Mini-reflexão sobre nossa acomodação às misérias do cotidiano
Paulo Roberto de Almeida
Nosso sofrimento ainda não terminou: politicos oportunistas ainda veem em Bolsonaro uma chance de continuarem se locupletando. Estamos indo diretamente a uma longa estagflação.
Também surpreende a resiliência do psicopata perverso, o que depende de eleitores e do Grande Capital.
A adesão ainda significativa de tantos brasileiros a um mentiroso, a um crápula, a essa escória de gente, a esse genocida confirmado, é um desafio a todos os cientistas políticos; o fenômeno tem mais a ver com traços psicológicos desse povo que ainda idolatra o verme mesmo tendo todas as evidências de que ele está afundando o Brasil e piorando a vida de todos e cada um. Difícil explicar isso.
Políticos e Grande Capital (não todo ele) ainda se entende, pois esperam continuar lucrando em cima do parvo, ainda assim é triste constatar que esses poderosos não têm a mínima consideração pelo futuro da nação e pela situação pré-falimentar da economia do país.
O que leva um povo a estrangular assim suas chances de prosperidade e de bem-estar, ou melhor, como explicar a decisão dos mais privilegiados de continuar a desprezar de maneira tão vil o destino de milhões de brasileiros pobres?
Não sabemos exatamente, mas a América Latina não é exatamente um exemplo de postura racional de aderência a um projeto de desenvolvimento inclusivo e socialmente responsável: sempre fomos desiguais e tolerantes com a opressão, a miséria e a desigualdade.
Entendo que os principais fatores dessa condição — criada internamente, não imposta de fora — sejam a não educação da massa da população, a corrupção política e a arrogância soberba, mesquinha e egoista das elites dominantes e dirigentes, cujo arbítrio e poder não encontram limites.
Em outros termos, uma mudança estrutural e sustentada não é provável no curto prazo. Se considerarmos que mais da metade da humanidade ainda vive em condições precárias de equilíbrio econômico e de bem-estar social, submetida a regimes corruptos e pouco democráticos, podemos concluir que o Brasil vive nessa média medíocre de metade da humanidade.
Em conclusão: não temos capacidade de sermos melhores do que o nosso meio, ou de superar rapidamente o legado de atraso e de ignorância que recebemos de nossos antepassados nos últimos 200 ou 500 anos de formação da nação (sacrificando, diga-se de passagem, os povos originários).
Espero ter interpretado razoavelmente bem, e de maneira objetiva, as razões de nossa condição deplorável. Privilegiado como sou, agora, constrange-me ainda assim ver tantos brasileiros, milhões deles, entregues a uma situação de abandono, parte responsabilidade pessoal, mas a maior parte devido à incúria das elites do poder. Ineptos e desprezíveis, é tudo o que me resta dizer.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4/11/2021