória: os companheiros tiveram 12 anos para desengavetar todas as sujeiras tucanas, e investigar, processar e condenar os tucanos envolvidos. POR QUE NÃO O FIZERAM? Foi por incompetência, conivência ou prevaricação?
Sem resposta...
Minha conclusão:
Não tenho nada contra quem defende seus pontos de vista políticos e suas opções eleitorais. Apenas que, por uma questão de respeito à lógica, às boas normas da convivência e da tolerância cidadã, acredito que pessoas de caráter precisam ser responsáveis, e não deveriam se envolver em certas atividades suspeitas como podem ser essas propagandas maldosas feitas para denegrir oponentes.
Como o diplomata em questão tem o direito de postar o que postou, e que eu reproduzo inteiramente abaixo, acredito dispor de igual direito para interrogá-lo das razões de por que o caso não foi levado às consequências lógicas, como deixam supor as insinuações.
Quem se envolve ativamente no jogo político, pode esperar ser interrogado sobre suas opiniões e motivações sobre o objeto em pauta.
Trata-se e do livre exercício da cidadania democrática.
Não fiz e não faço propaganda por qualquer candidato.
Mas tenho horror à desonestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20/10/2014
TRANSCRIÇÃO DO EXCHANGE:
Elio Garpari [sic], hoje na FSP 19/10/2014:
...Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana
Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da
Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois
(governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de
informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da
Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30
milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano
grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava
de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador,
afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".
O
tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador
migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o
cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como
"espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o
banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um
príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do
gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico
encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a
documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986,
1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e
10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias.
Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos
beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado,
registravam 43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse
pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada
tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De
novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo.
Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o
assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela
exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o
cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido
administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram
que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda
constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e
governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL,
hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon
voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a
disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro
anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005,
quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu
na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o
comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como
garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado
pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de
Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e
manteve-o na presidência do partido durante três meses.
Quando
perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de
1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro
passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do
procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado
federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo
recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de
equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street
Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos
de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32
milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha
listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da
filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e
colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante desse caso
está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar
em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de
Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que
participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as
autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava
contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o
nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo
entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em
março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local,
com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual
passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério
Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a
doutora, "todos soltos".