o que andou errado, o que se
deveria corrigir? (2)
Paulo Roberto de
Almeida
Professor,
diplomata, autor do livro:
Nunca Antes na
Diplomacia...
(Appris, 2014)
A diplomacia partidária do lulo-petismo
Os companheiros começaram por se
enrolar na bandeira da autonomia nacional, praticando uma retórica
grandiloquente, dessas pelas quais se proclama, a altos brados, que se está
defendendo a soberania nacional, lutando contra uma fantasmagórica dominação
estrangeira, contra a submissão ao FMI, aos especuladores de Wall Street, aos
neoliberais de Washington e tantas outras bobagens do gênero. Quem se enrola na
bandeira da soberania, para enfrentar moinhos imaginários, é porque tem um
sério problema psicológico, e não tem, no fundo, muita certeza de estar de fato
defendendo, de fato, o interesse nacional. O mais provável é que continue em
campanha eleitoral e fica escondendo sua falta de imaginação com invectivas
contra supostos inimigos da pátria, o que é, na verdade, uma insegurança
tremenda sobre o que fazer, de fato, para defender os interesses nacionais.
Vamos ser diretos: a defensa dos
interesses nacionais se faz com uma avaliação isenta, tecnicamente
fundamentada, economicamente embasada, da agenda que cabe implementar na frente
externa, sem arroubos, sem retórica vazia, sem grandes golpes de propaganda
enganosa. Nos últimos dez ou doze anos, os companheiros no poder fizeram
exatamente isso: primeiro ficaram deblaterando contra quem os precedeu,
inventando uma tal de herança maldita que só existiu por profunda desonestidade
sub-intelectual, uma vez que a deterioração da situação econômica do Brasil,
durante os meses da campanha eleitoral de 2002 só existiu por que os mercados
temiam, justamente, os possíveis efeitos de uma política econômica
esquizofrênica que os aprendizes de feitiçarias econômicas do partido dos
companheiros tinham se encarregado de propagar durante os meses anteriores ao
pleito presidencial.
Uma vez no poder, eles foram logo se
empenhando na implosão da Alca, o projeto americano de uma zona de livre
comércio hemisférica, não porque tivessem conduzido brilhantes estudos técnicos
de simulação econômica sobre os efeitos de um tal acordo para o Brasil, mas
apenas porque ideologicamente eram contra tudo o que pudesse provir do gigante
do norte. Em seu lugar eles esperavam maravilhas de um hipotético acordo entre
a União Europeia e o Mercosul, ou até chegaram a propor um acordo de livre
comércio entre o bloco do Cone Sul e a China, como se esta fosse a solução para
todos os problemas externos do Brasil e do Mercosul. Deve-se reconhecer que os
companheiros conseguiram o seu intento, não exatamente o livre comércio com a
União Europeia – uma ilusão de ingênuos e de amadores – e menos ainda tal tipo
de arranjo com a China, mas obtiveram, de fato, a implosão da Alca,
transformada em dragão da maldade imperialista. O que obtiveram em troca?
Absolutamente nada!
Os companheiros também ficaram
iludidos pela possibilidade de o Brasil ser admitido como membro permanente do
Conselho de Segurança das Nações Unidos, uma verdadeira obsessão para alguns,
numa outra suprema demonstração de irrealismo e de total falta de prioridades
para a agenda externa do Brasil. Em nome desse objetivo, o supremo mandatário
saiu pelo mundo perdoando dívidas bilaterais de ditadores do petróleo e
prometendo apoio político para os mesmos inimigos das liberdades e dos direitos
humanos. Aliás, fazer amizade com ditaduras parece que se converteu numa mania dos
companheiros, sempre dispostos a tratar com complacência os piores
perpetradores de violações aos direitos humanos e atentados aos valores democráticos
no mundo. Antigamente, o Brasil apenas se abstinha quando das discussões e
votos a respeito dos casos mais politizados nessas matérias nas instâncias da
ONU: a partir de 2003, o país passou a votar ativamente com os violadores e
inimigos da democracia ao redor do mundo. Não se está inventando nada: basta
conferir os votos envolvendo alguns desses países. Um político companheiro,
embaixador numa de suas ditaduras preferidas, chegou a defender o fuzilamento
de simples balseiros que tentavam fugir da ilha-prisão da qual os companheiros
gostam tanto (a ponto de financiá-la fartamente, por diversos meios, nos dias
que correm).
(Continua...)
Paulo Roberto de Almeida
[Portland, ME: 31/05/2014; Hartford, CT:
19/06/2014]
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