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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (13): certas coisas sao dificeis de acreditar

A gente, todo mundo, recebe muita porcaria na caixa de entrada. Nem se sabe bem de onde vem. Não adianta, cada vez entra mais spam, mais bobagem que é preciso marcar como junk e deletar.
Foi o que fiz com a mensagem abaixo, inclusive porque me pareceu tão inacreditavelmente forte que imaginei ser falsa, uma conspiração. Cliquei lixo (ou como se diz em Português: Delete).
Depois, fiquei encucado e fui verificar. Primeiro o remetente para ver se era algo existente e parece que é.
Reproduzo aqui:

From: PT 20 Anos
Subject: A igreja é contra o PT, vamos combatê-la
Date: October 19, 2010 11:06:27 PM GMT+08:00
To: Paulo R. Almeida
[deleto para evitar mais spams]
Reply-To: pt20anos@gmail.com

Depois o cabeçalho da mensagem, toda enquadrada em vermelho forte, com os dizeres:

PT + 20 anos no poder Onda Vermelha

Agora o conteúdo, inacreditável, mas real:

A igreja é contra o PT, vamos combatê-la!
O PT não pode se calar diante da onda de calúnias que tem surgido contra a candidatura de Dilma Rousseff nestas eleições.
A direita reacionária usa aquela mesma parcela da Igreja Católica que apoiou o golpe de 64 para espalhar boatos sobre as posições do nosso partido e de nossa candidata. Não iremos nos calar diante de calúnias ditas por padres suspeitos de servir a interesses escusos de nossos adversários.
Precisamos salvar o Brasil do atraso, e fazer a defesa enfática de um Estado laico, que só será possível com a eleição de Dilma Rousseff. A Igreja é que deve se submeter ao Estado, e não o contrário.
Este caminho já foi traçado pelo companheiro Hugo Chávez na Venezuela: depois de sofrer uma campanha sórdida como a que estamos sofrendo agora, decretou a laicidade do Estado, e agora é o governo venezuelano que controla sua própria Igreja. O PT já está processando a Diocese de Guarulhos (SP) por conta da tentativa de interferir no processo eleitoral, mandando imprimir panfletos que denigrem nosso partido e nossa candidata.
Não podemos permitir esse tipo de abuso, e faremos o combate de todas as maneiras possíveis. Precisamos continuar pressionando o comando do partido, dito moderado, para que continue defedendo os valores que historicamente são bandeiras do PT.
Nós acreditamos na liberdade religiosa, desde que a fé não seja usado como instrumento de dominação da vontade do povo por parte do Vaticano, como vemos acontecer desde as Cruzadas. Pesquisem o histórico dos chamados sacerdotes que se opõem ao PT e tentam manipular a opinião pública contra nós. Está claro que D. Paulo já não tem mais a capacidade de liderar sua Igreja, e uma intervenção se mostra cada vez mais necessária.
Temos que agir para que lideranças progressistas, como Leonardo Boff, ganhem espaço na hierarquia católica.Do que a Igreja Católica tem tanto medo? Será da nossa proposta de incluir padres na CPI da Pedofilia?
Repasse esse e-mail para 13 amigos! Vamos à luta http://pt20anos.wordpress.com


Finalmente fecha em tom grandioso:

Vamos à luta! [Punhos cerrados para cima, em negro sobre o fundo vermelho]

Eu fui então verificar o site em questão, pois desconfiava que se tratasse de uma armação dos tucanos, da CIA, dos arapongas do finado regime militar, todos conspirando contra o PT e sua criatura eleitoral, enfim, um verdadeiro complô maquiavélico -- não, deixemos o Maquiavel fora disso, pois acho que ele não seria tão estúpido -- para retirar votos da candidata oficial.
Pois não era: o site existe, nesse mesmo endereço, com banners e logos de apoio à candidata, e tem todas essas mensagens, como direi?, edificantes, inspiradoras, começando por essa ai de cima, já recheada de 78 comentários quando visitei.

Acrescentei mais um comentário, apenas para testar, ainda desconfiado de que poderia ser uma armação direitista, uma conspiração tucana. Se fosse, não daria em nada, seria descontinuado, ou algo assim. Escrevi apenas que achava tudo isso "muito interessante. Altamente revelador do momento que estamos vivendo no Brasil". Clique, pronto, sem moderação, foi ao post. Aliás, a maior parte dos comentários são negativos, pois acredito que mesmo o petista mais obtuso ainda tem uma leve noção do que é razoável e do que não é, em termos de campanha eleitoral.

Termino com o quadro de apoios neste blog do PT + 20 anos no poder. Além dos links com a campanha da candidata, figuram todos os sites e blogs recomendáveis, se ouso dizer. São eles:

Blogroll
* 45 motivos para não votar em Serra
* Amigos da Presidente Dilma
* Amigos do Presidente Lula
* Anais Políticos
* Blog da Dilma
* Blog Dilma
* Blog Zé Dirceu
* Carta Capital
* Carta Maior
* Escrevinhador
* Luis Nassif
* Mulheres com Dilma
* Vermelho.org
* Viomundo


Como diria um escritor surpreendido: não tenho palavras! Sim, não tenho mais nada a dizer.
Acho apenas que o Brasil enlouqueceu. Corrijo: alguns brasileiros enlouqueceram.
Ponto, acho que fico aqui no número 13 desta série...

Paulo Roberto de Almeida
(20.10.2010)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (10): bateu o panico, e ai vem terrorismo eleitoral

Da coluna diária (18.10.201) do ex-prefeito Cesar Maia:

E-MAIL DE ALGUÉM DA COORDENAÇÃO DA CAMPANHA DE DILMA, INTERCEPTADO!

1. Nem troca de e-mails entre "cardeais" fica mais livre de um cochilo ou quebra de discrição de alguém que quer se mostrar poderoso por vaidade, vazando. Abaixo, itens selecionados por este Ex-Blog.

2. "Usar a micro-mídia, levando publicidade das empresas estatais que estão fora da proibição às cidades com 100 mil habitantes e menos. O Ibope dá a Dilma ampla vantagem nas cidades com menos de 100 mil habitantes."

3. "Listar, estado por estado, região por região, município por município, onde estão os votos brancos, nulos e a abstenção acima da série histórica e ir a estes municípios com comandos do PT e movimento social dirigido por nós."

4. "Imediatamente usar os cadastros do bolsa-família, pró-jovem, pró-uni, etc., e produzir pânico, informando que sem Dilma esses programas serão cancelados. Usar essa mesma informação nas redes de internet. Nos programas de TV deve-se usar essa informação, porém sem agressividade. Dilma deve usar essa comunicação, sem excessos, em suas entrevistas e debates."

5. A audiência do debate na Band foi de 4%. Mas na pesquisa Sensus, 30% dos entrevistados disseram que viram o debate. Mas claro, "viram" através da cobertura da imprensa. O debate, depois do primeiro bloco deve ser para a imprensa e não para a audiência. E os órgãos amigos devem ser alimentados. Dar atenção especial aos programas de rádio dos comunicadores, na manhã do dia seguinte, com prioridade aos municípios que centralizam audiência de outros municípios em sua volta.

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Comento: parece que vem terrorismo eleitoral por aí: ameaçar eleitores do Bolsa-Família, de Pró-Uni e outros programas sociais que ficarão sem seus  benefícios se a candidata oficial perder representa simplesmente uma tática terrorista, e calhorda (por certo).
Pensando bem: combina com essa gente...
Tem toda a cara de quem recorre a esse tipo de tática...

sábado, 16 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (6): a raiva como confissao de fraqueza...

Esse editorial do Estadão toca nos pontos corretos. O presidente está fora de si, pois a realidade não se conforma aos seus desejos.
Para ajudar a sua "criatura eleitoral", que jamais teria existência própria sem o seu "dedaço" (como se faz nos regimes autoritários, que podem ser até carismáticos), ele incorre em mentiras, em exageros, em xingamentos.
Como se diz nos EUA: tudo isso pode backfire, ou seja, pode ser um tiro no pé...
Paulo Roberto de Almeida

A compulsão fala mais alto
Editorial - O Estado de S.Paulo
15 de outubro de 2010

Enquanto os condutores da campanha de Dilma Rousseff se perguntam onde foi que erraram, deixando escapar a vitória dada como certa no primeiro turno, e como conter o estreitamento da vantagem da candidata sobre o opositor José Serra nas pesquisas, eis que o presidente Lula reincide no comportamento belicoso que contribuiu para privar a sua afilhada dos votos que poderiam ter encerrado a contenda em 3 de outubro.

Foi um típico efeito bumerangue. Ao investir ferozmente contra a imprensa em três comícios sucessivos no breve período de 5 dias, Lula decerto buscava desqualificar as revelações dos escândalos na Casa Civil chefiada pela mais próxima colaboradora de Dilma, Erenice Guerra.

Diferentemente das notícias sobre as violações do sigilo fiscal de aliados e familiares de Serra, com as quais muitos não conseguiram atinar, essas outras repercutiram junto ao eleitorado.

Mas, em vez de cair no conto lulista de que as denúncias não passavam de calúnias, uma parcela dos eleitores que nas urnas se revelaria significativa entendeu que a virulência do presidente representava uma confissão de culpa, além de indicar uma ameaça potencial à liberdade de informar em um eventual governo Dilma. Na reta final, informado da mudança dos ventos, ele bem que tentou neutralizar a traulitada com uma autocrítica.

"A gente precisa de humildade para não ficar com muita raiva quando escrevem contra", penitenciou-se num comício em Porto Alegre, "e nem com muito ego quando é a favor." Foi muito pouco e muito tarde. Agora, diante de uma nova situação adversa - ou "problemática", como se ouve na ponte entre o Palácio do Planalto e o QG dilmista -, Lula torna a reagir pavlovianamente, atacando a oposição com renovado rancor.

Nessas horas, as suas palavras parecem atender antes a um arraigado sentimento, ou compulsão, do que ao objetivo de promover a sua candidata. Na noite de quinta-feira, num comício na cidade paraense de Ananindeua, em surto de livre-pensar, disse que as acusações a Dilma vêm "de uma parte da elite que fazia as mesmas acusações ao Ulysses (Guimarães), ao Tancredo Neves, às Diretas Já, a mim em 89, a mim em 94, a mim em 98 e 2006". E, virando-se para ela, disparou: "Estão transferindo para você o ódio que acumularam contra mim."

Ao que se saiba, nenhum dos políticos citados foi alguma vez acusado de ser "a favor do aborto" que é o que se passou a dizer de Dilma nos púlpitos, em panfletos e na internet. E ao que se saiba, os acusadores não são "uma parte da elite" - pelo menos não no sentido que Lula dá ao termo. Mas isso é detalhe quando ele dá vazão a si mesmo, quaisquer que sejam as consequências dessas irrupções para a sorte da candidata no tira-teima do próximo dia 31. Por sinal, num evento oficial em Teresina, a lava do ressentimento correu solta.

Também em fase de citar o nome de Deus a três por quatro, afirmou que Ele "fez a vingança que eu queria" contra os senadores piauienses Heráclito Fortes, do DEM, e Mão Santa, do PSC, que votaram contra a prorrogação da CPMF e não se reelegeram. De volta ao passado, atribuiu as suas três derrotas em eleições presidenciais às "mentiras" dos que o temiam. "Diziam que era comunista, porque tinha a barba comprida. Mas Jesus também tinha. Tiradentes também tinha", declarou, como quem se alça a uma esfera superior.

O resto foi repetição: o elogio da falta de estudo ("a arte de governar não se aprende em universidade, senão pegavam um na Academia Brasileira de Letras para ser presidente"), a divisão dos brasileiros entre ricos e pobres ("rico não precisa de governo, quem precisa de governo é pobre") e a alusão oblíqua a Dilma ("a arte de governar é como a arte de ser mãe, cuidar da família, garantir direitos e oportunidades a todos").

Descontados os "acertos de contas" sem os quais aparentemente Lula não consegue passar, é isso o que entende por politizar a campanha - a seu ver, a única estratégia capaz de revitalizar a candidatura que vem fazendo água. Os companheiros querem a sua presença no horário eleitoral como no primeiro turno. Compreende-se: para o bem ou para o mal, Lula é tudo que Dilma tem. Pior sem ele, pois.

Interrupcao eleitoral (5): Vidas Paralelas (mas Plutarco nao tem nada a ver com isso)

O historiador romano Plutarco foi o autor das "Vidas Paralelas", nas quais fazia biografias comparadas dos imperadores romanos.
Estamos bem longe do modelo original.
Nao sei quem elaborou as "vidas paralelas" abaixo discriminadas de José Serra e de Dilma Rousseff, apenas sei dizer que o autor não gosta de Dilma, pelos conceitos usados e pela linguagem empregada.
Independentemente disso, porém, seria preciso saber se existem muitas mentiras, ou fatos que não são reais, com relação à candidata. Aceito publicar retificações objetivas, não ataques ou acusações sem base factual.
As "vidas paralelas" foram até o começo de 2010. Pode-se continuar...
Paulo Roberto de Almeida

José Serra e Dilma Rousseff: vidas paralelas
(Março de 2010)

José Serra tem 68 anos, é paulista, filho de imigrantes italianos, o pai vendedor de frutas no Mercado Público, foi criado em uma pequena casa quarto e sala, geminada com outras 24, em São Paulo.
Dilma Rousseff tem 62 anos, é mineira, filha de um imigrante húngaro, rico empreiteiro e dono de construtora, proprietário de dezenas de imóveis em Belo Horizonte, foi criada em um grande e espaçoso apartamento em Belo Horizonte.

Somente quando chegou ao Científico, a família Serra mudou-se para um apartamento de dois quartos, alugado. Antes disso, moraram em uma pequena casa em rua de chão batido.
Imóvel não era problema para a rica família Rousseff, que passava férias no Rio. Um dos espaçosos apartamentos foi cedido para Dilma utilizar, exclusivamente, como esconderijo seguro para os grupos terroristas dos quais participava, de onde saíam para praticar atentados, roubar e seqüestrar.

No início dos anos sessenta, vinculado à política estudantil, Serra foi presidente da União Estadual de Estudantes, de São Paulo, e da União Nacional dos Estudantes, com apoio da Juventude Católica. Democrata, sempre usou o palanque e a tribuna como armas, jamais integrando grupos terroristas e revolucionários manipulados pelo comunismo internacional.
Dilma, por sua vez, neste mesmo período, fazia política estudantil nas escolas mais burguesas de Belo Horizonte. Em 1963, ingressou no curso clássico e passou a comandar uma célula política em uma das mais tradicionais escolas da cidade, onde conheceu futuros companheiros de guerrilha, como o atual prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

Em 1964, Serra exilou-se na Bolívia e, posteriormente, na França, retornando ao Brasil em 1965, na clandestinidade. Ainda neste ano, foi para o Chile, onde ficou durante oito anos. Com a queda de Allende, foi para a Itália e, posteriormente, para os Estados Unidos. Teve uma vida extremamente produtiva no exílio, onde adquiriu sólida formação acadêmica, foi professor e consultor.
Em 1964, Dilma começou a conviver com terroristas de esquerda, iniciando a sua carreira como militante na luta armada. Neste período ingressou na POLOP, Política Operária, onde militou até ingressar na universidade.

Em 1967, Serra casou-se com a psicóloga e bailarina Sílvia Mônica Allende, com quem tem dois filhos e dois netos e continua até hoje casado.
Dilma também casou-se em 1967, com o terrorista e guerrilheiro Cláudio Galeno de Magalhães Linhares ("Aurelio", "Lobato"). Quando o primeiro marido a deixou, para ir cumprir missões em outros países, sequestrando um avião no Uruguai, por exemplo, teve um segundo casamento com Carlos Franklin Araújo, com quem teve uma filha. Desde 2000, não está casada.

Serra interrompeu a sua formação acadêmica em função do exílio, que impediu que seguisse a carreira de Engenheiro. No entanto, no Chile, fez um mestrado em Economia e foi professor de matemática na CEPAL. Posteriormente, nos Estados Unidos, fez mais um mestrado e um doutorado na prestigiada Universidade de Cornell. Tem uma das mais sólidas formações na área no Brasil.
Dilma ingressou em 1967 na faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. Ali participou da criação do sanguinário grupo COLINA, Comando de Libertação Nacional. Posteriormente, participou ativamente da fusão entre a COLINA e a VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, quando surgiu a violenta VAR-P, Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, responsável por dezenas de crimes contra civis e militares.

Serra permaneceu 10 anos longe do Brasil. Retornou em 1977, dois anos antes da Lei da Anistia, sendo um dos únicos que voltou sem nenhuma garantia de liberdade e ainda com os direitos políticos cassados.
Enquanto isso, Dilma estava na clandestinidade, participando de ações armadas, recebendo treinamento para guerrilha no exterior, ministrado por organizações comunistas internacionais. Aprendeu a usar o fuzil com maestria, especialmente na atividade de montá-lo e desmontá-lo no escuro. Foi presa em 1970, permanecendo nesta condição até 1973.

Em 1978, Serra iniciou a sua carreira política, que este ano completa 32 anos. Neste ano, teve sua candidatura a deputado impugnada, sob a alegação de que ainda estava com os direitos políticos suspensos. Foi admitido como professor de Economia na UNICAMP, onde ficou até 1984.
Em 1973, Dilma Rousseff retomou o curso de Economia na UFRGS, no Rio Grande do Sul, onde estava preso seu segundo marido, Carlos Araújo. Ingressou, junto com o marido, no PDT e recebeu um cargo de estagiária na Fundação de Economia e Estatística, em 1977. Em 1978, Dilma Rousseff começou a fazer o mestrado na UNICAMP e, depois, o doutorado. Durante anos, mentiu em seu currículo que tinha concluído os dois cursos quando, na verdade, mal cursou os créditos, que representa quando muito 10% de um título acadêmico strictu sensu.

Em 1983, Serra iniciou, efetivamente, a sua carreira como gestor, assumindo a Secretária de Planejamento do Estado de São Paulo.
Em 1985, Dilma assumiu a Secretaria Municipal da Fazenda, em Porto Alegre, no governo do pedetista Alceu Collares, com quem tem uma dívida de gratidão. Hoje Collares é conselheiro de Itaipu.

Em 1986, Serra foi eleito deputado constituinte, com a maior votação do estado de São Paulo. Foi o deputado que aprovou mais emendas no processo da Constituinte: apresentou 208 e aprovou 130, uma delas criando o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Liderou toda a reformulação orçamentária e de planejamento do país, no período, que começaram a estruturar as finanças brasileiras, preparando-as para o futuro Plano Real.
Dilma saiu da Secretaria da Fazenda de Porto Alegre em 1988, sendo substituída pelo hoje blogueiro Políbio Braga, que afirma: "ela não deixou sequer um relatório e a secretaria era um caos."

Serra foi um dos fundadores do PSDB, em 1988. Foi derrotado por Luiza Erundina, do PT, nas eleições para prefeito de São Paulo. Em 1990, foi reeleito deputado federal com a maior votação em São Paulo.
Em 1989, Dilma foi nomeada Diretora-Geral da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, na cota do marido no PDT. Alguns meses depois foi demitida, pois não obedecia horários e faltava a todas as reuniões, segundo Valdir Fraga, o presidente da Casa, à época.

Em 1994, Serra foi um dos grandes apoiadores do Plano Real, mesmo com idéias própria que o indispuseram, por exemplo, com Ciro Gomes. Neste ano, foi eleito senador por São Paulo, com mais de seis milhões de votos. Em seguida, assumiu o Ministério do Planejamento.
Em 1995, voltou para a FEE, mas como funcionária, já que o PDT havia perdido a eleição. Ali editou uma revista de indicadores econômicos, enquanto tentava acertar o seu “doutorado” na UNICAMP.

Em 1998, José Serra assumiu o Ministério da Saúde, criando os genéricos e o Programa de Combate a AIDS. Criou a ANS e ANVISA. Foi considerado, internacionalmente, como uma referência mundial em gestão na área.
Em 1998, na cota do PDT, assume a Secretaria de Minas e Energia, no governo petista de Olívio Dutra, eleito governador gaúcho.Vendo que o partido de Brizola estava decadente, ingressou no PT.

Em 2002, Serra candidatou-se à Presidência, sendo derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2002, Dilma foi nomeada ministra das Minas e Energia do governo Lula, puxando o tapete de Luiz Pinguelli Rosa, mestre em engenharia nuclear e doutor em física, que coordenava o grupo de transição.

Em 2004, Serra elegeu-se Prefeito de São Paulo.
Em junho de 2005, Dilma assumiu o lugar de José Dirceu, o chefe da sofisticada organização criminosa do mensalão, sendo saudada por ele como “companheira de armas e de lutas”, em memória aos tempos da guerrilha.

Em 2006, elegeu-se Governador de São Paulo, cargo que exerce até os dias de hoje. É o candidato natural da oposição à Presidência da República.
De lá para cá, vem sendo imposta por Lula como a candidata biônica do PT à presidência da república. No dia 20 de fevereiro de 2010, foi ungida, sem nunca ter conquistado um só cargo público pelo voto ou por concurso, a candidata da situação à sucessão de Lula.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A mistificacao como obra deliberada (3): o programa econômico da candidata oficial

Não era para acreditar
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 25 de agosto de 2010

Se alguém viu alguma promessa de seriedade na campanha da candidata Dilma Rousseff, esqueça. Foi uma falha de comunicação. Ela já negou a intenção de realizar um ajuste fiscal se for eleita. Desmentiu a notícia publicada um dia antes. Segundo a mesma reportagem, ela também poderia baixar a meta de inflação. A fonte da informação divulgada na segunda-feira foi o ex-ministro Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha petista.

O ajuste é desnecessário, disse ontem a candidata, porque a economia cresce, a inflação está sob controle, a relação dívida/PIB está em queda e há um bom volume de reservas internacionais. Talvez ela acredite nessa história e também esse detalhe é preocupante. Nenhuma pessoa razoavelmente informada pode estar tranquila em relação às contas públicas. A dívida pública bruta continua a crescer rapidamente por causa do aumento de compromissos do governo.
Só para reforçar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram emitidos papéis no valor de R$ 180 bilhões. Mais títulos serão lançados para a capitalização da Petrobrás. Ninguém sabe qual será o montante, porque isso dependerá do preço fixado para os 5 bilhões de barris de petróleo prometidos à empresa. Pelas avaliações propostas pelas consultorias, a soma poderá corresponder a algo entre US$ 25 bilhões e US$ 60 bilhões – sim, essas cifras são dólares.

A referência ao crescimento econômico seria irrelevante, se não indicasse um critério perverso: para a candidata, assim como para vários de seus ex-colegas de governo, a chave do equilíbrio fiscal é o aumento da receita. Se a arrecadação cresce, como é normal em fases de prosperidade econômica, as contas públicas vão bem. Foi esse o padrão seguido em muitos anos: a saída é sempre arrecadar mais, nunca reduzir despesas.

Mas ela ainda faz uma concessão. Segundo a ex-ministra, nenhum tostão será destinado, em seu governo, a gastos desnecessários. Se houvesse alguma seriedade nessa promessa, a ministra deveria, caso eleita, rever imediatamente os compromissos assumidos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Por quais critérios os gastos federais serão necessários?

O Brasil precisa mesmo gastar em prováveis elefantes brancos e ao mesmo tempo enfrentar os enormes custos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da exploração do pré-sal? O governo já se dispôs a participar, por meio do BNDES, da construção do trem-bala, um empreendimento de utilidade e de retorno altamente duvidosos, segundo opinião de técnicos. Enquanto isso, o quadro do saneamento divulgado na semana passada pelo IBGE continua assustador. A distribuição de água encanada melhorou muito nos últimos dez anos, mas não os serviços sanitários.

Se as concepções de política fiscal da ex-ministra forem as mesmas de seu patrono, dificilmente haverá alguma racionalidade no uso de recursos públicos. O ajuste realizado em 2003 foi uma solução de emergência, forçada pela circunstância política e executada por um ministro capaz de influenciar o presidente Lula. Nenhum outro, depois de Palocci, teve um poder semelhante. Além disso, o presidente nunca mais precisou de um auxiliar com ideias próprias – com exceção, é claro, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Passada a emergência, predominou a noção da política fiscal orientada para o gasto. O presidente Lula várias vezes defendeu a expansão da despesa como se fosse a marca do bom governo – e, como contrapartida, sempre tomou como referência os países com grande carga tributária. Falou em planejamento muitas vezes, mas nunca renunciou ao voluntarismo.

Isso explica sua defesa da política de financiamentos do Tesouro e do BNDES. Esse BNDES não é aquele gerido racionalmente para modernizar e ampliar a capacidade produtiva e disseminar o poder de competição. É uma instituição usada, em conjunto com o Tesouro, para favorecer a fusão de grandes grupos, facilitar a compra de empresas no exterior e financiar até obras da Copa do Mundo e um trem-bala ainda sem projeto e sem custo conhecido.

Quem apoia esse tipo de política não pode seriamente prometer um controle do uso de recursos públicos. E quanto pode valer seu compromisso de trabalhar pela reforma tributária e pela racionalização dos impostos, se o seu chefe e mentor continua defendendo uma aberração como o imposto do cheque, a CPMF?

Em sua conversa com a repórter Patrícia Campos Mello, o ex-ministro Palocci mencionou pontos indispensáveis na pauta de qualquer governo sério. Mas a agenda real da candidata petista, como ela mesma indica, deve ser bem diferente.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A frase sintese da campanha eleitoral...

Deve ser muito criterioso que não se acuse sem provas porque no final da campanha tem gente que vai passar para a história das campanhas eleitorais como ter feito calúnia e difamado desnecessariamente pessoas e campanhas que não tinham provas”.
Candidata Dilma Rousseff (11/08/2010)

Entendeu leitor?
Não se preocupe, eu também não, e acho que ninguém mais.
Como disse um jornalista (Reinaldo Azevedo. de quem copio essa transcrição) é "a sintaxe na sua fase de miséria". Essa frase "rende um tratado de lingüística e neurologia."

Mentiras politicas: ate quando os jornalistas aceitam as fraudes eleitorais?

Não digo pela jornalista econômica abaixo transcrito, mas por todos esses repórteres e entrevistadores, que ouvem mentiras e não retrucam na hora.
Tenho horror à mentira e apenas por este motivo transcrevo esta matéria, não por achar que ela é especialmente meritória.
Mas quando num país todos os políticos mentem, alguém precisa restabelecer a verdade dos fatos.
Paulo Roberto de Almeida

Em nome dos fatos
Miriam Leitão
O Globo, 11.08.2010

Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%.

Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.

O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação.

A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FHC houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária.

Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização. Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.

Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação.

O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.

Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em
12,5%.

É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.

Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.

Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização.

Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas.

A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A politica externa de Dilma: especulacoes autorizadas...

Dilma, nas pegadas de Lula
Patrícia Campos Mello/ enviada especial, Brasília
O Estado de S. Paulo, 09/08/2010

O projeto da candidata do PT é manter o eixo central da diplomacia lulista, lutando por um espaço nos grandes conflitos

Em uma eventual vitória do PT nas eleições presidenciais, a candidata Dilma Rousseff vai manter as incursões da política externa brasileira em assuntos polêmicos - ela pretende, inclusive, continuar tentando ter uma voz em conflitos como o do Oriente Médio e da questão nuclear iraniana, a exemplo do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço internacional que é absolutamente compatível com as ideias da Dilma e com sua própria personalidade", disse ao Estado Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais e principal formulador do programa de governo da candidata. "Quem não entra em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians." Marco Aurélio é a alma da política externa da petista. O mais cotado para chanceler em um eventual governo Dilma é o atual secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota.

Dilma encara a diversificação de mercados do governo Lula e aproximação com emergentes como um grande trunfo e pretende mantê-las, se chegar ao Planalto. Segundo Marco Aurélio, a "opção sul-americana" iria se aprofundar - ele vê países como a Venezuela e Colômbia fabricando equipamentos para o pré-sal brasileiro. Rebate as acusações de que o posicionamento do Brasil de não condenar o desrespeito a direitos humanos em países como o Irã e Cuba prejudique a reputação do País: "O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias, o Brasil opera em episódios de direitos humanos de forma prática". E mantém vivas as críticas aos EUA: "Se os EUA insistem que temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, isso não vai acontecer."

Boa parte da visibilidade do Brasil no cenário internacional está ligada ao presidente Lula. Como seria isso em um governo Dilma?

A Dilma é diferente e não pretende ser o Lula de saias. Ela vai ter seu estilo. Lula tem uma prodigiosa intuição, já a Dilma é uma pessoa de formação acadêmica, muito assertiva, firme em suas posições.

O Brasil manterá, se ela for eleita, o high profile de política externa?

Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço e responsabilidades internacionais absolutamente compatíveis com as ideias de Dilma e com a própria personalidade de Dilma.

Dá para ver a Dilma tentando mediar o conflito do Oriente Médio?

Por que não?

O que dá para fazer para melhorar o relacionamento com os EUA? Há ruídos, criados pelas divergências em Honduras, no Irã...

Não fomos nós que criamos ruídos. Se os EUA insistem que nós temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, evidentemente, isso não vai acontecer. Precisamos ter paciência, vamos ver o que ocorre nas eleições nos EUA. Tivemos relações tão boas com os republicanos...

A química era melhor com o Bush?

Lula não apenas se declarou contra a guerra do Iraque, como começou a fazer uma articulação internacional. Em um tema tão crucial para o Bush, o Brasil soube se diferenciar e mesmo assim manter as relações com eles. O Bush veio aqui duas vezes, qual presidente americano veio duas vezes ao Brasil?

E o Obama não veio, e provavelmente não virá neste ano.

Durante um período não veio porque estava sem embaixador. Nós somos sensíveis às dificuldades que Obama enfrenta.

O presidente Lula ainda está chateado com Obama por causa do episódio do Irã?

O presidente Lula está um pouco decepcionado, porque tem muita estima pelo Obama. E uma grande expectativa.

Houve mudança na política dos EUA para a região?

Pouca. Os EUA deveriam ter sido mais peremptórios em Honduras. Não foram, sofreram pressão forte de conservadores.

Digamos que até o fim do ano, ou daqui a dois, o Ahmadinejad apareça com uma bomba nuclear. Com que cara o Brasil vai ficar?

O Brasil condenará duramente. Mas o Irã não vai aparecer com uma bomba.

Como é que vocês têm certeza?

Os americanos dizem que eles não têm. Nós estamos tentando impedir que eles tenham, e a melhor maneira é falando com eles.

Foi uma vitória para a diplomacia brasileira, apesar de o acordo não ter sido aceito?

Nós propusemos um caminho, que foi desconsiderado pelos EUA de forma brusca, ríspida e inamistosa.

No caso da Dilma, ela entraria também nessas questões espinhosas?

É claro, quem não está disposto a entrar em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians.

Uma crítica da oposição: porque não vamos mediar as papeleiras no Uruguai em vez de um problema no Oriente Médio?

Quisemos mediar o caso das papeleiras, não foi aceita nossa mediação. Mediamos Equador e Colômbia, Venezuela e Equador. Recebemos aqui o Shimon Peres, o Mahmoud Abbas, o Ahmadinejad, o Bashar Al Assad, da Síria, e todos pediam que interviéssemos...

Talvez porque o Brasil evite fazer julgamentos sobre respeito aos direitos humanos?

Não é verdade, temos uma posição objetiva, temos votos no Conselho a ONU...

Mas o Brasil se abstém em votos de condenação ao desrespeito dos direitos humanos.

Essa posição de abstenção é histórica do Itamaraty, vem lá de trás.

E por quê?

Porque não queremos ser seletivos e politizar circunstâncias. As pessoas sabem de muitos países que têm gravíssimos problemas de direitos humanos, mas com os quais os EUA se dão muito bem, como a Colômbia. Os americanos têm complacência com países onde há apedrejamento a mulheres. O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias . Ele opera em episódios de direitos humanos de forma prática. Quando há violações, nós agimos.

E na eleição do Irã?

Não sei qual é o problema da eleição do Irã.

Mataram manifestantes e prenderam oposicionistas. Isso não é um problema?

Sim, mas não é problema da eleição.

Mas prenderam membros da oposição...

Fizemos várias "démarches" junto ao Irã.

Lula comparou presos cubanos a presos comuns. Não é hora de ser mais assertivo em relação a direitos humanos em Cuba?

Eu conheço Cuba suficientemente para saber que qualquer declaração assertiva produz efeitos opostos.

E no Conselho de Segurança da ONU, continuamos buscando assento permanente?

Entramos em um período de transição que vai em direção a um mundo multipolar. Temos indícios econômicos e políticos da preeminência do sul sobre o norte. Ibas, BRICs, diálogo Sul-Sul, e episódios como Irã mostram isso. O episódio do Irã foi a entrada na cena internacional de dois personagens que não tinham sido convidados, que entraram com uma proposta importante.

O Brasil deveria fazer isso sempre?

Os países vão fazer normalmente, porque não podemos viver hoje sob a tutela de um sistema mundial que foi criado em 1945 e que hoje não tem mais impacto.

O que o sr. acha de flexibilizar o Mercosul e liberar o Brasil para acordos bilaterais?

Bobagem, porque não são os nossos parceiros que estão nos criando dificuldades. No caso da União Europeia foi a Argentina... Os problemas com a Argentina podem ser completamente resolvidos.

Não é necessário o Brasil se mostrar mais ativo em acordos bilaterais sozinho?

Podemos fazer isso com o Mercosul. O Mercosul não é, ao contrário do que o (candidato do PSDB, José) Serra tem dito, um estorvo. Nessas propostas de o Brasil fazer carreira solo em negociações bilaterais há, no fundo, uma tremenda nostalgia da Alca.

O fato de o Brasil não ter fechado nenhum acordo bilateral, a não ser com Israel, nos últimos anos, não indica problemas?

Capitaneamos um esforço coletivo que seria muito mais abrangente e levamos isso às últimas consequências (a Rodada Doha). Quem barrou? EUA e Índia. Agora a Índia está de acordo, mas os americanos não querem.

Doha continuaria como a grande aposta num próximo governo?

Eu estou cético. Vamos fortalecer uma negociação com a União Europeia.

Quais seriam os ajustes na política externa em um governo Dilma?

Temos de aprofundar a opção pela América do Sul, avançar nos projetos de substituição de importação com presença de capitais brasileiros, na Venezuela, na Bolívia.

Haverá proteção de contratos, para não repetir o problema da Odebrecht no Equador?

O problema da Odebrecht no Equador foi absolutamente isolado e já foi resolvido.

Quais outras maneiras haveria para investir na opção sul-americana?

Com o pré-sal teremos de criar uma gigantesca infraestrutura, que a indústria brasileira sozinha não terá condições de absorver. Será que não podemos ter produção desses componentes em outros países? Tem projetos agora na Venezuela, na Colômbia.

E para essa maior integração funcionar, não teria de ser resolvido o problema do protecionismo argentino?

O protecionismo argentino tem incidência marginal. Essas questões são marginais ante os grandes desafios como: a Venezuela vai se industrializar? E a Bolívia? Vamos nos transformar em um mercado de consumo regional, mais de 300 milhões de consumidores. Cada vez mais empresas investem aqui.

Sim, mas no Brasil. Para a Venezuela, onde há insegurança jurídica, ninguém vai.

O problema da Venezuela é menos de insegurança jurídica. O problema é que o modelo ainda não está plenamente configurado. A Venezuela ainda não rompeu com seu modelo petroleiro.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Futura Politica Externa do Brasil: a questao do Iran

Dilma diz que pretende continuar negociação com Irã
Deborah Berlinck
O Globo, 16.6.2010

Se eleita, política externa de Lula será mantida, afirma a petista

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse ontem que vai continuar a política do governo Lula em relação ao Irã, de aproximação e negociação com o país, e rejeição às sanções das potências ocidentais.
— Pretendemos, sem sombra de dúvida, manter uma política pró-paz, até que nos provem que sanções e uma política de guerra conduz o mundo a uma situação melhor — afirmou Dilma.
O Irã será um dos temas tratados no encontro com hoje de Dilma com o presidente francês Nicolas Sarkozy. O presidente vai dizer a ela que já tentou várias vezes o caminho da negociação com o Irã, sem sucesso.
Para Dilma, entretanto, o isolamento do Irã não é bom:
— Quando você deixa um país, um grupo ou até uma pessoa sem diálogo, leva ao isolamento ou ao acirramento de conflitos.
Dilma lembrou que os países ricos ainda "controlam os fóruns internacionais" e defendeu o direito de o Brasil ter uma posição independente :
"Cada vez mais vai ficar claro que a posição do Brasil a respeito do Irã foi, primeiro, uma posição soberana, que nós atingimos porque hoje temos soberania nas relações internacionais, independência.
Não acredito que um devedor, como o Brasil era no passado, pudesse ter posição altiva em relação ao credor", disse.

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Interessante a posicao da candidata. Seria preciso apenas esclarecer a que negociacao ela está se referindo.
O Irã vinha "negociando" com a AIEA e o P5+1 desde 2006, sem sucesso aparente.
Quando os paises ficaram impacientes, Brasil e Turquia "extrairam" uma declaracao cobrindo apenas um dos aspectos das negociacoes, o acesso do Irã a combustivel nuclear.
Nenhum outro aspecto das atividades nucleares do Irã foi tratado nessa declaracao tripartite.
Seria preciso saber se o Brasil e a Turquia pretendem conduzir novas "negociações" com o Irã, à margem e independentemente do P5+1 e da AIEA, e se pretendem novamente oferecer isso à comunidade internacional.
Para negociar com o Irã seria preciso um pouco mais do que promessas...
Paulo Roberto Almeida

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Desmontando a farsa - Rogério L. F. Werneck

A volta do Capitão Palocci
Rogério L. F. Werneck
O Estado de S. Paulo, 28/05/2010

Está em curso mais uma emocionante história de metamorfose no PT. Oito anos se passaram desde que o bravo Capitão Palocci cumpriu com admirável sucesso o que então parecia uma missão impossível: convencer o País de que a cúpula do PT havia adotado um discurso econômico ponderado, completamente distinto da pregação tresloucada que se viu nas eleições municipais de 2000. O novo desafio com que agora se defronta Palocci é parecido com o anterior: convencer o País de que a ex-ministra Dilma Rousseff já não é mais o que mostrou ser nos últimos cinco anos e que, de repente, suas ideias sobre política econômica passaram a ser equilibradas e perfeitamente defensáveis.

Na semana passada, a candidata foi cuidadosamente preparada para deixar boa impressão junto a investidores em Nova York. O que se viu foi uma Dilma quase irreconhecível, totalmente remodelada. Novo penteado, nova estampa e ideias novas em folha. No evento de que participou, a candidata fez várias menções a seu conhecido alinhamento com as posições de Palocci. Evitando qualquer referência ao ministro Guido Mantega, ressaltou a importância que sempre atribuiu à condução prudente da política fiscal. Externou ainda seu reconhecimento ao excelente trabalho que vem sendo prestado ao País por Henrique Meirelles. E sublinhou seu inarredável compromisso com metas de inflação cadentes e a manutenção da autonomia operacional do Banco Central (BC).

Quem quer que tenha acompanhado as posições defendidas por Dilma Rousseff ao longo dos últimos cinco anos deve ter ficado boquiaberto diante do recém-estreado discurso da candidata. Há uma mudança impressionante, por exemplo, em relação ao que se viu no final de 2005, quando a já então ministra-chefe da Casa Civil, sem deixar margem a dúvidas sobre a real extensão de seu compromisso com a estabilidade de preços, permitiu-se declarar que melhor seria ter inflação de 15% ao ano e recursos mais fartos para investimento.

Há também contraste gritante com a forma aguerrida com que, também em 2005, a ex-ministra comandou o torpedeamento da proposta de contenção da expansão de gastos correntes feita pelo então ministro Antonio Palocci. Ou ainda com suas declarações do final de 2007, quando afirmou que qualquer esforço de contenção de gastos seria deixado para o próximo mandato presidencial, que "o popular choque de gestão não leva(va) a nada" e que o grande mérito do PAC era ter feito o País romper com a tradição de contenção fiscal.

No afã de romper com essa suposta tradição, a ex-ministra deu amplo respaldo ao Ministério da Fazenda, no seu meticuloso trabalho de demolição institucional do arcabouço de condução de política econômica que, a duras penas, foi construído no País ao longo de duas décadas. Foi esse bota-abaixo que permitiu, por exemplo, que hoje esteja em operação, à luz do dia, um bilionário e grotesco esquema de concessão de crédito subsidiado pelo BNDES, direta e fartamente abastecido pelo Tesouro com recursos provenientes da emissão de dívida pública. Trata-se de involução lamentável, que viola a separação de contas dos segmentos não-financeiro e financeiro do setor público, fundamental para a manutenção do controle fiscal no País.

Causam também surpresa os elogios tardios, em falseta, à condução da política monetária, vindos da parte de quem jamais deixou de mostrar hostilidade escancarada à atuação de Meirelles no BC.

Graças a Antonio Palocci, o PT convenceu o País, em 2002, de que havia abandonado seu discurso econômico inconsequente e passado a dizer coisa com coisa. Mas os efeitos dessa injeção de credibilidade se dissiparam no segundo mandato do presidente Lula, quando, já não podendo contar com Palocci, o governo abriu espaço para figuras como Dilma Rousseff, Guido Mantega e Luciano Coutinho. É desanimador que, com nova eleição pela frente, o PT se veja obrigado a recorrer mais uma vez aos poderes do Capitão Palocci para tentar revalidar a credibilidade do seu discurso econômico.