domingo, 16 de dezembro de 2007

819) Carta aberta ao chanceler Celso Amorim

Obviamente, seria bem mais interessante se as páginas dos jornais trouxessem um debate sadio, e de alto nível, sobre os rumos da política externa, em lugar desse tipo de diatribe que certamente não honra as tradições da Casa e a reputação da nossa diplomacia, mas parece que este é o reflexo do momento...
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Paulo Roberto de Almeida

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Diplomacia
Carta aberta ao chanceler Celso Amorim
Marcio Dias,
Embaixador aposentado
Jornal do Brasil, Domingo 16 de dezembro de 2007, p. A11, Opinião

Como um grande número de colegas, acompanho com desaprovação mas em silêncio a maneira como você e Samuel vêm conduzindo o Itamaraty.
Hierarquizados como somos, ainda acreditamos no velho bordão de que quem fala pela Casa é o seu Chefe. Assim, ao nos darmos conta, logo no início do Governo Lula, de quem iria dirigir a Casa nos próximos anos, muitos, como eu, preferimos aposentar-nos a seguir na ativa sob uma direção de que fatalmente discordaríamos. A propósito, nunca em momento algum do Itamaraty, houve tantos Embaixadores aposentados voluntária e precocemente.
Certo, você já havia dirigido a Casa em outra ocasião, mas as circunstâncias eram totalmente diferentes, pois não só sua chefia era mais aparência que realidade (o que muitos dizem ser novamente o caso) , mas sobretudo o Presidente era outro.
Não é o caso de concordar ou não com o Governo. Afinal, todos servimos ao país no tempo dos Governos militares, com os quais a grande maioria de nós não concordava. Mas servíamos ao Estado, nosso legítimo patrão, e não a partidos.
Com o Governo do PT e conhecendo a sua "flexibilidade", mais o viés ideológico do Samuel, vários, como eu, previmos o que estaria por acontecer e, com o espírito de disciplina da carreira, preferimos dela nos afastar, por estimarmos que viríamos a discordar frontalmente da maneira pela qual a Casa seria conduzida. Assim, eu, por exemplo, pedi minha aposentadoria mais de cinco anos antes da data compulsória.
Evidentemente não foi uma decisão fácil. Você sabe tão bem quanto eu o quanto significa para nós essa carreira, como nos dedicamos integralmente a ela. Mas absolutamente não me arrependo de havê-la deixado tão cedo, pois com meu temperamento seria muito difícil engolir calado a série de estrepolias administrativas que vêm sendo praticadas. E que já se iniciavam com a falta de legitimidade do Secretário-Geral, que não preenchia os requisitos legais para ocupar o cargo (lembro que para que o pudesse ocupar foi necessária a anulação, por meio de um artigo espúrio de medida provisória que nada tinha a ver com o Itamaraty, da exigência de haver exercido chefia de missão diplomática).
Enfim, não vou entrar em pormenores dos vários atos que estupraram as tradições da Casa, pois você certamente os conhece muito melhor do que eu.

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O PT passará, como passou

o regime militar, mas o Itamaraty

deve permanecer

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Quero ater-me a um episódio recentíssimo, o do falecimento do ex Secretário-Geral e Chanceler, e sobretudo grande Embaixador Mario Gibson Barboza. Sobre o qual você só veio a manifestar-se na undécima hora, ao aderir, na véspera, à homenagem que vários amigos, eu dentre eles, lhe prestamos com uma missa hoje na Candelária, e que, pelas melhores tradições da Casa, deveria ter sido iniciativa sua.
Caso houvesse da sua parte ou da do Samuel alguma restrição pelo fato de Gibson ter sido o Ministro de Estado de um duríssimo Governo militar, lembro a vocês que a personalidade e a autoridade moral do falecido Embaixador foram diretamente responsáveis pela manutenção da dignidade do Itamaraty naquele terrível período. Devemos a Gibson, como a alguns dos outros colegas que bem dirigiram a Casa após 1964, o fato do Itamaraty haver sido preservado tanto quanto possível da violência do regime.
Creio que você – que sempre considerei dos mais inteligentes dentre os colegas – acabou tendo o bom senso de dar um freio na iconoclastia infantil que fazia com que o Itamaraty fingisse desconhecer o desaparecimento de um dos seus melhores nomes, e viesse, finalmente, a evitar uma grosseria inexplicável e a juntar-se ao preito que lhe rendíamos os colegas.
Pois, alentado por essa demonstração de juízo, tomo a liberdade de sugerir que use essa inteligência para analisar com equilíbrio os rumos que sua gestão está dando à Casa. Para ver que o PT passará (e breve, espero), assim como passou o regime militar, mas que o Itamaraty deve permanecer. Os José Dirceus, os Marco Aurélio Garcias e outros sicários da vida são, felizmente, transitórios. O Itamaraty era, pensávamos, permanente, com suas tradições, suas invejáveis e invejadas normas administrativas.
Que você, como parece ter feito no caso do Embaixador Gibson, use de sua inteligência para deter o processo de aviltamento das tradições da carreira.
O achincalhamento a que a atual gestão submeteu a organização e os bons costumes do Ministério vai demorar décadas para ser remediado. Mas, se você utilizar sua inteligência para deter de imediato o processo e começar, na medida do possível (sei que no quadro atual não deve ser tarefa fácil) a revertê-lo, talvez dentro de uns dez a vinte anos possamos pelo menos voltar a donde estávamos no final de 2002. E daí evoluir.
Atenciosamente (embora seja norma da Casa, não dá para usar "respeitosamente" com o Ministro de Estado que está, até o momento, presidindo ao seu desmoronamento ético e profissional),

Marcio de Oliveira Dias

4 comentários:

  1. Caro Paulo Roberto Almeida,

    Muito útil o seu Blog, parabéns. Por duas vezes, os textos que eu procurava foram encontrados aqui: A nota no diário oficial sobre o concurso do IRBR 2008 e a carta aberta do embaixador Marcio Dias.

    Fiquei curioso para saber o que o senhor pensa desta última... Li o seu artigo sobre os resultados do primeiro mandato na "Carta Internacional", mas ali o senhor não fala do suposto "achincalhamento" do MRE denunciado por Marcio Dias. O senhor teria talvez outras leituras para me indicar?

    Muito grato pelas informações,

    Felipe
    antunes.1984@gmail.com

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  2. Prezado Paulo Roberto de Almeida,

    Sou estudante de engenharia mecatrônica (recém-formado na verdade, mas ingressando no mestrado) e grande apreciador deste blog, por tratar de assuntos de natureza tão próximas ao meu curso. Li seu post 819 e fiquei muito triste em relação à postura de Marcio de Oliveira Dias. Quero acreditar (e muito) que não seja um reflexo do momento, mas uma atitude pontual e imprudente de um personagem com cabeça quente. Tenho certeza que ele se desculpará quando o tempo passar. Apesar de ter 22 anos, gostaria de propor que o meio diplomático realizasse cursos de conscientização aos futuros aposentados, mostrando a importância social do comportamento público dos mesmos, já que sempre possuirão autoridade.

    Meus parabéns pelo blog,

    Lucas Sáber Rocha
    lucas.rocha@poli.usp.br

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  3. Senhor Lucas Rocha.

    Em momento algum da carta do embaixador Marcio de Oliveira Dias observei qualquer resquício de paixão ou atitude pontual como o senhor mencionou em seu comentário.
    Ao contrário. O que notei foi um misto de indignação e desrespeito. Indignação de um "subordinado" com relação ao desrespeito do seu "chefe".
    No meu entendimento, o embaixador Marcio Dias nos revela um pouco a intrincada e desconhecida relação interna desa verdadeira "caixa de pandora" que de chama Itamaraty.

    Obrigado pela atenção.

    Jorge Oliveira
    Laguna - Santa Catarina
    lunar@jorge-lunar.com

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  4. Caro falante, ou eu diria falácia.... ta cheio ai de palvroes dificeis de entender, isso pra mim que sou do povo.... eu sou um Zé Ninguém.... mas mesmo assim percebo o exagero do teu egoísmo, do teu formalismo, ecaaa, rebuscado, arghhh e as suas estripulias insensatas e linguisticamente corretasssss (?).... creio Senhor, que estejamos todos fartos dos rigores de tuas cadeiras, caldeiras, gravatas, bravatas, ridiiiiculas
    ainda por cima covarde: "Assim, ao nos darmos conta, logo no início do Governo Lula, de quem iria dirigir a Casa nos próximos anos, muitos, como eu, preferimos aposentar-nos a seguir na ativa sob uma direção de que fatalmente discordaríamos." Indicio de inveja pura.... Pensando ainda que sao eternamente os donos do Itmaraty...
    "viríamos a discordar frontalmente da maneira pela qual a Casa seria conduzida." haha, fala do Itamaraty como se falasse da sua casinha em cima da árvore, ai ai, vao mudar o rumos do brinquedinho dos engomadinhos sujos!
    "viríamos a discordar frontalmente da maneira pela qual a Casa seria conduzida."
    mudaram as regras do nosso sistema administrativo..arg: O meu verso é bom
    Frumento sem joio.
    Faço rimas com
    Consoantes de apoio.

    Vai passar o PT sim... mas saiba, idiotississimo que nós povo, Zés Ninguems, sem poderes, mas sem sermos podres elegemos o Presidente Lula!!

    Miriam Menezes

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