Sobre nosso cenário de estagnação quase insuperável
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
A responsabilidade maior pelo cenário de semi-destruição autoinfligida no e ao Brasil, desde a democratização pós-ditadura, cabe quase inteiramente à deterioração intelectual do estamento político, convertido numa quadrilha de sanguessugas predatórios, sem projetos para o país, apenas em proveito próprio, do seu enriquecimento pessoal.
Mas muitos dos retrocessos foram construídos ao longo das duas décadas de ditadura militar, um período de progressos materiais, mas de perda de qualidade do material humano com que são feitos países dotados de certa racionalidade na definição de suas prioridades nacionais.
O Brasil dos militares — mas continuou da mesma forma sob a Nova República — se fez com total prioridade para as corporações e para os já ricos, no total desprezo por uma educação de massas de qualidade, o único requisito para diminuir a pobreza e aumentar a produtividade do capital humano.
Atenção: a despeito de o Brasil ser um país profundamente iníquo, nos níveis excessivamente altos de desigualdade estrutural, seu maior problema não é a desigualdade, a despeito de ela ser praticamente inaceitável. Sua prioridade está em eliminar a miséria e reduzir tremendamente a pobreza, sobretudo via educação, mercados, emprego, renda própria, não assistencialismo demagógico dos mesmos políticos que nos trouxeram ao horrível quadro de mediocridade atual.
Tentei ser sintético, evitando entrar em considerações mais amplas sobre as razões de nossa estagnação de 4 décadas, que possui fatores macro, micro, mas sobretudo de governança inepta, o que não deixa de ser um reflexo da deseducação do povinho miúdo, o popolo minuto, em oposição ao popolo grasso, de que falavam os italianos do Renascimento (leiam as Istorie Fiorentine, de Francesco Gucciardini e do próprio Maquiavel; pouco mudou desde então).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4005, 1 novembro 2021, 2 p.
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