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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Venezuela: uma contabilidade esquizofrenica das estatais

Meu leitor habitual Paulo Araujo me envia a seguinte mensagem:


Boa tarde, Paulo

Li ontem no blog o post a respeito da novela "Abreu Lima".  Como de costume, a imprensa não se dá ao trabalho de informar como está o parceiro da Petrobras.

Recentemente caiu nas mãos de um deputado da oposição um documento (Punto de Cuenta) que revela bastante o modus operandi chinês na Venezuela. 
O deputado da oposição Miguel Ángel Rodríguez perguntou na semana passada por que a PDVSA teve de pedir ao BANDES (Banco de Desarrollo) U$S 1,381 bilhão para cobrir «pagos de regalía e impuestos, costos de producción y refinación de los volúmenes de crudo y productos derivados despachados». Isto é, mesmo com o preço do barril a U$S 100, a PDVSA está com sérios problemas de fluxo de caixa. Chávez, como de costume, respondeu que Rodriguez é um esquálido. 

Assim, não se sabe ainda de onde a empresa vai tirar os US$ 1,1 bilhão que a Petrobrás quer receber, além do financiamento do BNDES. Parece que o nó está nesse pagamento que Chávez não quer fazer. O problema das fianças parece já ter resolvido com o BNDES, conforme noticiaram o ESP, em 6 de novembro,  e o Globo de hoje:



Juntando as partes e tentando entender o modus operandi dos negócios da China na Vezuela:

1. A terceira maior siderúrgica da China, Wuhan Iron & Steel Group (WISCO) revelou que fechou um contrato de longo prazo (7 anos) para compra de mineral de ferro da estatal Corporación Venezolana de Guayana (CVG) a um preço de 20 dólares por tonelada inferior ao fixado pela Vale (o preço Vale seria o marcador no contrato) para o terceiro trimestre de 2010.

"WISCO and Venezuela agree iron ore contract price for 2010"


2. Desde 2008 até o final de 2011 deveriam ter ingressado na Venezuela, em troca de petróleo, US$ 28,252 bilhões. O deputado fez essa conta com base em preços de mercado, embora o Punto de Cuenta revele que o preço fixado foi US$ 40, o que, aliás, o governo nega. Em declaração recente o Ministro do Planejamento Jorge Giordani deixou escapar que desses ingressos foram gastos, até hoje, US$ 6 bilhões. A pergunta do deputado Rodrigues: 
“Eso indica que hay un faltante de US$ 22.251.769.000 millones. ¿Dónde están? ¿Esta es la cifra que nos dio un servicio eléctrico de calidad, carreteras de primera, producción soberana de alimentos para no depender de las importaciones? ¿Es la cifra que nos dio un país seguro donde se respetan los DDHH? Si ese monto faltante no fue al desarrollo nacional, ¿dónde está?

Há um bom resumo da denúncia de Rodrigues. Procurar na página:

“Aló Ciudadano
(Resumen) Miguel Ángel Rodríguez
El diputado y  periodista Miguel Ángel Rodríguez, hizo en el programa una nueva denuncia relacionada con el fondo chino – venezolano.

E novembro os jornais repercutiram as denúncias de Rodrigues. Para saber o que são de fato essas denúncias, há estes dois bons artigos: 

"El Punto de Cuenta del presidente de Pdvsa"

"Pdvsa hipotecada"

O texto original do Puento de Cuenta do presidente da PDVSA e ministro de Chávez, Rafael Ramírez, pode ser lido na íntegra aqui:

PS: As estatizações ocorridas na Venezuela, em nome do  festejado “socialismo do século XXI”, prejudicaram a tal ponto as siderúrgicas e empresas de mineração que hoje o governo Chávez não vê outra saída a não ser submeter a soberania venezuelana aos interesses chineses.

"A China fornecerá financiamento de US$ 20 bilhões para ajudar no desenvolvimento da Venezuela, em condições que em nada têm a ver com as leoninas de organismos multilaterais de crédito como o Fundo Monetário Internacional", ressaltou o chefe de Governo venezuelano, sem detalhar as condições desse desembolso, que ia assinar em Caracas com o presidente Hu Jintao.

Abraços
Paulo Araujo

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