Vale a pena registrar este fabuloso empreendimento editorial, como esclarecido por César Benjamin. Como ele escreve, “ “… o filósofo não procura estabelecer a relação do saber, produzido pelos homens, com as coisas, mas a relação desses homens com seu próprio saber.” PRA
Quando criei a Contraponto, comecei a procurar títulos fundamentais, mas que, por qualquer razão, não haviam chegado no Brasil. O primeiro deles foi “A formação do espírito científico”, de Gaston Bachelard, decisivo na minha própria formação intelectual.
Escrevi para a Vrin, editora francesa. Eles me disseram que o livro estava sob controle de Madame Suzanne Bachelard, filha do mestre, que exigia aprovar as traduções, com sua equipe, antes de vender os direitos. Já havia recusado duas tentativas para a língua portuguesa e acabara de recusar uma, de Cambridge, para o inglês. Era isso que explicava a ausência.
O desafio estava lançado. Fizemos a tradução sem ter os direitos de publicação. Tempos depois, recebi uma carta em que Madame Suzanne não só liberou a nossa edição, mas nos concedeu direitos para toda a obra científica do pai, que estamos publicando.
É muito bom ver este livro genial chegar à décima sétima reimpressão.
A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO
GASTON BACHELARD -- décima sétima reimpressão
Tradução de Estela dos Santos Abreu
316 páginas -- de R$ 96,00 por R$ 57,60 no site da editora
https://www.contrapontoeditora.com.br/produto.php?id=69
Pela primeira vez, o leitor de língua portuguesa tem acesso ao livro mais importante de um dos filósofos mais importantes de nossa época. Escrito em 1938, e desde então reeditado em todas as línguas de cultura, “A formação do espírito científico” tem sido adotado em universidades brasileiras sempre a partir de edições estrangeiras ou de traduções de pequenos trechos, veiculados de mão em mão.
Tal lacuna do nosso mundo editorial talvez se explique pelas excepcionais dificuldades que cercam a tradução deste livro: não obstante sua clareza e sua beleza, ele usa amplamente textos e conceitos da alquimia, da química e da física dos séculos XVII e XVIII. Foi o desafio que a Contraponto Editora aceitou enfrentar, entregando-o às mãos competentíssimas de Estela dos Santos Abreu, que, quando necessário, recorreu ao auxílio de especialistas para realizar um trabalho à altura da grandeza do autor.
A partir de 1940 e até sua morte, Gaston Bachelard (1884-1962) exerceu marcante atividade docente na Sorbonne, onde formou gerações de pensadores que nunca esconderam sua gratidão ao mestre. Escritor admirável, dono de um dos mais belos estilos que a prosa filosófica conheceu em todos os tempos, recebeu em 1961 o Prix National des Lettres.
“A formação do espírito científico” se insere numa sequência de obras que marca o período mais criativo do Bachelard “diurno”, aquele que pensa o saber científico: “Etude sur l´ évolution d´um problème de physique: la propagation thermique dans les solides” (1927), “Essai sur la connaisance approchée” (1928, também publicado pela Contraponto), “La Valeur inductive de la relativité” (1929), “Le Pluralisme cohérent de la chimie moderne” (1930, publicado pela Contraponto), “Le Nouvel esprit scientifique” (1936), “La Philosophie du non” (1940). A eles se somam os livros do Bachelard “noturno”, que se debruça sobre a criação artística, o devaneio, as imagens poéticas, as potências da imaginação.
Num e noutro caso, o filósofo não procura estabelecer a relação do saber, produzido pelos homens, com as coisas, mas a relação desses homens com seu próprio saber. Em “A formação...”, Bachelard destaca as armadilhas e dificuldades que cercam a descoberta de conceitos fundamentais, a função positiva dos erros nessa gênese (“O espírito científico se constitui como conjunto de erros retificados”) e, principalmente, o caráter recorrente e geral de certas resistências ao conhecimento científico. Ao contrário do que se poderia pensar, esses “obstáculos epistemológicos” não pertencem ao passado: “As forças psíquicas que atuam no conhecimento científico são mais confusas, mais exauridas, mais hesitantes do que se imagina quando consideradas de fora (...). Mesmo na mente lúcida há zonas obscuras, cavernas onde ainda vivem sombras. Mesmo no novo homem permanecem vestígios do homem velho. Em nós, o século XVIII prossegue sua vida latente.”
Justamente porque esses obstáculos ao conhecimento estão presentes dentro de nós e espalhados à nossa volta, e porque sua superação é um desafio que sempre se renova, “A formação do espírito científico” tornou-se um clássico, um texto perene, cujo potencial didático nunca se esgota: ele não nos ensina coisas, nos ensina a pensar.
César Benjamin
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