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terça-feira, 8 de junho de 2010

Quilombo da Razao contra o Marxismo Mediocre e Embrutecedor

Meu amigo Vinicius Pereira Portella, partilhando minhas preocupações com a mediocrização crescente do ensino brasileiro, criou o Quilombo da Razão, um espaço de resistência contra os ataques à racionalidade. Já fiz um post saudando sua inauguração, e sou o primeiro "refugiado" -- ou melhor, guerrilheiro -- desse quilombo que promete lutar contra todos os irracionalismos existentes no sistema educacional brasileiro.
Atenção: não estou falando da escola pública de primeiro grau, sequer das escolas de segundo grau em geral, onde a mediocridade impera há muito tempo, para desespero daqueles que gostariam de ver a qualidade da educação melhorar no Brasil progressivamente, e não recuar, como ocorre hoje.
Estou falando do ensino que se constuma chamar superior, mas que hoje mereceria o título de inferior, especialmente nas faculdades de humanidades das universidades públicas.
Há muito tempo que já comprei uma briga contra esses medíocres professores de marxismo esterilizado, uma mistura insossa do que possa haver de mais anacrônico no velho bolchevismo redivivo, no neostalinismo imorredouro, nos sectarismos de tribos trostquistas perdidas no século 21, enfim, todos esses órfãos do socialismo esclerosado e do comunismo surrealista.
Atenção: não combato esses marquissistas de opereta porque eles teriam a pretensão de ser marxistas acadêmicos, o que eu também já fui e ainda conservo minhas ferramentas do ofício. Eu os combato porque eles são medíocres, apenas isso, e praticam uma religião embolorada, cheirando a naftalina ideológica, ou mais simplesmente porque eles são inacreditavelmente ruins na sua defesa mal construída de uma crença que não fez o seu aggiornamento.
Isso começou lá atrás, em 2005, quando escrevi um texto chamado:

A cultura da esquerda: Sete pecados dialéticos que atrapalham seu desenvolvimento
Espaço Acadêmico (ano 5, n. 47, abril 2005).

Creio que a acusação de serem irracionais deve ter chocado os mais sensíveis, que imediatamente vestiram a carapuça; um deles tentou me responder, pretendendo fazer uma "réplica", mas de forma tão... medíocre, que não tive dificuldade alguma em desmantelar o "interlocutor" em questão, daí resultando este meu outro texto:

Um intercâmbio acadêmico: a cultura da esquerda em questão
Espaço Acadêmico (ano 5, n. 49, junnho 2005).

Acho que o pessoal se acalmou um pouco, ou então me colocaram na categoria de "inimigo de classe" (seja lá o que isso queira dizer) e me esqueceram.
Até que eu fui provocá-los novamente. Elaborei uma resenha sobre um livro medíocre dessa tropa de religiosos nostálgicos, e eles se desesperaram:

Marxistas totalmente contornáveis
[Resenha de Jorge Nóvoa (org.): Incontornável Marx (Salvador/São Paulo: Unesp/UFBA, 2007, 407 p.)]
Espaço Acadêmico (ano 7, n. 84, maio 2008).

Reparem que eu não escrevi que Marx era contornável, apenas que os pretensos "marquissistas" que escreveram sobre o próprio eram muito ruins; eu recomendava então aplicar o dinheiro em uma ou duas pizzas, o que seria melhor do que comprar um livro indigesto.
Para que?!! Eles se sentiram profundamente magoados, e montaram um pelotão de fuzilamento que só não passou à ação porque eu estava longe do alcance de suas armas enferrujadas. Ao tomar conhecimento da troca de mensagens entre os membros da tribo em risco de extinção, redigi, preventivamente um texto humorístico-corrosivo, que foi publicado como:

Manifesto Comunista, ou quase...: dedicado a “marquissistas” à beira de um ataque de nervos (a propósito de uma simples resenha)
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 85, junho de 2008). Via Política (08.06.2008).

Bem mais tarde, praticamente poucos dias atrás, é que vim a tomar conhecimento de que um dos autores daqueles textos medíocres sobre o marquissismos de pacotilha havia tomado o cuidado, e um imenso trabalho, ao que pude julgar, de responder à minha resenha. Quase que escrevo ao autor em questão para agradecer, sinceramente, pela atenção dada à minha pequena resenha, da qual largos extratos eram citados no seu "trabalho" -- enfim, a coisa que deveria servir de réplica -- mas achei que a mediocridade do debate não valia sequer mais uma linha minha.

Não pretendo voltar a esse debate, que só me veio à mente, hoje, ao ler o texto que segue abaixo de um jornalista que se auto-intitula filósofo (o que para mim já é uma espécie de empulhação). Ele toca em questões reais, mas de modo muito superficial e sem aquela lógica de raciocínio que deveria caracterizar os filósofos. Enfim, acho que vocês podem se divertir um pouco.
Quanto a mim, vou continuar no Quilombo da Razão, fazendo algumas incursões ocasionais em campo inimigo para combater os irracionalismos contemporâneos, dos quais os "marquissistas" de opereta se constituem em legítimos representantes.
Por que o faço?
Não por alguma compulsão pessoal. Apenas sinto pena de todos os estudantes que me escrevem para dizer que "o professor pediu um trabalho para demonstrar esta ou aquela perversidade do capitalismo", o que para mim não é apenas tortura mental, mas uma verdadeira campanha de embrutecimento deliberado.
Bem, fico por aqui hoje.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 8.06.2010)

Sem esperança
LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de S.Paulo, 7.06.2010

Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo e toda a bobagem de luta de classes

RESPONDO ASSIM, de bate-pronto, a um aluno: "Não, não tenho nenhum ideal". Silêncio. Talvez um pouco de mal-estar. Todos ali esperavam uma resposta diferente porque todo mundo legal tem um ideal.
Eu não tenho. É assim? Confesso, não sou legal, nem quero ser. Duvido de quem é legal e que tem um ideal. Esperança? Tampouco. E suspeito de quem queira me dar uma.
De novo respondo assim, de bate-pronto, a outro aluno: "Não, não quero mudar o mundo, nem mudar o homem, muito menos a mulher, a mulher, então, está perfeita como é, se mudar, atrapalha, gosto dela assim, carente, instável, infernal, de batom vermelho e de saia justa".
Mentira, esta última parte eu acrescentei agora, mas devia ter dito isso também. Outro silêncio. Talvez, de novo, um pouco de mal-estar. Espero que falhem todas as tentativas de mudar o homem.
Não saio para jantar com gente que quer mudar o mundo e que tem ideais. Prefiro as que perdem a hora no dia que decidiram salvar o mundo ou as que trocam seus ideais por um carro novo. Ou as que choram todo dia à noite na cama.
Tenho amigos que padecem desse vício de ter ideais e quererem salvar o mundo, mas você sabe como são essas coisas, amigo é amigo, e a gente deve aceitar como ele (ou ela) é, ou não é amizade.
Perguntam-me, estupefatos: "Mas você é professor, filósofo, escritor, intelectual, colunista da Folha, como pode não ter ideal algum ou não querer mudar o mundo?".
Penso um minuto e respondo: "Acordo de manhã e fico feliz porque sou isso tudo, gosto do que faço, espero poder fazer o que faço até o dia da minha morte".
Perguntam-me, de novo, mais estupefatos: "Mas você está envolvido no debate público! Pra quê, se você não quer mudar o mundo?".
Sou obrigado a pensar de novo, outro minuto (afinal, são perguntas difíceis), e respondo: "Participo do debate público pra atrapalhar a vida de quem quer mudar o mundo ou de quem tem ideais".
Os intelectuais e os professores pegaram uma mania de ser pregadores, e isso é uma lástima. Inclusive porque são pessoas que leem pouco e que são muito vaidosas, e da vaidade nunca sai coisa que preste (com exceção da mulher, para quem a vaidade é como uma segunda pele, que lhe cai bem).
O que você faria se algum professor pregasse o evangelho ao seu filho na faculdade? Provavelmente você lançaria mão de argumentos do tipo que os intelectuais lançam contra o ensino religioso: "O Estado é laico e blá-blá-blá... porque a liberdade de pensamento blá-blá-blá...". Se for para proibir Jesus, por que não proibir qualquer pregação?
Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo em sala de aula e toda aquela bobagem de luta de classes e sociedade sem lógica do capital? Isso não passa de uma crendice, assim como velhas senhoras creem em olho gordo.
Nas faculdades (e me refiro a grandes faculdades, não a bibocas que existem aos montes por aí), torturam-se alunos todos os dias com pregações vazias como essas, que apenas atrapalham a formação deles, fazendo-os crer que, de fato, "haverá outro mundo quando o McDonald"s fechar e o mundo inteiro ficar igual a Cuba".
Esses "pastores da fé socialista" aproveitam a invenção dessa bobagem de que jovem tem que mudar o mundo para pregarem suas taras. Normalmente, a vontade de mudar o mundo no jovem é causada apenas pela raiva que ele tem de ter que arrumar o quarto.
E suspeito que, assim como fanáticos religiosos leem só um livro, esses pregadores também só leem um livro e o deles começa assim: "No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós...".
Reconhece-se uma pregação evangélica quando se ouve frases como: "Aleluia, irmão!". Reconhece-se uma pregação marxista quando se ouve frases como: "É necessário destruir o mundo do capital e criar uma sociedade mais justa onde o verdadeiro homem surgirá"."
Pergunto, confesso, com sono: "E quem vai criar essa sociedade mais justa?". Provavelmente o pregador em questão pensa que ele próprio e os seus amigos devem criar essa nova sociedade.
Mentirosos, deveriam ser tratados como pastores que vendem Jesus e aceitam cartão Visa.

7 comentários:

Vinícius Portella disse...

Paulo,

O Brasil é uma incógnita, principalmente no que tange a educação superior. Eu não consigo estimar que caminho tomaremos e a que velocidade avançaremos, levando-se em conta as características das ideias que ganham espaço na universidade (é claro que minha visão é parcial, dizendo mais respeito ao que pude observar dos alunos da universidade pública em que estudo). Minhas dúvidas são motivadas exatamente pela constatação de que parte desses espaços é destinada para os despojos de ideologias caducas (verdadeiro cemitério) ou para o asilo de ideologias combalidas. Continuam válidas as palavras de Millôr que transcrevo, talvez, sem exatidão: "as ideologias quando ficam velhinhas vêm morar no Brasil". Pois bem, não devemos esse ermo intelectual apenas ao "marquissismo" (o que não exclui a concentração massiva deste em certos nichos), senão também ao "liberalismo de butique" e ao "patrimonialismo acrítico" que rondam por aí. Em suma, a despeito de sua coloração, um não-pensamento defendido com devoção fervorosa ou em atitude farisaica de bocas e gestos e nada mais. O país deve marcar muito passo e ter um elevado "custo de oportunidade" em função disso. É preocupante essa situação como também não ser ela alvo de ampla preocupação disseminada na sociedade. Aqui não me expresso em tom de escândalo, mas objetivamente tendo em vista a organização, o preparo e o emprego de nosso capital humano para a consecução dos objetivos relativos ao desenvolvimento nacional e à prosperidade.

Um grande abraço,

Paulo Roberto de Almeida disse...

Vinicius,
Convivendo com a academia desde muitas décadas, confesso a vocês que não conheço "liberalismo de butique", pelo menos não conheço autores e livros que tenham, ANYTIME in the past, ou atualmente, feito qualquer sucesso junto a professores e alunos. O único representante legítimo (e ainda assim reciclado do antigo estatismo tecnocrático) do liberalismo, Roberto Campos, era escorraçado, desprezado, xingado e vilipendiado na academia.
Par contre, conheço, sim, livros e autores que estão muito bem situados nesse universo que eu chamei de "marquissista" (pois Marx, propriamente, era mais sofisticado, e esse pessoa repete apenas algumas frases como papagaios sem qualquer imaginação).
Onde existe liberalismo, quando o principal empresário dito "liberal" (Gerdau) vai pedir protecão ao Estado contra siderúrgicos importados, em lugar de lutar pela diminuição do custo Brasil?
Onde existe liberalismo onde o presidente da FIESP, supostamente empresário (mas aparentemente apenas um membro da máfia sindical) se inscreve no Partido Socialista para ser candidato ao governo de SP?
Onde está a conjunção de idéias entre um empresário e o Partido Socialista?
Como disse, não estou lutando contra o marxismo, apenas contra a mediocridade...
Paulo Roberto de Almeida

Danilo Belo disse...

Olá,
já faz alguns dias que descobri o seu blog, parabéns, você tem textos muito coerentes, digno de um Doutor, do qual aprecio muito, Doutor de Ciencias Sociais, sou estudante de Direito, mas com grande admiração na matéria de Ciências Sociais. Bem, quanto ao texto colocado em pauta, me faz refletir o suficiente do quanto palavras como essas fazem sentido para uma vida de paz e harmonia, e realista, não baseado em ideais que são construidos através de ilusões, apesar de ter suas veracidades, que o capitalismo trás miséria, entretanto, desde sempre houve miséria e sempre exitirá, infelizmente. Portanto, um bom texto para quem deseja aproveitar melhor a vida, já que ela é muito passageira. Os direitos individuais de uma forma inteligente e sábia acima de valores coletivos, coloca os coletivos acima dos individuais, o sistema tem suas premissas. Continuarei lendo seu blog, tenho certeza que terei grandes temas a serem debatidos para meu crescimento pessoal, afinal, para que eu possa melhorar o mundo e minimizar a arruinação da humanidad,e é necessário começar de mim. Abraços

Paulo Roberto de Almeida disse...

Danilo,
Grato pelos comentários.
Se você quiser aproveitar a vida, e dar boas risadas, recomendo o blog do Janer Cristaldo (http://cristaldo.blogspot.com), para um bom iconoclasta e excelente escritor. Un bon vivant, além do mais.
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Os neocomunas adoram citar os países nórdicos como exemplo do que pretendem. Eles só se esquecem de dizer que os mesmos são democracias capitalistas. A verdadeira social democracia não é algo que possa ser implantado de cima para baixo e da noite para o dia. Na prática, pelo o que se vê nos países bolivarianos, os companheiros só implantaram até agora as velhas fórmulas autoritárias, injustas e ineficientes da antiga cortina de ferro. Eles acham que é possível pular etapas de desenvolvimento nivelando o ensino universitário por baixo. Quem dera se fosse tão fácil.

Vinícius Portella disse...

Paulo,

Concordo com tuas palavras e penso ser correta a asserção de Roberto Campos que certa vez disse algo como: "não é que o liberalismo não deu certo na América Latina, ele sequer deu as caras ali". Explico-me: sobre o "tipo" de liberalismo por mim referido, derivei o termo da expressão "liberalismo de butique" que certo amigo meu - pessoa altamente identificada com o pensamento liberal - usou para se referir a certas pessoas no Forum da Liberdade cujo discurso era demasiado pobre, inconsistente e que a despeito de dizerem-se liberais, não apresentavam uma atitude em conformidade com seu "suposto" ideário. Tinham mais pose do que qualquer coisa e suas ideias eram apenas mais uma "roupinha legal comprada em Londres" comprada por futilidade. Talvez se reduzissem apenas "à superficialidade e ao status". Concordo que o "marquissismo" é amplamente majoritário nesse ambiente. E quando surge algo que destoa em relação a isso, normalmente é marcado pela mesma penúria intelectual. Fernando Henrique Cardoso falou sobre, até mesmo, a ausência de um pensamento conservador no Brasil em entrevista concedida à Dicta & Contradicta (penso que a tenhas publicado em teu Textos PRA) e Eduardo Giannetti da Fonseca, por ocasião da comemoração do primeiro aniversário da referida revista expôs os critérios pelos quais acredita não haver, de maneira geral, um "pensamento sério" no Brasil. Temos uma mediocridade amorfa contra a qual devemos centrar fogos. Nisso, independente de nossas interpretações, concordamos indubitavelmente.

Um grande abraço!

Vinícius Portella disse...

Errata: o termo do qual derivei meu tipo de liberalismo foi "liberal de butique".

Abraços.