O que o MEC faz é simplesmente criminoso: pretende esconder que mais da metade dos alunos que chegam ao final do ensino médio não possuem domínio da língua portuguesa, e quer que eles sejam admitidos no ciclo superior.
Eu de certa forma já desconfiava que isso ocorria, com ENEM ou sem ele: cada vez mais alunos de graduação não sabem se expressar.
Mas, a realidade é muito pior: no último exame de seleção de que participei, reparei que pelo menos a metade dos candidatos não conseguia se expressar direito. Fiquei estarrecido ao constatar que os candidatos não conseguiam montar duas frases sem erros de concordância e, também, não conseguiam expressar ideias com clareza. Ou seja, além de não saberem escrever -- pelos inúmeros de correção simplesmente gramatical -- as pessoas não sabiam pensar, pois as frases, independentemente de erros de grafia ou de concordância, não faziam sentido.
Que isso ocorra no final do secundário, já estamos nos acostumando. Mas que isso passe a ocorrer na passagem para a pós-graduação, me parece terrível, a revelar a total falência da educação brasileira.
Grato a meu amigo Gil Rikardo pelo envio da matéria abaixo, que de outra forma me passaria despercebida.
Além de estarrecedora, vemos que o MEC quer encobrir seus "crimes" educacionais e obriga os professores a mentir e a serem coniventes com seus crimes...
Paulo Roberto de Almeida
"Somos orientados a não sermos rigorosos na correção", diz avaliadora do Enem
Em entrevista, professora que avaliou redações disse estar revoltada com o processo
Em entrevista ao programa Gaúcha Repórter na tarde desta quarta-feira, a professora de língua portuguesa, cuja identidade foi preservada em função de um contrato de sigilo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que não ficou surpresa com as notas dadas às redações:
— Somos orientados a não sermos rigorosos na correção.
A explicação dos coordenadores do Enem, fornecida aos avaliadores em uma reunião, é que se houvesse um rigor maior, a reprovação seria muito alta e muitos alunos não atingiriam a nota mínima.
A professora afirmou que todos avaliadores foram orientados a não zerar os textos, e fazer todos os esforços para manter a redação dentro das notas mínimas. Os que não cumprissem com isso, poderiam ser excluídos do processo de correção:
— Dentro do que foi possível, fui o mais criteriosa possível nas redações que avaliei, mas tive meu sistema bloqueado. Essa era a ameaça.
Quando questionada sobre o processo de seleção dos avaliadores, a professora afirmou que o mesmo foi feito sem muito rigor. Ela foi chamada por uma amiga, que já fazia parte de uma das equipes de correção, e não passou por nenhum tipo de prova antes de integrar o grupo. A partir daí, passou por uma capacitação online que durou cinco semanas.
Houve somente um encontro presencial entre todos os avaliadores, cerca de um mês antes do início das correções. Nessa oportunidade, a professora e seus colegas fizeram uma manifestação para questionar as orientações que lhes haviam sido passadas.
— Foi esclarecido que os critérios já tinham sido estabelecidos pela equipe do Sesc, que é responsável pela prova, e que não cabia a nós questionar. Tínhamos que cumprir o que estava sendo orientado — comentou.
Indignada com o processo, a professora explicou que cada avaliador é obrigado a ler e dar nota a 3 mil redações em um período de um mês, quantidade considerada excessiva por ela:
— Como professora, acho que a revolta principal é por tu tentares desenvolver um trabalho sério, desenvolver as competências linguísticas, e depois ver que a avaliação não é séria, que os critérios não são rigorosos. Somos orientados inclusive a não penalizar o uso de emigrante no lugar de imigrante — desabafou.