O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Declaração à esquerda e à direita, sobretudo à extrema-direita - Paulo Roberto de Almeida

Declaração à esquerda e à direita, sobretudo à extrema-direita

Paulo Roberto de Almeida

        Frequentemente, minhas postagens opinativas sobre temas de política interna e sobre assuntos de política externa do Brasil se tornam objeto de comentários — alguns até agressivos, outros supostamente “didáticos” —, vindos dos dois opostos do pensamento político. Alguns são apenas argumentos contrários a meus posicionamentos, embora outros são condenatórios de minha postura, que é resolutamente crítica a esses dois polos da política brasileira, havendo também quem queira me ensinar a “maneira correta” de encarar a vida política do ponto de vista extremo de quem se coloca num dos dois polos opostos (como se eu precisasse de “lições” sobre as grandes questões da governança política ou econômica no Brasil atual, um país dilacerado entre uma esquerda burra e uma direita estúpida).

        Vamos esclarecer as coisas, então. Não tenho partido ou movimento político preferencial e nunca serei membro de qualquer um, pois “partes”, com adesão estrita a certos dogmas ou posições fixas, não me interessam.

        Tampouco tenho religião, ou melhor, essa é uma questão à qual eu sou completamente alheio pessoalmente, mas não indiferente enquanto fenômeno social, ou sociológico. Alguns poderiam dizer que sou “ateu”, quando isso é completamente errado, pois não posso tomar posição contra algo etéreo, de fato incognoscível. Na verdade, sou apenas irreligioso (seja lá o que isso queira dizer) e isso me basta. Cada qual escolhe a sua religião, eu estou bem sem qualquer uma, embora saiba distinguir bem entre as humanistas e as intolerantes.

        Tampouco tenho qualquer preferência futebolística; sou indiferente a clubes e resolutamente contrário a “torcidas”, que entram na mesma categoria das “religiões”, algumas até fanáticas.

        Sou progressista nos costumes, liberal nos padrões comportamentais, anarquista em cultura, mas não me defino como liberal ou libertário em economia, pois que em políticas econômicas cabe ser pragmático, tendo em vista a complexidade dos problemas e das instituições que se ocupam de produção e distribuição; certamente abandonei o estatismo e o intervencionismo nessas matérias, que ainda exibia na juventude, tendo observado o mundo atentamente, e constatado o desastre das soluções estatais (não todas) para a solução de difíceis problemas da “economia política” no sentido do estadismo smithiniano. Abomino totalmente o nacionalismo canhestro e até me considero um defensor resoluto dos direitos individuais, contra todas as pátrias, inclusive a minha, pois que elas costumam ser a fonte de muito egoísmo e mesquinhez no trato da dignidade humana, inclusive nas questões migratórias. 

        Considero lamentável que a diplomacia profissional, à qual peertenci durante décadas, se mostre submissa a um governo que se relaciona preferencialmente muito bem com algumas das ditaduras mais execráveis do mundo, teoricamente as supostamente de “esquerda” (mesmo as fascistas, pois as há), e que é, também teoricamente, contra as de “direita” (menos algumas, que são contra os “estadunidenses”, num sectarismo atroz e numa cegueira anacrônica). 

Mas essa mesma diplomacia também se mostrou muito submissa a um dos governos mais horrendos e esquizofrênicos que já tivemos no comando da política externa nacional, mas que em matéria de “direitismo” só conseguia ser de uma estupidez monumental, sem falar da psicopatia do negacionismo científico, o que levou à morte muitos cidadãos durante a pandemia. Não preciso dizer que abomino o crápula que elogiava torturador e que dizia que a ditadura militar tinha “matado de menos”.

A esquerda costuma ser mais burra do que fanática, mas me assusta não só a estupidez da extrema-direita, como o seu ódio devotado a certas minorias ou a supostos desviantes de suas crenças fundamentalistas.

Creio que está sinteticamente dito o que eu poderia dizer a propósito dos comentários dos true believers que de vez em quando “assaltam” minhas postagens declaradamente políticas.

Louvo o humanismo e sobretudo a inteligência, que para mim é apenas o conhecimento bem aplicado, aquele que resulta do estudo contínuo e da atenta observação da realidade.

Nada mais (por enquanto) tendo a declarar, gostaria, antes de encerrar, de agradecer sinceramente a todos os comentaristas benfazejos que também frequentam várias de minhas postagens, trazendo esclarecimentos e contribuindo para elevar o nível do debate. Estou postando esta minha declaração pública no meu blog Diplomatizzando, que eu chamo de “quilombo de resistência intelectual”, contra todos os despotismos, inclusive o da palavra, também de certo modo vigiada na profissão que foi a minha, depois da de professor, durante meus anos de exercício ativo no Serviço Exterior do Brasil. Fui muito feliz, e me diverti muito, a despeito de alguns percalços pelo caminho, muito a propósito do meu jeito contrarianista de ser, ou apenas independente e oposto aos dogmas incômodos da hierarquia e da disciplina.

Vale!

Paulo Roberto Almeidaida 

Brasília, 19/05/2025


Nenhum comentário: