quinta-feira, 28 de junho de 2018

Indulging with myself: cumprimentos pela promoção - Paulo Roberto de Almeida (and others)

Cumprimentos recebidos (alguns poucos) e minhas respostas:

No seguimento de minha promoção tardia, recebi dezenas, talvez centenas de cumprimentos, pelos mais diversos meios ou ferramentas sociais: e-mails institucionais ou pessoais, mensagens via FB, WhatsApp, e telefonemas diretos. Tentei ser gentil com todo mundo, agradecendo a todos de maneira individual, mas não sei se consegui, uma por estar em viagem, absorvido inteiramente pelo Estoril Political Forum, um seminário de três dias intensos e completos, da manhã até a noite, depois por palestras em Lisboa, para pessoal das áreas do Direito e de Relações Internacionais. Se deixei de agradecer a alguém, peço desculpas, mas a multiplicação de mensagens e a diversidade dos modos de comunicação pode ter prejudicado o esforço empreendido, em meio a deslocamentos, mudança de hotéis, etc.
A maior parte das mensagens é puramente formal, o que é normal e esperado, outras são de amigos, e portanto suspeitos de afeição "indevida", mas algumas são de pessoas apenas conhecidas, e que revelam um conhecimento ainda maior de meus escritos do que de minha pessoa estrito senso. Essas, acredito, são as mensagens mais sinceras, que expressam, assim interpreto, o reconhecimento de meus trabalhos publicados, ou divulgados livremente em meus canais de informação, no processo de estudos ou até de formação pessoal em determinadas etapas de suas vidas respectivas, como candidatos à carreira diplomática, ou como jovens secretários.
Posto aqui algumas dessas mensagens (muitas se perderam na sucessão interminável, respondi por celular ou iPad) que me pareceram mais significativas.
Paulo Roberto de Almeida 
Lisboa, 28 de junho de 2018, 19:34

Indulging with myself (I):

Um amigo querido e um colega de carreira, mais jovem, escreveu-me o que segue abaixo, que eu me permito postar num leve deslize narcisístico. Respondi agradecendo e dizendo que perseveraria nos mesmos objetivos que têm sido os meus desde que me reconheço como trabalhador intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Estoril, 27/06/2018

“Caro Paulo Roberto,
Fiquei exultante com sua promoção, que retifica clamorosa injustiça contra um diplomata que tanto tem contribuído para promover a imagem da diplomacia brasileira, em especial nos círculos acadêmicos. 
Creio que o importante debate sobre política externa assumiu maior evidência e melhor qualidade, no últimos tempos, em parte graças ao admirável trabalho que você vem desenvolvendo, tanto na Funag como nas redes sociais. Eu gostaria muito de ter podido contar, nos anos iniciais de minha carreira e mesmo ainda como aspirante, com as observações inteligentes e honestas de um diplomata experiente. Eis um serviço inestimável que você tem prestado ao Itamaraty e à sociedade brasileira em geral.
Agora é curtir a nova etapa!
Abraço saudoso,
Xxxxxxxx”



New indulging with myself (II): 
Um colega mais jovem me escreve:
Prezado Paulo,
Fiquei muito feliz em ver a notícia de sua justa promoção. Corrige-se, com isso, grande injustiça. Sua atividade acadêmica e intelectual, porém, foi essencial para a construção da visão de muitos hoje jovens diplomatas, como o meu caso. Desde a época dos estudos universitários - RI na UnB -, acompanhava seu blog e lia atento a seus textos, que muito possibilitaram expandir minha visão sobre a política externa brasileira.
Um abraço,
Xxxxx
Ao que respondi o seguinte:
Muito grato pelas suas palavras meu caro, que muito me sensibilizaram. Vc acaba de justamente descrever todo o sentido dessa minha segunda profissão, talvez a primeira, que é a dedicação ao estudo e a interpretação dos mais interessantes temas de nosso interesse funcional, mas também intelectual. O grande abraço do PRA
A um outro que me escreveu nos seguintes termos:
Paulo,
Parabéns pela promoção. Pode tardar, às vezes, mas não falha a Casa no reconhecimento dos méritos e destaques da nossa confraria. Como os teus. Abraços.
Eu respondi o que segue:
Muito grato pela sua mensagem meu caro Xxxxx, mas sinto discordar: a Casa falhou, e muito. Nem me refiro ao aspecto político da coisa, pois foi pura mesquinharia e comportamento desprezível de quem foi responsável pela decisão de me vetar, não uma, mas várias vezes, tudo explicável pela canalhice normal do lulopetismo. Eu me refiro mesmo ao aspecto administrativo da minha “não existência”, algo kafkiano. Em todo caso, assim como atravessei silencioso esse novo exílio, totalmente involuntário, não pretendo personalizar
Coloquei no meu blog um texto interpretativo sobre os longos anos de travessia do deserto.
O abraço do PRA
Ele me pediu meu "texto interpretativo".
Mandei este link:
Duas pedras no meio do caminho... (a propósito de uma promoção tardia)”, Estoril, 26 junho 2018, 4 p. Esclarecimento a propósito de minha promoção tardia na carreira. Postado no blog Diplomatizzando(26/06/2018; link:  https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/duas-pedras-no-meio-do-caminho-paulo.html).
Mas, este é mais explicativo sobre o processo todo: 
“Como atravessar o deserto (e permanecer digno ao fim e ao cabo)”, Brasília, 18 dezembro 2016, 7 p. Divulgado no blog Diplomatizzando (24/06/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.html).

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Meus papers no Social Sciences Research Network - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de postar o meu "Tocqueville":

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De La (Non) Démocratie En Amérique (Latine): A Tocqueville Report on the State of Governance in Latin AmericaYes
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06/27/2018
06/27/2018
Paulo Roberto de AlmeidaUNDER SSRN REVIEWUnder Review by SSRN0  
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Regional Integration in Latin America: Historical Developments, Current Challenges, Especially in MercosurYes
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05/20/2018
06/03/2018
Paulo Roberto de AlmeidaDISTRIBUTED66  
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A Brazilian Adam Smith: Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the Beginning of the 19th CenturyYes
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05/19/2018
05/31/2018
Paulo Roberto de AlmeidaDISTRIBUTED168  
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Pobre Mexico: tao perto dos investidores estrangeiros, tao longe do desenvolvimento nacional - Delanceyplace (book excerpt)

Today's selection -- from Villa and Zapata: A History of the Mexican Revolution by Frank McLynn. 

In the early 1900s, under the policies of longtime Mexican president Porfirio Díaz, Americans owned three­ quarters of the mines and more than half of the oil fields in Mexico:

"[Porfirio Díaz led] a hard-driven programme of industrialisation. Iron and steel works were constructed in Nuevo León, textile mills in Veracruz, and there was a massive mining boom, especially of lead and copper, stimulated by new technologies for refining precious metals. Most of all there was oil, the black gold of the twentieth century. The first geological discoveries and drillings took place on the coast of the Gulf of Mexico at the turn of the century, making Tampico the new boom town. Oilwells were spudded in and production began in 1901. By 1910 Mexico was one of the world's leading producers and by 1918 was second only to the United States. Such was Díaz's myopia, however, that his 1884 mining code vested the ownership of subsoil rights in the proprietor of the surface land. Those who had acquired public lands at a giveaway price now found they had a second and much more lucrative bite of the cherry when petroleum was found on their territories.
"The porfirista policy according Pineda"
"This was the context in which foreign capital, already a leech on the Mexican economy, became a veritable octopus. It is doubtful if Díaz ever did say: 'Poor Mexico, so far from God, so near to the United States' -- it sounds too witty for him -- but he was aware of the truth contained in the remark. Viewing the Mexico stabilised at gunpoint by Díaz as an investment cornucopia, American capitalists flooded across the border. Among the famous names with substantial holdings south of the Rio Grande were Hearst, Guggenheim, McCormick and Doheny; Mexicans became familiar with the corporate identities of Standard Oil, Anaconda, United States Steel, and many others. Soon the Americans owned three­quarters of the mines and more than half the oil fields and they also diversified into sugar, coffee, cotton, rubber, orchilla, maguey and, in the northern provinces of Sonora and Chihuahua, cattle. Out of a total foreign investment of nearly three billion dollars in Mexico by 1910, the American share was 38 per cent, or over one billion dollars, more than the total capital owned by native Mexicans. In 1900 Edward L. Doheny acquired huge swathes of oil-rich Tamaulipas, near Tampico, complete with subsoil rights, for less than a dollar an acre. Once oilwells were installed, Doheny's plant could literally suck Mexican national treasure out of the ground, to the tune of 50,000 barrels a day, all completely tax­free except for an infinitesimal stamp duty.

"The Americans were not the only economic predators. The British (who still held 55 per cent of all foreign investment in Latin America as a whole), were well represented with 29 per cent of foreign investment in Mexico, mainly in mines, banks and oilwells. The great English entrepreneur in Mexico was Weetman Pearson, later Lord Cowdray, whose construction firm, Pearson & Son, had built the Blackwall Tunnel in London, the East River tunnel in New York and a number of railway bridges in Mexico. As a personal friend of Díaz, Pearson was able to cash in on the oil bonanza and obtained the rights to the Tuxpan fields in 1909; Díaz thought it a good idea to build up Pearson's oil company, Mexican Eagle, as a counterweight to Doheny and Rockefeller's Standard Oil. Eventually, Lord Cowdray (as he became in 1910) extended his business ambitions into Ecuador, Colombia and Costa Rica, exacerbating pre-existing Anglo-American tensions in Latin America and leading Washington to invoke the Monroe Doctrine.

"The Anglo-Saxon nations, though by far the biggest foreign investors, were not the only ones. The French, forgiven for their sins of the 1860s, were allowed to control the textile industry while the widely hated Spanish or gachupines dominated the retail trade and the tobacco plantations. All foreign capitalists were secretly resented to greater or lesser degrees -- the Spanish sometimes openly -- but Díaz rigged his judiciary so that in any dispute involving foreign companies and Mexican nationals, the foreigners would always get a favourable judgement. It was a standing joke that only gringos and bullfighters (another of Díaz's favourite groups) could get justice from a Mexican court. Nor did the foreigners endear themselves to the locals by their lifestyle and obvious contempt for Mexico and Mexicans. Disdaining to acquire Mexican citizenship, the expatriate community lived in splendid and luxurious isolation, repatriating profits and making sure their own nationals rode the privileged managerial gravy-trains. To all complaints about the exploiters in their midst Díaz returned the same answer: the foreigners were needed to make Mexico a modern nation, since the Mexicans themselves lacked the know-how."
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Villa and Zapata: A History of the Mexican Revolution
Author: Frank McLynn
Publisher: Basic Books
Copyright 2000 by Frank McLynn
Pages: 5-8

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Cronica dos eventos correntes - Paulo Roberto de Almeida

Anotações que fiz, literalmente out of the blue, voando de Brasília a Lisboa, quase uma semana atrás, e que justamente tinha ficado para trás, sem qualquer divulgação até o momento...
Paulo Roberto de Almeida 

Crônicas dos Eventos Correntes sobre as Coisas do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de junho de 2018


Crônicas de fatos correntes e não correntes, assim como sobre aventuras e desventuras dos tempos presentes, acompanhadas de relatos circunstanciados de eventos acontecidos e não acontecidos, relativos aos mesmos tempos, no todo e em tudo sempre associados a coisas do Brasil, e do seu mundo ao redor, por um observador, também narrador, mais ou menos objetivo, de todos esses fatos ocorridos ou imaginados, no registro que aqui se faz, mais vulgarmente denominado de Crônicas dos Eventos Correntes sobre as Coisas do Brasil.

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Em voo, Brasília-Lisboa, 21/06/2018

            Um filósofo social do século XXI escreveu uma vez que os homens fazem sua própria história, mas não a fazem conforme a sua própria vontade, e sim condicionados pelas circunstâncias que os cercam, pelo contexto político, econômico e social que é o deles, segundo a força do meio, do legado do passado, em grande medida forçados pelas condições nas quais estão imersos, limitados pelos recursos disponíveis, e atuando em conformidade com a inteligência de que são capazes. Não sei se ele disse exatamente isso, com palavras semelhantes, ou similares, mas é algo próximo disso que esse filósofo procurou expressar, numa obra que se tornou clássica, de análise política sobre a transição entre dois regimes, o primeiro, uma república periclitante, insegura, confusa, quase anômica, o segundo, um regime marcado por tendências autoritárias, personalistas, talvez populistas.
            Eu não costumo ser dramático inutilmente, não gosto de abusar das palavras, mas creio que todos concordarão comigo que o Brasil atravessa um dos piores momentos de sua história, nos quase duzentos anos de sua independência como nação, como Estado soberano. Eu não me refiro à recessão econômica, à maior crise de nossa trajetória republicana, um desarranjo econômico formidável, que nada tem a ver com uma alegada crise internacional, e sim foi construída inteiramente no Brasil, pela inépcia administrativa extrema, pela inacreditável corrupção a que fomos levados pelos governos que nos precederam até pouco tempo atrás. A Grande Destruição, que é como eu designo esse período negro de nossa história, foi totalmente produzida pela organização criminosa que comandou aos destinos da nação entre 2003 e 2016.
            Não, eu não me refiro a essa tremenda crise econômica, que ainda vai exigir muitos anos de duro trabalho de reconstrução, para tentar recompor as bases essenciais de funcionamento de nossa econômica. Eu me refiro, mais exatamente, à terrível crise moral que alcançou todos os poros da nação, à deterioração ética que se disseminou pelo tecido social e que percorre e impregna todos os estratos da sociedade, mas que atingiu sobretudo as chamadas elites do país, aparentemente todas elas corruptas.
            Este é o mais grave momento que atravessa o Brasil, e eu não costumo ser leviano com as palavras. Meus argumentos são em geral sóbrios, ainda que incisivos. Creio que nesta hora devemos nos unir em torno de três coisas: do Brasil, como nação, da racionalidade, como instrumento analítico, do Itamaraty enquanto ferramenta de ação. Devemos reconstruir as bases de funcionamento do país, ou o Brasil vai continuar sua lenta trajetória em direção do pântano da nossa desesperança, sua caminhada para a mediocridade econômica, para o declínio moral, e para o fracasso, como sociedade e como nação. 
            Nosso dever, neste momento, é o de ver claro quais são os desafios principais, para poder fazer um diagnóstico realista sobre nossa verdadeira situação, para depois empreender o duro caminho da reconstrução do país, uma tarefa que é sobretudo moral. Permito-me citar aqui as palavras de um estadista, a quem coube conduzir a nação numa das horas mais perigosas para a preservação de sua soberania: “O sucesso nunca é definitivo; o fracasso não é fatal; é a coragem de continuar que conta.”
            Vamos nos unir e lutar: primeiro, para ajudar a reconstruir o país; depois para manter nossa racionalidade em face de tantos desafios; em terceiro lugar, para preservar o Itamaraty enquanto instrumento de nossa ação coletiva.

Em voo, Brasília-Lisboa, 21/06/2018, 22:30hs.

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 (to be continued...)

terça-feira, 26 de junho de 2018

BNDES: parte indispensavel da corrupção lulopetista - Rubens Barbosa

Calote no BNDES


Falta uma comissão da verdade para apurar a farra dos empréstimos nos governos do PT

Rubens Barbosa, O Estado de S.Paulo
26 Junho 2018 | 03h00
A política de generosidade que os governos lulopetistas implementaram no Brasil de 2003 a 2016, regada a corrupção, beneficiou empresas nacionais amigas do governo do PT e financiadoras de muitos políticos. E, no exterior, governos autoritários de países ideologicamente afinados. A conta dessa farra com os recursos públicos, em grande parte advinda de fundo de assistência ao trabalhador, está sendo apresentada agora, com os sucessivos calotes sofridos pelo BNDES, obrigando o Tesouro a ressarcir o banco e honrar as garantias oferecidas aos empréstimos. 
Estranhamente, em 2012 o então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio assinou decreto impondo sigilo até 2027 sobre os empréstimos do BNDES, por coincidência, logo após a entrada em vigência da Lei de Acesso à Informação. Com renovadas suspeitas de corrupção cercando os empréstimos internos e externos do banco, em 2015 o Congresso aprovou decreto legislativo que suspendeu o sigilo, vetado de imediato pela presidente Dilma Rousseff. Só em julho desse ano um juiz federal, atendendo a pedido do Ministério Público, suspendeu o decreto de 2012. 
Levantada a barreira legal, o Tribunal de Contas da União (TCU) examinou 140 contratos de financiamento negociados com o BNDES para exportação de serviços, na quase totalidade obras de infraestrutura no exterior, sobretudo em países latino-americanos e africanos. Os 140 contratos analisados pelo TCU representavam financiamento de cerca de R$ 50 bilhões, dos quais 87% (R$ 44 bilhões) foram concedidos a cinco países: Angola (R$ 14 bi), Venezuela (R$ 11 bi), República Dominicana (R$ 8 bi), Argentina (R$ 8 bi) e Cuba (R$ 3 bi). Cinco empreiteiras, todas envolvidas na Lava Jato, receberam a quase totalidade (97% dos empréstimos: Odebrecht (R$ 36 bi), Andrade Gutierrez (R$ 8 bi), Queiroz Galvão (R$ 2 bi), Camargo Corrêa (R$ 2bi) e OAS (R$ 1 bi). Os riscos de inadimplência ficaram com o governo brasileiro. 
Embora os financiamentos se destinassem só aos itens exportados, o BNDES deixou de levar em conta a questão dos preços, alegando “dificuldade em certificar a compatibilidade dos projetos com os parâmetros e custos internacionais praticados nos países importadores”. A liberdade de fixar os preços ficou com as empresas brasileiras. Imagino que o BNDES tenha fiscalizado a real exportação dos equipamentos e produtos nacionais, mas não me recordo de essa informação ter sido divulgada e comprovada pelas estatísticas de comércio exterior com os países beneficiários. O TCU considerou ilegal desconto de US$ 68,4 milhões dado a Cuba, nos governos petistas, pelo BNDES para a construção do porto de Mariel, em decorrência da extensão por 300 meses da rebaixa de juros, quando para um país estrangeiro, dentro da lei, o período é de apenas 120 meses. 
Lula e Dilma renegociaram US$ 1,036 bilhão de dívidas, na quase totalidade, de países africanos. Desse volume, US$ 717 milhões foram perdoados (69,2%) do volume total das operações financeiras. Nos oito anos de governo Lula, foram perdoados US$ 436,7 milhões em dívidas de quatro países: Moçambique (US$ 315,1 milhões), Nigéria (US$ 84,7 milhões) Cabo Verde (US$ 1,2 milhão) e Suriname (US$ 35 milhões). No governo Dilma, US$ 280,3 milhões. 
Recentemente, os principais devedores, sem capacidade de pagar os empréstimos, começaram a suspender os pagamentos. Em setembro de 2017 a Venezuela deixou de honrar US$ 262 milhões e Moçambique, US$ 22,5 milhões. O que era esperado aconteceu. O governo, que garantiu os empréstimos pelo Fundo de Garantia à Exportação, teve de pedir ao Congresso um remanejamento de R$ 1,16 bilhão no Orçamento federal para cobrir esses calotes. 
As consequências na área política dessa orgia de empréstimos extravasaram nosso território e levaram líderes políticos da região a ser processados, alguns sendo mesmo presos. Somente com as apurações das propinas da Odebrecht foram investigados presidentes de Colômbia, Peru, Equador e Venezuela. Suspeitas existem em relação a governantes de Argentina, Guatemala, República Dominicana, Panamá, México e Chile. Para ficar apenas na América Latina. Se fôssemos incluir países africanos, a lista seguramente aumentaria. 
Em paralelo, a política de “campeões nacionais”, executada pelo BNDES, ajudou na internacionalização de algumas empresas nacionais, mas também deixou um rastro de questões mal explicadas e suspeitas. Recente trabalho publicado pela revista Época trata do caso “escandaloso da JBS”. Mensagens da cúpula do BNDES, reveladas na matéria, a partir de investigações da Polícia Federal, lançam suspeitas sobre aportes milionários a grandes empresas. Segundo o TCU, houve uma série de irregularidades nos aportes feitos à JBS. Os auditores contabilizaram ao menos R$ 400 milhões em prejuízo dos cofres públicos por esses negócios. Em 2008 o BNDES, via BNDESPar, emprestou R$ 1 bilhão à JBS para a compra de duas companhias americanas, a National Beef e a Smithfield. Nas investigações da Polícia Federal, a troca de informações entre funcionários graduados do banco revela indícios de suspeita de favorecimento não apenas à JBS, mas também em empréstimos à Odebrecht e à Bertin. 
Mesmo se critérios técnicos de exame desses empréstimos tenham sido seguidos, como repete o BNDES, houve, no mínimo, aceitação de pressão externa e política para a concessão desses empréstimos a países cuja saúde financeira era conhecidamente duvidosa. 
Está faltando uma comissão da verdade para apurar, com isenção e objetividade, a maneira como todos esses empréstimos foram autorizados pela direção do banco e se as condições incluídas nas cláusulas contratuais das empresas brasileiras foram cumpridas pelos beneficiados com recursos dos trabalhadores. 
*PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE)

Quae sera tamen...: a melhor homenagem que poderia receber - José Truda Palazzo Jr.

Nada me fez mais feliz, nesta manhã de 26/06/2018, do que ler está postagem meu cunhado e amigo ecologista:

Durante anos, no regime cleptocrata petralha, uma das mentes mais brilhantes da Diplomacia brasileira não desistiu do Brasil e seguiu criticando, denunciando e expondo as bandalheiras. A pena por tamanha ousadia, exacerbada esta pela cumplicidade muda de muitos barnabés temerosos por suas carreiras, foi ter sua meritória ascensão funcional postergada pelos vassalos canalhas da quadrilha mandante. E ainda que digam que cunhado não é parente, este em todo caso dá um imenso orgulho na gente. Parabéns, Embaixador Paulo Roberto de Almeida, pela carreira impecável, pela produção acadêmica e retidão intelectual invejáveis, e pela promoção merecidíssima!
José Truda Palazzo Jr.

Duas pedras no meio do caminho... - Paulo Roberto de Almeida

Duas pedras no meio do caminho...
(a propósito de uma promoção tardia)

Paulo Roberto de Almeida
Estoril, Portugal, 26 de junho de 2018
 [Objetivo: esclarecimento; finalidade: agradecimento pelos cumprimentos]


Eu costumo ser discreto em temas pessoais ou familiares, preferindo escrever (e muito, suponho) sobre todos aqueles assuntos “objetivos” que me são caros no plano das ideias, das leituras, das pesquisas, dos estudos e das aulas: o Brasil, seus problemas, nossa eterna incapacidade em escapar das travas de um subdesenvolvimento tão dispensável e evitável quanto são ineptas e corruptas nossas “elites”, sua economia destrambelhada — e agora em meio à pior recessão de nossa história, a que eu já chamei, depois da Grande Depressão e da Grande Recessão, de Grande Destruição lulopetista — suas carências educacionais, e vários outros assuntos no plano externo, de que me ocupo tanto por dever de ofício quanto por acidente de percurso: o fato de ter saído do Brasil muito cedo durante a ditadura militar, e de ter largado estudos universitários no segundo ano de Ciências Sociais para permanecer quase sete anos num autoexílio europeu, refazendo minha carreira acadêmica, antes de ingressar na diplomacia por puro acaso e estalo de um momento. 
Isso foi nos anos 1970, ainda sob o regime militar, quando também me casei com minha alma gêmea e companheira inigualável: Carmen Lícia Palazzo, que faz tudo melhor do que eu, inclusive lendo o dobro ou o triplo do que consigo. Na carreira diplomática continuei pelos anos e décadas seguintes, tendo sido muito feliz no plano profissional, no plano familiar e pessoal, acumulando experiência, conhecimento, mas dividindo-a com uma outra carreira, puramente acessória e voluntária, que me obrigou, mas por gosto, a multiplicar esforços de leituras e diminuir as horas de sono, de lazer ou de atividades “domésticas”: a atividade acadêmica, nos espaços, nos intervalos, nos interstícios de uma trajetória profissional que nos levou, e a nossos dois filhos, a passar metade da vida no exterior, num total de mais de quinze mudanças de casas e de países, onde nos levou o acaso e os convites de um percurso sempre fascinante pelas viagens que sempre fizemos, em busca de cultura, de conhecimento, de prazer artístico e gastronômico.
Foi bom enquanto durou, mas parafraseando Drummond, “tinha uma pedra no meio do caminho”, aliás não uma, mas duas, uma externa, outra “interna”. Esta segunda é o meu jeito anarquista de ser, buscando liberdade e autonomia de pensamento e ação numa carreira que se orgulha de dizer que é pautada por dois princípios que ela divide com a carreira militar: a hierarquia e a disciplina. Ora, eu sou o contrário de tudo isso, não respeitando nem uma nem outra, por absoluta independência de pensamento e um total desrespeito a essa chatice da hierarquia, em nome de uma racionalidade dos meios e dos fins, que me leva sempre a contestar as verdades estabelecidas — as “idées reçues”, como diria Flaubert — e a buscar o máximo de eficiência na seleção dos meios mais adequados aos objetivos propostos, em total autonomia e desrespeito a essas duas colunas vertebrais da carreira. Nisso eu acumulei alguns percalços na trajetória profissional, pois nunca hesitei em aderir àquela máxima de vida propagada por um poeta e compositor anarquista francês, Léo Ferré: “ni Dieu, ni Maître”, a ponto de um embaixador, o caro amigo Rubens Barbosa, me chamar — depois de mais uma dessas punições funcionais por publicar sem a devida autorização da “Lei da Mordaça” — de “accident-prone diplomat”, o que aliás muito me orgulha (não pelas punições, mas pelo fato de publicar sem autorização superior).
A primeira, a “pedra externa”, foi representada pela era companheira, que se estendeu de 2003 a 2016 no plano federal, durante a qual eu não tive nenhum, repito nenhum, cargo na Secretaria de Estado, permanecendo num exílio interno ao Brasil que durou exatamente o dobro de meu primeiro exílio no regime militar. Foram anos e anos de travessia do deserto, ao longo dos quais eu tive de fazer da Biblioteca o meu escritório de trabalho e do “lazer” inesperado passado no chamado DEC (Departamento de Escadas e Corredores) um tempo extremamente útil a meus estudos e pesquisas. Posso dizer, sem qualquer conhecimento de ato de ofício, que fui vetado a qualquer posto na estrutura funcional do Itamaraty, o que atribuo ao fato de, antes mesmo da ascensão dos companheiros ao poder supremo, já ter escrito sinceramente sobre a esquizofrenia do PT tanto em matéria de políticas econômicas quanto no terreno da política exterior.
Esse veto não foi buscado ou provocado por mim: no começo até escrevi positivamente sobre o novo regime e a nova política externa, tanto é que a máquina de propaganda do lulopetismo me pediu permissão para reproduzir um primeiro artigo no qual eu fazia uma comparação entre a diplomacia anterior e a deles. Depois de publicada essa comparação numa daquelas luxuosas revistas de autopropaganda na qual os companheiros torravam o dinheiro dos brasileiros, vim a descobrir que os desonestos tinham selecionado, de minha análise, apenas os pontos que lhes pareciam favoráveis, escondendo todos os demais que não eram, por assim dizer, exaltantes aos seus olhos.
O fato é que eu permaneci nesse exílio involuntário, com inevitáveis prejuízos para a minha carreira e as finanças pessoais, durante os exatos treze anos e meio do regime lulopetista — no que também vai uma dose de responsabilidade para o próprio Itamaraty —, só tendo sido chamado para exercer um cargo quando terminada a agonia final desse “período especial” pelo impeachment do quarto governo desse regime. Posso agora confessar que, ao longo desses anos todos, tive de recorrer diversas vezes a um subterfúgio que esperava não mais ter de praticar depois da redemocratização, ao final do regime militar: o ato de ter de escrever e publicar sob outros nomes. Ainda usando de uma imagem poética, posso dizer que, não tendo as qualidades de um Fernando Pessoa, também tive de fazer apelo a alguns heterônimos para dizer o que eu pensava do regime e das barbaridades que estavam sendo perpetradas contra o Brasil e os brasileiros, inclusive na profissão que era a minha, a diplomacia. Um dia vou escrever sobre isso.
Mas por que escrevo tudo isto agora, no meio da noite, num charmoso hotel tradicional do Estoril, onde também viveram hospedados alguns representantes de famílias reais europeias derrocadas em momentos diversos de uma atribulada “segunda guerra de trinta anos” no continente? Apenas porque, ao receber a notícia de minha ascensão ao último grau da carreira, passei a receber dezenas de mensagens de felicitações — algumas também de solidariedade, ainda que tardias — às quais não consigo responder devidamente e agradecer da melhor forma possível.
Fica aqui, portanto, o meu agradecimento, e esta singela explicação de uma cronologia estranha aos que não conheciam a minha trajetória funcional — com suas duas “pedras no caminho” —, prometendo apenas dar continuidade ao que eu sempre fui, ao longo de uma carreira basicamente dedicada aos livros, às leituras, às aulas e a muitas outras atividades intelectuais, dentro e fora da diplomacia: um anarco-diplomata e um escrevinhador, sem hierarquia e sem qualquer disciplina.
Grato a todos pelas demonstrações de afeto, carinho, interesse ou curiosidade. Acho que agora cumpri – também em horas tardias, e de uma maneira completamente anárquica, como é o meu costume – com meu dever de esclarecer a curiosidade e o interesse alheios, preenchendo, ao mesmo tempo, os deveres de um ofício infernal e duradouro: colocar sob forma escrita tudo aquilo que me parece memorável e digno de registro.Sou assim: tudo é motivo para uma tarefa de escrevinhação.
Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Estoril, 26/06/2018, 06:30


PS.: Dentro de poucas horas vou apresentar meu trabalho no Estoril Political Forum, organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Portugal e para o qual fui convidado pela segunda vez: “De la (Non) Démocratie en Amérique (Latine): a Tocqueville report on the state of governance in Latin America”, Brasília, 9 junho 2018, 41 p.”, já disponível em minha página nas plataformasAcademia.edu(link: https://www.academia.edu/s/a4cbf778cf/de-la-non-democratie-en-amerique-latine-a-tocqueville-report-on-the-state-of-governance-in-latin-america) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/325809199_De_la_Non_Democratie_en_Amerique_Latine_A_Tocqueville_report_on_the_state_of_governance_in_Latin_America)


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...