[TUDO O QUE DIGO ESTÁ TRANSCRITO IN FINE]
Esse diplomata -- de quem aliás já resenhei um livro, que integra meu Kindle recém publicado, Polindo a Prata da Casa -- simplesmente transcreveu, como parte da propaganda companheira, esse artigo, cujo teor li, e verifiquei que não havia nada que já não tínhamos lido na imprensa, à época de cada escândalo.
Como a postagem estava aberta a comentários, efetuei um primeiro comentário, que transcrevo aqui:
Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...
O diplomata respondeu de forma confusa, evadindo o problema. Voltei a escrever a esse colega:
Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????
Veio uma resposta ainda mais vaga, como se pode verificar aqui:
Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.
Voltei a insistir no tema que era objeto da sua postagem original:
Vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?
Vendo que eu não obteria resposta a minha questão, até tentei interromper o exercício:
Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.
E assim continuamos num diálogo de surdos, o que pode ser seguido abaixo, com ele terminando como segue:
Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.
Reparem que eu não o ofendi, apenas coloquei a pergunta lógica que se poderia fazer após a postagem acusatória: os companheiros tiveram 12 anos para desengavetar todas as sujeiras tucanas, e investigar, processar e condenar os tucanos envolvidos. POR QUE NÃO O FIZERAM? Foi por incompetência, conivência ou prevaricação?
Sem resposta...
Minha conclusão:
Não tenho nada contra quem defende seus pontos de vista políticos e suas opções eleitorais. Apenas que, por uma questão de respeito à lógica, às boas normas da convivência e da tolerância cidadã, acredito que pessoas de caráter precisam ser responsáveis, e não deveriam se envolver em certas atividades suspeitas como podem ser essas propagandas maldosas feitas para denegrir oponentes.
Como o diplomata em questão tem o direito de postar o que postou, e que eu reproduzo inteiramente abaixo, acredito dispor de igual direito para interrogá-lo das razões de por que o caso não foi levado às consequências lógicas, como deixam supor as insinuações.
Quem se envolve ativamente no jogo político, pode esperar ser interrogado sobre suas opiniões e motivações sobre o objeto em pauta.
Trata-se e do livre exercício da cidadania democrática.
Não fiz e não faço propaganda por qualquer candidato.
Mas tenho horror à desonestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20/10/2014
TRANSCRIÇÃO DO EXCHANGE:
...Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".
O tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três meses.
Quando perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".
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- Paulo Roberto de Almeida Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...
- Paulo Roberto de Almeida Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????
- Diplomata: Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.
- Diplomata: Enfim, não se condenam os tucanos não por incompetência, prevaricação ou inépcia do PT nos últimos 12 anos. Mas única e tão somente por uma correlação de forças que conhecemos bem. Claro que opino pessoalmente que valeria os governos desses anos por o dedo na ferida, mas aí seria por fogo no palheiro, dizem os mais pragmáticos...
- Paulo Roberto de Almeida vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?
- Paulo Roberto de Almeida Continua tergiversando. Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.
- Diplomata: Não estou tergiversando. Para mim, é a explicação . A correlação de forçar impôs os fatos, os avanços possíveis e as dificuldades de se ir além, inclusive no combate à corrupção. Aliás, convenhamos, este é um problema lateral, historicamente vêm à tona questões como essas para atacar governos de cunho popular e soberano no Brasil. Abaixo udnismos...
- Paulo Roberto de Almeida Menas, Murilo, menas, como diria o chefe dos chefes do governo popular e soberano. Vc continua não respondendo à minha questão e agora insisto nela: por que em 12 anos não denunciaram a roubalheira tucana? POR QUE?
- Paulo Roberto de Almeida Still circumventing. Minha pergunta era simples, no macro ou no micro. Os companheiros tiveram 12 anos para soterrar os corruptos tucanos sob uma montanha de acusaçōes, processos, investigações. Por que nao o fizeram? POR QUE?
- Diplomata: Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.
So, be it...
Addendum, 20/10/2014, 12:04hs:
Um esclarecimento do principal interessado:
Em carta, ex-presidente FHC presta esclarecimentos sobre escândalos em seu governo
Resposta vem após coluna de Élio Gaspari no jornal Folha de S. Paulo, em que destacou os escândalos do governo do tucano
SÃO PAULO - Em carta enviada à “Folha de S. Paulo” e divulgada nesta segunda-feira pelo jornal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso responde a artigo recente do colunista Elio Gaspari em que lembrava de escândalos noticiados durante o governo do tucano.
Dentre eles, estão o "Caso Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a reeleição do presidente", entre outros. Gaspari aponta que todos os envolvidos estão soltos até hoje.
FHC contestou na carta, dizendo que a alegada compra de votos para sua reeleição, os acusados não eram do PSDB e que nunca houve acusação formal a “ministro aludido”.
Já em relação ao "mensalão mineiro", ele disse que, desde o início, defendeu a apuração e julgamento. "Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente".
Sobre o "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô, ele afirmou que “provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos”.
Confira a carta na íntegra:
A propósito do esclarecedor artigo de Elio Gaspari "Todos soltos, todos soltos até hoje", que começa a desfazer o slogan de escândalos do PSDB, desejo esclarecer:
a) Quanto ao caso Sivam, não só que a contratação da Raytheon se deu no governo Itamar, como que ao governo nunca foi atribuído haver participado de malfeitos. A "prensa" para que o processo andasse se referia à aprovação do mesmo pelo Senado, posto que o relator do caso demorava em se pronunciar. Houve inquérito, o servidor mostrou inocência (havia sido afastado das funções por mim) e, posteriormente, foi muito justamente nomeado embaixador na Colômbia pelo presidente Lula.
b) A "pasta rosa", como dito no artigo, se refere a supostos recursos de campanha destinados, antes de meu governo, a candidatos parlamentares de vários partidos; o inquérito, no caso, competia à Justiça Eleitoral e a legislação nas eleições até 1994 era diferente da atual, não sendo fácil, de serem verdadeiras as suposições, tipificar os atos como crimes eleitorais.
c) Quanto à alegada compra de votos para a reeleição, além dos acusados não serem do PSDB e terem sido objeto de inquérito no Congresso que os levou à renúncia, quanto à insinuação vaga de que teria havido envolvimento de um ministro no processo de suborno, o ministro aludido foi espontaneamente à Comissão de Justiça da Câmara e rechaçou as aleivosias. Nunca houve acusação formal ao ministro, que eu saiba.
d) No que se refere ao chamado "mensalão mineiro", ainda "sub judice", minha opinião, independentemente de endossar as acusações, foi, desde o início, de que deveria haver apuração e julgamento. Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente.
e) Por fim, não existe um "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô. Segundo o relatório técnico do Cade, há acusação a empresas que formaram cartel para operar tanto em obras federais como estaduais. Provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos.
Ficarei grato se esta carta for publicada para assim complementar as informações do jornalista Elio Gaspari.
Cordialmente,
Fernando Henrique Cardoso