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sábado, 12 de novembro de 2022

Economia do Brasil: os principais indicadores - Ricardo Bergamini

 Sem considerar números, gráficos e tabelas todas as verdades são absolutas, basta escolher uma delas (Ricardo Bergamini).

 

Prezados Senhores

 

Sejam de esquerda ou de direita: todos vão pagar a conta pelo estado de putrefação econômica, social, política e ética do Brasil. Cada um que escolha o culpado de sua preferência, com base nos indicadores abaixo. 

 

Não entendo, como se pode apoiar um governo, sem  ajudar a divulgar as suas informações oficiais. Não há necessidade de notícias falsas, com o volume de informações divulgadas diariamente pelo governo. O Brasil é um manicômio amplo, geral e irrestrito.

 

Indicadores macroeconômicos do Brasil, sem ideologia

 

Base: Setembro de 2022

1 - Efeito do Depósito Compulsório e dos Créditos Subsidiados na Taxa de Juros de Mercado (BCB)

Em setembro de 2022, o custo médio de rolagem da dívida interna da União, em poder do mercado, foi de 10,80% ao ano, e ninguém consegue explicar o motivo pelo qual a taxa média de mercado do crédito livre, no mês de setembro de 2022, estava em 40,4% ao ano, ou seja: 3,74 vezes maiores. Ficando a impressão de que os bancos são os ladrões dessa fortuna, quando na verdade é o próprio governo. 

2 - Estoque da Dívida Líquida da União (ME)

 

Em 2010, o estoque da dívida líquida da União (interna mais líquida externa) era de R$ 2.388,0 bilhões (61,46% do PIB). Em dezembro de 2018 era de R$ 5.671,4 bilhões (80,97% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 31,74%, comparativamente a dezembro de 2010. Em setembro de 2022, migra para R$ 7.796,7 bilhões (83,55% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 3,19%, comparativamente a dezembro de 2018.

3 - Estoque da Divida Consolidada do Governo Geral – Governo Federal, o INSS e os governos estaduais e municipais (BCB) 

Em 2010 o estoque da dívida do governo geral consolidada era de R$ 2.011,5 bilhões (55,0% do PIB). Em dezembro de 2018 era de R$ 5.272,0 bilhões (76,7% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 39,45%. Em setembro de 2022 migra para R$ 7.256,6 bilhões (77,1 % do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 0,52% comparativamente ao ano de 2018.

 

4 -  Taxa de Investimento (IBGE)

1 – No 2º trimestre de 2013, a taxa de investimento foi de 21,1% do PIB. No 2º trimestre de 2022, a taxa de Investimento foi de 18,7% do PIB. Redução de 11,37% em relação ao PIB. 

 

5 - Taxa de Poupança (IBGE)

 

2 – No 2º trimestre de 2008, a taxa de poupança bruta foi de 20,3% do PIB. No 2º trimestre de 2022, a taxa de poupança bruta não foi divulgada.

 

6 - IPCA (IBGE)

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro foi de -0,29%, terceiro mês seguido de deflação. Foi a menor variação para um mês de setembro desde o início da série histórica. No ano, o IPCA acumula alta de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%, abaixo dos 8,73% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2021, a variação havia sido de 1,16%.

 

7 - IPP (IBGE)

Em setembro, os preços da indústria caíram 1,96% frente a agosto. O acumulado no ano chegou a 5,87% e o acumulado em 12 meses a 9,76%. Os preços de 13 das 24 atividades industriais investigadas tiveram variações positivas ante o mês anterior.

 

8 - Saldo de Caixa em Moedas Estrangeiras (BCB)

 

Saldo de caixa em moeda estrangeira em setembro de 2022 era de US$ 327,6 bilhões, e a dívida externa bruta em moeda estrangeira de US$ 660,1 bilhões. Com saldo devedor de US$ 332,5 bilhões. 

 

Caso seja utilizado o saldo de caixa, aumentará a dívida líquida da União.

 

9 - Pesquisa Mensal de Comércio (IBGE)

 

Em setembro de 2022, o volume de vendas do comércio varejista ficou 3,6% abaixo do nível recorde da série ocorrida em outubro de 2020.

 

Em setembro de 2022, o volume de vendas do comércio varejista ampliado ficou no patamar de 6,9% abaixo do recorde alcançado em agosto de 2012.

 

10 - Variação do PIB (IBGE)

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,2% no segundo trimestre de 2022, comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo trimestre de 2021, o PIB cresceu 3,2%. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho de 2022, o PIB cresceu 2,6%, comparado aos quatro trimestres imediatamente anteriores. No ano, o PIB acumula alta de 2,5%.

 

11 - Pesquisa Industrial Mensal (IBGE)

Em setembro de 2022, a produção industrial nacional caiu 0,7% frente a agosto, na série com ajuste sazonal, segunda taxa negativa consecutiva. Frente a setembro de 2021, na série sem ajuste, a indústria cresceu 0,4%. No ano, a indústria acumula queda de 1,1% e, em 12 meses, queda de 2,3%.

 

12 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE)

 

Base: Trimestre encerrado em setembro de 2022

 

taxa de desocupação (8,7%) do trimestre móvel de julho a setembro de 2022 recuou 0,6 ponto percentual (p.p.) ante o trimestre de abril a junho de 2022 (9,3%) e 3,9 p.p. frente ao mesmo período de 2021 (12,6%). A população desocupada (9,5 milhões de pessoas) caiu ao menor nível desde o trimestre terminado em dezembro de 2015, recuando 6,2% (menos 621 mil pessoas) no trimestre e 29,7% (menos 4,0 milhões) no ano.

 

população fora da força de trabalho (64,7 milhões de pessoas) permaneceu estável ante o trimestre anterior e recuou 1,1% (menos 727 mil pessoas) no ano.

 

taxa de informalidade foi 39,4% da população ocupada, contra 40,0% no trimestre anterior e 40,6% no mesmo trimestre de 2021. O número de trabalhadores informais chegou a 39,1 milhões.

 

De um total de 173,5 milhões de pessoas em idade de trabalhar existem apenas 99,3 milhões de pessoas ocupadas, sendo 39,1 milhões de pessoas na informalidade, ou seja: o Brasil possui apenas 60,2 milhões de cidadãos, o resto é miserável dependente de esmola.

 

13 - Política Fiscal (BCB)

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2018, registrou-se déficit fiscal primário de R$ 108,3 bilhões (1,57% do PIB), No acumulado em doze meses até setembro de 2022, registrou-se superávit fiscal primário da ordem de R$ 181,4 bilhões (1,93% do PIB), Redução real em relação ao PIB de 222,93%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2018. 

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2018, os juros nominais alcançaram R$ 379,2 bilhões (5,52% do PIB). No acumulado em doze meses até setembro de 2022, os juros nominais alcançaram R$ 592,0 bilhões (6,29% do PIB).Aumento real em relação ao PIB de 13,95%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2018.

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2018, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 487,5 bilhões (7,09% do PIB). No acumulado em doze meses até setembro de 2022, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 410,6 bilhões (4,36% do PIB). Redução real em relação ao PIB de 38,50%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2018.

 

14 - Política Monetária (BCB)

 

Em setembro de 2022 o volume de operações de crédito foi de R$ 5.176,8 bilhões (55,0% do PIB), sendo:

            

- 59,82% do total - R$ 3.097,0 bilhões (32,9% do PIB) com recursos livres com juro médio de 40,4 % ao ano. 

 

- 40,18% do total – R$ 2.079,8 bilhões (22,1 % do PIB) com recursos direcionados concedidos por bancos públicos (CAIXA, BB, BNDES) com juro médio de 10,4% ao ano. 

 

A taxa média de juros das operações contratadas em setembro de 2022 alcançou 28,6% a.a.

 

15 - Pesquisa Mensal de Serviços (IBGE)

 

Em setembro de 2022, o volume de serviços no Brasil cresceu 0,9% frente a agosto, na série com ajuste sazonal. O setor de serviços se encontra 11,8% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e alcança o novo ponto mais alto da série histórica, superando novembro de 2014.

 

16 - Balanço de Pagamentos (BCB)

 

Série história do saldo das transações correntes com base na média/ano foi como segue: Governo FHC (1995/2002) – déficit de US$ 23,4 bilhões = -3,31% do PIB; Governo Lula (2003/2010) – déficit de US$ 6,6 bilhões = -0,52% do PIB; Governo Dilma/Temer (2011/2018) – déficit de US$ 48,2 bilhões = -2,20% do PIB; governo Bolsonaro (2019/2021) - déficit de US$ 30,5 bilhões = -1,85% do PIB.  O déficit em transações correntes nos doze meses encerrados em setembro de 2022 somou US$ 46,2 bilhões (-2,56% do PIB),

17 - Movimentações Financeiras das Contas Externas do Brasil (BCB)

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até setembro/22 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 49,2 bilhões. 

 

18 – Relatório Bimestral de Receitas e Despesas (ME)

 

Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022, a previsão de crescimento econômico para o ano era de 2,10%. No 4º bimestre de 2022, a previsão de crescimento econômico aumentou para 2,70%.

 

Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022, o resultado primário previsto foi de déficit para o ano de R$ 76,2 bilhões. No 4º bimestre de 2022, o resultado primário previsto para o ano migou para superávit de R$ 13,5 bilhões.

 

19 – Principais indicadores de juros e inflação (IBGE/ME/BCB/FGV)

Para manter a inflação do IPCA em 7,17% ao ano custou, no acumulado em doze meses até setembro de 2022, juros de R$ 592,0 bilhões (6,29% do PIB).

 

IPCA nos últimos doze meses, até setembro de 2022, foi de 7,17% ao ano (inflação da primeira classe, a turma dos 40 salários mínimos).

 

IGPM nos últimos doze meses, até setembro de 2022, foi de 8,25% ao ano (inflação real do mercado).

 

IPP nos últimos doze meses, até setembro de 2022, foi de 9,76% ao ano (inflação dos produtores).

 

Taxa de juros SELIC, em setembro de 2022, foi de 13,75% ao ano. 

 

Taxa de juros de longo prazo (rolagem da dívida do governo), em setembro de 2022, foi de 10,47 % ao ano.

 

Taxa de juros para devedores de segunda classe em  setembro de 2022, foi de 40,4% ao ano. 

 

Taxa de juros para devedores de primeira classe, em setembro de 2022, foi de 10,4% ao ano.

 

20 - Resultado Previdenciário Total da União (ME)

 

Em 2018, gerou déficit previdenciário de R$ 287,5 bilhões (4,10% do PIB). Nos últimos doze meses até setembro de 2022 migrou para déficit previdenciário da ordem de R$ 365,3 bilhões (3,88% do PIB). Redução real em relação ao PIB foi de 5,37% comparado ao ano de 2018. 

21 – Dívidas dos estados e municípios, não pagas, e honradas pela União (ME)

 

Até setembro de 2022, foi honrado pela União o montante de R$ 6,7 bilhões de dívidas, não pagas, dos estados e municípios, conforme quadro demonstrativo abaixo.

 

De 2016 até setembro de 2022, a União teve que honrar pagamento das dívidas, não pagas, dos estados e municípios, constantes do quadro demonstrativo abaixo, no montante de R$ 48,6 bilhões. 

 

22 - Diferença entre juros SELIC e juros de longo prazo (BCB)

 

Existe a taxa de juros SELIC divulgada periodicamente pelo Banco Central, destinada às operações de mercado de curto prazo, ou seja: é uma taxa de referência para um dia, que em setembro de 2022 estava em 13,75% ao ano.

 

A outra taxa de juros é a de longo prazo negociada, pelo Banco Central, com grandes investidores, que nos doze meses até setembro de 2022 foi de 10,47% ao ano. Sendo de 10,80% ao ano para a dívida interna em poder do mercado, e 3,17% ao ano para a dívida externa. 

 

Nos últimos doze meses, até setembro de 2022, os investidores estão ganhando 3,30% ao ano em seus investimentos no Brasil.

 

23 -  Saldo da Balança Comercial (BCB)

 

Até setembro de 2022, o Brasil exportou US$ 253,7 bilhões e importou US$ 206,0 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 47,7 bilhões. Cabe lembrar que 50,94% do saldo positivo foram obtidos com a China.

 

Até setembro de 2022, o Brasil exportou para a China US$ 69,9 bilhões e importou US$ 45,5 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 24,3 bilhões.

 

Até setembro de 2022, o Brasil exportou para os Estados Unidos US$ 27,9 bilhões e importou US$ 39,6 bilhões, gerando um saldo  na balança comercial negativo para o Brasil de US$ 11,7 bilhões.

 

24 – IGPM (FGV)

 

Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) cai 0,95% em setembro, após queda de 0,70% no mês anterior. Com este resultado o índice acumula alta de 6,61% no ano e de 8,25% em 12 meses. Em setembro de 2021, o índice havia caído 0,64% e acumulava alta de 24,86% em 12 meses.   

 

25 - Composição do PIB Brasileiro (IBGE)

No 2º trimestre de 2022, a composição do PIB foi como segue: R$ 167,7 bilhões (6,98%) na agropecuária; R$ 475,6 bilhões (19,78%) na indústria; R$ 1.428,5 bilhões (59,42%) nos serviços e R$ 332,2 bilhões (13,82%) em impostos. Totalizando um PIB de R$ 2.404,0 bilhões (100,00%)

 

Conclusão: 16,02% do PIB brasileiro são impostos sobre produtos (13,82%), além de 2,20% de inflação pelo IPCA. 

 

Ricardo Bergamini

ricardobergamini@ricardobergamini.com.br

www.ricardobergamini.com.br

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Russia e Brasil: ah, essas vibrantes potencias economicas emergentes...

Onde foi parar o meu PIB?
O gato comeu?
O dólar comeu, para ser mais exato...
Toda essa exaltação com grande números de PIB, ficar entre as dez maiores economias do planeta, se pavonear que somos maiores que essas economiazinhas da Europa, enfim, tudo isso é feito à base de muito anabolizante, ou seja, valorização cambial.
Basta o dólar dar uns pulinhos, ou melhor, basta a moeda nacional dar uns saltinhos para baixo, feito de baixo crescimento do PIB, perda de competitividade nas exportações (que seja de matérias primas ou de manufaturados, não importa muito), desequilíbrio nas transações correntes, e zut, lá vai a economia deslizando ladeira abaixo, e com ela o nosso PIB per capita.
A Rússia e o Brasil tinham uma economia mais ou menos equivalentes em peso, eles com uma população um quarto menor e um PIB per capita proporcionalmente mais elevado.
Pronto: bastou o Putin fazer o diabo na Ucrânia, e o petróleo vir abaixo, que acabou a alegria dos magnatas russos e também da classe média alta. Já não vai dar mais para esquiar na Suíça, vão ter de se contentar com as montanhas da Chechênia mesmo...
Os brasileiros ainda continuam indo a Paris, Orlando, Miami e Nova York, mas se o deslizar do câmbio continuar, vai ficar mais caro, assim como para os russos.
Eles chegaram a ficar mais pobres do que os brasileiros, mas depois se recuperaram um pouco, assim como os brasileiros, com as fortes intervenções dos dois bancos centrais nos mercados de câmbio.
Mas, se as notícias continuarem ruins, nem os bancos centrais vão aguentar o tranco.
Compilei estatísticas de conjuntura, para mostrar essa desgraça toda...
Paulo Roberto de Almeida


Rússia e Brasil comparados, 2013 e 2014:

Russia in 2013:
GDP (Current Prices, National Currency):  RUB 68,144.52 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,213.57 Billion
Population in 2013: 141.439 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): RUB 481,795
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 15,650.35
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 18,670.53
Câmbio médio em 2013: RUB 30,78 = US$ 1

Russia in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: 68 R/US$
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: 55 R/US$
PIB em dólares em 16/12: US$ 1,029.41 Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 7,278
PIB per capita em 22/12: US$ 12,272

Brazil em 2013:
GDP (Current Prices, National Currency): R$ 4,795.95 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,456.66 Billion
Population in 2013: 199.881 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): R$ 23,994.04
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 12,290.64
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 12,340.18
Câmbio médio em 2013: 1,95 = US$ 1

Brazil in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: R$ 2,73/US$ 1
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: R$ 2,66/US$
PIB em dólares em 16/12: 1,756.75 US$ Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 8,789
PIB per capita em 22/12: US$ 9,020

Fontes: indicadores: Economy Watch: http://www.economywatch.com/economic-statistics/country/ ; Câmbio: Bloomberg: http://www.bloomberg.com/

sábado, 25 de janeiro de 2014

Brasil, Argentina, EUA, China, etc: dados quantitativos, e uma avaliação qualitativa

Fica difícil discutir quaisquer problemas, sejam eles econômicos ou de outra natureza, sem referir-se a dados objetivos, que possam ser, em primeiro lugar quantificados, que sejam mensuráveis segundo metodologias homogêneas e que, portanto, possam ser comparados entre si. Podemos ir a Davos, por exemplo, e recitar toda uma litania de bons propósitos e belos argumentos, sem referir-se a dados concretos, de conjuntura, de tendências, de estrutura. Por isso, de vez em quando é bom dar uma olhada nos dados e ver o que eles nos revelam, ou deixam de revelar.
Estes daqui, por exemplo, retirados de um número anterior da revista Economist. Vejamos o que eles nos dizem:


 Pelo que se percebe,  o crescimento na China permanece relativamente alto, embora com tendência a arrefecer, e de toda forma bem mais modesto do que as cifras nas casas de dois dígitos a que nos acostumamos nos últimos anos. O crescimento na Argentina aparentemente é vigoroso, mas vejam que a produção industrial caiu quase 5% no último ano, e que as transações correntes também apresentam deterioração sensível. Os Estados Unidos, a despeito de um crescimento global mais modesto, vem tendo uma recuperação industrial mais vigorosa do que no Brasil. A França, por sua vez, cresce muito pouco, ou quase nada, e tem uma produção industrial estagnada. A Índia também, a despeito de um crescimento razoável, provavelmente impulsionado pelos serviços, vem tendo seu crescimento industrial em recuo, com dados negativos para 2013. A China é de todos os países o que mais cresce no plano industrial, embora os dados mais recentes já revelem também uma queda na dinâmica industrial.

Na frente dos preços, reparem que a Venezuela é o destoante absoluto, seguida pela Argentina, mas a Economist deixou de publicar os seus dados (e o FMI já reclamou várias vezes) porque eles não são confiáveis; devem andar pela casa dos 30% anuais, talvez mais agora, com a desvalorização abrupta do peso, que já perdeu mais de 23% neste mês de janeiro de 2014. A Índia e a Turquia não fazem melhor, mas o Brasil vem logo atrás, numa taxa que é mais do que o triplo dos demais países emergentes, e praticamente quatro vezes mais do que os países ricos.

Déficits de transações correntes são correntes, se ouso dizer, em quase todos os países, com algumas exceções notáveis, entre eles China e Alemanha (esta absurdamente superavitária para o gosto dos demais parceiros europeus). Superávits podem ter, por exemplo, exportadores de petróleo (Arábia Saudita, Noruega, Rússia), ou então grandes países exportadores (Taiwan, por exemplo) ou centros financeiros como Suíça, Cingapura. Os demais conhecem pequenos déficits, financiáveis com investimentos diretos. No caso dos EUA, mesmo um déficit que seria mortal para países como Argentina, México ou Brasil, o problema é mais do que compensado por dois fatores: confiança do mundo em sua economia e na menor interferência do governo, o que atrai investimentos diretos e mesmo aplicações financeiras, e capacidade de "exportar" parte de seus problemas para o resto do mundo, via emissão de dólares. No caso da Argentina, parece ser modesto, mas ele se acelerou nos últimos meses, e é muito provável que já tenha passado de 4% do PIB (mas a desvalorização acaba corrigindo esse tipo de problema, que é o que vai ocorrer no caso do Brasil).  

Finalmente, o déficit orçamentário e os juros pagos pelos bônus governamentais são outros indicadores importantes, mas aqui é preciso igualmente especificar o que está por trás deles. O Japão, por exemplo, que tem um enorme déficit, consegue se financiar internamente, a uma taxa mais do que razoável, ao passo que o Brasil, que tem um déficit que poderia ser modesto, este consome uma parte absurdamente mais elevada das receitas públicas, pelo nível de juros. Eles não se comparam a nenhum outro, e somos de fato campeões mundiais nesse quesito, sendo seguidos de perto pelo Paquistão (12%) e depois pela Turquia (a mais de 10%). Reparem que mesmo na área do euro, a França é obrigada a pagar juros bem maiores do que a Alemanha, que fica na média da zona do euro.

Esta é a apreciação quantitativa, que é um retrato, apenas, dos efeitos provocados por políticas econômicas diferentes, algumas moderadamente corrretoras de desequilíbrios, outras induzindo a esses desqeuilíbrios.
A França, por exemplo, depois de quase dois anos de resultados negativos (com o desemprego já em 11% e ainda crescendo), resolveu inverter suas políticas anti-austeridade. Parece que o presidente François Hollande, finalmente, se rendeu à lei de Say, ou seja, a oferta cria a sua própria demanda. Ele vai começar a atuar do lado da produção, e não mais pelo lado do consumo (isto é, salários e outras compensações).
Quando é que o Brasil vai fazer o mesmo?

Finalmente, ainda pelo lado qualitativo, eu observo uma gradual deterioração da qualidade das políticas públicas em diversos países, avançados e ditos em desenvolvimento. No caso do Brasil, parece que os homens públicos não conseguem ler os sinais do mundo real, e continuam insistindo em políticas erradas.
Quando eu ouço, então, a rádio brasileira, e leio as muitas notícias, eu fico mais preocupado ainda, ao constatar a indigência intelectual de alguns argumentos. Se formos descer, sem pretender, ao nível do chamado "povinho miúdo", com essas manifestações ridículas que ocorrem em várias cidades, a constatação é de uma tristeza só: o atraso mental, em certas pessoas, é realmente muito grande. Bem, não é por outra razão que temos dirigentes como os nossos...

Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 25 de janeiro de 2014