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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Stefan Zweig: cerimônia de entrega póstuma de condecoração Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul - Paulo Roberto de Almeida

3208. “Stefan Zweig: cerimônia de entrega de condecoração”, Brasília, 12 dezembro 2017, 2 p. Texto oferecido como proposta de discurso do Sr. Ministro de Estado, em cerimônia de condecoração póstuma, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, ao grande escritor austríaco, entregue à embaixadora da Áustria no Brasil, em 18/12/2017, para ser entregue à Casa Stefan Zweig, de Petrópolis.


 


Stefan Zweig: cerimônia de entrega de condecoração

 

IPRI-Funag: proposta de discurso do Sr. Ministro de Estado

[Objetivo: pronunciamento em cerimônia; finalidade: atribuição de comenda]

 

[Palavras protocolares de abertura (cerimonial),]

 

O motivo desta cerimônia de atribuição da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Grã-Cruz, em homenagem a um dos maiores escritores austríacos de todos os tempos, Stefan Zweig, possui um significado especial para o Brasil, como país singularizado em sua vasta produção literária e intelectual, mas também para este ministério, que o acolheu com todas as honras, quando de sua primeira viagem ao país, em 1936. Naquela ocasião, Stefan Zweig foi homenageado com um banquete oferecido pelo chanceler José Carlos de Macedo Soares, a quem Stefan Zweig retribuiu com a entrega dos originais, em alemão, de sua famosa conferência, feita depois em francês, sobre “A Unidade Espiritual do Mundo”. Esse texto, traduzido em cinco línguas e objeto de nova publicação por iniciativa da Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, e da editora Memória Brasil, sob a direção de Israel Beloch, esteve no centro da homenagem que prestamos novamente ao escritor, neste ano, em cerimônia no Instituto Rio Branco, com a presença do ex-chanceler Celso Lafer, que assinou uma bela introdução ao livro.

Ao reverenciarmos, novamente hoje, a sua memória e sua obra excepcional, não podemos deixar de mencionar que o nome de Stefan Zweig está para sempre ligado à imagem otimista que ele traçou de nosso país. Em seu trabalho sobre o Brasil como país do futuro, um dos seus últimos escritos no exílio, antes que ele assinasse suas memórias sobre “O Mundo de Ontem”, Zweig destacou especialmente uma das características que distinguem ainda hoje nosso país em face da diversas nações deste hemisfério e mesmo do mundo: a capacidade da nação em operar uma feliz mistura de raças, a fusão das mais diversas tradições culturais, nossa tolerância religiosa, o sincretismo harmonioso de tantas contribuições étnicas e sociais, o que constitui, justamente, uma realidade que combina com o título da sua conferência de 1936: uma “unidade espiritual”. 

Naquela conjuntura sombria, a Europa caminhava para a guerra, já antecipada na guerra civil espanhola que recém começava, para precipitar-se, pouco mais adiante, nos horrores do holocausto racial, ambos promovidos pelo bárbaro regime nazista, que também engolfou o seu país de origem, e que foi um dos motivos de seu primeiro exílio, na Inglaterra. Naquele momento, ele já tinha publicado a sua biografia de Erasmo, o símbolo da tolerância e do humanismo, nome que hoje batiza um dos mais famosos e apreciados programas europeus de integração educacional. Pouco depois, Stefan Zweig soube ver no Brasil as marcas da diversidade e da tolerância, características que ainda hoje distinguem o nosso povo e a nossa sociedade. Já famoso em todo o mundo, como grande autor de novelas e peças de teatro, Zweig se tornou imediatamente popular no Brasil, onde continua sendo lido e devidamente homenageado, notadamente por meio das muitas exposições e iniciativas culturais da Casa Stefan Zweig de Petrópolis. 

Ao fazer a entrega, hoje, das insígnias e do diploma da Ordem do Cruzeiro do Sul à embaixadora da Áustria, Irene Giner-Reichl, este ministério e o governo brasileiro desejam reafirmar toda a nossa admiração pelo escritor que reafirmou a posição impar do Brasil no mundo, justamente pela imagem que ele soube consolidar de um país multirracial, como nos orgulhamos de ser, uma nação diversa, multicolorida, mas unida espiritualmente, tolerante com todas as raças e credos, uma sociedade, finalmente, imune a comportamentos xenófobos e exclusivistas. 

A Europa, como aliás recomendou a Economist em editorial de um ano atrás, deveria ler, ou reler, Stefan Zweig, sobretudo em sua mensagem em favor de uma Europa tolerante, infensa aos temores raciais, novamente unida espiritualmente em torno da ideia do congraçamento universal dos povos. Esta é mensagem que Stefan Zweig nos legou, e com a qual nós nos sentimos, mais do que nunca, profundamente identificados. Receba, senhora embaixadora, os símbolos de nossa contínua admiração pelo grande austríaco que, enterrado em nosso solo, continua reverenciado como um dos grandes amigos do Brasil, um traço de união entre nossos dois países. 


Brasília, 12 de dezembro de 2017.

 

 

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