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quinta-feira, 31 de março de 2016

Adam Smith e o "verdadeiro" chocolate - Mansueto Almeida, Paulo Roberto de Almeida

Eu já havia lido, desde ontem à noite, esta postagem recente de meu colega blogueiro e economista sensato Mansueto Almeida, sobre o chocolate "politicamente correto".
Ele pedindo que deixassem seu chocolate em paz.
Mas, acabo de receber de meu amigo André Eiras, a mesma nota do Mansueto, e respondi a ele o que segue.
Insuportável saber que estamos sempre sendo assaltados por um bando de espertos.
Transcrevo primeiro a nota do Mansueto e depois o meu comentário.
Paulo Roberto de Almeida

O que é chocolate?
31 de março de 2016 por mansueto

Adoro chocolate. Sei que comer muito chocolate não é saudável, que estou gordo, etc. Mas não quero que uma Lei passe a definir o que é chocolate e se o que como é ou não chocolate. Mas há esse risco? Claro que sim.
Há um projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal (cliquei aqui), o PLS 93/2015, que estabelece um percentual mínimo de cacau puro de 35% para que um bombom possa ser denominado de chocolate.
E se o seu chocolate não tiver esse índice mínimo? Neste caso, o seu chocolate pode ser tudo menos chocolate. Mas fique feliz porque o seu bombom adocicado de hoje era chocolate no passado.
De volta ao futuro, qual a intenção dessa proposta de Lei? Aumentar a produção de cacau no país pelo aumento da demanda. Não vou comentar. Precisa? Por favor, deixem meu chocolate em paz!

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On Mar 31, 2016, at 17:59, André Eiras <xxxxxx@gmail.com> wrote:
É triste compartilhar esse tipo de notícias, mas sempre lembro de ti ao ler tais aberrações que acontecem aqui na nação brasileira.
Abraços,
André Eiras
——
Meu comentário (PRA):

Meu caro,
    Isso era inevitável, e deveria um dia acontecer. Como diria o Millor, as ideias, quando ficam bem velhinhas, e inutilizáveis em seus locais de origem, fazem as malas e se mudam para o Brasil.
    Eu já assisti esse debate, muitos e muitos anos atrás, na Europa. E as razões são sempre as mesmas: protecionismo, cartelização, afastamento de concorrentes, reserva de mercado, agora com a estupidez do politicamente correto.
    Daqui a pouco vou a UnB para assistir uma exposição-debate sobre os 240 anos da Riqueza das Nações. O Adam Smith já alertava para esses complôs de fabricantes e comerciantes, sempre contra o interesse dos consumidores. Parece que nada mudou.
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Paulo R. de Almeida

sábado, 14 de novembro de 2015

Nao existem falhas de mercado; se falhas existem, elas sao de governo - Paulo Roberto de Almeida


Não existem falhas de mercado; se falhas existem, elas são de governo

Paulo Roberto de Almeida
Com meus agradecimentos ao Arnaldo Barbosa Brandão

Adam Smith vai ao cerrado
Estou lendo um “romance” saboroso: Encaixotando Brasília, o segundo de uma trilogia do Arnaldo Barbosa Brandão (Brasília: Verbena, 2012), e chego ao capítulo V, “Uma certa Brasília”, que descreve, em tons literários, supostamente verdadeiros, mas com alguns traços de “macondianismo”, suas primeiras andanças e vivências na capital em construção:
“Foi em Brasília que vi, pela primeira vez, alguém comprando um produto insólito. A fila começava na W3 Sul na altura da 509... e ia até a 511, esticando-se por uns quinhentos metros, e o mais singular, só tinha homens. No princípio da fila notei um ajuntamento maior de pessoas e bem no centro um camelô, vendendo uns frasquinhos miúdos com algo dentro que não conseguia divisar de longe. Aproximei-me, curioso, tentando saber que produto precioso era aquele, que obrigava as pessoas interessadas a tanta espera e quando recebia saíam exultantes, correndo, dando pulinhos. Ouvi claramente o camelô gritar: “este é garantido!” Imaginei que fosse algum remédio popular feito de ervas, tinha uma cor amarronzada, acabei por perguntar a um dos compradores, que me olhou desconfiado e não respondeu, aguçando ainda mais minha curiosidade. Finalmente, a muito custo, cheguei ao bolo de gente e indaguei do dono do negócio, que me respondeu secamente:
– É fezes, mas é garantido, não tem qualquer tipo de lombriga, com nossa merda seu exame de fezes dá sempre negativo.
Aí entendi tudo! Os empregadores exigiam abreugrafia e exame de fezes..., se os candidatos ao emprego levassem suas próprias fezes certamente daria positivo para uma infinidade de lombrigas e eles perderiam a vaga.” (p. 63-64)

O que descreve Arnaldo Barbosa Brandão, o famoso a.b.b., em tom irônico, é a própria “mão invisível” de Adam Smith, em pleno e livre funcionamento no cerrado. Os microempresários do planalto central, consoante seu tino empreendedor, não estão fazendo nenhum favor aos sôfregos candidatos a um emprego qualquer na Brasília em construção: ao vender merda em frasco, eles estão apenas atendendo às demandas dos pretendentes que se confrontam a uma regra qualquer estabelecida pelo governo. Em face dessa “restrição indevida” das condições de mercado – laboral, neste caso – empresários atentos dão um jeito de contornar as obrigações oferecendo o produto desejado, merda engarrafada, confirmando assim, em toda a sua glória, a grande, talvez única, lei da economia, o encontro da demanda com a sua oferta.
Em outros termos, você não precisa enfrentar as 2.500 páginas escritas num inglês oitocentista do genial escocês fundador da economia política para entender como funciona a “mão invisível” de que falava Adam Smith: basta ler o saboroso romance de Arnaldo Barbosa Brandão, arquiteto de formação e homem de muitas outras artes e ofícios, para ter uma ideia exata de como funciona o mercado, o que também explica o título desta pequena crônica. O mercado está sempre aberto a todo e qualquer tipo de transação, mesmo as mais insólitas, como a descrita neste trecho do romance do a.b.b. São os governos que impõem determinas regras – restrições, seria a palavra exata – o que faz com que o mercado encontre, quase imediatamente, a “solução” para a falha criada por uma autoridade qualquer.
Meu objetivo aqui não é o de sugerir novas e imaginativas formas, sobretudo insólitas, como essa, para que empresários atentos contornem certas falhas de governo. Meu objetivo é justamente o de defender o argumento de que não existem falhas de mercado, como alegam, talvez, mais de 90% dos manuais de economia, sobretudo os de corte keynesiano, pois os mercados funcionam perfeitamente bem, sempre. Se falhas existem, elas são sempre de governo, como teremos oportunidade de mostrar em próxima crônica.
Salve a.b.b.! Vamos adiante no romance...

Brasília, 14 de novembro de 2015, 2 p.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Universidades e universidades - John Kenneth Galbraith sobre Adam Smith

Galbraith não era exatamente um liberal, ao contrário: keynesiano convencido e partidário da intervenção do Estado na economia.
PS de uma carta que ele escreveu a um amigo:

P.S. I’m going to Scotland on Sunday to help celebrate the birthday of Adam Smith. I’ve just reread him – a rather wonderful experience which persuades me that he could not now get tenure. 
John Kenneth Galbraith

De fato, um homem como Adam Smith jamais seria aceito pelos padrões atuais das universidades britânicas ou americanas, menos ainda pelas brasileiras.
Aliás, deixando uma vez a universidade de Glasgow, Smith passou sete anos em Oxford: saiu de lá desencantado, achando a universidade muito medíocre.
Vejam o que ele escreveu uma vez, e que coloquei como frase de abertura de meu livro mais recente, sobre a Integração Regional (Saraiva, 2013):

The average university is a sanctuary in which exploded systems and obsolete prejudices find shelter and protection, after they have been hunted out of every other corner of the world.

(A universidade média é um santuário no qual sistemas derrocados e preconceitos obsoletos encontram abrigo e proteção, depois de terem sido escorraçados de todos os demais cantos do mundo.)

Frase de Adam Smith constante do livro de:
Arthur Herman. 
How the Scots Invented the Modern World: The True Story of How Western Europe’s Poorest Nation Created Our World and Everything In It 
(New York: Three Rivers Press, 2001), p. 198.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Winston Churchill a 5 libras vale menos que Adam Smith a 20 libras: coisas da vida...

Sir Winston Churchill to feature on new banknote

Luisa Baldini has a close-up look at the note design

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Sir Winston Churchill will feature on the new design of a banknote which will enter circulation in 2016, the Bank of England has announced.
The wartime leader's image is planned to feature on the reverse of the new £5 note, together with one of his most celebrated quotations.
Churchill was chosen owing to his place as "a hero of the entire free world", said Bank governor Sir Mervyn King.
The current face of the £5 note is social reformer Elizabeth Fry.
'Truly great leader' A wide range of historical characters appears on the reverse of Bank of England banknotes, with Elizabeth Fry the only woman among the current crop.
The Bank of England governor has the final say about who appears on a banknote, although the public can make suggestions. The latest addition has been announced by Sir Mervyn at Churchill's former home of Chartwell, in Westerham, Kent.

Current Bank of England banknote images

  • £5: Elizabeth Fry, social reformer noted for her work to improve conditions for women prisoners
  • £10: Charles Darwin, the scientist who laid the foundations of the theory of evolution
  • £20: Adam Smith, one of the fathers of modern economics
  • £50: Matthew Boulton and James Watt, who brought the steam engine into the textile manufacturing process. They are replacing notes featuring the first governor of the Bank of England, Sir John Houblon
"Our banknotes acknowledge the life and work of great Britons. Sir Winston Churchill was a truly great British leader, orator and writer," Sir Mervyn said.
"Above that, he remains a hero of the entire free world. His energy, courage, eloquence, wit and public service are an inspiration to us all."
Current plans, which the Bank said might be reviewed, are for Churchill to appear on the new £5 note to be issued in 2016.
Security measures The design includes a portrait of the former prime minister, adapted from a photograph taken by Yousuf Karsh on 30 December 1941. He is the only politician from the modern era to feature on a banknote.
The artwork will also include:
  • Churchill's declaration "I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat" which came in a speech in the Commons on 13 May 1940
  • A view of Westminster and the Elizabeth Tower from the South Bank
  • The Great Clock showing three o'clock - the approximate time of the Commons speech
  • A background image of the Nobel Prize for literature, which he was awarded in 1953
Sir Mervyn said that this was an appropriate choice given the country's economic difficulties.
"We do not face the challenges faced by Churchill's generation. But we have our own," he said.
Sir Mervyn King: "Perhaps the note itself will become known as a Winston"
"The spirit of those words remains as relevant today as it was to my parents' generation who fought for the survival of our country and freedom under Churchill's leadership."
The Bank of England issues nearly a billion banknotes each year, and withdraws almost as many from circulation.
Notes are redesigned on a relatively frequent basis, in order to maintain security and prevent forgeries. Other security features include threads woven into the paper and microlettering.
The most recent new design from the Bank of England was the £50 note, which entered circulation in November. This features Matthew Boulton and James Watt who were most celebrated for bringing the steam engine into the textile manufacturing process.
While Bank of England notes are generally accepted throughout the UK, three banks in Scotland and four in Northern Ireland are authorised to issue banknotes.
Pharmacologist Sir Alexander Fleming, poet Robert Burns, and tyre inventor John Boyd Dunlop are among those who appear on these notes. One commemorative £5 note featuring football great George Best proved so popular that the limited edition of one million sold out in 10 days.
A portrait of Europa is seen next to new and old five-euro notes in Frankfurt, 10 January Greek goddess Europa is appearing on the new five-euro note
In May, a new five-euro note will be put into circulation by the European Central Bank.
It features an image of the Greek goddess Europa, which comes from a vase in the Louvre Museum in Paris.
History The image of Churchill has featured on currency before.
He was the first commoner to be shown on a British coin when he appeared on the 1965 crown, or five shilling piece.
Churchill, elected as a Conservative MP in 1900, served as chancellor in Stanley Baldwin's government.
He replaced Neville Chamberlain to become the wartime British prime minister in May 1940 until 1945. He returned to office in 1951, and retired in 1955, aged 80.
"The Bank is privileged to be able to celebrate the significant and enduring contribution Sir Winston Churchill made to the UK, and beyond," said Chris Salmon, chief cashier of the Bank of England, whose signature will also appear on the banknote.
Sir Nicholas Soames, Churchill's grandson and MP for Mid Sussex, said: "I think it is a wonderful tribute to him and an appropriate time. I can't think of any more marvellous thing that would have pleased him more."
He described the move as a great honour for the family.

Who's been on Bank of England notes?

Source: Bank of England, Notes issued and withdrawn since 1980
Famous Briton
Lived
Field
Note
Note from
Newton Isaac Newton
1643-1727
Scientist
£1
1978-1988
Wellington Duke of Wellington
1769-1852
Soldier and statesman
£5
1971-1991
Stephenson George
Stephenson
1781-1848
Engineer
£5
1990-2003
Fry Elizabeth Fry
1780-1845
Campaigner
£5
2002-present
Nightingale Florence Nightingale
1820-1910
Nurse & campaigner
£10
1975-1994
Dickens Charles Dickens
1812-1870
Writer
£10
1992-2003
Darwin Charles Darwin
1809-1882
Scientist
£10
2000-present
Shakespeare William Shakespeare
1564-1616
Writer
£20
1970-1993
Faraday Michael Faraday
1791-1867
Scientist
£20
1991-2001
Elgar Sir Edward Elgar
1857-1934
Composer
£20
1999-2010
Smith Adam Smith
1723-1790
Economist
£20
2007-present
Wren Sir Christopher Wren
1632-1723
Architect
£50
1981-1996
Houblon Sir John Houblon
1632-1712
Banker
£50
1994-present
Boulton & Watt Matthew Boulton and James Watt
1728-1809, 1736-1819
Entrepreneur and inventor
£50
2011-present

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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A frase da semana: Adam Smith sobre as universidades

É sabido que Adam Smith, antes de se tornar o consagrado professor da Universidade de Glasgow, na Escócia, andou por Oxford, na Inglaterra, e de lá saiu com uma péssima impressão, achando-a medíocre, segundo seus padrões exigentes.
Eis o que ele escreveu depois sobre as universidades:

“The improvements which, in modern times have been made in several different branches of philosophy, have not, the greater part of them, been made in universities, though some, no doubt, have. The greater part of universities have not even been very forward to adopt those improvements after they were made; and several of those learned societies have chosen to remain, for a long time, the sanctuaries in which exploded systems and obsolete prejudices found shelter and protection, after they had been hunted out of every other corner of the world. In general, the richest and best endowed
universities have been slowest in adopting those improvements, and the most averse to permit any considerable change in the established plan of education. Those improvements were more easily introduced into some of the poorer universities, in which the teachers, depending upon their reputation for the greater part of their subsistence, were obliged to pay more attention to the current opinions of the world.”

Smith, Adam:
An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations
(p. 456). University of Chicago Press. Kindle Edition.

Ainda retiro esta informação do verbete sobre Smith na Wikipedia:

In Book V, Chapter II of The Wealth of Nations, Smith wrote: "In the University of Oxford, the greater part of the public professors have, for these many years, given up altogether even the pretence of teaching." Smith is also reported to have complained to friends that Oxford officials once discovered him reading a copy of David Hume's Treatise on Human Nature, and they subsequently confiscated his book and punished him severely for reading it.

sábado, 19 de novembro de 2011

Ainda a Mao Invisivel de Adam Smith - Joao Luiz Mauad

Eu repostei meu texto sobre a "mão invisível" de Adam Smith, apenas porque um comentarista habitual acrescentou esta informação nesse post, e aproveito, de minha parte, para dar-lhe o devido destaque.
http://www.ordemlivre.org/2011/11/desmontando-sofismas-e-rebatendo-cliches/

Desmontando sofismas e rebatendo clichês

mao
É muito frequente a acusação – normalmente perpetrada por intervencionistas tanto à esquerda quanto à direita – de que o liberalismo é uma filosofia “dogmática”, por incitar uma suposta fé irracional naquilo que apelidaram de “deus mercado”.  A estratégia sofísticada traz ainda, como corolário indispensável, o emprego decomentários sarcásticos fazendo referência à única coisa que essa gente conhece, ou já ouviu falar, sobre liberalismo: a famosa metáfora da “mão invisível”.  A armadilha é tão capciosa que já há até liberais defendendo o banimento daquela metáfora, com medo de serem mal interpretados.
Ora, qualquer um que já tenha lido “A Riqueza das Nações” sabe perfeitamente que a imagem da “mão invisível” não tem nada de dogmático ou metafísico. O que Adam Smith diz é que, na esfera comercial, os indivíduos estão permanentemente empenhados em empregar da melhor maneira os seus recursos, visando o maior lucro possível.  O que o agente econômico tem em mente, portanto, é o próprio interesse, e não o interesse social.  Porém, ao examinar o que melhor lhe convém, ele naturalmente acaba escolhendo o que é melhor também para a sociedade em geral, afinal a única forma de obter lucros num sistema de livre mercado é oferecendo bens e serviços de qualidade, a preços razoáveis, aos consumidores.  Em outras palavras, lucrará mais aquele que satisfizer, com mais eficiência, os desejos e necessidades dos demais.
Numa das passagens em que Adam Smith utiliza a metáfora, ele diz, literalmente, o seguinte: “Orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, [o empreendedor] visa apenas seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções… Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo”.
Eis o verdadeiro sentido da “mão invisível”.  É pela busca constante de seus próprios interesses que o empreendedor fomenta o interesse geral da sociedade, e não pela sua benevolência. Em sua mais famosa sentença, Smith escreve que “Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio negócio”.
A metáfora da mão invisível, portanto, não pretende explicar que o mercado seja um sistema intrinsecamente perfeito, um deus imune a falhas, ineficiências ou má gestão, que funciona independentemente do bom planejamento, gerenciamento, controle, etc. Pelo contrário, o mercado só funciona porque é um sistema extensiva e racionalmente planejado e bem administrado. Só que a administração capitalista se dá de forma pulverizada, através da ação de cada indivíduo, de cada empresa. Todo esse planejamento dos indivíduos, das famílias e das empresas é coordenado por um mecanismo sólido, autônomo e extremamente eficiente, denominado “sistema de preços”.
O mercado, como demonstrou Mises, não é um organismo público ou privado, nem tampouco qualquer associação, agremiação, corporação ou organização.  O mercado é um processo.  Numa economia onde prevaleça a livre iniciativa, cada agente planeja e age por si mesmo, sem que ninguém lhe diga o que deve ou não fazer. A coordenação das várias atividades individuais e a sua integração dentro de um sistema harmônico, que supra os consumidores com as mercadorias e serviços que eles demandem, é feita de forma espontânea, desde que guiada por uma estrutura de preços flutuantes e livres.
Não há nada dogmático ou misterioso nesse processo.  As únicas forças por trás do seu contínuo movimento são os julgamentos de valor dos vários indivíduos e as ações deles derivadas.  Como no livre mercado todas as ações são voluntárias, a única alternativa de que dispõe cada um dos agentes para maximizar os próprios ganhos (por mais paradoxal que isto possa parecer a alguns) acaba sendo o empenho para satisfazer as necessidades e desejos do próximo. A mágica, o segredo da eficiência do mercado está, portanto, na supremacia do consumidor.  Através da sua decisão de comprar (ou não comprar), os consumidores determinam não somente a estrutura de preços, mas também o que deve ser produzido, em que quantidade, qualidade e por quem.
Se o livre mercado e o sistema de preços dele derivado são capazes de disponibilizar uma gama inimaginável de bens e serviços para os consumidores, eles produzem também um vasto escopo de oportunidades para os empreendedores.  É pelas mãos desses personagens, nem sempre bem vistos pela sociedade, que a poupança se transforma em investimento, contribuindo para aumentar a produtividade da economia, os salários dos trabalhadores e, consequentemente, o padrão de vida de todos.
Os oponentes do liberalismo gostam muito de falar também em “tirania do mercado”.  Deve-se lembrar a eles, entretanto, que não existe tirania onde as trocas são voluntárias, mas somente onde há coerção – uso da força.   Se um ladrão o ameaça com uma arma, seu “pagamento” a ele será, obviamente, forçado, e só trará benefício a uma das partes.  Por outro lado, quando você adquire um produto qualquer no comércio, a troca de dinheiro por aquele bem é totalmente voluntária, sinal de que ambas as partes (consumidor e comerciante) estão se beneficiando dela.
A propósito, a qual dos exemplos acima se assemelha a situação em que o estado cobra impostos da população (uma atividade coercitiva por natureza), sem lhe devolver as respectivas contrapartidas em serviços?  A mim, pelo menos, parece claro que tirânico não é bem o mercado…

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ e profissional liberal (consultor de empresas).

Sobre a famosa Mao Invisivel de Mercado (retomando um texto antigo, mas ainda valido)

Um visitante costumeiro, e fiel, a quem agradeço, me recorda um post meu de quase dois anos atrás, que ainda preserva toda a sua atualidade, pois todo vemos "economistas", políticos e outras almas ingênuas lançarem pragas contra a "ditadura dos mercados" e os efeitos nefastos destes últimos sobre a atividade econômica e sobre a vida das pessoas, que de outra forma, segundo esses personagens simplórios, seriam eficientíssimos, perfeitos, capazes de trazer felicidade a todos e a cada um, se não fosse, justamente, a tal de "ditadura dos mercados".
Desculpo-me com os que acham que eu abuso da minha liberdade de chamar outras pessoas de idiotas, mas se tem uma frase que eu considero como a suprema demonstração de idiotice congenital é justamente essa, de pessoas que não tendo nada de mais inteligente para tentar explicar as razões da crise atual, que pretendem que a culpa de tudo isso que está acontecendo "é dos mercados".
So what, diriam os ingleses. O que mais os idiotas supremos querem que aconteça? Que os mercados se comportem como elas esperam?
Aí sim, seria a suprema idiotice dos mercados, que ao contrário do que acreditam esses ingênuos, não são idiotas. Aliás, os mercados não são absolutamente nada e são tudo: eles apenas existem, e sempre vão poder prevalecer sobre a opinião de idiotas supremos, mesmo quando eles exibem um Prêmio Nobel...
Pois fiquem com o meu post de:


SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JANEIRO DE 2010

1758) O velho papo da mao invisivel e os novos profetas

Em artigo intitulado

A Mão Invisível do Mercado,

escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise 

"é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".

Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).

Contrariamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.

Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.

Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?

Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.

Paulo Roberto de Almeida (25.01.201o)