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terça-feira, 14 de maio de 2019

Presidente da CREDN-CD quer Brasil dotado de armas nucleares !!!!

O presidente da CREDN-CD é COMPLETAMENTE MALUCO! 
Vejam o que ele disse:

 "—  Paquistão e Índia, como é a relação dos dois? Se só um tivesse bomba nuclear, a relação não seria a mesma. Sou entusiasta dessa visão. Vão dizer que eu sou agressivo ou que quero tocar fogo no mundo, mas enfim. De fato. Por que o mundo inteiro respeita os Estados Unidos? — questionou. — Explodiram o World Trade Center, o que eles fizeram? Passaram por cima de tudo quanto é veto e invadiram o Iraque."

Esse cara não é só perigoso para o Brasil, para a América Latina e para o mundo, mas ele afunda mais um pouco a imagem do Brasil na comunidade internacional.
O que fizemos para merecer MALUCOS nos círculos governantes?
Aposto como alguém vai vir em apoio a essas ideias completamente estapafurdias...
Paulo Roberto de Almeida


Eduardo Bolsonaro diz que bombas nucleares garantem paz

Deputado e filho do presidente defende armamento para Brasil ser 'levado mais a sério'; segundo ele, o 'politicamente correto' o impede de falar sobre possibilidade de guerra com Venezuela


BRASÍLIA — Em evento da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, da qual é presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defendeu a posse de armas nucleares e disse que o "politicamente correto" o impede de falar abertamente sobre a possibilidade de guerra com a Venezuela.
A reunião, na tarde desta terça-feira, foi um encontro do parlamentar com alunos da Escola Superior de Guerra, entidade em que se formam militares do Exército, Marinha e Aeronáutica.
— São bombas nucleares que garantem a paz. Se nós já tivéssemos os submarinos nucleares já finalizados, que têm uma economia muito maior dentro d'água; se nós tivéssemos um efetivo maior, talvez fôssemos levados mais a sério pelo (Nicolás) Maduro, ou temidos pela China ou pela Rússia.
Ele frisou, porém, que não há debate no Congresso sobre o assunto no momento. O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, assinado por 189 países, foi endossado pelo Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1998. Além dele, o Brasil também faz parte do Tratado de Tlatelolco, assinado por todos os países da América Latina e Caribe em 1968, com exceção de Cuba, que o ratificou apenas em 2002.
— Esse assunto não é pauta nesse momento, eu sequer vejo debate nesse sentido. A gente sabe que, se o Brasil quiser atropelar essa convenção, tem uma série de sanções, é um tema muito complicado. Mas acredito que possa voltar ao debate aqui.
O deputado citou ainda Índia e Paquistão, dos poucos países que não assinaram o tratado, como um exemplo positivo.
—  Paquistão e Índia, como é a relação dos dois? Se só um tivesse bomba nuclear, a relação não seria a mesma. Sou entusiasta dessa visão. Vão dizer que eu sou agressivo ou que quero tocar fogo no mundo, mas enfim. De fato. Por que o mundo inteiro respeita os Estados Unidos? — questionou. — Explodiram o World Trade Center, o que eles fizeram? Passaram por cima de tudo quanto é veto e invadiram o Iraque.

'Maduro é maluco associado a terroristas'

Dirigindo-se aos militares presentes no evento, Eduardo ressaltou que, em um eventual conflito com a Venezuela, eles teriam um papel importante e que as pessoas só dão valor às Forças Armadas "quando precisam", já que há uma crença generalizada de que o Brasil é um país pacifista, que não entra em guerra. O deputado federal ainda chamou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de um "maluco associado a terroristas".
— Pois bem. Estamos tendo um problema com a Venezuela, e o politicamente correto me impede de falar algumas coisas, então tenho que falar que está tudo muito bem, que nós nunca entraremos em guerra e podem ficar tranquilos. É claro, é uma ironia, o que eu estou falando — disse. — Do lado de lá da fronteira tem um maluco associado a terroristas e ao narcotráfico. A gente sabe que, a qualquer momento, se isso daí evoluir para um quadro pior, que é o que ninguém deseja, quem vai entrar em ação são principalmente os senhores.

domingo, 12 de maio de 2019

A Internacional olavista - Duda Teixeira (Crusoe)


A Internacional olavista
Como Olavo de Carvalho se encaixa no movimento global que tenta empurrar a direita para o populismo nacionalista
Marina Dias/Folhapress

Olavo de Carvalho cumprimenta Steve Bannon, em março, ao lado de Eduardo Bolsonaro 10.05.19

Crusoe, n. 54

O presidente Jair Bolsonaro recebeu das urnas um mandato para combater a corrupção e resolver o problema da segurança pública. O estado de devastação deixado pelos governos anteriores do PT, com seus gastos sem controle, também o levou a aceitar a prescrição de remédios ortodoxos, como as privatizações, a reforma da Previdência e a redução da máquina pública. No conjunto, esses pilares seriam mais do que suficientes para colocar o atual governo no campo da direita liberal, a exemplo de outros da região, como os da Argentina, do Chile e da Colômbia. A ideia era que o discurso mais conservador na área comportamental, muito utilizado durante a campanha eleitoral, fosse apenas moldura. Mas, pressionado pelo escritor Olavo de Carvalho, o presidente parece ter perdido o controle sobre a ala mais ideológica do seu governo.
Este grupo, que entrou em conflito aberto com os militares nas últimas semanas, é composto por dois filhos do presidente, Eduardo e Carlos, o assessor especial do presidente para assuntos internacionais, Filipe Martins, e o chanceler Ernesto Araújo. Ao emplacar diversas nomeações, a ala fincou raízes principalmente no Itamaraty e no Ministério da Educação. Seus integrantes destilam uma esperada ojeriza à esquerda, ao PT e ao suposto domínio marxista nas instituições brasileiras. Mas vão mais além ao incluir em suas reivindicações um fervor de natureza religiosa que tenta incluir a disputa política doméstica numa campanha mundial em prol de valores judaico-cristãos e ideais ultranacionalistas. No entendimento dos envolvidos, eles seriam os escolhidos para redimir o povo, que foi ludibriado e submetido pelas elites, pela imprensa, pelo sistema político e pelas organizações internacionais. É com essas bandeiras extras, de alcance menor na população, que a ala ideológica do governo brasileiro se incorpora à onda liderada pelo americano Steve Bannon, o ex-estrategista que trabalhou para Donald Trump durante sua campanha e depois, por oito meses, na Casa Branca.
Em janeiro de 2017, mês em que Trump tomou posse em Washington, Bannon e o advogado Mischael Modrikamen, fundador do Parti Populaire (Partido Popular) na Bélgica, registraram em Bruxelas a organização The Movement (O Movimento). O objetivo da dupla era apoiar grupos populistas e nacionalistas na Europa e no resto do planeta. São três os eixos principais do Movimento: mais soberania para as nações que fazem parte de mercados únicos, ênfase contra o radicalismo islâmico e uma política rígida de fronteiras. Em agosto desse mesmo ano, Bannon foi demitido por Trump. Depois de chorar e de implorar para manter o cargo, ele passou a se dedicar com mais fervor à sua causa nacionalista e populista. A América Latina, que de início mal aparecia em seu mapa, acabou virando uma das maiores surpresas.
Bolsonaro venceu as eleições de 2018 com quase 58 milhões de votos. Sua vitória fez com que os contatos que já estavam sendo feitos com Eduardo Bolsonaro se intensificassem em velocidade vertiginosa. “Durante a campanha de Jair Bolsonaro, Steve Bannon deu conselhos para equipe do brasileiro, da mesma forma como ele fez durante a campanha de Donald Trump”, disse a Crusoé Mischael Modrikamen, parceiro de Bannon. “O Movimento enxerga Bolsonaro como um líder populista chave e sua eleição como parte da insurreição populista que vimos no Brexit e na eleição de Trump”. Em janeiro de 2019, após a posse de Bolsonaro, Bannon visitou a casa de Olavo de Carvalho no estado americano da Virgínia. Os dois vivem a duas horas de distância. Conversaram sobre a situação do Brasil e ao que consideram ameaças ao Ocidente. No mês seguinte, Bannon nomeou o deputado Eduardo Bolsonaro para ser líder do Movimento na América do Sul. Na viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, em março, o primeiro evento da agenda foi um jantar na residência oficial do embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral. Olavo de Carvalho e Steve Bannon estavam entre os convidados à mesa. “Olavo é um dos maiores intelectuais conservadores do mundo. O que ele prega é o que eu chamo de evangelho da verdade”, disse Bannon, em vídeo compartilhado nas redes sociais.
Afinados na ideologia, Olavo de Carvalho e Steve Bannon são personalidades com habilidades diferentes, mas complementares. “Minha impressão é a de que Olavo tem perfil mais intelectual, de professor, enquanto Bannon é, sobretudo, um operador político, um homem de ação”, diz o embaixador Rubens Ricupero. Há também uma distinção em relação aos interesses. Bannon olha muito mais para a Europa e para os Estados Unidos. Ele já afirmou que dedicaria 80% de seu tempo ao Velho Continente, que terá eleições para o Parlamento Europeu entre 23 e 26 de maio. Olavo de Carvalho, obviamente, tem os olhos voltados principalmente para o Brasil. “Ele tem a pretensão de promover uma revolução conservadora no país, que estaria dominado pelo marxismo cultural”, diz o especialista em relações internacionais Carlos Gustavo Poggio.
Nas batalhas retóricas dos últimos dias, o general Eduardo Villas Bôas, assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional que foi atacado por Olavo de Carvalho, chamou o escritor de “Trotski de direita” – uma comparação que, na verdade, se encaixaria muito mais ao figurino de Bannon do que ao do guru, cada vez mais identificado como o longa manus do plano mirabolante de Bannon na parte brasileira do Globo. “Bannon estaria muito mais próximo de Trotski, pois tem buscado mais ativamente a internacionalização de seu movimento através de uma espécie de revolução global permanente”, diz Poggio. “Olavo de Carvalho é apenas uma peça no xadrez do americano”. A  mais recente ofensiva do guru, que adora bater em Hamilton Mourão, teve como alvo o ministro da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto Santos Cruz. Sob a alçada do militar está a comunicação do Palácio do Planalto. Internamente, há quem veja nos ataques de Olavo de Carvalho um movimento orquestrado para que a ala mais ideológica do governo tome o controle não só da estrutura como da verba milionária da área. Vencer a resistência dos militares e passar a controlar o setor seria um atalho para amplificar, com dinheiro e organização, o ideário do grupo.
Para cumprir a missão que se atribuiu, o Movimento tem como proposta funcionar como um “clube”, abrigando sob o mesmo guarda-chuva líderes populistas para discutir e trabalhar juntos. “Os da esquerda e os globalistas já têm as suas plataformas: o Fórum de Davos, o Clube de Bildeberg, George Soros e sua Open Society Foundation e, em alguma medida, a União Europeia e as Nações Unidas”, diz Modrikamen. Mais do que promover reuniões, seus fundadores se propõem a prover estratégia de campanha, conexões e aconselhamento político para agremiações populistas nacionalistas dispostas a pagar pelos serviços. Para as eleições do Parlamento Europeu, o Movimento espera que esses partidos formem uma única bancada coesa dentro do Parlamento Europeu. “O grupo não seria chamado de Movimento, mas nós certamente o apoiaríamos”, diz o belga.
Com o objetivo de formar líderes populistas para o futuro, o Movimento iniciou na Itália outra empreitada. No Monastério de Trisulti, construído em 1204, Bannon pretende fundar a Academia do Ocidente Judaico-Cristão. Seria uma “escola de gladiadores para guerreiros culturais”, segundo seu coordenador, o inglês Benjamin Harnweel. O complexo histórico, que fica no alto de uma montanha, foi alugado por 100 mil euros por ano pela organização Dignitates Humanae Institute, de Harnweel. A localização, a duas horas de Roma, é simbólica. “Roma, além de Jerusalém e de Atenas, é o centro do Ocidente Judaico-Cristão”, diz Bannon. O primeiro curso piloto, que tem entre duas e quatro semanas de duração, está programado para este ano. As aulas devem incluir teologia, economia, história, filosofia e mídias digitais. Entre os professores, estaria Olavo de Carvalho. “Ele disse que seria uma honra juntar-se à universidade”, disse o americano ao jornal Financial Times. Para oferecer diplomas certificados de mestrado, Bannon está buscando uma parceria com uma universidade católica americana.
É na Itália que o Movimento mais tem obtido sucesso. Em agosto do ano passado, o vice-presidente e ministro do Interior, Matteo Salvini, assinou a entrada de seu partido, a Liga (ex-Liga Norte) no grupo de Bannon. A legenda está em franca ascensão. Das atuais seis cadeiras que ocupa no Parlamento Europeu, a Liga deve pular para 26. Outro partido de direita do país, a Fraternidade Italiana, de Georgia Meloni, também aderiu ao Movimento. Alinhado com Bannon, Salvini propôs a união de diversos partidos nacionalistas europeus em um único bloco no Parlamento Europeu, o Europa das Nações e Liberdade (ENF, na sigla em inglês). Entre os que já aderiram, está o francês Reunião Nacional, de Marine Le Pen. Juntos, os membros do ENF devem conseguir perto de 60 das 751 cadeiras do Parlamento em Bruxelas, cerca de 8% do total. Mas o Movimento também tem esbarrado em diversos obstáculos. No ano passado, o grupo divulgou que pretendia fazer uma convenção com vinte a trinta partidos populistas do mundo todo. O evento acabou adiado por falta de quórum.
“Esses partidos não precisam de Bannon para seguir adiante”, diz a socióloga Mabel Berezin, professora da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e estudiosa da política francesa e italiana. O Movimento não tem uma lista oficial de membros próprios, mas afirma ter feito acordos com três siglas. Além da Liga, de Salvini, e do Fraternidade Italiana, apenas um desconhecido partido de Montenegro, Movimento por Mudanças, integra a lista. “Bannon costuma exagerar a influência que de fato exerce na Europa. É certo que contatos ocorreram, mas ele não participa ativamente das campanhas. Bannon se comporta muito mais como um conselheiro informal”, diz o cientista político italiano Lorenzo Pregliasco, professor da Universidade de Bolonha e autor do livro O Fenômeno Salvini.
As especificidades da política europeia, bem mais heterogênea que a americana, também deve inviabilizar o crescimento do bloco de partidos nacionalistas, como gostaria o Movimento. Salvini e Le Pen, do ENF, têm tentado atrair o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, cujo partido, o Fidesz, pertence a outro bloco de direita, o Partido do Povo Europeu (EPP, na sigla em inglês). Orbán tem resistido a aceitar a proposta. Os poloneses do Partido Lei e Justiça também não pretendem se unir a Salvini e Le Pen. Isso porque ambos são próximos do russo Vladimir Putin, o que naturalmente causa desconfiança na Polônia. O Movimento 5 Estrelas, que governa a Itália em coalizão com a Liga de Salvini, também tem preferido ficar longe de Bannon e integrar outro bloco com o inglês Ukip. Os nacionalistas, ao final, deverão estar fragmentados em três blocos no Parlamento Europeu. A maior parte deles acha até contraditória a proposta de uma frente “internacional”. O fato de o Movimento ser liderado por um americano e ter a sede em Bruxelas, a cidade que é o símbolo da União Europeia, só piora as coisas.
A Academia do Ocidente Judaico-Cristão também se viu obrigada a redimensionar os seus planos. Para alugar o mosteiro, a organização ligada a Bannon alegou que tinha experiência na administração de museus, o que se provou falso. A Dignitates Humanae Institute não estava, ainda, legalmente registrada à época da negociação com o governo italiano — o que contraria a legislação. Moradores locais, anarquistas e ambientalistas têm protestado contra a chegada do Movimento. Eles alegam que Bannon, seus professores e alunos desvirtuariam o local, até então dedicado à paz e à contemplação. As finanças são outro buraco no caminho. O prefeito da vila medieval de Collepardo, aos pés da montanha, aplicou um imposto de 80 mil euros por ano aos novos locatários. Não há qualquer garantia de que conservadores do mundo inteiro se sentirão atraídos a estudar na Academia do Ocidente Judaico-Cristão, pagando entre 40 mil e 50 mil euros por curso. Bannon não convenceu outros patrocinadores a investir na instituição. Até agora, tudo tem saído do seu próprio bolso.
“Nossa perspectiva de crescimento é global”, diz o belga Modrikamen. “Vemos muito potencial em países como Japão, Israel, Paquistão, Estados Unidos e, claro, Brasil”, diz ele. O cumprimento desse objetivo, contudo, dependerá da habilidade de vencer barreiras. No Brasil, o papel de pedra no caminho tem sido desempenhado pelos militares, avessos à ideia de uma “internacional  nacionalista”. Daí os ataques constantes de Olavo de Carvalho aos integrantes das Forças Armadas que integram o governo. Em uma postagem no Facebook no dia 5 de maio, o general Paulo Chagas mandou um recado para a ala ideológica que se reúne em torno de Olavo de Carvalho. “Vejo o deslumbramento e o radicalismo da parte dos aliados que se julga a única representante e responsável por estes novos tempos que podemos vir a desfrutar. São, em sua maioria, pessoas bem intencionadas, mas que se tornaram pacientes de um processo de submissão passional e intelectual que as impede de entender a importância, a sensibilidade e a complexidade deste momento”, escreveu Chagas. “Que, pelo menos, nos motivemos para pensar sobre isto antes de pôr em risco a melhor oportunidade que já tivemos para alcançar o tal futuro que há tantas gerações estamos a perseguir’.

segunda-feira, 25 de março de 2019

E agora, com voces, o chanceler paralelo; mas não, é o verdadeiro - Gilvandro Filho

Eduardo Bolsonaro é mais que um chanceler. É um conflito diplomático

Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia 
23 de Março de 2019 

De tudo o que o governo de Jair Bolsonaro tem de indigesto para oferecer ao País – e não é pouco -, a delegação irresponsável de poder que é outorgada aos filhos do presidente ultrapassa os limites do tolerável. Pior, está se tornando muito mais que algo simplesmente nocivo. Em alguns casos, a coisa ameaça descambar para o incidente diplomático. Pelo que faz e acontece o “número 02” dos primeiros-filhos de Bolsonaro, a coisa não pode acabar bem. Eduardo Bolsonaro é um perigo iminente para o próprio pai, para o cambaleante governo e para o Brasil.
A imagem do deputado federal sentado no sofá da Casa Branca, em uma reunião privada do presidente-pai com o presidente-ídolo, foi uma das cenas mais estapafúrdias que a diplomacia brasileira já produziu. Bolsonaro, o pai, barrou do encontro o seu próprio chanceler, o inexplicável Ernesto Araújo, para levar o filho. E o fez, segundo disse, a convite do próprio Donald Trump. Se Araújo ainda está no cargo, só mesmo a falta de noção e de amor próprio do auxiliar deve conseguir justificar.
Jair Bolsonaro tem um filho para cada área-problema. Cada um deles com um potencial de inconveniências, o que já era mais ou menos previsto durante a campanha eleitoral. Os três já se prenunciavam os “donos” da República que viriam a ser. Mas ultrapassaram as piores expectativas. Nada é tão ruim que não possa, um dia, piorar. Eles ratificaram a máxima.
O mais velho, o ex-vereador do RJ e hoje senador Flávio, viria a mostrar-se entrosados com figuras do crime organizado do Rio de Janeiro. Já havia homenageado miliciano e, no poder, fez nascer a primeira personagem-problema do governo, o assessor-pagador-amigo de fé-irmão-camarada Fabrício Queiroz, até hoje livre, leve e solto pela falta de um juiz de primeira instância com coragem e com vontade de mostrar serviço, como parecia haver no passado.
O mais novo e mais querido é Carlos, o Carlucho, hoje vereador do RJ, é assessor para assuntos aleatórios, gerais e pessoais. Acompanha o pai em situações de extrema intimidade, como cuidar do pai durante o internamento deste, após a cirurgia no Hospital Albert Einstein, o que é plenamente justificável. Ou em outras cujo cabimento é questionável, como sentar no assento de trás do Rolls-Royce presidencial, com os pés no banco, em pleno percurso da posse presidencial.
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)
Mas em termos de criar problema internacional, o cara é Eduardo. Deputado federal, conseguiu se encaixar no posto de presidente da Comissão de Relações Externos da Câmara dos Deputados, o que que lhe confere um certo álibi para viajar pelo mundo à cata de situações que acabam colocando o País em exposição desairosa. Desembarca em aeroportos com boné de propaganda de Trump como se fossem as orelhas de Mickey. Antecipa acordos políticos com Israel. E é, atualmente, a figura central da participação brasileira da possível guerra contra a Venezuela, ação criminosa que Trump e seus aliados cuidam para curto prazo.
A atuação, ou intromissão, de Eduardo Bolsonaro na área faz a importância do chanceler Ernesto Araújo ser muito menor que a dos juncos do jardim suspenso do Itamaraty. Com todo respeito à função dos juncos e das demais plantas do belo espelho d’água que margeia o palácio.
A brincadeira da hora do filho do meio é mesmo a guerra contra a Venezuela. Com aval do pai, diga-se de passagem, ele se diverte expelindo intenções bélicas, no que acaba falando em nome do governo brasileiro, embora não devesse. Faz eco a Trump e seus senhores da guerra e influencia o pai-presidente na formação de um campo de batalha que não lhe compete.
Mas, é impossível para os Bolsonaro aceitarem que esta guerra contra a Venezuela não é nossa. E que, no futuro, estará aberto um flanco enorme que vai acabar por nos engolir. Ou será que a concessão aos americanos da Base Militar de Alcântara não significa nada? Ou que o pré-sal não poderá ser, daqui a pouco, pretexto similar ao que é hoje o petróleo venezuelano para Trump?
Na sexta-feira (22), o nosso “ministro informal” das relações exteriores previu que, “de alguma maneira”, o “uso da força” será utilizado pelo Brasil e pelas Forças Armadas, no conflito venezuelano, que já dá como certo. A declaração, ele deu no Chile, onde o pai participava da formação de um perigoso (este sim) bloco de extrema-direita com países alinhados aos Estados Unidos e dispostos a pegar em armas para tirar do poder o governo legitimamente eleito de Nicolás Maduro.
À primeira vista, a impressão é de que Eduardo Bolsonaro não passa de um menino doido para brincar de guerra. E que o pai já lhe comprou o brinquedo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O chanceler paralelo: Eduardo Bolsonaro - Igor Gadelha (Crusoe)


Transcrevo, abaixo, trechos da entrevista de Eduardo Bolsonaro ao jornalista Igor Gadelha da revista Crusoé, exclusivamente sobre temas de política externa e diplomacia, à exclusão de todos os demais, sobre política interna, Congresso, etc.
Confirma-se o que já se sabia...
Paulo Roberto de Almeida


“Filho é indemissível’
Revista Crusoé, n. 41, 9/02/2019

(...)

O sr. acha que o Brasil deveria intervir ou apoiar uma intervenção militar na Venezuela?
Sou contra a ideia de que o Brasil venha a declarar uma guerra ou fazer uma intervenção na Venezuela. Até se nós quisermos aqui formar uma força humanitária e mandar um avião sobrevoar as áreas onde estão as pessoas mais ligadas ao Guaidó (Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino do país), qual a garantia teremos de que esse avião não vai ser bombardeado na Venezuela? Nenhuma. Então, a Venezuela hoje não tem sequer uma estabilidade para você mandar uma ajuda humanitária desse porte. Além disso, mandando uma ajuda humanitária, certamente quem está lá embaixo está com armas nas mãos, que são os coletivos do Maduro, para os quais ele distribuiu vários fuzis, inclusive AK. Com apoio da Rússia, alguns anos atrás, o (Hugo) Chávez distribuiu mais de 100 mil (fuzis) para os seus coletivos, os cubanos, que são em torno de 50 mil, expectativa de 50 mil a 100 mil, mais ou menos, que estejam lá, Hezbollah, FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ELN (Exército de Libertação Nacional). Esse pessoal é que vai pegar a ajuda humanitária e distribuir entre os deles. Então temos que ter a coragem de falar o seguinte: o Maduro só vai sair do poder através do uso da força. Não estou dizendo que o Brasil tem que ir lá, entrar com militares, com as Forças Armadas, para tirar o Maduro, não. Não é isso que estou dizendo. Estou tendo uma conclusão óbvia. Porque através de eleições ele já demonstrou que não vai sair. As últimas eleições tiveram mais de 80% de abstenções. Se levarmos em conta que não houve fraude, o que é uma piada imaginar que não houve fraude naquelas eleições, o Maduro foi reeleito com 17% dos votos.
De onde viria, então, essa força para tirar Maduro do poder? Dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos têm grandes Forças Armadas. E não só os Estados Unidos, mas qualquer iniciativa que venha a ser feita na Venezuela, como ocorreu de maneira desorganizada com Oscar Pérez, que juntou um pequeno contingente de militares e policiais e conseguiu fazer uma força ali para tentar bater de frente com o Maduro, qualquer iniciativa dessas tem que ser apoiada. Porque, se ela não for apoiada, a cada dia que passa, mais pessoas estarão morrendo de fome, e o Maduro não está nem aí para isso.

Mas que solução o sr. vê, afinal?
Vejo que, de alguma maneira, alguém tem que se organizar. Principalmente militares venezuelanos que estão no exílio, de alguma maneira, se organizar para conseguir, pouco a pouco, entrar e ir libertando a Venezuela. Agora, entre o que eu acho que pode acontecer e o que vai acontecer, há uma distância bem grande. Estou te falando aqui como um deputado federal do Brasil o que eles podem fazer, o que estão fazendo etc. Agora, toda ditadura, quanto mais ela vai se enrijecendo, mais a oposição também vai tomando medidas contrárias. O povo venezuelano estará vendo que vai morrer de fome ou vai ter que se prostituir para ter umas migalhas do governo, mais e mais pessoas vão pensando que vale a pena tentar ir para o tudo ou nada.

Qual é a sua opinião sobre a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém?
Acredito que o Brasil não pode errar porque, pelo tamanho que o Brasil tem, ele vai servir de exemplo para toda a região. Então, se o Brasil fizer uma transferência de maneira exitosa, se for um sucesso a transferência da embaixada, isso fará com que outros países possam vir a acompanhar o Brasil. Do mesmo modo que, se nós fizermos alguma coisa errada, isso vai servir de exemplo para que outros países não venham a seguir essa tentativa de transferência da embaixada para Jerusalém. O que as pessoas não atentam é que ocorreu já uma grande mudança no Oriente Médio, onde Israel não é mais visto como inimigo. Israel é cada vez mais visto como um aliado. O grande problema de toda aquela região é o Irã. O Irã é que financia o terrorismo, o Irã é que causa problemas, que dá suporte para grupos extremistas. Para você ver: Israel queria dar de graça a tecnologia de água para os fazendeiros no Irã. O governo do Irã não permitiu porque era uma ajuda de Israel. Ele prefere ver seu povo morrendo sem alimento e sem água a receber uma ajuda de Israel. E eu corroboro que aquelas relações ali mudaram quando você olha a mudança que os Estados Unidos fizeram de sua embaixada para Jerusalém. Vários países censuraram publicamente, mas não houve qualquer tipo de retaliação contra os Estados Unidos. Aí, já sei, você vai perguntar: poxa, mas olha o tamanho dos Estados Unidos. Tudo bem. Mas olha o tamanho da Guatemala. Será que, se os países árabes não quisessem destruir a Guatemala, fazer um embargo econômico, não poderiam fazer? Por que não fizeram? O Brasil é um meio termo. Não está em uma posição como a americana, nem como a guatemalteca. Mas é um meio termo, e acho, sim, que a gente tem que fazer essa mudança. Primeiro, por respeito aos eleitores, já que é uma promessa de campanha do Jair Bolsonaro. E, em conversa com o Benjamin Netanyahu, quando ele veio ao Brasil, Jair Bolsonaro se comprometeu a fazer a mudança.

Há uma pressão da bancada ruralista contra a transferência por receio de retaliações na compra de frango.
Muito frango… E carne. Do Brasil e da Austrália. E se os dois mudarem a embaixada, (os países árabes) vão fazer o quê?

O sr. concorda com o meio termo adotado pela Austrália de instalar a embaixada em Jerusalém Ocidental?
Não. Acho que tem que ser o compromisso de campanha. Você pode botar um gabinete avançado, depois pode fazer a mudança da embaixada. Tem que ver um prédio para isso. Isso pode ser que não saia de graça. Enfim. Mas são medidas que têm que ser tomadas. Outro ponto que a gente não passou, mas que é relevante, é que muitas pessoas têm medo de ataque terrorista. Ah, a gente vai estar trazendo para o Brasil a questão do terrorismo islâmico para cá. Meus caros, a Argentina já teve dois ataques terroristas nos anos 1990. Quem acha que no Brasil não tem operação de grupo extremista está redondamente enganado. O Hezbollah está aqui em cima junto com o Hamas, aqui na Venezuela. E reparem: quantas pessoas morreram de ataques terroristas em 10 anos na Europa? Não chegam a mil.

Mesmo assim é muita gente.
Eu sei. Mas calma lá. Estou querendo dizer o seguinte: e se eles começarem a fazer ataques terroristas reivindicando que as mulheres, sei lá, tenham determinado comportamento? E aí, a gente vai abaixar a cabeça para eles porque vão fazer ataques terroristas? Acho que, se eles radicalizarem com ataques terroristas, a gente poderia enrijecer as nossas leis, especificamente para esses casos. Banimento de passaporte, banimento do país, prisão perpétua. Começar a discutir aqui. Tenho certeza que, se você colocar para um plebiscito, aprova.

Mas é cláusula pétrea na Constituição a proibição da prisão perpétua, por exemplo. Como fazer?
O poder constituinte originário é do povo. O povo tem total poder para mudar. Quem vive no território brasileiro não é o povo brasileiro?

(...)