Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 20 de junho de 2010
Contra Saramago (2): extratos de declaracoes
Só discordo que ele tenha sido um grande escritor. Ele abordou grandes temas, mas sua escrita era penível, inutilmente complicada, apenas para ser diferente. Ora, isso não é ser um grande escritor, e sim um escritor fora das normas e padrões normais. Eu, pessoalmente, prefiro escritores que não me obriguem a um esforço inútil na leitura, apenas para me concentrar no objeto em si que é tratado, ou seja, o enredo. Talvez seja por isso que nunca fui um grande apreciador de Guimarães Rosa.
Paulo Roberto de Almeida
Um grande escritor que foi um tolo na política
Revista Veja, 18 de junho de 2010
Se na literatura José Saramago criou um estilo próprio, na política ele se curvou, de maneira tacanha, a uma ideologia responsável pela morte de milhões de pessoas no século XX.
O escritor se filiou ao Partido Comunista português aos 47 anos, em 1969. E, até o fim da vida, professou a mesma fé política. Em evento realizado no final de 2008 pelo jornal Folha de S.Paulo, definiu-se como um "comunista hormonal". "Ser comunista é um estado de espírito", disse o escritor, para quem a filosofia de Karl Marx era cada vez mais atual.
Em vez de condenar regimes totalitários como o da antiga União Soviética, Saramago parecia sentir saudades deles. Em entrevista ao jornal argentino La Nación, em 2005, afirmou, com pesar, que as ideias de esquerda haviam se esgotado. "Estamos numa situação em que se combina o domínio do sistema capitalista de rosto neoliberal com uma esquerda que não soube reorientar-se depois do colapso da União Soviética."
Em 2003, numa espécie de lampejo, chegou a afastar-se do cubano Fidel Castro, que ordenara a execução de três inimigos políticos de seu regime. Em carta pública, Saramago anunciou: "De agora em diante, Cuba segue seu caminho, eu fico aqui. Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões". Mas, apesar desse lampejo, manteve uma postura passiva diante dos ditadores de esquerda.
O venezuelano Hugo Chávez, por exemplo, chegou a ser defendido por Saramago, que em 2007 disse que Chávez não era "nenhum problema" e, sim, "um homem que ama seu povo". O escritor também nunca condenou a China, uma verdadeira máquina de mortes, e chegou mesmo a ressentir-se pelo fato de o país ter enveredado pelo capitalismo. "Até a China é hoje um dos países capitalistas mais duros que se podem encontrar sob a fachada do partido único", disse ao La Nación.
Em visita à Palestina, deu uma de Lula - que este ano cometeu uma série de gafes no Oriente Médio, irritando Israel - e comparou a situação dos palestinos à dos judeus em Auschwitz, o mais letal dos campos de concentração nazistas. "É preciso dizer que o que acontece na Palestina é um crime que nós podemos parar. Podemos compará-lo ao que aconteceu em Auschwitz."
No Brasil, Saramago declarou apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), conhecido por invadir terras e destruir instalações de pesquisa científica. O escritor participou de um projeto pró-MST que envolvia também o músico Chico Buarque e o fotógrafo Sebastião Salgado.
Já a democracia foi alvejada pelo português. "A democracia é uma realidade que não existe. Quem verdadeiramente manda são instituições que não têm nada de democráticas, como é o caso do Fundo Monetário Internacional, as fábricas de armas, as multinacionais farmacêuticas", afirmou em 2006, em entrevista ao jornal italiano La Stampa.
3 comentários:
O Saramago não era amigo das ditaduras e as pessoa simplesmente enteram sempre muito mal tudo o que ele afirmou. É não, nós não vivemos em democracias nenhumas! Isso são ilusões. "Quem verdadeiramente manda são ... Fundo Monetário Internacional, as fábricas de armas, as multinacionais farmacêuticas", A liberdade não existe. (Somos constantemente enganados pelos média. Já para não dizer que estão todos comprados, eles fazem as histórias à maneira deles e passam a imagem que querem de quem querem conforme interessa). Essas instituições podemos também adicionar algo muito comum a todos, a escola (a universidade por exemplo é só para alguns e sempre o será). Essas continuam a ser conservadoras. A identidade do indivíduo é formada através de parametros imaginários como raça, nação, etc. A história nacional não existe. Existe, mas o que nos chega é aquilo que o poder (Estado) quer. Os historiadores é que fazem a "história" organizando-a cronologicamente de maneira a que faça sentido e que pareça como destino. Há muitas vozes caladas nesses arquivos e só saem cá pra fora pelos Romances, tal como dizia Saramgo era isso que ele sempre tentou demostrar... Que o Romance pode ser tão científico como a "história" - Escrevo "história" porque para mim são tudo ESTÓRIAS. E agora podia ficar aqui a enumerar mais 1000 coisas mas nunca mais saía daqui. Vou só aqui deixar um conselho de leitura que fala destes aspectos mais aprofundadamente: " A Identidade Cultural na Pós-Modernidade" de Sturt Hall. A tradução que há é em brasileiro, a editora não me lembro o nome neste momento.
Penso que este livro seja de linguagem acessível mas há certas coisas que necessitam de um estudo paralelo mas nada de especial. Obrigado por este momento.
“Enfrentamos... um racismo que evita ser reconhecido como tal porque é capaz de alinhar “raça” com nacionalidade, patriotismo e nacionalismo. Um racismo que tomou uma distância necessária das grosseiras idéias de inferioridade e superioridade biológica busca, agora, apresentar uma definição imaginária da nação como uma comunidade cultural unificada (Gilroy, 1992, p.87).
Pereira,N.
Não vejo como nenhum desses argumentos possa ir "contra" Saramago. Tampouco tua preguiça na leitura!
Pedro,
Gostar ou não de Saramago como escritor,concordo que seja puramente subjetivo. Eu acho a escrita do Saramago chata, mas isso é um direito meu. Voce pode gostar porque outros gostam e ele é incensado justamente por ser complicado na escrita. Não vejo virtudes nisso.
Gosto de escrita clara, de escritores claros, diretos.
Mas isso não tem nada a ver com a postura politica dele, um troglodita, um primitivo, um idiota político.
Essa não é uma opinião, é uma constatação.
Idiotas existem, acredite,
Mesmo bons escritores podem ser idiotas...
Paulo Roberto de Almeida
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