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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Mini-reflexão sobre nossa acomodação às misérias do cotidiano - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre nossa acomodação às misérias do cotidiano

Paulo Roberto de Almeida

Nosso sofrimento ainda não terminou: politicos oportunistas ainda veem em Bolsonaro uma chance de continuarem se locupletando. Estamos indo diretamente a uma longa estagflação. 

Também surpreende a resiliência do psicopata perverso, o que depende de eleitores e do Grande Capital. 

A adesão ainda significativa de tantos brasileiros a um mentiroso, a um crápula, a essa escória de gente, a esse genocida confirmado, é um desafio a todos os cientistas políticos; o fenômeno tem mais a ver com traços psicológicos desse povo que ainda idolatra o verme mesmo tendo todas as evidências de que ele está afundando o Brasil e piorando a vida de todos e cada um. Difícil explicar isso.

Políticos e Grande Capital (não todo ele) ainda se entende, pois esperam continuar lucrando em cima do parvo, ainda assim é triste constatar que esses poderosos não têm a mínima consideração pelo futuro da nação e pela situação pré-falimentar da economia do país.

O que leva um povo a estrangular assim suas chances de prosperidade e de bem-estar, ou melhor, como explicar a decisão dos mais privilegiados de continuar a desprezar de maneira tão vil o destino de milhões de brasileiros pobres?

Não sabemos exatamente, mas a América Latina não é exatamente um exemplo de postura racional de aderência a um projeto de desenvolvimento inclusivo e socialmente responsável: sempre fomos desiguais e tolerantes com a opressão, a miséria e a desigualdade. 

Entendo que os principais fatores dessa condição — criada internamente, não imposta de fora — sejam a não educação da massa da população, a corrupção política e a arrogância soberba, mesquinha e egoista das elites dominantes e dirigentes, cujo arbítrio e poder não encontram limites. 

Em outros termos, uma mudança estrutural e sustentada não é provável no curto prazo. Se considerarmos que mais da metade da humanidade ainda vive em condições precárias de equilíbrio econômico e de bem-estar social, submetida a regimes corruptos e pouco democráticos, podemos concluir que o Brasil vive nessa média medíocre de metade da humanidade. 

Em conclusão: não temos capacidade de sermos melhores do que o nosso meio, ou de superar rapidamente o legado de atraso e de ignorância que recebemos de nossos antepassados nos últimos 200 ou 500 anos de formação da nação (sacrificando, diga-se de passagem, os povos originários).

Espero ter interpretado razoavelmente bem, e de maneira objetiva, as razões de nossa condição deplorável. Privilegiado como sou, agora, constrange-me ainda assim ver tantos brasileiros, milhões deles, entregues a uma situação de abandono, parte responsabilidade pessoal, mas a maior parte devido à incúria das elites do poder. Ineptos e desprezíveis, é tudo o que me resta dizer.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 4/11/2021

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Sobre nosso cenário de estagnação quase insuperável - Paulo Roberto de Almeida

Sobre nosso cenário de estagnação quase insuperável

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

A responsabilidade maior pelo cenário de semi-destruição autoinfligida no e ao Brasil, desde a democratização pós-ditadura, cabe quase inteiramente à deterioração intelectual do estamento político, convertido numa quadrilha de sanguessugas predatórios, sem projetos para o país, apenas em proveito próprio, do seu enriquecimento pessoal.

Mas muitos dos retrocessos foram construídos ao longo das duas décadas de ditadura militar, um período de progressos materiais, mas de perda de qualidade do material humano com que são feitos países dotados de certa racionalidade na definição de suas prioridades nacionais. 

O Brasil dos militares — mas continuou da mesma forma sob a Nova República — se fez com total prioridade para as corporações e para os já ricos, no total desprezo por uma educação de massas de qualidade, o único requisito para diminuir a pobreza e aumentar a produtividade do capital humano.

Atenção: a despeito de o Brasil ser um país profundamente iníquo, nos níveis excessivamente altos de desigualdade estrutural, seu maior problema não é a desigualdade, a despeito de ela ser praticamente inaceitável. Sua prioridade está em eliminar a miséria e reduzir tremendamente a pobreza, sobretudo via educação, mercados, emprego, renda própria, não assistencialismo demagógico dos mesmos políticos que nos trouxeram ao horrível quadro de mediocridade atual.

Tentei ser sintético, evitando entrar em considerações mais amplas sobre as razões de nossa estagnação de 4 décadas, que possui fatores macro, micro, mas sobretudo de governança inepta, o que não deixa de ser um reflexo da deseducação do povinho miúdo, o popolo minuto, em oposição ao popolo grasso, de que falavam os italianos do Renascimento (leiam as Istorie Fiorentine, de Francesco Gucciardini e do próprio Maquiavel; pouco mudou desde então).

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4005, 1 novembro 2021, 2 p.

 

domingo, 24 de outubro de 2021

Duas gerações de estagnação para o Brasil? É a OCDE quem diz - Thales Souza Reis (O Sabiá)

 

Onde está o futuro prometido aos jovens?

Em nova projeção, OCDE considera que o padrão de vida no Brasil deve ficar estagnado pelos próximos 40 anos. Para onde foi o futuro prometido aos jovens que acessaram a universidade em meio a muitas promessas? Um relato sobre o Brasil do futuro.

Thales Souza Reis

Revista O Sabiá, 23/10/2021

Aos 22 anos, tenho pouco distanciamento do fim da minha infância e início da adolescência. Lembro-me bem do mundo em que vivia na virada da década de 2000 para a de 2010, período histórico que, aliado à inocência da infância, me fazia ter uma visão bastante utópica sobre as coisas: minha família foi melhorando de vida com o passar do tempo, assim como as pessoas ao meu redor. Com isso, eu acreditava que era só questão do passar dos anos para que, mesmo os mais pobres, ascendessem e conseguissem viver uma boa vida, afinal, era essa a realidade que eu presenciava.

Na adolescência, fui entendendo melhor as coisas. Durante a primeira grande crise que vivenciei, naquele conturbado momento que o país passou entre 2014-2016, levei a primeira porrada da vida. Vi muito progresso indo por água abaixo. Mas como isso era possível? É claro que, aos 16-17 anos, sabia que o progresso não era uma constante e que dependia de incontáveis fatores, mas não estava preparado para o que aconteceria comigo. Tudo parecia tão sólido, meus pais trabalhavam desde sempre, nunca havia presenciado o desemprego ou a dificuldade financeira.

Não cheguei perto de ser rico, mas dentro do possível, tinha o que queria. As coisas mais caras levavam algum tempo, mas eram alcançadas. Às vezes, esperava o natal ou o meu próximo aniversário para ganhar um novo videogame ou a chegada do verão para as viagens anuais à praia — moro a mais de 500 km do litoral — e aproveitara muito até aquele momento. Foi um choque, aos 17 anos, entender que aquilo não era mais real. O desemprego chegou a minha porta e entrou sem bater. Meu pai, que em todo esse período teve a maior renda da casa, perdeu o emprego da noite para o dia, com a empresa fechando suas portas no Brasil. Minha mãe ganhava menos, e menos ainda no momento da crise, afinal, trabalhava — e trabalha até hoje — no comércio.

Nunca me esqueci da tristeza nos olhos dela quando me disse que não poderia pagar minha festa de formatura ao final daquele ano e me contou a real situação das finanças da família, da qual eu não tinha consciência naquele momento. Eu não sabia o que fazer. Não era assim que eu esperava que as coisas fossem. O que eu me lembrava dos tempos de infância era meu pai dizendo que, aos 18 anos, me daria um carro. Pensava qual carro seria. Eram muitas opções, que, ao fim, não foram.

A faculdade particular que cogitava e aquele desejo de fazer um intercâmbio no exterior foram totalmente excluídos de minha lista de planos. Na última semana do ensino médio, consegui um emprego, alguns dias depois, veio o resultado do vestibular. Passei. A educação ainda era vista por mim como o caminho. Foi isso que meus pais me disseram a vida toda: que eu poderia estudar, mais do que eles estudaram, e, assim, teria condições ainda melhores do que as que eles poderiam me oferecer mesmo nos melhores momentos. 

Mesmo numa realidade diferente, segui à risca o plano. Trabalhei das 8h às 18h, estudei das 19h às 22h. Chegava em casa, dormia e no outro dia bem cedo começava de novo. Guardava quase todo o dinheiro que ganhava, também sempre ouvi que economizar, junto com os estudos, era a melhor forma de ter um bom futuro, mas uma hora não aguentei. Aos 18 anos, era um zumbi. Da casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade, da faculdade para casa. De segunda à sexta. Aos sábados, trabalhava também. As coisas estavam melhores em casa, não havia mais o desemprego, mas estávamos muito longe da fartura de tempos anteriores. Com o dinheiro que ganhei, decidi sair do trabalho em busca de um estágio. Demorou um pouco, mas chegou quase que pontualmente: quando consegui a vaga, meu dinheiro já estava acabando.

“Talvez os tempos difíceis tenham sido só um hiato”, pensava. “Há um futuro melhor, há esperança de que novamente haja algum progresso, afinal, porque não seria assim?”. Vi o sucateamento da universidade, a falta de bolsas de pesquisa, a diminuição do quadro de professores sem as reposições necessárias, acúmulo de funções, improvisações, greves e mais greves por falta de reajustes salariais, de investimentos no espaço e na educação como um todo. Faltavam até mesmo os funcionários para a limpeza do campus. Mas ia melhorar, eu sabia que ia. O ano era 2018.

Passar por aquelas eleições não poderia ter sido mais frustrante. Descobri, nas pessoas, um lado que não conhecia. Apesar de a violência ser próxima, o ódio sempre foi-me distante. Não foi aquilo que eu imaginei que seria, definitivamente não foi. 

Vi, pouco a pouco, o que era ruim piorar; a ignorância, a estupidez, a violência eram pela primeira vez, um projeto. O único projeto. Dentro da universidade, de certa forma, senti medo do futuro pela primeira. Por que as pessoas estavam acreditando naquilo?

Foi pior do que eu esperava. O desmonte de tudo que havia sido construído foi gradual, as soluções foram substituídas pela destruição. A lógica do momento era que, em uma parede com uma pequena rachadura — cuja solução eu sempre enxergara como o conserto —, eles viam a saída como a demolição não só da parede, mas da casa toda. Era aquela expressão: estavam jogando o bebê fora junto com a água do banho. A pandemia da Covid-19 configurou-se, então, como a confirmação de toda a incompetência, despreparo, prepotência e, o pior, da pura e simples maldade dos que sentam nas cadeiras do poder, que lá foram postos democraticamente.

Ainda dá para superar? Hoje, ler a notícia de que a OCDE considera que o padrão de vida do Brasil deve ficar estagnado nos próximos 40 anos, foi como um soco no estômago. Por que fizeram isso conosco?Não foi esse mundo que me prometeram dez anos atrás. Não era isso que eu queria. Por que fizeram isso conosco? O que podemos fazer para superar esse ciclo de desgraças, que se instaurou no país que haviam nos prometido tanto?

Nas últimas décadas, acreditou-se que a democracia havia se consolidado no país e a via institucional era vista como o caminho possível para a resolução de nossos conflitos que se perpetuam na história. Porém o que levara décadas para ser construído, em apenas alguns anos, foi corroído a níveis mais do que preocupantes. A política está infantilizada e o desrespeito às leis, aos Direitos Humanos e aos preceitos básicos da construção de uma nação próspera foram deixados de lado. Hoje, os ‘poderosos’ orgulham-se de ter nos tornado párias e, na oposição, os projetos de poder pessoal são postos acima da principal necessidade do país: tirar a caquistocracia que tomou conta do poder público dos postos que ocupam. É difícil a falta de perspectiva no coletivo.

Padrão de vida no Brasil deve ficar estagnado nos próximos 40 anos, diz OCDE É equivalente a 23% do observado nos EUA hoje e deve subir para apenas 27% em 2060 Compartilhe O PIB (Produto Interno Bruto) potencial per capita do Brasil deve ser de 1,1% ao ano na década de 2020 a 2030 e passar para 1,4% de 2030 a 2060 Sérgio Lima/Poder360 - 19.set.2019 PODER360 20.out.2021 (quarta-feira) - 0h00 O padrão de vida dos brasileiros deve ficar praticamente estagnado pelos próximos 40 anos, segundo projeção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgada nesta 3ª feira ...

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/economia/padrao-de-vida-no-brasil-deve-ficar-estagnado-nos-proximos-40-anos-diz-ocde/)
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domingo, 20 de dezembro de 2020

A parábola do crescimento brasileiro: do sucesso (dos anos 40 aos 80) à estagnação (dos 80 a 2020): um declínio secular? - Ricardo Bergamini, Gustavo Patu (FSP)

 Depois de alguns anos de retomada do crescimento – no início dos anos 2000, e ainda assim com, demanda puxada pela China – o Brasil volta a decepcionar: 

De 2011 até 2019, sem pandemia, o Brasil cresceu 6,78% no período, ou seja 0,75% ao ano. 

Em 2020, com pandemia, há uma previsão de queda de 4,40%. Com isso a década fechará com um crescimento de 2,38%, ou seja: 0,24% ao ano. E o mundo uma média de 3,0% ao ano.

Ricardo Bergamini

www.ricardobergamini.com.br



Brasil cresce apenas 2,2% na década, enquanto mundo avança 30,5%

​​

Gustavo Patu na Folha de S.Paulo 20 dezembro, 2020


 

Em poucos dias o Brasil completará 40 anos em que sua economia cresce abaixo do ritmo mundial. No período, nunca essa disparidade foi tão grande quanto nesta década prestes a acabar.

 

De 2011 a 2020, o país empobreceu em termos absolutos e relativos. Seu PIB (Produto Interno Bruto) terá crescido não mais de 2,2%, se considerada uma projeção de queda de 4,5% neste ano — em razão do impacto da Covid-19 — feita pelo Ministério da Economia.

 

No mesmo período, segundo cálculos do FMI (Fundo Monetário Internacional), o PIB global terá crescido 30,5%, mesmo com recuo semelhante ao brasileiro neste 2020.

 

A taxa de 2,2% numa década, que seria fraca até como um resultado anual, é bem inferior à do crescimento da população brasileira ao longo desses dez anos, estimada pelo IBGE em 8,7%. Em outras palavras, a renda média nacional por habitante encolheu.

 

Para além da estatística, a cifra se traduz em óbvia perda de bem-estar da população, mensurável em índices como os de desemprego e pobreza.



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A estagnação estrutural da economia brasileira - Roberto Macedo

Não acredito numa retomada do crescimento econômico brasileiro em bases sustentáveis, pelo menos não antes de profundas reformas estruturais, não apenas tributária.
Não pretendo formular o famoso "projeto nacional", nem haveria acordo para fazer um. 
Proponho algo mais modesto: tomar três relatórios objetivos sobre as características das economias nacionais, e aplicar de cada um deles todas as medidas que cabem fazer no Brasil para que tenhamos: 
1) um bom ambiente de negócios: Relatório Doing Business do Banco Mundial
2) uma retomada dos ganhos de produtividade: World Competitiveness Report, do WEF
3) amplas liberdades econômicas: Economic Freedom of the World, da Heritage Foundation e Freedom House
Acredito que a aplicação sistemática das recomendações desses três relatórios combinados, independentemente de entrar ou não na OCDE, melhoraria barbaramente as condições econômicas no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

PIB – 2010-2019, a pior de 12 décadas
Nosso produto interno bruto está em depressão há 5 anos e em estagnação há 40
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 16 de janeiro de 2020

Volto a esse tema, abordado também em entrevista para a jornalista Márcia De Chiara publicada na última segunda-feira neste jornal (Década passada foi a pior para PIB do país, pág. B3) e que se estendeu na web (estadão.com.br/e/pior_decada). Os dados básicos para obter 12 taxas decenais de variação do produto interno bruto (PIB) estão em www.ipeadata.gov.br, onde há a série “Produto interno bruto (PIB) a preços de mercado: variação real anual ... de 1901 até 2018”, em %.

Com essas taxas, cheguei a taxas médias anuais de crescimento do PIB em cada década, sendo que para a primeira foram usados dados de 1901 a 1909, e para 2019 a previsão de 1,17% do Boletim Focus, do Banco Central, de 3/1/2020.
Um gráfico mostrou essas taxas em dois movimentos. O primeiro, de forte tendência de aumento, vai da primeira década, com taxa média de 4,6%, até a de 1970, quando chegou a 8,8%, a maior de todo o período. No segundo, a taxa cai fortemente para 3% na década de 1980, e fica perto ou até bem abaixo desta nas décadas de 1990 (1,8%), 2000 (3,4%) e 2010 (1,4%), esta a menor das 12 décadas desde a de 1900!
É de estagnação esse período de 1980 a 2010. Meu dicionário diz tratar-se de “situação em que o produto nacional não cresce à altura do potencial econômico do país”. É claramente o caso do Brasil. Seriamente desarrumado, poderia crescer bem mais, mas está aí, estagnado, a ponto de ser disseminada a satisfação com a perspectiva de uma taxa perto de 2,5% em 2020 e daí para a frente. É muito pouco! O economista Manoel Pires, do Ibre/FGV, disse que o País vive fase de “expectativas rebaixadas”.
Internacionalmente, também está por baixo. No portal do Fundo Monetário Internacional encontrei comparação das taxas de crescimento do Brasil nessas quatro décadas e a média geral decenal das mostradas por 155 economias emergentes ou em desenvolvimento, que foram de 3,20 (1980), 3,63 (1990), 6,10 (2000) e 5,11 (2010), sempre superiores às do Brasil, já citadas, e muito superiores nas duas últimas décadas.
Márcia De Chiara foi muito feliz ao tratar também a questão social, da qual falei sobre questões como o desemprego e a dificuldade de ascensão social com a queda do crescimento econômico. Mas foi além. Levantou-se bem cedo e foi até uma paróquia que dá a primeira refeição do dia a moradores de rua, cujo número vem aumentando bastante, e entrevistou dois deles, que relataram suas enormes dificuldades.
Ascensão social é conceito mais operacional que o da desigualdade social, esta de solução muito mais difícil. Se houver crescimento bem mais acelerado, virão mais e melhores oportunidades de trabalho e as pessoas de renda mais baixa também terão condições de seguir em frente e melhorar de vida, até mesmo ascendendo socialmente, sem ficarem paradas a observar e invejar minorias que conseguem manter seu status social mais alto.
Quanto ao que fazer para crescer bem mais, além de reformas como as pregadas por Paulo Guedes, e de outras que deveriam ser efetivadas, como as do Legislativo e do Judiciário, um grande esforço deveria voltar-se, com senso de urgência, para desenvolver e aplicar um plano estratégico de desenvolvimento para o Brasil. Um plano desse tipo deve incluir objetivos, metas, o que deve ser feito para alcançá-los e como será gerenciado, implementado e cobrado de seus executores.
Os temas iriam bem além daqueles hoje mais discutidos no Brasil. Uma questão crucial será o aumento da capacidade produtiva do País, mediante investimentos públicos e privados, o que também geraria renda para fatores de produção, como capital e trabalho, renda essa que, assim, também sustentaria o crescimento pelo lado da demanda. E entrariam outros temas típicos de um processo de desenvolvimento sustentável, como as inovações, o aumento da produtividade e da competitividade interna e externa, a educação com foco em competências, a ampliação do comércio exterior, a defesa do meio ambiente, o enfrentamento de desigualdades sociais e o papel das instituições nesse processo. Instituições em sentido lato, o das regras do jogo que precisam favorecer os investimentos e o crescimento.
Hoje o debate econômico está por demais focado na análise macroeconômica, que trata de políticas de curto e médio prazos, como a fiscal e a monetária, mais voltadas para movimentos cíclicos da economia. Cabe uma visão também focada no crescimento de prazo mais logo e sustentável, que nos cursos bem estruturados de Economia não cabe à disciplina Macroeconomia, mas à de Desenvolvimento Econômico. A literatura também é diferente. Caberiam livros como o de Daron Acemoglu e James Robinson Por que as nações fracassam e o de David Landes A Riqueza e a Pobreza das Nações – Por que algumas são tão ricas e outras tão pobres.
Não tenho pretensão de ter uma receita cobrindo todos os aspectos envolvidos, o que exigiria uma ampla equipe, e não só de economistas, mas de cientistas das várias áreas envolvidas, e de praticantes como funcionários governamentais, empresários, profissionais liberais e outros, com toda a argumentação sustentada por evidências científicas.
Dadas as “expectativas rebaixadas”, seria o caso de contar também com psicólogos para atuarem na recuperação da autoestima do Brasil e dos brasileiros, concitando todos a assumirem o compromisso de melhorar e atuar nessa direção, com atenção especial aos governantes. Quanto a estes e a grande parte da classe política, cabe pregar-lhes a fundamental importância de eticamente lutarem pelo bem comum, e não por atenderem à ampla privilegiatura que atua em sentido contrário.
Num país que teve forte recessão de dois anos, embutida numa depressão já com cinco e passando por estagnação de 40, há muito, muito o que fazer.

É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR, E PROFESSOR SÊNIOR DA USP


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Delfim Neto: situação econômica do Brasil, pior do que se pensa

Recebido de meu amigo Roque Callage: 
Quando Delfim, que é sempre eufórico, está vendo uma situação muito ruim, é porque é é ruim mesmo. O futuro é muito ruim. Ele projeta que terá que ser feito ajuste de 5% do PIB e não vê nenhum estadista com capacidade de governar o País e devolver estabilidade à economia, incluindo equilibrio das instituições.Tem um nome que não se apresentou e que ele não quer dizer. 
Roque Callage

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O ex-ministro Antônio Delfim Netto está pessimista com o Brasil

O economista vê apenas um nome para a Presidência capaz de articular um novo pacto com o Congresso e o STF para recuperar o protagonismo do Executivo
Por Felipe Saturnino e Gerson Freitas Jr., da Bloomberg
Publicado em 7 julho 2018 

O problema fiscal, diz, é pior do que parece, deve ser carregado por um longo período e vai levar a uma escalada da dívida pública enquanto o Congresso, movido por interesses próprios, continua a aprovar medidas que agravam o rombo.
O país vive uma situação social “dramática”, com 13 milhões de desempregados, e carece de alternativas políticas capazes de orquestrar uma solução e recuperar o protagonismo perdido pelo Executivo.
“Nós devíamos estar dizendo para a sociedade que a situação é dramática”, afirma Delfim. “A solução para isso vai exigir sacrifícios de todos”.
Um cálculo “grosseiro”, diz ele, indica necessidade de um ajuste da ordem de 5% do PIB apenas para estabilizar a dívida nos níveis atuais.
Mesmo diante desse quadro, o Brasil ainda não tem, segundo ele, um candidato a presidente com a vontade e o poder político necessários para implementar as medidas necessárias para recuperar as contas públicas, a começar por uma reforma da Previdência.
Delfim destaca ainda como essencial que o próximo mandatário tenha a capacidade de articular um novo pacto com o Congresso e o Supremo, a fim de recuperar o protagonismo do Executivo. “É preciso alguém com musculatura,” afirma Delfim.
Novo impeachment?
O economista de 90 anos vê apenas um nome capaz de cumprir esse papel, nome este que ele prefere manter sob sigilo, mas que não figura entre os atuais pré-candidatos à presidência.
Ele vê ainda o risco de que as forças políticas de centro apenas tomam a decisão de se unir em torno de um único nome “quando for tarde demais”.
Delfim afirma que os empresários também estão pessimistas diante do atual cenário. “A cabeça deles está em pânico, porque não veem nenhum futuro”, diz. Antes dos primeiros 100 dias do próximo governo, “ninguém vai pensar em investimento no Brasil”.
“O próximo presidente tem de entrar com um programa realmente correto ou, então, pagar as consequências”, diz. Quais seriam as consequências? O país não crescer mais, deteriorando ainda mais o ambiente político e levando o próximo presidente a sofrer um impeachment.
PIB e juros
Delfim cortou sua projeção de crescimento neste ano de 2,5% para até 1,2%, refletindo a piora generalizada na confiança dos investidores após a greve dos caminhoneiros que paralisou o país em maio.
Ele elogiou, contudo, a articulação entre Banco Central e Tesouro para conter a escalada do dólar, suavizando a volatilidade do câmbio e os movimentos dos juros futuros, diante da piora do ambiente externo. Saiba mais: O dólar pode chegar a R$ 5? Confira a publicação da Empiricus e descubra as perspectivas
“É a primeira vez que você tem uma ação de profissionais”, diz. “O BC está se comportando bem, não caiu na conversa mole do mercado de subir os juros. Ele está no regime de metas inflacionárias, na qual a variável básica é a inflação”, conclui.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A era de "depressao" permanente, ou da Grande Estagnacao? - Robert Romano

Será?
Vamos ver...
Paulo Roberto de Almeida

Is the era of economic growth ending?
By Robert Romano
Americans for Limited Government, February 9, 2016

The economy of Japan has not grown nominally in 20 years, according to data published by the Statistics Bureau of Japan.

Nor has its population aged 15 to 64 —those in the prime working years of their lives — which has declined from 86.9 million in 1995 to 76.7 million today.

Inflation has barely budged, too, averaging just 1.1 percent a year the past 20 years, even with a torrent of monetary expansion by the Bank of Japan.

Interest rates have also declined on a long-term basis, from an average of 3.4 percent in 1995 to just 0.04 percent today. Those may even go negative in the near future, chief bond strategist at Tokai Tokyo Securities Co., Kazuhiko Sano, predicts. Sano accurately called the rate dropping below 0.5 percent, 0.25 percent and 0.1 percent.

Just imagine that. For the privilege of lending money to the Japanese government, it costs banks and investors money. The only way it might pay to buy the bonds is in an outright deflationary environment, prices declined even faster than the interest rates. But even then, keeping cash would seem to be a better deal.

It all coincides with the Bank of Japan charging banks for excess reserves with a negative interest rate.

Is the Bank of Japan forecasting deflation in Japan? Certainly wouldn't be the first time.

But in a broader context, do the rapidly falling interest rates project a no-growth, or slow-growth environment?

Certainly something to question over here in the U.S., where the economy has not grown above 4 percent since 2000, and not above 3 percent since 2005, according to the Bureau of Economic Analysis. As for 2015, it came in at a tepid 2.4 percent growth.

The average annual growth from 2006 to 2015 was 1.41 percent, the worst decade since the Great Depression.

U.S. 10-year treasuries stand at just 1.75 percent.

The consumer price index only increased 0.7 percent in 2015.

The working age population in the U.S. has certainly been slowing, and will be growing at an even slower pace for the next few decades.

The labor force participation rate for 16- to 64-year-olds has not been faring much better, according to data compiled by the Bureau of Labor Statistics. It peaked in 1997 at 77.37 percent and has dropped to 72.61 percent in 2015, accounting for 9.7 million people who otherwise might have been in the labor force since then but are not.

Note that excludes those of retirement age, correcting for drops in labor participation associated with Baby Boomers retiring. Yes, that has reduced the participation rate some, but so has the working age population exodus from the work force too.

What emerges is a spiral of slower growth, less asset price appreciation, lower interest rates and fewer jobs.

What's to like?

But worse still, could this point to a longer trend where the global economy itself is slowing down until, one day, it stops growing all together?

Is the era of growth ending? Never mind the degrowth movement.

Perhaps Japan and Europe, too, which is in a similar stagnation, are just windows into the future.

What is most alarming, however, may be the declines the U.S. is seeing in labor participation. Slower growth might be seen as a benign indicator if it still proportionately produced the same number of jobs.

But it is not, with the 16- to 64-year-old labor participation rate dropping to levels not seen since 1981 when women were still entering the work force. Slower growth has been toxic.

All this, after the U.S. has invested hundreds of billions of dollars in college educations with students with tens of thousands of dollars of debt predicated on the idea that there would be enough jobs for everyone. Well, there aren't, every year it keeps getting worse and we need to start asking ourselves why.

Robert Romano is the senior editor of Americans for Limited Government.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Economia brasileira: estagflacao ou inflessao?

Acho que o correto é inflessão, pois a volta da inflação veio antes da estagnação, que agora chega sob a forma de recessão (dois trimestres seguidos de queda do produto).
Seja como for, essa é mais uma herança maldita dos companheiros. 
Paulo Roberto de Almeida 
14 Jul 2014 05:31
Segundo o relatório semanal Focus de hoje, segunda-feira, a expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto também caiu, de 1,07% para 1,05% Economistas de instituições financeiras elevaram a expectativa para a inflação este ano para 6,48%, ante 6,46% esperados na semana passada, mostra relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

O Brasil a caminho de um longo periodo de estagnacao - Claudio Frischtak

Aliás, não está a caminho, já está no processo, e não deve sair antes de algum tempo, pois governos irresponsáveis só empreendem reformas em situações de crise, que certamente vai vir, mas não de forma imediata.
Outros países estagnaram durante décadas, como a Inglaterra pré-Thatcher, por exemplo, ou Argentina, que ainda está em estagnação e em decadência profunda, há pelo menos 80 anos...
Paulo Roberto de Almeida

SEM REFORMAS, UM LONGO PERÍODO DE ESTAGNAÇÃO!
Cláudio Frischtak*
Folha de S.Paulo, 07/12/2013

Neste ano a participação da indústria de transformação no PIB deverá mais uma vez declinar e, pela primeira vez desde a década de 1950, se situar abaixo de 13% --neste último trimestre estava pouco acima desse patamar. Esse movimento segue um padrão observado em outros países.  Porém, no caso do Brasil, algo está fora do lugar. De modo mais geral, ao relacionar a relevância da indústria de transformação com a renda per capita, o país é um ponto "fora da curva", ou seja, para um país de renda média a indústria deveria ocupar um espaço significativamente maior. 
            A explicação se resume numa palavra: competitividade. Esta vem sendo subtraída por custos sistêmicos elevados --o exemplo da infraestrutura vem imediatamente à tona; taxa de investimento em capital físico e intelectual insuficiente e baixa produtividade e elevados custos unitários do trabalho.  Esses fatores limitam a capacidade de a indústria competir e restringem seu crescimento. A produtividade é a chave e, no longo prazo. E, nesse sentido, a nossa fragilidade é evidente. Não apenas a produtividade fatorial total avança pouco e assim contribui marginalmente para o crescimento da economia (menos do que 1% ao ano nas duas últimas décadas) como, na indústria de transformação, a produtividade medida pelo valor agregado por pessoa ocupada ficou praticamente estagnada entre 1995 e 2010.
           Essa situação corrosiva se tornou recentemente ainda mais adversa: desde o último trimestre de 2010, não apenas o custo de trabalho vem subindo como a produtividade faz o caminho inverso --o que possivelmente explica a perda acelerada de tecido industrial em 2011-12.  Não à toa, somente 7% das empresas em sondagem recente da CNI se declararam mais produtivas do que seus pares internacionais.  O país necessita encarar um fato singelo: ficamos para trás em relação aos nossos competidores e, a menos de um programa sério e crível de reformas, a indústria estará fadada a um longo período de estagnação.

* Doutor em economia pela Universidade Stanford e presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios