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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Pra frente Brasil! (ainda que lentamente): sobre o ufanismo governamental

Acredito que o governo não tem NADA a comemorar com o anúncio abaixo, ou seja, de que o Brasil já é a sexta maior economia do mundo, e deveria até pedir desculpas à sociedade pelo mal que ele faz, à própria sociedade, aos cidadãos e à economia brasileira, em qualquer ordem e em diversas proporções.
Em primeiro lugar, tamanho do PIB nacional nunca foi indicador de prosperidade nacional, do contrário países pequenos, como Dinamarca ou Luxemburgo seria países horríveis para se morar, e não sociedades com renda per capita altamente satisfatória, e mesmo superlativa.
Em segundo lugar, quem obteve esse PIBão não foi o governo, sequer o Estado brasileiro, e sim as milhares de empresas brasileiras e os milhões de trabalhadores que realmente criaram riqueza e renda, sendo que o governo, o Estado de forma geral, só atuou para diminuir o potencial de criação de riqueza, ao extrair renda dos cidadãos e das empresas para gastos não produtivos. O Estado brasileiro é um despoupador líquido, capturando dois quintos da riqueza e investindo 1% do PIB em investimentos produtivos.
Em terceiro lugar, muito desse PIB é ilusão estatística, ou manipulação cambial, já que uma outra taxa de câmbio, mais realista, ou desvalorizada -- como querem vários economistas malucos que existem por aí -- representaria um PIB bem menor. Dou um exemplo: em 1998, antes da famosa crise de desvalorização e da introdução do regime de flutuação, no começo de 1999, éramos uma "enorme", superior a 800 bilhões de dólares; bastou o câmbio sair de 1,6 para mais de 2,4 reais por dólar, para que o PIB baixasse vergonhosamente para 450 bilhões de dólares, ou seja, ficamos pobres outra vez. Isso tudo, portanto, é uma ilusão cambial, e não traduz o potencial exato da economia brasileira.
Em quarto e mais importante lugar, cabe referir que prosperidade mesmo se mede em PIB per capita, ou seja, disponibilidade de renda para que cada um possa satisfazer suas necessidades. Cabe referir que, mesmo com esse PIBão, nossa renda per capita é quatro, cinco ou seis vezes menor do que a dos países mais ricos, e que, para alcançar a renda média europeia, como reconhece o próprio ministro da Fazenda, ainda vai demorar muito. Mais vergonhoso ainda será quando a China, que cresce três vezes mais do que o Brasil, superar a nossa renda per capita, ela que tem ainda milhões e milhões de miseráveis ou de pobres. E isso não é difícil: crescendo 8,5% em termos per capita, ao ano, a China pode ultrapassar o Brasil em mais alguns anos, pois ela dobra a sua renda per capita em menos de uma geração (17 anos, aproximadamente), ao passo que o Brasil só consegue dobrar a sua renda per capita em mais de duas gerações, ou seja, mais de 50 anos.
Em quinto lugar, o PIB do Brasil é explicado, basicamente, pela valorização dos produtos primários de exportação, algo totalmente alheio e independente dos méritos ou deméritos da economia brasileira. Ou seja, o Brasil não está vendendo, ele está sendo comprado, e graças à valorização das commodities pela voracidade industrial chinesa, tem auferido uma renda extra por ser um país de enormes recursos naturais. O Brasil foi enormemente beneficiado pelo crescimento da economia mundial, sem que ele tenha feito praticamente nada para isso.
Em sexto e último lugar, esse crescimento todo se dá justamente pelos produtos de baixa elasticidade-renda, já que estamos perdendo espaço nos mercados de crescimento mais dinâmico, que são os manufaturados eletrônicos, num processo que alguns chamam (mas eu não estou de acordo) de "desindustrialização", um termo muito vago para abranger de maneira adequada a complexidade do fenômeno. Em todo caso, o Brasil participa muito pouco dos mercados de alta tecnologia ou de alto valor agregado, ocupando apenas os nichos de baixa valorização, e muito pouco em serviços, em finanças, em know-how. Isso se explica, em grande medida, pela qualidade pavorosa, para não dizer horripilante, da educação brasileira, que só anda para trás, em função das novas saúvas que ocupam o MEC, as pedagogas freireanas. Nesse aspecto, não há nenhum risco de melhorar, pois as barbaridades educacionais permanecem e se ampliam, com um MEC que só se conserta destruindo e construindo outra estrutura, outras carreiras do professorado, outra filosofia educacional.
Finalmente, é uma ilusão que o Brasil seja um país melhor do que a Grã-Bretanha, ou a Itália, ou talvez dentro em pouco a França, apenas porque o seu PIB superou ou superará os PIBs desses países. Qualquer pessoa que conheça os países, e seus fatores intangíveis, constata, verifica, sabe, pessoalmente, que isso é uma bobagem monumental.
Volto a repetir: o Brasil já poderia ser, há muito tempo, um país mais rico, ou melhor, com cidadãos mais prósperos, e só não o é, ou seus habitantes não dispõem de rendas superiores, por culpa exclusivamente do Estado, que rouba, literalmente, a renda dos cidadãos.
O Estado tornou-se, na atualidade, o principal obstrutor do desenvolvimento brasileiro. Os brasileiros ainda vão se convencer disso, e prender o ladrão...
Em outros termos, não cabe nenhum ufanismo deslocado.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil demorará até 20 anos para ter padrão de vida europeu, diz Mantega

Ao comentar estudo que mostra o País como a sexta maior economia do mundo, o ministro da Fazenda destacou que ainda é preciso investimento nas áreas social e econômica

OESP, Segunda, 26 de Dezembro de 2011, 15h09
Adriana Fernandes, da Agência Estado BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira, 26, que o Brasil poderá demorar de 10 a 20 anos para fazer com que o cidadão brasileiro tenha um padrão de vida semelhante ao europeu. Ao comentar o estudo do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, em inglês), que aponta o Brasil como a sexta maior economia do mundo, à frente do Reino Unido, o ministro afirmou que o Brasil vai consolidar essa posição porque continuará crescendo mais do que outros países em razão de crise internacional afetar mais as economias avançadas. 
Mantega disse que o País ainda precisa investir mais nas áreas social e econômica. "Isso significa que nós vamos ter continuar crescendo mais do que esses países, aumentar o emprego e a renda da população. Nós temos um grande desafio pela frente", disse Mantega. "Mas a boa notícia é que nós estamos nessa direção e caminhando a passos largos para que o Brasil, num futuro próximo, seja um país melhor", afirmou, em nota à imprensa.


Mantega disse que essa posição vai ser consolidada e a tendência é de que o Brasil se mantenha entre as maiores economias do mundo nos próximos anos.


Ao citar as boas relações comerciais do Brasil com outros países, especialmente com os asiáticos, Mantega destacou que, atualmente, o Brasil é "respeitado e cobiçado, tanto que os investimentos estrangeiros diretos devem somar US$ 65 bilhões esse ano".

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