segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1907) FSM, 10 anos: um balanco maaaaagro...

Não tive tempo ainda de analisar o catatau de banalidades conceituais e outras lacunas mentais da reunião do Forum Social Mundial em Porto Alegre, na qual os organizadores esperavam diversos chefes de Estado e só um, o da casa, compareceu. Vou ainda selecionar as "pérolas" do FSM, um pouco como esses professores desocupados fazem com as "pérolas" do vestibular, do ENEM, whatever. Não que eu seja desocupado, justamente não sou e por isso ainda não tive tempo e antecipo a chatice que vai ser ler toda aquela maçaroca de ideias vazias.
Segundo confessou o próprio organizador-mór, Cândido Grzybovski, "a tendência é de que o FSM se torne 'menos anti e mais pró', substituindo o discurso de desconstrução por propostas para se chegar ao outro mundo possível."
Bem, parece que eles ainda não sabem bem onde está, como é, como deveria ser, qual o perfil, o que ele conteria de diferente, esse "outro mundo possível". Tudo fica numa vaguidão do espírito e num vazio de ideias que só as mentes pouco iluminadas que frequentam aquele piquenique conseguem se entusiasmar com o nada.
Esse organizador de reuniões vazias acha que "a edição de Porto Alegre foi mais 'enraizada'," seja lá o que isso queira dizer. "Enraizada" no quê, cara-pálida? Favor dizer, do contrário pode se começar a chamar esse pessoal de "tubérculos", enraizados por um certo tempo, mas basta puxar que sai tudo...
Enfim, a acreditar nesse divagador de conceitos abstratos, "O fórum é um espaço de construção de inteligencia coletiva, de uma nova visão, um novo imaginário, novos conceitos, e isso a partir de agora vai ser a grande tarefa."
Tudo isso não quer dizer rigorosamente nada, e eu deixo vocês com a síntese oficial do encontro.
Quem encontrar alguma ideia concreta, favor me avisar.
Paulo Roberto de Almeida (1.02.2010)

Encontro reuniu 35 mil pessoas em Porto Alegre
Agência Brasil, 1.02.2010

O Fórum Social Mundial (FSM) de Porto Alegre chegou ao fim na última nesta sexta-feira, após uma semana de debates que avaliaram os dez anos do processo que nasceu para pensar “um outro mundo possível”. Com 35 mil participantes, a edição de Porto Alegre foi mais “enraizada”, segundo um dos idealizadores do FSM, Cândido Grzybovski.

“A participação local foi muito forte, o que é um aspecto muito positivo. Tivemos aqui o melhor debate que se fez até hoje na série de fóruns, com avaliação estratégica e pensando os próximos desafios”, afirmou.

O sociólogo disse que a valorização de eventos locais é importante para fortalecer o fórum e garantir a participação. “Não somos banqueiros, donos de empresa, como os que vão a Davos [na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial], somos movimentos sociais, alguns se financiam com os próprios salários”, disse.

Em uma semana, a reunião de Porto Alegre teve 915 atividades na capital e em cinco cidades da região metropolitana. A organização registrou a participação de inscritos de 39 países, de empresários a desempregados. Dos inscritos, 59,3% eram mulheres e 40,7% homens.

Na conta dos dez anos do Fórum Social, os idealizadores incluem o enfraquecimento do modelo neoliberal – que deu sinais de colapso com a crise financeira internacional – e a criação de uma sociedade civil global, que se mobiliza mundialmente.

Segundo Grzybovski, dez anos depois, a tendência é de que o FSM se torne “menos anti e mais pró”, substituindo o discurso de desconstrução por propostas para se chegar ao outro mundo possível. “O fórum é um espaço de construção de inteligencia coletiva, de uma nova visão, um novo imaginário, novos conceitos, e isso a partir de agora vai ser a grande tarefa”, apontou.

A reunião na região metropolitana da capital gaúcha foi um dos 27 eventos programados para o FSM este ano em todo o mundo. Em Salvador, por exemplo, começa nesta sexta o Fórum Social Temático da Bahia, com caráter mais governamental do que a reunião original.

Em 2011, o FSM volta a ter uma reunião centralizada, dessa vez fora de Porto Alegre. Dakar, no Senegal, será a anfitriã da reunião no próximo ano.

As informações são da Agência Brasil

1906) O diplomata e o desenvolvimento do país

Um estudioso dos temas internacionais colocou-me, três meses atrás, uma pergunta complexa, mas cativante, que não tive tempo ainda de responder adequadamente, mas que permanece no meu "pipeline" de trabalhos a fazer, uma imensa pasta de working files, que tem do bom, do mau e do feio, com alguma divisão entre os timings desses trabalhos, algo como: "urgente", "urgentíssimo", "to rework", "to do" e outras loucuras do gênero. Mas, prometo que um dia vou responder. Por enquanto limito-me a transcrever o exchange, como sinal de alerta para terminar rapidamente esse trabalho sobre

O Papel do Diplomata no Desenvolvimento do Brasil

3.11.2009
Daniel disse...
Exmº. Dr.Paulo Roberto de Almeida,
Primeiramente gostaria de prestar congratulações e respeito por vossa biografia, de fato inspiradora, acredito que para todos nós aspirantes à carreira diplomática.
Tenho 31 anos, sou odontólogo, professor auxiliar de uma Universidade pública no Rio de Janeiro e dou início, no atual momento, ao doutorado em minha área.
Entretanto, a carreira diplomática sempre me foi no mínimo instigante e exatamente pela curiosidade e pela compulsão literária, sinto-me impelido a enveredar-me por este caminho de evolução intelectual, profissional e humano. Acerca deste
último campo, me chamou muito à atenção o lado humanista da profissão, o de servir aos brasileiros, não somente ao Estado.
Tendo-se em vista as desigualdades sociais de nosso país, como a carreira diplomática pode ajudar a aliviar as claras deficiências de desenvolvimento humano em nosso país? Pelo que devemos primar em nossas carreiras para transformar crescimento do Estado, muitas vezes fomentado pela atividade diplomática, em consequente desenvolvimento humano?
Cordialmente,
Daniel G. M.

Terça-feira, Novembro 03, 2009 2:48:00 AM

Ao que eu respondi logo em seguida:
Paulo R. de Almeida disse...
Excelentes perguntas, Daniel, que eu mesmo gostaria de responder agora, se tivesse tempo e capacidade (acho que tenho alguma).
Respondendo rapidamente de forma sintética, eu diria que o papel do diplomata no desenvolvimento brasileiro é claramente acessório, pois nenhum, REPITO NENHUM, dos grandes problemas brasileiros tem a ver com o cenário internacional, ou muito superficialmente.
Todos os nossos problemas -- falta de educação de qualidade, corrupção, políticas públicas inadequadas, baixo investimento em C&T, instituições governamentais deficientes, déficit previdenciário, baixo investimento em infraestrutura, baixa poupança, pequena abertura a comércio internacional e investimentos diretos estrangeiros -- todas essas deficiências são "made in Brazil", nossos próprios pecados, e tem de ser resolvidos aqui mesmo. Mas acredito que isso vai demorar um pouco.
O diplomata, como cidadão, pode ajudar um pouco, expondo o que fizeram de certo (e de errado) outros países, e porque alguns deram certo e outros deram errado.
Nós fizemos meio certo em muitas coisas, e muito errado em outras, como em educação, por exemplo.
Mas, isso não é algo que o diplomata possa resolver, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Vou me dedicar a responder a esse seu questionamento em algum trabalho futuro.
Obrigado por formular a questão.

Terça-feira, Novembro 03, 2009 2:54:00 AM

Bem, continuo devendo uma resposta mais elaborada, que não sei exatamente quando vou poder dar. Mas, como disse, está no meu pipeline, e agora, deixando em aberto para cobranças outras, mais ainda...
Paulo Roberto de Almeida
(1.02.2010)

domingo, 31 de janeiro de 2010

1905) Um empreendedor do conhecimento: Khan Academy

The Khan Academy is a not-for-profit organization with the mission of providing a high quality education to anyone, anywhere.

We have 1000+ videos on YouTube covering everything from basic arithmetic and algebra to differential equations, physics, chemistry, biology and finance which have been recorded by Salman Khan.

Uma pequena amostra:

Current Economics
Economics of a Cupcake Factory
Cupcake Economics 2
Cupcake Economics 3
Inflation, Deflation & Capacity Utilization
Inflation, Deflation & Capacity Utilization 2
Inflation & Deflation 3: Obama Stimulus Plan
Unemployment
CPI Index
Simple Analysis of Cost per Job Saved from Stimulus
Unemployment Rate Primer

Banking and Money
Banking 1
Banking 2: A bank's income statement
Banking 3: Fractional Reserve Banking
Banking 4: Multiplier effect and the money supply
Banking 5: Introduction to Bank Notes
Banking 6: Bank Notes and Checks
Banking 7: Giving out loans without giving out gold
Banking 8: Reserve Ratios
Banking 9: More on Reserve Ratios (Bad sound)
Banking 10: Introduction to leverage (bad sound)
Banking 11: A reserve bank
Banking 12: Treasuries (government debt)
Banking 13: Open Market Operations
Banking 14: Fed Funds Rate
Banking 15: More on the Fed Funds Rate
Banking 16: Why target rates vs. money supply
Banking 17: What happened to the gold?
Banking 18: Big Picture Discussion
The Discount Rate
Repurchase Agreements (Repo transactions)
Federal Reserve Balance Sheet
Fractional Reserve Banking Commentary 1
FRB Commentary 2: Deposit Insurance
FRB Commentary 3: Big Picture

Venture Capital and Capital Markets
Raising money for a startup
Getting a seed round from a VC
Going back to the till: Series B
An IPO
More on IPOs
Equity vs. Debt
Bonds vs. Stocks
Chapter 7:Bankruptcy Liquidation
Chapter 11: Bankruptcy Restructuring

Finance
Introduction to interest
Interest (part 2)
Introduction to Present Value
Present Value 2
Present Value 3
Present Value 4 (and discounted cash flow)
Introduction to Balance Sheets
More on balance sheets and equity
Home equity loans
Renting vs. Buying a home
Renting vs. buying a home (part 2)
Renting vs. Buying (detailed analysis)
The housing price conundrum
Housing price conundrum (part 2)
Housing Price Conundrum (part 3)
Housing Conundrum (part 4)
Raising money for a startup
Getting a seed round from a VC
Going back to the till: Series B
An IPO
More on IPOs
Bonds vs. Stocks
Chapter 7:Bankruptcy Liquidation
Chapter 11: Bankruptcy Restructuring
Return on capital
Mortgage-Backed Securities I
Mortgage-backed securities II
Mortgage-backed securities III
Collateralized Debt Obligation (CDO)
Introduction to the yield curve
Introduction to compound interest and e
Compound Interest and e (part 2)
Compound Interest and e (part 3)
Compound Interest and e (part 4)
Bailout 1: Liquidity vs. Solvency
Bailout 2: Book Value
Bailout 3: Book value vs. market value
Bailout 4: Mark-to-model vs. mark-to-market
Bailout 5: Paying off the debt
Bailout 6: Getting an equity infusion
Bailout 7: Bank goes into bankruptcy
Bailout 8: Systemic Risk
Bailout 9: Paulson's Plan
Bailout 10: Moral Hazard
Credit Default Swaps
Credit Default Swaps 2
Investment vs. Consumption 1
Investment vs. Comsumption 2
Bailout 11: Why these CDOs could be worth nothing
Bailout 12: Lone Star Transaction
Bailout 13: Does the bailout have a chance of working?
Wealth Destruction 1
Wealth Destruction 2
Bailout 14: Possible Solution
Bailout 15: More on the solution
Banking 4: Multiplier effect and the money supply
Banking 3: Fractional Reserve Banking
Banking 2: A bank's income statement
Banking 1
Banking 2: A bank's income statement
Banking 3: Fractional Reserve Banking
Banking 4: Multiplier effect and the money supply

Valuation and Investing
Price and Market Capitalization
Introduction to the Income Statement
Earnings and EPS
Introduction to the Price-to-Earnings Ratio
P/E Discussion
ROA Discussion 1
ROA Discussion 2
Depreciation
Amortization
P/E Conundrum
Enterprise Value
EBITDA

Credit Crisis
The housing price conundrum
Housing price conundrum (part 2)
Housing Price Conundrum (part 3)
Housing Conundrum (part 4)
Mortgage-Backed Securities I
Mortgage-backed securities II
Mortgage-backed securities III
Collateralized Debt Obligation (CDO)
Bailout 13: Does the bailout have a chance of working?
Credit Default Swaps
Credit Default Swaps 2
Wealth Destruction 1
Wealth Destruction 2

Geithner Plan
Geithner Plan I
Geithner Plan II
Geithner Plan 2.5
Geithner Plan III
Geithner Plan IV
Geithner 5: A better solution

Paulson Bailout
Bailout 1: Liquidity vs. Solvency
Bailout 2: Book Value
Bailout 3: Book value vs. market value
Bailout 4: Mark-to-model vs. mark-to-market
Bailout 5: Paying off the debt
Bailout 6: Getting an equity infusion
Bailout 7: Bank goes into bankruptcy
Bailout 8: Systemic Risk
Bailout 9: Paulson's Plan
Bailout 10: Moral Hazard
Bailout 11: Why these CDOs could be worth nothing
Bailout 12: Lone Star Transaction
Bailout 14: Possible Solution
Bailout 15: More on the solution

Salman Khan (Sal) founded the Khan Academy with the goal of using technology to educate the world
Sal received his MBA from Harvard Business School. He also holds a Masters in electrical engineering and computer science, a BS in electrical engineering and computer science, and a BS in mathematics from the Massachusetts Institute of Technology

1904) "Fear the Boom and Bust" a Hayek vs. Keynes Rap Anthem

Para quem gosta do ritmo de gasgsta rap, pode ser genial. Eu, que não aprecio particularmente esse tipo de musica, achei interessante a recuperação das frases mais conhecidas dos dois maiores "gurus" da economia do século 20.
De fato,sempre se pode aprender um pouco de economia com esse rap "confrontacionista" entre :

"Fear the Boom and Bust": a Hayek vs. Keynes Rap Anthem

In Fear the Boom and Bust, John Maynard Keynes and F. A. Hayek, two of the great economists of the 20th century, come back to life to attend an economics conference on the economic crisis. Before the conference begins, and at the insistence of Lord Keynes, they go out for a night on the town and sing about why there's a "boom and bust" cycle in modern economies and good reason to fear it.

Get the full lyrics, story and free download of the song in high quality MP3 and AAC files at: http://www.econstories.tv

Vejam alguns comentários
:

As usual gangsta rap succeeds where thousands of economics books have failed.
ersdot

i love hayek's disapproving looks throughout.
Terrorera

this is the freaking bomb.
iamvoodoo

@patbarkley
The dollar is a floating reference. It loses value when the quantity of them exceeds produced value. Gold cannot be printed at will. The fact of price changes in gold says more about the value of the dollar than the value of gold. Not suggesting there is an absolute reference.
mouser98k

the president that deserves the most blame is Woodrow Wilson
HaloFanKnowsChuckFu

"gold and oil are moving from the lower left to the upper right together... " You noticed that oil and gold are more expensive than 100 years ago? Wow!
That still doesn't prove that gold is somehow magically stable, dude...

1903) Um outro kibutz é possivel, ate mesmo necessario

A realidade sempre se encarrega de desmentir os sonhos socialistas dos idelaistas mais engajados na construçnao do outro mundo possível.
Parece que ainda não inventaram um outro modo de produção tão eficiente quanto o capitalismo. Não quer dizer que não possa surgir, no futuro, mas na presente fase da vida humana na Terra, ainda não se conseguiu inventar algo melhor...

A ascensão do kibutz capitalista
Tobias Buck
Financial Times, 26 janeiro 2010

*As fazendas coletivas de Israel eram originalmente baseadas em ideais socialistas e igualitários. Hoje, muitas se transformaram em grandes empresas privadas*

Situado em meio às colinas na região central de Israel, o Kibutz Nachshon é um aglomerado de casas simples à sombra de pinheiros e cercadas por jardins e plantações. A calma da metade do dia é quebrada apenas ocasionalmente, quando um trator se dirige de forma barulhenta para um silo de grãos ou quando crianças passam a caminho da creche.

Para um visitante casual, Nachshon passou os últimos quatro anos em meio a uma revolução social e econômica que varreu grande parte dos ideais socialistas e práticas igualitárias que marcaram este experimento em vida comunal. Os prédios e campos ainda são os mesmos, as inclinações esquerdistas ainda estão ali, assim como um senso de solidariedade. Mas em termos práticos, as vidas de moradores do kibutz como Jane Ozeri mudaram até ficarem irreconhecíveis.

* *

*Aberto para mudanças*
Diferente de outros experimentos sociais, há surpreendentemente pouco dogma ou teoria por trás do kibutz israelense. Segundo alguns especialistas, este é o motivo chave para a relativa abertura das comunidades à mudança. Antes da onda de privatizações que teve início nos anos 90 e continua até hoje, os kibutzim já tinham sacrificado outros princípios queridos -incluindo a proibição a contratação de mão-de-obra de fora da comunidade e a ideia de que todas as crianças do kibutz tinham que dormir em uma casa separada da de seus pais. "Nunca houve um programa para o kibutz, ele foi criado por
pessoas vivas. Toda vez que encontravam um problema, elas simplesmente buscavam uma solução", diz Shlomo Getz, um especialista em kibutzim.

Ozeri, 55 anos, chegou do Reino Unido a Nachshon há 30 anos, atraída pela mistura única de socialismo e sionismo do movimento kibutz. "Eu me apaixonei por toda esta ideia de todos serem iguais, de todos cuidando uns dos outros", ela recorda.

Ao mesmo tempo, ela trabalhava sempre que o kibutz precisava dela: na cozinha comunal, nos campos, no galinheiro ou na escola. Moradores do kibutz como ela não recebiam salário, apenas um magro estipêndio mensal que era "mais como um trocado". Em troca, a comunidade fornecia moradia gratuita, alimento, educação, roupas, atendimento de saúde, transporte e até cigarros.
Se Ozeri quisesse visitar sua família no Reino Unido, a assembleia do kibutz discutia os méritos de seu caso e então votaria pelo pagamento ou não de sua passagem.

Hoje, Ozeri possui um cartão de visita que a identifica como "coordenadora global de vendas" da Aran Packaging, uma empresa que produz embalagens para líquidos para a indústria alimentícia. Localizada no kibutz e de propriedade de seus membros, a empresa conta com vendas de quase US$ 40 milhões por ano e envia seus produtos para 35 países ao redor do mundo. Ozeri recebe um salário do qual pode fazer uso livre, mas que também é consideravelmente mais alto do que aquele que é pago aos operários na linha de montagem e aos trabalhadores no campo. Ela diz que a divisão salarial na Aran é semelhante ao de outras empresas do setor privado.

A igualdade, antes no centro da ideologia do kibutz, também foi violada de outras formas. Tarefas que costumavam ser realizadas pelos moradores do kibutz independentemente de seu grau de escolaridade e formação -como lavar os pratos- são hoje realizadas por empregados contratados de fora da comunidade.

As posturas em relação aos negócios também mudaram radicalmente. Nos anos 80, os membros do Nachshon votaram contra um plano para abertura de um posto de gasolina na estrada próxima, porque forçaria os moradores orgulhosos do kibutz a "servirem" os motoristas.

Hoje, muitos dos moradores de kibutz não apenas possuem negócios prósperos -inclusive na indústria de turismo- que funcionam exatamente como outras empresas privadas, como também decidiram abraçar o mercado de capital: 22 empresas de kibutz estão atualmente listadas nas bolsas de valores de Tel Aviv, Nova York e Londres. Com vendas anuais no valor de US$ 10 bilhões de dólares (cerca de R$ 18,2 bilhões), as empresas de kibutz representam cerca de 10% da produção industrial de Israel.

A agricultura ainda é importante para a maioria dos moradores dos kibutzim, apesar de que menos do que durante seus primórdios. De fato, a mudança para a indústria que teve início nos anos 60 e 70 foi um fator importante que persuadiu os moradores dos kibutzim a mudarem de ideia: eles perceberam que uma fábrica, diferente de uma fazenda, é difícil de ser dirigida de modo igualitário. Resumindo, alguém tinha que dirigir e alguém tinha que permanecer na linha de montagem.

Mas a transformação do kibutz de bastião socialista em cooperativa capitalista é, acima de tudo, um reflexo de uma mudança muito mais ampla na sociedade israelense. À medida que o país começou a prosperar durante os anos 80, os israelenses começaram cada vez mais a abandonar o etos socialista frugal que dominou os primeiros anos do Estado.

Foi um desdobramento que não deixou os kibutzim intocados. "O kibutz nunca foi isolado da sociedade", diz Shlomo Getz, diretor do Instituto para Pesquisa do Kibutz, na Universidade de Haifa. "Ocorreu uma mudança de valores em Israel e uma mudança de padrão de vida. Muitos moradores de kibutz agora queriam as mesmas coisas que seus amigos de fora do kibutz."

Ozeri diz: "As pessoas queriam mais controle sobre suas próprias vidas e economias. Elas queriam tomar suas próprias decisões, ter seu próprio carro e seu próprio telefone. É muito difícil viver nesta forte vida comunal. É cansativo".

Enquanto essas tendências sociais ganhavam força, o movimento kibutz recebeu um golpe de nocaute de uma direção diferente. Buscando uma diversificação longe da agricultura, mais e mais moradores começaram a se interessar pela indústria, montando empresas que -frequentemente sobrecarregadas pela falta de experiência administrativa e de capital- davam enormes prejuízos.

O resultado foi uma crise de dívida, um resgate por parte do governo em 1985 e todo um reexame da filosofia econômica do kibutz.

"A sociedade israelense sempre viu os moradores de kibutz como uma elite. Mas agora eles eram considerados um mero grupo de interesse que dependia do dinheiro do Estado", diz Getz.

A resposta para o dilema -e para as dificuldades financeiras das comunidades- veio na forma da privatização -um processo que começou lentamente nos anos 90 e vem ganhando força desde então.

Nachshon, por exemplo, finalmente decidiu abandonar o coletivismo em 2006. Em um chamado "kibutz privatizado", os membros podem fazer uso livre de seus salários, mas em troca eles têm que pagar por todos os bens e serviços que o kibutz antes costumava fornecer gratuitamente.

Com frequência cada vez maior, os moradores descobriram que preferiam preparar sua própria comida, lavar sua própria roupa e ter seu próprio carro do que fazer uso das instalações comunais. Até mesmo o refeitório -antes o coração de cada comunidade, onde os membros costumavam se reunir, comer e conversar diariamente- se tornou vítima da privatização: em alguns kibutzim, a frequência caiu tanto que o refeitório foi totalmente abandonado.

Omer Moav, um ex-morador de kibutz que agora ensina economia na Royal Holloway University de Londres e presta consultoria ao ministro das Finanças de Israel, argumenta que o movimento kibutz estava destinado a fracassar. Ele funcionou, ele diz, apenas enquanto seus membros desfrutavam de um padrão de vida comparável, se não melhor, ao da média israelense. "As pessoas respondem a incentivos. Nós ficamos felizes em trabalhar arduamente para nossa própria qualidade de vida, nós gostamos de nossa independência", ele diz. "Tudo se trata da natureza humana -e um sistema socialista como o kibutz não se encaixa na natureza humana."

Mas nem todo o velho etos do kibutz desapareceu. Casas, terras e instalações de produção, por exemplo, ainda são mantidos coletivamente. Todos os kibutzim privatizados operam uma chamada "rede de proteção", que faz uso de contribuições individuais para assegurar que os membros tenham um padrão de vida mínimo -mas não mais igual. E apesar de seu número estar caindo rapidamente, dos 262 kibutzim existentes em Israel atualmente, cerca de 65 ainda funcionam do modo tradicional, enquanto 188 foram totalmente, e nove parcialmente, privatizados.

Mas poucos discordariam do resumo de Ozeri para a transformação. Em grande parte, ela diz, "nós agora somos iguais a todo mundo".

*Tradução: George El Khouri Andolfato*

1902) Petrobras, corrupcao SA: um produto nao convencional

Este artigo de opinião pode ser lido em conjunção com este post anterior neste blog:

sábado, 30 de janeiro de 2010
1896) Petrobras: de volta à berlinda por corrupção...

Mistério na Petrobrás
Suely Caldas
O ESTADO DE S PAULO, 31 janeiro 2010

Há um mistério encobrindo fraudes em grandes obras da Petrobrás, e o governo Lula nunca teve consideração nem respeito pelos brasileiros de vir a público esclarecê-lo e responder às acusações do Tribunal de Contas da União (TCU) de práticas de superfaturamento e gestão temerária. O que fez, até agora, foi dar explicações vagas e fajutas, rejeitadas pelo TCU. Até mesmo o Congresso - abalado por tantas denúncias de corrupção - se envergonhou com o exagero de gastos não explicados e vetou a liberação de recursos em 2010 para parte de quatro bilionárias obras da estatal, até que as irregularidades sejam corrigidas.

Mas a obsessão do governo em esconder os fatos e seguir com as obras suspeitas levou o presidente Lula, na quarta-feira, a suspender o veto, liberar dinheiro para as obras, assumir pessoalmente o ônus político de desautorizar o Poder Legislativo e o TCU e ainda ser visto como cúmplice de aplicações indevidas de dinheiro da Petrobrás.

Espanta a omissão do governo em não apurar as denúncias do TCU. Seu papel deveria ser investigar, identificar e punir responsáveis, corrigir os valores fraudados e vir a público pedir desculpas e se explicar ao País. O assombro aumenta diante da grandiosidade dos números: por que razão, sem nenhuma explicação convincente, o orçamento da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco (PE), triplicou, saltando de US$ 4,05 bilhões para US$ 12 bilhões? Como responder à perícia dos técnicos do TCU, que identificaram o superfaturamento absurdo de 1.490% no pagamento de verbas indenizatórias nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro?

Um ano passou desde a conclusão de auditoria do TCU que identificou as fraudes. Em vez de criar uma comissão de inquérito na empresa para apurar as denúncias, a direção da Petrobrás tratou de construir explicações frágeis, vagas, genéricas e sem fundamentos, que não convenceram ninguém, muito menos os conselheiros e auditores do tribunal. Depois de ouvir argumentos da empresa, o TCU continuou reafirmando as fraudes.

As restrições do TCU foram conhecidas em março de 2009, mas só em 26 de agosto a direção da Petrobrás divulgou ao público sua versão. Preferiu o monólogo da nota oficial em vez de uma entrevista à imprensa em que poderia mostrar planilhas, notas fiscais, números, responder a questionamentos sem medo e não deixar dúvidas. A nota apontava quatro razões para o orçamento da Refinaria Abreu Lima ter triplicado: 1) a capacidade de refino aumentou de 200 mil para 230 mil barris/dia; 2) a variação da taxa de câmbio; 3) a adoção de um novo sistema de tratamento de gases tóxicos; e 4) o aquecimento da indústria de petróleo. Mesmo considerando que variáveis como o câmbio são estimadas e previstas no cálculo de qualquer projeto de longo prazo, seria razoável se o novo preço aumentasse em 10%, 20%, mas triplicar, sem explicar detalhes, sem apresentar provas convincentes?

Em novembro de 2009, em resposta a questionamentos da imprensa, a direção da estatal resumiu em seu blog: "Não há superfaturamento, sobrepreço ou qualquer outra irregularidade nas obras. O que se verifica nos casos apontados pelo TCU são formulações e interpretações divergentes daquelas adotadas pela Companhia." Interpretações diferentes justificam triplicar o preço? Generalidades e ausência de provas deram o tom sistemático das versões da empresa.

Depois de persistente resistência do governo e de partidos aliados, finalmente, em maio de 2009, o Senado criou uma CPI para apurar irregularidades na Petrobrás. A manipulação e o domínio do governo nos rumos da CPI, com o relator Romero Jucá (PMDB-RR) à frente, representaram a desmoralização política do Senado, humilhado e submisso aos interesses do governo de nada apurar e tudo esconder. A ponto de o ex-presidente Fernando Collor, aliado do governo, apresentar relatório paralelo reclamando por graves e sérias investigações que não foram feitas.

O Senado foi um fiasco. Mas, no papel de fiscalizador da aplicação de dinheiro público, o TCU fez o seu trabalho: identificou irregularidades nas Refinarias Abreu Lima (PE) e Presidente Vargas (PR), no Terminal Portuário de Barra do Riacho (ES) e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Ouviu os argumentos da empresa, não foi convencido e recomendou o veto de verbas às obras suspeitas. Mas Lula derrubou o veto e as obras suspeitas continuarão desviando dinheiro. Este é o mistério da Petrobrás: por que não investigar as fraudes? Para onde vai o dinheiro desviado?

1901) Paul Volcker on Obama's Financial Reform

O autor da reforma financeira de Obama explica o que propoe...
-------------

How to Reform Our Financial System
By PAUL VOLCKER
Op-Ed Contributor
New York Times, January 31, 2010

PRESIDENT OBAMA 10 days ago set out one important element in the needed structural reform of the financial system. No one can reasonably contest the need for such reform, in the United States and in other countries as well. We have after all a system that broke down in the most serious crisis in 75 years. The cost has been enormous in terms of unemployment and lost production. The repercussions have been international.

Aggressive action by governments and central banks — really unprecedented in both magnitude and scope — has been necessary to revive and maintain market functions. Some of that support has continued to this day. Here in the United States as elsewhere, some of the largest and proudest financial institutions — including both investment and commercial banks — have been rescued or merged with the help of massive official funds. Those actions were taken out of well-justified concern that their outright failure would irreparably impair market functioning and further damage the real economy already in recession.

Now the economy is recovering, if at a still modest pace. Funds are flowing more readily in financial markets, but still far from normally. Discussion is underway here and abroad about specific reforms, many of which have been set out by the United States administration: appropriate capital and liquidity requirements for banks; better official supervision on the one hand and on the other improved risk management and board oversight for private institutions; a review of accounting approaches toward financial institutions; and others.

As President Obama has emphasized, some central structural issues have not yet been satisfactorily addressed.

A large concern is the residue of moral hazard from the extensive and successful efforts of central banks and governments to rescue large failing and potentially failing financial institutions. The long-established “safety net” undergirding the stability of commercial banks — deposit insurance and lender of last resort facilities — has been both reinforced and extended in a series of ad hoc decisions to support investment banks, mortgage providers and the world’s largest insurance company. In the process, managements, creditors and to some extent stockholders of these non-banks have been protected.

The phrase “too big to fail” has entered into our everyday vocabulary. It carries the implication that really large, complex and highly interconnected financial institutions can count on public support at critical times. The sense of public outrage over seemingly unfair treatment is palpable. Beyond the emotion, the result is to provide those institutions with a competitive advantage in their financing, in their size and in their ability to take and absorb risks.

As things stand, the consequence will be to enhance incentives to risk-taking and leverage, with the implication of an even more fragile financial system. We need to find more effective fail-safe arrangements.

In approaching that challenge, we need to recognize that the basic operations of commercial banks are integral to a well-functioning private financial system. It is those institutions, after all, that manage and protect the basic payments systems upon which we all depend. More broadly, they provide the essential intermediating function of matching the need for safe and readily available depositories for liquid funds with the need for reliable sources of credit for businesses, individuals and governments.

Combining those essential functions unavoidably entails risk, sometimes substantial risk. That is why Adam Smith more than 200 years ago advocated keeping banks small. Then an individual failure would not be so destructive for the economy. That approach does not really seem feasible in today’s world, not given the size of businesses, the substantial investment required in technology and the national and international reach required.

Instead, governments have long provided commercial banks with the public “safety net.” The implied moral hazard has been balanced by close regulation and supervision. Improved capital requirements and leverage restrictions are now also under consideration in international forums as a key element of reform.

The further proposal set out by the president recently to limit the proprietary activities of banks approaches the problem from a complementary direction. The point of departure is that adding further layers of risk to the inherent risks of essential commercial bank functions doesn’t make sense, not when those risks arise from more speculative activities far better suited for other areas of the financial markets.

The specific points at issue are ownership or sponsorship of hedge funds and private equity funds, and proprietary trading — that is, placing bank capital at risk in the search of speculative profit rather than in response to customer needs. Those activities are actively engaged in by only a handful of American mega-commercial banks, perhaps four or five. Only 25 or 30 may be significant internationally.

Apart from the risks inherent in these activities, they also present virtually insolvable conflicts of interest with customer relationships, conflicts that simply cannot be escaped by an elaboration of so-called Chinese walls between different divisions of an institution. The further point is that the three activities at issue — which in themselves are legitimate and useful parts of our capital markets — are in no way dependent on commercial banks’ ownership. These days there are literally thousands of independent hedge funds and equity funds of widely varying size perfectly capable of maintaining innovative competitive markets. Individually, such independent capital market institutions, typically financed privately, are heavily dependent like other businesses upon commercial bank services, including in their case prime brokerage. Commercial bank ownership only tilts a “level playing field” without clear value added.

Very few of those capital market institutions, both because of their typically more limited size and more stable sources of finance, could present a credible claim to be “too big” or “too interconnected” to fail. In fact, sizable numbers of such institutions fail or voluntarily cease business in troubled times with no adverse consequences for the viability of markets.

What we do need is protection against the outliers. There are a limited number of investment banks (or perhaps insurance companies or other firms) the failure of which would be so disturbing as to raise concern about a broader market disruption. In such cases, authority by a relevant supervisory agency to limit their capital and leverage would be important, as the president has proposed.

To meet the possibility that failure of such institutions may nonetheless threaten the system, the reform proposals of the Obama administration and other governments point to the need for a new “resolution authority.” Specifically, the appropriately designated agency should be authorized to intervene in the event that a systemically critical capital market institution is on the brink of failure. The agency would assume control for the sole purpose of arranging an orderly liquidation or merger. Limited funds would be made available to maintain continuity of operations while preparing for the demise of the organization.

To help facilitate that process, the concept of a “living will” has been set forth by a number of governments. Stockholders and management would not be protected. Creditors would be at risk, and would suffer to the extent that the ultimate liquidation value of the firm would fall short of its debts.

To put it simply, in no sense would these capital market institutions be deemed “too big to fail.” What they would be free to do is to innovate, to trade, to speculate, to manage private pools of capital — and as ordinary businesses in a capitalist economy, to fail.

I do not deal here with other key issues of structural reform. Surely, effective arrangements for clearing and settlement and other restrictions in the now enormous market for derivatives should be agreed to as part of the present reform program. So should the need for a designated agency — preferably the Federal Reserve — charged with reviewing and appraising market developments, identifying sources of weakness and recommending action to deal with the emerging problems. Those and other matters are part of the administration’s program and now under international consideration.

In this country, I believe regulation of large insurance companies operating over many states needs to be reviewed. We also face a large challenge in rebuilding an efficient, competitive private mortgage market, an area in which commercial bank participation is needed. Those are matters for another day.

What is essential now is that we work with other nations hosting large financial markets to reach a broad consensus on an outline for the needed structural reforms, certainly including those that the president has recently set out. My clear sense is that relevant international and foreign authorities are prepared to engage in that effort. In the process, significant points of operational detail will need to be resolved, including clarifying the range of trading activity appropriate for commercial banks in support of customer relationships.

I am well aware that there are interested parties that long to return to “business as usual,” even while retaining the comfort of remaining within the confines of the official safety net. They will argue that they themselves and intelligent regulators and supervisors, armed with recent experience, can maintain the needed surveillance, foresee the dangers and manage the risks.

In contrast, I tell you that is no substitute for structural change, the point the president himself has set out so strongly.

I’ve been there — as regulator, as central banker, as commercial bank official and director — for almost 60 years. I have observed how memories dim. Individuals change. Institutional and political pressures to “lay off” tough regulation will remain — most notably in the fair weather that inevitably precedes the storm.

The implication is clear. We need to face up to needed structural changes, and place them into law. To do less will simply mean ultimate failure — failure to accept responsibility for learning from the lessons of the past and anticipating the needs of the future.

Paul Volcker, a former chairman of the Federal Reserve, is the chairman of the president’s Economic Recovery Advisory Board.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...