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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 25 de junho de 2024

O Brasil é um deserto de homens e ideias’- Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 

Opinião |

‘O Brasil é um deserto de homens e ideias’

As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o País firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos


Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 25/06/2024 


O comentário sobre o Brasil de Oswaldo Aranha, feito há cem anos, continua atual. A falta de liderança no governo, no Congresso, no meio empresarial e na sociedade civil em geral torna difícil pensar um Brasil acima de interesses partidários, particulares e setoriais. A divisão política interna e a polarização de opiniões impedem que se discuta e, muito menos, que se forme consenso sobre um projeto nacional ou sobre a relevância do Brasil no mundo, suas prioridades e vulnerabilidades, com uma visão estratégica de médio e longo prazo.

A tarefa ainda é mais complicada não só pelas dificuldades internas, mas sobretudo porque o mundo passa por rápidas transformações com a emergência de uma nova ordem internacional. Na economia global, as regras são colocadas de lado e prevalecem o poder e interesses dos países individualmente considerados, com ênfase no protecionismo e em medidas restritivas unilaterais que desrespeitam as regras vigentes e chegam a ser utilizadas como armas na competição entre Estados.

Dentro desse quadro difícil, não se vê claramente a reação do Brasil. No discurso, o atual governo definiu corretamente suas prioridades: desenvolvimento econômico com redução da pobreza, estabilidade econômica com redução da taxa de juro e da inflação, além de uma nova política industrial. Externamente, voltar a ter uma voz no mundo e nas organizações multilaterais, dar prioridade ao meio ambiente, à mudança de clima e a liderar a América do Sul.

O problema é que, depois de um ano e meio de governo, tanto interna quanto externamente, as prioridades do governo não estão sendo concretizadas ou apenas parcialmente. A disfuncionalidade do governo e a falta de rumo e de objetivos claros fazem com que as reformas estruturais na economia, na área social e na educação e na saúde não estejam sendo alcançadas. A situação se complica ainda mais na política externa e de defesa e segurança nacional pela desorganização da ordem internacional com duas guerras (na Europa e em Gaza) e uma crescente competição e confrontação entre EUA e China, com efeitos políticos, econômicos e comerciais para todos os países. Apesar de ser uma potência média global, por não ter excedente de poder, não há espaço para o Brasil influir, com peso próprio, no curso das confrontações bélicas na Ucrânia e em Gaza.

Dada a atual configuração geopolítica e geoeconômica, o Brasil, país continental, com mais de 210 milhões de habitantes, oitava economia do mundo, não pode ficar refém de decisões ideológicas e de interesses partidários. Embora pertencendo ao Ocidente, por seus valores e princípios, o Brasil está cada vez mais dependente da Ásia, para onde vão 50% das exportações e 37% dos produtos agrícolas. Na defesa dos interesses nacionais, o governo atual não tem alternativa, a não ser adotar uma posição de equidistância na crescente confrontação entre o Ocidente e o antiocidente, liderado por China e Rússia e fortalecido com a ampliação do Brics. Neutralidade ativa, aliás, como a Índia está fazendo, ao jogar nos diversos tabuleiros com sua voz independente na defesa de seus interesses, mantendo boas relações com todos.

O Brasil precisa sair de uma posição defensiva, principista, e passar a defender explicitamente seus interesses. Voz poderosa nas questões ambientais, de segurança alimentar e de transição energética, o País já deveria ter questionado as restrições da União Europeia no tocante ao desmatamento e as exportações de produtos agrícolas, e às emissões de gás de efeito estufa quanto a produtos industriais (CBAM). A exemplo do que todos os países estão fazendo, devemos continuar a apoiar as medidas de defesa de meio ambiente e redução das emissões de gás carbônico, mas não devemos perder de vista a prioridade para o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza, que virão com o aproveitamento de nossas riquezas na biodiversidade, de minerais críticos e raros, com valor agregado para favorecer a indústria, e da energia fóssil na Margem Equatorial, como estão fazendo a França, na Guiana Francesa, e a Guiana. A liderança da integração regional na América do Sul começa a ganhar forma na questão ambiental na Amazônia e nos programas de integração física no Norte (rodovias, ferrovias e hidrovias) e no Sul (rodovias), abrindo caminho para os produtos brasileiros chegarem à Ásia pelos portos do Pacífico.

As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o Brasil firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos e não entrar em um jogo político, sem ver suas propostas aceitas.

Recentemente, como contribuição a essa discussão, o Instituto Federalista e o Sagres divulgaram o documento Projeto de Nação – O Brasil em 2035. E atualmente encontra-se em fase final de elaboração, no Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen), documento sobre o lugar do Brasil no mundo, com o objetivo de promover uma ampla discussão sobre as perspectivas do Brasil, não limitada a apenas um pequeno grupo de economistas e acadêmicos. O Executivo, o Congresso e a sociedade civil têm uma grande responsabilidade de, por um momento, colocar interesses menores de lado e pensar nos rumos do País, hoje à deriva, com visão de médio e longo prazo.

 

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

 

domingo, 2 de julho de 2023

Oswaldo Aranha: textos e fotobiografia sobre sua vida e carreira diplomática e política

 


Oswaldo Aranha: Fotobiografia e dois volumes de seus mais importantes textos sobre diplomacia e política externa do Brasil.

Pedro Corrêa do Lago, Oswaldo Aranha: uma fotobiografia (Rio de Janeiro: Capivara, 2017), e a coletânea Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (Brasília: Funag, 2017, 2 vols.). 


        Montagem audiovisual com fotos variadas de Oswaldo Aranha, em diversas fases de sua carreira política e diplomática, com frases retiradas de seus discursos ou declarações, com um fundo de música brasileira. Serviu de simples ilustração de fundo quando do lançamento de dois livros sobre o ele: a fotobiografia de Pedro Corrêa do Lago e os dois volumes dos mais importantes discursos e textos de Oswaldo Aranha sobre temas de relações internacionais e política externa do Brasil.

Lançamento dos livros no Itamaraty, em 2017.

https://youtu.be/nG7pPEVpL0I

Pedro Corrêa do Lago é o autor de Oswaldo Aranha: uma fotobiografia (Rio de Janeiro: Capivara, 2017). Junto com os editores da coletânea Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (Brasília: Funag, 2017), ele apresentou, com a participação do embaixador Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, e do diretor do IPRI-Funag, Paulo Roberto de Almeida, as duas obras, focadas na personalidade e na ação do famoso político gaúcho, um dos líderes da Revolução liberal de 1930, ministro da Justiça e da Fazenda no governo provisório de Getúlio Vargas (1931-34), embaixador em Washington (1934-37), chanceler do Brasil (1938-44), no período mais decisivo do século XX, e novamente ministro da Fazenda no governo constitucional de Vargas (1953-54). 

A fotobiografia tem mais de 600 imagens e 500 depoimentos, ao passo que a obra da Funag, em dois volumes, coleta tudo o que de mais importante Aranha escreveu ou falou entre 1930 e 1959. 


sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Oswaldo Aranha, um estadista brasileiro: dois volumes com os mais importantes escritos sobre relações exteriores e política internacional

 Recuerdos de um tempo que hoje parece distante, não exatamente no tempo, mas no espaço cultural:


Em 2017, pedi, e recebi, de familiares e descendentes do segundo maior chanceler brasileiro no século XX — o primeiro não preciso dizer quem foi, pois o Itamaraty ficaria bravo comigo — uma tonelada de granito puro, consistindo de escritos os mais diversos de Oswaldo Aranha, do início dos anos 1930 ao final dos anos 1950. 

Com dois cinzeis de leitura crítica, Rogério de Souza Farias e eu esculpimos uma modesta, mas significativa escultura historiográfica, em dois importantes volumes contendo o que de mais importante Oswaldo Aranha havia escrito, falado, sido entrevistado, como ministro, embaixador, chanceler, delegado na ONU, homem público, no grande domínio das relações internacionais, da política exterior, econômica e da diplomacia brasileiras, textos devidamente explicados por ambos e por mais alguns colegas, convidados por nós. 

Considero esses dois volumes — junto com dois outros, contendo os trabalhos de Celso Lafer nos mesmos domínios — como o que de mais importante produzi como diretor do IPRI, no período 2016-2018, quando tive o prazer e a honra de dirigir esse think tank do Itamaraty. Teria feito mais, e melhor, se não tivessemos passado por um dilúvio anti-cultural a partir de 2019.

Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores): 

Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro

Brasília: Funag, 2017, 2 vols.

Disponíveis na Biblioteca Digital da Funag: volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link:http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro; capítulos editados e introduzidos por Paulo Roberto de Almeida (2017)


 Tendo organizado e trabalhado na montagem de dois volumes dos textos tratando de temas de política externa e de relações internacionais do Brasil (discursos, artigos, entrevistas, conferências, correspondências) de Oswaldo Aranha, no período de 1930 a 1959, obra que foi publicada pela Fundação Alexandre de Gusmão em 2017, resolvi extrair as introduções que efetuei a três partes dessa obra: o chanceler do período da guerra (1938-1944), o estadista econômico (quando ele foi ministro da Fazenda, em 1931-34 e 1953-54) e o estadista político (uma compilação dos textos "internacionais" mais representativos do período 1930-59).

Selecionadas essas partes – o que não evita o acesso ao conjunto da obra, abaixo linkada para os dois volumes – resolvi disponibilizar essa seleção aos interessados, como abaixo.

Capítulos de Paulo Roberto de Almeida in:  

Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro

Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (organizadores); 

Brasília: Funag, 2017; disponível na Biblioteca Digital da Funag: volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914

Disponível na plataforma Academia.edu:

https://www.academia.edu/44422608/1263_Oswaldo_Aranha_um_estadista_brasileiro_Cap%C3%ADtulos_PRAlmeida_2017_

Introduções de Paulo Roberto de Almeida:

O estadista político”, in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8, pp. 745-759; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914

 “O estadista econômico”, in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8, pp. 569-599; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914


 “O chanceler no conflito global (1939-1945)”,  in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 1o. volume; ISBN: 978-85-7631-696-1, pp. 197-233; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Pensamento Diplomático Brasileiro: Metodologia e Oswaldo Aranha - Paulo Roberto de Almeida (2013)

Pensamento Diplomático Brasileiro: 

minhas colaborações

Em 2011, participando em Alagoas do centenário de nascimento de um diplomata historiador – Renato Mendonça, autor de uma História da Política Exterior do Brasil, publicada uma única vez no México em 1945, sendo que eu havia sugerido uma nova edição pela Funag – fui consultado pelo então presidente da Funag, embaixador José Vicente Pimentel, sobre o que se poderia ser feito em termos de uma produção "de peso", para marcar o catálogo editorial da Fundação, já então a maior editora brasileira em livros de história diplomática, política externa do Brasil e relações internacionais – o que ela já não é mais desde o início do presente governo.



Sugeri que se fizesse uma obra abrangente sobre o pensamento brasileiro em política internacional, numa perspectiva de dois séculos. Minha concepção era de que escolhêssemos os grandes temas da política externa brasileira e a partir daí encomendar a especialistas da academia e da própria diplomacia uma série de ensaios para cobrir os diferentes aspectos das relações exteriores do país, desde a independência, tratando, portanto, do reconhecimento do novo Estado, do tráfico e da escravidão, da política comercial, das relações com as grandes potências e com os vizinhos regionais, da inserção global do Brasil no sistema internacional (nos planos bilateral, regional e multilateral), da ação da nossa diplomacia em diferentes foros negociadores (políticos, comerciais, desarmamento, meio ambiente), dos desafios surgidos em relação a crises econômicas, guerras mundiais, questões de direitos humanos, democracia, meio ambiente, etc., e tudo isso parando em 1964, pois eu já adivinha os problemas que poderiam advir de uma cobertura da ditadura militar, com diplomatas que a serviram ainda vivos e talvez suscetíveis a certos julgamentos.

Não saiu exatamente como eu sugeria, uma vez que colegas diplomatas e alguns acadêmicos se inclinaram mais pela abordagem de tipo biográfico, o que implica em certas escolhas subjetivas: por que estes e não outros?; esse merece?, e questões desse tipo. Em todo caso, eu me acomodei com a metodologia sugerida e disse que poderia colaborar com qualquer nome que me fosse sugerido. Acabei optando por Oswaldo Aranha, com base num excelente texto anterior do embaixador João Hermes Pereira de Araújo, a quem se ofereceu para fazê-lo, mas em vista de sua condição já frágil, eu mesmo me encarreguei de resumir seu texto, ainda que a pessoa mais indicada, o historiador brasilianista Stanley Hilton também pudesse dar sua contribuição.

Mas, fiz questão de oferecer uma introdução metodológica, estabelecendo as bases intelectuais do empreendimento. E assim foi feito, e o livro acabou saindo às pressas, em 2013, sem que todos os meus critérios fossem atendidos, inclusive no que se refere às múltiplas e diversas abordagens oferecidas por colaboradores, quando eu sugeria mais seminários de avaliação para justamente assegurar certa unidade metodológica à obra pretendida.

Não creio que ela represente um scholarly work, ou um standard book sobre a diplomacia brasileira, mas foi um grande empreendimento que merece respeito.

Depois que ela foi publicada e aparentemente bem recebida pelo público interessado, um presidente sucessor da Funag, já em 2014-15, insistiu comigo para que fosse feito um outro volume, que ele chamava de PDB-4 (pois a obra de 2013 estava dividida em 3 volumes), cobrindo o período militar (1964-1985), no que eu era virtualmente contrário, por razões muito objetivas. Em todo caso, eu até preparei um projeto para esse volume pretendido, mas deixei bastante claro que eu não participaria de modo nenhum com essa obra, pois já prenunciava os problemas políticos em torno da ditadura militar.

Em todo caso, informo sobre a disposição na Biblioteca Digital da Funag, nas seguintes coordenadas: 

José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2. Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub

Minhas colaborações foram duas: 

2503. “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, Hartford, 27 Julho 2013, 19 p. Texto de introdução geral para a publicação do livro objeto do projeto “Pensamento Diplomático Brasileiro”, da Funag. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38. 


2502. “Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco”, Hartford, 25 Julho 2013, 29 p. Publicado in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 3, p. 667-711; Livro completo disponível no link: http://funag.gov.br/loja/download/pensamento_diplomatico_brasileiro.zip ou http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub



Esses dois ensaios tiveram edições em inglês e em espanhol: 


Brazilian Diplomatic Thought: methodological introduction to the ideas and actions of some of its representatives”, Brasília, 14 dezembro 2015, 18 p. Tradução para o inglês, por Paul Sekscenski, publicada na edição em inglês: Brazilian Diplomatic Thought (Brasília: Funag, 2016, 496 p.; ISBN: 978-85-7631-547-6; available: http://funag.gov.br/biblioteca/index.php?route=product/product&product_id=868&search=Brazilian+Diplomatic+Thought+&description=true&sub_category=true). 


 Pensamiento diplomático brasileño: Introducción metodológica a las ideas y acciones de algunos de sus representantes”; In: Pensamiento diplomático brasileño : formuladores y agentes de la política exterior (1750-1964) / José Vicente de Sá Pimentel (organizador) ; Paola Citraro (traducción). – Brasília: FUNAG, 2016; 3 v. – (História diplomática); Título original: Pensamento diplomático brasileiro: formuladores e agentes da política externa (1750-1964); ISBN: 978-85-7631-588-9; vol. I, 340 p., p. 19-42. Disponível no link: http://www.funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-ES/livros/pdb_vol_1_es.pdf.



Oswaldo Aranha: 


“Oswaldo Aranha: in the continuity of Rio Branco’s Statesmenship”, In: José Vicente Pimentel (ed.), Brazilian Diplomatic Thought: policymakers and agents of Foreign Policy (1750-1964), vol. 3 (Brasília: Funag, 2016, 486 p.; ISBN: 978-85-7631-547-6; p. 685-730; translation by Paul Sekscenski) disponível na Biblioteca Digital da Funag (link: http://funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-EN/livros/PDB-Ingles-VOL-3.pdf). Já publicados o volume 1 (link: http://funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-EN/livros/PDB-Ingles-VOL-1.pdf) e volume 2 (http://funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-EN/livros/PDB-Ingles-VOL-2.pdf). Relação de Originais n. 2502.


"Oswaldo Aranha: en la continuidade del estadismo de Rio Branco", In: José Vicente de Sá Pimentel (organizador); Brasília: FUNAG, 2016; 3 v. – (História diplomática); Título original: Pensamento diplomático brasileiro: formuladores e agentes da política externa (1750-1964); ISBN: 978-85-7631-588-9; vol. III, 496 p. sequenciais; p. 663-707. Traduzido para o Espanhol por Paola Citraro; Disponível no link: http://www.funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-ES/livros/pdb_vol_3_es.pdf


Juntei minhas colaborações num arquivo condensado, que coloquei à disposição na plataforma Academia.edu, neste link: 


Pensamento Diplomatico Brasileiro, PRAlmeida: Metodologia, Oswaldo Aranha (2013)

https://www.academia.edu/44427910/Pensamento_Diplomatico_Brasileiro_PRAlmeida_Metodologia_Oswaldo_Aranha_2013_

Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (2017) - capítulos de Paulo Roberto de Almeida

 Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro (2017)

 


Selecionei as minhas colaborações a esta obra:

 

1263. Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (organizadores); Brasília: Funag, 2017; disponível na Biblioteca Digital da Funag: volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914. Relação de Originais n. 3180.


1259. “O chanceler no conflito global (1939-1945)”, Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 1o. volume; ISBN: 978-85-7631-696-1, pp. 197-233; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913. Relação de Originais n. 3160.




1260. “O estadista econômico”, in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8, pp. 569-599; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914. Relação de Originais n. 3161.


1261. “O estadista político”, in: Sérgio Eduardo Moreira Lima, Paulo Roberto de Almeida e Rogério de Souza Farias (organizadores), Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Funag, 2017, 2o. volume; ISBN: 978-85-7631-697-8, pp. 745-759; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914. Relação de Originais n. 3162.

 

 

 Capítulos PRA disponíveis na plataforma Academia.edu (link: 


https://www.academia.edu/44422608/1263_Oswaldo_Aranha_um_estadista_brasileiro_Cap%C3%ADtulos_PRAlmeida_2017_).


Livro completo disponível como segue: 


volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: 

http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913


volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: 

http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Leituras de 2014: New Deal de Roosevelt e o Brasil de Oswaldo Aranha

Numa dessas "redescobertas" de tempos passados, retomo um texto sobre o que eu mais gostava de fazer em Hartford, capital do Connecticut: visitar bibliotecas e livrarias em busca de leituras interessantes. Aqui estão duas, de 2014.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de junho de 2019

As Quatro Liberdades e um Projeto para o Brasil: leitura de dois livros recentes, por Paulo Roberto de Almeida

Como sempre fazemos quando temos tempo e estamos pela região, para compras ou a lazer, Carmen Lícia e eu costumamos frequentar a biblioteca pública de West Hartford, pequena, para os padrões das bibliotecas universitárias, mas enorme, para os padrões das pequenas cidades americanas de interior. Na verdade, ela não é bem de interior, uma vez que está adjacente à capital de Connecticut, Hartford, e é onde mora boa parte da comunidade afluente que trabalha nesta região: belas casas, excelentes restaurantes, supermercados e lojas superiores à média, e esta boa biblioteca, que leva o nome do primeiro dicionarista da língua americana (sim, ele dicionarizou vários coloquialismos do inglês da América) e provavelmente o segundo da língua inglesa: Noah Webster, que é, aliás, o nome de um famoso dicionário, tradicional, mas ainda hoje vibrante e atualizado, nos mais diversos formatos.
Não se trata de uma biblioteca de pesquisa ou de estudo, mas daquilo que se pode tranquilamente chamar de biblioteca comunitária, embora muito bem guarnecida dos grandes títulos da literatura americana e universal, e podendo servir também para pesquisas escolares. Eu costumo frequentá-la sobretudo para emprestar os novos livros que acabam de ser lançados, e que ainda custam mais de 30 dólares no formato hard cover, antes que a edição brochura os torne mais acessíveis a orçamentos controlados. Pois foi com essa intenção que lá fomos no último domingo. Saí de lá com dois livros novos (que só podem ser emprestados por 15 dias) e com um antigo, de meio século atrás, mas que me interessava consultar: uma edição da Modern Library contendo as duas grandes obras políticas de Maquiavel, O Príncipe e Os Discursos(assim, não mais, ou seja, Tito Lívio reinterpretado pelo grande pensador florentino).
Nada de original neste último livro, a não ser a bela introdução a Maquiavel pelo professor Max Lerner (datada de março de 1940 e de maio de 1950), com alguma bibliografia clássica sobre o grande patriota italiano, inclusive a recomendação, que vou buscar, de ler a introdução ao Príncipe por Lord Acton, feita originalmente para uma edição italiana de 1891, depois incluída no volume editado por John N. Figgis e Reginald V Laurence, The History of Freedom and Other Essays (London: 1907). Para este eu tenho de recorrer à biblioteca da Universidade de Yale, onde aliás tenho de ir para devolver vários outros livros que retirei sobre Bretton Woods. Provavelmente na próxima terça-feira, quando vou para uma palestra sobre a Rússia e Ocidente, por um diplomata do Department of State encarregado do setor.
Mas volto aos dois livros novos que retirei, ambos conectados ao meu período atual de pesquisas, a primeira metade do século XX e as relações internacionais do Brasil na primeira república e na era Vargas. Eles são, respectivamente, os seguintes:
  • Harvey J. Kaye: The Fight for the Four Freedoms: What Made FDR and the Greatest Generation Truly Great (New York: Simon & Schuster, 2014, 292 p.).
  • Neill Lochery: Brazil: The Fortunes of War, World War II and the Making of Modern Brazil (New York: Basic Books, 2014, 314 p.)
O primeiro livro é um exemplo evidente do chamado pensamento liberal americano, ou seja, um autor socialdemocrata, praticamente de esquerda, em todo caso, um rooseveltiano convencido e um new dealer engajado, se o New Deal ainda estivesse em vigor (mas ele acredita que Obama está nessa linha, embora não tenha feito tanto quanto deveria, contra as corporações e a oposição reacionária). Quando eu li, logo na Introdução, que os Estados Unidos estiveram submetidos, nos trinta anos anteriores, às corporate priorities e ao private greed, eu pensei que o autor estivesse brincando, mas é isso mesmo: ele acha que a grande geração de Roosevelt teve de enfrentar uma powerful conservative, reactionaire opposition, para salvar o país da economic ruin and political oblivion. Deve ter sido isso mesmo, mas eu não estava acostumado com uma história em preto e branco desde algum tempo.
Em todo caso, se trata de uma boa história, feita a partir dos papeis deixados por FDR em seus arquivos de Hyde Park, sobre a construção dos Estados Unidos como hoje eles se apresentam ao mundo: não mais isolacionistas, não mais voltados para si mesmos, mas engajados no mundo, e mais igualitários (ou pelo menos deveria ser assim) e mais democráticos. O eixo central é dado obviamente pelas quatro liberdades que Roosevelt moldou logo ao início da guerra europeia, e que ele proclamou em sua mensagem ao Congresso de janeiro de 1941, logo após conquistar o seu terceiro mandato e antes, portanto, que os Estados Unidos fossem atacados e entrassem, finalmente, na guerra (da qual eles já vinham participando pelo apoio irresoluto concedido ao Reino Unido, praticamente sozinho no enfrentamento da máquina de guerra de Hitler).
Os quatro grandes conceitos foram expostos com invulgar clareza no seu State of the Union, na tarde do dia 6 de janeiro de 1941, em face de todo o Congresso reunido para ouvi-lo. Roosevelt, que já vinha procurando superar as resistências isolacionistas do Congresso, para converter os EUA no “Arsenal da Democracia”, insistiu na tecla de que seria ilusório tentar esconder-se atrás de grandes muralhas defensivas, daí a necessidade de preparar adequadamente a nação para qualquer eventualidade. Ele então proclamou a sua visão do mundo, os grandes princípios em torno dos quais todos os americanos estariam unidos, não apenas para si mesmos, mas para todo o mundo:
“In the future days, which we seek to make secure, we look forward to a world founded upon four essential freedoms. The first is freedom of speech and expression … The second is freedom of every person to worship God in his own way … The third is freedom from want … The fourth is freedom from fear…” E ele acrescentou logo em seguida: “That is no vision of a distant millennium. It is a definite basis for a kind of world attainable in our own time and generation.” (p. 75)
Esses princípios seriam inscritos na Carta do Atlântico, que Roosevelt assinou com Winston Churchill, em agosto seguinte, nas costas do Canadá, e foram consagrados depois na carta das nações unidas, no ano seguinte; eles constituíram uma espécie de “New Deal for the world”, como afirmou a historiadora Elizabeth Borgwardt p. 88). O livro dela (citado em nota da p. 239), é este aqui: A New Deal for the World: America’s Vision for Human Rights (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2005).
O Brasil viria a assinar a carta das nações unidas logo em seguida ao seu engajamento ao lado dos Estados Unidos no esforço de guerra, no seguimento do ataque japonês a Pearl Harbor e da declaração de guerra pela Alemanha, o que determinou o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com as potências do Eixo, uma decisão que leva sobretudo a marca de Oswaldo Aranha. Vargas e o seu chanceler de 1938 até 1944 estão justamente no centro do segundo livro aqui registrado, pelo historiador britânico Neill Lochery, professor de Mediterranean and Middle Eastern Studies do College University of London, já autor de um livro sobre a neutralidade de Portugal na Segunda Guerra Mundial, mais especificamente sobre o papel de Lisboa, enquanto centro de intrigas, espionagem e negociações durante todo o decorrer da guerra.
A Introdução do livro já começa destacando o famoso documento-guia que Oswaldo Aranha preparou para as conversas de Vargas com Roosevelt, no encontro que ambos tiveram no Rio Grande do Norte, em janeiro de 1943, uma lista de objetivos de guerra que o Brasil declarava aos EUA, mas que também podem ser vistos como uma espécie de planejamento estratégico feito pelo grande chanceler para assegurar uma posição de realce para o Brasil na ordem internacional que estaria sendo desenhada pouco mais à frente para assegurar a paz e reconstruir o mundo. Seu caráter de lista de demandas não esconde a visão grandiosa que Oswaldo Aranha mantinha quanto ao papel do Brasil naquele mundo em efervescência. Vale a pena citá-las, uma por uma, e verificar, hoje, onde estamos, ou como ficamos, em relação a cada um dos pontos. O autor cita a partir do artigo de Frank D. McCann, um conhecido historiador brasilianista do exército brasileiro e da aliança militar dos anos de guerra: “Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What Did You Do in the War, Zé Carioca?”, Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 6, n. 2 (Tel Aviv University, July-December 1995, 35-70; mas o link citado à p. 309 deve ser substituído por este aqui: http://www1.tau.ac.il/eial/index.php?option=com_content&task=view&id=741&Itemid=283). Antes de reproduzir a lista, vale retomar os argumentos iniciais de Aranha.
Oswaldo Aranha acreditava, pragmaticamente, que a política tradicional do Brasil, de apoiar os Estados Unidos no mundo, em troca do seu apoio na América do Sul, deveria ser mantida “até a vitória das armas americanas na guerra e até a vitória e a consolidação dos ideais americanos na paz.” Os Estados Unidos iriam liderar o mundo quando a paz fosse restaurada e seria um grave erro se o Brasil não estivesse do seu lado. Ambas nações eram “cósmicas e universais”, com características continentais e globais. Ele tinha plena consciência de que o Brasil era uma “nação economicamente e militarmente fraca”, mas o seu crescimento natural, ou as migrações do pós-guerra, lhe dariam o capital e a população que o fariam tornar-se, “inevitavelmente um dos grandes poderes políticos do mundo”. A sua lista combinava objetivos imediatos e de mais longo prazo, como reproduzida no artigo de McCann e no livro de Lochery (p. xv):
  1. a better position in world politics;
  2. consolidation of its superiority in South America;
  3. a more secure and intimate cooperation with the United States;
  4. greater influence over Portugal and its possessions;
  5. development of maritime power;
  6. development of air power;
  7. development of heavy industries;
  8. creation of war industries;
  9. creation of industries -agricultural, extractive, and light mineral- complementary to those of the United States and essential for world reconstruction;
  10. expansion of Brazil’s railways and highways for economic and strategic purposes;
  11. exploration for essential combustible fuels.
Observando-se a lista de Oswaldo Aranha, com os olhos de 2014, o que poderia ser dito dos seus objetivos de guerra, do ponto de vista do atingimento de cada um deles em tempos de paz e nos setenta anos decorridos desde a sua redação? Registro aqui que os argumentos dos próximos parágrafos são meus, e não constam do livro de Lochery.
Uma melhor posição na política mundial? Um objetivo certamente avançado depois da democratização e da estabilização macroeconômica, esta última iniciada sob Fernando Henrique Cardoso no governo Itamar Franco, e consolidada nos dois governos FHC, o que foi plenamente aproveitado pelo governo Lula para desenvolver uma diplomacia ativa, beneficiado ainda pelo enorme impulso dado pela demanda chinesa por produtos brasileiros de exportação para acumular alguma riqueza e projetar influência na região e no mundo. Não é seguro que essa posição tenha sido consolidada com a visível retração registrada no período recente, mas também por iniciativas pouco avisadas ou altamente controversas, ainda sob Lula e mantidas por sua sucessora, com alianças dúbias com regimes pouco recomendáveis, e uma retração formidável na defesa da democracia e dos direitos humanos nos planos regional e mundial. Talvez se consiga, novamente, num futuro indefinido, uma “melhor posição na política mundial”, mas isso vai depender, seriamente, de uma melhoria na qualidade da política externa, hoje dominada por companheiros viciados numa visão do mundo anacrônica e distorcida quanto aos reais interesses do Brasil.
Uma consolidação da “superioridade” brasileira na América do Sul? Trata-se bem mais de uma ilusão do que de um objetivo, mas ele deve ser visto numa outra perspectiva, que era a de Oswaldo Aranha, em face de uma Argentina superior nos planos econômico e militar, e que tinha, sim, uma vocação de afirmar sua influência no entorno imediato e nas relações com as grandes potências, a Grã-Bretanha e os próprios Estados Unidos. A Argentina era o “inimigo principal” em qualquer cálculo que os militares brasileiros pudessem fazem no plano estratégico e no contexto tático, e os maiores recursos de segurança e defesa, não necessariamente ofensivos, estavam dispostos ao longo das fronteiras meridionais. Apenas por isso Aranha colocou esse objetivo em segundo lugar, e não necessariamente para impor uma liderança imperial do Brasil na região; a superioridade deveria ser vista aqui apenas como uma agregação suficiente de forças para tornar o país “inatacável” por qualquer vizinho, a começar pelo mais “íntimo inimigo”. Essa situação está agora completamente superada, mas só os ingênuos e os amadores em diplomacia – entre eles vários companheiros, mas também alguns homens de negócios – falam em liderança brasileira na região; para o Itamaraty, esse tema é tabu, embora haja a percepção de que a consolidação de um espaço econômico integrado, baseado em abertura de mercados e intensa cooperação em projetos de integração física, seriam suficientes, junto com a afirmação plena dos valores da democracia e dos direitos humanos, para assegurar essa liderança, que seria natural, e não imposta. Mas, parece que estamos recuando em todas essas frentes, para maior tristeza dos diplomatas profissionais e dos liberais econômicos (que são poucos, mas ainda existem em nosso país).
Uma cooperação mais íntima e mais segura com os Estados Unidos? Difícil dizer em quais termos, pois impérios universais não mantém relações de igual para igual nem mesmo com seus mais “íntimos” aliados. O Brasil sempre manteve desconfiança em relação ao gigante do norte, mesmo nos anos de aliança não escrita dos tempos do Barão, e naqueles de aliança militar no imediato pós-guerra, o que só fez crescer nos anos seguintes, com os desejos dos militares – e de vários diplomatas – de uma rápida nuclearização do Brasil, em face dos esforços americanos de contenção da proliferação nessa área (e não apenas como cálculo estratégico, e sim também em função de uma visão do mundo menos belicoso, digamos assim). Essa cooperação sempre foi difícil e não parece que tenha se tornado mais plausível no período recente, muito pelo contrário (já que o antiamericanismo dos companheiros salta aos olhos de qualquer neófito). Este não pode ser um objetivo em si, mas é uma possibilidade, dentro de certas condições e circunstâncias, que provavelmente vão exigir maior grau de capacitação brasileira para ser colocado novamente na agenda bilateral; mas, paradoxalmente, parece que o Brasil só vai se capacitar mais rapidamente por meio de uma “cooperação mais íntima e mais segura com os Estados Unidos”, o que pode parecer bizarro a mais de um título.
O quarto objetivo, com respeito a Portugal e suas “possessões”, mudou de caráter, mas essa influência é certamente maior hoje do que foi no passado colonial, e tende a se tornar ainda mais relevante, inclusive em direção de Portugal, embora o lento crescimento e a perda de competitividade dos últimos anos tenham diminuído o ímpeto brasileiro na “reconquista” da antiga metrópole.
Os objetivos 5 a 11, são todos eles instrumentais, alinhados numa época em que o Brasil era um país economicamente atrasado, em todas as áreas, e se esperava que os Estados Unidos financiassem, e fornecessem a tecnologia, para nossa capacitação em todas elas. Aos trancos e barrancos fomos avançando nas décadas seguintes, tanto com os fluxos de investimentos estrangeiros e de financiamento externo, quanto com a cooperação bilateral nas áreas científicas e tecnológicas, um processo que continua sem cessar, tanto na vertente pública, quanto nas diversas interfaces privadas. Em alguns ramos industriais, e certamente em quase todo o setor agrícola, o Brasil se tornou um país avançado, até mesmo um “killer”, em matéria de competitividade agrícola, e isso tem tanto a ver com a cooperação externa (basicamente americana), quanto com a construção de uma base própria de capital humano e científico. Não se pode dizer que tenhamos nos tornado uma formidável potência militar, mas o que existe garante um mínimo de dissuasão, quando não de projeção externa em dimensões limitadas. Para se ter mais nessa área, seria preciso convencer a sociedade a aceitar mais gastos militares, ou com segurança, de modo geral, o que não parece compatível com necessidades bem mais prementes em várias áreas sociais. Aliás, o Brasil não é mais forte militarmente não porque invista pouco nessa área, mas porque seus recursos humanos são deficientes de maneira geral, na inovação tecnológica em especial. Trata-se de um resultado de políticas erradas na área educacional, que não têm nada a ver com debilidades próprias do establishment militar.
Bem, mas o livro de Neill Lochery, Brazil: The Fortunes of War, não trata dessas questões senão em sua introdução e conclusões, pois o essencial do livro está dedicado ao envolvimento do Brasil na guerra, o que é feito de maneira minuciosa e competente. No conjunto, os dois livros constituem leitura muito agradável e, nos dois casos, altamente instrutiva quanto aos dois temas foco de cada um Kaye é bem mais ideológico, no seu rooseveltismo radical, do que Lochery, um inglês equilibrado e bastante objetivo em suas considerações analíticas sobre o Brasil. Seu livro me confirmou a impressão, que já tenho desde longos anos, de que o Brasil perdeu uma enorme oportunidade ao não ter tido uma personalidade como Oswaldo Aranha na liderança efetiva do país, em algumas das chances em que a história poderia ter aberto uma janela para ele: em 1934, em 1937, em 1945, em 1950, ou mesmo em 1955; em todas elas ele poderia, hipoteticamente, estar à frente de uma coalizão liberal para fazer do Brasil um país muito diferente do que foi, sob a condução de políticos populistas, de líderes militares muito próximos do corporatismo de corte fascista, ou de incompetentes manifestos, como podem ter sido Dutra, Goulart ou mesmo alguns outros em fases subsequentes. Oswaldo Aranha foi muito obsequioso com seu chefe e amigo, mas poderia ter continuado a ser a “estrela da revolução”, que foi na coalizão liberal de 1930, e que depois se perdeu no labirinto do varguismo maquiavélico. Foi uma pena para o país, uma pena para todos nós.
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor no Centro Universitário de Brasília – Uniceub (pralmeida@mac.com ).

sábado, 29 de dezembro de 2018

Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro - ensaios de Paulo Roberto de Almeida

Juntei os textos que eu havia feito para a antologia publicada em 2017 dos escritos mais importantes de Oswaldo Aranha sobre questões internacionais e de diplomacia brasileira.
Eis o resultado:


Paulo Roberto de Almeida
  
 
Oswaldo Aranha:
um estadista brasileiro
Colaborações de Paulo Roberto de Almeida
para a sua coletânea de textos

Brasília
Edição do Autor
2018


Índice 

Apresentação: Oswaldo Aranha em dois livros de relevo , 11
Sumário do livro Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro ,  15
Apresentação do embaixador Rubens Ricupero à antologia ,  19
Cronologia de Oswaldo Aranha por Rogério de Souza Farias , 21
1. O chanceler no conflito global (1939-1945) ,  25
2. O estadista econômico (1931-34, 1953-54) ,  53
3. O estadista político , 75

Apêndices
Livros de Paulo Roberto de Almeida ,  87

Nota sobre o autor ,  91

Disponível na plataforma Academia.edu: 
https://www.academia.edu/38054503/Oswaldo_Aranha_um_estadista_brasileiro_-_Colabora%C3%A7%C3%B5es_de_Paulo_Roberto_de_Almeida_para_a_sua_colet%C3%A2nea_de_textos_2018_