O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 8 de junho de 2019

Transito: o projeto debiloide de Jair Bolsonaro para salvar infratores (como a sua familia)


O projeto é realmente debilóide, e só contraventores (e assassinos em potencial) podem aprová-lo; espero que seja totalmente rejeitado logo na entrada.
Paulo Roberto de Almeida

'Eu não sei o valor da cadeirinha, sei de caixão', diz aliada de Bolsonaro

"Eu sei quanto custa choro e flores", disse a deputada federal Christiane Yared (PL-PR), aliada do presidente Jair Bolsonaro sobre a flexibilização das punições de trânsito


Agência Estado, 7/06.209

Aliada do presidente Jair Bolsonaro, a deputada federal Christiane Yared (PL-PR) fez um dos discursos mais duros até agora na Câmara contra o projeto do governo que afrouxa punições no trânsito. "Quanto custa uma? Eu não sei o valor de uma cadeirinha. Sei quanto custa um caixão, eu paguei o caixão do meu filho. Eu sei quanto custa choro, flores." Seu filho, Gilmar Souza Yared, foi morto em 2009, após o carro do ex-deputado estadual José Carli Filho, que se apresentou à Justiça no último dia 28, atingir o veículo. Agora no Congresso, a deputada federal pelo Paraná diz "lutar por vidas". "Até pedi a líderes (dos partidos) que sugerissem o meu nome (para a relatoria da proposta na Casa)." 

O que mudou com a morte? 
Mudou tudo. Eu era uma empresária conhecida no Paraná. Trabalhei 30 anos nessa empresa e, graças a Deus, era bem-sucedida e em uma madrugada fui acordada por dois agentes federais que traziam a informação da morte do meu filho. No IML, não deixaram meu esposo reconhecer o corpo. Falaram que nunca tinham visto nada igual e ele não dormiria mais na vida. Depois, recebi no cemitério um caixão lacrado. Normalmente (depois disso), a gente não quer fazer mais nada da vida, as famílias se desmancham. No dia que o enterrei, disse a ele que não ia enterrá-lo, ia plantá-lo. Criei uma ONG. Já dei quase 3 mil palestras na ânsia de tentar diminuir essas mortes no trânsito. 

Como a senhora avalia o projeto do presidente Jair Bolsonaro? 
O que sugerimos ao presidente é saídas. Vi que houve pressa na apresentação desse projeto e ele não vai passar do jeito que está no Congresso porque nós ali estamos na defesa desse trânsito mais seguro. Para alguns pontos já temos até projetos apresentados, como os 40 pontos na carteira para motoristas profissionais. 

E nos demais pontos?
A preocupação é realmente com segurança. Com relação ao farol aceso de dia, é importantíssimo. A gente viu aí uma redução de 15% das mortes nas estradas, nas rodovias no País. E quanto à cadeirinha, o valor é completamente irrisório, se for comparar a um terreno no cemitério, a um caixão, ao tempo de choro e flores. Então trouxemos essa realidade para o plenário. E também vimos com preocupação a questão dos dez anos para renovar a habilitação. Veja o meu caso: o jovem que matou o meu filho, aos 18 anos teve a habilitação concedida. Quando fez a renovação estava com 23; quando fez 26, era um drogado, tinha problema sério com alcoolismo e histórico de pontos assustador na carteira. E continuava dirigindo. Matou duas pessoas. Vejo com preocupação, não a renovação da carteira, mas a renovação dos exames médicos. É um país que não tem responsabilidade... "Ah não, cada pai é responsável pelo seu filho", dizem. A gente vê por aí todos os dias, basta parar na frente de uma escola para ver como os pais são responsáveis: as crianças chegam todas soltas, às vezes 3, 4 no carro, naquela folia. E se houver um acidente, uma colisão na traseira do carro, essas crianças serão ejetadas para fora. Depois não adianta chorar. Se morreu, tem de enterrar. E se ficar sequelas, o País inteiro paga a conta. A cada dez leitos no Brasil, sete são ocupados com acidentados de trânsito.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

Adeus ao quilo; aposentaram o cilindro de platino-irídio

What’s a Kilogram? The Hunk of Metal That Defined It for 130 Years Has Been Retired

The closely guarded cylinder of platinum-iridium, kept under strict control in France, has outlived its usefulness

Once upon a time, a kilogram was defined by a hunk of metal stored beneath a trio of bell jars in a climate-controlled vault in the basement of the International Bureau of Weights and Measures in France.
The closely guarded cylinder of platinum-iridium was forged in 1889.

Um ministro do Exterior esquecível - Heitor Lyra

O Ministro do Exterior... era um homem desconhecido no país, e sua [designação] para o Itamaraty... causou, por isso, a todos, a maior surpresa. Ninguém podia explicar porque foram buscar esse apagado [diplomata] para colocá-lo à frente da política exterior do Brasil, num lugar até então ocupado, salvo as exceções..., por homens os mais eminentes. (...) A que título vinha ele agora para o Itamaraty, chefiar a política exterior do Brasil, num momento particularmente delicado da situação internacional...?
A razão que se dava para isso era que [o presidente] o havia conhecido... e guardava dele a melhor das impressões. Como explicação era pouco. Parecia mais plausível uma outra, que se dava, e era que pretendendo o novo presidente dirigir, ele mesmo, a política exterior do Brasil, colocara no Itamaraty um homem sabidamente medíocre e apagado, que não lhe pudesse fazer sombra e fosse, ao mesmo tempo, em suas mãos voluntariosas e absorventes, um acomodado e fiel cumpridor de suas ordens.
De fato [o ministro[ era a mediocridade em pessoa. Podia-se defini-lo com as palavras...: "Sem antecedentes, com a mais medíocre das capacidade políticas, não sabia sequer o que era um Despacho". Isso com relação à sua aptidão para o cargo. E quanto a obedecer [ao presidente], nenhum outro, de seus ministros de Estado, o excedia em zelo e submissão. (...)
... a mediocridade [dele] como Ministro do Exterior, foi além da expectativa [do presidente], e este acabou arrependido de o ter chamado para o Governo. Foi esta, pelo menos, a impressão que deu... quando ele se lamentou da desordem que andava pelo Itamaraty e confessou que na verdade não tinha "Ministro do Exterior". (...)
No Itamaraty tínhamos de contar não só com a falta de autoridade e a passividade do Ministro de Estado como ainda com a sua falta de capacidade para o cargo. (...)
Tinha um espírito confuso e trapalhão. Embaralhava as menores coisas.

Heitor Lyra:
Minha vida diplomática
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981
vol. 1, p.103-105

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Huawei: a guerra fria economica chega a tecnologia - The Economist

Huawei Has Been Cut off From American Technology

The ban will be excruciating at best, and fatal at worst

America is no fan of Huawei. Its officials have spent months warning that the Chinese giant’s smartphones and networking gear could be Trojan horses for Chinese spies (something Huawei has repeatedly denied). They have threatened to withhold intelligence from any ally that allows the firm in. On May 15th they raised the stakes. President Donald Trump barred American firms from using telecoms equipment made by firms posing a “risk to national security”. His order named no names. But its target was plain.
For all the drama, the import ban hardly matters. Huawei has long been barred from America, in practice if not on paper. More significant was the announcement by the Commerce Department, on the same day, that it was adding Huawei to a list of firms with which American companies cannot do business without official permission. That amounts to a prohibition on exports of American technology to Huawei.
It is a seismic decision, for no technology firm is an island. Supply chains are highly specialised and globally connected. Cutting them off — “weaponising interdependence”, in the jargon — can cause serious disruption. When ZTE, another Chinese technology company, received the same treatment in 2018 for violating American sanctions on Iran, it was brought to the brink of ruin. It survived only because Mr Trump intervened, claiming it was a favour to Xi Jinping, China’s president.
Huawei matters more than ZTE. It is China’s biggest high-tech company, and is seen as a national champion. Its name translates roughly as “Chinese achievement”. Revenues of $105bn put it in the same league as Microsoft. Only Samsung, a South Korean firm, sells more smartphones. Huawei holds many crucial patents on superfast 5G mobile networks, and is the largest manufacturer of telecoms equipment. Were it to go under, the shock waves would rattle all of tech world.
By May 20th the impact of the ban was becoming clear. Google said it had stopped supplying the proprietary components of its Android mobile operating system to Huawei. A string of American chipmakers, including Intel, Qualcomm and Micron, have also ceased sales. Later that day the Commerce Department softened its line slightly, saying that firms could continue to supply Huawei for 90 days, but for existing products — for instance, with software updates for Huawei phones already in use. New sales, on which Huawei’s future revenue depends, remain banned.
Interdependence, of course, cuts both ways (see chart). Shares in American technology firms fell after the announcement, because Huawei is a big customer. Qorvo, which employs 8,600 people and makes wireless communication chips, derives 15% of its revenue from Huawei. Micron is in the memory business, of which Huawei is a big consumer. A report from the Information Technology & Innovation Foundation, a think-tank, also released on May 20th, guessed export controls could cost American firms up to $56bn in lost sales over five years.
Unlike Intel, Qualcomm or ZTE, Huawei is privately owned, so lacks listed shares whose price swing would hint at the extent of its distress — though the price of its listed bonds has dropped to 94 cents on the dollar. In public, the firm is staying calm. Ren Zhengfei, Huawei’s founder, said it would be “fine” without access to American technology. Huawei has spoken of activating a “Plan B” designed to keep it in business despite American sanctions. It has been stockpiling crucial components for months, and has made a conscious push to become less reliant on American technology over the past few years. Its phones in particular make extensive use of chips designed by HiSilicon, its in-house chipdesign unit.
Yet few analysts are as sanguine as Mr Ren. Three business areas in particular look vulnerable. Without Google’s co-operation, new Huawei phones will lack the latest versions of Android, and popular apps such as Gmail or Maps. That may not matter in China, where Google’s apps are forbidden. But it could be crippling in Europe, Huawei’s second-biggest market. Its telecoms business needs beefy server chips from Intel. The supply of software to manage those networks could dry up too. Huawei is developing replacements for all three, but they are far from ready.
Two questions will determine whether or not Huawei can weather the storm, says Dieter Ernst, a chip expert and China-watcher at the East-West Centre, a think-tank in Honolulu. The first concerns America’s motives. The timing of the ban, a few days after broader trade talks between China and America had broken down, was suggestive. On one reading, it is a tactical move designed to wring concessions from China. If so, it might prove short-lived, and Huawei’s stockpiles may tide it over.
Paul Triolo of Eurasia Group, a political-risk consultancy, is doubtful. Rather than a negotiating tactic, he sees the ban as “the logical end-game of the US campaign to take down Huawei”. A long-lasting ban would force the firm to look for alternative chips and software that Chinese suppliers would struggle to provide.
The second question concerns the reach of American power. The tangled nature of chip-industry supply chains, says Mr Ernst, means that many non-American companies make use of American parts or intellectual property. They may therefore consider themselves covered, wholly or partially, by the ban. Take Arm, a Britain-based firm whose technology powers chips in virtually every phone in the world, including those made by HiSilicon. Arm says that it will comply with the Commerce Department’s rules. That suggests that Arm will not grant Huawei new licences. It is unclear if Arm will offer support for existing licences, however. As Arm’s technology advances, Huawei risks being left behind.
Other non-American companies are as important. One industry insider with contacts in Taiwan says that American officials are pressing Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), a big and cutting-edge chipmaker, to drop Huawei, which is its third-biggest customer. That would be a crushing blow, for Chinese chip factories are not up to the task of manufacturing HiSilicon’s sophisticated designs. TSMC’s only peer is Samsung — and South Korea is another of America’s allies. TSMC said on May 23rd that it would continue supplying Huawei for now.
Even if the optimists are right, and the ban is lifted in exchange for trade concessions, a return to business as usual seems unlikely. America has twice demonstrated a willingness to throttle big Chinese companies. Trust in American technology firms has been eroded, says Mr Triolo. China has already committed billions of dollars to efforts to boost its domestic capabilities in chipmaking and technology. For its rulers, America’s bans highlight the urgency of that policy. Catching up will not be easy, believes Mr Ernst, for chips and software are the most complicated products that humans make. But, he says, if you talk to people in China’s tech industry they all say the same thing: “We no longer have any other option.”

============

Mourão descarta veto à atuação da Huawei no Brasil

Vice-presidente diz que, apesar do alerta de Trump sobre a Huawei, a atuação da empresa no Brasil é importante para desenvolver o país tecnologicamente

Mourão descarta veto à atuação da Huawei no Brasil
‘Somos um país muito pouco integrado digitalmente’, disse Mourão (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Ouça este conteúdo0:00100%

O vice-presidente Hamilton Mourão – que assumiu interinamente a presidência em decorrência da viagem de Jair Bolsonaro à Argentina – afirmou que o governo brasileiro não tem intenção de banir do país a empresa de tecnologia chinesa Huawei, alvo de um acirrado embate com os Estados Unidos por conta da liderança na tecnologia 5G, a quinta geração de internet móvel.
“Não, não. Aqui não. No nosso governo, não. O presidente não falou isso para mim em nenhum momento. Nós somos um país que precisa, somos um país muito pouco integrado digitalmente. Você sai daqui de Brasília, anda 50 km na estrada e não fala mais no telefone. Temos um marco de telecomunicações que é da década de 1990. Ele não atende mais. As operadoras têm que expandir a rede, mas elas são obrigadas a investir em telefonia fixa, orelhão. Tem que mudar o marco”, disse Mourão, em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, na última quinta-feira, 6.
Mourão confirmou que o presidente americano Donald Trump tocou no assunto durante a visita de Jair Bolsonaro aos EUA, em maio, alertando o presidente brasileiro sobre espionagem por parte da Huawei. Porém, o vice-presidente ressaltou que o Brasil não tem receio desse suposto intuito de espionagem e defendeu a necessidade de desenvolver o país tecnologicamente. 
Mourão lembrou que, em sua viagem à China, também em maio, conversou com o presidente da Huawei e destacou que a empresa precisa criar um ambiente de confiança.
“Disse para ele: ‘Olha, vocês têm que criar um ambiente de confiança na empresa. De modo que nenhum país que vá receber a empresa e a tecnologia que vocês vão instalar fique preocupado com que todos os dados que estarão no seu poder pertencerão também ao governo’. Esta é a discussão”, disse Mourão. 

EUA-Mexico: chegando ao centro do problema, ilegais vs tarifas punitivas

Esse boletim representa a posição dos antiglobalistas americanos:

Apprehensions on southern border hit 144,278 in May as Trump readies 5 percent tariff on Mexico that will rise to 25 percent by October
The Daily Grind, June 7,  2019

Mexico needs to get illegal immigrants flowing unabated through its county under control, or else President Donald Trump warns that it will be hit with escalating tariffs on goods it ships to the U.S.: 5 percent starting on June 10, 10 percent on July 1 and then up to 25 percent by October. The tariff threat comes as illegal immigration on the southern border is spiking dramatically. Apprehensions on the southern border hit 144,278 in May, according to data compiled by the U.S. Customs and Border Patrol totaling 675,989 apprehensions for the fiscal year so far. That’s already more than all of 2018, which was 521,090.

O Brasil do futuro: desemprego ate onde a vista alcanca? - Daniel Duque (FGV-IBRE)

Análise: Perspectivas desoladoras para o desemprego no Brasil

Mesmo que a conjuntura melhore, milhões de brasileiros devem continuar sem trabalho na próxima década, em meio à digitalização e ao abismo entre baixa qualificação profissional e exigências dos empresários.
    
Baixa qualificação dos brasileiros é desoladora, e tecnologia vai rebentar com os empregos.Funcionários de call-center
Call center é saída para cada vez mais universitários e jovens com ensino médio completo
O economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), divulgou nesta semana prognósticos desoladores: com um crescimento econômico anual projetado de menos de 2%, só em 2033 o desemprego no Brasil retrocederá novamente para abaixo dos 10%.
No momento, 12,5% da população economicamente ativa está sem trabalho, depois de um mínimo de 6,2% em 2013. Contudo, na época o governo pagou caro por esse nível de ocupação, com um déficit estatal alto – muito mais gastos do que arrecadação – e preços elevados de energia e transporte, por exemplo. A economia do país sofre até hoje as consequências dessa "política de emprego".
Hoje são 13,2 milhões de desempregados, e os números são ainda mais desoladores, se considerados também os que estão subempregados ou desistiram de procurar trabalho, com o total de afetados chegando a 28,4 milhões.
Em comparação: com 512 milhões de habitantes, ou seja, cerca de duas vezes e meia a população do Brasil, a União Europeia tem 16 milhões de desempregados, além de redes de assistência social ausentes no Brasil. E isso apesar de alguns Estados do bloco europeu também apresentarem taxa alta de desemprego.
Por mais sombrios que soem os prognósticos de Duque, é preciso notar que eles se baseiam em estimativas conjunturais otimistas. Um crescimento médio do PIB de cerca de 2% ao ano é bem superior ao que o Brasil tem apresentado historicamente. Desde 1980 o crescimento per capita tem estado bem abaixo da média da economia mundial, limitando-se a cerca de 1% ao ano.
O país ainda não tomou consciência da bomba prestes a explodir em seu mercado de trabalho. Pois o desemprego ainda deve crescer, quando, devido à digitalização da sociedade brasileira, ainda mais cidadãos perderem seus empregos. A recessão e o mercado fechado, com pouca concorrência, proporcionou às empresas nacionais uma pausa para respirar, em termos de modernização e automatização.
Há mais de duas décadas a produtividade das empresas brasileiras está estagnada. Porém os planos de abertura do mercado as forçam agora a modernizar suas unidades – do contrário, não terão chance contra os produtos importados, e muito menos poderão competir na exportação: a palavra-chave é "indústria 4.0". Nesse processo de reestruturação, os brasileiros perderão postos de trabalho em massa, acompanhando a reviravolta estrutural que se realiza em todo o mundo.
A grande diferença é que a formação profissional dos brasileiros é especialmente deficiente. Um exemplo: a firma Atento, que opera redes de call centers e telemarketing e se apresenta como maior empregadora do país, recentemente anunciou 1.200 vagas na bolsa de empregos de São Paulo. Apresentaram-se 600 interessados, e apenas sete vagas foram preenchidas. A rede de supermercados Pão de Açúcar também ofereceu 2 mil empregos: 700 pessoas pareciam ser adequadas para vagas, mas somente 32 postos foram ocupados até agora.
Segundo Ricardo Patah, presidente da União Geral do Trabalhadores (UGT), o motivo para tantas vagas abertas em meio ao alto desemprego é a falta de candidatos que dominem as operações aritméticas básicas, saibam se expressar e possuam conhecimentos mínimos de informática que lhes permitam trabalhar no caixa ou operar um PC com monitor.
O abismo entre as exigências dos empresários e a qualificação existente fica cada vez maior: dos 13,4 milhões de desempregados no primeiro trimestre de 2019, 635 mil eram considerados difíceis de colocar no mercado – mais do que o dobro do que em 2014, antes da recessão.
Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calcula que dentro de dez anos 1,4 milhão de brasileiros não terão qualquer chance de conseguir emprego por falta de qualificação, mesmo que o país volte a crescer economicamente. Cada vez mais universitários ou jovens com ensino médio completo assumem funções simples, de caixa ou num call center, os quais, a rigor, são empregos típicos de baixa qualificação no Brasil.
Ainda assim, há um lampejo de esperança no mercado de trabalho brasileiro: pela primeira vez em quatro anos, no primeiro semestre de 2019 aumentou o número dos empregados fixos.

Leituras de 2014: New Deal de Roosevelt e o Brasil de Oswaldo Aranha

Numa dessas "redescobertas" de tempos passados, retomo um texto sobre o que eu mais gostava de fazer em Hartford, capital do Connecticut: visitar bibliotecas e livrarias em busca de leituras interessantes. Aqui estão duas, de 2014.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de junho de 2019

As Quatro Liberdades e um Projeto para o Brasil: leitura de dois livros recentes, por Paulo Roberto de Almeida

Como sempre fazemos quando temos tempo e estamos pela região, para compras ou a lazer, Carmen Lícia e eu costumamos frequentar a biblioteca pública de West Hartford, pequena, para os padrões das bibliotecas universitárias, mas enorme, para os padrões das pequenas cidades americanas de interior. Na verdade, ela não é bem de interior, uma vez que está adjacente à capital de Connecticut, Hartford, e é onde mora boa parte da comunidade afluente que trabalha nesta região: belas casas, excelentes restaurantes, supermercados e lojas superiores à média, e esta boa biblioteca, que leva o nome do primeiro dicionarista da língua americana (sim, ele dicionarizou vários coloquialismos do inglês da América) e provavelmente o segundo da língua inglesa: Noah Webster, que é, aliás, o nome de um famoso dicionário, tradicional, mas ainda hoje vibrante e atualizado, nos mais diversos formatos.
Não se trata de uma biblioteca de pesquisa ou de estudo, mas daquilo que se pode tranquilamente chamar de biblioteca comunitária, embora muito bem guarnecida dos grandes títulos da literatura americana e universal, e podendo servir também para pesquisas escolares. Eu costumo frequentá-la sobretudo para emprestar os novos livros que acabam de ser lançados, e que ainda custam mais de 30 dólares no formato hard cover, antes que a edição brochura os torne mais acessíveis a orçamentos controlados. Pois foi com essa intenção que lá fomos no último domingo. Saí de lá com dois livros novos (que só podem ser emprestados por 15 dias) e com um antigo, de meio século atrás, mas que me interessava consultar: uma edição da Modern Library contendo as duas grandes obras políticas de Maquiavel, O Príncipe e Os Discursos(assim, não mais, ou seja, Tito Lívio reinterpretado pelo grande pensador florentino).
Nada de original neste último livro, a não ser a bela introdução a Maquiavel pelo professor Max Lerner (datada de março de 1940 e de maio de 1950), com alguma bibliografia clássica sobre o grande patriota italiano, inclusive a recomendação, que vou buscar, de ler a introdução ao Príncipe por Lord Acton, feita originalmente para uma edição italiana de 1891, depois incluída no volume editado por John N. Figgis e Reginald V Laurence, The History of Freedom and Other Essays (London: 1907). Para este eu tenho de recorrer à biblioteca da Universidade de Yale, onde aliás tenho de ir para devolver vários outros livros que retirei sobre Bretton Woods. Provavelmente na próxima terça-feira, quando vou para uma palestra sobre a Rússia e Ocidente, por um diplomata do Department of State encarregado do setor.
Mas volto aos dois livros novos que retirei, ambos conectados ao meu período atual de pesquisas, a primeira metade do século XX e as relações internacionais do Brasil na primeira república e na era Vargas. Eles são, respectivamente, os seguintes:
  • Harvey J. Kaye: The Fight for the Four Freedoms: What Made FDR and the Greatest Generation Truly Great (New York: Simon & Schuster, 2014, 292 p.).
  • Neill Lochery: Brazil: The Fortunes of War, World War II and the Making of Modern Brazil (New York: Basic Books, 2014, 314 p.)
O primeiro livro é um exemplo evidente do chamado pensamento liberal americano, ou seja, um autor socialdemocrata, praticamente de esquerda, em todo caso, um rooseveltiano convencido e um new dealer engajado, se o New Deal ainda estivesse em vigor (mas ele acredita que Obama está nessa linha, embora não tenha feito tanto quanto deveria, contra as corporações e a oposição reacionária). Quando eu li, logo na Introdução, que os Estados Unidos estiveram submetidos, nos trinta anos anteriores, às corporate priorities e ao private greed, eu pensei que o autor estivesse brincando, mas é isso mesmo: ele acha que a grande geração de Roosevelt teve de enfrentar uma powerful conservative, reactionaire opposition, para salvar o país da economic ruin and political oblivion. Deve ter sido isso mesmo, mas eu não estava acostumado com uma história em preto e branco desde algum tempo.
Em todo caso, se trata de uma boa história, feita a partir dos papeis deixados por FDR em seus arquivos de Hyde Park, sobre a construção dos Estados Unidos como hoje eles se apresentam ao mundo: não mais isolacionistas, não mais voltados para si mesmos, mas engajados no mundo, e mais igualitários (ou pelo menos deveria ser assim) e mais democráticos. O eixo central é dado obviamente pelas quatro liberdades que Roosevelt moldou logo ao início da guerra europeia, e que ele proclamou em sua mensagem ao Congresso de janeiro de 1941, logo após conquistar o seu terceiro mandato e antes, portanto, que os Estados Unidos fossem atacados e entrassem, finalmente, na guerra (da qual eles já vinham participando pelo apoio irresoluto concedido ao Reino Unido, praticamente sozinho no enfrentamento da máquina de guerra de Hitler).
Os quatro grandes conceitos foram expostos com invulgar clareza no seu State of the Union, na tarde do dia 6 de janeiro de 1941, em face de todo o Congresso reunido para ouvi-lo. Roosevelt, que já vinha procurando superar as resistências isolacionistas do Congresso, para converter os EUA no “Arsenal da Democracia”, insistiu na tecla de que seria ilusório tentar esconder-se atrás de grandes muralhas defensivas, daí a necessidade de preparar adequadamente a nação para qualquer eventualidade. Ele então proclamou a sua visão do mundo, os grandes princípios em torno dos quais todos os americanos estariam unidos, não apenas para si mesmos, mas para todo o mundo:
“In the future days, which we seek to make secure, we look forward to a world founded upon four essential freedoms. The first is freedom of speech and expression … The second is freedom of every person to worship God in his own way … The third is freedom from want … The fourth is freedom from fear…” E ele acrescentou logo em seguida: “That is no vision of a distant millennium. It is a definite basis for a kind of world attainable in our own time and generation.” (p. 75)
Esses princípios seriam inscritos na Carta do Atlântico, que Roosevelt assinou com Winston Churchill, em agosto seguinte, nas costas do Canadá, e foram consagrados depois na carta das nações unidas, no ano seguinte; eles constituíram uma espécie de “New Deal for the world”, como afirmou a historiadora Elizabeth Borgwardt p. 88). O livro dela (citado em nota da p. 239), é este aqui: A New Deal for the World: America’s Vision for Human Rights (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2005).
O Brasil viria a assinar a carta das nações unidas logo em seguida ao seu engajamento ao lado dos Estados Unidos no esforço de guerra, no seguimento do ataque japonês a Pearl Harbor e da declaração de guerra pela Alemanha, o que determinou o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com as potências do Eixo, uma decisão que leva sobretudo a marca de Oswaldo Aranha. Vargas e o seu chanceler de 1938 até 1944 estão justamente no centro do segundo livro aqui registrado, pelo historiador britânico Neill Lochery, professor de Mediterranean and Middle Eastern Studies do College University of London, já autor de um livro sobre a neutralidade de Portugal na Segunda Guerra Mundial, mais especificamente sobre o papel de Lisboa, enquanto centro de intrigas, espionagem e negociações durante todo o decorrer da guerra.
A Introdução do livro já começa destacando o famoso documento-guia que Oswaldo Aranha preparou para as conversas de Vargas com Roosevelt, no encontro que ambos tiveram no Rio Grande do Norte, em janeiro de 1943, uma lista de objetivos de guerra que o Brasil declarava aos EUA, mas que também podem ser vistos como uma espécie de planejamento estratégico feito pelo grande chanceler para assegurar uma posição de realce para o Brasil na ordem internacional que estaria sendo desenhada pouco mais à frente para assegurar a paz e reconstruir o mundo. Seu caráter de lista de demandas não esconde a visão grandiosa que Oswaldo Aranha mantinha quanto ao papel do Brasil naquele mundo em efervescência. Vale a pena citá-las, uma por uma, e verificar, hoje, onde estamos, ou como ficamos, em relação a cada um dos pontos. O autor cita a partir do artigo de Frank D. McCann, um conhecido historiador brasilianista do exército brasileiro e da aliança militar dos anos de guerra: “Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What Did You Do in the War, Zé Carioca?”, Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 6, n. 2 (Tel Aviv University, July-December 1995, 35-70; mas o link citado à p. 309 deve ser substituído por este aqui: http://www1.tau.ac.il/eial/index.php?option=com_content&task=view&id=741&Itemid=283). Antes de reproduzir a lista, vale retomar os argumentos iniciais de Aranha.
Oswaldo Aranha acreditava, pragmaticamente, que a política tradicional do Brasil, de apoiar os Estados Unidos no mundo, em troca do seu apoio na América do Sul, deveria ser mantida “até a vitória das armas americanas na guerra e até a vitória e a consolidação dos ideais americanos na paz.” Os Estados Unidos iriam liderar o mundo quando a paz fosse restaurada e seria um grave erro se o Brasil não estivesse do seu lado. Ambas nações eram “cósmicas e universais”, com características continentais e globais. Ele tinha plena consciência de que o Brasil era uma “nação economicamente e militarmente fraca”, mas o seu crescimento natural, ou as migrações do pós-guerra, lhe dariam o capital e a população que o fariam tornar-se, “inevitavelmente um dos grandes poderes políticos do mundo”. A sua lista combinava objetivos imediatos e de mais longo prazo, como reproduzida no artigo de McCann e no livro de Lochery (p. xv):
  1. a better position in world politics;
  2. consolidation of its superiority in South America;
  3. a more secure and intimate cooperation with the United States;
  4. greater influence over Portugal and its possessions;
  5. development of maritime power;
  6. development of air power;
  7. development of heavy industries;
  8. creation of war industries;
  9. creation of industries -agricultural, extractive, and light mineral- complementary to those of the United States and essential for world reconstruction;
  10. expansion of Brazil’s railways and highways for economic and strategic purposes;
  11. exploration for essential combustible fuels.
Observando-se a lista de Oswaldo Aranha, com os olhos de 2014, o que poderia ser dito dos seus objetivos de guerra, do ponto de vista do atingimento de cada um deles em tempos de paz e nos setenta anos decorridos desde a sua redação? Registro aqui que os argumentos dos próximos parágrafos são meus, e não constam do livro de Lochery.
Uma melhor posição na política mundial? Um objetivo certamente avançado depois da democratização e da estabilização macroeconômica, esta última iniciada sob Fernando Henrique Cardoso no governo Itamar Franco, e consolidada nos dois governos FHC, o que foi plenamente aproveitado pelo governo Lula para desenvolver uma diplomacia ativa, beneficiado ainda pelo enorme impulso dado pela demanda chinesa por produtos brasileiros de exportação para acumular alguma riqueza e projetar influência na região e no mundo. Não é seguro que essa posição tenha sido consolidada com a visível retração registrada no período recente, mas também por iniciativas pouco avisadas ou altamente controversas, ainda sob Lula e mantidas por sua sucessora, com alianças dúbias com regimes pouco recomendáveis, e uma retração formidável na defesa da democracia e dos direitos humanos nos planos regional e mundial. Talvez se consiga, novamente, num futuro indefinido, uma “melhor posição na política mundial”, mas isso vai depender, seriamente, de uma melhoria na qualidade da política externa, hoje dominada por companheiros viciados numa visão do mundo anacrônica e distorcida quanto aos reais interesses do Brasil.
Uma consolidação da “superioridade” brasileira na América do Sul? Trata-se bem mais de uma ilusão do que de um objetivo, mas ele deve ser visto numa outra perspectiva, que era a de Oswaldo Aranha, em face de uma Argentina superior nos planos econômico e militar, e que tinha, sim, uma vocação de afirmar sua influência no entorno imediato e nas relações com as grandes potências, a Grã-Bretanha e os próprios Estados Unidos. A Argentina era o “inimigo principal” em qualquer cálculo que os militares brasileiros pudessem fazem no plano estratégico e no contexto tático, e os maiores recursos de segurança e defesa, não necessariamente ofensivos, estavam dispostos ao longo das fronteiras meridionais. Apenas por isso Aranha colocou esse objetivo em segundo lugar, e não necessariamente para impor uma liderança imperial do Brasil na região; a superioridade deveria ser vista aqui apenas como uma agregação suficiente de forças para tornar o país “inatacável” por qualquer vizinho, a começar pelo mais “íntimo inimigo”. Essa situação está agora completamente superada, mas só os ingênuos e os amadores em diplomacia – entre eles vários companheiros, mas também alguns homens de negócios – falam em liderança brasileira na região; para o Itamaraty, esse tema é tabu, embora haja a percepção de que a consolidação de um espaço econômico integrado, baseado em abertura de mercados e intensa cooperação em projetos de integração física, seriam suficientes, junto com a afirmação plena dos valores da democracia e dos direitos humanos, para assegurar essa liderança, que seria natural, e não imposta. Mas, parece que estamos recuando em todas essas frentes, para maior tristeza dos diplomatas profissionais e dos liberais econômicos (que são poucos, mas ainda existem em nosso país).
Uma cooperação mais íntima e mais segura com os Estados Unidos? Difícil dizer em quais termos, pois impérios universais não mantém relações de igual para igual nem mesmo com seus mais “íntimos” aliados. O Brasil sempre manteve desconfiança em relação ao gigante do norte, mesmo nos anos de aliança não escrita dos tempos do Barão, e naqueles de aliança militar no imediato pós-guerra, o que só fez crescer nos anos seguintes, com os desejos dos militares – e de vários diplomatas – de uma rápida nuclearização do Brasil, em face dos esforços americanos de contenção da proliferação nessa área (e não apenas como cálculo estratégico, e sim também em função de uma visão do mundo menos belicoso, digamos assim). Essa cooperação sempre foi difícil e não parece que tenha se tornado mais plausível no período recente, muito pelo contrário (já que o antiamericanismo dos companheiros salta aos olhos de qualquer neófito). Este não pode ser um objetivo em si, mas é uma possibilidade, dentro de certas condições e circunstâncias, que provavelmente vão exigir maior grau de capacitação brasileira para ser colocado novamente na agenda bilateral; mas, paradoxalmente, parece que o Brasil só vai se capacitar mais rapidamente por meio de uma “cooperação mais íntima e mais segura com os Estados Unidos”, o que pode parecer bizarro a mais de um título.
O quarto objetivo, com respeito a Portugal e suas “possessões”, mudou de caráter, mas essa influência é certamente maior hoje do que foi no passado colonial, e tende a se tornar ainda mais relevante, inclusive em direção de Portugal, embora o lento crescimento e a perda de competitividade dos últimos anos tenham diminuído o ímpeto brasileiro na “reconquista” da antiga metrópole.
Os objetivos 5 a 11, são todos eles instrumentais, alinhados numa época em que o Brasil era um país economicamente atrasado, em todas as áreas, e se esperava que os Estados Unidos financiassem, e fornecessem a tecnologia, para nossa capacitação em todas elas. Aos trancos e barrancos fomos avançando nas décadas seguintes, tanto com os fluxos de investimentos estrangeiros e de financiamento externo, quanto com a cooperação bilateral nas áreas científicas e tecnológicas, um processo que continua sem cessar, tanto na vertente pública, quanto nas diversas interfaces privadas. Em alguns ramos industriais, e certamente em quase todo o setor agrícola, o Brasil se tornou um país avançado, até mesmo um “killer”, em matéria de competitividade agrícola, e isso tem tanto a ver com a cooperação externa (basicamente americana), quanto com a construção de uma base própria de capital humano e científico. Não se pode dizer que tenhamos nos tornado uma formidável potência militar, mas o que existe garante um mínimo de dissuasão, quando não de projeção externa em dimensões limitadas. Para se ter mais nessa área, seria preciso convencer a sociedade a aceitar mais gastos militares, ou com segurança, de modo geral, o que não parece compatível com necessidades bem mais prementes em várias áreas sociais. Aliás, o Brasil não é mais forte militarmente não porque invista pouco nessa área, mas porque seus recursos humanos são deficientes de maneira geral, na inovação tecnológica em especial. Trata-se de um resultado de políticas erradas na área educacional, que não têm nada a ver com debilidades próprias do establishment militar.
Bem, mas o livro de Neill Lochery, Brazil: The Fortunes of War, não trata dessas questões senão em sua introdução e conclusões, pois o essencial do livro está dedicado ao envolvimento do Brasil na guerra, o que é feito de maneira minuciosa e competente. No conjunto, os dois livros constituem leitura muito agradável e, nos dois casos, altamente instrutiva quanto aos dois temas foco de cada um Kaye é bem mais ideológico, no seu rooseveltismo radical, do que Lochery, um inglês equilibrado e bastante objetivo em suas considerações analíticas sobre o Brasil. Seu livro me confirmou a impressão, que já tenho desde longos anos, de que o Brasil perdeu uma enorme oportunidade ao não ter tido uma personalidade como Oswaldo Aranha na liderança efetiva do país, em algumas das chances em que a história poderia ter aberto uma janela para ele: em 1934, em 1937, em 1945, em 1950, ou mesmo em 1955; em todas elas ele poderia, hipoteticamente, estar à frente de uma coalizão liberal para fazer do Brasil um país muito diferente do que foi, sob a condução de políticos populistas, de líderes militares muito próximos do corporatismo de corte fascista, ou de incompetentes manifestos, como podem ter sido Dutra, Goulart ou mesmo alguns outros em fases subsequentes. Oswaldo Aranha foi muito obsequioso com seu chefe e amigo, mas poderia ter continuado a ser a “estrela da revolução”, que foi na coalizão liberal de 1930, e que depois se perdeu no labirinto do varguismo maquiavélico. Foi uma pena para o país, uma pena para todos nós.
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor no Centro Universitário de Brasília – Uniceub (pralmeida@mac.com ).

Constatacao simploria: um governo fracassado - Bolsonaro perempto

Notícias do jornal O Globo, 06/06/2019
A atuação independente de Câmara e Senado faz parecer que não existe governo com o qual os parlamentares possam negociar projetos, algo raro na História do Parlamento, analisa o jornalista da sucursal de Brasília Eduardo Bresciani. Sem conseguir propor sua agenda nem impedir as derrotas consecutivas, o governo Jair Bolsonaro tem se limitado a reduzir danos.

O dia, que teve uma sucessão de episódios que evidenciam o imobilismo do governo, terminou com olíder do PSL no Senado, Major Olímpio, batendo boca com a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-PR).

Chance de derrota: No Senado, começa a se desenhar um cenário desfavorável em tema extremamente sensível a Bolsonaro. A votação preliminar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aumentou a chance de os decretos editados pelo presidente para flexibilizar a posse e o porte de armas serem derrubados.