A Internacional autoritária está configurada…
… do lado da Direita. Mas existe também a Internacional autoritária do lado da Esquerda. Acho que alguns no Brasil percebem para qual lado o governo de Lula 3 pende. PRA
EM APOIO A MARINE LE PEN
De Trump a Bolsonaro, passando por Orbán, Salvini e Wilders: a “internacional reacionária” se associa ao Kremlin em apoio a Marine Le Pen
Le Monde - Serviço Internacional - Publicado em 1º de abril de 2025
Diversos líderes políticos nacionalistas criticaram a pena de inelegibilidade imposta à deputada de extrema-direita, na segunda-feira, 31 de março. Para Moscou, a decisão marca a “agonia da democracia liberal”.
Raras são as decisões da Justiça francesa que provocam tantas reações internacionais. A condenação de Marine Le Pen a cinco anos de inelegibilidade, por desvio de fundos públicos no caso dos assistentes dos eurodeputados da Frente Nacional (FN), desencadeou na segunda-feira, 31 de março, uma enxurrada de comentários por parte daquilo que Emmanuel Macron apelidou, em janeiro, de “internacional reacionária” — com Donald Trump à frente, acompanhado nesta ocasião pelo Kremlin.
“É um grande caso. Eu sei tudo sobre isso. Muitas pessoas achavam que ela não seria condenada, mas ela foi impedida de se candidatar por cinco anos, e era a favorita. Isso se parece com o nosso país”, comentou o presidente americano durante uma de suas coletivas de imprensa improvisadas no Salão Oval. Mais cedo naquela tarde, seu filho, Don Jr., ironizou na rede X: “Eles estão apenas tentando provar que J. D. Vance estava certo em tudo?”, referindo-se às críticas reiteradas do vice-presidente americano aos europeus, à repressão supostamente exercida contra vozes dissidentes em seus países e aos ataques alegados contra a liberdade de expressão. “Vai haver um efeito bumerangue, assim como aconteceu com os ataques judiciais contra o presidente Trump”, alertou Elon Musk em seu próprio perfil na X.
Como para sublinhar a inversão das alianças entre Washington e Moscou, as manifestações de apoio também vieram da Rússia, que, fora de suas fronteiras, não se furta a dar lições de democracia. “Cada vez mais capitais europeias seguem o caminho da violação das normas democráticas”, avaliou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante seu briefing diário. Embora tenha afirmado não querer interferir em “um assunto interno da França”, não deixou de comentar a decisão judicial: “Nossas observações sobre o que se passa nas capitais europeias mostram que por lá não hesitam nem um pouco em ultrapassar os limites da democracia no processo político.” Para Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, a decisão representa “a agonia da democracia liberal”.
Durante muito tempo, Vladimir Putin foi suspeito de apoiar Marine Le Pen. O presidente russo a recebeu nos salões do Kremlin em 24 de março de 2017, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial. Antes de romper com o Kremlin devido ao início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o partido de extrema-direita — FN e depois RN — havia contraído um empréstimo com um banco russo, em 2014, logo após a anexação unilateral da Crimeia pela Rússia.
“Je suis Marine!”
Na época, o partido de Marine Le Pen não cessava de criticar as sanções ocidentais impostas a Moscou. Em junho de 2023, um relatório parlamentar francês denunciou o vínculo “de longa data” do RN com a Rússia e os “contatos frequentes” entre parlamentares do partido e autoridades russas. O RN foi descrito como uma “correia de transmissão” dos interesses russos, enquanto Marine Le Pen classificou o relatório de “desonesto” e “politizado”.
Desta vez, seus problemas com a Justiça também mobilizaram rapidamente seus aliados dentro da própria União Europeia. Viktor Orbán não esperou nem mesmo a leitura completa da sentença de Marine Le Pen para declarar seu apoio. “Je suis Marine!”, escreveu em francês o primeiro-ministro nacionalista húngaro na rede X (ex-Twitter), às 12h22, quando a presidente do tribunal ainda lia seu veredicto. “As batalhas políticas devem ser decididas nas urnas, e não nos tribunais”, reforçou mais tarde seu ministro dos Assuntos Europeus, Janos Boka, ao questionar a condenação de Le Pen.
Aliado do Reunião Nacional no Parlamento Europeu, o líder húngaro aposta há tempos na chegada de Marine Le Pen ao poder na França. Foi, inclusive, um banco húngaro próximo ao governo que concedeu ao RN um empréstimo para financiar sua campanha presidencial de 2022. Soma-se a isso um sentimento de solidariedade, já que Orbán e seu entorno são suspeitos, há anos, de desviar fundos europeus em benefício próprio. No entanto, como o Ministério Público húngaro é chefiado por um aliado de Orbán, até hoje recusou-se a investigar seriamente essas alegações.
Outro aliado de longa data de Le Pen se manifestou: o vice-presidente do Conselho de Ministros da Itália, Matteo Salvini (Liga, extrema-direita), criticou a “declaração de guerra de Bruxelas”, que estaria por trás dos problemas judiciais da ex-eurodeputada. “Quem teme o julgamento dos eleitores costuma se tranquilizar com o julgamento dos tribunais. Em Paris, condenaram Marine Le Pen e querem excluí-la da vida política. Um filme ruim que também vemos em outros países como a Romênia”, declarou o membro do governo de Giorgia Meloni.
“Um novo totalitarismo”
Segundo Salvini, a inelegibilidade de Le Pen ecoa a anulação da eleição presidencial romena em novembro de 2024, após o candidato de extrema-direita, Calin Georgescu — um pró-russo até então pouco conhecido — liderar o primeiro turno. A votação foi anulada pelo Tribunal Constitucional, o que levou o vice-presidente americano, J. D. Vance, a criticar duramente as autoridades romenas, que “têm tanto medo de seu povo que tentam silenciá-lo”.
Na Alemanha, a presidente do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, não se manifestou diretamente, mas vários parlamentares do partido publicaram mensagens de apoio na noite de segunda-feira. Björn Höcke, deputado da Turíngia e influente dentro do partido por suas ideias radicais, questionou na rede X: “Onde está o princípio da igualdade de tratamento? Onde está o princípio da proporcionalidade? Marine Le Pen foi retirada da corrida presidencial mesmo sendo a candidata mais promissora. Essa sentença política abala a Europa e abre caminho para um novo totalitarismo.” Marine Le Pen havia, em maio de 2024, mantido a AfD fora do grupo Patriotas pela Europa no Parlamento Europeu, considerando o partido excessivamente radical.
Na Holanda, o populista Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade — que se tornou a principal força política do país em 2023 e participa da coalizão governamental — afirmou estar “chocado” com a pena imposta a Marine Le Pen, que considerou “incrivelmente severa”. Próximo há anos da dirigente do RN, o líder de extrema-direita declarou: “Estou convencido de que ela vencerá no recurso e que se tornará presidente da França.”
“Essa decisão é claramente resultado do ativismo judicial de esquerda. Em todos os lugares onde a direita está presente, a esquerda e o sistema tentam afastar seus adversários”, teorizou o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro em uma entrevista. “Parece que esse movimento está se espalhando pelo mundo. A esquerda encontrou um jeito fácil de se manter no poder usando o ativismo judicial.” O ex-chefe de Estado foi condenado a oito anos de inelegibilidade em 2023 por seus ataques ao sistema de votação eletrônica e agora está oficialmente acusado de tentar organizar um golpe de Estado em 2022, durante a reeleição de Lula. Ele deve ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal e pode enfrentar até 42 anos de prisão. É improvável, portanto, que possa se candidatar à presidência em 2026.
📷: A "internacional reacionária" se associa ao Kremlin em apoio a Marine Le Pen. (imagem e tradução do texto do Le Monde gerados pela IA ChatGPT), por Luis Favre