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sexta-feira, 17 de março de 2023

Previdência Social carece de mais ajustes - Roberto Macedo, Ricardo Bergamini

 Na defesa de interesses corporativos todas as ideologias existentes no Brasil são aliadas históricas, assim sendo, com Bolsonaro ou com Lula, com a esquerda ou com a direita, com os civis ou militares, com a dita(dura) ou a dita(mole) os problemas serão os mesmos. Vamos ajudar a resolvê-los divulgando as informações oficiais do governante de plantão.

 

Prezados Senhores

 

Fico feliz em ver um ilustre brasileiro, como é o caso do professor Roberto Macedo, utilizar o meu trabalho como fonte de seu artigo.

 

Em vista do acima exposto, envio os valores piores, atualizados para o ano de 2022, os quais ratificam a posição do ilustre professor para uma nova e eterna reforma da previdência. Vide abaixo:

 

Em 2022, o déficit previdenciário pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) da União foi de R$ 267,2 bilhões (2,69 % do PIB) e o déficit previdenciário do setor público federal pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) foi de R$ 105,0 bilhões (1,06% do PIB), totalizando déficit previdenciário total da União de R$ 372,2 bilhões (3,75% do PIB). 

 

Em 2022, a receita previdenciária pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) foi de R$ 534,3 bilhões (5,39% do PIB), com 93,7 milhões de participantes (61,5 milhões de contribuintes e 32,2 milhões de beneficiários) A despesa previdenciária dos benefícios pagos, com salário médio de R$ 1.678,52, foi de R$ 801,5 bilhões (8,08 % do PIB), fazendo com que o resultado previdenciário tenha sido negativo em R$ 267,2 bilhões (2,69% do PIB).

 

Em 2022, a receita previdenciária pelo Regime Próprio de Previdência Social da União (RPPS) das contribuições dos 1.031.131 servidores ativos do governo federal (662.793 civis e 368.338 militares), com salário médio mensal de R$ 16.762,63 foi de R$ 48,9 bilhões (0,49% do PIB). A despesa previdenciária dos benefícios pagos aos 1.171.148 servidores aposentados e pensionistas do governo federal (774.882 civis e 396.266 militares), com salário médio de mensal de R$ 10.957,90, foi de R$ 153,9 bilhões (1,55 % do PIB), fazendo com que o resultado previdenciário tenha sido negativo em R$ 105,0 bilhões (1,06% do PIB). 

 

Em 2022, o resumo do resultado previdenciário do RPPS (servidores públicos): União (civis e militares) déficit previdenciário de R$ 105,0 bilhões (1,06% do PIB); governos estaduais (civis e militares) e governos municipais, o déficit previdenciário foi de R$ 121,2 bilhões (1,22% do PIB), totalizando déficit previdenciário do RPPS da ordem de R$ 226,2 bilhões (2,28 % do PIB).

 

Em 2022, a previdência social brasileira total (RGPS E RPPS) gerou um déficit previdenciário de R$ 493,4 bilhões (4,97 % do PIB).

 

 

 

Espaço Democrático Logotipo

 

 

Previdência Social carece de mais ajustes

 

Para o economista Roberto Macedo, entre os pontos carentes de uma nova reforma está a regra de que o valor de aposentadorias do setor privado e de servidores passou a ser calculado com base na média de todo o histórico de contribuições

 

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Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático

 

Edição: Scriptum

 

A Previdência Social brasileira passou por uma reforma em 2019, mas ela carece de mais ajustes, pois ainda tem déficits muito altos. Antes de prosseguir, cabe esclarecer que ela é institucionalmente composta de três partes.

 

A primeira e maior é o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), também conhecido como RGPS (Regime Geral da Previdência Social), cujos contribuintes são sobretudo do setor privado, alcançando um total de 64,9 milhões. Em 2021 teve um déficit de R$ 250,1 bilhões, equivalentes a 2,88% do PIB.

 

A segunda é o RPPS (Regime Próprio de Previdência Socia), dos Servidores da União, com 1.031.188 servidores ativos do governo federal 1.031.188 servidores ativos do governo federal, e cujo déficit foi de R$ 99,9 bilhões ou 1,15% do PIB.

 

O contraste entre os números de contribuintes desses dois sistemas é enorme, e proporcionalmente ao seu número de contribuintes o déficit do RPPS dos servidores da União é muito maior.

 

A terceira parte abrange os governos estaduais, que têm seus próprios RPPS’s, que em 2021 apresentaram um déficit de R$ 77,4 bilhões, equivalentes a 0,90% do PIB, o mesmo acontecendo com governos municipais, cujos RPPS’s tiveram um déficit, em 2021, de R$ 9,8 bilhões, ou 0,11% do PIB.

 

Somando-se essas três partes, em 2021 o déficit total da previdência social foi de R$ 437,2 bilhões (5,04% do PIB). É uma tremenda de uma dinheirama. Para se ter uma ideia do seu significado, o programa Bolsa Família tinha, antes de sua reforma, um gasto próximo de 0,5% do PIB cobrindo cerca de 16 milhões de famílias. Todos esses números foram obtidos do economista Ricardo Bergamini, que por e-mail divulga dados como esses e outros, mantendo os arquivos originais para os interessados.

 

Entre os pontos carentes de uma nova reforma, uma injustiça que está a exigir reparos é que na reforma de 2019 o valor de aposentadorias do setor privado e de servidores passou a ser calculado com base na média de todo o histórico de contribuições dos trabalhadores, sem descartar os 20% de contribuições mais baixas, como era a regra anterior. Contudo, para os servidores federais que entraram no serviço público até 31 de dezembro de 2003, a aposentadoria integral, pelo valor do último salário, foi mantida para quem cumprir o limite de idade mínima para a aposentadoria.

 

Pelo que sei, vários Estados e municípios estão atrasados na adaptação das regras da reforma de 2019 para seus servidores.

 

Artigo disponível no link abaixo:

 

https://espacodemocratico.org.br/artigos/previdencia-social-carece-de-mais-ajustes/

 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A estagnação estrutural da economia brasileira - Roberto Macedo

Não acredito numa retomada do crescimento econômico brasileiro em bases sustentáveis, pelo menos não antes de profundas reformas estruturais, não apenas tributária.
Não pretendo formular o famoso "projeto nacional", nem haveria acordo para fazer um. 
Proponho algo mais modesto: tomar três relatórios objetivos sobre as características das economias nacionais, e aplicar de cada um deles todas as medidas que cabem fazer no Brasil para que tenhamos: 
1) um bom ambiente de negócios: Relatório Doing Business do Banco Mundial
2) uma retomada dos ganhos de produtividade: World Competitiveness Report, do WEF
3) amplas liberdades econômicas: Economic Freedom of the World, da Heritage Foundation e Freedom House
Acredito que a aplicação sistemática das recomendações desses três relatórios combinados, independentemente de entrar ou não na OCDE, melhoraria barbaramente as condições econômicas no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

PIB – 2010-2019, a pior de 12 décadas
Nosso produto interno bruto está em depressão há 5 anos e em estagnação há 40
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 16 de janeiro de 2020

Volto a esse tema, abordado também em entrevista para a jornalista Márcia De Chiara publicada na última segunda-feira neste jornal (Década passada foi a pior para PIB do país, pág. B3) e que se estendeu na web (estadão.com.br/e/pior_decada). Os dados básicos para obter 12 taxas decenais de variação do produto interno bruto (PIB) estão em www.ipeadata.gov.br, onde há a série “Produto interno bruto (PIB) a preços de mercado: variação real anual ... de 1901 até 2018”, em %.

Com essas taxas, cheguei a taxas médias anuais de crescimento do PIB em cada década, sendo que para a primeira foram usados dados de 1901 a 1909, e para 2019 a previsão de 1,17% do Boletim Focus, do Banco Central, de 3/1/2020.
Um gráfico mostrou essas taxas em dois movimentos. O primeiro, de forte tendência de aumento, vai da primeira década, com taxa média de 4,6%, até a de 1970, quando chegou a 8,8%, a maior de todo o período. No segundo, a taxa cai fortemente para 3% na década de 1980, e fica perto ou até bem abaixo desta nas décadas de 1990 (1,8%), 2000 (3,4%) e 2010 (1,4%), esta a menor das 12 décadas desde a de 1900!
É de estagnação esse período de 1980 a 2010. Meu dicionário diz tratar-se de “situação em que o produto nacional não cresce à altura do potencial econômico do país”. É claramente o caso do Brasil. Seriamente desarrumado, poderia crescer bem mais, mas está aí, estagnado, a ponto de ser disseminada a satisfação com a perspectiva de uma taxa perto de 2,5% em 2020 e daí para a frente. É muito pouco! O economista Manoel Pires, do Ibre/FGV, disse que o País vive fase de “expectativas rebaixadas”.
Internacionalmente, também está por baixo. No portal do Fundo Monetário Internacional encontrei comparação das taxas de crescimento do Brasil nessas quatro décadas e a média geral decenal das mostradas por 155 economias emergentes ou em desenvolvimento, que foram de 3,20 (1980), 3,63 (1990), 6,10 (2000) e 5,11 (2010), sempre superiores às do Brasil, já citadas, e muito superiores nas duas últimas décadas.
Márcia De Chiara foi muito feliz ao tratar também a questão social, da qual falei sobre questões como o desemprego e a dificuldade de ascensão social com a queda do crescimento econômico. Mas foi além. Levantou-se bem cedo e foi até uma paróquia que dá a primeira refeição do dia a moradores de rua, cujo número vem aumentando bastante, e entrevistou dois deles, que relataram suas enormes dificuldades.
Ascensão social é conceito mais operacional que o da desigualdade social, esta de solução muito mais difícil. Se houver crescimento bem mais acelerado, virão mais e melhores oportunidades de trabalho e as pessoas de renda mais baixa também terão condições de seguir em frente e melhorar de vida, até mesmo ascendendo socialmente, sem ficarem paradas a observar e invejar minorias que conseguem manter seu status social mais alto.
Quanto ao que fazer para crescer bem mais, além de reformas como as pregadas por Paulo Guedes, e de outras que deveriam ser efetivadas, como as do Legislativo e do Judiciário, um grande esforço deveria voltar-se, com senso de urgência, para desenvolver e aplicar um plano estratégico de desenvolvimento para o Brasil. Um plano desse tipo deve incluir objetivos, metas, o que deve ser feito para alcançá-los e como será gerenciado, implementado e cobrado de seus executores.
Os temas iriam bem além daqueles hoje mais discutidos no Brasil. Uma questão crucial será o aumento da capacidade produtiva do País, mediante investimentos públicos e privados, o que também geraria renda para fatores de produção, como capital e trabalho, renda essa que, assim, também sustentaria o crescimento pelo lado da demanda. E entrariam outros temas típicos de um processo de desenvolvimento sustentável, como as inovações, o aumento da produtividade e da competitividade interna e externa, a educação com foco em competências, a ampliação do comércio exterior, a defesa do meio ambiente, o enfrentamento de desigualdades sociais e o papel das instituições nesse processo. Instituições em sentido lato, o das regras do jogo que precisam favorecer os investimentos e o crescimento.
Hoje o debate econômico está por demais focado na análise macroeconômica, que trata de políticas de curto e médio prazos, como a fiscal e a monetária, mais voltadas para movimentos cíclicos da economia. Cabe uma visão também focada no crescimento de prazo mais logo e sustentável, que nos cursos bem estruturados de Economia não cabe à disciplina Macroeconomia, mas à de Desenvolvimento Econômico. A literatura também é diferente. Caberiam livros como o de Daron Acemoglu e James Robinson Por que as nações fracassam e o de David Landes A Riqueza e a Pobreza das Nações – Por que algumas são tão ricas e outras tão pobres.
Não tenho pretensão de ter uma receita cobrindo todos os aspectos envolvidos, o que exigiria uma ampla equipe, e não só de economistas, mas de cientistas das várias áreas envolvidas, e de praticantes como funcionários governamentais, empresários, profissionais liberais e outros, com toda a argumentação sustentada por evidências científicas.
Dadas as “expectativas rebaixadas”, seria o caso de contar também com psicólogos para atuarem na recuperação da autoestima do Brasil e dos brasileiros, concitando todos a assumirem o compromisso de melhorar e atuar nessa direção, com atenção especial aos governantes. Quanto a estes e a grande parte da classe política, cabe pregar-lhes a fundamental importância de eticamente lutarem pelo bem comum, e não por atenderem à ampla privilegiatura que atua em sentido contrário.
Num país que teve forte recessão de dois anos, embutida numa depressão já com cinco e passando por estagnação de 40, há muito, muito o que fazer.

É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR, E PROFESSOR SÊNIOR DA USP


quinta-feira, 7 de março de 2019

How much you make? Quanto dinheiro você faz? - Roberto Macedo

Mais ‘poupancicultura’ para o Brasil prosperar

Ampliar a poupança bem investida é o caminho da prosperidade

Roberto Macedo
O Estado de S. Paulo, 7/03/2019

“Poupancicultura” é um neologismo com duplo significado. Um é o da cultura da poupança, integrada a padrões culturais de comportamento, crenças e outros aspectos que distinguem uma pessoa ou grupo social, e se desdobram no plano das suas instituições. No outro, o cultivo da poupança é comparado à agricultura, ao investir bem o dinheiro poupado. À maneira de sementes que, cultivadas com fertilizantes de bons hábitos financeiros, e defensivos contra tentações consumistas e desperdícios, levarão a bons resultados. 
Andando por aí vemos lojas, shoppings, oficinas, fábricas, escolas, hospitais, fazendas e outras edificações a produzir bens e serviços. Quanto maior a sua produção e a produtividade lá dentro – de seres humanos à de máquinas e equipamentos –, maior será a prosperidade de pessoas, famílias, comunidades, cidades, regiões e do País. 
Como tudo isso foi construído? Sucessivas gerações não consumiram tudo o que produziam, poupando parte para ampliar sua capacidade produtiva. Por exemplo, quem só plantasse milho não prosperaria se o consumisse todo, exceto as sementes para a safra seguinte. Para prosperar teria de poupar mais sementes e/ou, via inovações, buscar outras mais produtivas. Inovações envolvem investir tempo poupado, e também recursos de poupança. Ao investir, pode-se também usar financiamentos, mas seu custo seria mais baixo com mais poupança financeira, e lá na frente será necessário poupar para pagá-los. 
Ainda existem pessoas que produzem individualmente algo tangível como o milho. A maioria das demais trabalha em várias atividades, recebe seus rendimentos e o caminho da prosperidade é o mesmo. Primeiro, não consumir tudo o que recebem. Poupada uma parte, precisa ser bem investida, e há alternativas, como o investimento financeiro, mas é preciso que siga para algo produtivo. No Brasil o governo absorve grande parte desse dinheiro, que vem da poupança de famílias, empresas e outras instituições, mas investe muito pouco dessa poupança, fazendo assim uma despoupança que prejudica o crescimento econômico do País. 
Outra possibilidade é adquirir bens, como um imóvel, que mesmo usado como casa própria rende implicitamente o aluguel que economizou. E serviços, como os de educação e saúde, que mantêm e/ou ampliam nossa capacidade produtiva. A educação a valoriza e credencia a uma promoção no trabalho ou a um emprego melhor. Com ela e de olho no mercado, inovações e o empreendedorismo também trazem ganhos de renda. 
O norte-americano Bill Gates, um dos homens mais ricos do mundo, quando aluno de graduação na Universidade Harvard (EUA), passou a desenvolver softwares que levaram ao enorme desenvolvimento dos computadores de mesa, mais tarde dos portáteis e, mais recentemente, aplicáveis aos smartphones. 
O que fazia e faz com o dinheiro que lhe cabe de sua empresa, a Microsoft? Se pensasse em consumi-lo todo ou em grande parte, não teria levado adiante seus projetos, pois ela estava e ainda está sempre precisando de mais recursos parasoftwares inovadores, contratar gente, comprar equipamentos e tudo mais que for necessário para a empresa crescer. Ou seja, ele poupou e poupa muito, investe muito e bem. Do contrário, perderia para a concorrência. 
Lições básicas: 1) quem trabalha como assalariado precisa poupar e bem investir para prosperar; 2) quem tiver um negócio, para fazê-lo crescer, precisará poupar boa parte dos ganhos e bem investi-los; 3) quem herda negócio da família, para mantê-lo, deverá poupar parte dos lucros, e não dilapidar o patrimônio, pois terá de investir para inovar, enfrentar a concorrência e a depreciação do capital fixo do negócio, na forma de suas máquinas, equipamentos e outras instalações; 4) em qualquer caso, a poupança bem investida é indispensável para a prosperidade; 5) governos também precisam poupar e bem investir, ou ao menos não atrapalhar esse processo, como no Brasil. 
Gates é um caso raro de enorme e rápido sucesso empresarial. O mundo das pessoas comuns, tipicamente assalariadas, é o do mercado de trabalho em que estão ou precisam se inserir, que disputarão com outras pessoas, sendo indispensável poupar e investir em novas qualificações, necessidade ampliada pelos avanços das tecnologias de informação e comunicação. Ademais, precisam viver dignamente como seres humanos, tendo onde morar e como cuidar do sustento próprio e da família, da educação e da saúde de seus membros, além de pensar na longevidade e sua(s) aposentadoria(s), e em cuidar de problemas de saúde que virão. E a lista poderia prosseguir, com atividades culturais, de lazer e outros itens. Sem poupar e bem investir, o futuro ficará comprometido e, na velhice, em condições abjetas. 
Estatísticas mostram que no Brasil a poupança total, que inclui a pessoal, familiar, empresarial e governamental, é baixa. Os investimentos, também. No governo, como visto, ela é até negativa. Olhando o mundo, os países que mais crescem estão no Sudeste Asiático e se destacam entre os que mais poupam e bem investem. 
Em contraste com essa imensa importância da poupança bem investida, aqui pouco se fala de difundi-la e ampliá-la e muito na necessidade de mais investimentos. Mas como custeá-los? Entram recursos externos, mas não se pode ficar dependente deles, pois são insuficientes para as necessidades, correm o risco de instabilidades e atendem às conveniências dos investidores, e não necessariamente do País. 
O empresário Antonio Cabrera, ex-ministro da Agricultura, observou que nos EUA se fala muito em fazer dinheiro. Aqui, em ganhar dinheiro. Acrescento: se possível, sem maior esforço. “Poupancicultura” é fazer dinheiro. Assim, cabe um grande esforço para difundi-la e ampliá-la no Brasil. 

* ROBERTO MACEDO É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR DA USP, CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Roberto Macedo se pronuncia pelo centro, corretamente - Estadao

Roberto Macedo, meu amigo, escreveu o artigo que eu gostaria de escrever:


Roberto Macedo
O Estado de São Paulo, 20/09/2018

Não vejo o centro político já derrotado e o Brasil condenado à triste opção entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Na análise que se segue recorri ao psicólogo Daniel Kahneman, que ganhou fama ao contestar premissa básica do pensamento econômico tradicional, a de racionalidade do ser humano. Por sua contribuição à análise econômica, ganhou o Nobel de Economia em 2002. 
Com implicações além dessa análise, Kahneman argumenta que o ser humano tem racionalidade limitada e ao decidir tem duas formas de pensar, os Sistemas 1 e 2. O primeiro é rápido e usa instintos, crenças e comportamentos que muitas vezes levam a opções equivocadas. Como o comportamento de manada, em que a pessoa segue um grupo sem refletir sobre o caminho a que será levada. Por exemplo, ao comprar ações sem se informar bem sobre elas, só porque muitas pessoas estão a adquiri-las. O Sistema 2 toma mais tempo, é mais analítico e racional, procura informações sobre o objeto da decisão e como esta deve incorporá-las de forma a minimizar o risco de erros.
Muitos adeptos de Bolsonaro e Haddad decidem pelo Sistema 1, sem maior reflexão sobre esses candidatos, seus vices incluídos. Após 1960, vários vices assumiram pela renúncia, morte ou pelo impeachment do titular: Jango, Sarney, Itamar e Temer. Dessa turma, só Itamar saiu com prestígio. O eleitor já refletiu sobre o que pode acontecer se o vice substituir seu candidato? Voltarei ao assunto.
Estou no PSDB há uns 30 anos, levado poe seu programa e por personalidades como Montoro, FHC, Covas e Serra. Entendo que a social-democracia é adequada ao Brasil, num formato mais liberal para a economia para que realize efetivamente seu potencial e gere tributos para uma ação social condizente com a dívida desse tipo que o País carrega. Em particular, por não ter cuidado dos escravos libertados, deixando-os ao deus-dará. 
Utilizando o Sistema 2 para recolher informações, Geraldo Alckmin é um candidato fiel ao espírito da social-democracia e com perfil adequado para unir o centro. É sensato, tem história política, capacidade de granjear apoio na área – e precisamos dos políticos para sair desta encrenca em que o país se meteu –, larga experiência administrativa no governo paulista e resultados para mostrar, como nas áreas de segurança, educação, gestão das contas públicas e infraestrutura. Tentativas de rotulá-lo como ficha-suja não colaram. É de hábitos simples, muito apegado à família. Em particular, contrasta com o ex-candidato Lula, que ao se inscrever se revelou um proletário milionário, com patrimônio de R$ 8 milhões. O programa de Alckmin é muito adequado às necessidades do País. A versão completa é recente e está em www.geraldoalckmin.com.br. O programa tem dez áreas de atuação e é coisa para ler, guardar e... cobrar! 
Como já disse, muitos dos apoiadores do capitão Bolsonaro pensam pelo Sistema 1, sem buscar informações. O apoio veio também pelo comportamento de manada. Se usassem o Sistema 2, saberiam que ele é temperamental e propenso a enfrentar com mais violência a criminalidade que se esconde em comunidades de baixa renda, pondo-as sob um risco ainda maior. Como militar, é da corporação do funcionalismo, cujo enfrentamento é indispensável para reformar o Estado e torná-lo mais eficaz a um custo menor. Não tem experiência administrativa, é avesso a entendimentos políticos, nada entende de economia e quem o indaga sobre o assunto é instado a ir a seu posto Ipiranga, o economista Paulo Guedes. Este exagera no liberalismo, despreza as dificuldades políticas e mesmo de recursos para implementar suas propostas. Não passou por estágio em Brasília. E viriam conflitos com o seu próprio chefe, nada liberal. Poderia durar pouco como ministro da Fazenda.
Haddad é pessoa de fino trato pessoal, mas como candidato do PT, ou pior, do PL, o Partido do Lula, tem este como ídolo e mentor. Como presidente, Lula começou bem, mas depois teve culpa no processo que levou o País ao buraco em que se encontra. Como ao acomodar a corrupção no governo e não aproveitar, para também investir mais, a bonança econômica que recebeu do PC chinês, quase só apostando na expansão do consumo e levando as pessoas a desprezar a poupança e exacerbar o endividamento. E na saída fez feio, escolhendo Dilma para suceder-lhe. Tida como gerentona, foi uma tremenda trapalhona. Seu desastre ainda tem seus efeitos. E o PT também aparelhou a máquina do Estado com seus quadros corporativistas, prejudicando uma reforma dele. Assim, quem vai atrás do PT está igualmente operando pelo Sistema 1.
Olhando os vices, a de Alckmin, senadora Ana Amélia, também ficha-limpa, foi por muito tempo jornalista na área de economia, é experiente no trato com o Congresso e sintonizada com o programa da chapa. Bolsonaro tem como vice o general Hamilton Mourão, em tese submisso ao capitão. Não conheço seu temperamento, mas em termos administrativos e corporativos envolve os mesmos riscos de Bolsonaro, além do risco de agir por conta própria e no meio militar.
E a vice de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila, do PCdoB, o Partido Comunista do Brasil? Não tem experiência administrativa. Supondo que seja coerente com seus princípios, passaria a conduzir o governo com ideias de um partido ultraminoritário – tem apenas 12 deputados federais, 1,6% do total, e um senador. Se eleita, terá sido pela chapa, como Temer. E o dano à confiança na economia, caso assumisse?
Concluo apelando ao voto pelo Sistema 2, sem crenças preconcebidas ou hoje mal concebidas. Cabe também apelar aos eleitores de Marina, Meirelles, Amoêdo e Álvaro Dias, bem como a esses candidatos, para que preguem a união em torno de Alckmin. Sem essa união, há um grande risco nesta eleição: o centro, desunido, então será vencido!
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Roberto Macedo: uma estrategia de crescimento (e precisa de uma?)

Eu tendo a acrescentar que nem precisaria de estrategia nenhuma, que tendem a ser "planejadas" por tecnocratas distanciados do mundo da produção pois a sociedade, deixada em liberdade econômica, tenderia a criar uma ordem espontânea favorável ao crescimento, desde que o Estado, os políticos, não atrapalhassem muito...
Paulo Roberto de Almeida

Estratégia - crescimento econômico

ROBERTO MACEDO*
O Estado de S. Pauo, 
Este artigo integra série voltada para uma estratégia diante da atual crise política, econômica e social (os artigos estão disponíveis em opiniao.estadao.com.br/artigo-de-opiniao/, o primeiro em 19/11/2015 e os demais na primeira e na terceira quintas-feiras de cada mês).
Como um país cresce economicamente? Começo pelo que é crescimento econômico, em seguida descrevo o processo pelo qual ele ocorre e dentro desse processo as forças que atuam com maior vigor. Ele é, num país, o aumento do seu produto interno bruto (PIB) por habitante. Esse produto vem da interação de trabalho, capital produtivo e tecnologias disponíveis. A incorporação de mais trabalhadores aumenta o PIB se com força suficiente para ampliá-lo por habitante. O mesmo se dá com mais capital produtivo, como máquinas em geral e terras agrícolas.
A maior qualificação dos trabalhadores agrega valor ao PIB, daí a importância da educação, do ensino técnico e do treinamento no trabalho. O mesmo se verifica se o capital se torna mais eficiente, como pela incorporação de máquinas mais produtivas. E há desenvolvimentos tecnológicos que ampliam a produtividade tanto do trabalho quanto do capital, como os ocorridos nas telecomunicações. Inovações em produtos também são estimulantes, ao gerarem demanda adicional que amplia a produção.
Mas por que alguns países crescem mais do que outros?
A resposta é bem mais complexa. Um famoso historiador econômico, David Landes, dedicou-lhe cerca de 500 páginas de seu livro A Riqueza e a Pobreza das Nações (Editora Campus, 1998).
Ao concluir, afirma que a cultura faz toda a diferença entre países. Cultura no sentido lato, dos valores intrínsecos e atitudes que guiam o comportamento da população de um país. Um exemplo dessa influência cultural, apontado por Landes, vem da análise de Max Weber, sobre a evolução do capitalismo nos Estados Unidos, na qual destaca o papel da ética do protestantismo. Ela enaltecia uma vocação ou um compromisso efetivo com o trabalho voltado para necessidades materiais, e sem prodigalidade na utilização dos lucros obtidos desse esforço, o que acelerava e levava à acumulação de capital.
Landes diz que essa visão ainda se sustenta. Também aponta outras influências culturais positivas, como na recuperação do Japão e da Alemanha no pós-2.ª Guerra e o avanço ainda mais recente da China e da Coreia do Sul. E ressalta que “o que conta é o trabalho, o uso cuidadoso do dinheiro e dos bens, e honestidade, paciência e tenacidade.”
Ora, entre outras falhas, a cultura brasileira enfatiza muito o consumo, num descaminho agravado pelo populismo dos governos petistas e seu apego ao crédito consumista. A ênfase deve ser na poupança investida, inclusive a antecipada por crédito, como o habitacional e para atividades produtivas. Não conheço quem tenha prosperado sem poupar e investir, exceto herdeiros de quem fez isso no passado. E a poupança deve ser levada a investimentos que expandam a capacidade produtiva da economia e seu PIB por habitante. No Brasil há quem poupe dinheiro, em seguida levado a aplicações financeiras lastreadas na dívida pública, mas um governo que quase nada investe dessa forma. Ademais, com mais poupança própria o País seria menos dependente da externa e, assim, menos vulnerável à volatilidade que vem de fora.
A mesma questão foi abordada por Douglass North, laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 1993. Seu livro mais conhecido é Institutions, Institutional Change and Economic Performance (Cambridge University Press, 1990). Foca nas instituições de uma sociedade, as “(...) suas regras do jogo, ou (...) as humanamente desenhadas restrições à liberdade de agir como quiser que dão forma à interação humana.” Esta, por sua vez, é um processo de escolhas, o que incorpora a visão de Landes, pois aí entram os traços culturais da sociedade.
Instituições assim definidas não devem ser confundidas com organizações, estas os entes ou jogadores atuantes nesse jogo, como partidos políticos, igrejas, empresas, sindicatos e agências governamentais. Para avançar economicamente é preciso que as regras do jogo, formais ou não, reforcem incentivos para que as organizações – e o povo em geral, acrescento – se engajem em atividades produtivas. E que não se fique quase que só a distribuir o resultado delas, ou a restringir a competição e as oportunidades, entre outras dificuldades que podem vir dessas regras. Acrescente-se também que elas devem ser estáveis para facilitar a interação humana no seu empenho na atividade produtiva.
No Brasil é comum dizer que nossas instituições funcionam, a exemplo do Judiciário e da Polícia Federal no trato que dão à Operação Lava Jato. Mas essa é uma visão mais voltada para organizações, e não para instituições no sentido dado por Douglass North. Entre outros aspectos, nossas regras do jogo tributário distorcem incentivos à produção, as orçamentárias não impediram a desastrosa crise fiscal em andamento, e no pré-sal foi prejudicada a própria Petrobrás e reduzida a competitividade no setor. Houve outras intervenções também desestimulantes da atividade produtiva em setores como os da eletricidade e do etanol. No geral, ao sucessivamente violar regras do jogo, o governo gerou essa enorme incerteza que inibe decisões de consumidores e empresários, com o que a atividade produtiva foi seriamente prejudicada.
Neste momento em que o País procura definir agendas ou estratégias para enfrentar a imensa crise em que se debate, essas ideias sustentadas pela lógica econômica e pela evidência histórica devem ser levadas em conta. É preciso ir às raízes dos problemas. Assim, numa estratégia de crescimento há que enfrentar traços inconvenientes da cultura do país e das regras do jogo econômico em que interagem seu povo e suas organizações.

* ROBERTO MACEDO É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Monsieur Piketty et le Bresil: licoes erradas, recomendacoes ruins - Roberto Macedo (OESP)

Eu comentei este artigo preventivamente, e reproduzo abaixo o que rescrevi ao autor, e tambem, o que havia escrito a ele quando recebi a apresentação feita em SP.
Lembro que eu já havia postado neste mesmo espaço meu artigo feito quando soube de algumas afirmações do economista em SP. As referências seguem aqui:
2720. “Miséria do Capital no Século 21: breve refutação não estatística de novas formas de criação da miséria”, Hartford, 30 novembro 2014, 3 p. Considerações sobre os equívocos da nova teoria do capital no século 21. Publicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/11/miseria-do-capital-no-seculo-21-paulo.html)
Paulo Roberto de Almeida

Piketty e suas lições para o Brasil
Roberto Macedo *
O Estado de S. Paulo, 4/12/2014

Thomas Piketty é um economista francês famoso internacionalmente após publicar, em 2013, o livro O Capital no Século XXI, um dos mais vendidos em vários países. Já existe também em português (Ed. Intrínseca, 2014).

Tem 43 anos e, aos 22, já era doutor em Economia. No biênio seguinte ensinou no famoso Massachusetts Institute of Technology, dos EUA. Tem outros livros, muitos artigos em boas revistas acadêmicas e recebeu premiações importantes. Convence, portanto, como personagem.

Na semana passada conheci-o na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Almoçou com professores e deu palestra em inglês para um auditório cheio. Resumiu então esse seu livro e a apresentação está disponível piketty.pse.ens.fr/en/files/piketty2014capital21csaopaulo1.pdf.

A obra é densa em números e análise. A versão em inglês tem 685 páginas e dela traduzi trechos citados abaixo. Raramente toca no índice de Gini, que domina a análise da distribuição pessoal de renda no Brasil. Tal índice varia de zero a 1, da distribuição igualitária para a totalmente concentrada, mas sem chegar a esses extremos nas suas aplicações. E abandonou Gini: "... é impossível resumir uma realidade multidimensional com um índice unidimensional sem indevidamente simplificar as questões e misturar coisas que não deveriam ser tratadas conjuntamente". Por essa e outras razões, concluiu ser "muito melhor analisar desigualdades em termos de tabelas de distribuição indicando as parcelas dos vários decis e centis na renda total e na riqueza total..." (pág. 266). Decis e centis são, por exemplo, os 20% ou 1% mais ricos e suas parcelas desses totais. E no livro há perto de cem gráficos que facilitam entender seus muitos números.

Estudos sobre o Brasil ganhariam com esse enfoque. Assim, o livro também convence pelo que informa e tem de metodologia. Sua tese principal: "Quando a taxa de retorno sobre o capital excede significativamente a taxa de crescimento da economia (como aconteceu por muito tempo na História... e provavelmente também acontecerá no século XXI), a consequência lógica é que a riqueza herdada cresça mais do que a produção e a renda... Nessas condições, é quase inevitável que a riqueza herdada dominará e por grande margem a riqueza amealhada por uma vida de trabalho, e a concentração do capital atingirá níveis extremamente altos e potencialmente incompatíveis com os valores meritocráticos e princípios de justiça social fundamentais às sociedades democráticas modernas" (pág. 26). Discordo, pois se uma economia seguir crescendo, com todos melhorando de vida, ainda que uns mais e outros menos, mesmo estes poderão não ver injustiça social no processo.
O livro não cita o Brasil uma vez sequer. A distribuição de sua atenção se concentra em EUA, Japão, Alemanha, França e Grã Bretanha. No nosso país a concentração de renda é muito alta e os dados existentes não permitem analisar adequadamente a distribuição de riqueza. Mas basta andar por aí para ver que também é fortemente concentrada.

Quanto ao que fazer, novas discordâncias. Piketty prega uma "tributação progressiva e global do capital", o que "exigiria considerável grau de coordenação internacional" (pág. 27). Na palestra: essa tributação "seria baseada na troca automática de informações bancárias". Ora, não há como ter a aprovação unânime dessa ideia. Mais países se tornariam paraísos fiscais para cidadãos insatisfeitos de países aderentes, como já ocorre hoje com relação a países de tributos mais altos.

Voltando ao Brasil, na apresentação recomendou: "... precisa de mais transparência quanto a (dados de) renda e riqueza; tributação progressiva sobre a renda, herança e riqueza seriam uma forma poderosa de produzir informação sobre como os diferentes grupos de renda e de riqueza se beneficiam do crescimento".

Ora, para avançar nessa direção é fundamental atentar para as condições locais. O.k. para maior transparência e tributação progressiva de renda e herança. Aqui há impostos sobre renda em geral, propriedade imobiliária e herança, chamados de diretos, e na Constituição há o Imposto sobre Grandes Fortunas, que carece de lei complementar e vai ficando no armário. Ademais, entre outras dificuldades esse imposto interferiria com o IPTU e o Territorial Rural. Ambos carecem de cadastros que reflitam melhor o valor das respectivas propriedades, o que também poderia levar a uma cobrança mais realista e progressiva.

Ademais, estudos mostram que impostos indiretos, como ICMS, IPI e outros, predominantes na arrecadação tributária, são regressivos, pois incidem sobre o consumo, cuja participação nos gastos das pessoas decresce com a renda. Entre outras distorções, pesam muito nos preços e levam muitos brasileiros a comprar no exterior. Caberia diminuir o gravame desses impostos e ampliar o dos diretos. Nossa tributação não tem caráter e prefere esconder impostos nos preços.

Pode-se também melhorar as condições dos mais pobres atuando sobre os gastos públicos, como os do Bolsa Família. E não dar tanto aos mais ricos, como nos financiamentos subsidiados do BNDES. Na mesma linha, permanece por enfrentar o ensino superior público gratuito, no qual predominam alunos cujos pais poderiam pagar por ele, gerando recursos prioritariamente para bolsas de estudo para estudantes pobres que sem elas têm de trabalhar. Ou seja, é preciso ir do ensino gratuito para o estudante pago.

Também é indispensável ponderar que o Brasil ainda não é rico. Os países que Piketty observou mais têm renda por habitante com valor perto de quatro vezes a do Brasil. Assim, os brasileiros precisam ser estimulados a estudar, trabalhar, poupar e investir mais, acumulando mais capital nas suas várias formas, sem que a insaciável sede tributária do governo os desvie desse caminho.

*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard),
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Comentários Paulo Roberto de Almeida"

1) Em 3/12/2014:
    Gostei do artigo, mas minha observação, mais de ordem metodológica do que prática, focaliza num aspecto.
    Piketty faz um amalgama com o que chama de capital (que parece ser tudo o que não deriva diretamente do trabalho ou de fontes não diretamente monetárias), e acha que isso paira acima das gerações, sem cuidar de quem está fisicamente na posse desse capital e de como isso vai sendo utilizado no curso de uma vida e intergeracionalmente.
    Ou seja, no processo de reprodução do capital -- que parece para ele a mesma entidade metafisica com que se preocupava Marx, transformando-o num deus ex machina -- ele não se pergunta quantos empregos e renda adicional foram criados com e para outros que não os detentores diretos do capital nesse processo.
    Não sei se se pode admitir facilmente que a taxa de retorno do capital sempre vai exceder o crescimento da economia, uma vez que a valorização de ativos pode sofrer setbacks muito frequentes.
    Quem tinha ações da AOL antes da crise das dot.com, em 2000, pode ter vendido e se aposentado precocemente com milhões na conta, mas quem comprou na alta, pode estar sofrendo até hoje.
    Quem comprou ações da Petrobras a 40, usando seu FGTS, se pergunta hoje quando é que vai recuperar o seu capital com uma ação a menos de 13 atualmente.
    Enfim, eu posso estar errado, mas não consigo conceber esse amalgamento artificial de riquezas de diversas origens nessa categoria imanente chamada capital, e isso me parece ser um problema conceitual e de classificação de ativos que tem de ser resolvida pelos economistas.

    Agora volto a insistir num ponto. Ainda que tudo isso seja correto, ou seja, que existe realmente essa tendência inevitável dos mercados livres de fazer concentração da renda, a menos de medidas corretivas pelos governos, ou grandes desastres humanos e acidentes naturais, não veja nada de economicamente racional na decisão de tomar esse dinheiro dos detentores do capital para distribuir entre os detentores do trabalho. Tudo isso é uma decisão política, que pode resultar numa taxa ainda menor de crescimento e nesse caso todos perderiam.
    Meu ponto é: o francês fica propondo fórmulas para empobrecer os muito ricos, que são poucos, em lugar de encontrar maneiras de enriquecer os muito pobres, que são muitos...

2) Em 2014-11-30 20:35, Paulo R. Almeida escreveu:
 Roberto,
 Muito grato pela remessa da apresentação do Piketty em SP. Creio, pessoalmente, que ele parte de um bom case — a concentração crescente de renda e riqueza nos estratos superiores — para tirar as conclusões erradas: a de que é preciso um bom Estado distributivista para melhorar o perfil da distribuição e caminhar para uma situação de maior justiça fiscal e, supõe-se, de maior igualitarismo distributivo.
 Todo mundo sabe e todos concordariam em que os EUA apresentam maior dinamismo em seu sistema econômico, e um perfil distributivo mais desigual. Não se trata de opinião, ou de doutrina, são apenas fatos, baseados em dados reais. A Europa, justamente, por ser mais distributiva, tende a crescer menos, e portanto só poderá distribuir menos riquezas, cumulativamente ao longo do tempo. A China também, vem retirando um número impressionante de pessoas de uma miséria execrável e colocando-as numa situação de pobreza aceitável, em muitos casos até de relativo bem-estar. Isso com base num sistema igualmente dinâmico, e altamente concentrador de renda, o que provavelmente vai ser atenuado no futuro, com base em políticas fiscais corretivas e investimentos adequados nos equipamentos sociais, como mostrou Thomas Ballogh para os países avançados no decorrer do século 20.
 Creio que Piketty bate no gato errado: ele está tentando empobrecer os ricos, em lugar de usar toda a sua expertise analítica para enriquecer os pobres. É uma via que não se sustenta, tendo em vista a experiência já acumulada.
 Poucos ouviram falar na "Estratégia de Lisboa", um exercício prospectivo conduzido em meados dos anos 1990 pelos eurocratas e professores brilhantes da UE, que foi formalizado em 2000 (quando Portugal estava na presidência da UE. Se tratava de converter a UE, em 2010, na região mais avançada do mundo com base na economia do conhecimento. Bem, já em 2005 (bem antes da crise, portanto) era posssível perceber que a Europa demoraria muito para alcançar os EUA, e de fato está ficando para trás.
 Com base no seu dinamismo econômico, e um pouco na desigualdade, a renda per capita dos EUA mantém-se bem à frente da média europeia, inclusive dos países mais avançados. Não vale mencionar os casos do Luxemburgo, Lietchenstein ou Monaco, com renda superior a 120 mil dólares, pois essa é exatamente a renda de um morador de NY, e esses países são ricos supostamente porque também seguem bem mais um padrão americano, ou de Manhattan (serviços financeiros), do que europeu.
 Acho que cabe um esforço de despikettização mental sobre os verdadeiros problemas do mundo, que não estão no fato de existir um punhado de super-hiper-megabilionários, e sim a evidência de que existem muitos pobres ainda. Acho que os economistas fariam um melhor serviço para a humanidade se tentassem diminuir o número de pobres, não o de ricos.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O PIB dos companheiros (Pibinho) e o PIB dos economistas, e do mundo - Roberto Macedo

Por que um PIB bem maior?
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 20/06/2014

Este artigo é sobre algo que deveria ser óbvio, ao menos para economistas. Mas vi até uma conhecida economista menosprezando o crescimento do produto interno bruto (PIB), a professora Maria da Conceição Tavares.

Em artigo recente, A Era das Distopias, que pode ser encontrado pelo Google, ela disse: "Na verdade, se o PIB é 'pibinho' ou não, qual o problema? Vai ser 2%, 3% ou 4%? O problema é ter emprego. Para mim, os critérios clássicos são emprego, salário mínimo e ascensão social das bases. E também é sempre importante olhar os investimentos". Desta última frase não discordo. E numa entrevista ao jornal O Globo (14/3) também afirmou: "Ninguém come PIB, come alimentos".

Para aferir o grau de desenvolvimento econômico de um país o que conta é o PIB per capita, ou por habitante. O do Brasil deixa-nos no meio da corrida mundial por esse desenvolvimento, na qual se empenha a esmagadora maioria dos países.

Para prosseguir, tomarei dois países para mostrar diferenças de grandeza econômica, recorrendo a dados de 2012 do Banco Mundial (BM), os últimos disponíveis nessa fonte. O Brasil, que o BM classifica com de "renda média alta", mostrava então um PIB total de US$ 2,253 trilhões, e 198,7 milhões de habitantes, com o que seu PIB por habitante era de US$ 11.339. O Reino Unido (RU), que engloba Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, considerado pelo BM como de alta renda, tinha então um PIB total de US$ 2,476 trilhões, bem próximo do brasileiro, mas uma população de 63,6 milhões, ou cerca de um terço da nossa, e assim um PIB por habitante de US$ 38.931, perto de 3,5 vezes o do Brasil (!).

Não nos podemos conformar com essa diferença, e como o RU e outros ricos seguirão em frente, o Brasil precisa acelerar bastante o seu PIB para encurtá-la. Um PIB por habitante bem maior levaria os brasileiros a um padrão de vida médio bem superior ao atual. Sei de um economista brasileiro que viveu um ano no RU (Inglaterra) e relatou que lá, entre outros aspectos, as condições de educação, segurança e saúde eram muitíssimo melhores que as nossas. E não ficou só olhando. Embora estrangeiro, uma de suas filhas ingressou no ensino fundamental de uma excelente escola pública gratuita, em tempo integral. Para facilitar a adaptação da nova aluna à língua inglesa ela teve um professor para tutorá-la individualmente. Outra filha dele nasceu lá, num hospital do Serviço Nacional de Saúde do país, e por um mês houve várias visitas de enfermeiras à sua residência para examinar a criança e saber se vivia em boas condições. Na área da segurança ele ficou só olhando, mas sem a apreensão com que se vive no Brasil.

Com o PIB, a população e a carga tributária que o Brasil tem, não há como ele oferecer serviços públicos desse nível. Assim, predomina em vários círculos a visão de que faltam recursos para isto ou aquilo, o que poderia ser efetivamente melhorado se aumentadas as porcentagens da receita pública ou do PIB destinadas a este ou àquele serviço.

Por exemplo, o Congresso Nacional aprovou recentemente um Plano Nacional de Educação que tem como meta principal elevar o gasto público total em educação dos atuais 6% para 10% do PIB em dez anos. E há o Movimento Saúde + 10, que pressiona o Congresso a elevar o dispêndio do governo federal em saúde para um montante igual ou superior a 10% de suas receitas correntes brutas.

Com propostas desse tipo se vende a ilusão de que poderão resolver nossos problemas. Muitas vezes não se explicita de onde virá o dinheiro, mas o existente já está curto e há outros interessados a gritar "me dá (mais) um dinheiro aí", como empresários, juízes, professores, policiais, Estados e municípios. Na educação a aposta é no dinheiro que viria do pré-sal, que também não vejo suficiente, além depender de outra hipótese: a de que ele saia lá do fundo do fundo do mar e seja eficazmente utilizado.

O que ainda sustenta a reduzida expansão dos serviços públicos vem das taxinhas do PIB e do contínuo aumento da já enorme carga tributária que sobre ele incide. Em 2012 estava bem perto de 36% do PIB, o mesmo ocorrendo com a carga tributária do RU.

No Brasil, essa semelhança de carga tem levado a uma percepção enganosa. Ela é sintetizada na visão de um país imaginário que poderia ser chamado de Runganda, com carga tributária do RU e serviços públicos de Gana.

Ora, com um pouco de reflexão se percebe que, além do PIB, é indispensável levar em conta o tamanho da população dos países comparados. Ou seja, calcular quanto seus governos arrecadam por habitante e têm ao seu dispor para prover serviços públicos. Voltando aos números, como foi visto o Brasil e o RU têm PIBs totais de valor aproximado e sobre estes incidem cargas tributárias de porcentagem semelhante.

Mas, calculando essa carga de 36% sobre o PIB por habitante, em 2012 o setor público do RU contava com US$ 14.015 por habitante, enquanto o Brasil dispunha de apenas US$ 4.082. Em reais à taxa comercial de ontem, R$ 31.632 e R$ 9.213 respectivamente. Uma enorme diferença, que explica os melhores serviços públicos providos pelo RU.

Em conclusão, o povo brasileiro não come os números do PIB, mas come uma fatia dele em alimentação, recorre à do vestuário e faz uso dos serviços de saúde, educação e transporte - entre outras fatias.

Assim, há muito, muitíssimo que fazer pelo PIB brasileiro. Enquanto não crescer a taxas dignas das necessidades de seus habitantes o Brasil continuará nessa ilusória classe média alta, que só é alta quando se miram os países que estão lá muito abaixo do nosso, que ainda é bem pobre se comparado com os que permanecem por cima, como o RU. Estes são os que devemos mirar e correr mais rápido para alcançá-los, ou pelo menos para não ficarmos, como hoje, tão distantes deles.


ROBERTO MACEDO, ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

segunda-feira, 19 de maio de 2014

GloboNews Painel: economistas debatem beneficios sociais, com 60 milhoes de dependentes

GloboNews Painel

Convidados debatem situação das contas públicas com aumento dos gastos sociais



Alexandre Schwartsman (economista, professor do Insper), Roberto Macedo (economista, professor da FAAP) e Carlos Melo (cientista político, professor do Insper) debatem, com William Waack, o pagamento de benefícios sociais a uma imensa fração da população brasileira, com mais ou menos 60 milhões de pessoas na "folha de pagamentos" do governo, incluindo aposentados e dependentes do Bolsa Família, o que levanta a questão da sustentabilidade das contas públicas.
O Brasil, por uma Constituição esquizofrênica, e pela crença da maioria dos brasileiros, está se condenando à inviabilidade econômica, na medida em que a extração de recursos da sociedade pelo Estado tornam o crescimento econômico uma tarefa inviável.
Paulo Roberto de Almeida 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ainda a deterioracao do cenario economico - Roberto Macedo

2013 ruim e a culpa não foi do 13

02 de janeiro de 2014 | 2h 07

Roberto Macedo* - O Estado de S.Paulo

O ano passado mostrará mais uma taxinha anual de crescimento do produto interno bruto (PIB). Há previsões entre 2,1% e 2,5%. Em 2011 e 2012, as taxas foram 2,7% e 1%, respectivamente. Supondo 2,3% em 2013, a média anual do triênio teria o valor medíocre de 2%.
Para quem acredita em azar, o 13 que marcou a contagem do ano passado seria o culpado. E há muitos crentes, inclusive num país desenvolvido, os EUA, onde esse número é evitado até na numeração de andares de prédios. Mas não há como culpá-lo pelas taxinhas. A política econômica do governo federal é a principal responsável.
Focarei na taxinha de 2013. No detalhe, só o agronegócio se salvou, pois cresceu 8,1% de janeiro a setembro de 2013 relativamente a igual período de 2012. E em boa medida impulsionado por decisões de um partido político que realmente ajuda o Brasil, o Comunista da China.
Começarei por parafrasear o que disse o filósofo Ortega y Gasset sobre a interação do ser humano e das circunstâncias com que se depara, às quais se atribuem azares e sortes da vida. No caso, o ser é o governo federal com sua política econômica. As circunstâncias foram várias, como duas apontadas recentemente pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda.
Esta foi sua inconvincente versão do baixo crescimento do PIB: "De um lado, financiamento (ao consumo) escasso e, de outro, a crise internacional, que rouba parte da capacidade de crescimento. (...) Isso significa que a economia brasileira está crescendo com duas pernas mancas". Ou seja, a culpa seria de circunstâncias azarentas e o governo não tem nada que ver com a taxinha.
Essas duas pernas hoje mancas favoreceram muito o crescimento mais rápido da economia de 2003 a 2008 e em 2010. Mas hoje seu papel é menor. Para expandir substancialmente o crédito ao consumidor seria necessário combinar com bancos reticentes em fazê-lo. E com milhões de brasileiros para que se endividassem ainda mais. Muitos, contudo, têm orçamentos já comprometidos por débitos contraídos no passado.
No crédito às famílias, a prioridade deve ser o financiamento imobiliário, pois seu pagamento é uma forma de poupança, tem a garantia do imóvel e alivia uma das maiores fragilidades da economia brasileira, se não a maior, a escassez de investimentos. E, ao final da dívida, fica o imóvel, e não eletroeletrônicos por renovar e automóveis que perderam valor, cujo destino final é o sucateamento.
A economia internacional reduziu o ímpeto com que importava do Brasil, cujo déficit externo em transações correntes passou a crescer, estimulando a economia de outros países, como os EUA, onde tanto gastam os nossos turistas. A cobertura desse buraco com investimentos estrangeiros diretos já não consegue fechá-lo. E o risco de uma crise cambial mais à frente, que vem com o alto e crescente déficit, também afasta parte desses investimentos.
O déficit é sintoma de um real valorizado, contra o qual o governo precisaria atuar além das intervenções episódicas que vem fazendo no mercado cambial. Quanto a isso, é lamentável que tenha abdicado de um dos poucos bons aspectos de sua política econômica, a busca de menores taxas de juros. A elevada estatura delas atrai capitais externos de curto prazo, que ao aumentar a oferta de dólares pressionam para baixo a taxa cambial em reais por dólar. Mas para reduzir juros seria indispensável que a política fiscal colaborasse, deixando de ser gastadora como hoje, o que, além de ampliar a dívida pública, estimula a inflação e leva o Banco Central a aumentos recorrentes da taxa básica de juros.
Assim, a política fiscal é que é efetivamente capenga, mas, em lugar de corrigi-la, o ministro da Fazenda parece sonhar com a recuperação das tais "pernas mancas". Num ajuste fiscal caberia aumentar a poupança pública. E, noutras iniciativas, incentivar a poupança privada, inclusive das famílias, para que o País reduzisse sua dependência de recursos externos e colocasse essas poupanças a financiar investimentos de que tanto carece. Hoje o governo se endivida até para pagar juros do que deve, embora o endividamento público só se justifique para realizar investimentos. Como em infraestrutura, que beneficiam também futuras gerações, às quais cabe parte do ônus da dívida correspondente.
E há a má gestão dos investimentos públicos. Sem dinheiro e capacidade de realizá-los por si mesmo em montante significativo, o governo petista pragmaticamente abandonou um dogma de seu partido. Agora recorre a privatizações, na forma de concessão de serviços públicos e respectivas obras. Mas, como sempre, tudo com muito atraso, como os quase dez anos em que relutou em optar por privatizações, prejudicando o crescimento do País. Entretanto, permanece um ranço estatizante, como no caso das concessões de aeroportos, em que mantém um papel para a Infraero. E no do petróleo do pré-sal, em que impôs a Petrobrás como operadora de todos os projetos de exploração, mas limitando seus recursos mediante o controle de seus preços.
Com o déficit externo crescente, extravagâncias fiscais, dificuldades de gestão, medidas e pronunciamentos desconexos, a política econômica perdeu outro elemento indispensável para seu sucesso, a confiança dos analistas, dos empresários e dos investidores. Ela compõe um cenário que não favorece o investimento público nem estimula investimentos privados. E é campo fértil para taxinhas de crescimento do PIB.
Em 2014 deve vir mais uma. Como a prioridade é atrair eleitores para ganhar a eleição presidencial, não há espaço para atacar com vigor o problema central, a má gestão fiscal. Ela pode até agravar-se com benesses eleitoreiras aqui e acolá. Entre outras, prevejo uma expansão dos gastos com o programa Bolsa Família. A cooptação eleitoreira em dinheiro funciona a todo o vapor, como nunca antes neste país.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard) e consultor econômico e de ensino superior.