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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Lula: um traidor miseravel, que entregou patrimonio brasileiro a bolivarianos

Eu já sabia disso, apenas que não tinha tido a confirmação do próprio traidor dos interesses nacionais: ele combinou tudo com seu aliado Evo Morales, e depois impediu a Petrobras de buscar reparação pelos mecanismos de garantia de investimentos a que ela estava habilitada, em função do contrato ter sido feito ao abrigo da Petrobras Holanda, país que mantinha um acordo de proteção de investimentos com a Bolívia.
Dois anos depois da expropriação vergonhosa, e combinada entre os dois populistas, um diplomata boliviano, que assistiu à primeira reunião bilateral Brasil-Bolívia três semanas depois do fatídico 1o. de maio de 2006, me confirmou que a delegação brasileira, chefiada por esse outro traidor a serviço dos interesses cubanos que era o aspone de Lula para assuntos internacionais, se alinhou totalmente aos interesses bolivianios, ferindo inclusive o direito a uma justa reparação para a Petrobras.
TRAIDORES!
Mas essa não foi a única. Lula também triplicou, contra tratados e acordos perfeitos, pagamentos do Brasil ao Paraguai, pela eletricidade de Itaipu, e pelo gás boliviano.
Nunca Antes no Brasil tivemos um presidente tão sujo e tão traidor dos interesses nacionais.
Paulo Roberto de Almeida

Lula, o entreguista
Editorial Gazeta do Povo (PR), 23/05/2016

Ao confessar ter combinado antecipadamente com Evo Morales a expropriação de unidades da Petrobras na Bolívia, o ex-presidente mostra que ele vê o patrimônio estatal como se fosse propriedade pessoal.
À medida que o tempo passa, mais se sabe quem é, de fato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O exemplo mais recente data da última segunda-feira, quando, em palestra em São Paulo para uma plateia formada por partidos de esquerda, ele abertamente confessou ter "doado" para a Bolívia as instalações que a Petrobras mantinha naquele país para extração de gás. A camaradagem já havia sido combinada com o ainda então candidato à presidência boliviana, Evo Morales – que, eleito, meses depois de sua posse pôs suas tropas para confiscar o patrimônio brasileiro, em maio de 2006.
Foi bem simples, segundo relato do próprio Lula: "O Evo me perguntou: 'como vocês ficarão se nós nacionalizarmos a Petrobras?' Respondi: 'o gás é de vocês'. E foi assim que nos comportamos, respeitando a soberania da Bolívia". O presente que Lula deu à Bolívia valia nada menos do que US$ 1,5 bilhão. E agora se sabe também que a ocupação militar das refinarias não passou de uma patética encenação para dar pretexto à colossal e despropositada oferenda.
É tosco o raciocínio de Lula para justificar a doação. Ele não tinha o direito, senão pisando sobre a soberania do país que governava, de alienar um bem do Estado. É de se perguntar: a seguir seu entendimento, bastaria deslocar nossos navios de guerra para tomar dos estrangeiros as plataformas instaladas para explorar o "nosso" petróleo? Evidentemente, nenhuma das opções pode nem sequer ser aventada por um chefe de Estado. No mundo civilizado devem prevalecer regras contratuais de direitos e deveres que regulam as relações entre nações.
O ex-presidente foi além em suas tardias confissões ao falar para o Foro de São Paulo, organização que reúne representantes de esquerda da América Latina. Ele deixou patente que, ao colaborar com o arroubo de Morales, sua pretensão era a de fortalecer os regimes bolivarianos que floresciam no continente – isto é, Lula foi movido por uma causa ideológica e, em nome dela, transferiu a outro país um patrimônio de que ele não podia dispor como se fosse sua propriedade particular.
Absolutamente nada autoriza um presidente da República a usar desta forma um patrimônio do Estado, dando sinal verde informal – como Lula atesta com suas próprias palavras – a um ato de expropriação por parte de um governo estrangeiro. Na verdade, ele confessou ter sido cúmplice de um atentado à soberania nacional, preferindo o interesse boliviano ao interesse brasileiro. A esquerda – nela incluída o próprio Lula – adora repetir que estatais são "do povo brasileiro". Segundo a lógica das esquerdas, então, a conclusão é evidente: Lula entregou à Bolívia algo que era "do povo brasileiro". Claro, sabemos que na realidade estatais pertencem ao Estado, e não ao povo. Mesmo assim, isso não autoriza o mandatário de plantão a dispor dos bens do Estado como bem lhe aprouver, especial me nte quando isso significa um ataque à soberania brasileira.
Não causa surpresa, porém, o desdém que Lula dedicou à Petrobras no caso boliviano. A estatal foi contínua e permanentemente pilhada ao longo de seu governo e do mandato da presidente Dilma Rousseff, como bem demonstra a Operação Lava Jato. Fez-se dela, durante esse período, um caixa livre para abastecer partidos e enriquecer políticos, diretores e operadores que se fartaram de propinas. A empresa também foi sangrada como instrumento de política econômica; represava-se sua rentabilidade para conter a pressão inflacionária, impunham-se à estatal prejuízos reais ou tolhia-se sua capacidade de investimentos.
A Petrobras encontra-se, na prática, privatizada: foi transformada em propriedade do PT para fins partidários e eleitorais. E, agora, ficamos sabendo pela boca do próprio Lula que ela também foi usada para camaradagens ideológicas. Não por outras razões a empresa que já foi uma das maiores do mundo frequenta hoje posições muito mais modestas no ranking – liderança global, agora, só em endividamento.
Analisando apenas os valores, a "doação" de parte do seu patrimônio para o amigo Evo Morales poderia até ser considerada um "mal menor" diante de tudo quanto se fez para levar a Petrobras ao triste estágio em que hoje se encontra. Mas o significado do episódio vai muito além das cifras. Ele mostra como, desmoralizada e desvalorizada, a Petrobras se tornou o retrato pronto e acabado da ideologização irresponsável da administração petista.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: o chanceler oficioso defende a diplomacia companheira -MAG

Nem vou me dar ao trabalho de refutar os argumentos daquele que já foi chamado de chanceler para a América do Sul, e a quem o próprio detentor do copyright do Nunca Antes designou como sendo o responsável pela "diplomacia partidária" -- dixit, num raro momento de distração terminológica -- mas apenas destacar uma frase dessa peroração defensiva.

Esta última frase me parece que pode, e deve, ser invertida:
 "A defesa intransigente do interesse nacional se sobrepõe a idiossincrasias ideológicas."

Ela resume (ou confessa), justamente, o que o governo do PT não fez nos últimos 12 anos em termos de política externa brasileira: colocar o interesse nacional acima das idiossincrasias ideológicas.  
Basta isto.
Mas como eu não sou de censurar ninguém, ao contrário dos companheiros, que só leem e publicam eles mesmos para si mesmos, reproduzo aqui a íntegra do artigo-panfleto, também para fins de registro destes tempos do Nunca Antes.
Paulo Roberto de Almeida 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/188548-dilma-nas-nacoes-unidas-fatos-e-versoes.shtml
Opinião

Dilma nas Nações Unidas: fatos e versões

No afã de reverter o curso da política brasileira nos últimos 12 anos, analistas atacaram pronunciamento em NY
MARCO AURÉLIO GARCIA ESPECIAL PARA A FOLHA
A proximidade das eleições ensejou, mais uma vez, a associação entre desinformação e má fé por parte de alguns analistas da cena internacional, em especial da política externa brasileira.
No afã de reverter o curso que a política brasileira assumiu nos últimos 12 anos, nossos analistas atacaram os pronunciamentos da Presidenta Dilma Rousseff em Nova York como sendo (1) tentativa de transformar a tribuna da Nações Unidas em palanque eleitoral, (2) recusa de chancelar a proposta de desmatamento zero no Brasil e (3) atitude indulgente vis-à-vis os bárbaros crimes do Estado Islâmico.
Vejamos cada uma dessas afirmações.
A Presidenta, em primeiro lugar, tem claro que a política externa não é apenas um instrumento de projeção do Brasil no mundo, mas um elemento consubstancial de nosso projeto nacional de desenvolvimento.
Os temas "internos" por ela abordados em seu discurso são, assim, questões globais e da maior relevância: o enfrentamento local dos efeitos da crise econômica internacional, o combate à fome e às desigualdades; a defesa e a extensão dos direitos humanos. Todos os Presidentes vinculam aspectos internos e externos ("eleitoreiros", segundo nossos críticos) em seus discursos na Assembleia Geral, na medida em que buscam construir uma apreciação da situação internacional a partir de sua percepção nacional.
Se alguém duvida disso, basta ler o discurso do Presidente Obama na ONU.
Em segundo lugar, a recusa pelo governo brasileiro da proposta de desmatamento zero apresentada por três países e algumas ONGs se explica pelo conflito que tem com a legislação brasileira.
Ela prevê o manejo florestal como mecanismo importante de nossa política ambiental. Os proponentes não aceitaram a tese do "desmatamento ilegal zero". Apenas 28 dos 130 participantes da Cúpula do Clima da ONU se somaram à proposta de desmatamento zero.
O Brasil, apesar de possuir a maior reserva florestal do planeta, não foi convidado a participar da elaboração do texto. As críticas à soberana postura brasileira omitem os grandes resultados obtidos na luta contra o desmatamento (redução de 79% nos últimos 10 anos) e a liderança internacional que o Brasil tem desde que, na COP-15, em Copenhague, apresentou unilateralmente a proposta de redução das emissões de gás de efeito estufa entre 36% e 39% projetadas até 2020.
Finalmente, está a questão da posição brasileira em relação ao terrorismo do EI.
Só a profunda má fé pode atribuir ao discurso da Presidenta da República qualquer indulgência em relação a essa seita, menos ainda a disposição de dissuadir os terroristas pelo "diálogo".
A posição brasileira deixa clara a necessidade de que o uso da força só possa ser exercido quando legitimado por uma decisão do Conselho de Segurança, o que não ocorreu. É o caso da Síria, que, diferentemente do Iraque, não solicitou qualquer intervenção armada.
Tentativas de resolver questões semelhantes à margem do Direito Internacional, além de ilegais, têm sido desastrosas.
Será necessário chamar a atenção para a catastrófica invasão do Iraque, sem autorização do Conselho, e que está na origem do Estado Islâmico? Será necessário mencionar a desestabilização da Líbia e suas implicações no alastramento do terrorismo no Sahel? Será preciso chamar a atenção para o custo que teve, em passado mais remoto, o apoio ao Iraque de Saddam Hussein e aos talebans no Afeganistão?
O Brasil quer o diálogo da (e na) comunidade internacional para enfrentar esses graves problemas. O uso preferencial, unilateral e indiscriminado das armas ou de sanções econômicas tem se revelado inócuo, produzindo resultados opostos àqueles pretendidos. O terrorismo ganha mais força e visibilidade.
A política externa brasileira, que sempre pôs a defesa da soberania nacional e do Direito Internacional no centro de suas preocupações, não pode deixar-se arrastar em aventuras, como aquelas que acabam por reduzir nossa presença no mundo ao alinhamento automático --e muitas vezes desastroso-- com as grandes potências.
A defesa intransigente do interesse nacional se sobrepõe a idiossincrasias ideológicas.
MARCO AURÉLIO GARCIA é assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidenta da República, função que ocupou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)

sábado, 19 de julho de 2014

O Senador e o professor: confronto de ideias? - Fernando Tiburcio


O professor e o senador
FERNANDO TIBÚRCIO PEÑA
O Globo, 15/07/2014
 
É um convite à reflexão a recente troca de farpas entre Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, e Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Provavelmente incomodado com a natural repercussão que teve a entrevista do senador Ferraço nas páginas amarelas da revista de maior circulação no país, o professor aposentado da Unicamp partiu para o contra-ataque usando a condenável estratégia de desqualificar academicamente o seu opositor. A meu ver, não surtiu efeito. Li o seu artigo-resposta e fiquei com a sensação de que o professor estava schopenhauerianamente tentando vencer o debate sem ter razão.
A certa altura, Marco Aurélio Garcia — a quem Ferraço chamou de “chanceler de fato” — acusa o senador de recorrer a velhos chavões da direita. Na ótica do professor, como o “comunismo” está virando um assunto restrito aos livros de história, o senador teria encontrado um novo “espantalho” para subsidiar um discurso supostamente conservador: o “bolivarianismo”. Marco Aurélio Garcia enfatiza que o senador não explicou que bicho é esse, embora ele também não o tenha explicado. Foi aí que percebi que eu próprio, quem sabe por uma deficiência acadêmica, não era capaz de traçar com precisão o conceito de “bolivarianismo”.

Quando vi a presidente Dilma Rousseff assinar o decreto que disciplina a criação dos conselhos populares, tive a impressão de que houve sim, muito diferente do que diz o professor Marco Aurélio, uma certa influência bolivariana. Sei que o diabo andou por ali, mas não saberia dizer com segurança que cara tem o diabo.
Para o meu alívio, depois de muito pesquisar, descobri que são incipientes as tentativas de encontrar uma definição para o termo e que, na maioria das vezes, há uma compreensível confusão entre “bolivarianismo” e “chavismo”. O que achei na doutrina não vai além do óbvio vínculo que tem o movimento sociopolítico com a sua fonte inspiradora, Simón Bolívar. Então, decidi sistematizar as características que moldam o bolivarianismo, como parte de uma atrevida experimentação com o fim de estabelecer as bases para um futuro conceito. As mais evidentes talvez sejam a dificuldade dos seus líderes para se desapegarem do poder e a formação de uma nova elite nos seus respectivos países.
Basta ver que o próprio Simón Bolívar se autodenominou “ditador e libertador das Províncias Ocidentais da Venezuela”. Bolívar se rodeou de pompa própria de uma corte, deixando os assuntos importantes nas mãos de favoritos, que acabaram por arruinar as finanças públicas, levando-os a recorrer a meios odiosos para reorganizá-las. Não sou eu que estou dizendo isso. O juízo de valor, que um século e meio mais tarde serve para contextualizar a atual elite chavista venezuelana, foi feito por um dos maiores ícones da esquerda, senão o maior: Karl Marx.
Hoje, além do presidente venezuelano Nicolás Maduro, discípulo de Hugo Chávez, outros três presidentes latino-americanos se autoproclamam bolivarianos: Evo Morales, Rafael Correa e Daniel Ortega. Manuel Zelaya, o caudilho hondurenho que o Brasil acolheu em sua embaixada em Tegucigalpa, outro bolivariano confesso, não é mais presidente (em que pese o intento frustrado de sua mulher, Xiomara, para tentar ressuscitar o zelaísmo). Foi apeado do poder por um golpe de Estado que teve como estopim as suas manobras para alcançar um segundo mandato, uma iniciativa tão aterradora para a Constituição de seu país, a ponto de sujeitar Zelaya a perder a cidadania hondurenha.
Evo Morales obteve num Tribunal Constitucional Plurinacional totalmente manipulado pelo governo o direito de concorrer a um terceiro mandato, não obstante o fato de a Constituição boliviana proibir expressamente mais de uma reeleição imediata.
Rafael Correa, que também sonha em se eternizar no poder, deixou para trás Evo Morales. Inspirador da virada de mesa do líder cocaleiro, Correa já está no terceiro mandato, um estado de coisas que afronta a Constituição. A solução para permanecer por mais tempo no Palácio de Carondelet foi apelar para reeleições indefinidas. Sem a menor vontade de largar o osso, Correa decidiu apoiar uma emenda constitucional que poderá reconduzi-lo uma ou mais vezes à Presidência do Equador.
Maduro, por obra de seu mentor, e Ortega, por obra dele mesmo, não têm motivos para se preocupar: as regras do jogo foram mudadas enquanto o jogo era jogado e agora a reeleição indefinida faz parte dos sistemas eleitorais da Venezuela e da Nicarágua.
Personagens de uma América Latina populista. Companheiros dos convescotes do Foro de São Paulo. Amigos do professor.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A (Des)Ilusao (Latino-)Americana, ou Eduardo Prado revisitado - Demetrio Magnoli

Mais de 120 atrás, Eduardo Prado, um brilhante intelectual monarquista, inimigo, portanto, da República (nao tanto pelo regime em si, mas pelo furor jacobino que ele provocou na primeira fase), já se insurgia contra a integracao (nao latino-americana, mas) hemisférica.
Em seu livro "A Ilusao Americana" ele já denunciava o imperialismo americano (para gáudio dos antiamericanos de hoje), mas também proclamava, azedamente, que "a solidariedade americana é uma mentira".
Os companheiros de hoje se empenham no antiamericanismo primário e pretendem fazer a integracao exclusivamente latino-americana, com os resultados que se sabem...
Bem, a história é longa, e eu voltarei a ela um dia desses, por enquanto mais um artigo de um crítico da diplomacia lulo-petista.
Paulo Roberto de Almeida

Lula e a falência da 'Doutrina Garcia'

O Estado de S.Paulo, 31 de janeiro de 2013
Demétrio Magnoli *
 
Lula sabe mais que os "intelectuais progressistas" reunidos em seu instituto para, nas palavras do assessor Luiz Dulci, "definir um plano de trabalho para o desenvolvimento e integração" da América Latina. Há muito reduzidos à condição de intelectuais palacianos, os convidados celebraram os "avanços" na integração regional e a miraculosa clarividência do ex-presidente. O anfitrião, contudo, pediu-lhes algo diferente da bajulação habitual: a formulação de uma "doutrina" da integração latino-americana. No 11.º ano de poder lulista, o pedido traz implícito o reconhecimento de um fracasso estrondoso de política externa - e da crise regional que se avizinha.

"Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Bolívia; não em explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte entre Brasil e Peru", proclamou o ex-presidente, sem ser corrigido por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré chegou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Filho e Paz Estenssoro inauguraram a Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de engenharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao Porto de Paranaguá. As pontes que Lula inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Estado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo para alianças políticas entre governantes "progressistas".

Desde 2003, com a nomeação de Marco Aurélio Garcia como assessor especial da Presidência, a política brasileira para a América Latina foi transferida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnando-se de reminiscências políticas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O coquetel conduziu-nos ao impasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória.

A "Doutrina Garcia" rejeita a ideia de livre-comércio, que funcionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchners aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre-comércio. No seu instituto, Lula denunciou a "preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos". Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma "relação preferencial" com a China, que absorve nossas exportações de commodities. O primitivismo ideológico impede até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensável em qualquer projeto de integração latino-americana.

A "Doutrina Garcia" acalenta a utopia de uma integração impulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públicos. Contudo a estratégia de expansão regional do "capitalismo de Estado" brasileiro esbarrou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobrás e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amargas ironias da História, o espectro do "imperialismo brasileiro" reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos "progressistas" contra o governo "progressista" de Lula.

A "Doutrina Garcia" almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime autoritário cubano e erguer uma barreira geopolítica entre América Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorrentes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A concorrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de proteção da ditadura castrista e de desmoralização da Carta Democrática da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a ascensão de Cuba à presidência rotativa da Celac como o marco de "uma nova época na América Latina". Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as liberdades públicas.

Distraídos, os intelectuais palacianos nada perceberam, mas a falência da "Doutrina Garcia" foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a desintegração da América Latina. A principal evidência disso se encontra na emergência da Aliança do Pacífico, uma área de livre-comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro-americanos. De outro, lenta, mas inexoravelmente, desmorona a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transição na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova "doutrina" da integração latino-americana, o ex-presidente revela aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a política externa brasileira.

A consciência de um problema é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma "doutrina" substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideológicos do lulopetismo. Isso, porém, eles não farão.

* Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@uol.com.br.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Politica externa: continuidade na continuidade...

Segundo o atual (e "permanecente") assessor presidencial em temas de assuntos internacionais...
Cabe esperar para ver. Estilo, por vezes, faz a substância...

Despolitização da diplomacia é 'balela', diz assessor de Dilma
Sergio Leo
Valor Econômico, 17/01/2011 – pág. A12

Relações externas: Marco Aurélio Garcia confirma, porém, ênfase maior na questão dos direitos humanos

Marco Aurélio Garcia: "Só há dois tipos de relação sem conflito: as de subordinação e as que não existem"
É uma "balela" a ideia de que a presidente Dilma Rousseff abrirá mão da ideologia na política externa em favor de uma gestão "técnica", garante o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Principal encarregado do tema no Planalto, ele deve ganhar até quatro novos assistentes para se ocupar "não só do urgente, mas também do importante". Se convidado, o Brasil tende até a aceitar participar da missão de fiscalização às instalações nucleares do Irã, para assegurar seu uso pacífico, adianta.
Garcia confirma, porém, mudanças de ênfase na diplomacia, sob Dilma. Se confirmada a censura iraniana a livros do escritor brasileiros Paulo Coelho, o Brasil protestará, assim como pretende pronunciar-se mais intensamente sobre questões de direitos humanos. Mas essa "vigilância" será aplicada a todos, diz ele, até países como Estados Unidos e Suíça, que, apesar de terem casos de abuso, não costumam ser alvo de resoluções de censura.

Na entrevista, cujos trechos principais estão publicados a seguir, ele fala da divisão de tarefas na diplomacia e dos planos para a China, comenta a situação da Venezuela e fala das relações "muito boas" com os Estados Unidos, não afetadas pelo recente ataque ao Brasil, feito pelo embaixador americano em Genebra, Michael Punke. O diplomata acusou o Brasil de escalada protecionista, mas Garcia minimiza: "Não vamos responder ao sub do sub."

Valor: Como será a divisão de tarefas entre a assessoria e o Itamaraty?

Marco Aurélio Garcia: A resposta a esse problema será dada praticamente. O Ministério de Relações Exteriores, em função de sua grande estrutura, da qualidade de seus responsáveis, entre eles o atual ministro, tem um trabalho que se caracteriza não só pela formulação mas pela execução da política externa, graças à gigantesca capilaridade que tem.

Valor: O que muda no papel de sua assessoria com o novo governo?

Garcia: Essencialmente não houve grandes mudanças. Vamos precisar ampliar a assessoria, mas uma ampliação discreta, para que possamos nos ocupar não só do urgente mas também do importante. Essa assessoria existe, na forma atual, desde a eleição de Tancredo Neves. Variou um pouco de função.

Valor: Que questões "importantes", como disse, a assessoria passará a tratar?

Garcia: Hoje fazemos discurso, pontos de discussão, notas de informação para o presidente, tratamos da correspondência internacional, da agenda política não-diplomática [chefes de partido, intelectuais importantes]. Vamos ter uma conexão muito forte com a Secretaria-Geral da Presidência, que terá um assessor internacional, e o ministro Gilberto Carvalho me pediu que trabalhássemos muito articuladamente. Aqui em alguns momentos atuamos como porta-vozes, a pedido da Secretaria de Comunicação. Temos muito tarefa de presença em eventos internacionais.

Valor: Um evento desses é o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Por que a presidente resolveu não ir a esse?

Garcia: Ela tem prioridades na agenda internacional e hoje o Fórum de Davos não tem para nós a importância que teve no começo do governo [Luiz Inácio] Lula [da Silva], que o transformou em acontecimento político de alta significação: foi a Porto Alegre [no Fórum Social Mundial] e no dia seguinte foi a Davos, onde disse que estava falando a mesma coisa que havia dito na véspera em Porto Alegre. O Brasil hoje não precisa se apresentar nessa reunião em Davos, já tem visibilidade extraordinária, há clareza muito grande sobre nossos objetivos e pelo exercício extraordinário que Lula fez na esfera internacional, que Dilma vai continuar.

Valor: Diz-se que Dilma não tem tanta vocação, tanto interesse pelos assuntos internacionais como o ex-presidente Lula.

Garcia: Circula uma série de clichês sobre o diferencial Dilma e Lula. "Dilma será menos ideológica e mais gerencial e mais técnica, menos política", dizem. Balela. É uma pessoa altamente politizada, senão não teria chegado à Presidência da República. Tem visões políticas muito precisas, um pensamento político muito desenvolvido, amadurecido no curso de décadas. Ela vai dar seguimento a isso e vai se ocupar dos temas da política internacional na medida em que forem considerados relevantes. se vai se ocupar mais ou menos só a prática vai dizer.

Valor: Por exemplo...

Garcia: Em muitos casos, Lula fez a abertura de terreno, novas fronteiras diplomáticas do Brasil. Hoje, minha concepção é que vai estar muito mais na ordem do dia a necessidade de consolidar essas fronteiras, eventualmente ampliar uma coisa aqui ou ali, dar mais organicidade à nossa política externa e é por isso que vamos precisar nos ocupar das questões importantes; vamos ter de adensar nossa capacidade reflexiva aqui, preparar dossiês mais consistentes, além dos que já existem tradicionalmente, do Itamaraty, que são muito bons.

Valor: Mas para que haver estudos do Planalto e do Itamaraty?

Garcia: Vamos fazer nossa contribuição porque a angulação não é contraditória, mas tem uma percepção política diferenciada. Não fosse assim a assessoria não se justificaria. Temos também uma agenda política não diplomática que é relevante: vem um chefe da oposição, ele deve ser recebido, não deve ser recebido?

"O Brasil hoje não precisa se apresentar no Fórum de Davos, pois já tem visibilidade extraordinária"

Valor: Vocês vão preparar documentos para orientar a posição do governo?

Garcia: A assessoria já fez isso, em muitas ocasiões preparei trabalhos. Realizamos missões também e o fato de eu ter relações com governantes na região ajuda. E aí se dá um tratamento mais específico às questões. Mas sempre articulei com o ministério. Invariavelmente, vou aos encontros com chefes de Estado ou a mesas do movimento social com o embaixador local, ou, quando não é possível, informo imediatamente ao embaixador. Muitas vezes a presidente fala ao telefone com alguém, imediatamente produzimos aqui um informe e mandamos ao Itamaraty. A sintonia aqui é muito, muito grande, até porque se fosse para brigar com o Itamaraty eu não faria. Tem de haver uma orientação muito clara em todas as políticas do governo, não só a política externa.

Valor: O site WikiLeaks mostrou tentativas da diplomacia dos Estados Unidos de trabalhar com o que via como diferença de posições no governo Lula...

Garcia: Essa divisão aparece como suposição: fulano está mais à esquerda, outro é mais nacionalista. Não há caso em que haja elemento probatório de dualidade entre nós na política externa. Mesmo nos depoimentos do ex-embaixador Clifford Sobel não aparece nada que mostre conflito de orientação. Evidentemente não sou igual ao Celso [Amorim], ao [Antônio] Patriota. Tenho as minhas ideias, que são amplamente conhecidas.

Valor: Logo no começo do governo, em entrevista, a presidente disse que não se absteria em uma votação sobre o Irã, como se absteve o governo, seguindo a posição tradicional da diplomacia. O que de fato há de diferente nisso?

Garcia: Ela se manifestou sobre um episódio concreto. Outra coisa é a forma pela qual vamos abordar os temas gerais dos direitos humanos. Não há divergência entre os procedimentos anteriores e os futuros. A presidenta quer que o governo se manifeste sobre esse assunto. Agora, será urbi et orbi [para a cidade e o mundo]. Nossas manifestações serão sobre todas as formas de violação dos direitos humanos. Ela pediu que não houvesse ambiguidade, mas também preservando os critérios de não seletividade. Esse tema aparece com força, porque se trata do Irã. Naqueles dias anteriores, mencionou-se a execução de uma mulher nos Estados Unidos com perturbações mentais sob acusação de que tinha matado o marido. Não nos pronunciamos, mas não é só isso: não houve resolução apresentada no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Valor: O Brasil será mais ativo na apresentação de propostas?

Garcia: Vamos ter de ter uma vigilância maior nessa questão, um trabalho mais intenso - o atual é muito bom, a embaixadora Maria Nazaré Farani Azevedo mostrou que votamos mais de 98% de condenações. O Brasil não é uma ONG, não pode ser uma agência de certificação de direitos humanos, o tempo todo sobre todos os assuntos, senão a política externa se limitará a isso, com todas suas implicações. Existem questões emblemáticas, e sobre elas, por sugestão do Itamaraty e nossa, a Presidência vai se manifestar, acatando ou não.

Valor: Por exemplo?

Garcia: Se se confirmar efetivamente a censura aos livros do Paulo Coelho, vamos nos manifestar, não há a menor dúvida. Recentemente, na posse da Dilma, falamos com o ministro do Irã sobre aspectos que causam problemas ao Irã e a nós também. Sobre a questão da Sakineh Ashtani [condenada à morte sob suspeita de morte do marido]. Li no "Estadão" que os iranianos parecem não terem gostado muito disso. Paciência. Não queremos com isso comprometer o esforço que fizemos em relação ao acordo de Teerã [sobre uso de energia nuclear pelos iranianos]. Se possível, queremos fazer com que o acordo contribua para a adesão plena do Irã à energia nuclear para fins exclusivamente pacíficos.

Valor: O Brasil continua tratando do assunto nuclear?

Garcia: Há conversas sobre o possível envio de uma missão fiscalizadora da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) para verificar as instalações nucleares do Irã. Se nos convidarem, a tendência, possivelmente, é de aceitarmos. O grande problema é que se tentou muitas vezes tratar duas coisas: "Foram se meter em assunto que nada tem a ver, a política nuclear, e são complacentes com os direitos humanos no Irã." Se há crítica de complacência em relação a direitos humanos na China, nos Estados Unidos, na Suíça, que proíbe minaretes muçulmanos, estou disposto a discutir. Vamos ter de engajar no governo um debate profundo, para ver como compatibilizar questões conflitivas: os valores universais e o respeito à autodeterminação.

Valor: Debate entre quem?

Garcia: No governo, a presidente dará suas opiniões, o Itamaraty dará, nós daremos, a ministra [de Direitos Humanos] Maria do Rosário dará. O Patriota, eu e a ministra discutimos outro dia questões gerais. E vamos ter de provavelmente afinar mais a discussão de como enfrentar resoluções submetidas ou à Terceira Comissão das Nações Unidas ou ao Conselho de Direitos Humanos, sobre como compatibilizar os pontos de vista envolvidos, sem ser discriminatório.

Valor: Qual a orientação da presidente para questões econômicas, como as do G-20, que reúne as economias mais influentes do mundo?

Garcia: Ainda não fizemos discussão sobre temas do G-20, porque ultrapassa em muito o âmbito da política externa e seus mecanismos formais de execução. O carro-chefe do governo nas questões do G-20 é o Ministério da Fazenda, da mesma forma como nas questões ambientais é o Ministério do Meio Ambiente. O que a presidente insistiu muito é que ela quer uma afinação muito grande entre os ministérios envolvidos nos temas internacionais, que não se resumem no Ministério das Relações Exteriores. Por exemplo, há questões em que o Ministério da Defesa tem de ser invariavelmente escutado.

Valor: Em que temas?

Garcia: Vários. Temas do desarmamento, próprios temas do comércio exterior, que equipamentos vamos usar nas Forças Armadas, transferência de tecnologia. Não é tema limitado ao Ministério do Desenvolvimento, do Itamaraty.

Valor: E a China, é um competidor contra o qual devemos nos armar ou um parceiro nas mesas internacionais?

Garcia: É as duas coisas, e nossa habilidade vai ser combinar medidas de proteção dos nossos interesses e medidas de associação. Como vantagens, com a China, não temos conflitos de natureza geopolítica, temos até programas de cooperação internacional. Os interesses de natureza econômica que há teremos de resolver com as armas econômicas. Pretendemos não só aprofundar uma reflexão sobre a China, mas multiplicar iniciativas. O ministro Patriota vai à China, foi sugerido que eu fosse também...

"Se for confirmada a censura do Irã aos livros do Paulo Coelho, vamos nos manifestar, não há dúvida"

Valor: O senhor irá?

Garcia: Sim. Há uma proposta que o embaixador chinês me fez há algum tempo, quero ver se posso materializá-la antes da reunião. Pensamos também na ida do ministro [do Desenvolvimento, Fernando] Pimentel. Vamos ver. Há ideia de aproveitarmos a reunião dos Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] na China para uma visita de Estado. E se for assim queremos uma visita caprichada, vamos levar não só agentes econômicos, empresários, mas vamos ter uma agenda bem mais elaborada.

Valor: Os Estados Unidos acusaram duramente o Brasil de protecionismo. Não é um sinal negativo?

Garcia: Não me surpreende, já havia sido prevenido de que havia uma tendência nessa direção. Só há dois tipos de relação sem conflito: as de subordinação e as que não existem. A Argentina é nosso principal parceiro e todo dia você noticia um conflito aqui e ali. Aí entra o papel do Itamaraty, que tem um trabalho cotidiano. Estivemos conversando com o [negociador brasileiro em Genebra] Roberto Azevedo, semanas antes, examinamos dificuldades que havia e estamos trabalhando isso. Mas é reflexão que não faremos sozinhos aqui [no Planalto].

Valor: Como estão as relações Brasil-EUA?

Garcia: Estão num bom caminho. Houve um período de certo azedume, por causa do Irã. Acho que tínhamos razão. Mas não acho que os EUA queiram fazer daquilo um ponto de agravamento das relações, pelo contrário, só temos tido manifestações positivas. Fomos beneficiados em ter Thomas Shannon como embaixador dos EUA aqui, não só pelas impecáveis qualidades profissionais dele, mas porque ele tem buscado dar consistência a essa proximidade.

Valor: E essas acusações feitas em Genebra não afetam essa consistência?

Garcia: Está lembrado da resposta do presidente Lula a umas declarações do [ex-representante comercial dos EUA, Robert] Zoellick, que íamos acabar vendendo geladeira no Polo Sul se não entrássemos na Alca? Disse que era coisa do sub do sub. Não vou responder a um sub do sub.

Valor: Não preocupam os acontecimentos políticos na Venezuela?

Garcia: Temos convicção de que a Venezuela, participando do sistema de países sul-americanos, regido inclusive por algumas cláusulas, a Venezuela vai se ater a isso [o respeito à democracia]. Muitas das observações são tentativa de empurrar a Venezuela numa determinada direção, dizer "olha, é um regime totalitário", e como já vi dizerem aqui que o presidente Lula ia para o caminho do totalitarismo... A oposição teve bom desempenho nas eleições, tem participação relevante no Congresso, há jornais extremamente críticos ao governo...

Valor: Mas houve propostas de endurecer o controle sobre a sociedade...

Garcia: Ele mesmo recuou dessas propostas, e até com bons argumentos. Evidentemente eu, como professor universitário não poderia ver com nenhuma simpatia qualquer tentativa de imiscuir-se na autonomia da universidade, inclusive no que diz respeito à produção de conhecimento e ele voltou atrás. Tenho de felicitar as coisas que vão na boa direção, não ficar simplesmente na suspicácia.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A politica externa de Dilma: especulacoes autorizadas...

Dilma, nas pegadas de Lula
Patrícia Campos Mello/ enviada especial, Brasília
O Estado de S. Paulo, 09/08/2010

O projeto da candidata do PT é manter o eixo central da diplomacia lulista, lutando por um espaço nos grandes conflitos

Em uma eventual vitória do PT nas eleições presidenciais, a candidata Dilma Rousseff vai manter as incursões da política externa brasileira em assuntos polêmicos - ela pretende, inclusive, continuar tentando ter uma voz em conflitos como o do Oriente Médio e da questão nuclear iraniana, a exemplo do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço internacional que é absolutamente compatível com as ideias da Dilma e com sua própria personalidade", disse ao Estado Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais e principal formulador do programa de governo da candidata. "Quem não entra em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians." Marco Aurélio é a alma da política externa da petista. O mais cotado para chanceler em um eventual governo Dilma é o atual secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota.

Dilma encara a diversificação de mercados do governo Lula e aproximação com emergentes como um grande trunfo e pretende mantê-las, se chegar ao Planalto. Segundo Marco Aurélio, a "opção sul-americana" iria se aprofundar - ele vê países como a Venezuela e Colômbia fabricando equipamentos para o pré-sal brasileiro. Rebate as acusações de que o posicionamento do Brasil de não condenar o desrespeito a direitos humanos em países como o Irã e Cuba prejudique a reputação do País: "O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias, o Brasil opera em episódios de direitos humanos de forma prática". E mantém vivas as críticas aos EUA: "Se os EUA insistem que temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, isso não vai acontecer."

Boa parte da visibilidade do Brasil no cenário internacional está ligada ao presidente Lula. Como seria isso em um governo Dilma?

A Dilma é diferente e não pretende ser o Lula de saias. Ela vai ter seu estilo. Lula tem uma prodigiosa intuição, já a Dilma é uma pessoa de formação acadêmica, muito assertiva, firme em suas posições.

O Brasil manterá, se ela for eleita, o high profile de política externa?

Estilo à parte, o Brasil alcançou um espaço e responsabilidades internacionais absolutamente compatíveis com as ideias de Dilma e com a própria personalidade de Dilma.

Dá para ver a Dilma tentando mediar o conflito do Oriente Médio?

Por que não?

O que dá para fazer para melhorar o relacionamento com os EUA? Há ruídos, criados pelas divergências em Honduras, no Irã...

Não fomos nós que criamos ruídos. Se os EUA insistem que nós temos de nos ocupar da América do Sul e eles se ocupam do mundo, evidentemente, isso não vai acontecer. Precisamos ter paciência, vamos ver o que ocorre nas eleições nos EUA. Tivemos relações tão boas com os republicanos...

A química era melhor com o Bush?

Lula não apenas se declarou contra a guerra do Iraque, como começou a fazer uma articulação internacional. Em um tema tão crucial para o Bush, o Brasil soube se diferenciar e mesmo assim manter as relações com eles. O Bush veio aqui duas vezes, qual presidente americano veio duas vezes ao Brasil?

E o Obama não veio, e provavelmente não virá neste ano.

Durante um período não veio porque estava sem embaixador. Nós somos sensíveis às dificuldades que Obama enfrenta.

O presidente Lula ainda está chateado com Obama por causa do episódio do Irã?

O presidente Lula está um pouco decepcionado, porque tem muita estima pelo Obama. E uma grande expectativa.

Houve mudança na política dos EUA para a região?

Pouca. Os EUA deveriam ter sido mais peremptórios em Honduras. Não foram, sofreram pressão forte de conservadores.

Digamos que até o fim do ano, ou daqui a dois, o Ahmadinejad apareça com uma bomba nuclear. Com que cara o Brasil vai ficar?

O Brasil condenará duramente. Mas o Irã não vai aparecer com uma bomba.

Como é que vocês têm certeza?

Os americanos dizem que eles não têm. Nós estamos tentando impedir que eles tenham, e a melhor maneira é falando com eles.

Foi uma vitória para a diplomacia brasileira, apesar de o acordo não ter sido aceito?

Nós propusemos um caminho, que foi desconsiderado pelos EUA de forma brusca, ríspida e inamistosa.

No caso da Dilma, ela entraria também nessas questões espinhosas?

É claro, quem não está disposto a entrar em questões espinhosas não pode ser presidente nem do Corinthians.

Uma crítica da oposição: porque não vamos mediar as papeleiras no Uruguai em vez de um problema no Oriente Médio?

Quisemos mediar o caso das papeleiras, não foi aceita nossa mediação. Mediamos Equador e Colômbia, Venezuela e Equador. Recebemos aqui o Shimon Peres, o Mahmoud Abbas, o Ahmadinejad, o Bashar Al Assad, da Síria, e todos pediam que interviéssemos...

Talvez porque o Brasil evite fazer julgamentos sobre respeito aos direitos humanos?

Não é verdade, temos uma posição objetiva, temos votos no Conselho a ONU...

Mas o Brasil se abstém em votos de condenação ao desrespeito dos direitos humanos.

Essa posição de abstenção é histórica do Itamaraty, vem lá de trás.

E por quê?

Porque não queremos ser seletivos e politizar circunstâncias. As pessoas sabem de muitos países que têm gravíssimos problemas de direitos humanos, mas com os quais os EUA se dão muito bem, como a Colômbia. Os americanos têm complacência com países onde há apedrejamento a mulheres. O Brasil não é uma ONG, que faz denúncias . Ele opera em episódios de direitos humanos de forma prática. Quando há violações, nós agimos.

E na eleição do Irã?

Não sei qual é o problema da eleição do Irã.

Mataram manifestantes e prenderam oposicionistas. Isso não é um problema?

Sim, mas não é problema da eleição.

Mas prenderam membros da oposição...

Fizemos várias "démarches" junto ao Irã.

Lula comparou presos cubanos a presos comuns. Não é hora de ser mais assertivo em relação a direitos humanos em Cuba?

Eu conheço Cuba suficientemente para saber que qualquer declaração assertiva produz efeitos opostos.

E no Conselho de Segurança da ONU, continuamos buscando assento permanente?

Entramos em um período de transição que vai em direção a um mundo multipolar. Temos indícios econômicos e políticos da preeminência do sul sobre o norte. Ibas, BRICs, diálogo Sul-Sul, e episódios como Irã mostram isso. O episódio do Irã foi a entrada na cena internacional de dois personagens que não tinham sido convidados, que entraram com uma proposta importante.

O Brasil deveria fazer isso sempre?

Os países vão fazer normalmente, porque não podemos viver hoje sob a tutela de um sistema mundial que foi criado em 1945 e que hoje não tem mais impacto.

O que o sr. acha de flexibilizar o Mercosul e liberar o Brasil para acordos bilaterais?

Bobagem, porque não são os nossos parceiros que estão nos criando dificuldades. No caso da União Europeia foi a Argentina... Os problemas com a Argentina podem ser completamente resolvidos.

Não é necessário o Brasil se mostrar mais ativo em acordos bilaterais sozinho?

Podemos fazer isso com o Mercosul. O Mercosul não é, ao contrário do que o (candidato do PSDB, José) Serra tem dito, um estorvo. Nessas propostas de o Brasil fazer carreira solo em negociações bilaterais há, no fundo, uma tremenda nostalgia da Alca.

O fato de o Brasil não ter fechado nenhum acordo bilateral, a não ser com Israel, nos últimos anos, não indica problemas?

Capitaneamos um esforço coletivo que seria muito mais abrangente e levamos isso às últimas consequências (a Rodada Doha). Quem barrou? EUA e Índia. Agora a Índia está de acordo, mas os americanos não querem.

Doha continuaria como a grande aposta num próximo governo?

Eu estou cético. Vamos fortalecer uma negociação com a União Europeia.

Quais seriam os ajustes na política externa em um governo Dilma?

Temos de aprofundar a opção pela América do Sul, avançar nos projetos de substituição de importação com presença de capitais brasileiros, na Venezuela, na Bolívia.

Haverá proteção de contratos, para não repetir o problema da Odebrecht no Equador?

O problema da Odebrecht no Equador foi absolutamente isolado e já foi resolvido.

Quais outras maneiras haveria para investir na opção sul-americana?

Com o pré-sal teremos de criar uma gigantesca infraestrutura, que a indústria brasileira sozinha não terá condições de absorver. Será que não podemos ter produção desses componentes em outros países? Tem projetos agora na Venezuela, na Colômbia.

E para essa maior integração funcionar, não teria de ser resolvido o problema do protecionismo argentino?

O protecionismo argentino tem incidência marginal. Essas questões são marginais ante os grandes desafios como: a Venezuela vai se industrializar? E a Bolívia? Vamos nos transformar em um mercado de consumo regional, mais de 300 milhões de consumidores. Cada vez mais empresas investem aqui.

Sim, mas no Brasil. Para a Venezuela, onde há insegurança jurídica, ninguém vai.

O problema da Venezuela é menos de insegurança jurídica. O problema é que o modelo ainda não está plenamente configurado. A Venezuela ainda não rompeu com seu modelo petroleiro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Politica Externa do Brasil: não se pode ganhar todas...

Garcia reconhece frustração brasileira após sanções
MARINA GUIMARÃES - Agência Estado
10 de junho de 2010

O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia, reconheceu hoje que a diplomacia brasileira se sente frustrada com a votação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que aprovou novas sanções ao Irã. "Claro que houve frustração da diplomacia brasileira, mas não por não ter insistido, mas por ter visto que os outros (países) não nos acompanharam. Acho isso um absurdo, uma decisão errada", afirmou, em Buenos Aires, onde participa de um seminário acadêmico como principal orador.

Numa longa análise sobre a quarta rodada de sanções para frear o programa iraniano de enriquecimento de urânio, Garcia considerou ser preciso esperar para avaliar a situação e saber se o episódio pode ajudar ou complicar o Brasil na aspiração de ser membro permanente do Conselho. "Algumas análises dizem que facilitou (o processo de inclusão do Brasil), outras dirão que complicou. Não sei. Ainda estamos sob o impacto da decisão de ontem, que vai ter suas consequências. É preciso dar um tempo para ver como isso vai amadurecer", disse ele.

Garcia argumentou que a decisão de ontem era previsível, mas ponderou que o Brasil conseguiu, pelo menos, realizar o debate sobre o assunto, já que houve uma tentativa dos EUA de não se fazer o debate. "Nós temos relações boas com todos os países, com alguns temos relações muito boas, mas evidentemente não concordamos com as sanções. Isso demonstra que as relações internacionais já não têm mais um alinhamento incondicional", argumentou.

Contudo, ele reconheceu que a votação foi resultado da relação de força internacional. "Entendemos essa realidade, mas o Brasil continuará defendendo os valores multilaterais que historicamente tem defendido, e de forma mais acentuada nos últimos anos", afirmou. "O problema é que os EUA têm força e vão ter durante muitas décadas. Têm um poder que não puderam exercer no Iraque, mas exerceram agora. Na crise do Iraque eles ficaram muito mais isolados, mas tinham tropas", alfinetou.

Batalhas
Segundo ele, o episódio do Irã é só um assunto a mais na agenda externa. "Temos muitas outras questões que vão estar permanentemente na agenda. Por exemplo: o presidente Lula vai a uma reunião do G-20, onde vai vocalizar uma série de posições sobre a crise e os caminhos para sair da crise e muitas outras coisas", destacou. "Não estamos emburrados, estamos preocupados", disse ele, ressaltando que o caso do Irã não foi a última batalha.

"O Brasil é um ator global. O que se votou ontem foi uma composição na qual tiveram votos, de um lado, um grupo de países, e do outro, o Brasil e a Turquia", justificou o assessor, completando que os EUA estão incomodados com a participação de um ator que normalmente não faz parte do jogo diplomático internacional. Mesmo assim, disse ele, a relação com os norte-americanos vai continuar firme. "Temos uma agenda de cooperação muito grande com os EUA e continuaremos dialogando e sempre vamos nos expressar quando tivermos uma diferença", concluiu.

domingo, 2 de maio de 2010

Grandes contribuicoes a cultura universal: frases de impacto (e como...)

Não tenho nenhum mérito pela seleção, apenas recolhi no Blog do jornalista Augusto Nunes, na revista Veja.
Independentemente de quem seja, ou de quem fez a seleção, as frases EXISTEM, elas foram pronunciadas e, como tal, servem para enriquecer ainda mais (ou não, você julga, caro leitor) a nossa cultura, o nosso conhecimento da língua e seus infinitos meandros, a nossa compreensão deste mundo complicado que nos cerca...
Certas frases dos personagens políticos (e um futebolista) aqui selecionados se parecem muito com argumentos de filósofos franceses, os tais de desconstrucionistas.
Ou, como diria o Chacrinha: "Eu não vim para explicar, eu vim para confundir".
Divirtam-se...
Paulo Roberto de Almeida

Augusto Nunes
SEÇÃO » Direto ao Ponto
O Sanatório Geral entra na festa
1 de maio de 2010

Em homenagem ao 1° aniversário da coluna, os médicos e enfermeiros do Sanatório Geral decidiram republicar, em ordem cronológica, uma coletânea de palavrórios internados neste ano.

A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo. O africano em si tem uma maldição. Todo o lugar que tem africano tá foda”.
Gerge Samuel Antoine, cônsul do Haiti em São Paulo, antes do começo da entrevista ao SBT, sem saber que o que dizia estava sendo gravado.

Eu estava no Guarujá, caiu uma chuva na quinta-feira que eu pensei que ia encher o mar. Eu falei: tudo bem, quando o rio transborda, a água vai para o mar. Primeiro, passa na casa das pessoas que moram na periferia, depois ela vai para o mar. Eu falei: se o mar encher, vai para onde?
Lula, revelando, como atesta a profunda reflexão reproduzida pelo Blog do Noblat, o que se passa na cabeça de quem vai à praia com um isopor daquele tamanho.

Tudo isso só aconteceu porque o Zelaya esteve na nossa embaixada”.
Celso Amorim, chanceler de bolso de Hugo Chávez, revelando que, se o Brasil não tivesse instalado Manuel Zelaya na Pensão do Lula, o governo hondurenho não precisaria tirar Manuel Zelaya da Pensão do Lula.

“O PAC 1 não tinha capacidade estrutural, essa coisa estruturante que tem o PAC 2 por não termos dinheiro
”.
Dilma Rousseff, numa reunião com prefeitos do Paraná, ao explicar a diferença entre o PAC 1 e o PAC 2 a 170 convidados que continuam reunidos até agora tentando descobrir o que é que ela quis dizer.

Todos os partidos têm desvios éticos porque são formados por seres humanos”.
José Eduardo Dutra, explicando que as bandalheiras do PT só deixarão de acontecer quando o partido, em vez de um ajuntamento de seres humanos, transformar-se, por exemplo, numa floresta.

Sou vítima de uma campanha difamatória que atinge níveis jamais vistos na vida pública brasileira”.
José Roberto Arruda, em carta divulgada quando estava a caminho da cadeia, suspeito de roubo de fraldas quando ainda estagiava no berçário, ladrão irrecuperável, disposto a atingir níveis de cinismo jamais vistos na vida pública brasileira.

Uma pessoa chique ganhando cachaça é algo chique. Um metalúrgico ganhando cachaça é cachaceiro”.
Lula, em Goiás, explicando que um cachaceiro é identificado pela primeira anotação na carteira de trabalho, não pela quantidade de garrafas que derruba.

Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro”.
Marco Aurélio Garcia, sobre a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, informando que quem vê o mundo com as lentes da canalhice não há diferenças entre Cuba e Dinamarca, Irã e Holanda, Venezuela e Suécia, Brasil e Suiça.

Que horas vamos votar isso? Estou de saco cheio de ficar aqui”.
Ideli Salvatti, musa da bancada companheira no Senado, ansiosa por aprovar a desconvocação de Dilma Rousseff pela Comissão de Constituição e Justiça, mostrando que também merece o título de Miss Elegância.

Eu digo sempre o seguinte: eu acordo todo dia pedindo a Deus que cada dia mais apareça chinês comendo, indiano comendo, africano comendo, latino-americano comendo, porque quanto mais o povo comê, mais o Brasil vai ter que produzir, porque não tem nenhum país no mundo que tenha a quantidade de terras agricultáveis que tem o Brasil, nem tão pouca quantidade de sol e chuva na combinação perfeita para formar a fotossíntese que a agricultura mundial precisa”.
Lula, em entrevista a TV Tem, de São Paulo, depois de um almoço da pesada.

Não fico arrependido, mas, quando a gente põe a cabeça no lugar, percebe que não é uma coisa legal”.
Vágner Love, atacante do Flamengo, explicando que só é escoltado por traficantes armados de fuzis na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, quando está com a cabeça fora do lugar.

Acredito que com os presos cubanos a situação seja diferente porque o acesso que eles têm à mídia é muito grande”.
Dilma Rousseff, ao comparar os presos políticos cubanos aos brasileiros punidos pela ditadura militar, explicando que quem está na cadeia e no noticiário dos jornais é muito mais feliz do que quem está só na cadeia.

Mesmo quando é para um artefato nuclear, é também para fins pacíficos porque é para dissuasão”.
José Alencar, ao justificar o projeto atômico do companheiro iraniano Mahmoud Ahmadinejad, ensinando que a corrida nuclear ocorrida durante a Guerra Fria foi, no fundo, uma bonita demonstração de amor à paz protagonizada em parceria pelos Estados Unidos e pela União Soviética.

Nós, brasileiros, acostumados com nosso calor suarento, sempre louvamos termos sido preservados por Deus dos violentos fenômenos da natureza: vulcões, furacões, terremotos ─ mas não nos livramos das secas nem das enchentes. E a miscigenação nos deu a mulata!
José Sarney, ao discorrer na Folha desta sexta sobre as cinzas do vulcão Eyjafjallajokull, explicando que um par de mulatas vale meia dúzia de enchentes no Rio e uma centena de secas no Nordeste.

É com satisfação que nos reunimos aqui na quadra da Mangueira”.
Luiz Sérgio, presidente do PT do Rio, ao saudar a comitiva de Dilma Rousseff na quadra da Portela.

(Deve ter mais frases dessas por aí. Quem souber, por favor, pode mandar que eu publico, tudo em nome da cultura universal...; PRA)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1764) Venezuela, sempre na berlinda...

Primeiro: acho que o chanceler do Chile tem total razão de fazer a advertência, do contrário a política externa oficial vira uma bagunça, com muita gente opinando de maneira caótica, o que daria uma péssima impressão do país. Mas também acho que o candidato eleito se saiu relativamente bem. Melhor que fique quieto doravante...

Chanceler chileno pede a Piñera que evite falar de política externa
Agência ANSA, 22/01/2010

SANTIAGO - O chanceler chileno, Mariano Fernández, pediu ao empresário Sebastián Piñera, eleito presidente do país no domingo, que evite opinar sobre temas de política externa até que assuma o cargo, o que ocorrerá no dia 11 de março.

A advertência é feita após o futuro mandatário ter trocado as primeiras alfinetadas com o venezuelano Hugo Chávez.

- É recomendável que o novo governo comece a dar opiniões sobre temas internacionais somente quando estiver instalado - disse Fernández.

- Não se deve antecipar julgamentos sobre as relações do país num período em que está terminando um governo e começará outro - complementou.

A polêmica teve início quando Piñera, empresário e dono de uma fortuna estimada em US$ 1,2 bilhão, manifestou "diferenças" quanto à democracia venezuelana.

Chávez, em resposta, pediu respeito à soberania do povo venezuelano e, irônico, afirmou que o futuro presidente chileno jamais poderia concordar com as políticas de seu governo, já que se trata de um "empresário muito rico".

- Ele é um empresário muito rico e é impossível que esteja de acordo com uma revolução socialista na Venezuela - declarou. Piñera, então, retomou o assunto e alegou que tem o direito de se expressar.

- Disse que a democracia e o modelo de desenvolvimento econômico que queremos no Chile são muito distintos da maneira que está implementando o presidente Chávez na Venezuela. Dizemos isso com clareza, mas com muito respeito - argumentou o chileno.

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E agora, o grande comandante, mas numa matéria que tem a ver com o debate partidário no Brasil:

A escolha que vai definir o futuro
Coluna do Augusto Nunes
25 de janeiro de 2010

Hugo Chávez, a reencarnação degenerada de Simón Bolívar, agora resolveu fechar todas as emissoras de rádio e televisão que não lhe prestem vassalagem. O clube dos cafajestes latino-americanos faz de conta que se trata de uma questão doméstica. Não se deve interferir em assuntos internos de outros países, com exceção de Honduras.

O silêncio malandro de Lula reitera que, para o melhor amigo do tirano aprendiz, “há democracia até demais na Venezuela”. A mudez de Marco Aurélio Garcia, conselheiro presidencial para complicações cucarachas, mantém o parecer emitido em agosto: “O que ouvi em programas de TV sendo dito sobre o Chávez não está no gibi”.

O neurônio solitário de Dilma Rousseff tem algo a dizer sobre o cabo eleitoral venezuelano? Tem: “Não cabe a mim criticar ou não. Se ele faz isso, é em função da problemática dele”. É a cretinice que faz sentido: a Mãe do PAC e toda a companheirada fazem o que podem para camuflar o entusiasmo.

Para os stalinistas farofeiros, o furacão autoritário na Venezuela tem a suavidade da brisa. Não é censura, sussurram uns aos outros: é o “controle social” dos meios de comunicação, enfim obrigados ao pronto atendimento dos interesses do povo. A Venezuela bolivariana de hoje, sonham, é o Brasil amanhã.

Não será se a oposição entender que tem discurso de sobra. O Brasil que presta deve aceitar o repto de Lula e encarar o confronto plebiscitário. Os eleitores precisam ser convidados a escolher entre a Venezuela e o primeiro mundo, a caverna e a civilização, o primitivismo e a modernidade, a ditadura e a democracia. Entre a opressão e a liberdade.