Abertura africana e alerta a Chávez
EDITORIAL
Jornal do Brasil, 29/11/2007
Com Mario Gibson Barboza a diplomacia brasileira enterrou parte de sua história. Chanceler no governo do general Emilio Garrastazu Médici entre 1969 e 1974, comandante de seis embaixadas, foi o mentor e executor do acordo que permitiu a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Mais do que isso, anteviu a importância da aproximação com a África e redirecionou o Itamaraty para o continente.
Gibson morreu de falência múltipla dos órgãos no Rio de Janeiro, aos 89 anos, mas deixou sua marca nas relações exteriores, apesar de servir durante a era de um dos mais ranzinzas presidentes-generais. Manteve a independência na política externa sem submergir ao autoritarismo ou a ideologias.
Em Na diplomacia, o traço todo da vida, livro publicado recentemente, revê sua trajetória, desde o início, nos anos 40. Pernambucano de Olinda, filho de comerciantes, deslanchou a carreira diplomática em 1939, num país que vivia sob o jugo do Estado Novo de Getúlio Vargas e num mundo atemorizado por Adolf Hitler.
Foi vice-cônsul do Brasil em Houston, Texas, terceiro-secretário da embaixada brasileira em Washington, primeiro-secretário da representação brasileira em Bruxelas, ministro-conselheiro em Buenos Aires e junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Ascendeu a chefe-de-gabinete do ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos de Melo Franco. Passou por Viena, Assunção e pela capital americana.
No Paraguai, revelou-se mais do que um negociador, um estrategista. Coordenou o acordo que deu ao Brasil a posse das cataratas de Sete Quedas e, quatro anos depois, acertou os detalhes da construção da Hidrelétrica de Itaipu em parceria com os vizinhos, tendo contornado a insatisfação dos argentinos.
Elevado a ministro por Médici, anunciou o plano brasileiro de combate ao terrorismo no continente, mais tarde submetido à convenção da Organização dos Estados Americanos (OEA). Assinou com Portugal um acordo de reciprocidade de direitos entre brasileiros residentes naquele país e portugueses radicados no Brasil. Transferiu a sede do Itamaraty para Brasília. E, seu feito mais significativo e duradouro: promoveu a aproximação com os países africanos, em 1972.
A agenda de interesses da chancelaria sob seu comando desagradava, como relata no livro sobre sua trajetória. Em 1971, criticado pelo então todo-poderoso Delfim Neto, reagiu com uma nota oficial. Médici o chamou ao gabinete. Repreendido, rebateu: "Olha, presidente, vamos fazer um acordo? O senhor fala com o Delfim para não se meter no Itamaraty. Ele se mete em todos os ministérios, mas no meu não".
Definido pelo chefe como um homem de sangue quente, não arrefeceu a temperatura sangüínea nem com a aposentadoria. Em fevereiro deste ano, em artigo publicado no Jornal do Brasil, atacou o "antiamericanismo de viés nitidamente ideológico" que, na sua visão, contamina o Itamaraty da Era Lula.
Sugeriu que a politização dos subordinados com a adesão ao petismo, a criação de 400 novos cargos e a "tomada de lição" em textos obrigatórios para garantir um pensamento único na chancelaria descaracterizavam a história da diplomacia brasileira. Nos últimos tempos, apontava para os perigos da aproximação incondicional com a Venezuela de Hugo Chávez e com a Bolívia de Evo Morales. Era um embaixador de visão. Seu alerta continua aceso.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
813) Sociedade de Direito International Economico
Encaminhamos a título de divulgação chamada de trabalhos recebida da Society of
International Economic Law (SIEL).
Secretaria Instituto de Relações Internacionais (IRI)
26 November 2007
CALL FOR PAPERS AND PANELS
The Inaugural Conference of the Society of International Economic Law:
New Horizons of International Economic Law
The Inaugural Conference of the Society of International Economic Law (SIEL)
will take place at the Graduate Institute of International Studies in Geneva
from 15-17 July 2008 (www.hei.unige.ch).
About the SIEL
The Society of International Economic Law is a new organization for academics
and academically-minded practitioners and officials in the field of
International Economic Law. The Society will be genuinely global and inclusive
in terms of the expertise and interests of participants, and the many
disciplines encompassed by IEL. Among other objectives, the Society also seeks
to bring together its members in areas of common interest, as well as
supporting academic activities in the field.
For more information about the SIEL, please go to: www.sielnet.org.
Conference Theme
Over the course of the last two decades, the communities of scholars,
practitioners and others active in the area of international economic law have
grown and diversified in ways that few could have predicted. The field of
international economic law now includes a diverse array of participants, is
prominent in numerous areas and addresses new substantive issues. Perhaps
inevitably, the term “international economic law” now defies easy definition –
at once a fully integrated part of public international law and an identifiable
field in its own right, with a broader or narrower scope depending on
perspective.
This conference aims to explore the many different faces of “international
economic law”, in order to reflect critically on its past, present and future
paths. It will seek to explore issues concerning the content of the discipline,
its evolution as a distinct field, and its relation with other fields of study.
Given that the aim of the Society includes fostering research in the area of
IEL and promoting cooperation among all parts within the field, the SIEL
inaugural conference will also be a forum for those inside and outside academia
to share pedagogical and research methods, as well as to explore greater
cooperation among the many different constituencies of the field.
We welcome papers and panels on any topic related to the conference, including:
• the three traditional pillars of “public” IEL: trade, investment, and monetary
policies;
• the relationship between these pillars, and between these pillars and other
branches of law;
• the influence of disciplines such as economics, political economy, and others
on international economic law;
• “comparative” international economic law, focussing on the ways in which
international economic law interacts with laws, institutions and actors at the
domestic level;
• the “geographies” of international economic law, relating to the role of
international economic law in different parts of the world;
• the roles that law and legal practices play within “international economic
governance”;
• methods and trends in the teaching of international economic law, both in
universities and to the broader public;
• interactions between scholars, practitioners, government officials and civil
society groups active in international economic law; and
• topical issues within international economic law.
We are particularly interested in integrating new voices with more established
figures in the field, and welcome works in progress from young or new scholars
reflecting the conference’s broad theme.
Speakers will include (subject to confirmation) Thomas Cottier; Donald McRae;
Ernst-Ulrich Petersmann; Dan Sarooshi; M. Sornarajah; Debra Steger; Joel
Trachtman, and Thomas Wälde.
Submission Procedure
Paper and panel proposals are due by 15 December 2007, however early expression
of interest is welcome.
Paper abstracts and panel proposals should be no longer than 500 words, and
should be submitted via email to inauguralconference@sielnet.org, in WORD or
PDF formats. Please, write “SIEL Conference Call for Papers” in the “subject”
of the e-mail. Please, provide us with information about your full
institutional affiliation and contact details.
All papers submitted to the SIEL Conference must be previously unpublished. Work
in progress is acceptable.
Panel proposals should include a panel title, topics covered during the panel,
list of suggested panelists (minimum 4), and information about the panelists
and their specific contribution to the panel.
Results of the selection process are expected to be announced by 15 January 2008
by e-mail. If an abstract is accepted for the conference, a final manuscript
should be submitted by Sunday, 15 June 2008.
Conference fees and the costs associated with attending the conference will be
kept as low as possible. The Society anticipates, but can not yet confirm,
that it will be in a position to waive the conference fee for speakers.
Review Process
Every paper or panel proposal will be reviewed by a minimum of two reviewers,
members of the SIEL Founding or Inaugural Conference Committees.
Confidentiality of the selection process is guaranteed.
Publication
The committee is currently considering different publication options and ideas.
More information will follow in due course.
Inquiries
You may submit your inquiries to Andrew Lang and Colin Picker: Co-Chairs,
Founding Committee SIEL and to Galina Zukova, Co-Chair, SIEL Inaugural
Conference Committee
Dr. Andrew Lang, Law Department - London School of Economics
E-mail: A.Lang@lse.ac.uk
Prof. Colin B. Picker, University of Missouri - Kansas City School of Law
E-mail: pickerc@umkc.edu
Assoc. Prof. Galina Zukova, Riga Graduate School of Law
E-mail: galina.zukova@rgsl.edu.lv
For further information, please, go to: www.sielnet.org.
International Economic Law (SIEL).
Secretaria Instituto de Relações Internacionais (IRI)
26 November 2007
CALL FOR PAPERS AND PANELS
The Inaugural Conference of the Society of International Economic Law:
New Horizons of International Economic Law
The Inaugural Conference of the Society of International Economic Law (SIEL)
will take place at the Graduate Institute of International Studies in Geneva
from 15-17 July 2008 (www.hei.unige.ch).
About the SIEL
The Society of International Economic Law is a new organization for academics
and academically-minded practitioners and officials in the field of
International Economic Law. The Society will be genuinely global and inclusive
in terms of the expertise and interests of participants, and the many
disciplines encompassed by IEL. Among other objectives, the Society also seeks
to bring together its members in areas of common interest, as well as
supporting academic activities in the field.
For more information about the SIEL, please go to: www.sielnet.org.
Conference Theme
Over the course of the last two decades, the communities of scholars,
practitioners and others active in the area of international economic law have
grown and diversified in ways that few could have predicted. The field of
international economic law now includes a diverse array of participants, is
prominent in numerous areas and addresses new substantive issues. Perhaps
inevitably, the term “international economic law” now defies easy definition –
at once a fully integrated part of public international law and an identifiable
field in its own right, with a broader or narrower scope depending on
perspective.
This conference aims to explore the many different faces of “international
economic law”, in order to reflect critically on its past, present and future
paths. It will seek to explore issues concerning the content of the discipline,
its evolution as a distinct field, and its relation with other fields of study.
Given that the aim of the Society includes fostering research in the area of
IEL and promoting cooperation among all parts within the field, the SIEL
inaugural conference will also be a forum for those inside and outside academia
to share pedagogical and research methods, as well as to explore greater
cooperation among the many different constituencies of the field.
We welcome papers and panels on any topic related to the conference, including:
• the three traditional pillars of “public” IEL: trade, investment, and monetary
policies;
• the relationship between these pillars, and between these pillars and other
branches of law;
• the influence of disciplines such as economics, political economy, and others
on international economic law;
• “comparative” international economic law, focussing on the ways in which
international economic law interacts with laws, institutions and actors at the
domestic level;
• the “geographies” of international economic law, relating to the role of
international economic law in different parts of the world;
• the roles that law and legal practices play within “international economic
governance”;
• methods and trends in the teaching of international economic law, both in
universities and to the broader public;
• interactions between scholars, practitioners, government officials and civil
society groups active in international economic law; and
• topical issues within international economic law.
We are particularly interested in integrating new voices with more established
figures in the field, and welcome works in progress from young or new scholars
reflecting the conference’s broad theme.
Speakers will include (subject to confirmation) Thomas Cottier; Donald McRae;
Ernst-Ulrich Petersmann; Dan Sarooshi; M. Sornarajah; Debra Steger; Joel
Trachtman, and Thomas Wälde.
Submission Procedure
Paper and panel proposals are due by 15 December 2007, however early expression
of interest is welcome.
Paper abstracts and panel proposals should be no longer than 500 words, and
should be submitted via email to inauguralconference@sielnet.org, in WORD or
PDF formats. Please, write “SIEL Conference Call for Papers” in the “subject”
of the e-mail. Please, provide us with information about your full
institutional affiliation and contact details.
All papers submitted to the SIEL Conference must be previously unpublished. Work
in progress is acceptable.
Panel proposals should include a panel title, topics covered during the panel,
list of suggested panelists (minimum 4), and information about the panelists
and their specific contribution to the panel.
Results of the selection process are expected to be announced by 15 January 2008
by e-mail. If an abstract is accepted for the conference, a final manuscript
should be submitted by Sunday, 15 June 2008.
Conference fees and the costs associated with attending the conference will be
kept as low as possible. The Society anticipates, but can not yet confirm,
that it will be in a position to waive the conference fee for speakers.
Review Process
Every paper or panel proposal will be reviewed by a minimum of two reviewers,
members of the SIEL Founding or Inaugural Conference Committees.
Confidentiality of the selection process is guaranteed.
Publication
The committee is currently considering different publication options and ideas.
More information will follow in due course.
Inquiries
You may submit your inquiries to Andrew Lang and Colin Picker: Co-Chairs,
Founding Committee SIEL and to Galina Zukova, Co-Chair, SIEL Inaugural
Conference Committee
Dr. Andrew Lang, Law Department - London School of Economics
E-mail: A.Lang@lse.ac.uk
Prof. Colin B. Picker, University of Missouri - Kansas City School of Law
E-mail: pickerc@umkc.edu
Assoc. Prof. Galina Zukova, Riga Graduate School of Law
E-mail: galina.zukova@rgsl.edu.lv
For further information, please, go to: www.sielnet.org.
812) Concurso para a carreira diplomatica: edital do Instituto Rio Branco
Diário Oficial da União – Seção 1 – Pág. 53
Nº 227, terça-feira, 27 de novembro de 2007
Ministério das Relações Exteriores
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA N° - 768, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2007
O MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o disposto nos artigos 1o- e 5o- do Regulamento do Instituto Rio Branco, aprovado pela Portaria de 20 de novembro de 1998, publicada no Diário Oficial da União de 25 de novembro de 1998, e alterado pela Portaria no- 11, de 17 de abril de 2001, publicada no Diário Oficial da União de 25 de abril de 2001, resolve:
Art. 1° - Ficam estabelecidas as normas que se seguem para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008.
Art. 2° - O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008 constará, na Primeira Fase, de prova objetiva, de caráter eliminatório, constituída de questões de Português, de História do Brasil, de História Mundial, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia.
Art. 3º - A Segunda Fase constará de prova discursiva eliminatória e classificatória de Português.
Parágrafo único. Será estabelecida nota mínima para a prova de Português.
Art. 4º - A Terceira Fase constará de provas discursivas de História do Brasil, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia Parágrafo 1o- As seis provas da Terceira Fase terão peso equivalente.
Art. 5º - A Quarta Fase constará de prova escrita, de caráter exclusivamente classificatório, de uma segunda língua estrangeira, que poderá ser, conforme a opção do candidato, Alemão, Árabe, Chinês (Mandarim), Espanhol, Francês, Japonês ou Russo. Parágrafo único. Para efeitos de classificação, a prova da Quarta Fase terá peso equivalente à metade do peso de cada uma das provas da Terceira Fase.
Art. 6º - Serão oferecidas, no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008, 105 (cento e cinco) vagas para a classe inicial da Carreira de Diplomata.
Art. 7º - O Diretor-Geral do Instituto Rio Branco fará publicar o Edital do Concurso.
CELSO AMORIM
Nº 227, terça-feira, 27 de novembro de 2007
Ministério das Relações Exteriores
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA N° - 768, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2007
O MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o disposto nos artigos 1o- e 5o- do Regulamento do Instituto Rio Branco, aprovado pela Portaria de 20 de novembro de 1998, publicada no Diário Oficial da União de 25 de novembro de 1998, e alterado pela Portaria no- 11, de 17 de abril de 2001, publicada no Diário Oficial da União de 25 de abril de 2001, resolve:
Art. 1° - Ficam estabelecidas as normas que se seguem para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008.
Art. 2° - O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008 constará, na Primeira Fase, de prova objetiva, de caráter eliminatório, constituída de questões de Português, de História do Brasil, de História Mundial, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia.
Art. 3º - A Segunda Fase constará de prova discursiva eliminatória e classificatória de Português.
Parágrafo único. Será estabelecida nota mínima para a prova de Português.
Art. 4º - A Terceira Fase constará de provas discursivas de História do Brasil, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia Parágrafo 1o- As seis provas da Terceira Fase terão peso equivalente.
Art. 5º - A Quarta Fase constará de prova escrita, de caráter exclusivamente classificatório, de uma segunda língua estrangeira, que poderá ser, conforme a opção do candidato, Alemão, Árabe, Chinês (Mandarim), Espanhol, Francês, Japonês ou Russo. Parágrafo único. Para efeitos de classificação, a prova da Quarta Fase terá peso equivalente à metade do peso de cada uma das provas da Terceira Fase.
Art. 6º - Serão oferecidas, no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008, 105 (cento e cinco) vagas para a classe inicial da Carreira de Diplomata.
Art. 7º - O Diretor-Geral do Instituto Rio Branco fará publicar o Edital do Concurso.
CELSO AMORIM
domingo, 25 de novembro de 2007
811) Para os candidatos à carreira diplomática: clásssicos da cultura brasileira
Série "Folha Explica" de clássicos da cultura brasileira
Esta série de livros da FolhaSP pode ajudar no trabalho de leitura e compreensão dos grandes clássicos do pensamento brasileiro. Como se trata de obras volumosas, por vezes prolixas, um resumo-introdutório, explicando as teses principais do autor, pode ser útil aos que nao têm tempo ou condições de ler toda a série de clássicos em versao integral.
-------------
Guia abre caminho para leitura de "Casa-Grande e Senzala"
Folha Online, 12/03/2007
Escrito em uma linguagem criativa e inovadora, com métodos de pesquisa pouco ortodoxos e idéias anti-racistas que desafiaram os preconceitos da época, "Casa-Grande e Senzala" (1933) é um grande ensaio de interpretação do Brasil. O primeiro capítulo pode ser lido abaixo.
Por sua importância, o livro é tema de um dos volumes da coleção "Folha Explica", que abre caminhos para a leitura da maior obra brasileira, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, abordando ainda a trajetória controversa e conservadora, irreverente e saudosista do seu autor, Gilberto Freyre (1900-87).
O livro é assinado por Roberto Ventura, que foi professor de teoria literária e literatura comparada na USP (Universidade de São Paulo).
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.
"Casa-Grande e Senzala"
Autor: Roberto Ventura
Editora: Publifolha
Páginas: 96
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
Um Livro Controverso
"Casa-Grande & Senzala"
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
Brasileira.
Manuel Bandeira
Gilberto Freyre é o mais amado e odiado escritor brasileiro. Casa-Grande & Senzala, seu principal livro, é uma das obras mais polêmicas já publicadas no país. Monteiro Lobato comparou o seu lançamento em 1933 com a fulgurante aparição do cometa Halley nos céus. Jorge Amado saudou o livro como uma revolução, que deslumbrava o país, ao falar dele como nunca se falara antes. O ensaio de Freyre foi aclamado como uma ruptura nos estudos históricos e sociais tanto pelo tema --a formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida-- quanto pelas idéias, como a valorização do escravo negro e da cultura afro-brasileira, mas sobretudo pela linguagem, fortemente oral e coloquial, avessa a qualquer ranço acadêmico ou jargão especializado.
Freyre foi endeusado nas décadas de 1930 e 1940 como o descobridor da identidade do país e criador de uma nova auto-imagem do brasileiro, que passava de negativa a positiva, de disfórica a eufórica. Os críticos João Ribeiro e Lúcia Miguel Pereira consideraram o livro definitivo, por alargar os limites da nação e afastar os temores infundados sobre a inferioridade racial de sua população. Para o antropólogo Roquete-Pinto, era uma obra que já nascia clássica, de consulta indispensável para todos aqueles que quisessem entender o país.1
Antes tomado como inferno da depravação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América. A idéia de uma história em que os conflitos se harmonizam passou a fazer parte do senso comum do brasileiro e da cultura política do país, tendo sido veiculada pelos sucessivos governos a partir dos anos 40. Incorporado por grande parte da população, o mito da "democracia racial" se tornou um obstáculo para o enfrentamento das questões étnicas e sociais e uma barreira para as minorias, como os negros, os índios, as mulheres e os homossexuais, cujos movimentos lutam por identidades diferenciadas e reivindicações específicas.
Freyre se tornou, junto com o romancista Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior sucesso internacional, pelo menos até a aparição do esotérico Paulo Coelho no mercado editorial dos anos 90. Tanto Freyre quanto Amado difundiram a imagem do brasileiro bom e sorridente, doce e não-agressivo, que se deixa seduzir pela mulata, cuja sensualidade ardente é glorificada quer em Casa-Grande & Senzala, quer nos romances do escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste, inúmeras vezes reeditados e adaptados para a televisão e o cinema.
Casa-Grande & Senzala é até hoje o ensaio brasileiro mais traduzido, com versões em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e polonês, além de mais de 20 edições no Brasil. Homenageado com colóquios, medalhas e títulos, Freyre é doutor honoris causa pelas universidades de Columbia, Coimbra, Paris, Sussex, Münster, Oxford e Recife. Obteve os prêmios Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, Aspen do Instituto de Estudos Humanísticos dos EUA e La Madonnina da Itália. Foi condecorado pela França, México, Venezuela, Portugal e Espanha e recebeu a Ordem do Império Britânico das mãos da rainha Elizabeth 2ª.
Mas Casa-Grande & Senzala também provocou fortes reações. A obra foi atacada por sua linguagem, tida como vulgar e obscena. Um obscuro escritor mineiro xingou o livro de "pornográfico" devido à referência ao modo brasileiro de defecar. Com o apoio de um colégio religioso do Recife, alguns exemplares foram queimados em praça pública. E o escritor logo provocaria novas controvérsias, ao organizar no Recife, em 1934, o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro. Seu interesse pela cultura afro-brasileira lhe valeu a acusação de "subversivo", "comunista" e "soviético", por seus supostos ataques à família brasileira e à moral cristã. Foi hostilizado pela elite pernambucana, à qual era ligado por relações profissionais e políticas e também por laços de parentesco, ao propor à Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco o estudo das condições de vida dos trabalhadores rurais. O Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) de Pernambuco o fichou em 1935, em companhia dos pintores Di Cavalcanti e Cícero Dias, como "agitador, organizador da Frente Única Sindical, orientadora das greves preparatórias do movimento comunista".
Freyre se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas e foi presidente da UDN (União Democrática Nacional) em seu estado. Foi preso e espancado em 1942, junto com o pai, devido a um artigo no Diário de Pernambuco em que acusava um beneditino alemão de Olinda de ser racista e pró-nazista. Foi indiciado ao Tribunal de Segurança Nacional em 1945, já no fim do governo Vargas, por ter discursado em manifestação contra a ditadura no Recife, em que a polícia política matou a tiros duas pessoas. Com a redemocratização do país, elegeu-se deputado pela UDN e participou da Assembléia Constituinte e da Câmara dos Deputados, à qual propôs a criação no Recife do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, depois Fundação Joaquim Nabuco, com o objetivo de fazer investigações de caráter rural.
Já sexagenário, assumiu posições polêmicas, que o tornaram maldito por mais de duas décadas para os setores de esquerda. Apoiou o golpe militar de 1964, cujo governo forte via como o restabelecimento de uma ordem patriarcal e hierárquica, destruída pela urbanização e modernização. Conforme observou o jornalista Mario Cesar Carvalho, em artigo na Folha de S.Paulo publicado no centenário de seu nascimento,2 o homem que criou a mitológica imagem de um Brasil tolerante acabou por adotar posições políticas marcadas pela intolerância...
Movido por aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de "tara direitista", Freyre acusou o reitor da Universidade do Recife de ser conivente com a propaganda comunista e pediu a sua renúncia ao cargo. Tinha exigido antes, em 1963, o afastamento de supostos esquerdistas da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). E chegou a propor, em 1972, ao senador Filinto Müller, ex-chefe da polícia política de Vargas, um programa para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação dos militares no poder. Segundo ele, a Arena deveria defender a crescente superação das diferenças raciais no Brasil pela criação de um povo "além-raça". Encantado com a ditadura de Antônio Salazar em Portugal, que ocupou o poder por mais de quatro décadas, de 1928 a 1974, foi conivente com a política colonialista da antiga metrópole na África e na Ásia em nome do "luso-tropicalismo", entendido como a civilização original e maleável criada pelos portugueses em três continentes.
Foi atacado nas décadas de 1960 e 1970 por sociólogos da Universidade de São Paulo, como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, que criticaram sua visão idílica do passado colonial e a idéia de que se vive em uma "democracia racial", sem conflitos entre brancos e negros. A partir dos anos 80, foi redescoberto por historiadores interessados na história do cotidiano, da sexualidade e da intimidade, que resgataram a sua visão da escravidão.
Voltou a ser valorizado agora como um precursor da virada antropológica e psicológica dos estudos históricos, que se dera a partir da década de 1970 com a terceira geração da escola dos Annales e os representantes da "nova história" francesa, como Fernand Braudel, Georges Duby e Philippe Ariès. Passou a ser elogiado como pioneiro por seu foco nos "novos objetos" e em figuras até então marginais, como o escravo, a mulher, a criança, a arquitetura e os artefatos, os hábitos culturais e as tradições culinárias e alimentares. Os maiores intelectuais do século 20, dentre eles o crítico Roland Barthes e os historiadores Febvre e Braudel, já o tinham aclamado como escritor sensível à matéria palpável e renovador dos estudos históricos e sociais.
Por que Casa-Grande & Senzala e seu autor, Gilberto Freyre, tidos como revolucionários e progressistas nos anos 30 e 40, passaram a ser criticados a partir da década de 1960 como conservadores e reacionários? Como o sociólogo, que os usineiros nordestinos chamaram de "comunista" e de "soviético" nos anos 30, conseguiu se tornar o ideólogo informal do regime militar? De que modo se deu o resgate de sua obra, a partir dos anos 80, como pioneira dos novos rumos da historiografia? São essas as perguntas que este livro procura responder.
1 Os artigos de João Ribeiro, Lúcia Miguel Pereira e Roquete-Pinto se encontram reproduzidos em: Edson Nery da Fonseca (org.), Casa-Grande & Senzala e a Crítica Brasileira de 1933 a 1944. Recife: Ed. de Pernambuco, 1985.
2 Caderno "Mais!", 12 mar. 2000, dossiê "Céu & Inferno de Gilberto Freyre".
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Especial
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Esta série de livros da FolhaSP pode ajudar no trabalho de leitura e compreensão dos grandes clássicos do pensamento brasileiro. Como se trata de obras volumosas, por vezes prolixas, um resumo-introdutório, explicando as teses principais do autor, pode ser útil aos que nao têm tempo ou condições de ler toda a série de clássicos em versao integral.
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Guia abre caminho para leitura de "Casa-Grande e Senzala"
Folha Online, 12/03/2007
Escrito em uma linguagem criativa e inovadora, com métodos de pesquisa pouco ortodoxos e idéias anti-racistas que desafiaram os preconceitos da época, "Casa-Grande e Senzala" (1933) é um grande ensaio de interpretação do Brasil. O primeiro capítulo pode ser lido abaixo.
Por sua importância, o livro é tema de um dos volumes da coleção "Folha Explica", que abre caminhos para a leitura da maior obra brasileira, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, abordando ainda a trajetória controversa e conservadora, irreverente e saudosista do seu autor, Gilberto Freyre (1900-87).
O livro é assinado por Roberto Ventura, que foi professor de teoria literária e literatura comparada na USP (Universidade de São Paulo).
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.
"Casa-Grande e Senzala"
Autor: Roberto Ventura
Editora: Publifolha
Páginas: 96
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
Um Livro Controverso
"Casa-Grande & Senzala"
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
Brasileira.
Manuel Bandeira
Gilberto Freyre é o mais amado e odiado escritor brasileiro. Casa-Grande & Senzala, seu principal livro, é uma das obras mais polêmicas já publicadas no país. Monteiro Lobato comparou o seu lançamento em 1933 com a fulgurante aparição do cometa Halley nos céus. Jorge Amado saudou o livro como uma revolução, que deslumbrava o país, ao falar dele como nunca se falara antes. O ensaio de Freyre foi aclamado como uma ruptura nos estudos históricos e sociais tanto pelo tema --a formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida-- quanto pelas idéias, como a valorização do escravo negro e da cultura afro-brasileira, mas sobretudo pela linguagem, fortemente oral e coloquial, avessa a qualquer ranço acadêmico ou jargão especializado.
Freyre foi endeusado nas décadas de 1930 e 1940 como o descobridor da identidade do país e criador de uma nova auto-imagem do brasileiro, que passava de negativa a positiva, de disfórica a eufórica. Os críticos João Ribeiro e Lúcia Miguel Pereira consideraram o livro definitivo, por alargar os limites da nação e afastar os temores infundados sobre a inferioridade racial de sua população. Para o antropólogo Roquete-Pinto, era uma obra que já nascia clássica, de consulta indispensável para todos aqueles que quisessem entender o país.1
Antes tomado como inferno da depravação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América. A idéia de uma história em que os conflitos se harmonizam passou a fazer parte do senso comum do brasileiro e da cultura política do país, tendo sido veiculada pelos sucessivos governos a partir dos anos 40. Incorporado por grande parte da população, o mito da "democracia racial" se tornou um obstáculo para o enfrentamento das questões étnicas e sociais e uma barreira para as minorias, como os negros, os índios, as mulheres e os homossexuais, cujos movimentos lutam por identidades diferenciadas e reivindicações específicas.
Freyre se tornou, junto com o romancista Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior sucesso internacional, pelo menos até a aparição do esotérico Paulo Coelho no mercado editorial dos anos 90. Tanto Freyre quanto Amado difundiram a imagem do brasileiro bom e sorridente, doce e não-agressivo, que se deixa seduzir pela mulata, cuja sensualidade ardente é glorificada quer em Casa-Grande & Senzala, quer nos romances do escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste, inúmeras vezes reeditados e adaptados para a televisão e o cinema.
Casa-Grande & Senzala é até hoje o ensaio brasileiro mais traduzido, com versões em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e polonês, além de mais de 20 edições no Brasil. Homenageado com colóquios, medalhas e títulos, Freyre é doutor honoris causa pelas universidades de Columbia, Coimbra, Paris, Sussex, Münster, Oxford e Recife. Obteve os prêmios Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, Aspen do Instituto de Estudos Humanísticos dos EUA e La Madonnina da Itália. Foi condecorado pela França, México, Venezuela, Portugal e Espanha e recebeu a Ordem do Império Britânico das mãos da rainha Elizabeth 2ª.
Mas Casa-Grande & Senzala também provocou fortes reações. A obra foi atacada por sua linguagem, tida como vulgar e obscena. Um obscuro escritor mineiro xingou o livro de "pornográfico" devido à referência ao modo brasileiro de defecar. Com o apoio de um colégio religioso do Recife, alguns exemplares foram queimados em praça pública. E o escritor logo provocaria novas controvérsias, ao organizar no Recife, em 1934, o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro. Seu interesse pela cultura afro-brasileira lhe valeu a acusação de "subversivo", "comunista" e "soviético", por seus supostos ataques à família brasileira e à moral cristã. Foi hostilizado pela elite pernambucana, à qual era ligado por relações profissionais e políticas e também por laços de parentesco, ao propor à Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco o estudo das condições de vida dos trabalhadores rurais. O Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) de Pernambuco o fichou em 1935, em companhia dos pintores Di Cavalcanti e Cícero Dias, como "agitador, organizador da Frente Única Sindical, orientadora das greves preparatórias do movimento comunista".
Freyre se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas e foi presidente da UDN (União Democrática Nacional) em seu estado. Foi preso e espancado em 1942, junto com o pai, devido a um artigo no Diário de Pernambuco em que acusava um beneditino alemão de Olinda de ser racista e pró-nazista. Foi indiciado ao Tribunal de Segurança Nacional em 1945, já no fim do governo Vargas, por ter discursado em manifestação contra a ditadura no Recife, em que a polícia política matou a tiros duas pessoas. Com a redemocratização do país, elegeu-se deputado pela UDN e participou da Assembléia Constituinte e da Câmara dos Deputados, à qual propôs a criação no Recife do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, depois Fundação Joaquim Nabuco, com o objetivo de fazer investigações de caráter rural.
Já sexagenário, assumiu posições polêmicas, que o tornaram maldito por mais de duas décadas para os setores de esquerda. Apoiou o golpe militar de 1964, cujo governo forte via como o restabelecimento de uma ordem patriarcal e hierárquica, destruída pela urbanização e modernização. Conforme observou o jornalista Mario Cesar Carvalho, em artigo na Folha de S.Paulo publicado no centenário de seu nascimento,2 o homem que criou a mitológica imagem de um Brasil tolerante acabou por adotar posições políticas marcadas pela intolerância...
Movido por aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de "tara direitista", Freyre acusou o reitor da Universidade do Recife de ser conivente com a propaganda comunista e pediu a sua renúncia ao cargo. Tinha exigido antes, em 1963, o afastamento de supostos esquerdistas da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). E chegou a propor, em 1972, ao senador Filinto Müller, ex-chefe da polícia política de Vargas, um programa para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação dos militares no poder. Segundo ele, a Arena deveria defender a crescente superação das diferenças raciais no Brasil pela criação de um povo "além-raça". Encantado com a ditadura de Antônio Salazar em Portugal, que ocupou o poder por mais de quatro décadas, de 1928 a 1974, foi conivente com a política colonialista da antiga metrópole na África e na Ásia em nome do "luso-tropicalismo", entendido como a civilização original e maleável criada pelos portugueses em três continentes.
Foi atacado nas décadas de 1960 e 1970 por sociólogos da Universidade de São Paulo, como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, que criticaram sua visão idílica do passado colonial e a idéia de que se vive em uma "democracia racial", sem conflitos entre brancos e negros. A partir dos anos 80, foi redescoberto por historiadores interessados na história do cotidiano, da sexualidade e da intimidade, que resgataram a sua visão da escravidão.
Voltou a ser valorizado agora como um precursor da virada antropológica e psicológica dos estudos históricos, que se dera a partir da década de 1970 com a terceira geração da escola dos Annales e os representantes da "nova história" francesa, como Fernand Braudel, Georges Duby e Philippe Ariès. Passou a ser elogiado como pioneiro por seu foco nos "novos objetos" e em figuras até então marginais, como o escravo, a mulher, a criança, a arquitetura e os artefatos, os hábitos culturais e as tradições culinárias e alimentares. Os maiores intelectuais do século 20, dentre eles o crítico Roland Barthes e os historiadores Febvre e Braudel, já o tinham aclamado como escritor sensível à matéria palpável e renovador dos estudos históricos e sociais.
Por que Casa-Grande & Senzala e seu autor, Gilberto Freyre, tidos como revolucionários e progressistas nos anos 30 e 40, passaram a ser criticados a partir da década de 1960 como conservadores e reacionários? Como o sociólogo, que os usineiros nordestinos chamaram de "comunista" e de "soviético" nos anos 30, conseguiu se tornar o ideólogo informal do regime militar? De que modo se deu o resgate de sua obra, a partir dos anos 80, como pioneira dos novos rumos da historiografia? São essas as perguntas que este livro procura responder.
1 Os artigos de João Ribeiro, Lúcia Miguel Pereira e Roquete-Pinto se encontram reproduzidos em: Edson Nery da Fonseca (org.), Casa-Grande & Senzala e a Crítica Brasileira de 1933 a 1944. Recife: Ed. de Pernambuco, 1985.
2 Caderno "Mais!", 12 mar. 2000, dossiê "Céu & Inferno de Gilberto Freyre".
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sábado, 24 de novembro de 2007
810) Juca, a revista dos alunos do Instituto Rio Branco
Acaba de ser lançado o primeiro número da revista "Juca", escrita e editada pelos alunos do Curso de Formação/Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio-Branco, com a colaboração da FUNAG.
A revista é de excelente qualidade gráfica e editorial. Foi batizada em homenagem ao apelido familiar do Patrono da dipomacia brasileira, chamado de "Juca Paranhos" na adolescência e no início de sua carreira no Itamaraty, muito antes de receber o título nobiliárquico de Barão do Rio Branco.
Entre outras matérias, o número inaugural da revista "Juca" traz entrevistas com os Embaixadores Alberto da Costa e Silva e João Clemente Baena Soares. Segue o link: http://www.irbr. mre.gov.br/ juca_web. pdf
A revista é de excelente qualidade gráfica e editorial. Foi batizada em homenagem ao apelido familiar do Patrono da dipomacia brasileira, chamado de "Juca Paranhos" na adolescência e no início de sua carreira no Itamaraty, muito antes de receber o título nobiliárquico de Barão do Rio Branco.
Entre outras matérias, o número inaugural da revista "Juca" traz entrevistas com os Embaixadores Alberto da Costa e Silva e João Clemente Baena Soares. Segue o link: http://www.irbr. mre.gov.br/ juca_web. pdf
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
809) Obscurantismo no IPEA?
Não sei bem o que está acontecendo no IPEA, pois há muito tempo não falo com alguém de lá, não vou ao edifício-sede, nem assisti, nas últimas semanas, a qualquer evento organizado por esse órgão reputado pela qualidade técnica dos seus estudos de economia brasileira.
Sou sim um colaborador voluntário, benévolo, do veículo que me parecia um excelente canal de comunicação entre o Instituto e o público at large, a revista Desafios do Desenvolvimento, na qual assumi, voluntariamente e desde o início, o papel de colaborador na seção Estante, oferecendo resenhas (curtas, médias, ampliadas) sobre literatura econômica em geral. Uma listagem (incompleta, e agora imagino inacessível) de minhas resenhas pode ser vista neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/06LinksColabor/03Desafios.html
Devo ter feito mais ou menos 50 resenhas, sempre com grande liberdade de expressão, com exceção de pequenos cortes pontuais, mais justificados por questões de editoração, do que necessariamente por alguma censura política.
O antigo site da revista foi modificado: em lugar de www.desafios.org.br, somos dirigidos agora a http://www.desafios.ipea.gov.br/.
A simples mudança de org para gov talvez já seja um indicativo das mudanças em curso.
Espero, otimisticamente, que para melhor, mas tenho minhas dúvidas.
Imagino que os novos mandatários do IPEA estejam reorganizando a revista, o seu site, bem como o resto do IPEA, e eles devem ter idéias próprias sobre quem pode ou não pode colaborar com a revista.
Talvez seja melhor assim: eu poderei ler meus livros em paz, sem prazos a cumprir e sem limitações de espaço quanto ao tamanho das minhas resenhas (que costumam ser enormes) e não precisarei mais me preocupar em colaborar benevolamente com um veículo de comunicação.
Abaixo, um pequeno reflexo das mudanças no IPEA...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21.11.2007
Tempos difíceis
Miriam Leitão
O Globo, 21.11.2007
Quando o e-mail circulou no Ipea convidando para um almoço de despedida dos quatro economistas afastados do órgão, ninguém achava que tanta gente compareceria. Para lá foram, inclusive, pessoas que discordam dos expurgados, mas discordam muito mais do expurgo em si. O afastamento é a parte mais visível do festival de obscurantismo e maus modos que atacou o instituto de pesquisa do governo.
Marcio Pochmann é o terceiro presidente do Ipea do governo Lula. É o primeiro a usar os métodos que usa. No instituto, todo mundo acha normal que uma nova direção troque diretores, tire DAS, faça suas escolhas. Mas a nova direção está encurralando quem pensa diferente, com exonerações, expurgos, retirada de dinheiro de pesquisa, interrupção de trabalhos em andamento, suspensão de convênios e o que é pior: tenta legitimar tudo o que faz levantando uma suspeita de que existia antes algo "irregular". Os convênios com a Anpec, por exemplo, sempre foram a ligação do Ipea com todos os cursos de pós-graduação do país. O Ipea vive em regime de intervenção. O clima está "indigesto", define um dos vários economistas com quem a coluna conversou. A produção caiu, estudos foram interrompidos, há pessoas valiosas fazendo as malas, como o Ricardo Paes de Barros, considerado, dentro e fora do instituto, um gênio.
No dia da posse, Pochmann encontrou Regis Bonelli e disse:
— Professor, já te conheço de nome, espero continuar contando com a sua ajuda.
Bonelli é aposentado do Ipea, mas há anos tem feito trabalhos eventuais para o instituto. Não recebia salário. Recebia por contratos de pesquisa específicos. Estava, naquele momento, terminando um texto sobre o "Estado e o Desenvolvimento" para o novo número de "O Estado de uma Nação". O texto que entregou criticava os gastos públicos mostrando que eles não têm levado a mais desenvolvimento. Analisou 10 anos para não ser visto como crítica a um governo, mas ao Estado gastador. Não agradou. Nem esse, nem qualquer outro estudo.
O "Estado de uma Nação" foi criado no atual governo e seu objetivo é agregar o resultado das novas pesquisas do Ipea e incluir idéias surgidas fora do instituto. Quando estava quase tudo pronto, o economista Paulo Tafner foi avisado por um telefonema que estava exonerado do cargo de editor. Outra revista mais acadêmica, "Pesquisa e Planejamento Econômico", recebeu também informação de que terá novo editor.
Na semana passada, Bonelli foi chamado à sala de João Sicsú. Lá estava não o titular do cargo, mas seu assistente, Renault Michel. E o diálogo foi curioso.
— Quero lhe agradecer o trabalho que o senhor sempre fez no Ipea.
— Fiz não, ainda faço.
— O senhor fez várias coisas boas. Aliás, a única coisa boa que o Malan fez aqui foram os trabalhos com o senhor. Mas agora queremos corrigir umas irregularidades.
— Eu não faço nenhuma irregularidade e, se você quiser a minha sala, basta me avisar.
Que alguma coisa esquisita tinha começado a acontecer até os corredores do Ipea descobriram em abril, quando dois assessores do senador Marcelo Crivella entraram no prédio, pediram para falar com a diretoria de recursos humanos. Queriam saber quantos DAS tinha o Ipea.
O novo diretor do Rio é o primeiro de fora da carreira que assume o posto. Mas isso não é o relevante. O esquisito é a maneira como essa direção lida com as pessoas que estão no instituto há décadas. Ele convocou todos para sua posse. Chegou uma hora e meia atrasado, ficou alguns minutos e foi embora. O breve discurso, para uma platéia de mestres e doutores, foi patético:
— Meu nome é Sicsú. Sic-sú! O dever de casa de todos é aprender como se pronuncia o meu nome. Se quiserem alguma coisa comigo, a senha é professor. Me chamem de professor.
O "professor" tem estado muito ausente, não comparece aos seminários da casa, quase não recebe quem pede para conversar. A não ser para conversas tensas, como a que teve com Fábio Giambiagi, quando ele foi perguntar se o convênio com o BNDES seria mantido. Nela, ele não respondeu a pergunta direta. Depois é que a notícia circulou.
O convênio com o BNDES era um grande negócio para o Ipea. Por ele, o instituto tinha dois excelentes economistas, Fábio e Otávio Tourinho, sem gastar um tostão. O pretexto para afastá-los foi ridículo: de que se quer estudar "agora" o longo prazo. Mas é exatamente o que os dois sempre fizeram, como no caso dos estudos sobre previdência. Com Gervásio Rezende e Regis, o Ipea também não tinha gastos e tinha a vantagem de contar com a maturidade dos economistas. Regis Bonelli, há anos, ajuda a formação dos jovens que entram no instituto.
O esquisito é que não é uma perseguição ideológica a inimigos da política econômica. Na verdade, parece o oposto. Michel e Sicsú têm publicado artigos contra a política monetária e a política cambial. O pensamento vivo da turma pode ser resumido: eles são contra o Banco Central e a favor da gastança. Alguns dos argumentos que usam são constrangedores, pelo que revelam de desconhecimento de teoria econômica.
O ministro Mangabeira Unger avisou na posse que iria "organizar o dissenso". Está organizando o obscurantismo. Quando a notícia do expurgo chegou aos jornais, Pochmann reagiu: "Deve ser coisa orquestrada." Essa reação é um clássico do autoritarismo. A mistura de obscurantismo e autoritarismo é um filme muito velho, que o Ipea, nascido numa ditadura militar, não pensou que veria, aos 43 anos, e em plena democracia.
Transcrito de O Globo de 21/11/2007
Sou sim um colaborador voluntário, benévolo, do veículo que me parecia um excelente canal de comunicação entre o Instituto e o público at large, a revista Desafios do Desenvolvimento, na qual assumi, voluntariamente e desde o início, o papel de colaborador na seção Estante, oferecendo resenhas (curtas, médias, ampliadas) sobre literatura econômica em geral. Uma listagem (incompleta, e agora imagino inacessível) de minhas resenhas pode ser vista neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/06LinksColabor/03Desafios.html
Devo ter feito mais ou menos 50 resenhas, sempre com grande liberdade de expressão, com exceção de pequenos cortes pontuais, mais justificados por questões de editoração, do que necessariamente por alguma censura política.
O antigo site da revista foi modificado: em lugar de www.desafios.org.br, somos dirigidos agora a http://www.desafios.ipea.gov.br/.
A simples mudança de org para gov talvez já seja um indicativo das mudanças em curso.
Espero, otimisticamente, que para melhor, mas tenho minhas dúvidas.
Imagino que os novos mandatários do IPEA estejam reorganizando a revista, o seu site, bem como o resto do IPEA, e eles devem ter idéias próprias sobre quem pode ou não pode colaborar com a revista.
Talvez seja melhor assim: eu poderei ler meus livros em paz, sem prazos a cumprir e sem limitações de espaço quanto ao tamanho das minhas resenhas (que costumam ser enormes) e não precisarei mais me preocupar em colaborar benevolamente com um veículo de comunicação.
Abaixo, um pequeno reflexo das mudanças no IPEA...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21.11.2007
Tempos difíceis
Miriam Leitão
O Globo, 21.11.2007
Quando o e-mail circulou no Ipea convidando para um almoço de despedida dos quatro economistas afastados do órgão, ninguém achava que tanta gente compareceria. Para lá foram, inclusive, pessoas que discordam dos expurgados, mas discordam muito mais do expurgo em si. O afastamento é a parte mais visível do festival de obscurantismo e maus modos que atacou o instituto de pesquisa do governo.
Marcio Pochmann é o terceiro presidente do Ipea do governo Lula. É o primeiro a usar os métodos que usa. No instituto, todo mundo acha normal que uma nova direção troque diretores, tire DAS, faça suas escolhas. Mas a nova direção está encurralando quem pensa diferente, com exonerações, expurgos, retirada de dinheiro de pesquisa, interrupção de trabalhos em andamento, suspensão de convênios e o que é pior: tenta legitimar tudo o que faz levantando uma suspeita de que existia antes algo "irregular". Os convênios com a Anpec, por exemplo, sempre foram a ligação do Ipea com todos os cursos de pós-graduação do país. O Ipea vive em regime de intervenção. O clima está "indigesto", define um dos vários economistas com quem a coluna conversou. A produção caiu, estudos foram interrompidos, há pessoas valiosas fazendo as malas, como o Ricardo Paes de Barros, considerado, dentro e fora do instituto, um gênio.
No dia da posse, Pochmann encontrou Regis Bonelli e disse:
— Professor, já te conheço de nome, espero continuar contando com a sua ajuda.
Bonelli é aposentado do Ipea, mas há anos tem feito trabalhos eventuais para o instituto. Não recebia salário. Recebia por contratos de pesquisa específicos. Estava, naquele momento, terminando um texto sobre o "Estado e o Desenvolvimento" para o novo número de "O Estado de uma Nação". O texto que entregou criticava os gastos públicos mostrando que eles não têm levado a mais desenvolvimento. Analisou 10 anos para não ser visto como crítica a um governo, mas ao Estado gastador. Não agradou. Nem esse, nem qualquer outro estudo.
O "Estado de uma Nação" foi criado no atual governo e seu objetivo é agregar o resultado das novas pesquisas do Ipea e incluir idéias surgidas fora do instituto. Quando estava quase tudo pronto, o economista Paulo Tafner foi avisado por um telefonema que estava exonerado do cargo de editor. Outra revista mais acadêmica, "Pesquisa e Planejamento Econômico", recebeu também informação de que terá novo editor.
Na semana passada, Bonelli foi chamado à sala de João Sicsú. Lá estava não o titular do cargo, mas seu assistente, Renault Michel. E o diálogo foi curioso.
— Quero lhe agradecer o trabalho que o senhor sempre fez no Ipea.
— Fiz não, ainda faço.
— O senhor fez várias coisas boas. Aliás, a única coisa boa que o Malan fez aqui foram os trabalhos com o senhor. Mas agora queremos corrigir umas irregularidades.
— Eu não faço nenhuma irregularidade e, se você quiser a minha sala, basta me avisar.
Que alguma coisa esquisita tinha começado a acontecer até os corredores do Ipea descobriram em abril, quando dois assessores do senador Marcelo Crivella entraram no prédio, pediram para falar com a diretoria de recursos humanos. Queriam saber quantos DAS tinha o Ipea.
O novo diretor do Rio é o primeiro de fora da carreira que assume o posto. Mas isso não é o relevante. O esquisito é a maneira como essa direção lida com as pessoas que estão no instituto há décadas. Ele convocou todos para sua posse. Chegou uma hora e meia atrasado, ficou alguns minutos e foi embora. O breve discurso, para uma platéia de mestres e doutores, foi patético:
— Meu nome é Sicsú. Sic-sú! O dever de casa de todos é aprender como se pronuncia o meu nome. Se quiserem alguma coisa comigo, a senha é professor. Me chamem de professor.
O "professor" tem estado muito ausente, não comparece aos seminários da casa, quase não recebe quem pede para conversar. A não ser para conversas tensas, como a que teve com Fábio Giambiagi, quando ele foi perguntar se o convênio com o BNDES seria mantido. Nela, ele não respondeu a pergunta direta. Depois é que a notícia circulou.
O convênio com o BNDES era um grande negócio para o Ipea. Por ele, o instituto tinha dois excelentes economistas, Fábio e Otávio Tourinho, sem gastar um tostão. O pretexto para afastá-los foi ridículo: de que se quer estudar "agora" o longo prazo. Mas é exatamente o que os dois sempre fizeram, como no caso dos estudos sobre previdência. Com Gervásio Rezende e Regis, o Ipea também não tinha gastos e tinha a vantagem de contar com a maturidade dos economistas. Regis Bonelli, há anos, ajuda a formação dos jovens que entram no instituto.
O esquisito é que não é uma perseguição ideológica a inimigos da política econômica. Na verdade, parece o oposto. Michel e Sicsú têm publicado artigos contra a política monetária e a política cambial. O pensamento vivo da turma pode ser resumido: eles são contra o Banco Central e a favor da gastança. Alguns dos argumentos que usam são constrangedores, pelo que revelam de desconhecimento de teoria econômica.
O ministro Mangabeira Unger avisou na posse que iria "organizar o dissenso". Está organizando o obscurantismo. Quando a notícia do expurgo chegou aos jornais, Pochmann reagiu: "Deve ser coisa orquestrada." Essa reação é um clássico do autoritarismo. A mistura de obscurantismo e autoritarismo é um filme muito velho, que o Ipea, nascido numa ditadura militar, não pensou que veria, aos 43 anos, e em plena democracia.
Transcrito de O Globo de 21/11/2007
terça-feira, 20 de novembro de 2007
808) Reflexão sobre a felicidade a partir de coisas simples...
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina, poeta de Goiás (1889-1985)
Tomei conhecimento tardiamente da frase acima de Cora Coralina e, quando dela me “apossei”, constatei que outros milhares de leitores, um tribo imensa de curiosos, professores e candidatos a poetas já a tinham incorporado em centenas de outras citações, provavelmente esparsas e incompletas. O Google “devolveu” 107 mil resultados para uma busca com essas palavras entre aspas, o que descontando as inúmeras repetições consolida, ainda assim, vasto repositório de citações de uma frase simples e no entanto imensamente poética e cativante.
Creio, como muitos outros antes de mim, que a felicidade pode estar justamente nesse ato de ensino-aprendizado, que de fato me parece uma dupla atividade, nos dois sentidos captados pela poeta de Goiás velho. Sempre aprendemos algo tentando ensinar alguma coisa a outras pessoas, pois a própria atividade docente constitui um aprendizado constante. Eu pelo menos estou sempre lendo algo para melhorar minhas aulas, trazendo novos materiais em classe, enviando artigos aos alunos, esforçando-me para que eles consigam superar o volume forçosamente limitado daquilo que é humanamente possível transmitir em sala de aula.
Eu me permitiria acrescentar à singela constatação da poeta goiana uma outra fonte de felicidade, que aliás está implícita no se sentido do ensino: o hábito da leitura. Aproveito para transcrever uma outra frase, de um escritor e dramaturgo conhecido, autor reputado popular, ainda que personalidade sabidamente complicada:
“Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer e com alegria”. Ariano Suassuna.
Creio poder dizer que eu não tenho apenas a paixão da leitura. Talvez minha atitude esteja mais próxima da obsessão, da compulsão, um verdadeiro delirium tremens na fixação do texto escrito, qualquer que seja ele, do mais simples ao mais elaborado. Quando digo obsessão, não pretendo de forma alguma referir-me a algo doentio, fora de controle, pois sou absolutamente calmo e controlado em minhas visitas a livrarias e bibliotecas: contemplo com calma cada lombada ou capa e apenas ocasionalmente retiro um livro para consultar seu interior. Não me deixo dominar pelos livros e de forma alguma sou um bibliófilo ou mesmo um colecionador de livros. Na verdade, não consigo me enquadrar em nenhuma categoria dessas que supostamente compõem o mundo dos amantes de livros.
Para começar, não tenho nenhum respeito pelos livros, nenhuma devoção especial, nenhum cuidado em manuseá-los ou guardá-los (muito mal, por sinal, pois acabo me perdendo na selva de livros que constitui minha caótica biblioteca, se é que ela merece mesmo esse título). Os livros, para mim, são objetos de uso, de consumo, de manuseio indiferente, eles não valem que pelo seu conteúdo, como instrumentos de aquisição de um saber, que este sim, eu reputo indispensável a uma vida merecedora de ser vivida.
Não hesitaria um só instante em trocar todos os meus livros por versões eletrônicas, se e quando esse formato se revelar mais cômodo e mais interessante ao manuseio e leitura. Não hesito em sacrificar um livro se devo lê-lo em condições inadequadas, pois o que vale é o que podemos capturar em seu interior, não sua aparência externa ou sua conservação impecável. Ou seja, não sou um colecionador de livros, sou um “colhedor” de leituras, um agricultor da página impressa, um cultivador do texto editado, eventualmente também um semeador de conhecimento a partir dessas leituras contínuas.
De fato, o que me permite ser professor, resenhista de livros (tudo menos profissional, já que só resenho os livros que desejo) e, talvez até, um escrevinhador contumaz, antes que de sucesso, é esse hábito arraigado da leitura ininterrupta, em toda e qualquer circunstância, para grande desespero de familiares e outros “convivas”. Estou sempre lendo, algumas vezes até quando dirijo carro – o que, sinceramente, não recomendo –, mas ainda não encontrei um livro impermeável à água para leitura na ducha (na banheira seria mais fácil, mas não tenho paciência para esse tipo de prática).
Creio que a felicidade pode ser encontrada nesse tipo de coisas simples: um bom livro, uma boa música, um ambiente acolhedor, um sofá confortável, o que, confesso, raramente acontece comigo. Acabo lendo na mesa do computador, segurando o livro com a perna e teclando de modo desajeitado ao anotar coisas para registro escrito do que li. Aliás, as duas mesas de trabalho que existem em meu escritório, já não comportam mais nenhum livro: as pilhas se acumulam dos dois lados do teclado, e a outra mesa já está alta de jornais, revistas e livros, muitos livros, que também se esparramam pelo chão, como as batatinhas daquele poema infantil.
Leitor anárquico que sou, tenho livros em processo de leitura espalhados pelos diversos cômodos da casa, um pouco em todas as partes, novamente para desespero dos familiares. Não creio que venha a mudar agora esses maus hábitos. O que me deixa mesmo pensativo é a dúvida sobre quantos anos ainda terei pela frente para “liquidar” todos os livros (meus e de outras procedências), que aguardam leitura. Preciso de mais 80 ou 100...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 1838: 19 novembro 2007
Cora Coralina, poeta de Goiás (1889-1985)
Tomei conhecimento tardiamente da frase acima de Cora Coralina e, quando dela me “apossei”, constatei que outros milhares de leitores, um tribo imensa de curiosos, professores e candidatos a poetas já a tinham incorporado em centenas de outras citações, provavelmente esparsas e incompletas. O Google “devolveu” 107 mil resultados para uma busca com essas palavras entre aspas, o que descontando as inúmeras repetições consolida, ainda assim, vasto repositório de citações de uma frase simples e no entanto imensamente poética e cativante.
Creio, como muitos outros antes de mim, que a felicidade pode estar justamente nesse ato de ensino-aprendizado, que de fato me parece uma dupla atividade, nos dois sentidos captados pela poeta de Goiás velho. Sempre aprendemos algo tentando ensinar alguma coisa a outras pessoas, pois a própria atividade docente constitui um aprendizado constante. Eu pelo menos estou sempre lendo algo para melhorar minhas aulas, trazendo novos materiais em classe, enviando artigos aos alunos, esforçando-me para que eles consigam superar o volume forçosamente limitado daquilo que é humanamente possível transmitir em sala de aula.
Eu me permitiria acrescentar à singela constatação da poeta goiana uma outra fonte de felicidade, que aliás está implícita no se sentido do ensino: o hábito da leitura. Aproveito para transcrever uma outra frase, de um escritor e dramaturgo conhecido, autor reputado popular, ainda que personalidade sabidamente complicada:
“Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer e com alegria”. Ariano Suassuna.
Creio poder dizer que eu não tenho apenas a paixão da leitura. Talvez minha atitude esteja mais próxima da obsessão, da compulsão, um verdadeiro delirium tremens na fixação do texto escrito, qualquer que seja ele, do mais simples ao mais elaborado. Quando digo obsessão, não pretendo de forma alguma referir-me a algo doentio, fora de controle, pois sou absolutamente calmo e controlado em minhas visitas a livrarias e bibliotecas: contemplo com calma cada lombada ou capa e apenas ocasionalmente retiro um livro para consultar seu interior. Não me deixo dominar pelos livros e de forma alguma sou um bibliófilo ou mesmo um colecionador de livros. Na verdade, não consigo me enquadrar em nenhuma categoria dessas que supostamente compõem o mundo dos amantes de livros.
Para começar, não tenho nenhum respeito pelos livros, nenhuma devoção especial, nenhum cuidado em manuseá-los ou guardá-los (muito mal, por sinal, pois acabo me perdendo na selva de livros que constitui minha caótica biblioteca, se é que ela merece mesmo esse título). Os livros, para mim, são objetos de uso, de consumo, de manuseio indiferente, eles não valem que pelo seu conteúdo, como instrumentos de aquisição de um saber, que este sim, eu reputo indispensável a uma vida merecedora de ser vivida.
Não hesitaria um só instante em trocar todos os meus livros por versões eletrônicas, se e quando esse formato se revelar mais cômodo e mais interessante ao manuseio e leitura. Não hesito em sacrificar um livro se devo lê-lo em condições inadequadas, pois o que vale é o que podemos capturar em seu interior, não sua aparência externa ou sua conservação impecável. Ou seja, não sou um colecionador de livros, sou um “colhedor” de leituras, um agricultor da página impressa, um cultivador do texto editado, eventualmente também um semeador de conhecimento a partir dessas leituras contínuas.
De fato, o que me permite ser professor, resenhista de livros (tudo menos profissional, já que só resenho os livros que desejo) e, talvez até, um escrevinhador contumaz, antes que de sucesso, é esse hábito arraigado da leitura ininterrupta, em toda e qualquer circunstância, para grande desespero de familiares e outros “convivas”. Estou sempre lendo, algumas vezes até quando dirijo carro – o que, sinceramente, não recomendo –, mas ainda não encontrei um livro impermeável à água para leitura na ducha (na banheira seria mais fácil, mas não tenho paciência para esse tipo de prática).
Creio que a felicidade pode ser encontrada nesse tipo de coisas simples: um bom livro, uma boa música, um ambiente acolhedor, um sofá confortável, o que, confesso, raramente acontece comigo. Acabo lendo na mesa do computador, segurando o livro com a perna e teclando de modo desajeitado ao anotar coisas para registro escrito do que li. Aliás, as duas mesas de trabalho que existem em meu escritório, já não comportam mais nenhum livro: as pilhas se acumulam dos dois lados do teclado, e a outra mesa já está alta de jornais, revistas e livros, muitos livros, que também se esparramam pelo chão, como as batatinhas daquele poema infantil.
Leitor anárquico que sou, tenho livros em processo de leitura espalhados pelos diversos cômodos da casa, um pouco em todas as partes, novamente para desespero dos familiares. Não creio que venha a mudar agora esses maus hábitos. O que me deixa mesmo pensativo é a dúvida sobre quantos anos ainda terei pela frente para “liquidar” todos os livros (meus e de outras procedências), que aguardam leitura. Preciso de mais 80 ou 100...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 1838: 19 novembro 2007
sábado, 17 de novembro de 2007
807) Um retrato dos nossos "estudantes"
Abaixo uma demanda, surpreendente, para mim, mas provavelmente nao inédita nesse tipo de "mercado", recebida pelo link de contato do meu site, e mais abaixo a minha resposta.
Começo a ficar estarrecido com a desfaçatez de certos jovens estudantes...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Begin forwarded message:
From: xxx
Date: 17 de novembro de 2007 12h23min41s GMT-02:00
To: paulomre@gmail.com
Subject: Formulario do SITE Paulo Roberto de Almeida: Sem assunto
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Gleida B
Cidade: VITORIA
Estado: ES
Email: xxx
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Estou precisando da RESENHA ANALÍTICA do livro “O Mal-Estar da Pós Modernidade”, de Zygmunt Balman, nas normas da ABNT, com no mínimo 15 laudas sem transcrição de texto, e respondendo na conclusão: Qual é o mal-estar pós moderno?
Caso vc tenha, preciso para o inicio de dezembro/07. Quanto custa? Qual a forma de pagamento? Como será entregue, impresso ou email?
Estarei no aguardo.
Obrigada.
===========
Não estou nesse mercado, e surpreende-me que voce, sem saber ou sem sequer se interessar em saber se o meu site é comercial, já começa encomendando -- melhor, determinando -- o trabalho e já tratando dos aspectos "contratuais".
Parece que a mediocridade crescente do sistema de ensino está sendo completada pela preguiça congenital de certos estudantes...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
On 17/11/2007, at 14:30, gxxxxxx@oi.com.br wrote:
Vc tem toda razão.
Mas não deveria julgar "quem vc não conhece".
Isso sim é uma mediocridade.
Valeu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
==========
Você não devia ter respondido de maneira tão grosseira.
Isso me obriga a postar a sua mensagem no meu blog...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Começo a ficar estarrecido com a desfaçatez de certos jovens estudantes...
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Paulo Roberto de Almeida
Begin forwarded message:
From: xxx
Date: 17 de novembro de 2007 12h23min41s GMT-02:00
To: paulomre@gmail.com
Subject: Formulario do SITE Paulo Roberto de Almeida: Sem assunto
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Gleida B
Cidade: VITORIA
Estado: ES
Email: xxx
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Estou precisando da RESENHA ANALÍTICA do livro “O Mal-Estar da Pós Modernidade”, de Zygmunt Balman, nas normas da ABNT, com no mínimo 15 laudas sem transcrição de texto, e respondendo na conclusão: Qual é o mal-estar pós moderno?
Caso vc tenha, preciso para o inicio de dezembro/07. Quanto custa? Qual a forma de pagamento? Como será entregue, impresso ou email?
Estarei no aguardo.
Obrigada.
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Não estou nesse mercado, e surpreende-me que voce, sem saber ou sem sequer se interessar em saber se o meu site é comercial, já começa encomendando -- melhor, determinando -- o trabalho e já tratando dos aspectos "contratuais".
Parece que a mediocridade crescente do sistema de ensino está sendo completada pela preguiça congenital de certos estudantes...
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
On 17/11/2007, at 14:30, gxxxxxx@oi.com.br wrote:
Vc tem toda razão.
Mas não deveria julgar "quem vc não conhece".
Isso sim é uma mediocridade.
Valeu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Você não devia ter respondido de maneira tão grosseira.
Isso me obriga a postar a sua mensagem no meu blog...
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
806) Por que o Brasil nunca teve um Nobel?
Por que nunca ganhamos o Nobel?
16/11/2007
Um dos termômetros dos rumos da ciência é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito anualmente na primeira quinzena de outubro. Em sua coluna desta semana, o biólogo Jerry Borges explica como são escolhidos os agraciados com o mais prestigioso prêmio de ciência. O colunista discute ainda fatores que ajudam a explicar por que o Brasil nunca teve um ganhador dessa láurea.
-------------
Por que nunca ganhamos o Nobel?
Colunista explica como são escolhidos os ganhadores do mais prestigioso prêmio científico
(Foto) O químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), cuja herança financia o mais prestigioso prêmio científico do mundo (foto: Gösta Florman).
Anualmente, um dos termômetros dos rumos científicos da humanidade é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito na primeira quinzena de outubro em Estocolmo, capital da Suécia. O prêmio é concedido pela fundação criada pelo químico e engenheiro sueco Alfred Nobel (1833-1896), com fundos amealhados após a criação de 355 patentes e de indústrias em cerca de 20 países. Nobel, porém, também costuma ser lembrado pela invenção e pelo patenteamento da dinamite.
Entre a repercussão atual da premiação criada por ele e a acolhida inicial de sua iniciativa, ocorreu uma enorme mudança de atitude por parte da sociedade. A divulgação do testamento de apenas uma página de Alfred Nobel em 27 de novembro de 1895 recebeu críticas contundentes, inclusive da realeza sueca, que não compreendia os motivos para que a quase totalidade de sua enorme fortuna fosse empenhada na criação de um prêmio para agraciar pessoas – inclusive estrangeiros – que tivessem contribuído para o progresso cientifico. A influência e o sucesso atual dos prêmios Nobel mostram, no entanto, que ele foi um visionário que compreendeu que o progresso da humanidade está muito além de nações e raças.
Cinco categorias do prêmio – física, fisiologia e medicina, química, literatura e paz – foram instituídas originalmente no testamento de Nobel e concedidas a partir de 1901. O prêmio de economia foi criado posteriormente em memória de Nobel pelo Banco Central Sueco e é concedido desde 1968.
A presença de prêmios para literatura e paz pode, à primeira vista, parecer estranha para uma fundação criada por alguém que inventou a dinamite, que contribuiu para a evolução armamentista. Contudo, uma análise da vida de Nobel indica que ele era também alguém interessado nos destinos da humanidade e na cultura e que, inclusive, escrevia poemas e peças teatrais.
O processo de escolha
As premiações da Fundação Nobel são concedidas por seis comitês independentes, que analisam os candidatos às premiações em cada uma das áreas. Apesar de serem auxiliados por assessores externos, esses comitês são compostos por um número reduzido de pessoas. O comitê de química, por exemplo, é formado por apenas oito membros. Os membros desses comitês têm mandatos renováveis de três anos e, em sua grande maioria, são professores universitários que, durante parte do ano, são remunerados para exercerem essa “atividade extra”.
Os nomes desses candidatos são sugeridos por organizações representativas de suas áreas, que atuam em seus países natais ou nos locais onde eles fizeram sua carreira. Todas as propostas a serem analisadas devem ser enviadas a Estocolmo antes do inicio de fevereiro. Embora esse número varie de ano a ano, podem concorrer a um prêmio algumas centenas de candidatos a cada edição.
(Foto) Sede da Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo. Essa instituição indica os membros do comitê que seleciona os ganhadores do Nobel nas categorias física, química e economia (foto: Wikimedia Commons).
Obviamente esses comitês recebem pressões sutis vindas das mais diversas instâncias, pois, atualmente, ganhar essa honraria é algo que não é apenas significativo para os agraciados, mas também para sua instituição e até para seu país. É quase como se estivesse sendo decidida uma medalha de ouro olímpica ou a Copa do Mundo!
Após o exame das sugestões, uma série de candidatos promissores é selecionada e, então, são conduzidas avaliações mais detalhadas. Os procedimentos para a outorga dos prêmios e os nomes dos candidatos são secretos e as atas das reuniões das comissões permanecem sob sigilo durante 50 anos. Outra característica do Nobel é que não podem ser concedidos prêmios póstumos, a menos que o agraciado tenha falecido durante a análise dos candidatos.
Dinheiro e prestígio
Os agraciados recebem, além de um diploma e uma medalha, entregues em um jantar solene com a família real sueca, uma quantia de cerca de 1,5 milhões de dólares. Além disso, o prêmio representa prestígio e maiores oportunidades de se obterem verbas de vulto para o financiamento de pesquisas.
Porém, dificilmente o Nobel vai para um cientista novo na sua área: trata-se provavelmente de um nome consagrado, que já teve seu trabalho reconhecido inúmeras vezes. O prêmio é, portanto, apenas uma etapa – talvez culminante – de uma vida dedicada à ciência. Deve também de ser enfatizado que, atualmente, o sucesso de algum cientista depende do número de colaborações e intercâmbios que esse profissional tem com outros grupos de pesquisa em seu país e no exterior, assim como a qualidade da equipe na qual ele está inserido. Portanto, apesar de termos um único cientista premiado (ou, quando muito, dois ou três), seu sucesso deve ser compartilhado com sua equipe: pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, técnicos de laboratório etc.
Apesar de ter um componente político, a escolha anual dos agraciados na imensa maioria dos casos é técnica e procura contemplar pesquisas básicas que tenham contribuído para desenvolver uma determinada área do conhecimento humano. Uma exceção a essa regra é o Nobel da paz que, freqüentemente, procura sinalizar uma posição política especifica. Nesse sentido, por exemplo, foram agraciados o Papa João Paulo II, o ex-presidente americano Jimmy Carter, o Dalai Lama e, neste ano, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), envolvidos na luta contra o aquecimento global.
Dos 779 prêmios concedidos até hoje para indivíduos e 19 para organizações, cerca da metade foi para os Estados Unidos (305) e para a Grã-Bretanha (114). Porém, 64 países como o Vietnã, as Ilhas Faroe, Gana, Nigéria, Timor Leste, Guatemala e Venezuela já tiveram laureados pelo Nobel.
(Foto) O físico brasileiro Cesar Lattes (1924-2005) é freqüentemente citado como um brasileiro que merecia ter levado o Nobel de física. Lattes integrou a equipe que descobriu o méson pi e obteve a partícula em laboratório. Clique na imagem para ler um perfil de Lattes.
O predomínio dos Estados Unidos se fez notar sobretudo após a debandada em massa de cientistas europeus para esse país após a ascensão dos nazistas na Alemanha em 1933. Contudo, deve ser lembrado que o sucesso continua até hoje, graças ao investimento maciço desse país em instituições científicas com metas claras a serem alcançadas em médio e longo prazo. Esses investimentos em ciência e tecnologia são feitos sempre com base em uma filosofia pragmática e competitiva de gerenciamento e na descentralização das pesquisas realizadas em universidades e centros privados e públicos de pesquisa.
E o Brasil?
Neste ano, mais uma vez acompanhamos o anúncio do Nobel sem qualquer candidato brasileiro agraciado com o prêmio. Será que por aqui não somos capazes de fazer ciência de qualidade? Ou será que não temos ainda sorte ou influência para que um nome brasileiro seja selecionado por uma das comissões avaliadoras dos candidatos ao Nobel?
A segunda opção parece a mais correta. Alberto Santos-Dumont (1873-1932), pioneiro da aviação, Cesar Lattes (1924-2005), um dos descobridores do méson pi, Carlos Chagas (1879-1934), que descreveu a doença que leva seu nome, Oswaldo Cruz (1872-1917), que comandou a reforma sanitária do Rio de Janeiro, o romancista João Guimarães Rosa (1908-1967), o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o ativista dos direitos humanos Herbert de Sousa (1935-1997) são apenas alguns nomes, entre outros tantos, que poderiam ter sido agraciados com a premiação.
Além deles, existe atualmente uma série de cientistas e cidadãos competentíssimos que poderiam aspirar à láurea. Contudo, nosso país não é o único injustiçado. Basta lembra que o russo naturalizado americano George Gamow (1904-1968), um dos pais da teoria do Big Bang, o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e o inventor americano (1847-1931) Thomas Edison nunca ganharam um Nobel. E mesmo o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) foi preterido pelo comitê do Nobel, apesar ter sido candidato por cinco vezes.
Se na atual conjuntura de nosso país alguém for escolhido, seria apenas uma feliz coincidência – ou talvez um trabalho isolado feito por alguém de qualidade excepcional. Contudo, sabemos que a escolha de um laureado com o Nobel só será possível se houver de maneira constante um investimento em ciência e tecnologia e uma mudança na postura política que passe a encarar a educação e a ciência com outros olhos e como um instrumento para o crescimento do país. No Brasil, por enquanto, infelizmente ainda estamos longe disso...
Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
16/11/2007
SUGESTÕES PARA LEITURA
Espmark, K. The Nobel Prize in Literature. A Study of the Criteria behind the Choices. Boston: G.K. Hall & Co, 1991.
Feldman, B. The Nobel Prize: A History of Genius, Controversy, and Prestige. New York: Arcade, 2000.
Levinovitz, A.W., Ringertz, N. The Nobel Prize: The First 100 Years. London: Imperial College Press and World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd., 2001.
The Nobel Foundation: http://nobelprize.org/nobelfoundation/index.html
16/11/2007
Um dos termômetros dos rumos da ciência é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito anualmente na primeira quinzena de outubro. Em sua coluna desta semana, o biólogo Jerry Borges explica como são escolhidos os agraciados com o mais prestigioso prêmio de ciência. O colunista discute ainda fatores que ajudam a explicar por que o Brasil nunca teve um ganhador dessa láurea.
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Por que nunca ganhamos o Nobel?
Colunista explica como são escolhidos os ganhadores do mais prestigioso prêmio científico
(Foto) O químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), cuja herança financia o mais prestigioso prêmio científico do mundo (foto: Gösta Florman).
Anualmente, um dos termômetros dos rumos científicos da humanidade é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito na primeira quinzena de outubro em Estocolmo, capital da Suécia. O prêmio é concedido pela fundação criada pelo químico e engenheiro sueco Alfred Nobel (1833-1896), com fundos amealhados após a criação de 355 patentes e de indústrias em cerca de 20 países. Nobel, porém, também costuma ser lembrado pela invenção e pelo patenteamento da dinamite.
Entre a repercussão atual da premiação criada por ele e a acolhida inicial de sua iniciativa, ocorreu uma enorme mudança de atitude por parte da sociedade. A divulgação do testamento de apenas uma página de Alfred Nobel em 27 de novembro de 1895 recebeu críticas contundentes, inclusive da realeza sueca, que não compreendia os motivos para que a quase totalidade de sua enorme fortuna fosse empenhada na criação de um prêmio para agraciar pessoas – inclusive estrangeiros – que tivessem contribuído para o progresso cientifico. A influência e o sucesso atual dos prêmios Nobel mostram, no entanto, que ele foi um visionário que compreendeu que o progresso da humanidade está muito além de nações e raças.
Cinco categorias do prêmio – física, fisiologia e medicina, química, literatura e paz – foram instituídas originalmente no testamento de Nobel e concedidas a partir de 1901. O prêmio de economia foi criado posteriormente em memória de Nobel pelo Banco Central Sueco e é concedido desde 1968.
A presença de prêmios para literatura e paz pode, à primeira vista, parecer estranha para uma fundação criada por alguém que inventou a dinamite, que contribuiu para a evolução armamentista. Contudo, uma análise da vida de Nobel indica que ele era também alguém interessado nos destinos da humanidade e na cultura e que, inclusive, escrevia poemas e peças teatrais.
O processo de escolha
As premiações da Fundação Nobel são concedidas por seis comitês independentes, que analisam os candidatos às premiações em cada uma das áreas. Apesar de serem auxiliados por assessores externos, esses comitês são compostos por um número reduzido de pessoas. O comitê de química, por exemplo, é formado por apenas oito membros. Os membros desses comitês têm mandatos renováveis de três anos e, em sua grande maioria, são professores universitários que, durante parte do ano, são remunerados para exercerem essa “atividade extra”.
Os nomes desses candidatos são sugeridos por organizações representativas de suas áreas, que atuam em seus países natais ou nos locais onde eles fizeram sua carreira. Todas as propostas a serem analisadas devem ser enviadas a Estocolmo antes do inicio de fevereiro. Embora esse número varie de ano a ano, podem concorrer a um prêmio algumas centenas de candidatos a cada edição.
(Foto) Sede da Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo. Essa instituição indica os membros do comitê que seleciona os ganhadores do Nobel nas categorias física, química e economia (foto: Wikimedia Commons).
Obviamente esses comitês recebem pressões sutis vindas das mais diversas instâncias, pois, atualmente, ganhar essa honraria é algo que não é apenas significativo para os agraciados, mas também para sua instituição e até para seu país. É quase como se estivesse sendo decidida uma medalha de ouro olímpica ou a Copa do Mundo!
Após o exame das sugestões, uma série de candidatos promissores é selecionada e, então, são conduzidas avaliações mais detalhadas. Os procedimentos para a outorga dos prêmios e os nomes dos candidatos são secretos e as atas das reuniões das comissões permanecem sob sigilo durante 50 anos. Outra característica do Nobel é que não podem ser concedidos prêmios póstumos, a menos que o agraciado tenha falecido durante a análise dos candidatos.
Dinheiro e prestígio
Os agraciados recebem, além de um diploma e uma medalha, entregues em um jantar solene com a família real sueca, uma quantia de cerca de 1,5 milhões de dólares. Além disso, o prêmio representa prestígio e maiores oportunidades de se obterem verbas de vulto para o financiamento de pesquisas.
Porém, dificilmente o Nobel vai para um cientista novo na sua área: trata-se provavelmente de um nome consagrado, que já teve seu trabalho reconhecido inúmeras vezes. O prêmio é, portanto, apenas uma etapa – talvez culminante – de uma vida dedicada à ciência. Deve também de ser enfatizado que, atualmente, o sucesso de algum cientista depende do número de colaborações e intercâmbios que esse profissional tem com outros grupos de pesquisa em seu país e no exterior, assim como a qualidade da equipe na qual ele está inserido. Portanto, apesar de termos um único cientista premiado (ou, quando muito, dois ou três), seu sucesso deve ser compartilhado com sua equipe: pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, técnicos de laboratório etc.
Apesar de ter um componente político, a escolha anual dos agraciados na imensa maioria dos casos é técnica e procura contemplar pesquisas básicas que tenham contribuído para desenvolver uma determinada área do conhecimento humano. Uma exceção a essa regra é o Nobel da paz que, freqüentemente, procura sinalizar uma posição política especifica. Nesse sentido, por exemplo, foram agraciados o Papa João Paulo II, o ex-presidente americano Jimmy Carter, o Dalai Lama e, neste ano, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), envolvidos na luta contra o aquecimento global.
Dos 779 prêmios concedidos até hoje para indivíduos e 19 para organizações, cerca da metade foi para os Estados Unidos (305) e para a Grã-Bretanha (114). Porém, 64 países como o Vietnã, as Ilhas Faroe, Gana, Nigéria, Timor Leste, Guatemala e Venezuela já tiveram laureados pelo Nobel.
(Foto) O físico brasileiro Cesar Lattes (1924-2005) é freqüentemente citado como um brasileiro que merecia ter levado o Nobel de física. Lattes integrou a equipe que descobriu o méson pi e obteve a partícula em laboratório. Clique na imagem para ler um perfil de Lattes.
O predomínio dos Estados Unidos se fez notar sobretudo após a debandada em massa de cientistas europeus para esse país após a ascensão dos nazistas na Alemanha em 1933. Contudo, deve ser lembrado que o sucesso continua até hoje, graças ao investimento maciço desse país em instituições científicas com metas claras a serem alcançadas em médio e longo prazo. Esses investimentos em ciência e tecnologia são feitos sempre com base em uma filosofia pragmática e competitiva de gerenciamento e na descentralização das pesquisas realizadas em universidades e centros privados e públicos de pesquisa.
E o Brasil?
Neste ano, mais uma vez acompanhamos o anúncio do Nobel sem qualquer candidato brasileiro agraciado com o prêmio. Será que por aqui não somos capazes de fazer ciência de qualidade? Ou será que não temos ainda sorte ou influência para que um nome brasileiro seja selecionado por uma das comissões avaliadoras dos candidatos ao Nobel?
A segunda opção parece a mais correta. Alberto Santos-Dumont (1873-1932), pioneiro da aviação, Cesar Lattes (1924-2005), um dos descobridores do méson pi, Carlos Chagas (1879-1934), que descreveu a doença que leva seu nome, Oswaldo Cruz (1872-1917), que comandou a reforma sanitária do Rio de Janeiro, o romancista João Guimarães Rosa (1908-1967), o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o ativista dos direitos humanos Herbert de Sousa (1935-1997) são apenas alguns nomes, entre outros tantos, que poderiam ter sido agraciados com a premiação.
Além deles, existe atualmente uma série de cientistas e cidadãos competentíssimos que poderiam aspirar à láurea. Contudo, nosso país não é o único injustiçado. Basta lembra que o russo naturalizado americano George Gamow (1904-1968), um dos pais da teoria do Big Bang, o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e o inventor americano (1847-1931) Thomas Edison nunca ganharam um Nobel. E mesmo o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) foi preterido pelo comitê do Nobel, apesar ter sido candidato por cinco vezes.
Se na atual conjuntura de nosso país alguém for escolhido, seria apenas uma feliz coincidência – ou talvez um trabalho isolado feito por alguém de qualidade excepcional. Contudo, sabemos que a escolha de um laureado com o Nobel só será possível se houver de maneira constante um investimento em ciência e tecnologia e uma mudança na postura política que passe a encarar a educação e a ciência com outros olhos e como um instrumento para o crescimento do país. No Brasil, por enquanto, infelizmente ainda estamos longe disso...
Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
16/11/2007
SUGESTÕES PARA LEITURA
Espmark, K. The Nobel Prize in Literature. A Study of the Criteria behind the Choices. Boston: G.K. Hall & Co, 1991.
Feldman, B. The Nobel Prize: A History of Genius, Controversy, and Prestige. New York: Arcade, 2000.
Levinovitz, A.W., Ringertz, N. The Nobel Prize: The First 100 Years. London: Imperial College Press and World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd., 2001.
The Nobel Foundation: http://nobelprize.org/nobelfoundation/index.html
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
805) Pausa para um trabalho escolar...
...involuntariamente humorístico (pelo menos é o que eu penso):
Pergunta de trabalho escolar:
04) Qual a função do apóstrofo?
Resposta de um gênio anônimo:
"Apóstrofos são os amigos de jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Michelângelo fotografou".
Atenção para o "jesus" (sic), para a jantinha (resic) e o nome do "fotógrafo" (trisic).
Absolutamente genial...
Digno do prêmio igNobel...
Pergunta de trabalho escolar:
04) Qual a função do apóstrofo?
Resposta de um gênio anônimo:
"Apóstrofos são os amigos de jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Michelângelo fotografou".
Atenção para o "jesus" (sic), para a jantinha (resic) e o nome do "fotógrafo" (trisic).
Absolutamente genial...
Digno do prêmio igNobel...
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
804) Pausa para a poesia: Mario de Andrade
Sempre tive paixão por duas estrofes, tão somente, deste poema de Mario de Andrade:
"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."
Agora o poema por inteiro:
O POETA COME AMENDOIM
Mário de Andrade (1924)
Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...
Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."
Agora o poema por inteiro:
O POETA COME AMENDOIM
Mário de Andrade (1924)
Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...
Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...
Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
803) Lições da historia: a derrocada do dólar
A coluna diaria do jornalista econômico Luis Nassif trouxe hoje, 8.11.2007, as ponderações que reproduzo abaixo sobre a queda do dólar e possíveis conflitos derivados disso.
Respondi com outras ponderacoes, que seguem in fine.
Creio que o tema é de interesse geral, por isso reproduzo o que escrevi em particular ao jornalista...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
On 08/11/2007, at 10:33, Agência Dinheiro Vivo wrote:
Racionalidade – 1
Entre as duas Guerras, as principais nações do mundo partiram para um novo arranjo, a Liga das Nações, com a missão de evitar novas guerras. O ponto central do raciocínio dos países é que uma guerra era algo tão irracional que a própria racionalidade de incumbiria de impedir novas conflagrações. Tudo se resolveria com os países sendo democráticos e a racionalidade vinda das eleições se impondo sobre os erros.
Racionalidade – 2
Como se recorda, a Liga ainda compartilhava dessa fantasia quando a Alemanha começou a se armar, como reação às indenizações de guerra que lhe eram cobradas. E poucos anos depois, o mundo entrava em uma guerra muito mais letal, que envolveu praticamente toda a humanidade. Desde então, o estudo da política internacional abriu mão dessa visão de que os atos são conduzidos pela razão.
Racionalidade – 3
Digo isso a respeito da atual situação internacional, desse aparente equilíbrio de interesses que mantém as reservas da China financiando os déficits dos Estados Unidos. Segundo essa visão, jamais a China deixaria de financiar porque jogaria o mundo em uma crise da qual nenhum país sairia incólume. Mais uma vez, uma aposta em uma racionalidade que não costuma imperar em todos os momentos da história.
Racionalidade – 4
É por isso que o dólar ontem voltou a chacoalhar, com o euro batendo em US$ 1,47. O principal fato foram boatos de que parlamentares chineses teriam defendido que a China diversificasse suas reservas internacionais, reduzindo a proporção de dólares. Somados aos problemas dos bancos americanos e à contínua queda da cotação do dólar, o solavanco acabou afetando grande parte das bolsas internacionais.
==============
Meu caro Luis Nassif,
Suas ponderacoes são corretas no geral, mas acredito que pouco adaptadas ao particular.
Os grandes enfrentamentos belicos do seculo XX foram de fato precipitados pela ausencia de entendimento entre as grandes potencias quanto ao grau de acesso a mercados e da coordenacao economica necessaria para enfrentar crises eventuais dos seus sistemas.
A Alemanha era culpada pela Primeira Guerra, teve de pagar mais do que podia, e o resto é aquela historia que o Keynes, como bom profeta neste caso, ja tinha previsto desde 1919, na propria Conferencia da Paz de Versalhes.
A situacao atual não tem a mesma conotacao: ninguem está obrigando ninguem a pagar nada, apenas se discutem desequilibrios macroeconomicos que poderiam ser resolvidos num G8 ampliado à China, mas que nao vao ser, pois nenhum governante gosta de impor sacrificios ao seu povo (vide Protocolo de Quioto e a postura dos EUA).
A consequencia disse é o dolar vai continuar escorregando, tao ou mais rapidamente quanto os chineses facam isso que alguns recomendam: diversifiquem reservas para o euro. A consequencia vai ser uma queda ainda mais rapida do dolar, o que vai ser bom para o mundo e para os proprios EUA: vao ser obrigados a fazer um ajuste mais rapido (pois estao sendo irresponsaveis ate o momento) e suas exportacoes vao se tornar competitivas, tirando mercado dos europeus e japoneses e diminuindo a atratividade dos produtos chineses.
Por outro lado, os chineses ja tem muito dinheiro e algum patrimonio nos EUA, e por isso nao pretendem atirar nos proprios pes. Desvalorizar seus proprios ativos é coisa de malucos,e acho que os chineses não são tão malucos assim...
Dai que o mundo nao vai evoluir para algo tao dramatico como os anos 1930, mas para algo mais benigno, que será uma administracao compartilhada (e dificil) dos sacrificios.
Pensar historicamente nao significa achar que o que veio antes vai se reproduzir novamente.
O abraco do
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Respondi com outras ponderacoes, que seguem in fine.
Creio que o tema é de interesse geral, por isso reproduzo o que escrevi em particular ao jornalista...
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Paulo Roberto de Almeida
On 08/11/2007, at 10:33, Agência Dinheiro Vivo wrote:
Racionalidade – 1
Entre as duas Guerras, as principais nações do mundo partiram para um novo arranjo, a Liga das Nações, com a missão de evitar novas guerras. O ponto central do raciocínio dos países é que uma guerra era algo tão irracional que a própria racionalidade de incumbiria de impedir novas conflagrações. Tudo se resolveria com os países sendo democráticos e a racionalidade vinda das eleições se impondo sobre os erros.
Racionalidade – 2
Como se recorda, a Liga ainda compartilhava dessa fantasia quando a Alemanha começou a se armar, como reação às indenizações de guerra que lhe eram cobradas. E poucos anos depois, o mundo entrava em uma guerra muito mais letal, que envolveu praticamente toda a humanidade. Desde então, o estudo da política internacional abriu mão dessa visão de que os atos são conduzidos pela razão.
Racionalidade – 3
Digo isso a respeito da atual situação internacional, desse aparente equilíbrio de interesses que mantém as reservas da China financiando os déficits dos Estados Unidos. Segundo essa visão, jamais a China deixaria de financiar porque jogaria o mundo em uma crise da qual nenhum país sairia incólume. Mais uma vez, uma aposta em uma racionalidade que não costuma imperar em todos os momentos da história.
Racionalidade – 4
É por isso que o dólar ontem voltou a chacoalhar, com o euro batendo em US$ 1,47. O principal fato foram boatos de que parlamentares chineses teriam defendido que a China diversificasse suas reservas internacionais, reduzindo a proporção de dólares. Somados aos problemas dos bancos americanos e à contínua queda da cotação do dólar, o solavanco acabou afetando grande parte das bolsas internacionais.
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Meu caro Luis Nassif,
Suas ponderacoes são corretas no geral, mas acredito que pouco adaptadas ao particular.
Os grandes enfrentamentos belicos do seculo XX foram de fato precipitados pela ausencia de entendimento entre as grandes potencias quanto ao grau de acesso a mercados e da coordenacao economica necessaria para enfrentar crises eventuais dos seus sistemas.
A Alemanha era culpada pela Primeira Guerra, teve de pagar mais do que podia, e o resto é aquela historia que o Keynes, como bom profeta neste caso, ja tinha previsto desde 1919, na propria Conferencia da Paz de Versalhes.
A situacao atual não tem a mesma conotacao: ninguem está obrigando ninguem a pagar nada, apenas se discutem desequilibrios macroeconomicos que poderiam ser resolvidos num G8 ampliado à China, mas que nao vao ser, pois nenhum governante gosta de impor sacrificios ao seu povo (vide Protocolo de Quioto e a postura dos EUA).
A consequencia disse é o dolar vai continuar escorregando, tao ou mais rapidamente quanto os chineses facam isso que alguns recomendam: diversifiquem reservas para o euro. A consequencia vai ser uma queda ainda mais rapida do dolar, o que vai ser bom para o mundo e para os proprios EUA: vao ser obrigados a fazer um ajuste mais rapido (pois estao sendo irresponsaveis ate o momento) e suas exportacoes vao se tornar competitivas, tirando mercado dos europeus e japoneses e diminuindo a atratividade dos produtos chineses.
Por outro lado, os chineses ja tem muito dinheiro e algum patrimonio nos EUA, e por isso nao pretendem atirar nos proprios pes. Desvalorizar seus proprios ativos é coisa de malucos,e acho que os chineses não são tão malucos assim...
Dai que o mundo nao vai evoluir para algo tao dramatico como os anos 1930, mas para algo mais benigno, que será uma administracao compartilhada (e dificil) dos sacrificios.
Pensar historicamente nao significa achar que o que veio antes vai se reproduzir novamente.
O abraco do
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Paulo Roberto de Almeida
802) Energia: previsoes preocupantes da AIE-OCDE para 2030
L'Agence internationale de l'énergie qualifie l'envolée des besoins d'"alarmante"
LE MONDE, 07.11.07
La croissance économique de la Chine et de l'Inde – gourmande en pétrole et en charbon – est en train de "transformer le système énergétique mondial". Si l'on y ajoute la consommation des autres pays émergents et des nations industrialisées, les retombées de la hausse "effrénée" de la demande d'énergie sont "alarmantes" – à la fois incompatibles avec l'impératif de renforcer la sécurité des approvisionnements et de réduire les émissions de gaz à effet de serre. Ce sont les principales conclusions du "World Energy Outlook 2007", le rapport annuel de l'Agence internationale de l'énergie (AIE) rendu public, mercredi 7 novembre, à Londres.
Les experts de l'agence, qui ont élaboré un scénario de référence (sans changement de politique) et un scénario alternatif (plus économe en énergie) à l'horizon 2030, reconnaissent l'"aspiration légitime" des 2,5 milliards d'habitants des deux géants asiatiques à plus de bien-être. C'est donc à une mobilisation mondiale qu'appelle l'AIE, un organisme créé en 1974 à l'initiative des Etats-Unis pour défendre les intérêts des grands pays consommateurs.
Sans vigoureuse inflexion politique, les besoins augmenteront de 55 % dans les vingt-cinq ans à un rythme moyen de 1,8 % par an, les énergies fossiles représentant 84 % de cette hausse, très loin devant le nucléaire et les renouvelables. Et, avec eux, les émissions d'oxyde de carbone (+57 %). En outre, cette tendance entraînera une "dépendance accrue" des pays consommateurs aux hydrocarbures du Moyen-Orient et de Russie.
L'AIE souligne que le défi de "tous" les pays est donc de s'engager dans une "transition" visant à "décarboniser" l'énergie pour émettre moins de CO2, ce qui permettrait au passage de sécuriser les approvisionnements. "Nulle part ailleurs la tâche ne sera plus ardue, ni plus importante pour le reste du monde, qu'en Chine et en Inde", prévient l'agence, tout en reconnaissant que les émissions de CO2 par Chinois ne représenteront encore que 40 % de celles d'un Américain.
Quelques chiffres donnent la mesure de l'enjeu. La Chine, où la demande devrait plus que doubler (+3,2 % par an) d'ici à 2030, deviendra le premier consommateur d'énergie peu après 2010, détrônant les Etats-Unis. Ses besoins en pétrole quadrupleront, surtout pour alimenter un parc automobile qui comptera 270 millions de véhicules. En outre, le charbon restera la principale source d'alimentation de ses centrales électriques, l'obligeant à en importer massivement alors qu'elle possède déjà d'énormes réserves.
"URGENCE D'AGIR"
Les besoins de l'Inde, eux aussi, feront plus que doubler durant la période. Consommation de houille multipliée par trois, moindre utilisation de la biomasse, de l'électricité pour 96 % de la population contre 62 % aujourd'hui : tout concourt à l'importation d'énergie. Le pays deviendra avant 2025 le troisième importateur net de pétrole, derrière les Etats-Unis et la Chine, et le troisième émetteur de CO2.
Les prévisions à vingt-cinq ans sont difficiles, notamment sur la disponibilité des ressources. Le pétrole ne manquera pas, affirme l'AIE, campant sur un optimisme jugé excessif par de nombreux experts. En 2030, elle estime que la production atteindra 116 millions de barils par jour (32 millions de plus qu'en 2006), et que la part de l'Organisation des pays exportateurs de pétrole (OPEP) passera de 42 % à 52 %.
Mais l'AIE juge que la hausse continue de la demande est "une menace réelle et de plus en plus grave pour la sécurité énergétique de la planète". Elle n'exclut pas, avant 2015, "une crise du côté de l'offre, qui s'accompagnerait d'une envolée des cours pétroliers", et prévient qu'"il sera extrêmement difficile d'assurer des approvisionnements fiables à des prix abordables". D'autant qu'une part croissante du brut servira au transport, pour lequel il n'existe pas de substitut.
Malgré la hausse des prix, la consommation s'accroîtra donc et les pays producteurs ne seront pas incités à investir, les tensions offre-demande maintenant l'afflux de dollars dans les pétromonarchies.
Autre facteur de risque, mais aussi de développement économique : l'accroissement des échanges pétroliers. Ils passeront de 41 millions de barils par jour en 2006 à 65 millions en 2030 (dont 13 millions importés en Chine), alors que l'offre sera plus concentrée dans les pays instables du Moyen-Orient d'où sont parties toutes les crises pétrolières des dernières décennies.
L'AIE pense que la Chine et l'Inde sont désormais conscientes qu'une course effrénée aux gisements d'or noir (Afrique, Asie centrale…) ne les prémunit pas contre une crise d'approvisionnement, et que la sécurité passe aussi par un bon fonctionnement du marché pétrolier.
L'AIE conclut sur l'"urgence d'agir" pour sauver la planète des retombées désastreuses du réchauffement. Si les Etats mettaient en œuvre les mesures qu'ils préconisent eux-mêmes, un recul de 19 % des émissions par rapport au scénario tendanciel serait possible en 2030. Encore insuffisant pour éviter une élévation moyenne de 2,40 des températures mondiales (le scénario bas du Groupe intergouvernemental d'experts sur l'évolution du climat) dans la seconde moitié du XXIe siècle.
Mais pour y parvenir, il faudrait un usage plus rationnel des énergies fossiles, une augmentation de la part du nucléaire, la généralisation du captage-stockage du CO2. Bref, des "avancées technologiques sans précédent" et "une action exceptionnellement rapide et vigoureuse" des gouvernements. La place grandissante de la Chine et de l'Inde devrait les inciter à passer des belles paroles aux actes, conclut l'AIE.
Jean-Michel Bezat
LE MONDE, 07.11.07
La croissance économique de la Chine et de l'Inde – gourmande en pétrole et en charbon – est en train de "transformer le système énergétique mondial". Si l'on y ajoute la consommation des autres pays émergents et des nations industrialisées, les retombées de la hausse "effrénée" de la demande d'énergie sont "alarmantes" – à la fois incompatibles avec l'impératif de renforcer la sécurité des approvisionnements et de réduire les émissions de gaz à effet de serre. Ce sont les principales conclusions du "World Energy Outlook 2007", le rapport annuel de l'Agence internationale de l'énergie (AIE) rendu public, mercredi 7 novembre, à Londres.
Les experts de l'agence, qui ont élaboré un scénario de référence (sans changement de politique) et un scénario alternatif (plus économe en énergie) à l'horizon 2030, reconnaissent l'"aspiration légitime" des 2,5 milliards d'habitants des deux géants asiatiques à plus de bien-être. C'est donc à une mobilisation mondiale qu'appelle l'AIE, un organisme créé en 1974 à l'initiative des Etats-Unis pour défendre les intérêts des grands pays consommateurs.
Sans vigoureuse inflexion politique, les besoins augmenteront de 55 % dans les vingt-cinq ans à un rythme moyen de 1,8 % par an, les énergies fossiles représentant 84 % de cette hausse, très loin devant le nucléaire et les renouvelables. Et, avec eux, les émissions d'oxyde de carbone (+57 %). En outre, cette tendance entraînera une "dépendance accrue" des pays consommateurs aux hydrocarbures du Moyen-Orient et de Russie.
L'AIE souligne que le défi de "tous" les pays est donc de s'engager dans une "transition" visant à "décarboniser" l'énergie pour émettre moins de CO2, ce qui permettrait au passage de sécuriser les approvisionnements. "Nulle part ailleurs la tâche ne sera plus ardue, ni plus importante pour le reste du monde, qu'en Chine et en Inde", prévient l'agence, tout en reconnaissant que les émissions de CO2 par Chinois ne représenteront encore que 40 % de celles d'un Américain.
Quelques chiffres donnent la mesure de l'enjeu. La Chine, où la demande devrait plus que doubler (+3,2 % par an) d'ici à 2030, deviendra le premier consommateur d'énergie peu après 2010, détrônant les Etats-Unis. Ses besoins en pétrole quadrupleront, surtout pour alimenter un parc automobile qui comptera 270 millions de véhicules. En outre, le charbon restera la principale source d'alimentation de ses centrales électriques, l'obligeant à en importer massivement alors qu'elle possède déjà d'énormes réserves.
"URGENCE D'AGIR"
Les besoins de l'Inde, eux aussi, feront plus que doubler durant la période. Consommation de houille multipliée par trois, moindre utilisation de la biomasse, de l'électricité pour 96 % de la population contre 62 % aujourd'hui : tout concourt à l'importation d'énergie. Le pays deviendra avant 2025 le troisième importateur net de pétrole, derrière les Etats-Unis et la Chine, et le troisième émetteur de CO2.
Les prévisions à vingt-cinq ans sont difficiles, notamment sur la disponibilité des ressources. Le pétrole ne manquera pas, affirme l'AIE, campant sur un optimisme jugé excessif par de nombreux experts. En 2030, elle estime que la production atteindra 116 millions de barils par jour (32 millions de plus qu'en 2006), et que la part de l'Organisation des pays exportateurs de pétrole (OPEP) passera de 42 % à 52 %.
Mais l'AIE juge que la hausse continue de la demande est "une menace réelle et de plus en plus grave pour la sécurité énergétique de la planète". Elle n'exclut pas, avant 2015, "une crise du côté de l'offre, qui s'accompagnerait d'une envolée des cours pétroliers", et prévient qu'"il sera extrêmement difficile d'assurer des approvisionnements fiables à des prix abordables". D'autant qu'une part croissante du brut servira au transport, pour lequel il n'existe pas de substitut.
Malgré la hausse des prix, la consommation s'accroîtra donc et les pays producteurs ne seront pas incités à investir, les tensions offre-demande maintenant l'afflux de dollars dans les pétromonarchies.
Autre facteur de risque, mais aussi de développement économique : l'accroissement des échanges pétroliers. Ils passeront de 41 millions de barils par jour en 2006 à 65 millions en 2030 (dont 13 millions importés en Chine), alors que l'offre sera plus concentrée dans les pays instables du Moyen-Orient d'où sont parties toutes les crises pétrolières des dernières décennies.
L'AIE pense que la Chine et l'Inde sont désormais conscientes qu'une course effrénée aux gisements d'or noir (Afrique, Asie centrale…) ne les prémunit pas contre une crise d'approvisionnement, et que la sécurité passe aussi par un bon fonctionnement du marché pétrolier.
L'AIE conclut sur l'"urgence d'agir" pour sauver la planète des retombées désastreuses du réchauffement. Si les Etats mettaient en œuvre les mesures qu'ils préconisent eux-mêmes, un recul de 19 % des émissions par rapport au scénario tendanciel serait possible en 2030. Encore insuffisant pour éviter une élévation moyenne de 2,40 des températures mondiales (le scénario bas du Groupe intergouvernemental d'experts sur l'évolution du climat) dans la seconde moitié du XXIe siècle.
Mais pour y parvenir, il faudrait un usage plus rationnel des énergies fossiles, une augmentation de la part du nucléaire, la généralisation du captage-stockage du CO2. Bref, des "avancées technologiques sans précédent" et "une action exceptionnellement rapide et vigoureuse" des gouvernements. La place grandissante de la Chine et de l'Inde devrait les inciter à passer des belles paroles aux actes, conclut l'AIE.
Jean-Michel Bezat
terça-feira, 6 de novembro de 2007
801) Sobre os lucros exorbitantes dos bancos
Sobre os Lucros Extraordinários dos Bancos
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
O jornalista Heródoto Barbeiro entrevistou-me hoje, 6/11/2007, pela manhã, em seu programa da Rádio CBN, “Jornal da CBN, Primeira Edição”. Muitas pessoas me contataram, depois da entrevista, para dizer que tinham gostado do que eu disse e perguntaram-me se eu tinha gravado o programa. Não, não gravei, mas tendo em vista o interesse que a matéria despertou, acabei escrevendo a essência do que eu disse nos parágrafos abaixo.
Os balanços dos cinco primeiros bancos brasileiros apresentaram, nos três primeiros trimestres de 2007, lucros extraordinários, talvez mesmo excepcionais no plano mundial, uma vez que eles representam, simplesmente, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2006. Ao final de 2007, com a realização de novos ganhos esperados, derivados da venda de ativos e de aplicações nos mercados de ações, é possível, ou talvez até seja muito provável, que esses lucros sejam 100% superiores aos resultados globais de 2006, com o que o governo Lula daria um excelente, mais do que generoso, presente de Natal aos banqueiros. Mas, verificando os números, vemos que o Papai Noel dos banqueiros praticamente já chegou, deixando os demais setores da economia babando de inveja. Como foi isso possível?
Sim: como se explicam esses resultados, em face de ganhos bem mais modestos em outros setores da economia, na indústria ou na agropecuária, por exemplo? Se vocês perguntarem as razões dessa excepcional bonança financeira a algum economista da Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, ele dirá, provavelmente, que as fontes dos ganhos radicam num conjunto positivo de fatores conjugados, de fato inéditos em perspectiva histórica, um tal de “nunca antes” registrado no Brasil: o comportamento favorável da economia, a conjuntura de crescimento em todos os setores, impulsionado pelo aumento do crédito, pelo consumo das famílias, pela confiança dos consumidores, pelas boas políticas macroeconômicas do governo, enfim, sendo modesto em causa própria, pela excelente gestão executiva do setor financeiro.
Trata-se de uma explicação fácil que, se ela revela algumas das fontes dos ganhos, certamente não explica adequadamente as razões dos lucros excepcionais. Se vocês perguntarem, alternativamente, a algum economista de esquerda, ele dirá que os banqueiros continuam a sugar recursos do setor real da economia, que eles são os verdadeiros gigolôs dos brasileiros, com suas taxas de juros excessivas e spreads inaceitáveis nas diversas linhas de crédito. Tampouco essa “acusação” está de todo errada, embora, como no primeiro caso, isso não explique exatamente as fontes dos lucros bancários, excepcionais a qualquer título e para qualquer padrão normal de funcionamento da atividade bancária em países “normais”.
Não, por favor, não peçam nenhuma explicação a algum economista do PT ou mesmo a um senador-economista da nobre bancada parlamentar desse partido: eles simplesmente não estão disponíveis para esse tipo de explicação, pelo menos não desde os gloriosos tempos em que eles se deleitavam em apontar a perniciosa “financeirização” do sistema econômico brasileiro, seja lá o que isso queira dizer e que raios de deformação representaria exatamente esse conceito. O fato é que, em nossos tempos modernos, os economistas petistas se converteram nos aliados mais fiéis do “capitalismo financeiro monopolista”. Monopólio: aí está, talvez, uma das fontes dos ganhos exorbitantes. Curioso que os economistas e dirigentes do PT não se dediquem a desmontar um dos mais rendosos monopólios conhecidos no Brasil desde os tempos do... pau-brasil.
De fato, o lucro extraordinário dos bancos não é nada extraordinário neste país de grandes lucros para grupos que atuam em colusão, visando arrancar renda do resto da população. Creio que não é segredo, nem uma novidade para ninguém, constatar que nosso sistema bancário constitui um dos setores mais oligopolizados e cartelizados da economia nacional. Em vista da concentração bancária extraordinária, não são nada extraordinários, portanto, os altos retornos da intermediação financeira, ou melhor, da “financeirização” do Brasil. Curioso mesmo é o fato fenomenal desse fenômeno desenvolver-se extraordinariamente num governo todo ele voltado para o “social”. Enfim, todos têm direito às suas pequenas contradições filosóficas.
Neste caso específico, trata-se, contudo, de uma gigantesca contradição, não apenas filosófica, mas sobretudo prática, porque os bancos não são apenas os “gigolôs” da sociedade – como diria a saudosa Heloísa Helena –, eles o são, em primeiro lugar, do próprio governo, que lhes remunera generosamente (mas, como há de desconfiar o leitor, somos nós que pagamos). Os bancos são o que são, na economia nacional, em função, basicamente, de trabalharem com o próprio governo, principalmente por meio de aplicações em títulos da dívida pública, que, como todo mundo sabe, remuneram pela SELIC (Serviço Especial de Liquidação e Custódia, mas que poderia levar um nome mais poético, condizente com sua verdadeira função). A despeito dessa taxa ter baixado (oh, que horror) seis pontos no último ano – cada ponto, para tristeza dos banqueiros, lhes retira quase R$ 200 milhões de remuneração fácil – ela, ainda assim, permanece num patamar elevado: a taxa real de 8% é o dobro da taxa de juros média vigente no mundo.
Depois desse grande sorvedouro da poupança privada, processo no qual o governo compete deslealmente com o setor produtivo – sendo ele, de fato, um “despoupador” líquido da renda nacional –, o fator mais importante, em segundo lugar, é o sistema do crédito direto, ele também oligopolizado, of course. Não sei se o nobre leitor (e consumidor) faz alguma idéia do quanto estamos sendo tosquiados, literalmente, pelo sistema de crédito ao consumidor, que se manifesta cada vez que vamos a uma loja de departamentos comprar um bem manufaturado. Estamos aqui em face de uma alquimia jamais conhecida pelos malucos renascentistas da pedra filosofal, que pretendiam transformar os mais vis metais em ouro puro. Eles bem que fariam em tomar uma “máquina do tempo” e fazer um curso rápido com a Febraban.
Os banqueiros amigos do governo tomam dinheiro lá fora – sim, porque aqui dentro isto seria impossível – a 7 ou 8% ao ano e repassam aqui dentro a 100% (ou bem mais ainda, no caso dos cartões de crédito). O que acontece depois deveria chocar as almas mais sensíveis: o incauto consumidor é obrigado a pagar o dobro do preço da mercadoria, yes, o dobro. Trata-se de um típico assalto à mão armada, que se manifesta da forma mais singela possível: é quando a vendedora lhe diz, simpaticamente aliás, que você pode levar o produto num sistema de crédito que lhe contempla, generosamente, com essa maravilha das “seis vezes sem juros”.
Ora, isso representaria chamar aos mais atilados – que são todos os que lêem estas linhas –, de idiotas, pois todos sabemos que não existe essa “coisa de ‘n’ vezes sem juros”. Como diria Milton Friedman, there is no such thing as a free lunch, e se alguém lhe oferecer um, é porque um outro está pagando por isso (no caso você mesmo, esperto leitor). Alto lá, protesta você junto à mocinha da loja: “eu não quero pagar em seis vezes, prefiro comprar à vista”. Bem, mas neste caso, “o preço é o mesmo”, lhe responde ela, sempre sorrindo. Você vai ser ainda mais idiota, e dar todo esse dinheiro ao dono da loja, de uma vez só? Frustrado, você aceita “comprar a prazo”.
Quando você compra um tal produto, caro leitor, na verdade, o que você está comprando é o financiamento, a mais de 100%, claro. O produto é o que menos importa em toda a operação. Esse assalto à mão armada, feito com a total conivência do governo, é o que permite aos bancos os lucros extraordinários que eles têm. Isso só existe porque o Brasil não é um país normal, sendo adepto daquilo que eu já chamei de “teoria da jabuticaba”.
Vejamos a teoria pelo lado do orçamento público. Em qualquer país normal, um governo normalmente constituído, por pessoa não “jabuticabais”, contempla os recursos de que dispõe e realiza a adequação das despesas globais ao volume de receitas previstas, efetivamente. Só no Brasil é que ocorre exatamente o inverso desse processo: o governo primeiro fixa as despesas e só depois vai buscar as receitas onde elas mais existem, ou seja, nos bolsos dos cidadãos e nos caixas das empresas. Aliás, ele nem precisa fazê-lo de modo compulsório: com impostos “eficientes” como a CPMF e os descontos em folha, o dinheiro pinga nas arcas do Tesouro sem que o governo faça o mínimo esforço de ir buscá-lo. Os fiscais servem, em grande medida, para achacar grandes e médios contribuintes, apenas na parte dos impostos declaratórios. Toda essa informalidade, caro leitor, é provocada pelo governo: é ele quem expulsa empresas e cidadãos para o submundo econômico da informalidade, contra a vontade deles.
Com o sistema de crédito ocorre algo similar. Ele não existe, como em países normais, para financiar uma compra qualquer, segundo princípios consagrados do mercado. Ele existe, de fato, para achacar o consumidor, que somos todos nós. Em qualquer país normal, se você deseja comprar uma mercadoria, deveria ter o preço bem à vista, para então decidir se pode, ou não, comprar “à vista”. Em caso negativo, aquele preço é majorado em função de um financiamento anual, com taxas de juros absolutamente transparentes, como ocorre em países normais.
No caso do Brasil, não é bem isso que acontece. O sistema financeiro aplica, na verdade, o sistema inverso: ele calcula quanto o típico cidadão médio – com salário abaixo de 800 reais – pode pagar por mês – digamos 50 reais – e o resto da operação é montado em cima disso, com taxas de juros MENSAIS absolutamente extorsivas. Está feita toda a mágica: com taxas de juros embutidas, banqueiros e lojistas fazem com que você necessariamente pague por dois televisores, mas é claro que você só consegue levar um deles para casa, pois ninguém é bobo nesse sistema jabuticabal. Sinto muito ofendê-lo, caro leitor, mas isso se aplica a mim também: os bancos e os lojistas estão nos chamando de idiotas, com a conivência do governo, é claro, que não coíbe esse tipo de prática que engana os mais humildes e nos torna reféns de um sistema espoliativo.
Compreendeu agora, caro leitor, a teoria da jabuticaba financeira, que permite esses lucros extraordinários aos banqueiros?
Se você estiver interessado em ter mais exemplos da teoria da jabuticaba, eu lhe recomendaria este texto meu e pediria, ao mesmo tempo, que me remetesse mais casos para a minha coleção:
“Teoria da jabuticaba, II: estudos de casos”, no site do Instituto Millenium em 5/07/2006.
Texto rascunhado em 6.11 e revisto em 10.11.2007.
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
O jornalista Heródoto Barbeiro entrevistou-me hoje, 6/11/2007, pela manhã, em seu programa da Rádio CBN, “Jornal da CBN, Primeira Edição”. Muitas pessoas me contataram, depois da entrevista, para dizer que tinham gostado do que eu disse e perguntaram-me se eu tinha gravado o programa. Não, não gravei, mas tendo em vista o interesse que a matéria despertou, acabei escrevendo a essência do que eu disse nos parágrafos abaixo.
Os balanços dos cinco primeiros bancos brasileiros apresentaram, nos três primeiros trimestres de 2007, lucros extraordinários, talvez mesmo excepcionais no plano mundial, uma vez que eles representam, simplesmente, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2006. Ao final de 2007, com a realização de novos ganhos esperados, derivados da venda de ativos e de aplicações nos mercados de ações, é possível, ou talvez até seja muito provável, que esses lucros sejam 100% superiores aos resultados globais de 2006, com o que o governo Lula daria um excelente, mais do que generoso, presente de Natal aos banqueiros. Mas, verificando os números, vemos que o Papai Noel dos banqueiros praticamente já chegou, deixando os demais setores da economia babando de inveja. Como foi isso possível?
Sim: como se explicam esses resultados, em face de ganhos bem mais modestos em outros setores da economia, na indústria ou na agropecuária, por exemplo? Se vocês perguntarem as razões dessa excepcional bonança financeira a algum economista da Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, ele dirá, provavelmente, que as fontes dos ganhos radicam num conjunto positivo de fatores conjugados, de fato inéditos em perspectiva histórica, um tal de “nunca antes” registrado no Brasil: o comportamento favorável da economia, a conjuntura de crescimento em todos os setores, impulsionado pelo aumento do crédito, pelo consumo das famílias, pela confiança dos consumidores, pelas boas políticas macroeconômicas do governo, enfim, sendo modesto em causa própria, pela excelente gestão executiva do setor financeiro.
Trata-se de uma explicação fácil que, se ela revela algumas das fontes dos ganhos, certamente não explica adequadamente as razões dos lucros excepcionais. Se vocês perguntarem, alternativamente, a algum economista de esquerda, ele dirá que os banqueiros continuam a sugar recursos do setor real da economia, que eles são os verdadeiros gigolôs dos brasileiros, com suas taxas de juros excessivas e spreads inaceitáveis nas diversas linhas de crédito. Tampouco essa “acusação” está de todo errada, embora, como no primeiro caso, isso não explique exatamente as fontes dos lucros bancários, excepcionais a qualquer título e para qualquer padrão normal de funcionamento da atividade bancária em países “normais”.
Não, por favor, não peçam nenhuma explicação a algum economista do PT ou mesmo a um senador-economista da nobre bancada parlamentar desse partido: eles simplesmente não estão disponíveis para esse tipo de explicação, pelo menos não desde os gloriosos tempos em que eles se deleitavam em apontar a perniciosa “financeirização” do sistema econômico brasileiro, seja lá o que isso queira dizer e que raios de deformação representaria exatamente esse conceito. O fato é que, em nossos tempos modernos, os economistas petistas se converteram nos aliados mais fiéis do “capitalismo financeiro monopolista”. Monopólio: aí está, talvez, uma das fontes dos ganhos exorbitantes. Curioso que os economistas e dirigentes do PT não se dediquem a desmontar um dos mais rendosos monopólios conhecidos no Brasil desde os tempos do... pau-brasil.
De fato, o lucro extraordinário dos bancos não é nada extraordinário neste país de grandes lucros para grupos que atuam em colusão, visando arrancar renda do resto da população. Creio que não é segredo, nem uma novidade para ninguém, constatar que nosso sistema bancário constitui um dos setores mais oligopolizados e cartelizados da economia nacional. Em vista da concentração bancária extraordinária, não são nada extraordinários, portanto, os altos retornos da intermediação financeira, ou melhor, da “financeirização” do Brasil. Curioso mesmo é o fato fenomenal desse fenômeno desenvolver-se extraordinariamente num governo todo ele voltado para o “social”. Enfim, todos têm direito às suas pequenas contradições filosóficas.
Neste caso específico, trata-se, contudo, de uma gigantesca contradição, não apenas filosófica, mas sobretudo prática, porque os bancos não são apenas os “gigolôs” da sociedade – como diria a saudosa Heloísa Helena –, eles o são, em primeiro lugar, do próprio governo, que lhes remunera generosamente (mas, como há de desconfiar o leitor, somos nós que pagamos). Os bancos são o que são, na economia nacional, em função, basicamente, de trabalharem com o próprio governo, principalmente por meio de aplicações em títulos da dívida pública, que, como todo mundo sabe, remuneram pela SELIC (Serviço Especial de Liquidação e Custódia, mas que poderia levar um nome mais poético, condizente com sua verdadeira função). A despeito dessa taxa ter baixado (oh, que horror) seis pontos no último ano – cada ponto, para tristeza dos banqueiros, lhes retira quase R$ 200 milhões de remuneração fácil – ela, ainda assim, permanece num patamar elevado: a taxa real de 8% é o dobro da taxa de juros média vigente no mundo.
Depois desse grande sorvedouro da poupança privada, processo no qual o governo compete deslealmente com o setor produtivo – sendo ele, de fato, um “despoupador” líquido da renda nacional –, o fator mais importante, em segundo lugar, é o sistema do crédito direto, ele também oligopolizado, of course. Não sei se o nobre leitor (e consumidor) faz alguma idéia do quanto estamos sendo tosquiados, literalmente, pelo sistema de crédito ao consumidor, que se manifesta cada vez que vamos a uma loja de departamentos comprar um bem manufaturado. Estamos aqui em face de uma alquimia jamais conhecida pelos malucos renascentistas da pedra filosofal, que pretendiam transformar os mais vis metais em ouro puro. Eles bem que fariam em tomar uma “máquina do tempo” e fazer um curso rápido com a Febraban.
Os banqueiros amigos do governo tomam dinheiro lá fora – sim, porque aqui dentro isto seria impossível – a 7 ou 8% ao ano e repassam aqui dentro a 100% (ou bem mais ainda, no caso dos cartões de crédito). O que acontece depois deveria chocar as almas mais sensíveis: o incauto consumidor é obrigado a pagar o dobro do preço da mercadoria, yes, o dobro. Trata-se de um típico assalto à mão armada, que se manifesta da forma mais singela possível: é quando a vendedora lhe diz, simpaticamente aliás, que você pode levar o produto num sistema de crédito que lhe contempla, generosamente, com essa maravilha das “seis vezes sem juros”.
Ora, isso representaria chamar aos mais atilados – que são todos os que lêem estas linhas –, de idiotas, pois todos sabemos que não existe essa “coisa de ‘n’ vezes sem juros”. Como diria Milton Friedman, there is no such thing as a free lunch, e se alguém lhe oferecer um, é porque um outro está pagando por isso (no caso você mesmo, esperto leitor). Alto lá, protesta você junto à mocinha da loja: “eu não quero pagar em seis vezes, prefiro comprar à vista”. Bem, mas neste caso, “o preço é o mesmo”, lhe responde ela, sempre sorrindo. Você vai ser ainda mais idiota, e dar todo esse dinheiro ao dono da loja, de uma vez só? Frustrado, você aceita “comprar a prazo”.
Quando você compra um tal produto, caro leitor, na verdade, o que você está comprando é o financiamento, a mais de 100%, claro. O produto é o que menos importa em toda a operação. Esse assalto à mão armada, feito com a total conivência do governo, é o que permite aos bancos os lucros extraordinários que eles têm. Isso só existe porque o Brasil não é um país normal, sendo adepto daquilo que eu já chamei de “teoria da jabuticaba”.
Vejamos a teoria pelo lado do orçamento público. Em qualquer país normal, um governo normalmente constituído, por pessoa não “jabuticabais”, contempla os recursos de que dispõe e realiza a adequação das despesas globais ao volume de receitas previstas, efetivamente. Só no Brasil é que ocorre exatamente o inverso desse processo: o governo primeiro fixa as despesas e só depois vai buscar as receitas onde elas mais existem, ou seja, nos bolsos dos cidadãos e nos caixas das empresas. Aliás, ele nem precisa fazê-lo de modo compulsório: com impostos “eficientes” como a CPMF e os descontos em folha, o dinheiro pinga nas arcas do Tesouro sem que o governo faça o mínimo esforço de ir buscá-lo. Os fiscais servem, em grande medida, para achacar grandes e médios contribuintes, apenas na parte dos impostos declaratórios. Toda essa informalidade, caro leitor, é provocada pelo governo: é ele quem expulsa empresas e cidadãos para o submundo econômico da informalidade, contra a vontade deles.
Com o sistema de crédito ocorre algo similar. Ele não existe, como em países normais, para financiar uma compra qualquer, segundo princípios consagrados do mercado. Ele existe, de fato, para achacar o consumidor, que somos todos nós. Em qualquer país normal, se você deseja comprar uma mercadoria, deveria ter o preço bem à vista, para então decidir se pode, ou não, comprar “à vista”. Em caso negativo, aquele preço é majorado em função de um financiamento anual, com taxas de juros absolutamente transparentes, como ocorre em países normais.
No caso do Brasil, não é bem isso que acontece. O sistema financeiro aplica, na verdade, o sistema inverso: ele calcula quanto o típico cidadão médio – com salário abaixo de 800 reais – pode pagar por mês – digamos 50 reais – e o resto da operação é montado em cima disso, com taxas de juros MENSAIS absolutamente extorsivas. Está feita toda a mágica: com taxas de juros embutidas, banqueiros e lojistas fazem com que você necessariamente pague por dois televisores, mas é claro que você só consegue levar um deles para casa, pois ninguém é bobo nesse sistema jabuticabal. Sinto muito ofendê-lo, caro leitor, mas isso se aplica a mim também: os bancos e os lojistas estão nos chamando de idiotas, com a conivência do governo, é claro, que não coíbe esse tipo de prática que engana os mais humildes e nos torna reféns de um sistema espoliativo.
Compreendeu agora, caro leitor, a teoria da jabuticaba financeira, que permite esses lucros extraordinários aos banqueiros?
Se você estiver interessado em ter mais exemplos da teoria da jabuticaba, eu lhe recomendaria este texto meu e pediria, ao mesmo tempo, que me remetesse mais casos para a minha coleção:
“Teoria da jabuticaba, II: estudos de casos”, no site do Instituto Millenium em 5/07/2006.
Texto rascunhado em 6.11 e revisto em 10.11.2007.
sábado, 3 de novembro de 2007
800) Vida na Terra: causas e caracteristicas
Por que a Terra é o único planeta conhecido no qual existe vida?
Entenda as características que tornam tão especial o lugar onde vivemos
Ciência Hoje para as Crianças, 2 novembro 2007
A vida em outros planetas já foi tema para bons filmes de suspense, terror e até para animar terríveis ou meigos personagens, como o clássico ET. Porém, para que haja vida conforme a que existe aqui na Terra, é preciso que o planeta tenha uma série de características.
A receita da vida não é fácil. Em primeiro lugar, o candidato a planeta habitado deve ter compostos orgânicos, ou seja, substâncias que possuem carbono, um elemento químico fundamental para a composição da vida. Depois, essas substâncias devem ser combinadas com outros elementos, como a água em estado líquido e temperatura abaixo de 120°C. Isso só para começar!
Contudo, para manter a vida, essa temperatura não pode variar muito. Para isso, o planeta precisa ter o tamanho ideal, mais ou menos igual ao da Terra. É que, com este tamanho, o candidato a planeta povoado tem condições de conservar sua atmosfera – camada de ar e gases – com espessura e condição necessária para manter sua temperatura. Se for maior, há mais emissão de gases estufa e a temperatura pode se elevar muito; se for menor, ele não tem condições para manter a atmosfera e a temperatura estável ideais para o desenvolvimento da vida.
O tamanho do globo também influencia na atividade vulcânica, que fornece os gases atmosféricos importantes para manter o “efeito estufa”, que, em nível considerado normal, promove o aquecimento adequado.
Outro fator importante é a rotação – movimento que o planeta faz em torno do seu eixo. Este giro deve ser relativamente rápido, para que as temperaturas no planeta não variem muito, impedindo que a água congele ou evapore. Se esse movimento fosse mais lento não haveria estabilidade na temperatura ao longo do globo e, provavelmente, não haveria água em estado líquido, fundamental para a vida na Terra.
A distância da estrela central também precisa ser perfeita para que haja equilíbrio da temperatura, pois o brilho das estrelas apresenta variações durante sua vida. Na posição que a Terra ocupa, mesmo que a temperatura do Sol oscile, o equilíbrio térmico da atmosfera é mantido. Se estivesse mais próxima ou distante, nossa atmosfera não conseguiria equilibrar as modificações na emissão de energia de nossa estrela central.
Bem, de todos os planetas do Sistema Solar, apenas a Terra apresenta todas essas características. Mas, segundo os cientistas, em alguns grandes satélites existem elementos parecidos com os que devem ter originado a vida na Terra. Será que, no futuro, podemos ter informações surpreendentes?
Eder Cassola Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Entenda as características que tornam tão especial o lugar onde vivemos
Ciência Hoje para as Crianças, 2 novembro 2007
A vida em outros planetas já foi tema para bons filmes de suspense, terror e até para animar terríveis ou meigos personagens, como o clássico ET. Porém, para que haja vida conforme a que existe aqui na Terra, é preciso que o planeta tenha uma série de características.
A receita da vida não é fácil. Em primeiro lugar, o candidato a planeta habitado deve ter compostos orgânicos, ou seja, substâncias que possuem carbono, um elemento químico fundamental para a composição da vida. Depois, essas substâncias devem ser combinadas com outros elementos, como a água em estado líquido e temperatura abaixo de 120°C. Isso só para começar!
Contudo, para manter a vida, essa temperatura não pode variar muito. Para isso, o planeta precisa ter o tamanho ideal, mais ou menos igual ao da Terra. É que, com este tamanho, o candidato a planeta povoado tem condições de conservar sua atmosfera – camada de ar e gases – com espessura e condição necessária para manter sua temperatura. Se for maior, há mais emissão de gases estufa e a temperatura pode se elevar muito; se for menor, ele não tem condições para manter a atmosfera e a temperatura estável ideais para o desenvolvimento da vida.
O tamanho do globo também influencia na atividade vulcânica, que fornece os gases atmosféricos importantes para manter o “efeito estufa”, que, em nível considerado normal, promove o aquecimento adequado.
Outro fator importante é a rotação – movimento que o planeta faz em torno do seu eixo. Este giro deve ser relativamente rápido, para que as temperaturas no planeta não variem muito, impedindo que a água congele ou evapore. Se esse movimento fosse mais lento não haveria estabilidade na temperatura ao longo do globo e, provavelmente, não haveria água em estado líquido, fundamental para a vida na Terra.
A distância da estrela central também precisa ser perfeita para que haja equilíbrio da temperatura, pois o brilho das estrelas apresenta variações durante sua vida. Na posição que a Terra ocupa, mesmo que a temperatura do Sol oscile, o equilíbrio térmico da atmosfera é mantido. Se estivesse mais próxima ou distante, nossa atmosfera não conseguiria equilibrar as modificações na emissão de energia de nossa estrela central.
Bem, de todos os planetas do Sistema Solar, apenas a Terra apresenta todas essas características. Mas, segundo os cientistas, em alguns grandes satélites existem elementos parecidos com os que devem ter originado a vida na Terra. Será que, no futuro, podemos ter informações surpreendentes?
Eder Cassola Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
799) Um site de valor: A Voz do Cidadao
Recomendo a todos este site, que apresenta inúmeras matérias do mais alto interesse para um debate bem informado sobre os problemas do Brasil e do mundo:
A Voz do Cidadão.
Veja aqui, uma lista dos artigos mais recentes.
A Voz do Cidadão.
Veja aqui, uma lista dos artigos mais recentes.
798) Conferencia nacional sobre Politica Externa
Apenas divulgando. Outras informações, neste link.
II Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional - CNPEPI
Fundação Alexandre de Gusmão
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais
O Brasil e o Mundo que vem aí”
05 e 06 de novembro de 2007
Palácio Itamaraty - Rio de Janeiro – Biblioteca
Programa
Dia 5/11/2007 - Segunda-feira
9:00hs – 11:00hs. Sessão Inaugural
Palestra Embaixador Celso Amorim
11:00hs. – 12:00hs. Debate Europa
Professor Antônio Carlos Peixoto (Cebela)
Conselheiro Ricardo Guerra
12:00hs. – 13:00hs. Debate Estados Unidos
Professor Cristina Pecequilo (UNESP)
Embaixador Everton Vieira Vargas
13:0hs. – 14:00hs. Almoço
14:00hs. – 15:00hs. Debate Rússia
Professor Daniel Aarão Reis (UFRJ)
Embaixador Carlos Augusto Santos Neves
15:00hs. – 16:00hs. Palestra Professor José Paradiso
( Universidade Nacional Três de Fevereiro Argentina)
16:00hs. – 17:00hs. Debate África
Professor José Flávio Sombra Saraiva (UnB)
Ministro Fernando Simas Magalhães
17:00hs. – 18:00hs. Debate América do Sul
Professor Darc Costa (UFRJ)
Embaixador Enio Cordeiro
18:00hs. – 19:00hs. Debate Oriente Médio
Professor Paulo Farah (USP)
Professor Eugênio Diniz (PUC BH)
Embaixador Arnaldo Carrilho
19:00hs.: Lançamento livros
“Personalidades da Política Externa Brasileira” e
“Livros para conhecer o Brasil”.
Dia 6/11/2007 - Terça –feira
8:00hs. – 9:00hs. Debate China e Índia
Professor Henrique Altemani (PUC SP)
Embaixador Roberto Jaguaribe
Mesa: Embaixador Amaury Porto de Oliveira /
9:00hs. – 11:00hs. Palestra Professor Osvaldo Sunkel
(Universidade do Chile)
11:00hs. – 12:00hs. Debate Mudança Climática
Professor Luiz Pinguelli Rosa (UFRJ)
Embaixador Sérgio Barbosa Serra
12:00hs. – 13:00hs. Debate Conselho de Segurança da ONU
Embaixador João Clemente Baena Soares (UES)
Ministro Carlos Sérgio Sobral Duarte
13:00hs. – 14:00hs. Almoço
14:00hs. – 16:00hs. Palestra Professor Gyula Csurgai
(ICGS Genebra)
16:00hs. – 17:00hs. Debate Economia Mundial
Professor Paulo Nogueira Batista Júnior
Ministro Roberto Azevedo
17:00hs. –18:00hs. Debate Energia
Professor Maurício Tiomno Tolmasquim (COPPE / UFRJ)
Embaixador Antônio José Ferreira Simões
19:00hs. Encerramento :
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
Embaixador Jeronimo Moscardo (FUNAG)
II Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional - CNPEPI
Fundação Alexandre de Gusmão
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais
O Brasil e o Mundo que vem aí”
05 e 06 de novembro de 2007
Palácio Itamaraty - Rio de Janeiro – Biblioteca
Programa
Dia 5/11/2007 - Segunda-feira
9:00hs – 11:00hs. Sessão Inaugural
Palestra Embaixador Celso Amorim
11:00hs. – 12:00hs. Debate Europa
Professor Antônio Carlos Peixoto (Cebela)
Conselheiro Ricardo Guerra
12:00hs. – 13:00hs. Debate Estados Unidos
Professor Cristina Pecequilo (UNESP)
Embaixador Everton Vieira Vargas
13:0hs. – 14:00hs. Almoço
14:00hs. – 15:00hs. Debate Rússia
Professor Daniel Aarão Reis (UFRJ)
Embaixador Carlos Augusto Santos Neves
15:00hs. – 16:00hs. Palestra Professor José Paradiso
( Universidade Nacional Três de Fevereiro Argentina)
16:00hs. – 17:00hs. Debate África
Professor José Flávio Sombra Saraiva (UnB)
Ministro Fernando Simas Magalhães
17:00hs. – 18:00hs. Debate América do Sul
Professor Darc Costa (UFRJ)
Embaixador Enio Cordeiro
18:00hs. – 19:00hs. Debate Oriente Médio
Professor Paulo Farah (USP)
Professor Eugênio Diniz (PUC BH)
Embaixador Arnaldo Carrilho
19:00hs.: Lançamento livros
“Personalidades da Política Externa Brasileira” e
“Livros para conhecer o Brasil”.
Dia 6/11/2007 - Terça –feira
8:00hs. – 9:00hs. Debate China e Índia
Professor Henrique Altemani (PUC SP)
Embaixador Roberto Jaguaribe
Mesa: Embaixador Amaury Porto de Oliveira /
9:00hs. – 11:00hs. Palestra Professor Osvaldo Sunkel
(Universidade do Chile)
11:00hs. – 12:00hs. Debate Mudança Climática
Professor Luiz Pinguelli Rosa (UFRJ)
Embaixador Sérgio Barbosa Serra
12:00hs. – 13:00hs. Debate Conselho de Segurança da ONU
Embaixador João Clemente Baena Soares (UES)
Ministro Carlos Sérgio Sobral Duarte
13:00hs. – 14:00hs. Almoço
14:00hs. – 16:00hs. Palestra Professor Gyula Csurgai
(ICGS Genebra)
16:00hs. – 17:00hs. Debate Economia Mundial
Professor Paulo Nogueira Batista Júnior
Ministro Roberto Azevedo
17:00hs. –18:00hs. Debate Energia
Professor Maurício Tiomno Tolmasquim (COPPE / UFRJ)
Embaixador Antônio José Ferreira Simões
19:00hs. Encerramento :
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
Embaixador Jeronimo Moscardo (FUNAG)
797) A reforma constitucional na Venezuela
Estamos atravessando um momento histórico na América Latina, sem querer abusar do conceito. Poucos de nós, pelo menos os que lêem este blog, tiveram a oportunidade de assistir à ascensão dos fascismos contemporâneos, de ver, concretamente, como se arma uma ditadura "constitucional" (se a expressão não é por demais contraditória).
Acredito que nenhum dos lêem este blog teve a oportunidade de assistir à construção das ditaduras mussoliniana e hitlerista, nos anos 1920 e 1930.
Pois bem, estamos tendo agora esta chance histórica, de ter um curso ao vivo, se ouso dizer, de construção de uma típica ditadura "constitucional", se é que o termo se aplica à experiência venezuelana.
Pretendo efetuar, assim que possível, uma análise econômica dos dispositivos pertinentes da "nova" constituição venezuelana, que de socialista guarda apenas o nome, pois o que se assiste é o estatismo mais exacerbado, como naquelas experiências fascistas, aliás...
Não se pode dizer, portanto, que não somos protagonistas da historia se fazendo, ainda que seja uma triste história para o povo venezuelano...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
O texto (selecionado por mim) dos dispositivos mais importantes da reforma constitucional na Venezuela, pode ser lido neste link.
Abaixo, uma simples matéria de imprensa sobre o que acaba de ser aprovado:
Assembléia da Venezuela aprova reforma constitucional
Legislativo venzuealano encaminhará o projeto para um referendo popular, que pode ocorrer já em dezembro
Agencia EFE, sexta-feira, 2 de novembro de 2007, 19:08
CARACAS - A Assembléia Nacional da Venezuela aprovou por grande maioria nesta sexta-feira, 2, um projeto de reforma constitucional que deverá perpetuar o presidente Hugo Chávez no poder, e ordenou seu envio ao Poder Eleitoral para o agendamento de um referendo popular.
Leia a íntegra:
REFORMA DE LA CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA BOLIVARIANA DE VENEZUELA
Dentre as propostas trazidas pelo projeto está a possibilidade de expropriação de terras sem a necessidade de aprovação judicial, a eliminação de qualquer autonomia do Banco Central e a redução da jornada de trabalho. Além disso, o texto cria novas modalidades de propriedade e permite a suspensão de direitos à informação e garantias durante os períodos de "estado de exceção".
Mas de todas essas, a proposta mais polêmica é a que retira limites à reeleição presidencial. Caso a reforma seja aprovada, Chávez poderá se candidatar para um terceiro mandato em 2012.
A igreja católica, grupos estudantis, empresários e partidos de oposição têm rechaçado as mudanças constitucionais, que alegam tornar vulnerável importantes direitos dos cidadãos, além de concentrar poderes para o presidente.
Hugo Chávez qualifica as mudanças de vitais para consolidar sua revolução socialista.
Na quinta-feira, centenas de manifestantes saíram às ruas de Caracas para pedir o adiamento por dois meses de um referendo a ser realizado em dezembro para que o projeto seja aprovado.
A Assembléia Nacional (parlamento unicameral venezuelano) aprovou, por maioria qualificada, o projeto de reforma de 69 dos 350 artigos da Constituição Bolivariana de 1999. Como oposição boicotou as eleições legislativas de 2005, todos os 167 membros da câmara são governistas. Apenas sete rejeitaram as propostas na votação desta sexta.
Após a votação, a presidente da Assembléia, Cilia Flores, ordenou o remetimento do projeto ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), "a fim de ativar o referendo popular".
A mesa diretora da Assembléia, acompanhada por grupos de simpatizantes de Chávez, deve entregar ainda nesta sexta-eira, o projeto de reforma constitucional ao CNE.
Medida legal
O órgão deverá realizar a consulta popular em 30 dias contados a partir do momento em que receber o documento, segundo a lei. Por isso, espera-se que o referendo aconteça em 2 de dezembro.
A proposta de reforma foi aprovada nesta sexta-feira após uma última leitura do projeto. Originalmente, o texto apresentado por Chávez em 15 de agosto tinha 33 artigos, mas ele foi ampliado para 69 pelos parlamentares.
Todos os deputados, à exceção de um punhado do partido Podemos (esquerdista), aprovaram o projeto de reforma, que consta de 69 artigos, 15 disposições transitórias, uma derrogatória e uma final.
O deputado Ismael García, do Podemos, insistiu que a magnitude das mudanças sugeridas requeria a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte, e reiterou que a maioria da população desconhece o conteúdo do projeto, alegando a necessidade de adiar a consulta popular para além de dezembro.
Acredito que nenhum dos lêem este blog teve a oportunidade de assistir à construção das ditaduras mussoliniana e hitlerista, nos anos 1920 e 1930.
Pois bem, estamos tendo agora esta chance histórica, de ter um curso ao vivo, se ouso dizer, de construção de uma típica ditadura "constitucional", se é que o termo se aplica à experiência venezuelana.
Pretendo efetuar, assim que possível, uma análise econômica dos dispositivos pertinentes da "nova" constituição venezuelana, que de socialista guarda apenas o nome, pois o que se assiste é o estatismo mais exacerbado, como naquelas experiências fascistas, aliás...
Não se pode dizer, portanto, que não somos protagonistas da historia se fazendo, ainda que seja uma triste história para o povo venezuelano...
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Paulo Roberto de Almeida
O texto (selecionado por mim) dos dispositivos mais importantes da reforma constitucional na Venezuela, pode ser lido neste link.
Abaixo, uma simples matéria de imprensa sobre o que acaba de ser aprovado:
Assembléia da Venezuela aprova reforma constitucional
Legislativo venzuealano encaminhará o projeto para um referendo popular, que pode ocorrer já em dezembro
Agencia EFE, sexta-feira, 2 de novembro de 2007, 19:08
CARACAS - A Assembléia Nacional da Venezuela aprovou por grande maioria nesta sexta-feira, 2, um projeto de reforma constitucional que deverá perpetuar o presidente Hugo Chávez no poder, e ordenou seu envio ao Poder Eleitoral para o agendamento de um referendo popular.
Leia a íntegra:
REFORMA DE LA CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA BOLIVARIANA DE VENEZUELA
Dentre as propostas trazidas pelo projeto está a possibilidade de expropriação de terras sem a necessidade de aprovação judicial, a eliminação de qualquer autonomia do Banco Central e a redução da jornada de trabalho. Além disso, o texto cria novas modalidades de propriedade e permite a suspensão de direitos à informação e garantias durante os períodos de "estado de exceção".
Mas de todas essas, a proposta mais polêmica é a que retira limites à reeleição presidencial. Caso a reforma seja aprovada, Chávez poderá se candidatar para um terceiro mandato em 2012.
A igreja católica, grupos estudantis, empresários e partidos de oposição têm rechaçado as mudanças constitucionais, que alegam tornar vulnerável importantes direitos dos cidadãos, além de concentrar poderes para o presidente.
Hugo Chávez qualifica as mudanças de vitais para consolidar sua revolução socialista.
Na quinta-feira, centenas de manifestantes saíram às ruas de Caracas para pedir o adiamento por dois meses de um referendo a ser realizado em dezembro para que o projeto seja aprovado.
A Assembléia Nacional (parlamento unicameral venezuelano) aprovou, por maioria qualificada, o projeto de reforma de 69 dos 350 artigos da Constituição Bolivariana de 1999. Como oposição boicotou as eleições legislativas de 2005, todos os 167 membros da câmara são governistas. Apenas sete rejeitaram as propostas na votação desta sexta.
Após a votação, a presidente da Assembléia, Cilia Flores, ordenou o remetimento do projeto ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), "a fim de ativar o referendo popular".
A mesa diretora da Assembléia, acompanhada por grupos de simpatizantes de Chávez, deve entregar ainda nesta sexta-eira, o projeto de reforma constitucional ao CNE.
Medida legal
O órgão deverá realizar a consulta popular em 30 dias contados a partir do momento em que receber o documento, segundo a lei. Por isso, espera-se que o referendo aconteça em 2 de dezembro.
A proposta de reforma foi aprovada nesta sexta-feira após uma última leitura do projeto. Originalmente, o texto apresentado por Chávez em 15 de agosto tinha 33 artigos, mas ele foi ampliado para 69 pelos parlamentares.
Todos os deputados, à exceção de um punhado do partido Podemos (esquerdista), aprovaram o projeto de reforma, que consta de 69 artigos, 15 disposições transitórias, uma derrogatória e uma final.
O deputado Ismael García, do Podemos, insistiu que a magnitude das mudanças sugeridas requeria a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte, e reiterou que a maioria da população desconhece o conteúdo do projeto, alegando a necessidade de adiar a consulta popular para além de dezembro.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
796) Blogs de economistas americanos
Uma recomendação, tão útil quanto qualquer outra, de blogs de economistas americanos, que retirei do Pluralist Economics Review, de novembro de 2007.
Blogs de economistas americanos:
Dean Baker
Brad DeLong
Paul Krugman
Greg Mankiw
Mark Thoma
Dani Rodrik
Naked Capitalism
Vox
Para a própria PER, clique neste link.
Blogs de economistas americanos:
Dean Baker
Brad DeLong
Paul Krugman
Greg Mankiw
Mark Thoma
Dani Rodrik
Naked Capitalism
Vox
Para a própria PER, clique neste link.