O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 10 de março de 2024

A ilusão dos PIBs nominais do novo BRICS+

 Este articulista contratado pelo Brics continua a insistir no “controle” da economia mundial pelo novo Brics+, como se isso fosse o simples resultado da soma aritmética dos PIBs nacionais:

BRICS To Control 37% of World’s GDP: West To Fall Below 28%

Vinod Dsouza

BRICS is now a nine-member bloc consisting of Brazil, Russia, India, China, South Africa, the UAE, Egypt, Iran, and Ethiopia. Also, Saudi Arabia is invited to join the alliance but the Kingdom has yet to decide on entering the bloc. Saudi Arabia’s induction will further strengthen BRICS and have larger control of the global oil supply and global GDP. Read here to know why Saudi Arabia is taking the time to join the alliance.


domingo, 19 de dezembro de 2021

PIB e PIB per capita do Brasil, de 2008 a 2020; tendência histórica ao declínio

 O desastre econômico do PIB per capita dos brasileiros na última década (perdida): não sei se os petistas e bolsonaristas gostariam de comentar algo...




quarta-feira, 24 de junho de 2020

Mercado estima recuo de 6,5% no PIB este ano; provavelmente será maior (FMI: -9,1%) -


IMF forecasts deeper Latin America recession in 2020

The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus


DAVID BILLER and MARK STEVENSON Associated Press
ABC News, June 24, 2020

RIO DE JANEIRO -- The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus.
The updated outlook for the region, released Wednesday, is down sharply from the 5.2% recession forecast in April, which already would have been the worst performance since at least 1980, the first year in the IMF’s World Economic Outlook database.
The multilateral lending agency said in its report that in Latin America, “most countries are still struggling to contain infections.”
The new forecast includes a 10.5% dive for Mexico, which has lost about a million jobs during the pandemic.
The country’s industrial activity plunged nearly 30% in April compared to a year earlier amid its lockdown.
Prodded by the United States, Mexico reopened its automotive, mining and construction industries starting in June, but plans for a broader restart of the economy have been delayed due to the continued high rates of new COVID-19 cases.
The IMF predicts a 9.1% plunge for Brazil, which is Latin America’s biggest economy and most populous nation. That would be the deepest single-year tumble since at least 1901, when national accounts data from the government’s economics institute begin. Brazil contracted 2% in 1918, the year of the Spanish flu pandemic, according to the institute.
Brazilian President Jair Bolsonaro has argued that hardship inflicted by shutting down economic activity would ultimately be worse than that caused by the virus, even as the nation’s death toll rose to the second highest in the world. Mayors and governors responsible for when and how to restart their economies mostly ignored Bolsonaro’s desire for a swift reopening. Following extended restrictions, cities and states have begun gradually resuming activity.
In late April, Economy Minister Paulo Guedes was still projecting a V-shaped recovery and said Brazil was “going to surprise the world.”
Brazil’s central bank said in the minutes to its most recent monetary policy meeting, released Tuesday, that data indicate economic activity reached its low point in April. Industrial production that month fell 18.8% from the prior month, including an 80% decline in output of durable goods, according to data published June 3. From January to April, Brazil’s economy shed 763,000 formal jobs, a report by the federal government said May 27.
Economists surveyed by Brazil’s central bank currently forecast a 6.5% contraction this year.
Stevenson reported from Mexico City

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FMI prevê recuo maior: (O Globo, 24/06/2020, 20:00hs)

A economia brasileira vai encolher 9,1% em 2020, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Se confirmada, a queda representará o pior resultado desde 1900. Para 2021, no entanto, a projeção é de crescimento de 3,6%, patamar que aumentou desde o último relatório da entidade.

Em foco: 9,7 milhões de trabalhadores brasileiros estavam sem remuneração em maio, segundo o IBGE. O contingente corresponde a 11,7% da população empregada no país. A perda de renda está relacionada à suspensão temporária dos contratos de trabalho, autorizada pelo governo.



quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sim, o livre comercio aumenta sim a riqueza; nao, ele nao aumenta a desigualdade - Diego Cerdeiro, Andras Komaromi

Certas coisas, certas afirmações, certas suposições, certas crenças, até mesmo certos argumentos, precisam ser testados não apenas contra evidências empíricas, ou seja, dados reais, aferíveis, retirados de indicadores fiáveis, mas também contra exercícios econométricos, que podem isolar fatores causais, e ver como os vetores se comportam em uma ou outra situação.
Pois bem, de acordo com esses dois testes, o livre comércio está positivamente associado ao crescimento da renda da população, ao passo que não existem evidências de que ele concentre renda.
Vejam abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de dezembro de 2017




DIEGO CERDEIRO, International Monetary Fund (IMF)
Email: 
ANDRAS KOMAROMI, International Monetary Fund (IMF)
Email: 

.In the cross section of countries, there is a strong positive correlation between trade and income, and a negative relationship between trade and inequality. Does this reflect a causal relationship? We adopt the Frankel and Romer (1999) identification strategy, and exploit countries' exogenous geographic characteristics to estimate the causal effect of trade on income and inequality. Our cross-country estimates for trade's impact on real income are consistently positive and significant over time. At the same time, we do not find any statistical evidence that more trade increases aggregate measures of income inequality. Heeding previous concerns in the literature (e.g. Rodriguez and Rodrik, 2001; Rodrik, Subramanian and Trebbi, 2004), we carefully analyze the validity of our geography-based instrument, and confirm that the IV estimates for the impact of trade are not driven by other direct or indirect effects of geography through non-trade channels.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Russia e Brasil: ah, essas vibrantes potencias economicas emergentes...

Onde foi parar o meu PIB?
O gato comeu?
O dólar comeu, para ser mais exato...
Toda essa exaltação com grande números de PIB, ficar entre as dez maiores economias do planeta, se pavonear que somos maiores que essas economiazinhas da Europa, enfim, tudo isso é feito à base de muito anabolizante, ou seja, valorização cambial.
Basta o dólar dar uns pulinhos, ou melhor, basta a moeda nacional dar uns saltinhos para baixo, feito de baixo crescimento do PIB, perda de competitividade nas exportações (que seja de matérias primas ou de manufaturados, não importa muito), desequilíbrio nas transações correntes, e zut, lá vai a economia deslizando ladeira abaixo, e com ela o nosso PIB per capita.
A Rússia e o Brasil tinham uma economia mais ou menos equivalentes em peso, eles com uma população um quarto menor e um PIB per capita proporcionalmente mais elevado.
Pronto: bastou o Putin fazer o diabo na Ucrânia, e o petróleo vir abaixo, que acabou a alegria dos magnatas russos e também da classe média alta. Já não vai dar mais para esquiar na Suíça, vão ter de se contentar com as montanhas da Chechênia mesmo...
Os brasileiros ainda continuam indo a Paris, Orlando, Miami e Nova York, mas se o deslizar do câmbio continuar, vai ficar mais caro, assim como para os russos.
Eles chegaram a ficar mais pobres do que os brasileiros, mas depois se recuperaram um pouco, assim como os brasileiros, com as fortes intervenções dos dois bancos centrais nos mercados de câmbio.
Mas, se as notícias continuarem ruins, nem os bancos centrais vão aguentar o tranco.
Compilei estatísticas de conjuntura, para mostrar essa desgraça toda...
Paulo Roberto de Almeida


Rússia e Brasil comparados, 2013 e 2014:

Russia in 2013:
GDP (Current Prices, National Currency):  RUB 68,144.52 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,213.57 Billion
Population in 2013: 141.439 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): RUB 481,795
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 15,650.35
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 18,670.53
Câmbio médio em 2013: RUB 30,78 = US$ 1

Russia in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: 68 R/US$
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: 55 R/US$
PIB em dólares em 16/12: US$ 1,029.41 Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 7,278
PIB per capita em 22/12: US$ 12,272

Brazil em 2013:
GDP (Current Prices, National Currency): R$ 4,795.95 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,456.66 Billion
Population in 2013: 199.881 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): R$ 23,994.04
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 12,290.64
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 12,340.18
Câmbio médio em 2013: 1,95 = US$ 1

Brazil in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: R$ 2,73/US$ 1
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: R$ 2,66/US$
PIB em dólares em 16/12: 1,756.75 US$ Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 8,789
PIB per capita em 22/12: US$ 9,020

Fontes: indicadores: Economy Watch: http://www.economywatch.com/economic-statistics/country/ ; Câmbio: Bloomberg: http://www.bloomberg.com/

quinta-feira, 31 de julho de 2014

PIB da América Latina: crescimento baixo do Brasil, da Venezuela e do Mexico

Da coluna virtual da jornalista Miriam Leitão, no site do jornal O Globo:
30/07/2014

Na AL, Brasil foi dos que menos cresceu no pós-crise

O gráfico abaixo é um complemento da coluna "Os fatos da crise". Mostra o crescimento acumulado entre 2008 e 2013 das 10 principais economias da América Latina. O Brasil teve o terceiro pior desempenho, com alta de 19,3%, na frente apenas de Venezuela e México.

Foram apenas dois anos de PIB forte, 2008 e 2010; um de leve recessão, 2009; e três de crescimento muito baixo, entre 2011 e 201.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O PIB faz a felicidade?: uma historia do PIB (book excerpt) - Delanceyplace


Today's selection -- from GDP: A Brief But Affectionate History by Diane Coyle. There has been much debate over whether a country's GDP growth correlates to its citizens' happiness. (GDP or gross domestic product is a measure of a country's size based on income and spending.) Many have concluded that there is little or no correlation, but economist Diane Coyle disagrees, even though she concedes that much of this "happiness" is rooted in that sort of consumeristic satisfaction that wears off quickly:

"The anti-GDP campaign has its roots in a famous article by the economist Richard Easterlin. He recorded an apparent paradox. Looking at the evidence at a single point in time, people are happier in richer countries than in poorer ones (we are talking about averages); but looking at one country over time, rising GDP per capita does not translate into increased happiness. As a number of economists have noted, the paradox is due to the nature of the statistics: GDP is an artificial figure that can increase without limit, whereas happiness (reported by people in surveys or diaries) has an upper limit. The relationship between the two is like that between GDP and, say, height, or life expectancy -- they are strongly linked, just not proportionately over time. The silliness of the notion that rising GDP does not increase happiness is even easier to see when you remember that a recession, when GDP declines just a little, makes people very unhappy. What's more, given that productivity increases over time, GDP has to rise to keep unemployment from going up; and higher unemployment would also make people unhappy.






"So the apparently obvious conclusion is based on a misunderstanding of the kinds of statistics being used to relate happiness and GDP. 'Happiness' is measured from surveys, with respondents asked to rate their feelings on a scale of 1 to 3 or 1 to 10. It can never climb above the top of the scale, even with centuries of data. GDP is a constructed statistic that can rise without limit. If you plot a line that climbs extremely gently over time against a line that rises steadily by 2-3 percent a year, they will look unrelated even if they are not [unrelated]. It turns out from a number of more recent studies that reported happiness is strongly positively linked with the change or growth in GDP per capita from year to year.

"There is a valid point that economic growth measured by GDP over time is not an accurate indicator of well-being or social welfare. (I'm going to use the term social welfare, but bear in mind that it does not mean welfare payments.) In the children's book The Lion, the Witch and the Wardrobe, the White Witch uses enchanted Turkish Delight candy to ensnare Edmund. Once he has had one piece, he cannot resist more. Consumerism is an addiction too. Psychology offers insights into the rat race and consumerism. The experimental evidence is that most people care more about status and therefore their relative income than they do about the absolute level of income. The 'conspicuous consumption' first named by Thorstein Veblen is a kind of arms race of status, and one that the excesses of corporate pay have let rip in the past quarter century. What's more, the satisfaction we get from extra income and purchases wears off quickly, leaving us, like Edmund in the story, hungry for another fix. The evocative technical term for this is the hedonic treadmill.

"If money is an addiction, it's not surprising that some people think society needs help being weaned off it. Economists such as Robert Frank and Richard Layard advocate a tax on purchases of luxury items. Another policy recommendation has had more traction: that instead of measuring GDP we should be measuring happiness. In the United Kingdom there is even a Campaign for Happiness. The government leapt on its bandwagon, ordering the Office for National Statistics to start a survey to measure happiness levels around the country. Grotesquely, there are cheerleaders for the king of Bhutan because of his claim that he seeks to increase gross national happiness, when Bhutan is one of the poorest and one of the more authoritarian countries in the world.

"The fashion for measuring happiness is based on two approaches to the evidence. One kind is the approach using top-down aggregate economic data that Richard Easterlin used in his original paper. Other studies look at the statistical links between the level of happiness people report in surveys and their personal circumstances: are they married? Employed? In good health? The results are comfortingly sensible. People are happier if they are in a job, married, healthy, or have a religious faith. People like spending time with their friends and family but not their boss, and hate commuting. There is a life cycle of happiness: in general, we are least happy in middle age ('middle age' ranging from thirty-six in the United Kingdom to sixty-six in Portugal). Women tend to be happier than men, although that relative advantage may have diminished over the decades. It is not clear, however, that there are all that many policy implications in these results. We already knew that voters hate it when unemployment goes up. The government can hardly start mandating marriage and churchgoing to enforce greater happiness. The most important new practical finding from these studies is that mental ill-health is a major contributor to unhappiness, and yet almost everywhere it is a low priority in public health policies.

"Still, no matter that the empirical evidence for the happiness bandwagon is weak. The idea that once countries had grown comfortably rich, it is folly to pursue further economic growth, has struck a chord. It is important, though, to be clear that GDP is not and was not intended to be a measure of national welfare. Economists have repeatedly cautioned themselves and others not to get the two mixed up."

GDP: A Brief but Affectionate History
Author: Diane Coyle
Publisher: Princeton University Press
Copyright 2014 by Diane Coyle
Pages 111-114

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quarta-feira, 25 de junho de 2014

O PIB dos companheiros (Pibinho) e o PIB dos economistas, e do mundo - Roberto Macedo

Por que um PIB bem maior?
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 20/06/2014

Este artigo é sobre algo que deveria ser óbvio, ao menos para economistas. Mas vi até uma conhecida economista menosprezando o crescimento do produto interno bruto (PIB), a professora Maria da Conceição Tavares.

Em artigo recente, A Era das Distopias, que pode ser encontrado pelo Google, ela disse: "Na verdade, se o PIB é 'pibinho' ou não, qual o problema? Vai ser 2%, 3% ou 4%? O problema é ter emprego. Para mim, os critérios clássicos são emprego, salário mínimo e ascensão social das bases. E também é sempre importante olhar os investimentos". Desta última frase não discordo. E numa entrevista ao jornal O Globo (14/3) também afirmou: "Ninguém come PIB, come alimentos".

Para aferir o grau de desenvolvimento econômico de um país o que conta é o PIB per capita, ou por habitante. O do Brasil deixa-nos no meio da corrida mundial por esse desenvolvimento, na qual se empenha a esmagadora maioria dos países.

Para prosseguir, tomarei dois países para mostrar diferenças de grandeza econômica, recorrendo a dados de 2012 do Banco Mundial (BM), os últimos disponíveis nessa fonte. O Brasil, que o BM classifica com de "renda média alta", mostrava então um PIB total de US$ 2,253 trilhões, e 198,7 milhões de habitantes, com o que seu PIB por habitante era de US$ 11.339. O Reino Unido (RU), que engloba Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, considerado pelo BM como de alta renda, tinha então um PIB total de US$ 2,476 trilhões, bem próximo do brasileiro, mas uma população de 63,6 milhões, ou cerca de um terço da nossa, e assim um PIB por habitante de US$ 38.931, perto de 3,5 vezes o do Brasil (!).

Não nos podemos conformar com essa diferença, e como o RU e outros ricos seguirão em frente, o Brasil precisa acelerar bastante o seu PIB para encurtá-la. Um PIB por habitante bem maior levaria os brasileiros a um padrão de vida médio bem superior ao atual. Sei de um economista brasileiro que viveu um ano no RU (Inglaterra) e relatou que lá, entre outros aspectos, as condições de educação, segurança e saúde eram muitíssimo melhores que as nossas. E não ficou só olhando. Embora estrangeiro, uma de suas filhas ingressou no ensino fundamental de uma excelente escola pública gratuita, em tempo integral. Para facilitar a adaptação da nova aluna à língua inglesa ela teve um professor para tutorá-la individualmente. Outra filha dele nasceu lá, num hospital do Serviço Nacional de Saúde do país, e por um mês houve várias visitas de enfermeiras à sua residência para examinar a criança e saber se vivia em boas condições. Na área da segurança ele ficou só olhando, mas sem a apreensão com que se vive no Brasil.

Com o PIB, a população e a carga tributária que o Brasil tem, não há como ele oferecer serviços públicos desse nível. Assim, predomina em vários círculos a visão de que faltam recursos para isto ou aquilo, o que poderia ser efetivamente melhorado se aumentadas as porcentagens da receita pública ou do PIB destinadas a este ou àquele serviço.

Por exemplo, o Congresso Nacional aprovou recentemente um Plano Nacional de Educação que tem como meta principal elevar o gasto público total em educação dos atuais 6% para 10% do PIB em dez anos. E há o Movimento Saúde + 10, que pressiona o Congresso a elevar o dispêndio do governo federal em saúde para um montante igual ou superior a 10% de suas receitas correntes brutas.

Com propostas desse tipo se vende a ilusão de que poderão resolver nossos problemas. Muitas vezes não se explicita de onde virá o dinheiro, mas o existente já está curto e há outros interessados a gritar "me dá (mais) um dinheiro aí", como empresários, juízes, professores, policiais, Estados e municípios. Na educação a aposta é no dinheiro que viria do pré-sal, que também não vejo suficiente, além depender de outra hipótese: a de que ele saia lá do fundo do fundo do mar e seja eficazmente utilizado.

O que ainda sustenta a reduzida expansão dos serviços públicos vem das taxinhas do PIB e do contínuo aumento da já enorme carga tributária que sobre ele incide. Em 2012 estava bem perto de 36% do PIB, o mesmo ocorrendo com a carga tributária do RU.

No Brasil, essa semelhança de carga tem levado a uma percepção enganosa. Ela é sintetizada na visão de um país imaginário que poderia ser chamado de Runganda, com carga tributária do RU e serviços públicos de Gana.

Ora, com um pouco de reflexão se percebe que, além do PIB, é indispensável levar em conta o tamanho da população dos países comparados. Ou seja, calcular quanto seus governos arrecadam por habitante e têm ao seu dispor para prover serviços públicos. Voltando aos números, como foi visto o Brasil e o RU têm PIBs totais de valor aproximado e sobre estes incidem cargas tributárias de porcentagem semelhante.

Mas, calculando essa carga de 36% sobre o PIB por habitante, em 2012 o setor público do RU contava com US$ 14.015 por habitante, enquanto o Brasil dispunha de apenas US$ 4.082. Em reais à taxa comercial de ontem, R$ 31.632 e R$ 9.213 respectivamente. Uma enorme diferença, que explica os melhores serviços públicos providos pelo RU.

Em conclusão, o povo brasileiro não come os números do PIB, mas come uma fatia dele em alimentação, recorre à do vestuário e faz uso dos serviços de saúde, educação e transporte - entre outras fatias.

Assim, há muito, muitíssimo que fazer pelo PIB brasileiro. Enquanto não crescer a taxas dignas das necessidades de seus habitantes o Brasil continuará nessa ilusória classe média alta, que só é alta quando se miram os países que estão lá muito abaixo do nosso, que ainda é bem pobre se comparado com os que permanecem por cima, como o RU. Estes são os que devemos mirar e correr mais rápido para alcançá-los, ou pelo menos para não ficarmos, como hoje, tão distantes deles.


ROBERTO MACEDO, ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

terça-feira, 10 de junho de 2014

Prostituicao e drogas no PIB; por que nao roubos e corrupcao?

Estou brincando, claro, mas sendo rigoroso com a metodologia econômica, as únicas atividades que realmente agregam valor (ou, sendo cínico, ao bem-estar dos usuários) são as drogas e a prostituição (e como), pois esta, até mais do que a primeira, é um serviço efetivamente prestado -- como o de faxineira, arrumadeira, copeira, enfim, essas coisas de cama e mesa --,tanto é que os companheiros já registraram a profissão no Guia do MTb. Enfim, tem aqueles que preferem prazeres solitários, no onanismo, por exemplo, mas o sexo sempre é um intercâmbio, em alguns casos, comercial. Quantos por cento de todos os intercâmbios? Confesso que não sei, mas a julgar pelas aparências, em alguns países chega a ser alto; que tal 5% do PIB?
Todas as demais - roubos, homicidios, corrupção - constituem redistribuição de renda já apropriada e pouco valor acrescentam à economia, que ainda perde recursos como todo o aparato repressivo (em certo países não tanto para a corrupção). Os bandidos, obviamente, possuem uma outra percepção de suas atividades: eles acham que dão emprego a advogados, policiais e magistrados (gasto inútil, ainda assim, pois entra na teoria da janela quebrada do Bastiat).
Paulo Roberto de Almeida 

Itália e Grã-Bretanha vão incluir drogas e prostituição no PIB
The Wall Street Journal, 10/06/2014

Novos métodos para avaliar a economia de um país às vezes geram críticas. Ainda mais quando envolvem prostitutas e muita cocaína.
Reino Unido, Irlanda e Itália estão entre os países que se preparam para incluir práticas ilícitas nos cálculos do seu produto interno bruto, a medida mais ampla de bens e serviços de uma economia.
O Reino Unido pode acrescentar até US$ 9 bilhões ao seu PIB ao incluir os negócios com prostituição e outros US$ 7,4 bilhões com drogas ilegais, o que, segundo uma estimativa, seria o suficiente para dar um impulso de 0,7% ao tamanho da sua economia. Além de drogas e prostituição, a Itália também vai incluir o contrabando. As mudanças entrarão em vigor no fim deste ano.
Outros países da Europa também estão prontos para atender ao pedido da União Europeia para padronizar e ampliar o cálculo de seu PIB. A UE está seguindo as diretrizes de "melhores práticas" estabelecidas em 2008 pela Organização das Nações Unidas.
Alguns economistas questionam seus méritos — e métodos — de mensurar esses mercados obscuros. Os criminosos não medem esforços para encobrir transações normalmente feitas em dinheiro e difíceis de serem rastreadas. Como é complicado para as autoridades fiscais identificar essas atividades, elas acabam não gerando nenhuma receita para ajudar os países a pagar suas dívidas. Tudo isso torna mais difícil medi-las.
Claus Vistesen, economista-chefe da consultoria Pantheon Macroeconomics para a zona do euro, diz que existe um "dilema entre incluir o máximo de informação que você puder e a precisão". Segundo ele, levar em conta os segmentos à margem da economia pode tornar o cálculo do PIB "menos preciso".
O argumento a favor é bem simples. Se as vendas de drogas não são contabilizadas em um lugar onde as pessoas gastam metade de sua renda com drogas, pode-se concluir erroneamente que a população economiza metade do que ganha.
A ONU é contundente na exaltação da necessidade de se expandir a definição do PIB. "As contas, como um todo, são passíveis de serem seriamente distorcidas" se os governos não tabularem todas as transações, afirma trecho de sua diretriz de 2008.
As mudanças gerais resultantes de adicionar as atividades ilícitas podem se mostrar pequenas, porque isso seria apenas um componente a mais nas revisões estatísticas que estão sendo realizadas na Europa. O Reino Unido, por exemplo, alterou a forma de medir as organizações sem fins lucrativos, uma mudança que vai impulsionar seu PIB mais que as drogas e a prostituição. O governo britânico também alterou os cálculos da formação de capital e estoques, o que vai reduzir o PIB.
Alguns países europeus têm incentivos adicionais para inflar o tamanho de suas economias. Além da oportunidade de se gabar, um PIB maior ajuda a manter a dívida e os déficits dos países dentro das metas definidas pela UE.
Se o déficit do país deve permanecer abaixo de 3% do PIB, um governo que gasta demais vai buscar a maior estimativa de PIB possível.
Para outros, um PIB maior pode elevar os custos do governo. O bloco de 28 países usa as medidas do PIB para determinar quanto cada país deve contribuir para o orçamento coletivo da UE.
Na Europa, Finlândia e Suécia, países que dificilmente podem ser caracterizados por vastos setores da economia considerados ilegais, terão os maiores ganhos. As principais mudanças resultam não das drogas, mas de ajustes técnicos, como capitalizar os gastos em pesquisa e desenvolvimento e como calcular programas de aposentadoria e a maior parte das apólices de seguro.
A Agência de Análise Econômica, que calcula o PIB americano, "não tem planos no momento para incluir gastos em atividades ilícitas", segundo a porta-voz Jeannine Aversa. O PIB dos Estados Unidos cresceria cerca de 3% se todas as mudanças feitas na Europa fossem adotadas, de acordo com estimativas da Eurostat.
A metodologia própria do governo britânico revela como o cálculo de atividades que passam longe das caixas registradoras e dos contadores pode ser impreciso.
A Agência Nacional de Estatísticas do Reino Unido informa que vai estimar o consumo de seis drogas: cocaína em pedra (crack), cocaína em pó, heroína, maconha, ecstasy e anfetaminas. Autoridades irão primeiramente calcular o número de usuários de drogas com base em pesquisas sobre crime e então multiplicá-lo por uma estimativa média do volume de drogas consumidas por usuário.
Aí, uma série de estimativas será usada nesse cálculo. Para evitar, por exemplo, distorcer as estatísticas de importação, o percentual de maconha plantada domesticamente deve ser estimado. Uma suposição será feita para o volume de sementes e para a energia elétrica usada na produção.
Para as prostitutas, os estatísticos começarão com um cálculo de prostitutas de rua feito pela Polícia Metropolitana de Londres e uma estimativa de prostitutas que não ficam nas ruas feitas por um grupo não governamental que estuda violência contra mulheres e meninas. O cálculo suporá que o número de prostitutas deve aumentar ou diminuir em sintonia com a população masculina. O custo estimado dos serviços de prostituição flutuará em linha com os preços cobrados em clubes de striptease e por agências de acompanhantes, "as atividades mais próximas que temos da prostituição" que já são medidas, segundo os estatísticos.
Thomas Costerg, economista do banco britânico Standard Chartered, diz que os governos não estão procurando expandir a definição do PIB, mas "apenas falsificar os números".
O problema, segundo ele, "é que você pode ficar muito teórico e pode haver alguns efeitos colaterais, incluindo o crescimento do ceticismo da população em geral em relação às estatísticas".
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Taxas de crescimento do Brasil na ultima decada: uma tendencia declinante

Os dados são de conjuntura, mas reveladores de uma tendência ao baixo crescimento, em todo caso abaixo da média mundial, abaixo da média latino-americana e três vezes menor do que a dos países emergentes dinâmicos.
Estamos indo para o crescimento zero?
Paulo Roberto de Almeida

BRAZIL GDP GROWTH RATE

The Gross Domestic Product (GDP) in Brazil contracted 0.50 percent in the third quarter of 2013 over the previous quarter. GDP Growth Rate in Brazil is reported by the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). GDP Growth Rate in Brazil averaged 0.74 Percent from 1996 until 2013, reaching an all time high of 4.50 Percent in the third quarter of 1996 and a record low of -4.20 Percent in the fourth quarter of 2008. Brazil is the seventh largest economy in the world and the largest in Latin America. In recent years, the country has been one of the fastest-growing economies in the world primarily due to its export potential. The country’s trade is driven by its extensive natural resources and diverse agricultural and manufacturing production. Also, rising domestic demand, increasingly skilled workforce along with scientific and technological development, have attracted foreign direct investment. However, bureaucracy, corruption and weak infrastructure remain the biggest obstacles to economic development. This page contains - Brazil GDP Growth Rate - actual values, historical data, forecast, chart, statistics, economic calendar and news. 2014-01-09

ACTUALPREVIOUSHIGHESTLOWESTFORECASTDATESUNITFREQUENCY
-0.501.804.50-4.200.73 | 2013/121996 - 2013PERCENTQUARTERLY

TO 

Historical Data Chart

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O debate sobre o PIB e a PNAD: renda e consumo dos mais pobres - EdmarBacha

O pibinho e a pnadona
Edmar Bacha
O Globo, 08/10/2013

Consta que o general Médici, então ocupando a Presidência do país, teria dito, no auge do chamado milagre econômico do regime militar, que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". A frase me inspirou a criar, em 1974, a fábula sobre o reino da Belíndia, uma ilha em que poucos belgas eram cercados de muitos indianos. Recentemente, economistas do governo, preocupados com a sequência de "pibinhos" acompanhados de elevada inflação, resolveram partir para a luta e proclamar que "a economia vai mal, mas o povo vai bem". Marcelo Neri tem dado entrevistas dizendo que Belíndia agora tem novo significado: a renda de nossos "belgas" cresce pouco como a dos europeus, mas a renda de nossos "indianos" cresce igual à dos chineses. Será que o Brasil mudou tanto assim, e deixou de ser uma Belíndia para se tornar uma Indiabela? Antes fosse. A realidade é que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta. Marcelo Neri, em artigo no GLOBO (4 de outubro), se entusiasma com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, segundo a qual o crescimento da renda por brasileiro teria sido de 8% de 2011 a 2012, um número maior do que o da China. O contraste com o PIB per capita não poderia ser maior, pois este aumentou apenas 0,1% de 2011 a 2012. Como pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter crescido tanto assim? Neri não explica. Apenas assevera que entender o Brasil não é tarefa para amadores e mantém seu otimismo de que em 2013 haverá uma alta na felicidade geral da nação. Euforia ministerial à parte, parece melhor adotar uma atitude mais cautelosa. Caberia, antes de tudo, entender por que os dados da Pnad destoam tanto daqueles do PIB. Tarefa para profissionais, diria o Neri! Infelizmente, os profissionais andam batendo cabeça a respeito desse assunto. Alguns acham que o PIB está subestimado. Outros acham que se trata de conceitos distintos de renda real, pois a renda da Pnad é corrigida pela inflação (INPC) e o PIB é corrigido pelo chamado deflator implícito. Outros notam que o PIB é um conceito muito mais amplo que a renda das famílias na Pnad e que a comparação deveria ser feita, não com o PIB, mas com o consumo das famílias nas contas nacionais. Outros salientam que a Pnad apenas pergunta às pessoas qual foi sua renda em setembro de cada ano, enquanto que o PIB engloba uma massa muito maior de informações e cobre o ano inteiro. Há, finalmente, a questão do salário mínimo, cujo valor real vem sendo reajustado bem acima da inflação há alguns anos. É possível que a renda reportada pelas pessoas à Pnad seja muito influenciada pelo valor do mínimo legal e supere os ganhos financeiros que elas de fato auferem, especialmente quando transitam da informalidade para a formalidade. A evidência de o consumo das famílias nas contas nacionais não acompanhar o crescimento da renda da Pnad seria um indício dessa superestimação. Enquanto os economistas debatem as respostas para o dilema PIB x Pnad, é bom lembrar que o PIB retrata o potencial de produção do país. Se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde toda a população sofrerá. Durante algum tempo, especialmente num país tão desigual quanto o nosso, é possível elevar a renda dos mais pobres através de taxação e transferências, por exemplo. Isso é válido, mas não é sustentável. O Brasil precisa encontrar um caminho em que a distribuição de renda se alie ao crescimento, algo que ainda não conseguimos.

domingo, 6 de outubro de 2013

O PIB do Brasil e o PIB per capita dos brasileiros mais pobres: crescimento "chines" - Marcelo Neri

Tendo postado uma matéria de imprensa sobre artigo do presidente do IPEA e ministro interino da SAE-PR, Marcelo Neri, seguido de uma postagem crítica, e antecedido por um comentário mais crítico ainda, tomo conhecimento, agora, do artigo original, em sua íntegra (o que não conhecia, por falta de acesso).
Tenho o prazer de postá-lo agora, como contribuição a um debate relevante sobre as políticas públicas no Brasil, em especial as políticas sociais e redistributivas, das quais sou crítico (não quanto aos resultados, mas quanto aos meios).
Paulo Roberto de Almeida

Paradoxos e surpresas
Marcelo Neri
O Globo, em 04.10.2013

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) é a melhor janela que dispomos para observar os brasileiros em suas casas. A recém-lançada Pnad 2012 surpreendeu. A pobreza caiu 19,8%. Em pleno ano do pibinho, cerca de 3,5 milhões de brasileiros saltaram a linha de pobreza de R$ 150. Já descontada a inflação, o crescimento da renda por brasileiro foi 7,98%, maior que o do PIB per capita chinês (7,3%). Também em 2012, a renda da Pnad cresceu 8 pontos percentuais acima do PIB brasileiro.
A dissonância entre o observado e o esperado é gigantesca, mesmo para quem observou no fim de 2012 crescimento pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) 5 pontos percentuais acima do PIB, ou ainda os descompassos de crescimento Pnad-PIB de 14 pontos no período 2003 a 2011. O Brasil dos brasileiros em suas casas tem crescido mais que o Brasil dos economistas.
A desigualdade medida pelo índice de Gini passa de 0,527 para 0,526 de 2011 a 2012, após cair continuamente por 10 anos consecutivos. A aparente estabilidade da distribuição de renda no ano passado sob a ótica do Gini esconde melhorias dos extremos. O ganho de 14% entre os 5% mais ricos foi compensado por um ganho de 20,1% entre os 5% mais pobres. O crescimento observado na metade inferior da distribuição de renda, décimo a décimo, supera o crescimento da média. Ou seja, apesar da estabilidade do Gini, as mudanças distributivas foram particularmente favoráveis aos pobres e explicam metade da redução da extrema pobreza, dobrando o impacto do crescimento sobre a miséria. Isto é, a miséria cairia metade do que caiu se todos os brasileiros tivessem sua renda aumentada aos mesmos 8% da média geral da nação.
Mais um aparente paradoxo: apesar da estabilidade da taxa de analfabetismo, os dados mais gerais de média e desigualdade de escolaridade revelam em 2012 os melhores avanços em um único ano nas Pnads das duas últimas décadas. Se a manutenção da proporção de adultos com zero ano de estudo preocupa, por outro, o avanço na escolaridade de outros com pouca educação compensou o bastante, produzindo melhora educacional.
O ano em curso de 2013 também tem se revelado inusitado. Após um ano parado, o Gini da renda trabalhista volta a cair a partir de março de 2013 pela PME. Em junho, mês das manifestações, o PIB trimestral supera expectativas, crescendo 1,5%, que corresponde a uma taxa anualizada de 6%. Se não foi a estagnação do PIB ou da desigualdade, o que explicaria a virada dos humores ocorrida em junho último? A chave da resposta talvez esteja no desempenho trabalhista. O crescimento anual da renda do trabalho de 12 meses, desacele-rado de 5% para 3%, chegando a valores negativos na comparação de fevereiro com o ano anterior, é um possível candidato a causa econômica. As marcadas melhoras na média e na desigualdade de renda a partir de junho de 2013 antecipariam uma alta na felicidade geral da nação.
De maneira geral, 2012 foi um ano de surpresas pnadianas. A renda real por brasileiro cresceu 8% com uma estagnação do PIB pelas Contas Nacionais. Mesmo com a desigualdade medida pelo Gini parado, a mudança distributiva ocorrida duplicou a velocidade de superação da miséria. A média e a desigualdade de escolaridade, por sua vez, tiveram a maior melhora em décadas no mesmo ano em que o analfabetismo ficou parado. Como dizia o maestro Tom Jobim, entender o Brasil não é tarefa para amadores.


Marcelo Neri é ministro de Assuntos Estratégicos, presidente do Ipea e professor da EPGE/FGV

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Brasil dos brasileiros e dos economistas - Marcelo Neri e Monica Baumgarten De Bolle

Pequena introducao de Mauricio David:

Marcelo Neri, ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, briga para ficar no cargo. Para tal, publicou no O Globo de hoje artigo dizendo que os dados do IBGE que mostram um PIB praticamente estagnado ( crescimento de 0.9% em 2012, vai pelo mesmo caminho em 2013) não mostram a realidade. A realidade, estaria, pelo contrário, nas artes mágicas de mostrar o contrário, manipulando os dados da PNAD dada a conhecer recentemente... Este ministro vai longe... Já conseguiu ficar interinamente como ministro, agora briga para ficar definitivamente no posto. Será que vai conseguir ?
MD
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Pnad mostra que Brasil cresceu em ritmo chinês, diz ministro


Os números divulgados hoje (27) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes ao ano passado, mostram que existem dois Brasis: um que gerou Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9%, apelidado de “pibinho”, e outro, mostrado pela pesquisa, que revelou crescimento de 8% na renda média dos trabalhadores, “um desempenho de nível chinês”. A análise foi feita secretário de Assuntos Estratégicos, ministro Marcelo Neri, que também acumula a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“A Pnad 2012 surpreende muito, porque foi o ano do ‘pibinho’ – o PIB cresceu 0,9%, mas a renda média dos brasileiros cresceu 8,9%. Ou seja, uma diferença de 8 pontos percentuais. O Brasil dos economistas está indo muito pior que o Brasil dos brasileiros. A desigualdade deu uma estabilizada [descendente] em 2012, mas, com certeza, a pobreza teve uma queda espetacular por conta do crescimento”, afirmou Neri.

Segundo o ministro, em todos os extratos da população, a renda aumentou bastante, “em ritmo chinês”, e “isso está em completa dissonância com os dados das contas nacionais do PIB”.

Marcelo Neri atribuiu o avanço registrado pela Pnad ao forte crescimento do mercado de trabalho, principalmente pelo aumento do salário e não tanto pelo crescimento na ocupação, pois o país está vivendo quase um momento de pleno emprego. “Houve uma melhora em termos de formalidade e mais acesso a direitos trabalhistas. Fundamentalmente, é uma economia em que o mercado de trabalho está descolado do crescimento do PIB. São dois Brasis completamente diferentes.”

Outros fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira demonstrado na Pnad foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo, destacou o ministro, que apontou nova queda na desigualdade: “de 2003 até 2011, tivemos um crescimento da renda na Pnad de 40,5% no acumulado. E o PIB per capita cresceu 27,7% nesse período.”

O ministro Marcelo Neri falou com a imprensa durante o 13º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, promovido pela secretaria, em parceria com o Ministério da Defesa. O evento foi na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Veja a crítica a Marcelo Neri :
No Reino dos Pnadianos e Pnadianas... (Blog Monica Baumgarten de Bolle)
Por Monica Baumgarten de Bolle - 4 de outubro de 2013 11:36

…há o Brasil dos brasileiros em suas casas e o Brasil dos economistas. O Brasil dos brasileiros em suas casas só pode ser visto pela janela da PNAD, a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios do IBGE. A PNAD, por sua vez, só pode ser compreendida por uns poucos afortunados que conseguem enxergar a verdade nas suas estatísticas. Isso não é tarefa para amadores. Não é tarefa para economistas. Ou, ao menos, não é para qualquer economista.
Assim nos disse o Presidente do IPEA, Marcelo Neri, em artigo publicado para o Jornal O Globo em 4/10. Há o Brasil dos brasileiros em suas casas. Esse Brasil cresceu extraordinariamente no ano passado, uns 8% descontada a inflação, uns 14% quando a levamos em conta. Disse-nos o IPEA que isso foi maior do que a expansão do PIB chinês no ano passado, salientando o feito realmente extraordinário. Esqueçam-se do detalhe anódino de que o PIB chinês não é comparável à PNAD brasileira porque… Bem, para início de conversa porque não sabemos como o PIB chinês é compilado. Já a comparação com o Brasil dos economistas, esta sim é válida. E, esse Brasil, o medido pelo PIB, cresceu apenas 0,9% em termos reais, ou pouco mais de 6,5% quando se leva em conta a variação dos preços.
O Brasil dos brasileiros em suas casas e o Brasil dos economistas – leia-se, o PIB – são definidos e avaliados pelo mesmo instituto, pelo IBGE. O IBGE conduz a PNAD. O IBGE compila as Contas Nacionais. O Presidente do IPEA disse que o Brasil não é para amadores, parafraseando Tom Jobim. Estaria ele, portanto, insinuando que uma parte do IBGE é amadora? Afinal, uma parte do IBGE, a que lida com as Contas Nacionais, constatou que a renda por habitante do País praticamente estagnou no ano passado. Ou seria o caso dele estar nos dizendo que nós economistas – uma categoria à qual ele próprio pertence – não somos capazes de decifrar a esfinge pnadiana? Pnadiana, seria um neologismo ou um termo que compõe o idioma correntemente falado pelos integrantes do atual governo brasileiro, o Dilmês?
E, será mesmo que a PNAD é um enigma que apenas aqueles dotados de uma habilidade inata para destrinchar as mensagens contidas nos microdados são capazes de resolver? A renda medida pela PNAD aumentou 14% no ano passado, levando em conta a inflação. O salário mínimo cresceu 14% em 2012 levando em conta a inflação. Será uma mera coincidência?
Suponhamos que o enigma pnadiano seja explicado pela regra anacrônica de reajuste do salário mínimo, essa que o eleva todo ano com base na expansão do PIB de dois anos anteriores e na inflação de um ano atrás. Em 2012, o salário mínimo foi favorecido pela extraordinária expansão do PIB de 2010, de 7,5%, e pela não menos extraordinária elevação da inflação, que bateu no teto da meta, nos 6,5%. Afora o fato de que a regra aumenta o grau de indexação da economia, algo que levamos anos para desmontar, e que não faz o menor sentido econômico reajustar o salário mínimo pelo PIB, há outros problemas. O salário mínimo reajustado na marreta desse modo prejudica as contas públicas brasileiras, essas mesmas contas públicas que viraram o alvo de críticas das agências internacionais de risco e de certos semanários britânicos que gostam de foguetes religiosos. O salário mínimo reajustado na marreta tende a reduzir os incentivos para que as pessoas busquem na educação a melhoria de suas perspectivas futuras. Afinal, com tantas bolsas isso e aquilo por aí, além do maná do salário mínimo distribuído generosamente pelo governo todos os anos, para que almejar algo mais? Enterrar-se na mediocridade já é suficiente. E, é claro, aprender Dilmês.
No reino dos Pnadianos e Pnadianas, há… Bem há Pnadianos e Pnadianas. Esses são os guerreiros do governo que usam qualquer artifício, inclusive um manuseio peculiar dos dados, para sustentar os seus argumentos. Poderiam também ser chamados de Pnadilmos e Pnadilmas. Qualquer semelhança com os Paladinos de Carlos Magno não é mera coincidência. Afinal, quem não concorda com eles (e elas) só pode ser membro daquelas hordas de Sarracenos hereges…

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Uai! Cade o Pibao que estava aqui? Sobrou essa merrequinha de PIB?

Projeção de crescimento da economia brasileira cai para 2,24%

A projeção de instituições financeiras para o crescimento da economia, este ano, foi ajustada para baixo. De acordo com a pesquisa semanal do Banco Central (BC) ao mercado financeiro, a estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, caiu de 2,28% para 2,24%, este ano. Para 2014, a projeção foi mantida em 2,60%.

. A estimativa para a expansão da produção industrial foi ajustada de 2,10% para 2%, este ano, e mantida em 3%, em 2014. A projeção das instituições financeiras para a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB segue em 35%, este ano, e foi ajustada de 35% para 34,90%, no próximo ano.

. A expectativa para a cotação do dólar foi mantida em R$ 2,25, ao final deste ano, e em R$ 2,30, ao fim de 2014.

domingo, 4 de agosto de 2013

Bye-bye old GDP, hello new GDP: o novo calculo do PIB dos EUA (BBC)

Como a economia dos EUA está sendo recalculada

BBC – EUA,  04/08/2013

A forma como a economia americana é medida tem mudado para incluir, pela primeira vez, cálculos de propriedade intelectual, como produção de canções pop e patentes de medicamentos.
“O PIB é provavelmente a estatística individual mais importante afetando negócios, lares e governos”, diz Steve Landefeld, diretor do Escritório de Análises Econômicas (BEA, na sigla em inglês), que mede o produto interno bruto ─ o total de bens e serviços produzidos pela economia a cada trimestre.
Calcular o PIB é uma missão difícil, diz ele, “porque estamos (tentando medir) uma economia em constante transformação”.
Agora, no que o BEA chama de a maior mudança de cálculos desde 1999, a medição da atividade econômica americana está sendo atualizada.
O objetivo é finalmente incluir algo que muitos já perceberam: a transição de uma produção econômica fabril e agrícola para uma de conhecimento, que represente os investimentos e a produção econômica em propriedade intelectual, incluindo desde os gastos em produzir um seriado de sucesso na TV até a pesquisa pela cura do câncer.
Entenda por que e como isso funciona:
Porque os cálculos estão mudando?Pense em 2007. Foi o ano das franquias cinematográficas: Homem-Aranha 3 e Shrek 3 lideraram as bilheterias.
Para os economistas, esses filmes foram alguns dos mais misteriosos produtos criados pela economia americana naquele ano.
Apesar de a renda de bilheterias, DVDs e exibições na TV ter sido incluída no cálculo do PIB dos EUA, nenhum centavo do dinheiro gasto na criação desses filmes ─ ou na criação de qualquer programa de TV ou canção ─ foi contabilizado.
O BEA estima que, em 2007, o total gasto na produção criativa (de filmes, TV e música) foi de US$ 70 bilhões (R$ 160 bilhões na cotação atual). No entanto, por conta do método do cálculo do PIB na época, nada disso foi levado em conta no resultado final.
Se a isso forem somados os gastos em pesquisa e desenvolvimento ─ como a produção de um novo medicamento para pressão alta ou um chip de computador ─, temos mais US$ 300 bilhões que não foram contabilizados.
A partir de agora, esses investimentos, bem como ajustes na forma como pensões são calculadas dentro da atividade econômica, passarão a ser incluídos nos números consolidados.
Como medir o valor de uma canção pop?
É fácil entender como os investimentos em “hits”, por exemplo, da cantora Beyoncé contribuem para a economia americana (além das coreografias da música, claro). É preciso contratar compositores, diretores de estúdio, etc.
Mas estimar o investimento exato é “bem difícil”, explica Landefeld, principalmente no que diz respeito à contribuição econômica da propriedade intelectual, como patentes e direitos autorais.
“Essas coisas não são compradas e vendidas nos supermercados. Você nunca vai dizer ‘preciso de uma patente para um novo remédio, vou sair para comprar uma’. Não há um mercado de trocas.”
Sendo assim, os estatísticos do BEA tentam, desde 2005, entender a melhor forma de tabular a produção econômica vinda da propriedade intelectual que, de maneira intuitiva, conseguimos identificar ao nosso redor.
Em resumo, eles criaram modelos de precificação aproximados, tendo como base negócios globais.
“A mudança mais semelhante (a esta em curso) havia ocorrido em 1999, quando começamos a contabilizar (no PIB) os softwares de computador”, diz Brent Moulton, chefe de contas nacionais no BEA e a pessoa responsável pela criação e implementação da revisão do PIB.
“Acho que aprendemos que seria melhor primeiro desenvolver esse tipo de estimativa com a qual pudéssemos conversar com usuários e tentar diferentes abordagens.”
Qual o impacto disso no PIB?
“No total, (o aumento de US$ 370 bilhões) é uma adição significativa ao PIB ─ cerca de 2,5%”, explica Landefeld.
Para alguns, a decisão pode ser um estratagema político do governo de Barack Obama para inflar a economia dos EUA ─ ainda que essa teoria tenha poucos seguidores.
Por outro lado, o impacto não será tão grande quanto se imagina, já que não é apenas o PIB trimestral que está sendo recalculado ─ todos os dados, desde 1929, estão sendo atualizados.
Sendo assim, ao mesmo tempo em que o tamanho geral da economia será maior, não haverá mudanças significativas nas taxas de crescimento econômico.
“(As revisões do PIB) provavelmente não mudarão o cenário atual da economia”, opina Lewis Alexander, economista-chefe da empresa de pesquisas Nomura e ex-conselheiro do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner.
Mas Landefeld, do BEA, acha que, ao contabilizar o papel da pesquisa e desenvolvimento na produção econômica, será possível ajudar o governo ─ e outras instituições ─ a estimar melhor, por exemplo, o impacto de financiamentos e subsídios à produção científica.
“Várias decisões públicas e privadas podem ser influenciadas e informadas (pelas mudanças de cálculo)”, agrega ele.
Como isso se compara à forma como o PIB é calculado em outros países?
A mudança de cálculos se deve, em parte, a um esforço coordenado entre as maiores economias do mundo para padronizar a forma como sua produção econômica é calculada.
Austrália e Canadá começaram a implementar mudanças semelhantes, e a Grã-Bretanha e a União Europeia devem segui-los, apesar das dificuldades.
“À medida que o mundo se torna mais global, fica mais difícil monitorar essas relações produtivas”, alega Moulton. “A produção ocorre em todas as partes do mundo, e às vezes é difícil analisar o processo produtivo global e identificar o quanto pode ser atribuído a cada economia.”
A ideia é que, ao coordenar melhor essas medições, se obtenha uma imagem mais clara do crescimento econômico e dados mais precisos para orientar políticas públicas.
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