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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Tratado Universal dos Deveres do Ser Humano - Simone Weil, via Aldemar Parola

Devo ao atento leitor deste blog Aldemar Parola este comentário a esta minha postagem
A Moral dos Coitadinhos - Luiz Felipe Pondé
que transcrevo por inteiro, dada sua importância e complemento ao artigo de Luiz Felipe Pondé.
Grato ao Aldemar Parola.
Paulo Roberto de Almeida

Aldemar Parola

9 horas atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Considero muito oportuno o artigo do Pondé e me faz lembrar do livro L’Enracinement, de Simone Weil, que li, há cerca de cinquenta anos, quando sua obra ainda não era suficientemente conhecida.

Não sei porque comprei o livro, mas acho que folheei a primeira página e isso deve ter provocado em mim um forte impacto:
“A noção de obrigação ultrapassa a noção de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual corresponde; a realização efetiva de um direito provém não daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a alguma coisa para com ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa.
Não tem sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro lado deveres. Essas palavras não exprimem senão diferenças de ponto de vista. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais se encontram certos deveres para consigo próprio. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem ter obrigações para com ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”

Um ponto que sempre me intrigou foi porque existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948 (alguns anos após a morte de Simone Weil) e não existe uma Declaração Universal das Obrigações (ou Deveres) do Ser Humano.

Aliás, o subtítulo de L’Enracinement é: PRÉLUDE À UNE DÉCLARATION DES DEVOIRS ENVERS L’ÊTRE HUMAIN. Na minha opinião, uma Declaração Universal das Responsabilidades Humanas deveria ter sido aprovada pela ONU antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Só recentemente descobri que o InterAction Council   ( http://interactioncouncil.org/ ) em 1997 havia proposto uma Déclaration universelle des obligations de la personne (Declaração Universal dos Deveres do Homem  na versão em português e na forma que me parece mais adequada na versão em inglês: “Universal Declaration of Human Responsibilities.") que não foi adotada pela ONU. É bem verdade que o InterAction Council, por ser composto principalmente por Chefes de Governo, entre os quais José Sarney, talvez não seja entidade mais adequada para tal proposição.

Todos os políticos deviam ler o livro L’Enracinement conforme recomendação de T. S. Elliot no prefácio por ele redigido para a primeira edição em língua inglesa:
“Este livro pertence à categoria dos prolegômenos à política que políticos raramente lêem e que a maioria deles provavelmente não compreende nem sabe como aplicar. Tais livros não influenciam a conduta contemporânea dos assuntos públicos: chegam muito tarde para homens e mulheres já engajados nessa atividade e comprometidos com o jargão do mercado. É um dos livros que devem ser estudados pelos jovens antes que seu tempo livre tenha sido perdido e sua capacidade de pensamento destruída na vida dos colégios eleitorais e assembleias legislativas; livros cujos efeitos, apenas podemos esperar, se tornariam aparentes no espírito de uma outra geração.”

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