Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 27 de julho de 2017
PISA: estudantes brasileiros continuam a exceder, para baixo...
PISA: ESTUDANTES BRASILEIROS TIVERAM BAIXÍSSIMO DESEMPENHO EM FINANÇAS!
(Folha de SP, 24) 1. Mesmo os estudantes brasileiros mais ricos tiveram baixíssimo desempenho na prova de conhecimento de finanças, em avaliação feita pelo Pisa, teste internacional do aprendizagem de jovens conduzido a cada três anos. Na prova de 2015, os estudantes brasileiros atingiram nota média de 393 pontos, a pior entre os 15 países avaliados nesse quesito específico, atrás do Peru (403 pontos) e do Chile (432 pontos).
2. Entre os três países com melhores notas no teste de finanças, dois são emergentes. No topo do ranking, os chineses somaram 566 pontos, seguidos pelos estudantes canadenses e pelos russos. A prova específica de conhecimentos financeiros é aplicada desde 2012, mas o Brasil fez o teste pela primeira vez em 2015.
3. No Pisa, as três habilidades tradicionais -leitura, matemática e ciências- são testadas há bem mais tempo, desde 2000. Na versão mais recente, reuniram 70 países. Ana Maria Bonomi Barufi, economista do Bradesco, mostra que a variável renda tem efeito relevante não só sobre as habilidades tradicionais mas também sobre o conhecimento financeiro dos jovens em todo o mundo.
4. Nos 15 países analisados, uma comparação entre 25% dos estudantes mais pobres e os 25% mais ricos mostra uma diferença de ao menos 40 pontos na nota média dos alunos dos dois grupos. A disparidade maior foi verificada na China, com um fosso de 132 pontos entre a nota média dos mais pobres e a nota média dos mais ricos. Ainda assim, surpreende que a nota dos estudantes chineses menos favorecidos supera a dos mais ricos de países como Peru, Chile, Eslováquia, Lituânia e Brasil.
5. A Rússia registrou a menor diferença entre as notas de conhecimento em finanças de estudantes mais pobres e mais ricos, de 46 pontos. No caso do Brasil, chama a atenção que mesmo os estudantes mais ricos não conseguem sobressair quando comparados a seus pares de outros países. A nota média do grupo brasileiro com renda familiar mais alta foi de 441 pontos, a lanterna entre todos os estudantes mais ricos.
6. Já os estudantes brasileiros mais pobres alcançaram nota média de 364 pontos. Comparados apenas com estudantes de renda mais baixa de outros países, conseguem ficar à frente do Peru. Barufi identifica ainda uma correlação positiva entre o PIB per capita -um indicador de riqueza de um país- e a nota obtida no Pisa em conhecimentos financeiros.
7. A comparação também mostra atraso do Brasil em relação a outros países. Pelo nível de PIB per capita exibido pelo Brasil, a nota dos alunos brasileiros deveria ser cerca de 40 pontos maior, diz a economista. Barufi reconhece que o nível de conhecimento financeiro do brasileiro preocupa. Mas diz que os números devem ser vistos com cuidado porque o Brasil está, no geral, sendo comparado com países mais avançados. De qualquer modo, diz ela, é certo que os estudantes brasileiros precisam desenvolver a habilidade, relevante para que consigam planejar melhor suas vidas e seu futuro.
8. Nesse jogo, a escola tem contribuição importante a dar. Eslováquia, Peru, Holanda, Lituânia e Bélgica estão entre os países que já adotaram política nacional para o ensino de finanças pessoais. "Mas o papel tem que ser da sociedade", diz Barufi. Enquanto tal movimento não toma corpo, alternativas para avançar na formação de jovens mais preparados para lidar com finanças podem ser formuladas, diz Barufi, como campanhas virtuais de conscientização sobre o tema.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Brasil tem ensino ruim, estagnado e desigual - OESP
Ligia Guimarães e Lucas Marchesini |
De São Paulo e Brasília/OESP, 7/12/2016
Os números do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2015, considerado um dos principais termômetros da educação básica, reforçam a percepção de que o Brasil ainda não conseguiu atingir objetivos básicos em educação.
Os dados da prova, que avalia trienalmente alunos na faixa dos 15 anos de idade em matemática, ciências e leitura, evidenciam que desempenho dos alunos brasileiros segue estagnado em níveis muito abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mostra também que o país ainda gasta pouco em educação na comparação com países desenvolvidos, mas, mesmo quando investe mais, ainda não aprendeu a fazê-lo de forma eficiente, que leve a avanços no aprendizado.
Entre os 70 países comparados na pesquisa, o Brasil aparece entre as piores posições nas três disciplinas - o que, para a OCDE, representa estagnação em relação a 2012, edição mais recente da avaliação. Além de ruim, o desempenho do Brasil em ciências, leitura e matemática no Pisa é altamente concentrado; um grupo muito restrito de alunos tem as notas mais altas, enquanto a maioria segue em patamares de conhecimento abaixo do que é considerado mínimo para formar cidadãos plenos.
Em uma amostra de mais de 23 mil estudantes de 841 escolas públicas e privadas de todo o Brasil, o Pisa indica que 51% dos alunos brasileiros não conseguem atingir o nível 2 em leitura, que a OCDE considera o mínimo necessário para que os jovens possam exercer sua cidadania. Significa, na prática, que quem está abaixo do nível 2 é incapaz de interpretar um texto ou relacioná-lo a conhecimento que já detém. Por outro lado, só 1,4% dos brasileiros estão entre as melhores notas em leitura, bem abaixo da média de 8,3% da OCDE.
Em matemática, o resultado é ainda pior: 70% dos alunos brasileiros ficaram abaixo do nível 2, que os capacitaria a interpretar e reconhecer situações em contextos que não exigem mais do que inferência direta. Ou empregar fórmulas básicas para resolver problemas com números inteiros.
"Nenhum outro país da OCDE tem proporção tão grande de desempenho baixo em matemática", informa o relatório da OCDE, que acrescenta que apenas três países da América Latina chegam perto do Brasil: Colômbia e Peru (ambos próximos a 66%) e a República Dominicana, onde mais de 90% dos alunos não conseguem atingir o mínimo em matemática".
Na média dos países da OCDE, um em cada dez alunos tem os melhores desempenhos possíveis na matemática do Pisa. Em contraste, no Brasil, só um em cada cem alunos consegue as melhores notas. "Essa proporção brasileira, dez vezes pior que a média da OCDE, está estagnada desde 2003".
Em ciências, foco da edição 2015 do Pisa e área com maior número de perguntas na avaliação, menos de 1% dos estudantes brasileiros atingiu os dois níveis mais elevados da escala de notas de ciências do Pisa, percentual estagnado desde 2006. A nota média dos alunos brasileiros em ciências foi de 401 pontos, levemente melhor em relação a 2006 (390 pontos), última vez em que as provas do Pisa tiveram foco em ciências.
Em leitura, a pontuação média brasileira ficou em 407 pontos, ante 493 pontos da OCDE. Em matemática, o desempenho dos alunos brasileiros caiu 11 pontos entre 2012 e 2015, de 389 para 377. Apesar da queda, a OCDE destaca que o Brasil acumula em matemática um avanço de 21 pontos entre 2003 e 2015, o que equivale a um avanço de 6,2 pontos a cada três anos.
A piora recente das notas em matemática, de acordo com a OCDE, se deu por um aprofundamento da desigualdade de resultados: enquanto os 10% dos alunos brasileiros com notas mais altas continuaram a ter desempenho próximo à média da OCDE, os 10% com as piores notas ficaram ainda mais para trás nos últimos anos. "O aprofundamento da desigualdade serve para ressaltar os desafios significantes que o Brasil enfrenta para integrar os alunos mais fracos", afirma o relatório.
Uma boa notícia nos dados do Pisa é que o Brasil conseguiu, desde 2003, incluir mais alunos de 15 anos de idade na escola sem perder qualidade, como seria esperado. O relatório destaca que, em 2015, 71% dos jovens de 15 anos estavam matriculados na escola - na sétima série ou nível superior -- parcela 15% maior do que era em 2003, proeza que a OCDE classifica como "melhoria notável". Em comparação com 2003, no Pisa 2015 verifica-se aumento de cinco pontos percentuais de jovens brasileiros no nível 2 ou acima, apesar da expansão do número de matrículas.
A análise por unidades da federação também revela desigualdades regionais. Enquanto 59,1% dos estudantes do Espírito Santo estão abaixo do nível 2, em Alagoas esse percentual é de 83,2%.
O Pisa compara ainda o desempenho das redes de ensino municipal, estadual, federal e privada no Brasil. Os melhores desempenhos estão na rede federal que, no caso dos alunos de 15 anos de idade, contempla os institutos técnicos federais, que oferecem cursos para quem já concluiu o ensino fundamental. Nessas instituições, há provas de entrada que selecionam os melhores alunos.
No Brasil, em matemática, o desempenho médio dos meninos supera o das meninas em 15 pontos; na média da OCDE, a diferença é de 8 pontos. Embora a discrepância entre os gêneros esteja bem próxima ao que era em 2003 (ano em que o foco das provas era matemática e, por isso, considerada a comparação mais adequada para essa disciplina pela OCDE), a média dos meninos e meninas melhorou bastante desde então. Desde 2003, a média dos meninos em matemática subiu 20 pontos e, das meninas, 21 pontos.
O Pisa mostra também que o gasto com educação no Brasil cresceu desde 2012, mas não se traduziu em avanços de aprendizado. O investimento por aluno acumulado entre as idades de 6 e 15 anos (US$ 38.190) corresponde a menos da metade, 42%, da média por aluno dos países da OCDE (US$ 90.294); em 2012, o montante brasileiro representava 32% na comparação com o bloco.
Em comparação à média da OCDE, o PIB per capita do Brasil também representa menos da metade. O que o relatório destaca, no entanto, é que outros países que não gastam tanto quanto as economias mais ricas, como Colômbia, México e Uruguai, investem menos que o Brasil por aluno, mas tem desempenho melhor, embora longe de ser considerada a ideal, em ciências, por exemplo. O Chile, que tem gasto similar ao do Brasil (US$ 40.607), tem desempenho bem melhor em ciências (447 pontos, contra 401 do Brasil e 493 da média da OCDE).
Baixa avaliação em programa global é resultado da ausência de reformas
Ligia Guimarães | De São Paulo
A estagnação do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado ontem, reflete a ausência de reformas na educação no Brasil desde 2012, ano da última edição do teste, na opinião do professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando Abrucio.
"Esse retrato já é conhecido há algum tempo, não é novidade. Infelizmente, nos últimos três ou quatro anos, nós não avançamos em reformas na educação", afirma Abrucio. Para ele, as evidências de que o país tem um sério gargalo na educação do ensino fundamental (1º ao 9º anos) já eram conhecidas por meio das avaliações nacionais, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
"Sempre que sai o Pisa, que compara realidades socioeconômicas diferentes, o Brasil entra em um chororô enorme. Precisamos fazer um chororô também quando nos comparamos a nós mesmos", diz o pesquisador. Para ele, o diagnóstico é claro: o Brasil tem melhorado nos primeiros anos do fundamental (1º ao 3º), estagnado nos últimos (7º ao 9º) e piorado no ensino médio.
O retrato ruim mostrado no Pisa de 2015, diz Abrucio, não será resolvido com a reforma do ensino médio proposta pelo governo federal. Embora aos 15 anos os estudantes devessem estar iniciando o ensino médio, no Brasil eles estão em grande parte atrasados e repetentes, ainda terminando o fundamental. "Temos no Brasil grande distorção idade/série, coisa que outros países não têm. Esse resultado não está avaliando o ensino médio do Brasil, mas o fundamental", diz o pesquisador da FGV.
Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) e professora visitante na Faculdade de Educação da Universidade de Harvard, diz que apenas uma mudança estrutural na formação de professores no Brasil reverteria o péssimo desempenho do Brasil em avaliações como o Pisa. Exigiria uma reforma, diz ela, no currículo dos professores e no modo de ensiná-los. Cláudia diz que países bem-sucedidos em educação, como a Finlândia, tiveram no investimento nos professores a chave para o sucesso. "O que a escola privada e a pública têm em comum? Os professores, que aprenderam a mesma coisa na faculdade", diz.
Para a especialista, o Brasil também precisa aprender a gastar com mais eficiência, já que o aumento de investimento não se traduziu em melhora do resultado nos últimos anos. Há áreas, no entanto, como a valorização salarial dos professores, que exigirão aumento de recursos - e nesse ponto, a PEC 55, que cria um teto para os gastos públicos, preocupa.
"A PEC cortou possibilidades de incremento de recursos para a educação", diz. "A educação tem muita coisa em que não se precisa gastar muito, mas se você quer tornar a profissão de professor mais atrativa, tem que pagar mais.", afirma Cláudia, que defende que a PEC seja revista.
Abrucio diz que a PEC 55 só não será "desastrosa" para a educação se vier acompanhada de outras medidas, como uma bem-sucedida e expressiva reforma da Previdência, ou do aumento de impostos. O especialista da FGV destaca que, além do ajuste fiscal, o governo precisa atuar em medidas pró-crescimento, como elevar a produtividade da economia brasileira por meio da educação.
"O Brasil tem que investir mais em melhor em educação se quiser sair dessa ´barafunda´ econômica. Se aqui a dez anos o Brasil não tiver capital humano qualificado, não vai elevar a produtividade e nem aumento de receita. E daí não vai ter onde cortar mais", diz.
Na visão de Abrucio, o Brasil vivenciou um período de crescimento econômico antes de educar toda a população, fenômeno que resultou na baixa qualificação e produtividade da mão de obra brasileira e só poderá ser revertido com educação.
"Na hora em que acaba esse crescimento, que tinha muito a ver com ciclos externos e demanda reprimida de consumo, veio a conta e descobrimos que, para crescermos nos próximos anos, precisaremos elevar a produtividade", diz. "E o governo tem que fazer o ajuste fiscal, mas investir em estratégias que produzam crescimento
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Educacao no Brasil: perfil no PISA da OCDE (novembro 2015)
terça-feira, 1 de abril de 2014
Educacao: Brasil e um dos últimos em teste do PISA (raciocinio)
Brasil é um dos últimos em teste que avalia capacidade de resolver problemas
País amarga 38.º entre 44 países, de acordo com levantamento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
O resultado do Brasil, de 428 pontos, ficou abaixo da média da OCDE, que era de 500 pontos. O Pisa também mediu distorções regionais nas habilidades dos estudantes. Enquanto a Região Sudeste do País teve 447 pontos, o Nordeste registrou apenas 393. O Norte teve o pior índice entre os brasileiros, com 383 pontos, abaixo no ranking global apenas de algumas regiões dos Emirados Árabes Unidos.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
O Brasil e o PISA: a vergonha da educacao nacional - João Batista Araujo Oliveira
A ponte entre educação e economia
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
A educacao brasileira, o PIB e as instituicoes - Claudio Shikida (De Gustibus Non est Disputandum)
A educação, as instituições e o PIB (atualizado com novos dados)
O Estadão de hoje nos deu os dados estaduais do PISA (no caso, apenas do ensino público estadual). Segundo eles, a fonte é o INEP e, claro, eu acredito, mas foi impossível, para mim, achar os dados lá para download. Assim, tive que tabular os dados a partir da edição digital do jornal (é, eu o assino). Como isto aqui não é um estudo exaustivo, peguei apenas a pontuação do PISA agregada (não peguei os exames separadamente) e fiz umas correlações.
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Educacao: o Brasil continua pessimo no PISA-OCDE - Gustavo Ioschpe (draft de 11/01/2014)
Por que não falar a verdade, ministro?
Gustavo Ioschpe
(Nota PRA, em 24/02/2015: esta nota tem mais de ano, e ficou parada nos drafts do meu blog todo este tempo, por razões que desconheço; devo ter dormido em cima do teclado... Mas o tema continua revelante, e a situação educacional do Brasil só tem piorado, por isso ela vai postada, e vocês podem ser ainda mais pessimistas do que eu era um ano atrás...)
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
O fracasso educacional do Brasil - Marina Silva
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Pisa-Ocde: a miseria educacional brasileira, maior do que se imaginava...
Ciência é a pior área entre alunos brasileiros
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País não avançou em três anos no Pisa
Ciências é a matéria em que os alunos brasileiros estão mais defasados em relação aos outros países, aponta o Pisa, exame internacional de estudantes.
Essa é a disciplina em que o país tem seu pior desempenho (59º entre 65 países). E ainda não obteve avanço nos últimos três anos (2009-2012). Em matemática, o Brasil foi o 58º; em leitura, 55º.
Os alunos avaliados, das redes pública e privada, têm entre 15 e 16 anos (ensino médio). Os dados foram divulgados anteontem pela OCDE, organização de países desenvolvidos que aplica a prova. Entre os seis níveis em que os alunos são distribuídos, o Brasil teve apenas 0,3% nos dois mais elevados em ciências. A média dos países desenvolvidos foi de 8,4%.
A maioria dos estudantes brasileiros ficou nos dois patamares mais baixos. Não souberam, por exemplo, explicar por que crianças e idosos são públicos prioritários na vacinação contra a gripe (a resposta é porque eles têm menos resistência ao vírus).
Para a diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, um dos motivos que podem explicar o baixo desempenho em ciências é a falta de ênfase no problema dessa disciplina. Em matemática, diz ela, as dificuldades foram notadas há mais tempo e, por isso, as médias têm aumentado.
A carência de laboratórios, o ensino muito teórico e a baixa atratividade da carreira docente são os fatores apontados pelo físico Luiz Davidovich, da diretoria da Academia Brasileira de Ciências.
"Há exceções, mas, de forma geral, não há estímulo à curiosidade, à criatividade."
(Folha de S.Paulo)
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Dois em três alunos no Brasil não sabem frações e porcentagens
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Resultado do Pisa 2012 mostrou que estudantes brasileiros de 15 anos também demonstram dificuldade em entender gráficos simples
Dois em cada três estudantes de 15 anos no Brasil não sabem trabalhar operações matemáticas simples como frações, porcentagem e relações proporcionais. Esse é um dos resultados do Pisa 2012, divulgado nesta terça-feira (04) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Apesar de ser um dos países que mais apresentou avanços na matéria na última década, o Brasil ainda ocupa a 57ª posição dentre 65 nações avaliadas, com 391 pontos. No topo da tabela, a província chinesa de Xangai, aos 613 pontos.
Para comparar o desempenho de diversos sistemas de ensino pelo mundo, a OCDE determinou critérios comuns a serem avaliados, porém balanceados segundo a formação sócio-econômica dos participantes. A parte de Matemática, que foi o foco da prova do Pisa 2012, quis medir a capacidade dos estudantes para formular, empregar e interpretar a matemática em uma variedade de contextos do dia a dia, na resolução de problemas. Por isso, para os avaliadores, não basta que um aluno saiba somar e dividir, por exemplo, mas sim colocá-los em prática.
A partir da pontuação na prova, a OCDE estabeleceu seis níveis de rendimento, onde o seis é o nível máximo de conhecimento. No Brasil, mais de dois terços dos quase 20 mil estudantes que fizeram a prova ficaram na faixa que vai até o nível dois, ou seja, bem abaixo na tabela. Nesse nível, eles conseguem interpretar e reconhecer situações em contextos que exigem apenas a inferência direta, além de fazerem interpretação literal dos resultados. Mas para por aí. Mais de 65% dos estudantes brasileiros não conseguem analisar um gráfico ou uma situação do cotidiano e traduzir o problema para modelos matemáticos.
Como exemplo para explicar sua metodologia, a OCDE mostrou uma questão da prova de Matemática onde o aluno se depara um gráfico em plano cartesiano contendo quatro grupos de rock, segundo a quantidade de CDs vendidos por mês. A partir daí, foi pedido para que o aluno identificasse em qual mês uma determinada banda vendeu mais discos do que outra, tarefa considerada complexa para muitos dos brasileiros.
Para o diretor-adjunto do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Cláudio Landim, o Brasil tem o que comemorar, sobretudo na parte mais baixa da tabela, os 10% piores, que melhoraram 100 pontos de 2003 a 2012. No entanto, Landim reconheceu que o país vive ainda uma situação "precária":
- Não saber usar frações ou porcentagens é cada vez mais grave, pois vivemos num mundo tecnológico, onde dominar essa operações é cada vez mais imperativo - argumenta o diretor do Impa.
Cláudio Landim também ressaltou que grande parte da dificuldade dos alunos em entender gráficos simples ou tabelas vem da deficiência em Leitura, outra área analisada pelo Pisa:
- Quando participamos da Olimpíada Brasileira de Matemática, percebemos que a dificuldade do aluno é compreender o que está sendo perguntado. É compreensão do texto, puramente isso. Uma grande parcela não consegue responder porque não entende o que está lendo. A compreensão textual tem impacto significativo na Matemática.
Com 391 pontos em Matemática, o Brasil ficou abaixo de vizinhos como o Chile, e de outros emergentes como a Turquia, 44ª no ranking, aos 448 pontos. Como para a OCDE, 41 pontos na tabela equivaleria a um ano de estudo formal, os alunos brasileiros teriam que estudar um ano a mais para alcançar o nível de seus colegas turcos, ou quase três anos para se aproximarem do nível do Vietnã, que ficou em 17º lugar, com 511 pontos. Já se a comparação for com os estudantes de Xangai, líderes na prova, o Brasil deveria recuperar cinco anos de atraso.
Preocupação na indústria
O desempenho do Brasil foi considerado preocupante pelo gerente-executivo de Estudo e Prospectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Luiz Caruso. Segundo ele, as baixas na educação desses jovens podem impactar sobre o desenvolvimento da indústria no país.
- Quando estiverem no mercado de trabalho, eles terão mais dificuldade para absorver e trabalhar com novas tecnologias, o que impacta diretamente a produtividade e a competitividade do país. Sem uma educação básica de boa qualidade, a gente não tem cidadão e nem um bom trabalhador - avalia Caruso.
De acordo com Caruso, a realidade também merece atenção, se levado em consideração as oportunidades em educação profissionalizante, que vêm recebendo investimentos do governo:
- É difícil trabalhar com esses jovens, pois a educação profissional requer maior grau de complexidade. E como os jovens apresentam defasagem em disciplinas básicas como matemática e português, acaba sendo necessário sanar essas dificuldades durante o ensino médio, ocupando uma parte da carga horária que poderia ser destinada a fins mais específicos - afirma.
(Leonardo Vieira/O Globo)
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As reações ao Pisa
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Editorial do Estado de S.Paulo sobre o resultado do programa
Tão importante quanto os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que mostraram como Xangai, Hong Kong, Cingapura e Coreia do Sul estão colhendo dividendos de seus investimentos na área da educação, por considerá-la decisiva para o desenvolvimento econômico da região, foram as reações dos demais países avaliados. Em alguns, como o Chile, que ficou em 51.º lugar em matemática e em 46.º em ciências, as autoridades educacionais pediram desculpas aos estudantes.
Em países como a Finlândia e a Alemanha, que ocuparam as primeiras posições nas edições anteriores do Pisa, a perda da liderança para os países asiáticos deflagrou acirradas polêmicas. Como o desempenho da economia finlandesa e da alemã é condicionado por sua capacidade de inovação tecnológica, as autoridades econômicas não esconderam o temor de que os resultados negativos do Pisa de 2012 afetem o desenvolvimento futuro dos dois países. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, cujos estudantes ficaram abaixo da média alcançada pelos países da OCDE. A maior economia do planeta não conseguiu ficar nem mesmo entre os 20 primeiros lugares no ranking de matemática e ciência. Pedagogos americanos lembraram que os estudantes dos países orientais se destacaram não só em matemática e ciências, mas, igualmente, em leitura. E também conseguiram exceder as informações aprendidas em sala de aula, usando o conhecimento com criatividade para lidar com problemas cotidianos.
Jornais americanos lembraram que essa habilidade era, até agora, associada ao modelo de ensino do Ocidente. Mostraram que os países asiáticos estabeleceram metas altas para sua rede escolar e indicaram os melhores professores para as salas de aula mais desafiadoras e os diretores mais competentes para as escolas mais problemáticas. Em editorial, o Wall Street Journal advertiu que os Estados Unidos estão correndo o risco de perder a liderança mundial no campo científico.
No Brasil, as reações foram diferentes. Preocupada com as dificuldades que os adolescentes terão para absorver tecnologia quando entrarem no mercado de trabalho, a Confederação Nacional da Indústria advertiu para o risco de perda de produtividade e competitividade do País por causa da má qualidade do ensino básico. Já o ministro da Educação, relevando o 58.º lugar ocupado pelo Brasil entre os 65 países, converteu o aumento da média dos estudantes brasileiros em matemática - de 356 pontos, no Pisa de 2003, para 391 pontos, em 2012 - em motivo de ufanismo. "Fomos o país em que os estudantes mais evoluíram, na década. Quando olhamos o filme, somos o primeiro da sala", disse Aloizio Mercadante.
Mas não há motivo para euforia. O avanço brasileiro partiu de um patamar muito baixo. "Como comemorar os pontos ganhos no Pisa de 2012, se o aumento na pontuação se deu com maior força entre os piores alunos, cuja nota média em 2003 equivalia a zero e hoje, dez anos depois, esse mesmo grupo ainda não é capaz de ler uma única informação em um gráfico de barras?", indaga Paula Louzano, da Faculdade de Educação da USP. É que apenas 0,8% dos estudantes brasileiros teve notas compatíveis com os níveis 5 e 6 da escala do Pisa, que identificam as competências para resolver questões mais complexas.
Por conveniência política, o ministro deixou de lado o fato de que 70% dos participantes brasileiros do Pisa de 2012 não ultrapassaram o nível 1 da escala de habilidade em matemática, que identifica a capacidade de resolver questões simples. Esses alunos não sabem, por exemplo, usar informações de uma tabela ou gráfico para calcular uma média ou tendência.
A prosperidade dos indivíduos, o sucesso das empresas e a riqueza das nações dependem dos investimentos em educação. A reação de muitos países desenvolvidos à sua queda no ranking do Pisa de 2012 mostra que eles sabem disso e que tomarão providências urgentes para voltar a disputar a liderança com os países orientais nas próximas edições do Pisa. Já no Brasil, onde a educação tem sido entregue a políticos profissionais, reações ufanistas dificilmente conseguirão levar essa área estratégica a dar um salto de qualidade.
(O Estado de S. Paulo)
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PISA-OCDE: a America Latina aprofunda sua miseria educacional, enquanto a Asia...
Certamente.
Mas, pensei comigo mesmo: se cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, ou Buenos Aires fizessem avaliações separadas -- o que esses países têm o pleno direito de fazer -- aposto como os resultados seriam apenas um pouco superiores às médias nacionais respectivas, e ficariam muito abaixo de Xangai, que continuaria, portanto, em primeiro lugar da lista.
O fato é este: nossa educação não é só mediocre, ela é muito pior do que vocês podem imaginar, e vai continuar se deteriorando, graças às saúvas freireanas que dominam o MEC dinossauro e aos companheiros que controlam a educação brasileira. Estamos simplesmente retrocedendo, e vai continuar assim, em todos os níveis, do pré-primário ao pós-doc.
Nada poderá salvar a educação brasileira da mediocridade crescente, ao que se acrescenta a estupidez dos companheiros em matéria de padrões educacionais.
Paulo Roberto de Almeida