O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 8 de janeiro de 2017

Obama Years: a selection from the New Yorker - para admiradores e opositores

Não sou um "obamista" convencido, apenas um observador crítico dos seus anos na presidência da nação mais poderosa (mas isso não é importante) e a mais inventiva (isso sim é importante, mas os chineses veem atrás), do planeta, ainda e talvez por muitos anos no horizonte previsível. O balanço que faço dos seus anos, independentemente do que diga a New Yorker, é globalmente positivo. Um homem digno, uma mulher mais digna ainda, que tornaram os EUA melhores do que aquele país destruído pela ignorância política, pela irresponsabilidade econômica (e em política externa) de Bush filho.
Não vamos esquecer isso: em 2008, os EUA eram uma nação em frangalhos, e Obama devolveu um país melhor do que aquele que recebeu, e isso é indiscutível.
A força de Obama não está propriamente nele (ainda que seja, sem dúvida alguma, uma personalidade cativante, um espírito superior), e sim no povo americano, inclusive branco (ou seja, potencialmente praticante "natural" do Apartheid que ainda existe naquele país) que o elegeu, junto com os negros, que o consideraram que ele seria a sua (dos negros) salvação, o que ele não foi. Ele preferia acreditar na responsabilidade invidudual, o que acho que está certo: políticas de ação afirmativa podem melhorar a sorte de alguns, mas não são elas que vão melhorar a condição social de toda uma fração da população que foi, sem dúvida alguma, tremendamente maltradada pelos brancos majoritários. Mas, as políticas de ação afirmativa estão estacionando muitos negros no mesmo lugar, e os próprios negros deveriam recusá-las, arregaçar as mangas e estudar, estudar, estudar...
Como eu disse várias vezes, Obama faria um bom socialista europeu, empenhado em políticas moderadamente distributivistas, reguladoras (do grande capital, obviamente) e "justas" (com esse sentido de "justiça social" que só um socialista europeu possui).
Isso é verdade, mas é também verdade que o mesmo povo (OK, diferentes estratos dele) que lhe deu a vitória em 2008, agora dá a vitória a um fanfarrão, um sujeitinho execrável, mentiroso, ignorante, autoritário, enfim, um grande idiota, como é o Trump (Paul Krugman, de quem não sou particularmente fã, em sua fase publicista de esquerda, ainda que tenha admirado alguns de seus livros de economista, acaba de referir-se ao Trumpistão, em construção nos EUA).
Acredito que pessoas educadas sejam, em primeiro lugar, pessoas abertas à leituras de todos os tipos, mesmo de um magazine típico da intelectualidade novayorkina de esquerda como é o New Yorker, de esquerda, mas inteligente, como digo sempre...
Esta é a seleção deste domingo sobre os Obama years. Vamos ler, e aguardar o que vem por aí em torno desse sujeitinho lamentável que toma posse em 12 dias...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Não vou julgar o Trump pelo que ele diz (e tudo é horrível no que ele diz), mas pelo que ele fizer, efetivamente.

The New Yorker
A selection of stories from The New Yorker’s archive

The Obama Years
The election of Barack Obama suggested—and still suggests—that our country is capable of changing for the better in fresh, unexpected ways. This week, we bring you pieces that measure the transformations his Presidency both reflected and ushered in. In “The Conciliator,” written in 2007, Larissa MacFarquhar introduces us to Obama the Presidential candidate, a man who “has staked his candidacy on union—on bringing together two halves of America that are profoundly divided.” In “The Other Obama,” written the next year, Lauren Collins profiles Michelle Obama, who “chafes at being asked to make herself seem duller and less independent than she is.” In other, later pieces, Jelani Cobb reflects on what the Obama Presidency has meant to African-Americans, Ryan Lizza surveys the President’s foreign policy, and Jeffrey Toobin assesses his judicial legacy. Finally, in a piece based on interviews conducted before, during, and after Donald Trump’s election, I speak with the President about what he has accomplished—and what remains to be done—in the project to build a better America.
—David Remnick

The Conciliator
Obama’s aunt told him that his father had never understood that, as she put it, “if everyone is family, no one is family.” Obama found this striking enough so that he repeated it later on in his book, in italics: If everyone is family, no one is family. Universalism is a delusion. Freedom is really just abandonment.
BY LARISSA MACFARQUHAR
 
The Other Obama
It’s not that Michelle Obama doesn’t know the anodyne, wifely things to say (essentially, nothing). She is, after all, a “community and external affairs” professional. But her pride visibly chafes at being asked to subsume her personality.
BY LAUREN COLLINS

The Consequentialist
Most of the foreign-policy issues that Obama emphasized in his first two years involved stepping away from idealism. In the hope of persuading Iran’s regime to abandon its nuclear ambitions, Obama pointedly rejected Bush’s “axis of evil” terminology.
BY RYAN LIZZA

Barack X
The net result of this awkward balancing act is that Obama’s Presidency appears like a type of infidelity: married to America at large but conducting an affair with black people. As such, he speaks to us most often in veiled dispatches and surreptitious winks.
BY JELANI COBB

The Obama Brief
I asked President Obama to name the best Supreme Court decision of his tenure. When the Court upheld the constitutionality of the Affordable Care Act, in 2012? When it struck down the Defense of Marriage Act, a year later? Neither, it turned out.
BY JEFFREY TOOBIN

It Happened Here
Although Obama and his people admit that the election results caught them completely by surprise—“We had no plan for this,” one told me—the President sought to be reassuring. “This is not the apocalypse,” Obama said. History does not move in straight lines; sometimes it goes sideways, sometimes it goes backward.
BY DAVID REMNICK

Mercados são racionais, agentes economicos sao racionais? Uma conferencia em Antuerpia

Recebo, da Sociedade de Historiadores da Economia à qual subscrevo, um "call for papers" para uma conferência em Antuérpia (cidade onde morei e fiz o meu mestrado) sobre a "Racionalidade na Economia", cuja explicação transcrevo mais abaixo.
Trata-se de um encontro entre acadêmicos, para acadêmicos, o que não impede que algumas das propostas de acadêmicos acabem convencendo políticos, ou conselheiros do Príncipe, e se convertendo em propostas de políticas concretas, de Estados ou organizações internacionais.
A OCDE, por exemplo, é supostamente um "templo" da racionalidade econômica, com seu exército de economistas e funcionários ministeriais dos governos dos países membros, todos eles motivados por diagnósticos realistas -- ou seja, racionais -- capazes de se traduzirem em políticas públicas "racionais". O mesmo deveria ocorrer, supostamente, com a Comissão de Bruxelas, supostamente (é preciso insistir no termo) aconselhando os governos a adotarem as políticas mais racionais, para a felicidade geral dos povos.
Trata-se de uma arrogância intelectual enorme, na qual tecnocratas supostamente (sempre) mais instruídos do que a média da população propõem políticas "racionais" para construir o bem estar e a felicidade dos povos. E quando os povos rejeitam suas soluções "racionais" os políticos ignoram isso e os tecnocratas tentam outra vez, até conseguirem implantar suas propostas "racionais" de algum jeito.
Esse é um dilema eterno, o conflito entre os "instintos primitivos" de simples cidadãos, agentes primários de mercados difusos, e a suposta expertise de "iluminados" burocratas, que assessoram aqueles que realmente fazem o casamento entre as partes: as vontades dos cidadãos (com todas as mentiras e a demagogia que isso implica por parte dos políticos) e a assessoria "esclarecida" dos tecnocratas que servem a esses "representantes" do povo.
Termino por aqui, apenas transcrevendo a parte central, que deve ter algum valor intelectual, do "call for papers" da European Society for the History of Economic Thought (mais informações aqui: http://www.eshet-antwerp.eu).

Rationality in Economics
Rationality is one of the defining concepts of economics. Standard economic theory routinely assumes that people behave rationally. Consumption decisions are taken to be made by utility maximising economic agents, and production decisions by profit maximising firms. Economists have also eagerly applied the rationality assumption to situations outside the traditional realm of economics. The economic analysis of crime and marriage are just two examples.
Throughout the history of economic thought debates have raged about the nature of rational behaviour. A case in point is the debate about rationality in situations of risk and uncertainty, set in motion by Maurice Allais’s experiments and the discovery of the Allais paradox. Game theory has been a fertile ground for the exploration of different puzzles and anomalies concerning rational behaviour. The prisoners’ dilemma, for instance, highlights the tension between individual and collective rationality.
A more radical departure can be seen in the development of new branches of economics, such as behavioural finance and behavioural macroeconomics. Scholars in these fields openly question the assumption that people behave rationally, and adopt behavioural assumptions which are perceived as more realistic. Recent work on ‘irrational exuberance’ (Robert J. Shiller) and ‘predictably irrational’ behaviour (Dan Ariely) illustrates this type of research. Going further back in history, John Maynard Keynes’s use of the phrase ‘animal spirits’ points in the same direction.
Clearly, there is a role for historians of economic thought to illuminate the central but changing place of the concept of rationality in the history of economics. Since the debates on rationality are far from over and continue to influence the way economics and related disciplines evolve today, the topic is of interest to more than just historians of thought. The theme of the 2017 conference therefore confirms ESHET’s belief that the study of the history of economic thought should in no way be disconnected from current issues in economics and beyond, and could in fact help provide historical perspectives on standard views about the subject.
Special attention will be granted to proposals which enrich our views on the role of rationality in the history of economic thought, from the origins up to today. Examples include:
·       Rationality and self-interest
·       Individual and social rationality
·       Rationality and uncertainty
·       Rationality and satisficing
·       Rationality in macroeconomics