O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador MEC dinossauro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador MEC dinossauro. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 6 de maio de 2014

MEC = Educacao? Nao! Ensino? Nao!! Cultura? Nao!!! Puro besteirol ideologico

Como eu sempre digo, para meus alunos, em palestras e conferências: a situação do ensino no Brasil (não merece esse nome, sequer o de educação) é muito pior do que jamais poderíamos imaginar. Como diria alguém, é muito mais pior...
O MEC é um dinossauro ideológico, infestado de saúvas freireanas, que estão destruindo o que restou de educação no Brasil...
Paulo Roberto de Almeida 

Já sabemos que a educação brasileira é doutrinada por socialistas das mais diversas vertentes. 
Mas agora Cláudio Haddad, doutor em economia pela Universidade de Chicago, resolveu quantificar o quanto isso é verdade. 
Ele fez a prova do ENADE e concluiu que as respostas consideradas corretas não são as de conhecimento técnico, e sim as ideológicas. Ele errou metade da prova cuja matéria domina e leciona.
O governo brasileiro, na figura do MEC, demonstra que não se importa com a formação cultural do aluno, mas sim em doutrinar o mesmo. Estamos formando mais uma geração que, apesar do grande potencial, estará perdida e inferiorizada frente ao seus pares do resto do mundo.

A entrevista está nas páginas amarelas da Veja desta semana e vale a pena ser conferida.
===============
Prova do Enade é meramente ideológica

Em entrevista à revista Veja desta semana, o engenheiro e economista Claudio Haddad, presidente doInsper, afirma que a prova de conhecimentos gerais do Enade não mede conhecimentos: seu objetivo é apenas doutrinar. Aliás, é o que petismo faz em todos os níveis de educação, não excluídas as universidades. A própria educação terá que ser reconstruída sob um novo governo:
Engenheiro e doutor em economia pela Universidade de Chicago. Claudio Haddad. 67 anos, sofreu, digamos assim, uma reprovação no campo acadêmico. Ele resolveu fazer, só de curiosidade, a prova de conhecimentos gerais do Enade, o exame do Ministério da Educação para os recém- formados nas universidades. Segundo o gabarito oficial do MEC, ele errou metade das questões. Como assim? Haddad, que preside o Insper, faculdade que fundou em São Paulo com o nome lbmec, em 1999, depois de quinze anos como sócio do Banco Garantia, está desatualizado? Nada disso. O defeito é da prova, que não se propõe a medir conhecimento, mas a aferir o grau de alinhamento do candidato com a ideologia em voga em Brasília. Diz Haddad: “E uma prova com viés ideológico, alta dose de subjetividade e um olhar simplista sobre as grandes questões da atualidade”.

O que o motivou a fazer uma prova de conhecimentos gerais para recém-formados? 

Meus alunos se saíram mal, e quis entender em que tipo de conhecimento eles patinavam. Passei o olho nas questões em uma cópia do teste. Eram enunciados enormes, que me deram a impressão de conter alto grau de subjetividade. Por isso, resolvi fazer a prova duas vezes. Na primeira, respondi tudo da maneira que julguei a mais correta: na segunda vez, assinalei as opções que imaginei serem aquelas que os avaliadores considerariam acertadas por terem um viés mais ideológico. Resultado: à luz de meus conhecimentos, errei quatro de oito questões de múltipla escolha. Ou seja, um fiasco. Já na versão que fiz com o único intuito de dar as respostas que os examinadores queriam, fui muito bem. Acertei sete. Só errei mesmo uma em que, sinceramente, apesar de ter me detido nela inúmeras vezes, até agora não vi lógica.

O senhor está dizendo que a prova foi mal formulada? 

Sem dúvida. Não se pode dizer que uma questão de conhecimentos gerais que se fia num viés político e ideológico e abre espaço para interpretações subjetivas seja bem formulada. Uma boa prova deveria se basear em fatos objetivos, e não em crenças.

Dê um exemplo de como o viés ideológico aparece no Enade? 

Uma das questões que mais me espantaram pede aos estudantes que reflitam sobre ética e cidadania, marcando as definições que expressem bem os dois conceitos. Uma das alternativas diz que, sem o estabelecimento de regras de conduta, não se constrói uma sociedade democrática e pluralista, terreno sobre o qual a cidadania viceja como valor. Está correto. A outra enfatiza que o princípio da dignidade humana é o avesso do preconceito. Também está certo. A zona de sombra paira sobre a terceira proposição, a que o MEC considera correta. “Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes, a uma vida digna, a oportunidades de realizar seus projetos, mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometido delito criminal, com trâmite transitado e julgado”. Isso é apenas uma divagação opinativa do formulador da prova sobre como seriam as condições ideais de vida de um preso. Existem maneiras bem mais objetivas e lógicas de testar o conhecimento do candidato sobre ética e cidadania.

E por que o senhor discorda da afirmativa?

Como alguém que cometeu um crime e está preso pode ter garantido o seu direito de realizar “projetos” como os demais cidadãos? É, antes de tudo, um absurdo lógico. Vejo aí uma condescendência típica de certas organizações de direitos humanos, que brigam indiscriminadamente por tudo o que é benefício para o preso: visita íntima, saída à vontade da cadeia. Isso, aliás, está bem em voga no Brasil. Faz parte do caldo ideológico incapaz de ver uma questão tão complexa sob todos os prismas.

O desprezo pela lógica é o pior defeito das questões do Enade?

A imposição de uma maneira de pensar é igualmente danosa. Uma das perguntas faz uma longa digressão sobre os jovens de hoje, que preferem ficar fechados em seu quarto mexendo no computador e jogando videogame a passear pela praça. 0 texto prega que a imersão no mundo eletrônico desvia a atenção das crianças dos impactos dos danos ambientais. A prova pede que o candidato escolha o título mais adequado para o texto que acabou de ler. Minha opção foi: “Preferências atuais de lazer de jovens e crianças: preocupação dos ambientalistas”. Errei. Para os avaliadores o título correto é: “Engajamento de crianças e jovens na preservação do legado natural: uma necessidade imediata”. Esse não é o título mais adequado para o texto, aliás de péssima qualidade. O que se tem no conjunto de texto e resposta é uma combinação de subjetividade total com pregação ambientalista. A questão não tenta medir o conhecimento do candidato. mas saber quanto ele está enquadrado na maneira de pensar oficial.

Qual é a origem dessas distorções?

Para mim. Está claro que o Enade deixa à mostra o modo torto de ver o mundo da maioria de nossos educadores. Eles são mergulhados nessa ideologia antiempresa, antilucro, antimercado já nas faculdades de pedagogia. Depois tratam de plantar essa visão na cabeça dos estudantes.

Essa é uma característica exclusiva da educação brasileira? 

Não. Há um movimento atualmente na França destinado a revisar o ensino de economia, que com o tempo foi se tomando distorcidamente anticapitalista. Está sendo difícil na França restaurar o equilíbrio. No Brasil a situação é pior. Aqui o discurso ideológico se mistura com a falta de conhecimento. O resultado é desastroso. É o triunfo de uma concepção de mundo simplista e equivocada. Gostaria de saber quantos desses pregadores leram Marx e Adam Smith no original. Sim, porque tem muito professor por aí que se baseia em textos curtos e apostilados para ensinar. A prova do MEC é um espelho dessa simplificação. O conhecimento verdadeiro consiste em entender realidades complexas, e não em contorná-las com resumos empobrecedores e enviesados.

Qual a consequência imediata disso?

A radicalização. O discurso ambientalista é um exemplo. Tomou-se uma sucessão de bandeiras e pregações alarmantes com evidente desprezo pela lógica e pela objetividade. A intervenção humana no meio ambiente é ensinada apenas como uma “agressão”. Muitas vezes faltam inteligência e informação na utilização racional dos recursos materiais, mas isso não significa que é impossível agir sobre a natureza sem provocar tragédias ambientais. As crianças também aprendem na escola a repudiar a Revolução Industrial inglesa, lembrada apenas pelas condições de trabalho miseráveis. Mas a miséria já estava lá bem antes e foi justamente com a Revolução Industrial que, pela primeira vez na história da humanidade, a riqueza aumentou exponencialmente para todas as classes. As economias cresceram, a renda per capita se multiplicou e os governos puderam arrecadar mais e implantar programas sociais. Mas a ideologia em voga demoniiza a Revolução Industrial. Isso não é educação de qualidade.

O Enade sofre dessa miopia em relação aos processos econômicos?

Sim. Em um alto grau. Uma questão sobre a crise financeira mundial de 2008 é a prova disso. O texto da pergunta diz que a desregulação dos mercados americanos e europeus levou à formação de uma bolha de empréstimos especulativos e imobiliários que, ao estourar, desencadeou a crise mundial. Falso ou verdadeiro? Para o MEC, é verdadeiro; para mim, falso. Para o MEC, o certo é pôr toda a culpa no sistema. Ponto. Com essa ênfase ideológica, perdem-se dimensões importantes para entender as razões da crise. A frouxa política monetária do Fed, o banco central americano, teve muito a ver com a crise. Como teve seu papel o incentivo do governo americano à concessão de crédito imobiliário mesmo para quem, claramente, não poderia pagar. Essas ações de Washington foram decisivas para que o mercado de casa própria inflasse em bases irrealistas. Mas a lente ideológica manda apontar a desregulamentação dos mercados como a causa da crise financeira. Isso não é produção de conhecimento, mas simplesmente a divulgação de uma visão equivocada.

Por que as universidades brasileiras ainda são tão pouco inovadoras mesmo se comparadas às de outros países emergentes?

Entre as instituições públicas de elite, dois fatores pesam contra a corrida pela produtividade: elas têm verbas garantidas e o grosso do dinheiro é distribuído sem considerar o relevo da produção científica de cada uma. O princípio do igualitarismo pode até soar bacana, mas contém em seu DNA uma armadilha perversa. Para que todos progridam no mesmo ritmo, o avanço de uns é refreado em função do passo mais lento de outros. Cadê a meritocracia? Nos Estados Unidos, as melhores universidades recebem mais recursos do que as de menor desempenho – e isso não é por acaso. É mérito.

Na última década, o governo federal incentivou a abertura de universidades com o intuito de fomentar certas regiões carentes de ensino de qualidade. Isso ajuda? 

É clara essa preocupação em espalhar universidades por todo o território brasileiro, sob o discurso do desenvolvimento regional, mas, para mim, isso significa desperdiçar dinheiro baixando o nível de todos. Sim, porque o dinheiro é finito e a pulverização dele impede os melhores de chegar a um patamar ainda mais alto.

Alguma coisa melhora no ensino superior brasileiro?

Temos centros de excelência já conectados com o mundo lá fora. Poderíamos ter muito mais competição, porém. O economista Edward Glaeser faz uma colocação muito interessante em um de seus livros quando diz que as universidades americanas não resvalaram para o corporativismo justamente porque tinham de competir urnas com as outras. No Brasil, nunca ouvi falar de uma turma de cientistas de um determinado centro de pesquisas preocupada em correr para superar o trabalho de outro grupo. Também não vejo ninguém consternado com o fato de que sua instituição não está entre as melhores do mundo nos rankings. A preocupação em gerar recursos adicionais, então, é algo mais raro ainda.

De quem e a culpa? 

Vejo claros problemas de gestão e governança nas universidades públicas. Meu pai foi sub-reitor da UFRJ e não se conformava com o aluguel baixíssimo que a universidade recebia do Canecão. Ele achava que tinha de vender a casa de shows, que assim entraria mais dinheiro no caixa. Mas as resistências internas a qualquer iniciativa que mexa na velha maneira de fazer as coisas são tão grandes que não se faz nada. A UFRJ tem instalações no Rio de Janeiro inteiro. Por que não vender uma parte, concentrar tudo numa mesma área e otimizar recursos? Ai entra uma série de interesses específicos. Tem até o grupo que diz: “Mas está bom assim; a universidade é do lado da minha casa”.

O forte elo entre universidades e empresas ajuda a explicar o alto poder inovador de muitos países. Como o Brasil está nessa área?

O Brasil vem melhorando, mas precisa romper de vez com uma ideologia antiga segundo a qual a parceria com o mercado é vista como ameaça à autonomia universitária. Bobagem. Todas as grandes instituições de ensino superior americanas recebem dinheiro de empresas e não se privam com isso de sua liberdade criativa. Ao contrário: são as maiores fornecedoras de prêmios Nobel do planeta. Se o pesquisador ficar isolado em sua torre de marfim, dificilmente produzirá conhecimento relevante. Mas percebo, inclusive pelas conversas dos alunos em minha escola, que surge no Brasil uma geração de mente mais aberta e empreendedora. Ela é essencial para a criação de um ecossistema favorável à inovação e à produção de riqueza.

Quais as características desse ecossistema?

Empreendedores, inovadores, academia, empresas e financiadores trabalhando juntos. São Paulo reúne condições para a criação disso, que se vê em ebulição em lugares como Boston e Tel-Aviv. Estamos falando de criar no Brasil uma cultura que tenha na produção de conhecimento seu maior valor.

================

O ENADE é ideológico?

Nos últimos anos, já nos acostumamos com os problemas do ENEM. Primeiro, como sempre lembra o jornalista Elio Gaspari, o Ministério da Educação nunca conseguiu fazer duas provas do ENEM por ano como havia prometido há algum tempo. Segundo, tivemos alguns casos de fraudes com o ENEM, que parecem que foram solucionados. Terceiro, ano passado tivemos o escândalo da correção das redações, quando se descobriu que algumas redações receberam notas máximas apesar de erros de ortografia e concordância.
Agora, o presidente do INSPER, Claudio Haddad, nos brinda com uma entrevista nas páginas amarelas da Veja na qual mostra que ele, um PhD em economia por Chicago, errou metade das questões do ENADE que, segundo ele, é uma prova com forte conteúdo ideológico. O ENADE é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes que tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. O exame faz parte do Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) e objetivo é avaliar a qualidade dos cursos de formação superior.
Reproduzo abaixo apenas o início da matéria da Veja para que os interessados comprem a revista. Um governo sério deveria convida-lo para se reunir com a cúpula do Ministério da Educação e com um painel de acadêmicos para discutir suas críticas. Quem fez essas críticas não foi alguém sem conhecimento de causa. Mas um profissional que montou uma das melhores faculdades de economia e administração do Brasil e vai montar um novo curso de engenharia.
Isso é um assunto muito sério. O que impressiona é que essa avaliação critica do ENADE não tenha sido feita pelo próprio Ministério da Educação. Para acabar com eventuais mal entendidos, o Congresso Nacional deveria fazer uma audiência pública sobre o assunto e chamar Claudio Haddad. A ver.
20140502-225124.jpg
20140502-225329.jpg
20140502-225344.jpg

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Educacao: o Brasil continua pessimo no PISA-OCDE - Gustavo Ioschpe (draft de 11/01/2014)

Por que não falar a verdade, ministro?

Gustavo Ioschpe

Revista Veja, 11/01/2014

(Nota PRA, em 24/02/2015: esta nota tem mais de ano, e ficou parada nos drafts do meu blog todo este tempo, por razões que desconheço; devo ter dormido em cima do teclado... Mas o tema continua revelante, e a situação educacional do Brasil só tem piorado, por isso ela vai postada, e vocês podem ser ainda mais pessimistas do que eu era um ano atrás...)

Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58a lugar em matemática, 59- em ciências e 55e em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).

A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21- lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma "tragédia para a educação alemã". A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete na capa: "Os alunos alemães são burros?". O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.

No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante. convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma "grande vitória" da educação brasileira e um sinal de que "estamos no caminho certo" (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Haddad: "A foto é ruim, mas o filme é muito bom". Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era "o primeiro aluno da sala", o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.

Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.

Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Pisa. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não precisa disso.

Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.

Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com
nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tomar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se Mercadante tivesse vindo a público para dizer: "O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional — o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra nossas escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar".

Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro dos milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por um sistema educacional inepto.

P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima da média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12. lugar em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Educacao em estagnacao, Brasil recua (alguma surpresa?); Enquanto isso, em Xangai...

Nenhuma: com a educação companheira, o Brasil só poderia recuar, absoluta e relativamente.
Paulo Roberto de Almeida 

Avaliação

Avanço do Brasil na educação perde fôlego, revela o Pisa

Especialistas divergem sobre razões da melhoria passada, mas concordam sobre o futuro: para acelerar, é preciso promover mudanças profundas. Confira ranking completo da mais importante avaliação do ensino mundial

Jadyr Pavão Júnior
Alunos do Centro de Ensino Médio Elefante Branco se preparam para um simulado às vésperas do Enem 2013
Alunos do Centro de Ensino Médio Elefante Branco se preparam para um simulado às vésperas do Enem 2013 (Wilson Dias/Agência Brasil)
Avaliar para mudar
O Pisa (Programme for International Student Assessment) é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Participam estudantes com 15 anos de idade. A avaliação pretende aferir o quanto os alunos aprenderam em sala de aula, mas também se conseguem aplicar conhecimentos na solução de problemas reais. Outro objetivo da avaliação é fornecer subsídio para políticas de educação. Em 2012, 501.000 jovens de 65 países ou regiões econômicas delimitadas (caso de Xangai) aplicaram a prova. No Brasil, foram 19.877 estudantes, divididos em 837 escolas.
O ensino nas escolas públicas brasileiras é, em geral, muito ruim. Ponto. Resta saber se ele está melhorando. O relatório do Pisa, mais importante avaliação da educação internacional, publicado nesta terça-feira mostra que a formação oferecida nas escolas (públicas e privadas) do país vem avançando desde 2000, quando a primeira edição do levantamento foi lançada. Contudo, o movimento ascendente vem perdendo força muito antes de colocar o Brasil ao lado dos melhores ou até mesmo dos medianos. Isso faz com que especialistas sentenciem: para avançar mais, o país terá que promover reformas profundas. "Não cresceremos mais sem isso", diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação, ONG que atua ao mesmo tempo vigiando e propondo políticas públicas.
Comparadas as notas das avaliações de 2009 e 2012, o Brasil — 58º do novo ranking — caiu em leitura (412 pontos para 410), marcou passo em ciências (405) e registrou melhora em matemática (386 para 391). Praticamente estagnado na faixa dos 400 pontos, o país permanece distante dos líderes do levantamento — a província chinesa de Xangai, por exemplo, com média geral de 588 pontos — e se mantém na vizinhança de nações como Albânia, Tunísia. A pontuação não é decorativa. Continue a ler a reportagem
======
Shanghai students top of the class ... and the world
By Zhao We
Shanghai Daily,  December 4, 2013, Wednesday |  PRINT EDITION

Shanghai again ranked first for mathematics, science and reading in a three-yearly report on global education as students in Asia continued to outshine their Western counterparts.
They also spent more time doing homework than their peers in the 65 countries and regions which took part in the tests for the Paris-based Organization for Economic Cooperation and Development.
Its PISA report (Program for International Student Assessment) is the single largest study of global schooling.
It is highly influential, with participating countries and regions representing more than 80 percent of the global economy and often adapting policy in response to the findings.
The first PISA survey was carried out in 2000, and Shanghai joined in 2009, coming first in the three categories.
Around 6,400 students from 155 schools in Shanghai took part in the latest assessment in April last year. Globally, about half a million 15-year-olds took part.
The tests are based on a 1,000-point scale.
In mathematics, average scores ranged from 368 in Peru to 613 in Shanghai. The US average was 481, below the global average of 494. Singapore and Hong Kong took second and third with scores of 573 and 561.
In science, average scores ranged from 373 in Peru to 580 in Shanghai. The US scored 497. The global average was 501.
In reading, average scores ranged from 384 in Peru to 570 in Shanghai. The US scored 498, just above the global 496.
“The results are very inspiring. While it is good to see our students have performed so well, it is worth thinking if we really need so many students to be so good at mathematics,” said Zhang Minxuan, leader of the Shanghai PISA program and president of Shanghai Normal University.
Shanghai students reported an average of 13.8 hours every week doing school assignments, the highest and almost three times the average 4.9 hours.
Zhang said an analysis showed the optimal time for students to do homework is 11 hours per week including weekends. “We found that students who spent more than 11 hours on homework didn’t make significant progress, which deprived their time of discovering other talents.”
The mathematics test was divided into several parts to examine students’ skills to solve real-world questions using a knowledge of geometry, algebra, calculation and statistics. Shanghai students performed well in translating a real-world problem into a mathematics problem but were poorer at explaining the results.
Zhang attributed Shanghai’s students’ good performance in mathematics to more chances to learn the subject, personal ability and family background.
Boys and girls have a similar performance in mathematics but girls were more modest in assessing their ability.
“We should encourage girl students to think they can do math as good as boys and help them build confidence,” Zhang said.
In reading and science, the score gap between boys and girls in Shanghai has narrowed compared to 2009, Zhang said.
He said the results showed that Shanghai’s education was well-balanced as the gap between low proficiency and high proficiency was smaller than the average level.
Zhang said the PISA results had given thoughtful hints on how to provide a balanced education for students.

Schools are advised to give fewer after-school assignments and reduce homework so that students can have more time for individual development. For teachers, they should think about how to help students use mathematics skills to solve real problems instead of learning how to solve a math problem only. It is also suggested that parents not overburden their children with after-school tutoring.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Educacao brasileira: mais demagogia do MEC

 MEC quer criar Programa Mais Professores

Mariana Tokarni

Agência Brasil, 22/08/2013


Brasília – O Ministério da Educação (MEC) quer levar professores a escolas onde faltam docentes em ação semelhante ao Mais Médicos. O Mais Professores faz parte do Compromisso Nacional pelo Ensino Médio, apresentado hoje (21) pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na Câmara dos Deputados. A criação do programa já havia sido comentada antes pelo ministro, mas é a primeira vez que é apresentado em detalhes.

Segundo Mercadante, o compromisso ainda está em fase de desenvolvimento e depende do Orçamento disponível. Entre as ações do programa, está a proposta de levar professores a escolas de municípios com índices de desenvolvimento humano baixos ou muito baixos e que tenham um baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) - índice calculado a partir do fluxo escolar e o desempenhos dos estudantes em avaliações nacionais.

A intenção é que, mediante o pagamento de uma bolsa, professores se disponham a reforçar o quadro dessas escolas. Para as escolas com baixo rendimento, a pasta quer atrair bons professores para melhorar o ambiente acadêmico. Caso não haja professores disponíveis na rede, o MEC cogita a participação de professores aposentados que queiram voltar às salas de aula.

Segundo Mercadante, as áreas com as maiores carências de professores são matemática, física, química e inglês. O ministro diz que as disciplinas representam cerca de 3% das matrículas de ensino superior, índice que tem se mantido constante. O Mais Professores, esclarece o ministro, ainda é uma proposta em aberto.

Além de atrair professores para áreas carentes, o compromisso propõe o aperfeiçoamento da formação continuada dos docentes, com o desenvolvimento de material didático específico e a criação da Universidade do Professor, uma rede que vai concentrar todas as iniciativas voltadas para a formação docente. Pretende-se que em um mesmo portal o professor possa acessar todos os cursos e programas disponíveis.

O compromisso prevê também um redesenho curricular do ensino médio, para que as disciplinas ensinadas tenham uma maior integração entre si. Para que o ensino seja melhorado, a pasta aposta na educação integral. Para 2013, segundo o ministro, está prevista a adesão de 5 mil escolas no ensino de dois turnos. No ano que vem, serão 10 mil centros de ensino.

Faz parte do compromisso a ação Quero ser Professor, Quero ser Cientista, com a oferta de 100 mil bolsas de estudo para jovens que queiram ingressar na área de exatas. Além disso, o ministério desenvolveu, em conjunto com pesquisadores, um kit para estimular o interesse pelas ciências. "Vamos distribuir os kits de ciências para alunos de toda a rede. Ele vai poder manipular, usar. É inspirado em alguns brinquedos, mas mais sofisticado e barato", explicou Mercadante.

Mercadante diz que o ensino médio é uma fase que precisa de atenção. "Andamos muito nos anos iniciais [do ensino fundamental], melhoramos nos anos finais e simplesmente atingimos a meta [do Ideb] no ensino médio. O que é pouco. Ainda precisamos de um salto de qualidade", disse.

Em 2012, 8.376.852 alunos estavam matriculados regularmente e 1.345.864 cursavam o ensino médio pelo Educação de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com o Censo Escolar. A maioria das matrículas do ensino médio está na rede estadual de ensino (84,9%). As escolas privadas ficam com 12,7% das matrículas, as escolas federais com 1,5% e as municipais com 0,9%.

A defasagem idade-série ainda é alta, segundo o MEC, em 2012, dos estudantes matriculados no período, 31,1% têm idade acima do esperado para a série que cursam.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A decadencia universitaria, o MEC dinossauro e um governo erratico: receita certa para o desastre...


Os descaminhos da carreira docente nas universidades federais brasileiras

Site da Academia Brasileira de Ciências, 4/06/2013
As professoras da UFRJ Maria Tereza Leopardi Mello, do Instituto de Economia, e Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica, membro titular da ABC e atual Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, enviaram para Notícias da ABC o seguinte artigo:

Com a lei 12.772 recém-aprovada (em dezembro de 2012), o governo já editou uma Medida Provisória (MP) para alterar algumas de suas regras - que foram propostas pelo próprio governo. Sintoma de que há algo errado não só na Lei, mas no próprio processo decisório do MEC, que ignorou solenemente a opinião de segmentos importantes da academia. A discussão da nova MP arrisca seguir pelo mesmo caminho, 'resolvendo' apenas uma pequena parte de um problema que, diga-se de passagem, não existia antes da Lei 12.772. No fundamental, contudo, os malefícios da Lei já se fizeram sentir nas universidades e - pela recusa em dialogar demonstrada pelo MEC - tenderão a continuar e a eclodir com força em 2015.

A carreira docente nas universidades federais é, atualmente, regida pela Lei 12.772, aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro de 2012 a partir de um Projeto de Lei proposto pela Presidente da República(1). Apesar de recém-aprovada, o governo já editou uma MP alterando algumas de suas regras. 

Nesse cenário incerto, várias universidades federais estão com concursos abertos regidos pela infante Lei 12.772, que instituiu a dispensa do título de doutor para o ingresso na carreira do magistério superior, dentre outros malefícios. A contratação sem titulação passou a ser a regra geral, colocando em risco décadas de intenso esforço da academia, conjuntamente com órgãos federais - como CAPES e CNPq - e estaduais - FAPs - para fazer prevalecer o mérito nas universidades. 

Por que a pressa - a MP supõe urgência - de alterar a Lei, se as regras em questão foram propostas pelo próprio governo? Aparentemente, os dirigentes do MEC se deram conta - tardiamente - dos problemas causados às universidades federais pela nova sistemática de ingresso na carreira docente, muito provavelmente em resposta às manifestações de várias entidades de enorme prestígio, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências, que fizeram coro com um grande segmento de professores universitários rechaçando e apontando os graves problemas embutidos nesta Lei.

Resumidamente, a MP introduz as seguintes modificações na Lei 12.772 aprovada em dezembro último:

  • estabelece a titulação de doutorado como requisito para ingresso na carreira, prevendo a possibilidade de as universidades dispensarem - justificadamente - essa exigência nos editais dos concursos (art. 8º, §§ 1º e 3º);
  • modifica as designações de cada classe - de Auxiliar, Assistente, Adjunto, Associado e Titular para, respectivamente, A, B, C, D e E; na classe "A", o docente pode ser denominado Adjunto (se Doutor), Assistente (se Mestre) ou Auxiliar (se não tiver titulação). As demais classes correspondem às denominações de Assistente (B), Adjunto (C), Associado (D) e Titular (E). O ingresso na carreira permanece sendo obrigatoriamente no primeiro nível da classe A;
  • reduz de 20 para 10 anos o tempo de experiência ou de titulação de doutorado exigidos para ingresso na classe de Titular-Livre (art. 9º, II);
  • estabelece regras do concurso para Titular-Livre, prevendo banca com membros externos e critérios a serem estabelecidos pelo Ministro da Educação (art. 9º, com acréscimo de um § 3º) (regra semelhante já está prevista para a promoção para classe de Titular de carreira);
  • amplia as atividades e formas de remuneração admitidas no regime de Dedicação Exclusiva, incluindo bolsas de organismos internacionais (art. 21, III) e colaboração esporádica de natureza científica ou tecnológica, limitadas a 120h/ano (inciso XII acrescentado ao art. 21). Tais atividades deverão ser autorizadas e normatizadas pelo Conselho Superior de cada universidade (art. 21, §1º);
  • adiciona o afastamento para pós-doutorado entre as hipóteses de afastamento possíveis ainda no período probatório (art. 30, I). 

De forma, geral, a MP tentou corrigir parte dos graves problemas criados pela Lei 12.772. No entanto, a questão mais relevante -  em nossa opinião, a estrutura da carreira docente e a sistemática de ingresso nessa carreira - não foram contemplados. Para entender o problema, façamos um breve histórico.

O sistema anterior da carreira docente federal (regido por normas de 1987) previa uma estrutura de classes - Auxiliar, Assistente, Adjunto e Titular - divididas, as três primeiras, em quatro níveis cada; a estrutura remuneratória seguia uma lógica que relacionava cada nível/classe com a titulação e regime de trabalho; cada nível salarial resultava da combinação desses fatores e era composto de um vencimento básico e um adicional por titulação (VB + AT). Ao longo do tempo, tanto a estrutura remuneratória quanto os níveis e classes foram sendo alterados. Criaram-se novas gratificações (GED, GEMAS etc.), além da nova classe de professor Associado (com 4 níveis), acima da de Adjunto.

O ingresso na carreira podia se dar no primeiro nível de cada classe - de Auxiliar, Assistente ou Adjunto, exigindo-se, respectivamente, diploma de graduação, título de mestre e doutor. Tal sistema era flexível, adaptável às diferentes condições das universidades federais em todo o país, e muito mais adequado ao atual estágio da universidade brasileira.

Nesse aspecto, a Lei 12.772/2012 provocou um tremendo retrocesso! Estabeleceu que o ingresso na carreira docente só poderia ocorrer no primeiro nível da classe de Auxiliar, mediante concurso para o qual se exigia apenas o diploma de graduação (art. 8º). Quem já tivesse doutorado, embora recebendo uma Retribuição por Titulação correspondente ao título, permaneceria Auxiliar por três anos, já que a promoção para Adjunto só seria possível depois do estágio probatório (cf. art. 13).

Os problemas decorrentes dessa nova sistemática de ingresso são vários. O primeiro, e mais evidente, é relativo aos salários e à atratividade - já algo combalida - da carreira docente nas universidades federais. Mesmo com uma Retribuição por Titulação de Doutorado, um professor no primeiro nível da carreira ganha menos do que o salário de Adjunto 1 (o nível no qual seria enquadrado pelo sistema anterior). Como se pode ver no Anexo (Tabela 1), a diferença entre o salário de ingresso (agora denominado de "Adjunto A, nível 1") e o de "Adjunto C, nível 1" atualmente é de 7% (R$ 8.049,77 contra 8.618,53); mas, esta diferença aumenta até 2015, quando passará a ser de 15,8% (R$ 8.639,50 contra 10.007,23). Adicionalmente, se compararmos o salário de um ingressante em 2012 (R$ 7.627,02) e em 2015 (R$ 8.639,50), observa-se uma perda de cerca de 2% em termos reais(2).

Em segundo lugar, a Lei acabou inviabilizando que a titulação constasse como requisito no Edital do concurso - o único requisito para ingresso na carreira previsto legalmente era o título de graduação (art. 8º, § 1º); e ainda que o edital viesse a estabelecer requisitos adicionais, isso poderia ser contestado, pois tais requisitos não eram previstos em Lei(3)

Curiosamente, esse problema já havia sido previsto quando das discussões em torno do Projeto de Lei que deu origem à Lei 12.772, mas aparentemente o alerta foi ignorado. Por outro lado, quando desses debates, difundiu-se a ideia - equivocada - de que a sistemática anterior de ingresso não seria compatível com os princípios e regras constitucionais que regem a Administração Pública(4) - isso embora a prática de concursos para o nível de Adjunto tenha sido comum nas universidades federais e não tenha sido questionada judicialmente até o presente. 

Mas, a questão crucial é a perda do sentido original da estruturação da carreira: afinal, o que significa ser 'Auxiliar', se se prevê que possa haver um "Auxiliar com mestrado" ou um "Auxiliar com doutorado"? E o que significa ser Adjunto, se o título de Doutor não é condição suficiente (nem necessária) para isso? A divisão em classes perdeu seu sentido original, que estava ligada à titulação (e à senioridade do docente!).

Os arts. 16 e 17 da Lei 12.772 estabelecem a estrutura remuneratória constituída de Vencimento Básico + Retribuição por Titulação. Os valores de cada item (VB e RT) ao longo dos próximos três anos (de 01/03/2013 a 01/03/2015) são previstos nos seus Anexos. Falta-lhes, entretanto, uma estrutura lógica explícita - as variações entre os níveis de remuneração não são regulares, nem entre níveis de uma mesma classe nem entre classes; tampouco são regulares os acréscimos por titulação, ou as variações por regime de trabalho (Dedicação Exclusiva (DE), 40 horas sem DE, 20 horas) (Tabela 2).

Tudo o que se define são os valores de cada nível e a retribuição por titulação. Como esses valores vão até 2015, segue-se que a partir daí a questão voltará à agenda/pauta dos professores (do governo, dos sindicatos etc.) e poderá servir de estopim para uma nova greve.
Entendemos ser necessária uma re-estruturação da carreira docente, que obedeça aos princípios de valorização da qualificação e do regime de dedicação exclusiva e atenda aos objetivos de atrair novos professores de bom nível, com bons salários e a perspectiva de crescimento dentro da carreira.

O MEC parece ter percebido - tardiamente - os problemas causados pela Lei por ele proposta, e parte agora para tentar corrigir alguns pontos pela via da Medida Provisória. Mas, no essencial, ela apenas contorna um dos problemas: estabelece a exigência do título nos concursos, mas, junto com isso uma mudança nos nomes de classes - criando, agora, uma categoria de 'denominações' - como se mudar o "nome" fosse resolver o problema do ingresso - que continua se dando no primeiro nível da carreira. Além disso, a existência de dois tipos de Professor Titular (de Carreira e Livre) também soa estranha e, até onde saibamos, não há similar mundo afora. Como o Titular de Carreira passou a ser mais um nível a ser galgado ao longo da carreira, mesmo que seja necessário o enfrentamento de um processo seletivo (com banca externa inclusive), não haverá competição entre candidatos, como nos concursos para Titular que vigoravam nas universidades até a promulgação da Lei. Torcemos para que esses concursos para o cargo de Titular de Carreira sejam regidos exclusivamente pelo mérito e que não se tornem uma "ação entre amigos", maculando o significado e a importância de um Professor Titular no mundo acadêmico.

Em suma, assistimos à passagem meteórica de uma Lei, redigida sem ouvir grande parte dos interessados que teriam contribuições consistentes a fazer em prol da melhoria da carreira do magistério superior no Brasil. Enquanto se desenrolam vários concursos que operarão segundo os critérios dessa Lei e colocarão dentro das nossas universidades docentes não doutores, aguardamos os próximos capítulos dessa novela que já se descortina nessa nova MP que, se corrige o que de pior havia na Lei 12.772, nos brinda com um sistema de classes confuso e desnecessário.

E, para finalizar, não podemos deixar de registrar nossa grande preocupação com atual situação das universidades federais que correm o sério risco de regredir, aprisionadas nas suas próprias teias, numa verdadeira crise de representatividade, que pode ainda se agudizar, caso o MEC permaneça sem dar ouvidos aos segmentos da academia mais comprometidos com a qualidade e a excelência do trabalho acadêmico. 

(1) Pondo fim à greve de mais de três meses nas universidades federais, tal projeto fez parte do acordo entre o Governo Federal (MEC) e um dos sindicatos dos professores - o PROIFES, sindicato que disputa a representação da categoria dos docentes com o ANDES. Este último, no entanto, não assinou o acordo.

(2) Considerando-se um índice de inflação esperada de 5% a.a., o que é um cenário bem otimista; o aumento da inflação vai corroer ainda mais esse valor real.
(3) Essa é uma exigência constitucional - a de que os requisitos do concurso público devam ser estabelecidos expressamente em Lei (art. 37, I da Constituição Federal).
(4) Pela Constituição, os requisitos do concurso podem variar conforme a complexidade do cargo (art. 37, I e II). Nada autoriza a concluir que seria inconstitucional a possibilidade de concurso para um nível não inicial da carreira.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

MEC confirma sua incompetencia sistemica e total alienacao

Dizer que vai punir erros de Português é uma confissāo de incompetência e uma profunda incompreensāo quanto às suas funçōes. O MEC continua um dinossauro inútil...
Paulo Roberto de Almeida

Erros de português serão punidos com maior rigor no Enem 2013
Mariana Tokarnia
Agência Brasil, 9/05/2013

Além de regras mais rigorosas para os candidatos, mudanças no edital também atingem os corretores, que terão mais horas de capacitação e serão acompanhados e avaliados

O Ministério da Educação fez alterações no edital deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tornando-o mais rigoroso. Uma das medidas é que as redações com inserções indevidas serão zeradas. Outra mudança prevê que serão aceitos apenas desvios gramaticais excepcionais e que não caracterizem reincidência. Antes, eram permitidos "escassos" desvios.

A correção das redações será mais rígida. A expectativa é que uma a cada três redações irá para um terceiro corretor, antes o índice era de aproximadamente 21%. Isso ocorrerá quando houver uma discrepância de mais de 100 pontos entre os dois primeiros corretores. No ano passado, a discrepância tinha que ser de mais de 200 pontos para que fosse encaminhado a um terceiro avaliador.

O edital também prevê maior rigor para os corretores, que terão mais horas de capacitação e serão acompanhados e avaliados. Eles poderão ser dispensados inclusive durante a correção.

Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, as mudanças foram implantadas porque as regras aplicadas anteriormente não mostraram resultado satisfatório. Apesar do maior rigor, sobre as questões gramaticais, Mercadante diz que caberá à banca considerar o erro uma exceção ou não. "A regra é clara, mas a interpretação do juiz nem sempre é um consenso. Tem um grau que compete à banca, não tem como prever o grau que será aceito ou não. O que podemos dizer é que será mais rigoroso", diz.

Ele explicou também que tanto para a nota máxima na redação, que é mil, quanto para erros gramaticais considerados exceção será preciso uma justificativa dos avaliadores.

Outra novidade é que será divulgado no cartão de inscrição um telefone pelo qual candidatos com alguma condição especial (gestantes, pessoas com deficiência) serão orientados. Essa edição trará também dois modelos de prova com letra maior - uma com fonte tamanho 18 e outra 24.

Os candidatos com renda mensal per capita de até 1,5 salário mínimo estão isentos da taxa de inscrição. Antes, eram isentos apenas aqueles com renda de até um salário mínimo per capita. Os estudantes de escolas públicas continuam sem ter de pagar pela inscrição.

Mercadante desmente a intenção de cobrar a taxa daqueles que faltarem à prova, mas ressalta que o gasto é calculado pelo número de inscrições. "Apelo para aqueles que se inscreverem para que realmente façam o Enem. Os custos levam em conta os inscritos e temos tido uma diferença importante". No ano passado, foram 5,8 milhões de inscritos. Desses, 4,3 milhões fizeram a prova.

As inscrições começam na próxima seguna-feira (13) até o dia 27 de maio. Os candidatos podem pagar a taxa de inscrição até o dia 29 de maio. As provas serão aplicadas nos dias 26 e 27 de outubro. Os portões serão abertos às 12h (horário de Brasília).

==================================
 MEC vai anular redação do Enem com deboche
Folha de São Paulo, 9/05/2013

As inscrições para a nova edição do exame começam segunda (13) e se estendem até o dia 27
O Ministério da Educação anunciou que anulará redações do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano que fugirem do tema proposto --com deboches ou trechos inusitados.

A decisão visa impedir situações como as verificadas no ano passado, quando dois textos que continham respectivamente trechos do hino do Palmeiras e uma receita de miojo, sem relação com o assunto sugerido, receberam notas válidas.

As inscrições para a nova edição do exame começam segunda (13) e se estendem até o dia 27. As provas serão nos dias 26 e 27 de outubro.

Outra mudança para evitar questionamentos sobre as redações será a ampliação dos casos em que um terceiro avaliador terá que examinar os textos, de maneira independente.
 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Brasil que recua: MEC pede menos formacao de professores (combina...)

Pois é, o MEC se equipara aos que menos sabem, como se sabe, puxando sempre para baixo os requisitos de qualidade. Combina com quem comanda, que teve de encomendar um doutorado que não existia.
Agora querem implementar o padrão medíocre para todos os brasileiros...
Combina...
Paulo Roberto de Almeida

Lei tira exigência de pós-graduação para novos professores de federais
Fabio Takahashi
Folha de S.Paulo, 18/04/2013

Uma lei de iniciativa do governo federal que entrou em vigor no mês passado determinou que as universidades federais não podem mais exigir nos concursos para professor os títulos de mestre ou doutor dos candidatos. Na prática, quem só tiver diploma de graduação pode agora disputar todas as vagas abertas nas universidades. Até então, esses candidatos eram aceitos como exceção.

Após ser procurado pela Folha, o governo afirmou ontem que pretende alterar novamente a regra, para que as instituições possam voltar a exigir diploma de pós-graduação, como condição primordial para a inscrição. O governo ainda não sabe, porém, se mandará um projeto de lei ao Congresso ou se editará medida provisória. Dirigentes de universidades disseram à Folha que o Executivo não tinha a intenção de proibir a exigência de mestrado ou doutorado. Houve um erro no projeto, segundo eles, só percebido quando as universidades consultaram suas áreas jurídicas para abrir os concursos.

A mudança, porém, já trouxe resultados práticos. A Federal de Santa Catarina, por exemplo, está selecionando 200 professores com diploma de graduação (inicialmente, exigia doutorado). Na Federal de Pernambuco, os departamentos de física e de química decidiram suspender os processos por discordar da nova regra.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Demagogia educacional e mediocridade universitaria: duas marcas registradas do...

... vocês sabem de quem. Diretamente do MECdinossauro, mas ele é o puro resultado da republiqueta dos companheiros, que promoveram um dos maiories idiotas do Brasil, Paulo Freire, a "patrono da educação brasileira". O resto foi feito por ideologia, máfias sindicais de professores e funcionários, militantismo pé de chinelo de ignorantes travestidos em universitários gramscianos, enfim, toda uma malta de promotores ativos da mediocridade universitária e da deterioração da qualidade do ensino, em todos os níveis, do kindergarten ao pós-doc...
O desastre é incommensurável, e o Brasil vai pagar um preço altíssimo por isso. A tendência é que tudo continue a piorar pelo futuro previsível. Se, e a partir de quando (o que é altamente improvável), houver uma correção de rumos, algo que julgo difícil de acontecer, ainda demoraria 10 ou 15 anos para começar a melhorar um pouqinho. Como isso não vai ocorrer em minha vida útil, só posso prenunciar a continuidade do desastre pelo fim dos tempos.
Não se conserta um pau torto facilmente. O mais sensato seria arrancá-lo e plantar outra árvore no lugar, mas parece que isso não vai ocorrer, conhecendo como funcionam as faculdades de pedagogia no Brasil, um viveiro de saúvas freireanas. Não tem jeito, ao que parece.
Se, em matéria de economia sou moderadamente pessimista (ou seja, acredito que o Brasil vai continuar exibindo taxas medíocres de crescimento, se arrastando penosamente em direção à modernidade), em matéria de educação sou absolutamente pessimista, acreditanto que o Brasil vai continuar aceleradamente seu itinerário para trás, destruindo tudo o que de positivo vinha sendo penosamente construído nas décadas anteriores.
Os militantes gramscianos da educação são como os bárbaros de Atila: onde passam semeiam a destruição.
Paulo Roberto de Almeida

Mesmo com cotas, universidades estaduais e federais têm queda de alunos de escolas públicas nos vestibulares. Sabem por quê? Porque o governo escolheu o caminho errado sob o aplauso dos demagogos e o silêncio dos covardes
Reinaldo Azevedo, 25/03/2013

Vejam que coisa! O cotismo não levou mais alunos das escolas estaduais e municipais para os vestibulares das universidades públicas. Não é espantoso? NÃO! É ATÉ BASTANTE ÓBVIO. Vamos a algumas considerações prévias para chegar ao “x” da questão.

Dei destaque ontem aqui a uma reportagem do Globo sobre a situação miserável da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e observei que se tratava de um sintoma apenas. A doença é bem mais grave. Nestes dez anos de governo do PT, a educação é a área em que se produziram mais farsas e mistificações. A pantomima na correção das redações do Enem ilustra de forma debochada e trágica a farsa. Dado o andar da carruagem, vai demorar até que se encontre o caminho — na hipótese de que seja encontrado… Qual é a questão central? Trocou-se a qualidade pela demagogia inclusiva. Os críticos da política oficial certamente não se surpreendem com as reiteradas evidências de baixa qualidade do ensino universitário no país. O que surpreende a todos, inclusive os críticos, é que as medidas ditas redentoras e igualitárias não conseguem ser… inclusivas! Você verão.

Quais são as críticas principais da maioria dos que se opõem às políticas de cotas, pouco importando a sua natureza? Em primeiro lugar, o cotismo nega o fundamento da igualdade consagrado na Carta Magna. Quando o Supremo Tribunal Federal considerou constitucional a medida, abriu as portas para o imponderável. Com apelos malparados a Rui Barbosa, afirmou-se que é preciso, em certas circunstâncias, tratar desigualmente os desiguais. Que seja! Mas isso só é aceitável no caso de se conferirem benefícios suplementares ao “desigual”.

Solapar direitos universais de uma parte dos brasileiros — e as cotas fazem isso à medida que impedem que todos concorram segundo as mesmas regras — para proteger outra parte é um absurdo em si. Se a história de cada um de seus respectivos familiares torna os homens diferentes e se se chega à conclusão de que essas diferenças são social e politicamente determinadas, então que se alterem essas condições. O que não é razoável é que o indivíduo “A” tenha solapado um direito em favor do indivíduo “B” para fazer reparação histórica. Ora, desde o direito romano, a dívida do pai não passa para o filho… Imaginem se faz sentido indivíduos pagarem “dívidas sociais” relacionadas à cor da pele ou à origem de classe. Isso é uma boçalidade e uma violência institucional. Se querem tratar desigualmente os desiguais, reitero, que se deem a esses desiguais benefícios suplementares. Mas esse é só o aspecto que diz respeito à lei. Há outro mais sério.

Os críticos das cotas, raciais ou sociais, sustentam o óbvio, o elementar: é preciso qualificar os ensino fundamental e médio públicos. O cotismo, infelizmente, concorre para fazer o contrário: à medida que as vagas estão “garantidas”, é evidente que diminui a pressão sobre a escola pública e seus agentes. “Ah, mas melhorar a escola púbica vai levar muito tempo…” Bem, quanto mais tarde começar, pior. De resto, o fato de uma ação correta não ter um efeito imediato não confere licença para se fazer a coisa errada.

Cotas irrelevantes
Leiam o que informa Erika Fraga, na Folha desta segunda (em vermelho):
Entre dez universidades que enviaram dados à Folha, USP e Unicamp (São Paulo), UERJ (Rio de Janeiro) e UFMG (Minas Gerais) registraram queda no percentual de vestibulandos formados na rede pública de ensino. Em outras três universidades, a fatia se alterou pouco.  Os alunos das públicas ainda são minoria na maior parte dos vestibulares das instituições públicas, embora representem 85% dos que concluem o ensino médio no país, percentual que aumentou na última década. As universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão entre as que tiveram aumento de alunos das escolas públicas em seus vestibulares.
Ainda assim, Júlio Felipe Szeremeta, presidente da comissão de vestibular da UFSC, diz que “não houve o boom esperado”. Em 2012, o percentual de vestibulandos de escolas públicas atingiu 37,5% na UFSC. “Imaginávamos que o percentual de vestibulandos de escola pública já teria chegado a 50%.” Já na Universidade Federal da Bahia (UFBA) houve queda no número de inscritos no vestibular saídos de escolas públicas após a adoção do regime de cotas em 2005. A tendência só foi revertida a partir de 2010, depois de um aumento no número de cursos noturnos de 1 para 33.

(…)

Voltei
Notem que não só não houve aumento como pode ainda haver queda, como no caso da UFBA — só se conseguiu reverter a tendência com cursos noturnos. Isso tudo faz sentido? Faz um brutal sentido! O próprio aluno oriundo do ensino médio público sabe que, na maioria das vezes, está despreparado para enfrentar alguns desafios. Sabe a escola em que estudou; conhece todos os seus defeitos.

Houve crescimento do número de universitários do país? Houve, sim, embora tenham ficado muito abaixo da meta. Em 2001, havia 3 milhões de estudantes matriculados nas universidades do país (públicas e privadas); no fim de 2010, eram 6,37 milhões, segundo o Censo Universitário do MEC. Mas calma!!! Nada menos de 14,7% desse total (quase um milhão) está matriculado na modalidade “ensino a distância” Com raras exceções, esse troço virou, no Brasil, um caça-níqueis ainda mais vantajoso do que instituições de ensino meia-bomba que vendem suas vagas para o ProUni. Não passa de picaretagem!  A meta do Plano Nacional de Educação, estabelecida em 2000, era chegar a 2010 com 33% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade. Segundo o Censo, o governo do Apedeuta ficou bem longe disso: apenas 17,4%. E está nesse patamar até hoje.

Como se explica?
O crescimento está abaixo da meta, mas cresceu. Para onde foram os alunos? Para as instituições privadas, boa parte deles financiada pelo ProUni. É claro que existem instituições qualificadas. Infelizmente, não é a regra, e parcela considerável dos estudantes que buscam essas instituições quer um curso à altura do ensino fundamental e médio que teve — sendo ainda mais claro: prefere uma universidade privada e ruim (o ProUni pagará a conta) a uma pública e com mais qualidade (escrever “boa” talvez seja exagero). Voltamos, então, o “x” da questão. Desde sempre, o grande desafio é qualificar o ensino fundamental e médio públicos.

E que se observe: é mentira que não haja alunos de escolas públicas nas instituições universitárias também públicas. Há, sim! A questão é saber onde estão. Não tenho os números aqui, mas estou certo de que são mais presentes em cursos como pedagogia, história, geografia, letras, sociologia e filosofia, para citar alguns… E raros em engenharia, medicina e odontologia. De toda sorte, os números estão a indicar que as cotas não causaram uma elevação da demanda nas universidades públicas nem naquelas carreiras que não requerem tempo integral. São as instituições privadas, por conta do ProUni, que abrigam a massa de estudantes pobres.

Reserva de vagas
Por força de lei, as universidades federais terão de reservar 50% de suas vagas a alunos das escolas públicas em todos os cursos, obedecendo depois a critérios de cor de pele. É o “jeitinho PT” de fazer as coisas. Como se considera, no fim das contas, que o problema do ensino fundamental e médio públicos é mesmo insanável, busca-se “fazer justiça” na ponta, lá na universidade — que é feita para os mais aptos em qualquer país do mundo, nos EUA, na China ou em Cuba…

Quando estiver em pleno funcionamento, haverá o risco de sobrar vagas daquela metade reservada aos alunos da escola pública. Hoje, como mostra o levantamento, eles já poderiam ser mais presentes nas universidades federais e estaduais, mas, tudo indica, têm preferido as instituições privadas por intermédio do ProUni porque, com alguma frequência, esses cursos se transformaram numa espécie de cartório. Um cartório que custa caro!

É evidente que aqueles que criticam as cotas e pedem a elevação da qualidade do ensino público estão certos. É claro que não é fácil. Para tanto, precisávamos ter governos comprometidos com a educação, não com a demagogia eleitoreira. Sim, demoraria um pouquinho, eu sei. Mas esse é “pouquinho” é nada quando confrontado com a danação eterna a que está hoje condenada a educação.