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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Brasil: o grande desperdicio economico, e uma sociedade que caminha para tornar-se inviavel

Quando o setor público -- QUE NÃO PRODUZ RIQUEZA, RECORDE-SE -- cresce mais do que o setor privado -- que é, como sabemos, o ÚNICO QUE CRIA RIQUEZAS -- a sociedade passa a transferir um volume maior de recursos de atividades produtivas para atividades meramente intermediárias, quando não improdutivas.
A matéria abaixo retrata um país a caminho de se tornar inviável.
Como me escreve um amigo, Roque Callage, "É o Estado improdutivo tomando o lugar da sociedade e arrogantemente, pagando os maiores salários, tirando dinheiro de quem produz. O País está começando a chegar ao fundo do poço, cobrando impostos cada vez maiores."
De fato é isso, e não parece que os brasileiros tenham tomado consciência dessa realidade.
Ao contrário, todos querem viver à custa dos demais, fazendo concursos públicos para terem estabilidade e ganhar mais.
Essa mentalidade, que corresponde exatamente ao governo que temos, e ao tipo de hegemonia cultural que prevalece atualmente em toda a sociedade, vai inviabilizar o país, tornando-o cada vez menos avançado, pois que investindo pouco e consumindo recursos escassos.
O Brasil está a caminho da sua decadência e ainda não tomou consciência disso.
Paulo Roberto de Almeida

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Governo paga quase 30% dos salários do pessoal ocupado no Brasil, diz IBGE
Embora represente apenas 0,4% das organizações, a administração pública absorveu 19,9% do pessoal ocupado assalariado e pagou 29,8% dos salários em 2012
Daniela Amorim
Agência Estado, 28 de maio de 2014

RIO - O governo é responsável por pagar quase 30% dos salários do País, segundo o Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora represente apenas 0,4% das organizações do cadastro, a administração pública, incluindo as três esferas do governo (Federal, Municipal e Estadual), absorveu 19,9% do pessoal ocupado assalariado e pagou 29,8% dos salários e outras remunerações em 2012.
O governo também pagou os salários médios mensais mais elevados, R$ 2.723,29, contra uma média de R$ 1.842,09 das entidades sem fins lucrativos e R$ 1.722,71 das entidades empresariais.
No ano, as empresas representavam 89,9% das organizações do País, com 76,3% do pessoal ocupado total (que inclui sócios e proprietários), 73,4% dos empregados assalariados e 63,9% dos salários e outras remunerações pagos em 2012.
Já as entidades sem fins lucrativos, que equivaliam a 9,7% das organizações existentes, detinham 6,7% do pessoal ocupado assalariado e 6,3% dos salários pagos no ano.
Em relação ao porte, as grandes empresas ainda são responsáveis por mais da metade dos postos de trabalho no País. Apesar do predomínio das companhias de menor tamanho, as organizações com 250 pessoas ou mais respondiam por 53,7% do pessoal ocupado assalariado e 69,1% dos salários e outras remunerações.
Comércio. O comércio manteve a liderança pelo terceiro ano seguido na absorção de pessoal ocupado assalariado. A atividade chamada "Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas" contava com 8,9 milhões de pessoas em 2012, 19,1% dos empregados assalariados do País.
O setor deteve ainda o maior número de empresas (41,8% do total) e de pessoal ocupado total, que inclui sócios e proprietários (22,2%).
No entanto, a folha de salários e outras remunerações deteve apenas 12,1% do total pago no ano, atrás da folha da administração pública (23,7%) e das indústrias de transformação (19,1%).

Trabalho formal
As empresas e outras organizações formais instaladas no País criaram 7,8 milhões de novos postos de trabalho assalariado entre 2008 e 2012. O número de empregados saltou de 38,4 milhões para 46,2 milhões no período.
Quase metade das novas vagas (49,4%) foi gerada em apenas três atividades: no Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (23,1% delas), na Construção (13,2%); e nas Atividades administrativas e serviços complementares (13,1%).
Em relação à instrução, 82,3% do pessoal assalariado não tinham nível superior. No entanto, na passagem de 2011 para 2012, o pessoal assalariado com nível superior cresceu 6,0%, enquanto o pessoal assalariado sem nível superior cresceu 1,6%.
Os trabalhadores com nível superior receberam, em média, R$ 4.405,55, 215% a mais que os empregados sem curso superior, que tinham salário médio de R$ 1.398,74.
Nas empresas, a participação dos assalariados sem nível superior recuou, mas ainda é expressiva: passou de 90,7% em 2009 para 89,5% em 2012.

A administração pública tem o maior percentual de empregados com nível superior: aumentou de 35,8% em 2009 para 41,3% em 2012. Nas entidades sem fins lucrativos, a fatia de trabalhadores com nível superior subiu de 25,9% em 2009 para 27,3% em 2012.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Economia brasileira: pode-se NAO ser pessimista (tudo politica de governo)

Projeções pessimistas

06 de março de 2014 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
O Brasil continuará com inflação alta, crescimento econômico abaixo de medíocre e contas externas em mau estado, neste e no próximo ano, segundo as projeções coletadas pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus, realizada semanalmente com cerca de uma centena de instituições financeiras e consultorias. A última pesquisa, divulgada nesta quarta-feira, foi conduzida na sexta passada. Na véspera, dia 27, havia sido divulgada a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013. Na antevéspera o BC havia anunciado a alta dos juros básicos de 10,5% para 10,75%. A principal novidade, neste caso, havia sido um aumento menor que os seis anteriores, todos de 0,5 ponto porcentual. As duas notícias, juntas, foram insuficientes para mudar o humor do mercado e afetar seriamente as estimativas formuladas nas semanas anteriores. Os analistas continuam à espera de informações muito mais positivas para abandonar ou pelo menos atenuar o pessimismo. Isso dependerá basicamente do governo.
A pesquisa Focus apresenta projeções sobre preços, juros, dívida pública, crescimento econômico, câmbio e contas externas. As cifras publicadas são as medianas das estimativas. Os economistas do mercado, tudo indica, estão menos otimistas que os dirigentes do BC em relação à alta de preços. Para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi mantida a projeção de 6%, a mesma coletada nas quatro semanas anteriores. Mas pioraram as estimativas do IGP-DI, do IGP-M e do IPC-Fipe. Só diminuíram as projeções da Selic. A taxa final prevista para o ano foi baixada de 11,25% para 11,13%. A taxa média de 2014 foi diminuída de 10,97% para 10,91%. De toda forma, foi mantida a aposta em novos aumentos de juros, porque a inflação deverá permanecer elevada e resistente.
A decisão do BC pode ter sido baseada em algum otimismo quanto à evolução dos preços. Pode ter sido motivada pela preocupação com o crescimento econômico. Pode ter resultado de uma combinação desses dois fatores. Seja como for, o pessoal das consultorias e das instituições financeiras pouco mudou suas avaliações e manteve as previsões de inflação muito longe da meta de 4,5% e de expansão econômica inferior à do ano passado. No caso do PIB, a melhora da projeção foi muito pequena, de 1,67%, na semana anterior, para 1,70%.
Mas a estimativa da produção industrial piorou, caindo de 1,87% para 1,80%. A expansão econômica mais uma vez dependerá, portanto, dos serviços e da agropecuária - e isso ainda será determinado pelos estragos da estiagem.
O pessimismo ainda se estende ao próximo ano. Para 2015, a inflação projetada continua em 5,70%, a mesma taxa estimada quatro semanas antes. O crescimento econômico deve chegar a 2%, uma taxa extraordinariamente baixa para uma economia emergente. A produção industrial poderá expandir-se 3% - resultado abaixo de pífio, depois de três anos muito ruins.
Os analistas do setor privado continuam, portanto, duvidando amplamente de qualquer melhora significativa das condições de funcionamento da economia nacional. Segundo essa avaliação, o País continuará operando com baixa produtividade e, portanto, com reduzido potencial de crescimento.
Essas dúvidas são perfeitamente compatíveis com as projeções para as contas externas. A projeção para o superávit comercial foi rebaixada de US$ 8,25 bilhões, há quatro semanas, para US$ 7,80 bilhões e, em seguida, para US$ 7 bilhões. Em quatro semanas, a previsão do saldo no próximo ano diminuiu de US$ 13 bilhões para US$ 10 bilhões. O déficit em transações correntes para este ano foi mantido em US$ 75 bilhões na pesquisa Focus da sexta-feira passada - menor que o do ano passado (US$ 81,4 bilhões), mas ainda um forte sintoma de desarranjos internos.
Um surto de investimentos produtivos poderia justificar um déficit em conta corrente dessa magnitude, mas o caso brasileiro é outro. O Brasil continua investindo menos que 20% do PIB tanto em infraestrutura quanto em meios de produção para empresas. Milagre econômico seria crescer mais com investimento tão baixo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Pausa para... humor economico (ou contos de fadas antecipando o Natal, para o ministro da deseconomia...)

O Ministro Mantega deve estar pedindo um PIBão, na sua meia de Natal, e espera que o Papai Noel, ou alguma fada distraída, lhe traga pelo menos um PIB de 2,5% de crescimento anual, de agora até o final do ano.
Não é uma gracinha?
Um grandalhão desses, um bobalhão econômico, melhor dito, acreditando em Papai Noel e contos de fadas.
Fica, em todo caso, registrado, nossa página de humor econômico da semana.
Nunca antes neste país se torceu tanto para uma inversão para cima do tal crescimento gradual, outra piada deste jornal mantido, financiado, escrito e a serviço do chefe da quadrilha, sim, ele mesmo, o Stalin Sem Gulag que curta sua "saison en enfer" da Papuda. O que é que vocês querem? O Stalin de verdade, o homem do Gulag, também enfrentou algum tempo de cadeia (por assaltar bancos) antes de ascender na escala do crime...
O nosso Stalin Sem Gulag fez mais do que assaltar bancos: expropriou contabilmente vários bancos, um procedimento mais limpo, mais seguro e muito mais eficaz. Bem, de vez em quando algo dá errado. Nem tudo é perfeito neste país.
De perfeito mesmo, só as projeções do pândego ministro Mantega.
Ele ficou contente com a revisão do IBGE, que corrigiu o fabuloso crescimento de 2012 de 0,9 para 1%, ou seja, um recuo de 0,5% no crescimento real per capita. Cada brasileiro ficou mais pobre em meio por cento, na média, com exceção dos amigos do rei, ou seja, os corruptos de sempre; estes continuam enriquecendo, a taxas que nem te conto...
Bem, chega de piada da semana, vamos ao que interessa...
Paulo Roberto de Almeida

Apesar da queda, Mantega ainda acredita em PIB a 2,5% este ano
Correio do Brasil, 3/12/2013
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

A economia brasileira está em trajetória de expansão gradual, que deve se manter nos próximos trimestres, avaliou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhecendo ainda que o desempenho da economia está abaixo do desejado.
– A recuperação talvez não seja na velocidade que gostaríamos – afirmou o ministro a jornalistas, acrescentando, no entanto, que ainda é possível que a economia avance 2,5% neste ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 0,5% no terceiro trimestre deste ano ante o segundo, primeiro resultado negativo e o pior em mais de quatro anos, afetado pela retração dos investimentos. Entre abril e junho passados, a atividade havia crescido 1,8%.
Sobre a dinâmica da expansão do PIB, o ministro avaliou que os investimentos estão acelerando e deverão registrar alta entre 6% e 7% neste ano em relação a 2012, apesar de terem encolhido 2,2% no trimestre passado sobre os três meses anteriores.
– O crescimento é gradual porque no mundo todo está sendo assim, e esse crescimento se dá principalmente em investimentos, bens de capital – disse Mantega a jornalistas, acrescentando que, por outro lado, vai demorar “mais alguns anos” para que a Formação Bruta de Capital Fixo – uma medida de investimento – corresponda a 24% do PIB.
O programa de concessões que está em curso, nos setores de infraestrutura e logística, vai ajudar a “elevar o crescimento potencial do país, de 4%”, afirmou ele. Mantega reconheceu que as sucessivas elevações na Selic tiveram impacto no crescimento da atividade neste ano. Em abril passado, o Banco Central iniciou um ciclo de aperto monetário que já levou a taxa básica de juros de 7,25% para o atual patamar de 10%, a fim de combater a inflação por meio do encarecimento do crédito e, consequentemente, do consumo.
O ministro afirmou que o consumo das famílias está sendo prejudicado pela falta de crédito, mas considera que com a queda da inadimplência e com o menor comprometimento da renda dos brasileiros, o consumo avançará. Mantega disse ainda que o crescimento baixo atrapalha o resultado fiscal, mas repetiu que o governo central – governo federal, BC e Previdência vão cumprir sua meta de superávit primário de R$ 73 bilhões neste ano.
Ele também citou o atual momento da economia mundial, que vem mostrando recuperação e será seguida pelo Brasil.

PIB fraco
A queda na base sequencial veio depois de uma expansão revisada de 1,8% do PIB no segundo trimestre ante o primeiro. Pesquisa da agência inglesa de notícias Reuters indicava que a economia brasileira teria contração de 0,2% nos três meses até setembro sobre o segundo trimestre e avançaria 2,5% na comparação anual, segundo a mediana das projeções e sem considerar a nova metodologia do IBGE para o PIB.
– Em linhas gerais, a despeito das mudanças metodológicas, temos a confirmação de PIB fraco. Olhando pela ótica da demanda, vemos claramente que está ficando mais evidente a questão da diferença entre oferta e demanda – afirmou o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
Para ele, o quarto trimestre começou fraco e o PIB deve encerrar este ano com expansão de 2,2% a 2,3%, pior do que sua previsão anterior de 2,5%. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, recuou 2,2% no terceiro trimestre sobre o período imediatamente anterior, no pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2012 (-2,7%) e na primeira queda em um ano.
O governo da presidente Dilma Rousseff assumiu o discurso de que os investimentos serão o principal motor da economia brasileira, tendo como pano de fundo as concessões de infraestrutura e logística já feitas e programadas para o próximo ano.
– Vale destacar que uma das coisas que mais caiu foram os gastos de capital, que é o grande desafio do governo… O desafio é ver os investimentos se recuperarem mais e melhorar a situação das importações – afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acrescentando que revisará as estimativas de crescimento do PIB em 2014 para entre 2,4% e 2,5%, ante 2,7%.
No trimestre passado, ainda segundo o IBGE, o setor de Agropecuária também encolheu, com retração de 3,5 por cento sobre abril a junho, enquanto os setores Industrial e de Serviços ficaram praticamente estáveis, com variação positiva de 0,1 por cento, após terem avançado 2,2 e 0,8 por cento, respectivamente, no segundo trimestre sobre o primeiro.
Já o consumo das famílias e do governo, no terceiro trimestre, tiveram expansão de 1 e de 1,2 por cento, respectivamente, sobre o segundo.

Revisão do IBGE
O IBGE também revisou os resultados do PIB de períodos anteriores por causa da nova metodologia. Pelos novos números apresentados, a economia cresceu 1% em 2012, ligeiramente acima do 0,9% divulgado inicialmente.
Os resultados trimestrais anteriores também mudaram. Além de ter revisado o PIB do segundo trimestre de alta de 1,5% para de 1,8% sobre janeiro a março, o IBGE informou agora que a economia no primeiro trimestre deste ano ficou estagnada, pior que o avanço de 0,6% divulgado inicialmente.
O IBGE passou a incorporar no cálculo do PIB sua nova pesquisa mensal de serviços, que começou a ser divulgada este ano e que, por enquanto, mede apenas a receita do setor. Grande parte dos especialistas ainda não tinha conseguido adequar suas projeções com os novos parâmetros.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Brasil: crescimento padrao companheiros: mediocre, declinante, desquilibrado...

E deficitário também.
Eles conseguiram, finalmente, chegar ao seu próprio padrão, sem ajuda chinesa, sem estímulos da economia mundial, apenas com a própria incompetência da política econômica governamental...
Paulo Roberto de Almeida

FMI reduz a projeção de crescimento do Brasil em 2014 para 2,5%

Segundo as projeções, Brasil terá o menor crescimento entre países emergentes; para 2013, a previsão foi mantida em 2,5%

08 de outubro de 2013 | 10h 01
Altamiro Silva Júnior, enviado especial da Agência Estado
WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve a projeção de crescimento do Brasil em 2013, mas reduziu a de 2014. Os economistas do Fundo seguem apostando que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 2,5% este ano, de acordo com o relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado nesta terça-feira (8) pelo Fundo no início de sua reunião anual. A estimativa é a mesma que havia sido divulgada em julho. Mas, para o ano que vem, a projeção anterior de alta de 3,2% do PIB foi reduzida para 2,5%.
Se o crescimento de 2,5% se confirmar em 2014, este será a menor alta entre os emergentes. Apesar de a projeção ter sido cortada, a Índia deve crescer 5,1% em 2014 e 3,8% em 2013. As projeções para o PIB da China também foram reduzidas e o documento diz que o país asiático terá nos próximos anos um ritmo menos intenso de crescimento do que vinha registrando. Em 2013, a previsão de crescimento da economia baixou de 7,8% para 7,6%. No ano que vem, foi reduzida de 7,7% para 7,3%.
No caso da Rússia, o PIB deve crescer 3% em 2014 e 1,5% em 2013. O documento ainda calcula uma alta de 2,9% da economia da África do Sul em 2014 e de 2% em 2013.
Os países emergentes, ressalta o FMI, estão registrando crescimento menor e devem contribuir menos com o avanço do PIB mundial este ano e nos próximos. As taxas de expansão destes mercados estão em torno de três pontos porcentuais abaixo do que eram em 2010, com Brasil, Índia e China respondendo por dois terços do declínio. No caso do Brasil e Índia, o relatório destaca que parte da desaceleração deve-se a uma infraestrutura insuficiente, que limita uma maior expansão da atividade, além de questões regulatórias.
A América Latina deve crescer 2,7% este ano e 3,1% no próximo, nos dois casos uma redução de 0,3 ponto porcentual ante a estimativa divulgada em julho. O México deve se expandir apenas 1,2% este ano. O país teve o maior corte na estimativa do PIB em 2013 no relatório de hoje, com redução de 1,7 ponto.
Manutenção da projeção
Foi a primeira vez em mais de um ano que o FMI manteve a projeção de crescimento brasileiro para 2013, já que o número vinha sendo reduzido a cada novo relatório com estimativas econômicas do Fundo desde meados do ano passado. Para 2014, a redução de 0,7 ponto porcentual na projeção do PIB brasileiro foi a maior entre os principais países com números divulgados hoje pelo FMI.
No relatório, o FMI destaca que a recuperação da economia brasileira deve continuar em ritmo moderado, ajudada pela alta do dólar e pelo consumo, além das políticas de estímulo do governo para incentivar o investimento. Mas o documento chama atenção para o fato de que a inflação alta pode pesar no desempenho do varejo ao reduzir o poder de compra da população. Incerteza política e problemas pelo lado da oferta também podem continuar a prejudicar a atividade econômica.
Em meio à inflação ainda alta, o FMI diz que o Brasil pode precisar elevar novamente os juros. "Em um grupo de países, incluindo Brasil, Índia e Indonésia, um maior aperto (na política monetária) pode ser necessário para fazer face à continua pressão inflacionária vinda da limitação da capacidade produtiva e que deve ainda ser reforçada pela recente depreciação da moeda", afirma o documento, que reserva boa parte de sua análise para descrever a desaceleração econômica dos mercados emergentes - movimento que acabou acontecendo em intensidade maior do que se esperava.
O FMI estima que o índice de preços ao consumidor vá subir 6,3% este ano no Brasil e 5,8% no próximo. O déficit da conta corrente deve ficar em 3,4% e 3,2%, respectivamente neste ano e no próximo. Já para a taxa de desemprego a previsão é de 5,8% e 6%. Ainda sobre o Brasil, o FMI alerta que a política fiscal do País precisa ser reforçada com urgência, dado o alto nível de endividamento.

O debate sobre o PIB e a PNAD: renda e consumo dos mais pobres - EdmarBacha

O pibinho e a pnadona
Edmar Bacha
O Globo, 08/10/2013

Consta que o general Médici, então ocupando a Presidência do país, teria dito, no auge do chamado milagre econômico do regime militar, que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". A frase me inspirou a criar, em 1974, a fábula sobre o reino da Belíndia, uma ilha em que poucos belgas eram cercados de muitos indianos. Recentemente, economistas do governo, preocupados com a sequência de "pibinhos" acompanhados de elevada inflação, resolveram partir para a luta e proclamar que "a economia vai mal, mas o povo vai bem". Marcelo Neri tem dado entrevistas dizendo que Belíndia agora tem novo significado: a renda de nossos "belgas" cresce pouco como a dos europeus, mas a renda de nossos "indianos" cresce igual à dos chineses. Será que o Brasil mudou tanto assim, e deixou de ser uma Belíndia para se tornar uma Indiabela? Antes fosse. A realidade é que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta. Marcelo Neri, em artigo no GLOBO (4 de outubro), se entusiasma com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, segundo a qual o crescimento da renda por brasileiro teria sido de 8% de 2011 a 2012, um número maior do que o da China. O contraste com o PIB per capita não poderia ser maior, pois este aumentou apenas 0,1% de 2011 a 2012. Como pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter crescido tanto assim? Neri não explica. Apenas assevera que entender o Brasil não é tarefa para amadores e mantém seu otimismo de que em 2013 haverá uma alta na felicidade geral da nação. Euforia ministerial à parte, parece melhor adotar uma atitude mais cautelosa. Caberia, antes de tudo, entender por que os dados da Pnad destoam tanto daqueles do PIB. Tarefa para profissionais, diria o Neri! Infelizmente, os profissionais andam batendo cabeça a respeito desse assunto. Alguns acham que o PIB está subestimado. Outros acham que se trata de conceitos distintos de renda real, pois a renda da Pnad é corrigida pela inflação (INPC) e o PIB é corrigido pelo chamado deflator implícito. Outros notam que o PIB é um conceito muito mais amplo que a renda das famílias na Pnad e que a comparação deveria ser feita, não com o PIB, mas com o consumo das famílias nas contas nacionais. Outros salientam que a Pnad apenas pergunta às pessoas qual foi sua renda em setembro de cada ano, enquanto que o PIB engloba uma massa muito maior de informações e cobre o ano inteiro. Há, finalmente, a questão do salário mínimo, cujo valor real vem sendo reajustado bem acima da inflação há alguns anos. É possível que a renda reportada pelas pessoas à Pnad seja muito influenciada pelo valor do mínimo legal e supere os ganhos financeiros que elas de fato auferem, especialmente quando transitam da informalidade para a formalidade. A evidência de o consumo das famílias nas contas nacionais não acompanhar o crescimento da renda da Pnad seria um indício dessa superestimação. Enquanto os economistas debatem as respostas para o dilema PIB x Pnad, é bom lembrar que o PIB retrata o potencial de produção do país. Se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde toda a população sofrerá. Durante algum tempo, especialmente num país tão desigual quanto o nosso, é possível elevar a renda dos mais pobres através de taxação e transferências, por exemplo. Isso é válido, mas não é sustentável. O Brasil precisa encontrar um caminho em que a distribuição de renda se alie ao crescimento, algo que ainda não conseguimos.

sábado, 20 de abril de 2013

Pode o Brasil crescer a 5pc ao ano? Evidentemente nao - editoriais

Já escrevi, há muito tempo, um artigo perguntando se o Brasil poderia crescer de forma sustentável em torno de 5% ao ano (vejam neste link). A resposta que dei era obviamente negativa, tendo em conta a ausência de reformas, as tendências extrativas do Estado, a falta de investimentos.
Parece que vamos continuar numa linha de mediocridade pelo futuro previsível.
Paulo Roberto de Almeida

Um país fora do ritmo

20 de abril de 2013 | 2h 05
Rolf Kuntz *
O Brasil manterá o passo errado nos próximos cinco anos e avançará bem menos que outros emergentes até 2018, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sua inflação continuará mais alta e suas contas externas deverão piorar nesse período, com o déficit em transações correntes passando de 2,4% para 3,4% do produto interno bruto (PIB). Projeções de prazo longo aparecem no fim do Panorama Econômico Mundial publicado em abril e setembro pelo Fundo, num apêndice pouco visitado e pouco citado pela maior parte da imprensa. Estimativas desse tipo são sujeitas a erros importantes. Não são, no entanto, arbitrárias, nem inúteis. Ajudam a ver como poderá ser o futuro, se as tendências dos últimos anos persistirem, se as políticas forem mantidas e se as reformas necessárias forem levadas adiante ou negligenciadas. No caso do Brasil, os autores do estudo obviamente esperam poucas mudanças com potencial para tornar a economia mais dinâmica e mais sólida em seus fundamentos.

Segundo as projeções, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 4% no próximo e 4,5% em 2018, puxada, como tem sido há alguns anos, pelos países emergentes e em desenvolvimento. A convalescença europeia será lenta e penosa. Os Estados Unidos continuarão avançando com firmeza. Seu PIB crescerá apenas 1,2% em 2013, por causa do arrocho fiscal, mas aumentará 2,2% em 2014 e em 2018 terá atingido um ritmo de expansão 2,5%. A média dos emergentes e em desenvolvimento ficará em 5,3%, 5,7% e 6,2% em cada um desses três pontos de referência. Para a Ásia em desenvolvimento, incluída a China, os números estimados são 7,1%, 7,3% e 7,7%. Há uma aposta, portanto, no êxito dos programas de ajuste e de renovação dos modelos já iniciados em algumas dessas economias.

Nesse quadro, o avanço brasileiro continuará mais lento que o de vários países latino-americanos. Segundo o Panorama, o PIB do Brasil aumentará 3% em 2013, 4% no próximo ano e 4,2% em 2018. Se a projeção para este ano for confirmada, o resultado será bem melhor que o de 2012, quando o crescimento ficou em apenas 0,9%, apesar dos estímulos criados pelo governo. Alguns incentivos ao investimento privado poderão finalmente produzir algum efeito neste ano, de acordo com a análise apresentada no capitulo 2 do relatório.

Mas "restrições de oferta podem limitar o ritmo de crescimento a curto prazo", advertem os autores do trabalho. Em outras palavras: os entraves observados nos últimos anos poderão ainda atrapalhar a economia brasileira em 2013. Sem examinar em detalhes a política seguida no Brasil depois da crise de 2008 e especialmente a partir de 2011, os economistas do FMI apontaram, no entanto, o grande problema negligenciado por muito tempo pelo governo brasileiro. Durante dois anos a equipe da presidente Dilma Rousseff insistiu em estimular a demanda, principalmente de consumo, sem dar a atenção necessária ao lado da produção e, portanto, da oferta.

O crescimento de 3% estimado para 2013 ficará muito abaixo do necessário para compensar o baixo desempenho dos dois anos anteriores. É preciso levar também isso em conta ao confrontar os números do Brasil com os de outros países do Hemisfério. Chile, Colômbia, Equador, Peru e México também foram afetados pela crise internacional, mas em pouco tempo voltaram a crescer em ritmo parecido com o dos anos anteriores à recessão no mundo rico. Todos bateram o Brasil com muita folga desde 2010.

Para 2013, 2014 e 2018 as projeções do Fundo indicam as seguintes taxas de expansão para esses países: Chile, 4,9%, 4,6% e 4,6%; Colômbia, 4,1%, 4,5% e 4,5%; Equador, 4,4%, 3,9% e 3,5%; Peru, 6,3%, 6,1% e 6%; México, 3,4%, 3,4% e 3,3%. Entre 2010 e 2012 a economia equatoriana acumulou expansão de 17,14%; a mexicana, de 13,67%; a brasileira, de apenas 11,40%. Em todos esses países a inflação foi menor que a brasileira e assim deverá continuar neste e no próximo ano.

Os economistas do FMI estimam para o Brasil inflação de 5,5% em 2013 e 4,5% em 2014. Para o Chile, a projeção é de 3% em cada um dos dois anos. Para a Colômbia, de 2,4% e 3%. Para o Peru, de 2,1% e 2%. Para o México, de 3,6% e 3,3%. A presidente Dilma Rousseff deveria desconhecer esses números quando falou sobre crescimento e inflação em Durban, na África do Sul. Naquele pronunciamento, ela rejeitou uma ação mais forte contra a alta de preços como se fosse incompatível com a expansão do PIB. Parece ter esquecido, ou talvez ignorasse, a experiência internacional. Inflação alta e resistente, como a brasileira, dificulta o planejamento empresarial e corrói o poder de compra dos consumidores. Tende a tornar-se, portanto, um obstáculo ao crescimento da economia.

Além disso, inflação mais elevada que a dos outros países desajusta o câmbio e afeta o poder de competição dos produtores nacionais. No entanto, empresários e ilustres economistas brasileiros muito raramente reclamam da inflação, embora esbravejem continuamente contra a valorização cambial. Devem ter esquecido tanto a experiência internacional quanto a nacional.

Durante muito tempo o Brasil se deu mal com o câmbio fixo. O câmbio flexível e ajustado periodicamente pela inflação, adotado em 1968, foi um avanço, mas muito imperfeito. Sem estabilidade monetária, o regime cambial tornou-se uma corrida permanente em busca de ajustes de curta duração. A inflação desarranjava o câmbio e em seguida a correção cambial desarrumava os preços. O sistema passou a funcionar como um cão correndo atrás do próprio rabo. Parece estranho, mas alguns economistas e industriais falam como se tivessem saudade desse tempo.

Os países com melhor desempenho têm combinado controle da inflação, contas públicas em condições razoáveis e integração nos mercados globais. O resto é teimosia, mera insistência em pajelanças bem conhecidas, testadas e desacreditadas.

* Rolf Kuntz é jornalista.

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Crescendo menos

20 de abril de 2013 | 2h 08

Editorial O Estado de S.Paulo
Mais do que confirmar o que o governo Dilma tenta negar - que o desempenho da economia brasileira continuará sendo pior do que o dos demais países emergentes e também do resto do mundo -, o Panorama da Economia Mundial com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2013 adverte para a persistência de gargalos que reduzem o potencial de crescimento do Brasil.
O FMI reviu para baixo suas projeções para o desempenho da economia mundial neste ano, mas a revisão dos dados referentes à economia brasileira foi mais significativa do que as revisões dos dados do resto dos países, inclusive os emergentes. Inicialmente previsto em 3,5%, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2013 agora é estimado em 3%. Ainda é, reconheça-se, um número bem melhor do que o registrado em 2012, quando o PIB brasileiro cresceu apenas 0,9%, mas ruim se comparado com o do resto do mundo. Em média, a economia mundial deverá crescer 3,3%, de acordo com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional.
Países aos quais o Brasil tem sido comparado por analistas e investidores internacionais terão desempenho melhor. O FMI espera que, em 2013, a China cresça 8%; a Índia; 5,7%; e a Rússia e o México, 3,4%.
A recente aceleração dos preços no Brasil não parece preocupar o Fundo. Apesar de, em março, a inflação brasileira ter rompido o limite superior da margem de tolerância da meta deste ano, o FMI acredita que a alta média dos preços ao consumidor fique em cerca de 5,5% em 2013 e, no próximo ano, alcance 4,5%, centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.
O que preocupa o Fundo, entre outras dificuldades, são os gargalos da infraestrutura, que podem comprometer o crescimento futuro. Esse problema foi apontado pela diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. "O fornecimento e o escoamento de mercadorias é limitado por gargalos em quase todo o território", disse ela, referindo-se à situação dos portos, aeroportos, rodovias e ferrovias no Brasil. "Aprimorar a infraestrutura poderia melhorar muito a situação do País, e é isso que sugerimos que seja priorizado."
Além da infraestrutura, o chefe da divisão de pesquisa do Fundo, Thomas Helbing, citou outro gargalo que pode tolher o crescimento brasileiro. É o que se localiza no mercado de trabalho. Há um lado positivo da evolução do mercado de trabalho no Brasil nos últimos anos, com o aumento do número de trabalhadores contratados. Isso contribuiu para o aumento da renda real média da população, estimulou o consumo e evitou que o desempenho da economia fosse pior do que o registrado nos dois últimos anos.
Mas um número crescente de empresas começa a enfrentar escassez de mão de obra preparada e treinada para o desempenho de funções mais complexas, que exigem maior domínio de técnicas e maior conhecimento. As políticas públicas na área da educação anunciadas até agora não tiveram o efeito de suprir a demanda desses profissionais na velocidade exigida pelo mercado.
Além do impacto de fatores externos, as economias sul-americanas foram afetadas também por fatores internos, em geral de responsabilidade dos governos - e isso foi particularmente visível no Brasil. "Grandes estímulos falharam em impulsionar o investimento privado", observou o FMI, referindo-se aos generosos incentivos concedidos pelo governo Dilma e que até agora não resultaram em investimentos nem em crescimento. A relativa estagnação brasileira afetou o desempenho da Argentina e do Uruguai.
Quanto à estabilidade da economia brasileira, o vice-diretor de assuntos fiscais do FMI, Philip Gerson, observou que, como a dívida pública bruta ainda é superior a dois terços do PIB, o governo deveria cumprir a meta cheia do superávit primário - necessário para honrar os compromissos decorrentes da dívida -, que está fixada em 3,1% do Produto Interno Bruto. O governo Dilma, no entanto, vem reduzindo essa meta na prática, por meio de artifícios orçamentários e contábeis, e com isso gera desconfianças sobre sua política fiscal.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Politica economica: ok, vamos decidir nao decidir... - Celso Ming

A confusao continua... E nao ha' risco de melhorar. Como disse, ela nao e' apenas, hesitacao, mas o reflexo de um estado mental indefinido, mais proximo da ignorancia e do preconceito do que das duvidas razoaveis...
Paulo Roberto de Almeida

Fica tudo como está...
17 de fevereiro de 2013
Celso Ming - O Estado de S.Paulo

Na manhã de sexta-feira, em entrevista a jornalistas brasileiros em Moscou, onde se encontrava para participar da reunião dos líderes do Grupo dos Vinte (G-20), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez nova declaração surpreendente.

Disse que "são os juros, e não o câmbio, o principal instrumento de controle da inflação no Brasil". O surpreendente não é o conteúdo da afirmação, porque é exatamente isso que se espera da política de juros. Surpreendente é quem a fez e os motivos que o levaram a fazê-la.

As questões de fundo são sobejamente conhecidas: a inflação no Brasil mudou de patamar e agora paira acima dos 6% ao ano; o Banco Central vem repetindo em seus documentos que, tão cedo, não pretende usar sua política de juros (política monetária) para domar os preços; e, meses depois de ter puxado as cotações do dólar para a altura dos R$ 2,10, reconhecidamente para dar mais competitividade à indústria, o Banco Central pareceu ter alterado o objetivo do câmbio, passando a usá-lo mais para combater a inflação. (O impacto anti-inflacionário do câmbio se dá quando há redução das cotações do dólar em moeda nacional - valorização cambial -, que contribui para derrubar os preços dos produtos importados.)

As novas declarações do ministro Mantega passam a impressão de que o governo brasileiro não sabe o que quer. Não sabe se aciona o câmbio para dar prioridade ao incremento da competitividade à indústria ou se para o controle da inflação. Por outro lado, também não sabe se a derrubada dos juros básicos (Selic) é uma decisão sem retorno ou se, a qualquer momento, pode ser revertida para reconduzir para a meta a inflação que se acerca perigosamente do teto.

Outra hipótese é a de que a episódica divergência entre Fazenda e Banco Central possa ter se acirrado, a ponto do ministro Mantega ter desautorizado o uso do câmbio para combater a inflação. Mas, caso seja assim, como explicar a decisão tomada sexta-feira pelo Banco Central, de voltar a recomprar dólares no câmbio interno para impedir novas baixas da moeda estrangeira e, assim, atuar na direção apontada por Mantega?

Mais complicado é tentar explicar o que de fato pretende o governo. O nível de tolerância com a inflação inegavelmente cresceu. Tanto o Banco Central como o resto do governo Dilma parecem conformados tanto com a sucessão de pibinhos como com essa inflação acima dos 6,0% ao ano - aparentemente, os índices de aprovação popular do governo Dilma seguem elevados.

Uma das possibilidades é que o Banco Central volte atrás no que escreveu e se disponha novamente a puxar pelos juros. Caso isso se confirme, ainda será preciso saber se essa decisão será para valer. Se for, os juros seriam acionados até que a inflação volte para os trilhos. Mas, se o que se pretende for somente um efeito cosmético, destinado a agir temporariamente sobre as expectativas, será somente um jeito de ganhar tempo, sabe-se lá para quê.

De todo modo, as condições dos fundamentos da economia brasileira seguem em deterioração, mas não a ponto de provocar uma ruptura no atual arranjo. E, ao que tudo indica, é o que basta para que tudo permaneça mais ou menos como está. Até quando? Até (ou se) um choque qualquer desequilibrar tudo e for preciso rever as coisas.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Aguando o crescimento dos companheiros (e nao so deles...)

Brasil precisa fazer ‘milagre’ para virar potência econômica global, diz economista
Pablo Uchoa
Da BBC Brasil em Washington, 7 de dezembro, 2012 -

Para professora americana, Brasil precisa recuperar confiança de investidores.

Não é sempre que uma economista usa referências do mundo pop para ilustrar lições da área econômica. Mas foi na letra da canção Hotel California, da banda The Eagles, que a professora Scheherazade Rehman, da Universidade George Washington, na capital americana, encontrou a metáfora ideal para o que chamou de "a caixa preta dos mercados emergentes".

"Você pode fazer o check-out (do hotel) quando quiser, mas nunca pode ir embora", diz a letra. Uma analogia, argumenta a professora, com a situação de países como o Brasil, que, apesar de já terem entrado no seleto rol de emergentes na economia mundial, tendem a permanecer para sempre "presos" ao seu restrito círculo de influência. Ou seja, nunca serão potências globais.

"O Brasil permanecerá uma superpotência econômica regional a menos que ocorra um milagre", escreveu a acadêmica em uma análise recente.

Recentemente, em um artigo sobre a chamada "nova ordem mundial" – uma economia global na qual os Estados Unidos terão de dividir a sua hegemonia –, ela avaliou os prospectos econômicos de alguns dos candidatos a superpotência mais citados pelos analistas: China, Índia, Brasil, Rússia, África do Sul, Turquia e União Europeia.

Em entrevista à BBC Brasil, Rehman comentou sobre as suas conclusões.

BBC Brasil: O que a sua análise diz sobre o Brasil?

Rehman: A baixa taxa de crescimento do Brasil (de 0,6% no terceiro trimestre) chocou a maioria dos analistas. Em 2013, acredito que veremos uma piora na Europa e nos EUA a recuperação continuará lenta. Isso não traz bons prospectos para outras economias do mundo, nem para o Brasil.

Nesse contexto, o modelo brasileiro, de estimular o consumo diante da desaceleração, não é mais sustentável. Os custos de financiamento, embora venham caindo, ainda são muito altos, há muita burocracia e o sistema tributário é muito complexo.

Minha principal preocupação no futuro é se haverá suficiente investimento produtivo disponível. Para de fato brilhar a partir de 2013, o Brasil precisa dobrar a sua taxa de investimentos, e não sei de onde vai tirar esse dinheiro.

BBC Brasil: Mesmo com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016?

Rehman: Esses grandes eventos esportivos vão ser um atrativo, como foram para todos os países que os sediaram, mas e depois? Você precisa voltar às velhas questões básicas: quão competitivo é o país, quão qualificada é a mão de obra?

"Para de fato brilhar a partir de 2013, o Brasil precisa dobrar a sua taxa de investimentos, e não sei de onde vai tirar esse dinheiro."

O Brasil de hoje não é o país de dez, nem sequer de cinco anos atrás. As mesmas políticas não vão funcionar. Agora, a educação, ciência e tecnologia cobram seu preço.

BBC Brasil: A Sra disse que o Brasil só se tornará uma potência econômica global se acontecer um "milagre". Por que acha que é tão difícil para o país conseguir isso?

Rehman: Porque acho que os problemas que o Brasil precisa resolver são muito, muito grandes e não podem ser consertados de um dia para o outro. Não são desequilíbrios macroeconômicos, são problemas sistêmicos e profundos.

Sim, há desenvolvimentos no campo da infraestrutura, mas o Brasil é um país enorme, com uma população diversa e localizada em certas áreas. Isso traz uma série de desafios para o transporte. Além do mais, o problema não é só de eficiência econômica: inclui também a pobreza e a desigualdade de renda, que estão ligados ao crime. É uma questão de elevar o nível da sociedade.

Veja a África do Sul, por exemplo: recebeu muitos investimentos para a Copa do Mundo, e os gerenciou muito bem, mas e agora? Como a África do Sul, o Brasil também tem uma grande parcela da população pobre vivendo em moradias carentes nas periferias das grandes cidades. Esses problemas levam décadas para serem consertados.

O país precisa de um plano mais amplo de desenvolvimento para além de 2016, e eu não estou vendo isso.

"O país precisa de um plano mais amplo de desenvolvimento para além de 2016, e eu não estou vendo isso."

BBC Brasil: Desde que chegou ao poder, a presidente Dilma Rousseff anunciou planos para a infraestrutura, inovação e produtividade, e enquanto isso, mais pobres têm engrossado a classe média brasileira. A Sra acha que isso não é suficiente?

Rehman: Eu entendo a posição do governo, que está se concentrando exatamente onde é necessário, mas ainda precisa apagar incêndios para evitar uma desaceleração.

A questão é se o mundo vai continuar investindo na infraestrutura brasileira se não perceber um retorno rápido nos seus investimentos.

Os investidores não gostam de prazos longos. Você começa a falar em dez anos, e eles vão para outros lugares.

BBC Brasil: Por outro lado, o Brasil tem nota de investimento e em teoria deveria ser um lugar mais seguro que outros mercados mais lucrativos e menos estáveis.

Rehman: Sem dúvida, mas se a taxa de crescimento continuar a declinar significativamente, como tem ocorrido, os mercados podem virar as costas rapidamente. Uma das coisas que aprendemos com a crise financeira é que nenhum país está seguro.

Não quero ser pessimista, porque o Brasil tem um enorme potencial. Financeiramente, o país está saudável: a dívida pública é gerenciável e o país tem a nota de investimento. Enquanto os preços das commodities continuarem altos e a demanda na China não cair muito mais, tudo bem. E em algum momento os EUA vão se recuperar. Mas até quando essa dinâmica pode resistir?

Está cada vez mais difícil competir em um mundo que produz exportações mais baratas. E o Brasil não é mais a única fonte de muitos minerais: estamos extraindo cada vez mais recursos da África. Isso inclui alimentos: o Brasil até agora tem sido o gigante no campo da agricultura, mas com os investimentos sendo despejados na África ao sul do Saara, terá competidores.

BBC Brasil: Mas o Brasil já tem o sexto maior PIB do mundo, por que então já não somos uma potência econômica?

"Muitos, muitos países crescem por períodos limitados e depois murcham. A América Latina é particularmente inclinada para esses fenômenos."

Rehman: Ter um grande PIB não basta para ser uma potência econômica. Se a renda per capita de um país é baixa, ou se a sua disparidade de renda é muito alta, esse país claramente tem problemas do ponto de vista da infraestrutura. Por exemplo, a economia do Brasil é maior que a da Grã-Bretanha, mas a economia britânica está em uma posição muito diferente em termos de desenvolvimento. O Brasil é uma potência entre outros mercados emergentes, e certamente a potência dominante na América Latina, mas isso não garante um lugar à mesa das potências mundiais.

A questão fundamental é: será que o Brasil vai continuar sendo o país do futuro?

BBC Brasil: Muitos acham que o futuro chegou e que agora é o momento do Brasil.

Rehman: O povo brasileiro claramente está pronto para passar para o próximo estágio: a população está entusiasmada e confiante no futuro. O problema é que, em determinado momento, o desenvolvimento se torna um jogo político, e é aí onde a maioria dos países fica estancado.

Criar potências globais é um jogo muito difícil e sempre de longo prazo. Muitos, muitos países crescem por períodos limitados e depois murcham. A América Latina é particularmente inclinada para esses fenômenos.

O Brasil precisa ser honesto consigo mesmo e descortinar esses problemas. Isso vai tornar o país menos atraente? Talvez. Mas no longo prazo, é a melhor estratégia para resolvê-los. Quando os investidores estão interessados em você, você não quer mostrar o seu lado mais feio. Mas se não resolver esses problemas, um dia os investidores vão descobrir.