O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Jose Mujica na ONU: um duscurso economicamente ingenuo, mas sincero

Comentário inicial de Mauricio David:

O discurso do presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica na Assembléia da ONU: “Sim, é possível uma humanidade melhor” - deixa os brasileiros morrendo de inveja...
José Mujica é um presidente sui-generis na nossa América Latina, quiçá no mundo. Homem modesto, preferiu deixar de viver no Palácio Presidencial, em Montevidéu, para continuar a viver em sua pequena e modesta chácara nas cercanias de Montevidéu, junto da sua companheira de décadas, atualmente Senadora da República.  Guarda presidencial ? Dois ou três policiais apenas... Enquanto isto, no Brasil... Os presidentes circulam com um imenso séquito de carros de segurança, carro de bombeiros, ambulância, helicópteros sobrevoando o cortejo... Quando eu trabalhava no BNDES, vi diversas vezes a chegada destes cortejos quando o Lula ou a Dilma vinham a alguma cerimônia no Banco. Parecia o Palácio de Buckinghan circulando sobre rodas...E até o Vice José Alencar ( embora apenas Vice...) circulava com um cortejo assim... Que desperdício de recursos públicos, quanta ostentação...
Enquanto o presidente Mujica abandona os palácios e vai viver em sua modesta casa de campo, aqui no Brasil a nossa Presidenta convida uma tia para viver no Alvorada... A nossas custas...Sem contar a sua filha Paula que pega uma carona em suas viagens presidenciais, especialmente quando são para Roma, Nova York e outros lugares interessantes... Quem fica tomando conta do pequeno Gabriel ? Certamente não o avô Carlos Araújo...
Depois do vexaminoso discurso da Dilma na Assembléia Geral da ONU, lendo com gestos de atriz de teatro mambembe um discurso mal alinhavado, que inveja nos dá poder ler o belo discurso do Pepe Mujica na mesma reunião... Ter um bom Presidente faz toda a diferença...
Transcrição do discurso do presidente Pepe Mujica na ONU :

Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negatica e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra cuando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.
Gracias.

EUA: loucuras economicas no seculo 20 - livro de Burton A. Abrams


A Century of Government Blunders

The Terrible 10: A Century of Economic Folly
The Independent Institute, 27/08/2013

The U.S. economy made impressive gains in the 20th century, but this progress makes it easy to forget a harsh reality: Americans were also the victims of disastrous government policies that cost trillions of dollars in wasted resources, created mass unemployment, and kept millions in poverty who otherwise could have participated in the nation's growing prosperity. Government decision-makers, regardless of political party, have tended to favor short-run benefits for friends while imposing costs on current and later generations. The ten worst blunders divide equally among Democrats and Republicans. The Terrible 10 also provides key lessons to help us avoid repeating such policy mistakes in the future.

Contents:
  1. Prohibition: The War on Booze
  2. Monetary Policy During The Great Depression: How to Turn a Recession into a Depression
  3. The Hawley-Smoot Act: Holy Smoke, We Started a Trade War!
  4. Social Security: America's Greatest Ponzi Scheme?
  5. Tax Follies: The 91-Percent Solution
  6. Medicare and Medicaid: Unsustainable Promises
  7. The Nixon-Burns Political Business Cycle: How to Create a Decade of Inflation
  8. Environmental Mismanagement: How to Make a River Burn and Other Magic Tricks
  9. Government Failure and The Great Recession: Turning the American Dream into a Nightmare
  10. Decades of Deficits: The Real Red Menace

The Terrible 10
A Century of Economic Folly

Highlights
  • Politicians and bureaucrats foisted a host of costly and destructive economic blunders on Americans this past century. The worst include: Prohibition; the Great Depression; a global trade war that helped spark World War II; a complex and wasteful tax code; pay-as-yougo entitlements that discourage saving; inflation and political business cycles; environmental mismanagement; the Great Recession; and decades of deficits. These disasters resulted from policymakers doing one or more of the following: (1) caving in to special-interest groups; (2) treating adult citizens like they’re the government’s children; (3) allowing electoral majorities to take advantage of the rest of society; (4) obsessing about the short run (what Burton A. Abrams calls immediosis); (5) choosing to stay ignorant about the deeper ramifications of government policies; and (6) rationalizing bad policies on the grounds of their “plausible acceptability.” 
  • Without a doubt, the worst economic mistake of the past one hundred years was the Federal Reserve’s handling of the Great Depression. The U.S. economy was hit so hard in the early 1930s that even if the nation’s central bank deserves only a modest portion of the blame (and that’s a big if ), it would still be responsible for trillions of dollars in lost output. Consider a thought experiment: Suppose the Fed deserves blame only for the portion of unemployment above 10 percent in the years 1931 to 1935. That amount of joblessness alone caused an estimated 23 percent decline in production and income—a loss of $15.5 trillion over five years!
  • The Hawley-Smoot Act of 1930 imposed an average tariff rate of 53 percent and thereby hiked up consumer prices, ignited a retaliatory trade war, and intensified the Great Depression, making this protectionist legislation among the costliest economic blunders in U.S. history. Due partly to the trade war sparked by Hawley-Smoot, by 1933 world trade had fallen 67 percent. The trade barriers also helped set the stage for World War II.
The conversion of Social Security from a “full service” retirement program to a pay-asyou- go system in 1939 is perhaps the worst of several bad decisions associated with the plan. This blunder permitted the government to postpone increasing taxes to pay for the program and enabled several increases in unfunded benefits. From 1960 to 2011 the program’s outlays as a share of GDP rose from 2.4 percent to 4.8 percent, and they’re expected to reach 6 percent around 2030. By then the ratio of workers to retirees—which has hovered around 3.2 since the early 1970s—is expected to have fallen 35 percent to around 2.1. This mismatch will require future tax hikes, cuts in benefits, and/or more government borrowing to cover the shortfall. Worst of all is Social Security’s damaging effect on savings and investment: by weakening people’s incentives to save for retirement the program has reduced the amount of funds available to borrowers for private investment and wealth creation and has thereby hampered economic growth. As hard as it may be to imagine, Medicare presents an even worse threat to the nation’s fiscal health.

Synopsis
The U.S. economy made impressive gains in the 20th century, but this progress sometimes makes it easy to forget a harsh reality: Americans were also the victims of disastrous government policies that wasted resources, created mass unemployment, and kept millions of people in poverty who otherwise would have participated in the nation’s growing prosperity. A strong case can even be made that the success of the U.S. economy cannot be fully understood unless the story of these abysmal policy failures is told.
The Terrible 10: A Century of Economic Folly, by University of Delaware economics professor Burton A. Abrams, tells this story.
The Terrible 10 takes both political parties to task to show the causes and consequences of their worst policy mistakes. Leading the list of causes is that government decisionmakers, regardless of political party, tend to favor short-run benefits for friends—especially major campaign contributors and special-interest groups—while imposing costs on the rest of us or imposing the costs on later generations. The ten worst blunders therefore divide equally among Democrats and Republicans.
The Terrible 10 provides more than an identification of the worst policies. It provides lessons to help avoid repeating such blunders and for developing policies that might extricate us from the lingering costs that those wasteful policies spawned.

Worst Economic Blunders of the Past Century
The book begins with an introduction laying out key factors that have motivated politicians and bureaucrats to enact destructive laws and edicts. With those preliminaries out of the way, the book proceeds more or less chronologically, with a chapter-bychapter look at the past century’s worst economic blunders. The book concludes by offering guidelines to improve government decision-making.

Prohibition
Ratified in 1919, the 18th Amendment reflected the desire of a minority of Americans to impose their views of morality and the proper lifestyle on the majority. The effort failed miserably. In hindsight, most Americans—and especially those who lived through it—probably view Prohibition as a bizarre, foolish, and even dangerous experiment: a massive, precedent-setting governmental intervention in personal freedom, a waste of our national resources, a loss of an important source of tax revenues, a boon to criminals, a corrupting influence on public officials, and an encouragement to otherwise law-abiding citizens to disregard and disrespect the law. Prohibition produced many more costs than benefits and clearly belongs among the ranks of the worst economic interventions of the last 100 years.
The War on Drugs has had the same sort of unintended and undesirable consequences that Prohibition had, and it has failed for exactly the same reason: government officials cannot stop people from engaging in mutually agreeable exchanges. They may reduce the extent of such exchanges with harsh penalties, but they won’t stop them. Efforts to stop such exchanges will spawn many unintended and undesirable outcomes.

Monetary Policy During the Great Depression
The Federal Reserve Act of 1913 was created to resolve a problem: frequent banking panics, or widespread runs on banks, that plagued the U.S. economy. The Act created a central bank—the Federal Reserve System—which was expected to eliminate them. But the biggest banking panic in U.S. history was in the making, and the Fed did little or nothing to prevent it. What would have been a recession was turned into the Great Depression. The Fed’s failure to act decisively was one of the most costly economic policy errors to have been made in the past 100 years.

The Hawley-Smoot Act
In an unprecedented show of unanimity, over 1,000 economists from the United States signed a letter urging Congress and President Herbert Hoover to reject the Hawley-Smoot Act. Their warning went unheeded. The Act touched offa trade war, intensified the Great Depression, and helped set the stage for World War II. The Act and the story of its passage highlight Congress at its worst in pandering to special interests. More than fifty years after its passage, President Ronald Reagan referred to the Republicansponsored Act as “the most destructive trade bill in history.”

Social Security
The pay-as-you-go government program originally was designed to have a “full reserve,” but members of Congress couldn’t keep their fingers out of the cookie jar. The result is the second largest Ponzi-type scheme sponsored by the U.S. government (Medicare is the biggest). Social Security has contributed to de-capitalizing the economy by substituting government promises of retirement income obtained through taxation in lieu of income that would have been obtained from private-sector savings. The Social Security program is a non-transparent welfare program that redistributes enormous amounts of wealth, often in ways that most Americans would find undesirable.

Tax Follies
The 16th Amendment to the Constitution, passed in 1913, made the income tax a permanent fixture of the U.S. tax system. The first personal income tax was quite simple: three pages of forms and one page of instructions. Income taxes today are excessively complicated, non-transparent, and costly. There are now over 500 separate tax forms and over 7,000 pages of taxpreparation instructions. In 2009, the IRS estimated there were between 900,000 and 1.2 million paid tax-preparers to help hapless taxpayers through the morass of tax rules. Worse yet, the income tax hides over a trillion dollars in hidden subsides that distort economic decision-making and produce economic waste. Reforming our wasteful tax system remains a difficult-toachieve goal as entrenched special interests fight hard to resist change.

Medicare
The pay-as-you-go health insurance program for retirees, unlike Social Security, was not designed to have a full reserve. In fact, Bess and Harry Truman received the first Medicare cards despite never paying any taxes into the program. Today, the program is the single worst Ponzi-type scheme in the government’s arsenal. It is $20 trillion to $30 trillion dollars in the red and is in far worse shape than Social Security. This chapter sheds light on the extent of the transfers and the impending crisis in financing the program.

The Nixon-Burns Political Business Cycle
The Nixon tapes, secret recordings made in the White House, reveal how Richard Nixon pressured Federal Reserve Chairman Arthur Burns to overheat the U.S. economy prior to Nixon’s reelection bid. Acting against his better judgment, Burns caved in to Nixon’s lobbying and set the stage for a decade of inflation that required three recessions to extinguish. The tapes reveal how the Fed’s independence can be compromised for political gain and why the power of the Fed’s printing press must be kept out of the reach of politicians.

Environmental Mismanagement
The failure to take into account pollution costs in the pricing of various goods leads to the production of goods that are worth less than their costs. Economists generally agree that some type of environmental regulation is needed to correct market failures arising from producers and consumers neglecting the costs of pollution. And often they’ve assumed that once a market failure was identified, the government would take the appropriate corrective actions.
When they’ve investigated regulatory behavior, however, they’ve discovered that government regulations all too often failed to correct market failures and all too often created market failures of their  own. Wasteful environmental regulations are the rule, not the exception. And usually they benefit special-interest groups while harming the society at large. This chapter highlights the problem with two case studies: a proposed “clean coal” power plant for northern Minnesota and the federal ethanol mandate.

Government Failure and the Great Recession
The busting of the real estate bubble beginning in 2006 sent the U.S. economy into a tailspin. This chapter reveals the government’s role in fostering the bubble. The Great Real Estate Bubble was nourished by paternalistic policies, fostered by both Democrats and Republicans, to engineer a better society by greatly expanding home ownership, especially to the young and lower income groups. In contrast to government’s role in Prohibition, government became a “pusher” during the housing bubble. The government’s “policy drugs” hooked millions of lower-income Americans on homeownership, indebtedness they could ill afford, and eventual bankruptcy. The economic damage done to the young and less fortunate added another cruel dimension to the economic catastrophe.

Decades of Deficits
The rapid and unprecedented peacetime run-up in the nation’s public debt, begun at the turn of the 21st century, threatens to sink the U.S. economy. Unlike the situation following World War II, paying down this debt will be much more difficult due to expected increased outlays for entitlements as the baby-boomers begin to retire. At the very least, the burden of the public debt will slow economic growth and raise the normal unemployment rate. This chapter explains why irresponsible deficit spending is one of the terrible ten.

Can Government Governance Be Improved?
The final chapter reviews the causes of bad policies and makes suggestions for improving the institutional setting in which policymaking takes place. The task of improving government governance is possible but daunting.

Desigualdade no mundo: como os paises se comparam - Max Fischer (WP)


Map: How the world’s countries compare on income inequality (the U.S. ranks below Nigeria)

 The Washington Post Blog: FRIDAY, SEPTEMBER 27, 6:30 AM ET
Bluer countries have better income equality. Redder countries are more unequal. Data: CGDev, DIIS. (Max Fisher/The Washington Post)
The way we measure income inequality is changing. After years of relying on a complicated metric called the Gini coefficient, some economists argue that we should adopt the Palma ratio, which measures the gap between the rich and the poor in a society. My colleague Dylan Matthews explains how the Palma works and why it might be superior (more on that below).
In the map up top, I've illustrated the latest data on income inequality around the world, as measured by the Palma. The results are pretty revealing. Bluer countries have greater income equality, according to the metric, meaning that there's less of a gap between the rich and the poor. Redder countries have more income inequality, meaning that there's a wider gap. Purple countries are about in the middle -- that includes the United States, which is the most unequal of any developed country measured.
The countries that come out looking best include, no surprise, the usual suspects of Northern Europe. Interestingly, Eastern Europe scores quite highly as well, as do some post-Soviet countries in Central Asia. Perhaps that's a legacy of Soviet-era social programs meant to flatten class divides. But it's also a reminder that, while economic equality is great, it's not synonymous with a healthy economy. Some countries are economically equal because everyone is well-off, as in Denmark, and some because most everyone is equally poor.
The countries with the highest income inequality are, by far, those of Latin America and the southern tip of Africa. These countries have been seeing economic growth over the past few decades, but much of the wealth ends up funneling into the top stratospheres of society. This problem tends to be self-reinforcing: The rich are able to secure better education and political access, making it easier for them to stay rich and tougher for everyone else to get a share of the pie.
The United States doesn't come out of this comparison looking great. It's ranked 44th out of 86 countries, well below every other developed society measured. It's one spot below Nigeria, which has some of the worst political corruption in the world and in 2012 saw nationwide protests over perceived income inequality. The United States' Palma ratio ranks it just beneath Nigeria but above Russia and Turkey -- all countries that have experienced heavy political unrest in recent years.
The data offer a reminder that the United States might enjoy greater economic equality than much of the world, but it is at the bottom end of the developed world. And the Palma ratio actually shows the United States in a more positive light than does the Gini coefficient, which ranks it even lower. To get a better sense of how the United States compares to the rest of the world, here's a map that shows all other countries just relative to the United States. Blue countries are more equal than the United States, red countries are more unequal:
Blue countries have better income inequality than the U.S., red countries worse. Data: CGDev, DIIS. (Max Fisher/The Washington Post)
Here's the story with the Palma ratio, which gave us these data. Two economists with the Center for Global Development, Alex Cobham and Andy Sumner of King's College London, make the case for the Palma in a recent paper. They explain that it's much more elegant than the Gini coefficient and better suited at comparing the rich and the poor. The Palma simply compares the richest 10 percent of people with the poorest 40 percent. Their report provides the data mapped out above, supplemented with some numbers from the Danish Institute of International Studies.
Here's a video Cobham and Sumner produced to explain how the Palma ratio works and why they think it's better:

O besteirol da semana: ONU reitera que o homem aquece o planeta

ONU reitera que o homem aquece o planeta 

O novo estudo que o IPCC, o braço científico das Nações Unidas, divulga hoje mundialmente irá confirmar que o planeta está se aquecendo, que o nível do mar está subindo e subirá mais ao longo deste século, que as geleiras continuam diminuindo, que as secas e grandes chuvas serão mais frequentes - e que os cientistas têm ainda mais convicção que a responsabilidade por tudo isso é do homem. Os céticos a este argumento, porém, mal esperaram o documento ser lançado para criticar o trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, mais conhecido pela sigla em inglês IPCC. 

Comentário PRA: 
A solução é simplérrima: elimine-se o homem...
Pela sugestão: 
Paulo Roberto de Almeida 

Bolivarianos: o corredor autoritario da America Latina - Alvaro Vargas Llosa (Veja 45 Anos)

VEJA 45 anos

O corredor autoritário

Financiada pelo dinheiro do petróleo, a “revolução bolivariana”, liderada pelo venezuelano Hugo Chávez, expandiu o populismo na América Latina - e evidenciou a fragilidade da liderança brasileira na região

Álvaro Vargas Llosa
AGENDA DE DESPACHOS - Chávez no Palácio de Miraflores, em Caracas (2002): pretextos para virar a mesa das instituições democráticas
AGENDA DE DESPACHOS - Chávez no Palácio de Miraflores, em Caracas (2002): pretextos para virar a mesa das instituições democráticas    (Lindsey Addario)

UM PROJETO DE DESESTABILIZAÇÃO

12 de março de 2008

Principal patrocinador político e financeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o então presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) disparou uma série de ameaças contra o governo de Álvaro Uribe depois que este ordenou um ataque aéreo contra um acampamento dos terroristas instalado na selva equatoriana. No bombardeio, acabou morto o segundo nome na hierarquia da organização, Raúl Reyes, de quem o líder venezuelano era amigo. Todo o barulho feito por Chávez em cima do episódio, destacou VEJA, tinha um só objetivo: promover uma escalada militar na região. Os avanços da Colômbia na guerra contra o narcoterrorismo minavam o projeto de desestabilização dos governos democráticos do continente alimentado por Chávez.
TRECHO: “Sob a fachada da solidariedade bolivariana, Chávez busca estabelecer relações de dependência com os vizinhos. Na Bolívia, ele financiou a carreira de seu clone, Evo Morales. Rafael Correa é grato pelo petróleo equatoriano que a Venezuela refina a preços camaradas. (...) Chávez identifica na Colômbia o maior obstáculo a seu plano de expansão da revolução bolivariana, especialmente na América do Sul. O país é uma democracia, usufrui economia próspera e se tornou aliado-chave dos Estados Unidos. (...) A Colômbia é exatamente o contrário de tudo aquilo que Chávez acredita e defende.”
Com a chegada de Hugo Chávez ao poder, nasceu a nova variante do autoritarismo latino-americano. Conhecida como “revolução bolivariana” e “socialismo do século XX”, ela tem quatro características: a revolução como pretexto para derrubar as instituições republicanas; a receita energética, sistema que, em vez de aumentar a produção das riquezas do subsolo, as descapitaliza e malbarata na conquista de clientelas eleitorais; a compra de in-fluên-cias externas para estender seu modelo aos muitos países que optaram pela via razoável; e, por último, a intenção de fazer da China um salva-vidas internacional que resolva todos os seus problemas.
Durante alguns anos, a sorte pareceu sorrir para o populismo de Venezuela, Equador, Bolívia, aliados íntimos, e Argentina, um amigo próximo. Isso se deveu à bonança das commodities e ao uso de ingressos fiscais extraordinários (1,4 bilhão de dólares desde 1999 na Venezuela) para melhorar a qualidade de vida de uma ampla clientela social e política no curto prazo.
A Venezuela viu o preço do petróleo subir de 8 dólares o barril para três dígitos e utilizou 1 de cada 4 dólares das vendas do gigante petrolífero PDVSA para fazer populismo. A Bolívia, graças ao gás, que só requeria abrir as válvulas, viu sua arrecadação fiscal triplicar em sete anos (os Estados Unidos precisaram de quarenta anos para triplicar a sua). Assim como a Venezuela, a Bolívia pôs parte dessa bonança a serviço do populismo. Alguns países populistas, como a Argentina, registraram nesses anos, graças à soja e aos grãos, taxas de crescimento econômico de 8% em média. Não estranha, portanto, que, nos anos que precederam o fim da bolha mundial, nesses países da esquerda carnívora se registrasse uma queda da pobreza.
Mas a miragem acabou. A elevação meteórica dos gastos públicos, o aumento artificial da demanda, as expropriações e o ambiente agressivo contra o capital, a insegurança jurídica permanente e a retórica antiempresarial incendiária, tudo isso no contexto de uma ofensiva contra a democracia, só poderiam conduzir aos resultados que vemos hoje: inflação, desequilíbrio das finanças do estado, descapitalização da economia, taxas de crescimento muito fracas e muita corrupção.
A produção de petróleo da Venezuela passou de 3,5 milhões de barris diários para 2,6 milhões. O Equador produz 40 000 barris a menos por dia e a Bolívia viu evaporar metade das reservas de gás natural, equivalentes a 4% de seu PIB, em parte desde a nacionalização. A arrecadação fiscal desses países já não consegue financiar seu populismo.
O investimento privado foi a pique e, com ele, a taxa de investimento geral. Na Bolívia, hoje, a principal fonte de investimento é o estado: o investimento público é muito superior ao investimento privado nacional, que não chega a 5% do PIB, e ao estrangeiro. No Equador, o valor do investimento estrangeiro acumulado caiu 40% durante o atual governo. A economia argentina, com escassíssimo investimento externo, cresceu apenas 2% no total em 2012. Para compensar a fuga de capitais e a queda acelerada das reservas, a Argentina estabeleceu controles que não eram vistos na América Latina desde Salvador Allende no Chile. O resultado de tudo isso é o sofrimento dos proletários e o fortalecimento dos grupos de poder próximos dos governos: no caso da Venezuela, a “boliburguesia”.
Mas as consequências do populismo “bolivariano” não são apenas as que estes povos padecem. Elas atingiram também a região em seu conjunto. Eu diria que foram três.
Primeiro, a submissão política de vários governos dependentes do petróleo venezuelano, o que se refletiu nos organismos hemisféricos, a começar pela Organização dos Estados Americanos, onde a influência chavista foi desproporcional. A aliança entre Venezuela e Cuba controlou a política exterior de dezoito países por meio do mecanismo Petrocaribe, que permite ao Caribe e à América Central adquirir petróleo muito barato, e da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América).
A segunda consequência: tornou-se muito difícil para as nações em melhor situação, como as da Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru), exportar seu modelo para a região. Agora que o boom das matérias-primas terminou, as implicações são evidentes: muitos países da região não estão preparados para o que vem aí. Isso para não mencionar que a batalha pela democracia liberal sofreu um retrocesso.
A terceira consequência: a fragilidade da liderança do Brasil na América Latina (por sua vez, o vazio deixado pelo país ajudou a facilitar a projeção excessiva dos “bolivarianos”). Lamentavelmente, a potência sul-americana não quis assumir a liderança para promover um consenso regional sobre as benesses da democracia, da economia de mercado e da globalização. Brasília preferiu deixar que os países governados pela esquerda radical tivessem a iniciativa regional. Agora é tarde porque o Brasil se desacelerou economicamente e perdeu parte do brilho internacional que tinha.
Como outras modas autoritárias, a dos “bolivarianos” passará. Mas sua contribuição para o subdesenvolvimento de vários países não deve ser esquecida.
Álvaro Vargas Llosa, peruano, é escritor e jornalista, autor de numerosos livros sobre economia política. Foi nomeado Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico de Davos e eleito pela revista Foreign Policy um dos cinquenta intelectuais mais influentes da Ibero-América em 2012
Para ler outras reportagens, baixe gratuitamente a edição comemorativa de VEJA no IBA ou no tablet.