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terça-feira, 10 de junho de 2014

Prostituicao e drogas no PIB; por que nao roubos e corrupcao?

Estou brincando, claro, mas sendo rigoroso com a metodologia econômica, as únicas atividades que realmente agregam valor (ou, sendo cínico, ao bem-estar dos usuários) são as drogas e a prostituição (e como), pois esta, até mais do que a primeira, é um serviço efetivamente prestado -- como o de faxineira, arrumadeira, copeira, enfim, essas coisas de cama e mesa --,tanto é que os companheiros já registraram a profissão no Guia do MTb. Enfim, tem aqueles que preferem prazeres solitários, no onanismo, por exemplo, mas o sexo sempre é um intercâmbio, em alguns casos, comercial. Quantos por cento de todos os intercâmbios? Confesso que não sei, mas a julgar pelas aparências, em alguns países chega a ser alto; que tal 5% do PIB?
Todas as demais - roubos, homicidios, corrupção - constituem redistribuição de renda já apropriada e pouco valor acrescentam à economia, que ainda perde recursos como todo o aparato repressivo (em certo países não tanto para a corrupção). Os bandidos, obviamente, possuem uma outra percepção de suas atividades: eles acham que dão emprego a advogados, policiais e magistrados (gasto inútil, ainda assim, pois entra na teoria da janela quebrada do Bastiat).
Paulo Roberto de Almeida 

Itália e Grã-Bretanha vão incluir drogas e prostituição no PIB
The Wall Street Journal, 10/06/2014

Novos métodos para avaliar a economia de um país às vezes geram críticas. Ainda mais quando envolvem prostitutas e muita cocaína.
Reino Unido, Irlanda e Itália estão entre os países que se preparam para incluir práticas ilícitas nos cálculos do seu produto interno bruto, a medida mais ampla de bens e serviços de uma economia.
O Reino Unido pode acrescentar até US$ 9 bilhões ao seu PIB ao incluir os negócios com prostituição e outros US$ 7,4 bilhões com drogas ilegais, o que, segundo uma estimativa, seria o suficiente para dar um impulso de 0,7% ao tamanho da sua economia. Além de drogas e prostituição, a Itália também vai incluir o contrabando. As mudanças entrarão em vigor no fim deste ano.
Outros países da Europa também estão prontos para atender ao pedido da União Europeia para padronizar e ampliar o cálculo de seu PIB. A UE está seguindo as diretrizes de "melhores práticas" estabelecidas em 2008 pela Organização das Nações Unidas.
Alguns economistas questionam seus méritos — e métodos — de mensurar esses mercados obscuros. Os criminosos não medem esforços para encobrir transações normalmente feitas em dinheiro e difíceis de serem rastreadas. Como é complicado para as autoridades fiscais identificar essas atividades, elas acabam não gerando nenhuma receita para ajudar os países a pagar suas dívidas. Tudo isso torna mais difícil medi-las.
Claus Vistesen, economista-chefe da consultoria Pantheon Macroeconomics para a zona do euro, diz que existe um "dilema entre incluir o máximo de informação que você puder e a precisão". Segundo ele, levar em conta os segmentos à margem da economia pode tornar o cálculo do PIB "menos preciso".
O argumento a favor é bem simples. Se as vendas de drogas não são contabilizadas em um lugar onde as pessoas gastam metade de sua renda com drogas, pode-se concluir erroneamente que a população economiza metade do que ganha.
A ONU é contundente na exaltação da necessidade de se expandir a definição do PIB. "As contas, como um todo, são passíveis de serem seriamente distorcidas" se os governos não tabularem todas as transações, afirma trecho de sua diretriz de 2008.
As mudanças gerais resultantes de adicionar as atividades ilícitas podem se mostrar pequenas, porque isso seria apenas um componente a mais nas revisões estatísticas que estão sendo realizadas na Europa. O Reino Unido, por exemplo, alterou a forma de medir as organizações sem fins lucrativos, uma mudança que vai impulsionar seu PIB mais que as drogas e a prostituição. O governo britânico também alterou os cálculos da formação de capital e estoques, o que vai reduzir o PIB.
Alguns países europeus têm incentivos adicionais para inflar o tamanho de suas economias. Além da oportunidade de se gabar, um PIB maior ajuda a manter a dívida e os déficits dos países dentro das metas definidas pela UE.
Se o déficit do país deve permanecer abaixo de 3% do PIB, um governo que gasta demais vai buscar a maior estimativa de PIB possível.
Para outros, um PIB maior pode elevar os custos do governo. O bloco de 28 países usa as medidas do PIB para determinar quanto cada país deve contribuir para o orçamento coletivo da UE.
Na Europa, Finlândia e Suécia, países que dificilmente podem ser caracterizados por vastos setores da economia considerados ilegais, terão os maiores ganhos. As principais mudanças resultam não das drogas, mas de ajustes técnicos, como capitalizar os gastos em pesquisa e desenvolvimento e como calcular programas de aposentadoria e a maior parte das apólices de seguro.
A Agência de Análise Econômica, que calcula o PIB americano, "não tem planos no momento para incluir gastos em atividades ilícitas", segundo a porta-voz Jeannine Aversa. O PIB dos Estados Unidos cresceria cerca de 3% se todas as mudanças feitas na Europa fossem adotadas, de acordo com estimativas da Eurostat.
A metodologia própria do governo britânico revela como o cálculo de atividades que passam longe das caixas registradoras e dos contadores pode ser impreciso.
A Agência Nacional de Estatísticas do Reino Unido informa que vai estimar o consumo de seis drogas: cocaína em pedra (crack), cocaína em pó, heroína, maconha, ecstasy e anfetaminas. Autoridades irão primeiramente calcular o número de usuários de drogas com base em pesquisas sobre crime e então multiplicá-lo por uma estimativa média do volume de drogas consumidas por usuário.
Aí, uma série de estimativas será usada nesse cálculo. Para evitar, por exemplo, distorcer as estatísticas de importação, o percentual de maconha plantada domesticamente deve ser estimado. Uma suposição será feita para o volume de sementes e para a energia elétrica usada na produção.
Para as prostitutas, os estatísticos começarão com um cálculo de prostitutas de rua feito pela Polícia Metropolitana de Londres e uma estimativa de prostitutas que não ficam nas ruas feitas por um grupo não governamental que estuda violência contra mulheres e meninas. O cálculo suporá que o número de prostitutas deve aumentar ou diminuir em sintonia com a população masculina. O custo estimado dos serviços de prostituição flutuará em linha com os preços cobrados em clubes de striptease e por agências de acompanhantes, "as atividades mais próximas que temos da prostituição" que já são medidas, segundo os estatísticos.
Thomas Costerg, economista do banco britânico Standard Chartered, diz que os governos não estão procurando expandir a definição do PIB, mas "apenas falsificar os números".
O problema, segundo ele, "é que você pode ficar muito teórico e pode haver alguns efeitos colaterais, incluindo o crescimento do ceticismo da população em geral em relação às estatísticas".
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