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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Os erros de Keynes, por Juan Ramón Rallo - Philipp Bagus (Instituto Mises Brasil)

Os erros de Keynes

por , sexta-feira, 7 de junho de 2013

 

keynes.jpgA Escola Austríaca de economia já forneceu ao mundo devastadoras críticas à obra magna de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (doravante Teoria Geral).  Friedrich A. von Hayek, Jacques Rueff, Henry Hazlitt, Murray Rothbard, Ludwig Lachmann, Ludwig von Mises e William Hutt já contribuíram com importantes e sólidos argumentos contra Keynes e o keynesianismo.
Para o júbilo dos defensores da liberdade, podemos agora acrescentar um novo nome a esta distinta lista.  Em 2012, o espanhol Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana, professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri, e graduado sob a orientação de Jesús Huerta de Soto, publicou uma nova crítica à Teoria Geralcom o título de Los Errores de la Vieja Economía em homenagem à obra de Henry Hazlitt intitulada The Failure of the 'New Economics'.
Na época de Hazlitt, o programa de Keynes ainda era revolucionário e foi descrito por Hazlitt como sendo um tipo de "Nova Economia" que rompia com as constatações da economia clássica, e especialmente com a Lei de Say.  Hoje, o keynesianismo já se tornou a corrente dominante.  O keynesianismo, e mais especificamente a sua ideia de que os gastos do governo reduzem o desemprego, é o programa majoritariamente ensinado nas universidades, jubilosamente aplicado por políticos (pode haver coisa melhor do que um economista dizendo a um político que ele tem de gastar mais?) e proeminentemente defendido pelo vencedor do Prêmio Nobel de 2008, Paul Krugman.
Com efeito, a imediata resposta política à atual crise financeira do mundo ocidental foi inspirada pela Teoria Geral.  Uma segunda Grande Depressão tinha de ser evitada, diziam os economistas, e as ideias de Keynes foram aplicadas.  Os governos então adotaram uma política monetária expansionista combinada a volumosos estímulos fiscais, e tudo em resposta àquilo que, aos olhos de Krugman, parecia ser uma bolha causada pela 'especulação temerária estimulada pelo mercado', fenômeno este que havia sido inspirado pelo "espírito animal" dos agentes de mercado. 
Sendo assim, ainda que o livro de Rallo fosse apenas um resumo dos velhos argumentos apresentados contra aTeoria Geral, o momento para a sua publicação seria mais do que apropriado, já que as ideias do passado ainda são a prática do presente.  No entanto, Los Errores de la Vieja Economía é muito mais do que um mero sumário e síntese dos argumentos expostos pelo supracitados autores austríacos.  Rallo aproveita, combina e aprimora estes argumentos de uma maneira metódica e ordenada.  Ainda mais importante, ele acrescenta suas próprias e inovadoras ideias para, no final, produzir um argumento devastador contra a Teoria Geral.
A crítica de Rallo à Teoria Geral utilizando a teoria austríaca é rigorosa, sistemática e profunda.  Importante ressaltar que as ideias de Keynes não são em nenhum momento do livro distorcidas ou mal interpretadas.  A completa ausência de espantalhos faz com que o ataque desferido por Rallo ao cerne das crenças keynesianas seja mais forte e poderoso do que o de seus pares.  Rallo também não sai à procura de contradições e inconsistências terminológicas.  Neste sentido, a crítica de Rallo é ainda mais profunda e devastadora do que, por exemplo, os trechos do brilhante livro de Henry Hazlitt que enfatizam as inconsistências, as imprecisões e toda a falta de clareza de Keynes.  Rallo possui um grande e genuíno interesse em fornecer um retrato claro e coerente do raciocínio de Keynes e, por isso, apresenta a teoria keynesiana sob uma luz extremamente favorável.
Vejamos agora alguns dos argumentos de Rallo, começando pela famosa crítica feita por Keynes à Lei de Say.  Para começar, Keynes distorceu a Lei de Say, e esta versão distorcida, que aparece na Teoria Geral, afirma que a oferta cria sua própria demanda.  Rallo corrige essa distorção e descreve a Lei de Say em sua versão original: no longo prazo, a oferta de bens se ajusta à demanda por eles.  Em última análise, bens são ofertados porque o indivíduo quer adquirir outros bens (entre eles, o dinheiro).  Um indivíduo produz com o intuito de demandar, o que significa que é impossível haver um excesso de produção.
A Lei de Say nos leva diretamente ao mais inovador argumento do livro de Rallo, que aborda a velha crítica ao entesouramento.  Até mesmo alguns severos críticos de Keynes — por exemplo, o pessoal do campo monetarista ou neoclássico — admitem que ele ao menos estava correto na questão de que o entesouramento — mais especificamente, o ato de guardar dinheiro dentro da gaveta — é uma atividade perigosa e desestabilizadora.
Rallo, no entanto, demonstra, comprova e enfatiza a função social do entesouramento.  Se as pessoas estão demandando dinheiro — isto é, se elas estão aumentando a quantidade de dinheiro vivo em seus encaixes — isso não significa que elas não estão demandando nada do mercado.  O entesouramento é uma reação natural dos poupadores e dos consumidores a uma estrutura de produção que não está se ajustando às suas reais necessidades.  Trata-se de um sinal de protesto enviado aos empreendedores: "Por favor, ofertem-nos outros bens de consumo e de capital!  Mudem a atual estrutura de produção, pois os bens que ela nos oferece hoje não nos é adequada."
Em uma situação de grande incerteza, é mais prudente entesourar do que imobilizar fundos para o longo prazo.  Rallo nos oferece um exemplo visual.  Suponhamos que a incerteza aumente porque as pessoas estão à espera de um terremoto.  Consequentemente, elas começam a entesourar, ou seja, elas aumentam seus encaixes em dinheiro vivo, o que dá a elas mais flexibilidade.  Tal atitude é completamente racional e benéfica do ponto de vista dos participantes do mercado.  A alternativa keynesiana seria dar este dinheiro para o governo para que ele pudesse gastar.  A construção de arranha-céus estatais não apenas iria contra a vontade da maioria das pessoas prudentes, como também se comprovaria desastrosa casso o terremoto ocorresse.
Entesourar é um seguro contra incertezas futuras.  Rallo argumenta que, se a demanda por dinheiro aumentar (em termos técnicos, se a preferência por liquidez aumentar) por causa desta maior cautela, as taxas de juros de curto prazo tenderão a cair, ao passo que as de longo prazo irão subir.  As pessoas irão investir mais em ativos de curto prazo e menos em ativos de longo prazo, pois elas querem se manter líquidas.  Isso leva a um reajuste na estrutura de produção.  Mais recursos serão direcionados para a produção de bens que apresentarem maior liquidez (em um padrão-ouro, por exemplo, este bem seria o ouro), e para a produção de bens de consumo.  A estrutura de produção será alterada, apresentando agora um maior número de processos mais curtos e menos arriscados e um menor número de processos mais longos e mais arriscados.
O entesouramento, portanto, não faz com que os fatores de produção fiquem ociosos.  No cenário acima, tais fatores serão alocados para a produção de ouro e para outros projetos de curto prazo.  Rallo insiste que não é nada irracional querer entesourar.  Com efeito, quando projetos de longo prazo são mantidos e as condições econômicas se alteram, estes projetos talvez tenham de ser liquidados.  Por exemplo, o terremoto destruiria o arranha-céu que está sendo construído.
Vale observar que a maioria dos austríacos não é adepta de uma teoria híbrida que diz que a taxa de juros é determinada tanto pela preferência pela liquidez quanto pela preferência temporal.  Rallo, porém, é adepto desta teoria híbrida, e acredita que a taxa de juros, ou a estrutura das taxas de juros, é determinada tanto pela preferência temporal quanto pela preferência pela liquidez.  A maioria dos austríacos defende apenas a teoria da preferência temporal como formadora das taxas de juros.  Devido à incerteza, um agente prefere estar líquido em vez de ilíquido.  E devido à preferência temporal, um agente prefere estar mais líquido agora do que no futuro.  Consequentemente, em condições normais, os juros de curto prazo tendem a ser menores do que os juros de longo prazo.  Quando a incerteza aumenta, os juros de longo prazo tendem a ficar ainda maiores.  No entanto, em uma crise financeira, um outro efeito tende a prevalecer sobre esta tendência.  Quando a sociedade em geral se torna ilíquida — em consequência do início da crise —, surge uma maior demanda por empréstimos de curto prazo.  Esta busca por liquidez imediata tende a fazer com que os juros de curto prazo aumentem e se tornem maiores do que os juros de longo prazo.
A questão dos recursos ociosos é outro tópico importante do livro de Rallo, uma vez que Keynes recomenda a inflação monetária como forma de evitar que os fatores de produção se tornem ociosos e o desemprego aumente.  Rallo pergunta por que, em primeiro lugar, os fatores se tornaram ociosos e o desemprego aumentou?  A resposta é que os proprietários destes fatores — no caso dos bens de capital, os donos das fábricas; e no caso da mão-de-obra, os desempregados — estão demandando um preço por seus serviços que é maior do que o valor presente de seu produto marginal.  Nestas circunstâncias, a inflação monetária irá apenas gerar uma redistribuição de renda em prol dos proprietários destes fatores, em nada ajudando a reestruturar a economia — ou seja, a estrutura de produção continuará desajustada e a economia vivenciará um consumo de capital, isto é, recursos escassos continuarão sendo utilizados em linhas de produção para a qual não há mais demanda.
Por outro lado, quando os fatores de produção têm seus preços reajustados, isto é, quando os preços dos bens de capital caem e os salários diminuem até chegar ao valor de seu produto marginal, a demanda agregada não cai, como sugere Keynes.  Ao contrário: a demanda aumenta porque, em decorrência do maior número de pessoas agora empregadas e do maior nível de investimentos em decorrência da queda no preço das máquinas, a produção total da economia também aumenta.
Rallo ataca impiedosamente outros conceitos keynesianos.  O famoso "multiplicador do investimento" é uma das vítimas.  Segundo esta teoria, um aumento unitário no volume de investimento de uma economia provoca ondas sucessivas de aumento da renda, cuja dimensão depende da propensão marginal a consumir ou poupar.  Esta teoria requer que todos os fatores de produção estejam apresentando alguma ociosidade.  Mais especificamente, para Keynes estar correto, é necessário que haja desemprego voluntário de todos os fatores de produção e que também haja capacidade ociosa nas indústrias de bens de consumo. 
Vejamos.  Se não houver desemprego voluntário de todos os fatores, o estímulo governamental a novos projetos de investimentos irá gerar apenas gargalos, uma vez que fatores de produção serão retirados de outros projetos mais lucrativos e direcionados para projetos artificiais.  Os keynesianos concordam com isso.  Se todos os tipos de fatores de produção estiverem apresentando alguma ociosidade, mas não houver mais capacidade produtiva nas indústrias de bens de consumo, então estímulos governamentais irão apenas elevar os preços dos bens de consumo e encurtar a estrutura de produção, tornando-a mais voltada para o presente.  Os keynesianos também concordam com isso.  E, finalmente, se os dois fenômenos ocorrerem conjuntamente — isto é, se houver uma ociosidade geral dos fatores e houver folga na capacidade produtiva das indústrias de bens de consumo, que é o pressuposto da teoria de Keynes —, por que então não há um acordo voluntário entre os proprietários dos fatores de produção e os empreendedores?  Keynes não respondeu a essa questão, e preferiu ir diretamente para a defesa do aumento dos gastos do governo e da inflação monetária para corrigir esta situação.
Outra importante ideia keynesiana que Rallo aborda é a famosa armadilha da liquidez.  Uma armadilha da liquidez ocorre quando, em uma economia em recessão, as taxas de juros estão muito baixas.  Nesta situação, Keynes diz que a política monetária se torna inútil, pois os especuladores irão simplesmente entesourar todo o dinheiro que o governo imprimir.  Os especuladores não irão investir em títulos porque eles já estão com preços máximos (os juros são mínimos), e os preços deles irão cair quando os juros finalmente voltarem a subir.  Neste ponto, a política monetária se torna impotente e o aumento do gasto público se torna necessário para estimular a demanda agregada.
Rallo mostra que, após um período de forte crescimento artificial estimulado pela expansão do crédito, em que vários investimentos errôneos foram feitos, a economia entra em recessão quando esta expansão do crédito é reduzida em decorrência da alta dos preços (que levam a um aumento dos juros cobrados pelos bancos).  Neste cenário, os preços estão mais altos e há um endividamento generalizado das pessoas e empresas.  Consequentemente, praticamente não há demanda por novos empréstimos, mesmo que as taxas de juros sejam acentuadamente reduzidas.  Neste caso, a economia na verdade se encontra em uma armadilha de iliquidez, uma vez que indivíduos e empresas estão preocupados em aumentar sua liquidez.  Eles querem reduzir suas dívidas e não pegar mais empréstimos.  A política monetária de redução dos juros irá na realidade piorar a situação, pois com juros baixos não há incentivo para pagar antecipadamente e cancelar as dívidas (pois uma redução dos juros eleva o valor presente da dívida).  A solução para esta situação de incerteza generalizada é o entesouramento, a estabilidade das instituições, a liquidação dos investimentos ruins e a redução das dívidas.
Uma alta incerteza não implica um alto desemprego, uma vez que até mesmo sob uma alta incerteza a redução dos preços dos fatores de produção faz com que novos projetos sejam mais lucrativos.  Sob uma alta incerteza, estes projetos de investimento serão a produção de ouro (se a economia estiver em um padrão-ouro) e a produção de bens de consumo voltada para o curto prazo.
Rallo demonstra que, ao contrário do que diz a Teoria Geral, não é a oferta agregada ou a demanda agregada o que importa, mas sim a composição das duas.  Em uma depressão em que a estrutura da produção está distorcida e a economia apresenta uma "armadilha da liquidez", se a demanda agregada for estimulada pelos gastos do governo, a estrutura existente não terá como produzir os bens que os consumidores querem com mais urgência.  Logo, a solução não é mais gastos e mais endividamento, mas sim uma redução da dívida e a liquidação dos investimentos ruins para fazer com que novos e mais sensatos investimentos sejam exequíveis.
Para Keynes, por outro lado, o problema sempre será de 'demanda insuficiente'.  Sendo assim, o que deve ser feito se consumidores e investidores não quiserem comprar os produtos que as empresas estão oferecendo, preferindo poupar?  Keynes recomenda reduzir os impostos, as taxas de juros e desvalorizar a moeda.  Se isso não funcionar, o governo deve sair comprando os produtos que os consumidores não querem comprar.  Porém, pergunta Rallo, por que os consumidores e investidores deveriam comprar bens que eles não querem?
A resposta de Keynes é que, se isso não for feito, o desemprego aumentará.  E Rallo contra-argumenta: mas se uma pessoa é forçada a gastar seu salário comprando algo que ela não quer, qual seria seu incentivo para trabalhar?  Por que ela sequer deveria ter um emprego?  A alternativa a forçar as pessoas a gastar é reduzir os salários até o valor de seu produto marginal, o que elevaria a produção e a demanda.  Como demonstra Rallo, a sociedade não se torna mais rica se o governo induzir ou forçar as pessoas a comprar bens que elas não querem. 
Logo, para Rallo, eis a essência da Teoria Geral: quando as pessoas não querem comprar aquilo que está sendo produzido, o governo deveria obrigá-las a agir contra sua vontade.
As observações sobre o livro de Rallo aqui demonstradas são apenas uma pequena amostra.  Dentre outras coisas, Rallo também apresenta uma análise das principais definições inventadas por Keynes e os erros teóricos de cada uma delas (como, por exemplo, seu viés pró-consumismo).  Ele apresenta uma análise austríaca dos mercados financeiros, discutindo as inter-relações que existem entre a estrutura da curva de juros, as taxa de juros, a taxa de redesconto, a estrutura do investimento, a armadilha da liquidez e a bolsa de valores.  Ele analisa a questão dos salários reais e nominais, os ciclos econômicos, as implicações políticas dos ciclos e todos os antecessores intelectuais da Teoria Geral de Keynes, e tudo utilizando a teoria austríaca.  Também extremamente útil é o guia criado por Rallo para os leitores da Teoria Geral, que torna mais fácil e mais eficiente ler e identificar os principais erros de Keynes, capítulo por capítulo.  Como extra, no final do livro, Rallo também apresenta uma crítica ao modelo IS-LM, desenvolvido por John Hicks e Franco Modigliani, que formalizou a teoria de Keynes e que ainda é maciçamente ensinado nas universidades ao redor do mundo.
O livro de Rallo, além de repleto de observações brilhantes, é hoje a obra que fornece a mais poderosa e completa demolição dos argumentos keynesianos.  Los Errores de la Vieja Economía será, no futuro, a referência, tanto dos estudiosos quanto dos leigos, para encontrar todos os erros no pensamento de Keynes e nas políticas adotadas pelos governos.  O único ponto negativo do livro é que, por enquanto, existe apenas a versão em espanhol.  É de se esperar que a obra rapidamente seja disponibilizada em outros idiomas.

Philipp Bagus 
é professor adjunto da Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.  É o autor do livro A Tragédia do Euro.  Veja seu website.

Tradução de Leandro Roque

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Lei de Say e sua "inversao" por Keynes - Ludwig von Mises

Lord Keynes e a Lei de Say

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I
A principal contribuição de Lord Keynes não esteve no desenvolvimento de novas ideias, mas, sim, “em fugir das antigas”, como ele mesmo declarou no fim do prefácio de sua Teoria geral. Os keynesianos dizem-nos que seu feito imortal consiste na refutação cabal do que veio a ser conhecido como Lei dos Mercados ou Lei de Say. A negação dessa lei, afirmam, é a essência de todas as lições de Keynes; todas as outras proposições de sua doutrina derivam, por necessidade lógica, desse insight fundamental e têm de ruir se o fracasso desse ataque na Lei de Say puder ser demonstrado. [1]
É importante compreender agora que aquilo que é chamado de Lei de Say foi, num primeiro momento, proposto como refutação de doutrinas popularmente aceitas nos tempos anteriores ao desenvolvimento da economia como um ramo do conhecimento humano. Ela não era uma parte integrante da nova ciência econômica conforme ensinada pelos economistas clássicos; era, antes, um preâmbulo — a revelação e a eliminação de ideias deturpadas e insustentáveis que turvavam a mente das pessoas e eram um sério obstáculo à analise racional das circunstâncias.
Sempre que os negócios iam mal, os comerciantes comuns tinham duas explicações à mão: o mal era causado por uma escassez de moeda e por uma superprodução geral. Adam Smith, em uma famosa passagem de A riqueza das nações, implodiu o primeiro desses mitos. Say dedicou-se predominantemente a uma refutação meticulosa do segundo mito.
Contanto que algo determinado seja um bem econômico e não um “bem gratuito”, sua demanda obviamente não é absolutamente abundante. Ainda há necessidades não satisfeitas que uma oferta maior do bem considerado poderia satisfazer. Ainda há pessoas que gostariam de obter mais desse bem que estão de fato obtendo. Em relação aos bens econômicos, nunca pode haver superprodução absoluta. (E a economia lida apenas com bens econômicos, não com bens gratuitos como o ar, que não são objeto de ações humanas que obedeçam a finalidades, e, portanto, não são produzidos, e em relação aos quais o emprego de termos como subprodução e superprodução simplesmente não faz sentido.)
Em relação aos bens econômicos, pode haver apenas superprodução relativa. Enquanto os consumidores estão demandando quantidades determinadas de camisas e de sapatos, os produtores fabricam, digamos, uma quantidade maior de sapatos e uma quantidade menor de camisas. Isso não é uma superprodução geral de todos os bens. À superprodução de sapatos corresponde uma subprodução de camisas. Consequentemente, o resultado não será uma depressão geral de todos os ramos produtivos, mas, sim, uma mudança nos termos de troca entre sapatos e camisas. Se, por exemplo, anteriormente um par de sapatos poderia comprar quatro camisas, agora ele compra apenas três camisas. Enquanto os negócios vão mal para os fabricantes de sapatos, eles vão bem para os fabricantes de camisas. As tentativas de explicar a depressão geral do comércio referindo-se a uma suposta superprodução geral são, portanto, falaciosas.
Bens, diz Say, são pagos, em última análise, não com dinheiro, mas com outros bens. O dinheiro é simplesmente o meio de troca mais comumente utilizado; ele desempenha apenas um papel intermediário. O que o vendedor quer receber em troca pelos bens vendidos são, em última análise, outros bens. Cada bem produzido é, por conseguinte, um preço, digamos assim, por outro bem produzido. Qualquer aumento na produção de um bem melhora a situação do produtor de qualquer outro bem. O que pode prejudicar os interesses do produtor de um bem determinado é não antecipar corretamente o estado do mercado. Ele superestimou a demanda dos consumidores por seu bem e subestimou sua demanda por outros bens. Os consumidores não veem utilidade nesse empreendedor atrapalhado; eles compram seus produtos apenas a preços que o fazem acumular prejuízos, e eles o forçam, caso ele não corrija seus erros a tempo, a deixar o mercado. Por outro lado, aqueles empreendedores que foram bem-sucedidos na antecipação da demanda do público colhem lucros e têm condições de expandir suas atividades produtivas. Essa, diz Say, é a verdade por trás das afirmações confusas dos homens de negócios de que a principal dificuldade não está na produção, mas na venda. Seria mais apropriado declarar que o primeiro e principal problema dos negócios é produzir da melhor e mais barata maneira aqueles bens que satisfarão as mais urgentes necessidades ainda insatisfeitas do público.
Assim, Smith e Say demoliram a explicação mais antiga e ingênua do ciclo de negócios, estabelecida pelas expansões populares de negociantes ineficientes. É verdade que seu feito foi meramente negativo. Eles implodiram a crença em que a recorrência de períodos de maus negócios era provocada por uma escassez de moeda e por uma superprodução geral. Mas eles não nos deram uma teoria elaborada do ciclo de negócios. A primeira explicação desse fenômeno foi proporcionada muito mais tarde, pela British Currency School.
As importantes contribuições de Smith e de Say não foram inteiramente novas e originais. A história do pensamento econômico pode registrar alguns pontos essenciais de seu pensamento em autores mais antigos. Isso de maneira alguma deprecia os méritos de Smith e de Say. Eles foram os primeiros a lidar com o assunto de modo sistemático e a aplicar suas conclusões ao problema das depressões econômicas. Eles foram também, portanto, os primeiros contra os quais os defensores de doutrinas populares espúrias dirigiram seus violentos ataques. Sismondi e Malthus escolheram Say como o alvo de uma saraivada de críticas quando tentaram — em vão — salvar os preconceitos populares desacreditados.
II
Say emergiu vitoriosamente de suas discussões com Malthus e Sismondi. Ele provou sua tese, ao passo que seus adversários não conseguiam provar a deles. Assim sendo, durante todo o resto do século XIX, o reconhecimento da verdade contida na Lei de Say era a marca distintiva de um economista. Aqueles autores e políticos que tornavam a suposta escassez de moeda responsável por todos os males e advogavam a inflação como uma panacéia não eram mais considerados economistas, mas “monetaristas ranzinzas”.
Os embates entre os defensores da moeda estável e os inflacionistas perpetuaram-se por muitas décadas. Mas não eram mais considerados uma controvérsia entre várias escolas econômicas. Eram vistos como um conflito entre economistas e anti-economistas, entre homens racionais e fanáticos ignorantes. Quando todos os países civilizados haviam adotado o padrão ouro ou o padrão de trocas em ouro, a causa da inflação parecia ter perdido para sempre.
A economia não se contentou com o que Smith e Say haviam ensinado sobre os problemas envolvidos. Ela desenvolveu um sistema integrado de teoremas que demonstrava convincentemente o absurdo dos sofismas inflacionistas. Ela retratou em detalhe as consequências inevitáveis de um aumento na quantidade de moeda em circulação e de uma expansão de crédito. Ela elaborou a teoria monetária ou de circulação do crédito do ciclo de negócios que demonstrava claramente como a recorrência de depressões comerciais é provocada pelas tentativas repetidas de “estimular” os negócios por meio de expansão de crédito. Assim, ela provou conclusivamente que a depressão, cujo surgimento os inflacionistas atribuíam a uma insuficiência da oferta de moeda, é, pelo contrário, a consequência necessária de tentativas de remover essa suposta escassez de moeda por meio de expansão do crédito.
Os economistas não contestaram o fato de que uma expansão de crédito em seu estágio inicial promove o crescimento dos negócios. Mas eles salientaram que esse crescimento artificial necessariamente ruirá após um tempo e produzirá uma depressão geral. Essa demonstração
poderia seduzir estadistas preocupados com a promoção do bem-estar duradouro de seu país. Ela não poderia influenciar demagogos que não se importam com nada exceto com o sucesso nas próximas eleições e que não se preocupam minimamente com o que acontecerá depois de amanhã. Mas são exatamente essas pessoas que se tornaram soberanas nesse tempo de guerras e de revoluções. A despeito de todos os ensinamentos dos economistas, a inflação e a expansão de crédito foram erguidas ao posto de primeiro princípio de política econômica. Quase todos os governos estão agora comprometidos com gastos irresponsáveis e financiam seus déficits emitindo quantidades adicionais de papel-moeda não-resgatáveis e com expansões creditícias ilimitadas.
Os grandes economistas foram arautos de novas ideias. As políticas econômicas que eles recomendavam discrepavam das políticas praticadas por governos contemporâneos e por partidos políticos. Por via de regra, muitos anos, até mesmo décadas, passavam antes que a opinião pública aceitasse as novas ideias transmitidas pelos economistas e antes que as necessárias mudanças correspondentes nas políticas fossem efetuadas.
Tudo foi diferente com a “nova economia” de Lord Keynes. As políticas que ele defendia eram exatamente aquelas que quase todos os governos, inclusive o inglês, já haviam adotado muitos anos antes de sua Teoria geral ser publicada. Keynes não foi um inovador e defensor de novos métodos de gerir assuntos econômicos. Sua contribuição consistiu, na verdade, em oferecer uma justificação visível às políticas que eram populares entre aqueles no poder apesar do fato de todos os economistas verem-nas como desastrosas. Seu feito foi racionalizar as políticas já praticadas. Ele não foi um “revolucionário”, como alguns de seus adeptos chamavam-no. A “revolução keynesiana” ocorreu antes de Keynes aprová-la e fabricar uma justificação pseudo-científica para ela. O que ele de fato fez foi escrever uma defesa das políticas prevalentes dos governos.
Isso explica o rápido sucesso do seu livro. Ele foi recebido entusiasticamente pelos governos e pelos partidos políticos dominantes. Um novo tipo de intelectuais foi particularmente arrebatado: os “economistas do governo”. Eles haviam sentido um peso na consciência. Eles estavam cientes do fato de que estavam executando políticas que todos os economistas condenavam como indesejáveis e desastrosas. Agora eles se sentiam aliviados. A “nova economia” restabeleceu seu equilíbrio moral. Hoje eles não se envergonham mais de ser o faz-tudo de políticas ruins. Eles se glorificam. Eles são os profetas do novo credo.
III
Os epítetos exuberantes que esses admiradores conferiram à sua obra não obscurecem o fato de que Keynes não refutou a Lei de Say. Ele a rejeitou emocionalmente, mas não apresentou um único argumento sustentável para invalidar seu fundamento lógico.
Keynes tampouco tentou refutar por meio de raciocínios discursivos as lições da economia moderna. Ele optou por ignorá-las, e isso foi tudo. Ele nunca enunciou qualquer palavra de crítica séria contra o teorema de que aumentar a quantidade de moeda não pode produzir nada exceto, por um lado, favorecer alguns grupos em detrimento de outros grupos, e, por outro lado, promover investimentos ruins e dissipação de capital. Ele se perdia completamente quando se tratava de apresentar qualquer argumento sólido para demolir a teoria monetária do ciclo de negócios. Tudo que ele fez foi reviver os dogmas auto-contraditórios das várias seitas do inflacionismo. Ele não acrescentou nada às suposições de seus predecessores, da antiga Birmingham School of Little Shilling Men à Silvio Gesell. Ele simplesmente traduziu seus sofismas — refutados uma centena de vezes — para a linguagem questionável da economia matemática. Ele ignorou todas as objeções que homens como Jevons, Walras e Wicksell — para citar apenas alguns — opunham às expansões dos inflacionistas.
O mesmo ocorre com seus discípulos. Eles pensam que chamar “aqueles que não conseguem comover-se admirados com o gênio de Keynes” de coisas como “idiotas” ou “fanáticos bitolados” [2] substitui o raciocínio econômico sólido. Eles acreditam que provaram sua tese repudiando seus adversários como “ortodoxos” ou “neoclássicos”. Eles revelam a mais extrema ignorância ao pensar que sua doutrina está correta porque é nova.
Na verdade, o inflacionismo á a mais antiga de todas as falácias. Era muito popular muito antes dos dias de Smith, Say e Ricardo, contra cujos ensinamentos os keynesianos não apresentam qualquer objeção exceto a de que são antigos.
IV
O sucesso sem precedentes do keynesianismo deve-se ao fato de que ele oferece uma justificação visível às políticas de “gastos deficitários” dos governos contemporâneos. É a pseudo-filosofia daqueles que não conseguem pensar em nada mais do que dissipar o capital acumulado pelas gerações anteriores.
Contudo, nenhuma expansão de autores, não importa quão brilhante e sofisticada, pode alterar as perenes leis econômicas. Elas são e funcionam e cuidam-se sozinhas. Não obstante todas as fulminações apaixonadas dos porta-vozes dos governos, as consequências inevitáveis do inflacionismo e do expansionismo, como retratadas pelos economistas “ortodoxos”, estão passando a ocorrer. E então, muitíssimo tarde, mesmo as pessoas simples descobrirão que Keynes não nos ensinou como operar o “milagre (…) de transformar a pedra em pão” [3], mas, sim, o procedimento nada milagroso de comer o milho para semear. [4]
Originalmente publicado na The Freeman, no dia 30 de outubro de 1950. Republicado com a permissão da Foundation for Economic Education.
Notas
[1] P. M. Sweezy em The New Economics, ed. por S. E. Harris, New York, 1947, p. 105.
[2] Professor G. Haberle, “The General Theory” em The New Economics, ibid., p. 161.
[3] Keynes, “Proposals for an International Clearing Union, em The New Economics, ibid, p. 332.
[4] Cf. Henry Hazlitt, The Failure of the New Economics, cap. 3 sobre “Keynes vs. Say’s Law”, pp. 32-43. Arlinton House, New Rochelle, New York, 1959.

SOBRE O AUTOR

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Ludwig von Mises foi o principal pensador da escola austríaca de economia.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ferguson vs Keynes: Economic (Im)Possibilities of Our Grandchildren - The Globalist

O site The Globalist retoma um bom debate. Primeiro ler, depois refletir, depois comentar...
Paulo Roberto de Almeida



Globalist Document > Global History
Niall Ferguson Vs. Keynes, the (Gay, Childless) Futurist


By John Maynard Keynes | Sunday, May 05, 2013

Harvard historian Niall Ferguson recently asserted that John Maynard Keynes was indifferent to the long-term consequences of deficit spending because Keynes was gay and childless — and thus didn't care about future generations. Ferguson apologized for his remarks. But he might not have made them in the first place if he had read — as you can below — Keynes' "Economic Possibilities for Our Grandchildren."


We are suffering just now from a bad attack of economic pessimism.
It is common to hear people say that the epoch of enormous economic progress which characterized the 19th century is over, that the rapid improvement in the standard of life is now going to slow down, that a decline in prosperity is more likely than an improvement in the decade which lies ahead of us.
Description: http://www.theglobalist.com/images/callouts/horizontal.gif
I see us free to return to some of the most sure and certain principles of religion and traditional virtue: that avarice is a vice, that the exaction of usury is a misdemeanor and the love of money is detestable.
Description: http://www.theglobalist.com/images/callouts/horizontal.gif
I believe that this is a wildly mistaken interpretation of what is happening to us.
We are suffering not from the rheumatics of old age, but from the growing pains of over-rapid changes, from the painfulness of readjustment between one economic period and another.
The increase of technical efficiency has been taking place faster than we can deal with the problem of labor absorption. The improvement in the standard of life has been a little too quick.
The prevailing world depression, the enormous anomaly of unemployment in a world full of wants, the disastrous mistakes we have made, blind us to what is going on under the surface to the true interpretation of the trend of things.
For I predict that both of the two opposed errors of pessimism, which now make so much noise in the world, will be proved wrong in our own time — the pessimism of the revolutionaries who think that things are so bad that nothing can save us but violent change, and the pessimism of the reactionaries who consider the balance of our economic and social life so precarious that we must risk no experiments.
For the moment, the very rapidity of these changes is hurting us and bringing difficult problems to solve. We are being afflicted with a new disease of which some readers may not yet have heard the name, but of which they will hear a great deal in the years to come — namely, technological unemployment.
This means unemployment due to our discovery of means of economizing the use of labor outrunning the pace at which we can find new uses for labor.
But this is only a temporary phase of maladjustment. All this means in the long run is that mankind is solving its economic problem. I would predict that the standard of life in progressive countries 100 years hence will be between four and eight times as high as it is today.
There would be nothing surprising in this even in the light of our present knowledge. It would not be foolish to contemplate the possibility of far greater progress still.
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I would predict that the standard of life in progressive countries 100 years hence will be between four and eight times as high as it is today.
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Now it is true that the needs of human beings may seem to be insatiable. But they fall into two classes — those needs which are absolute in the sense that we feel them whatever the situation of our fellow human beings may be, and those which are relative in the sense that we feel them only if their satisfaction lifts us above, makes us feel superior to, our fellows.
Needs of the second class, those which satisfy the desire for superiority, may indeed be insatiable. For the higher the general level, the higher still are they. But this is not so true of the absolute needs. A point may soon be reached, much sooner perhaps than we are all of us aware of, when these needs are satisfied in the sense that we prefer to devote our further energies to non-economic purposes.
Thus, for the first time since his creation, man will be faced with his real, his permanent problem — how to use his freedom from pressing economic cares, how to occupy the leisure, which science and compound interest will have won for him, to live wisely and agreeably and well.
The strenuous purposeful money-makers may carry all of us along with them into the lap of economic abundance. But it will be those peoples who can keep alive, and cultivate into a fuller perfection, the art of life itself and do not sell themselves for the means of life, who will be able to enjoy the abundance when it comes.
Yet there is no country and no people, I think, who can look forward to the age of leisure and of abundance without a dread. For we have been trained too long to strive and not to enjoy.
It is a fearful problem for the ordinary person, with no special talents, to occupy himself, especially if he no longer has roots in the soil or in custom or in the beloved conventions of a traditional society. To judge from the behavior and the achievements of the wealthy classes today in any quarter of the world, the outlook is very depressing!
For these are, so to speak, our advance guard — those who are spying out the promised land for the rest of us and pitching their camp there. For they have most of them failed disastrously, so it seems to me — those who have an independent income but no associations or duties or ties — to solve the problem which has been set them.
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Avarice and usury and precaution must be our gods for a little longer still. For only they can lead us out of the tunnel of economic necessity into daylight.
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I feel sure that with a little more experience we shall use the new-found bounty of nature quite differently from the way in which the rich use it today, and will map out for ourselves a plan of life quite otherwise than theirs.
For many ages to come, the old Adam will be so strong in us that everybody will need to do some work if he is to be contented. We shall do more things for ourselves than is usual with the rich today, only too glad to have small duties and tasks and routines.
But beyond this, we shall endeavor to spread the bread thin on the butter — to make what work there is still to be done to be as widely shared as possible. Three-hour shifts or a 15 hour week may put off the problem for a great while. For three hours a day is quite enough to satisfy the old Adam in most of us!
There are changes in other spheres too which we must expect to come. When the accumulation of wealth is no longer of high social importance, there will be great changes in the code of morals.
We shall be able to rid ourselves of many of the pseudo moral principles which have hagridden us for 200 years, by which we have exalted some of the most distasteful of human qualities into the position of the highest virtues.
We shall be able to afford to dare to assess the money motive at its true value. The love of money as a possession — as distinguished from the love of money as a means to the enjoyments and realities of life — will be recognized for what it is, a somewhat disgusting morbidity, one of those semi-criminal, semi-pathological propensities which one hands over with a shudder to the specialists in mental disease.
All kinds of social customs and economic practices, affecting the distribution of wealth and of economic rewards and penalties, which we now maintain at all costs, however distasteful and unjust they may be in themselves, because they are tremendously useful in promoting the accumulation of capital, we shall then be free, at last, to discard.
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A point may soon be reached when these needs are satisfied in the sense that we prefer to devote our further energies to non-economic purposes.
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Of course, there will still be many people with intense, unsatisfied purposiveness who will blindly pursue wealth — unless they can find some plausible substitute. But the rest of us will no longer be under any obligation to applaud and encourage them.
I see us free, therefore, to return to some of the most sure and certain principles of religion and traditional virtue: that avarice is a vice, that the exaction of usury is a misdemeanor and the love of money is detestable, that those walk most truly in the paths of virtue and sane wisdom who take least thought for the morrow.
We shall once more value ends above means and prefer the good to the useful. We shall honor those who can teach us how to pluck the hour and the day virtuously and well, the delightful people who are capable of taking direct enjoyment in things, the lilies of the field who toil not, neither do they spin.
But beware! The time for all this is not yet. For at least another 100 years we must pretend to ourselves and to everyone that fair is foul and foul is fair; for foul is useful and fair is not.
Avarice and usury and precaution must be our gods for a little longer still. For only they can lead us out of the tunnel of economic necessity into daylight.
I look forward, therefore, in days not so very remote, to the greatest change which has ever occurred in the material environment of life for human beings in the aggregate. But, of course, it will all happen gradually, not as a catastrophe.
Indeed, it has already begun. The course of affairs will simply be that there will be ever larger and larger classes and groups of people from whom problems of economic necessity have been practically removed.
The critical difference will be realized when this condition has become so general that the nature of one's duty to one's neighbor is changed. For it will remain reasonable to be economically purposive for others after it has ceased to be reasonable for oneself.
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The increase of technical efficiency has been taking place faster than we can deal with the problem of labor absorption. The improvement in the standard of life has been a little too quick.
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The pace at which we can reach our destination of economic bliss will be governed by four things: our power to control population, our determination to avoid wars and civil dissensions, our willingness to entrust to science the direction of those matters which are properly the concern of science, and the rate of accumulation as fixed by the margin between our production and our consumption — of which the last will easily look after itself, given the first three.
Meanwhile there will be no harm in making mild preparations for our destiny, in encouraging, and experimenting in, the arts of life as well as the activities of purpose.
But, chiefly, do not let us overestimate the importance of the economic problem, or sacrifice to its supposed necessities other matters of greater and more permanent significance.
It should be a matter for specialists — like dentistry. If economists could manage to get themselves thought of as humble, competent people, on a level with dentists, that would be splendid!
Editors note: This Globalist Document is excerpted from John Maynard Keynes' "Economic Possibilities for Our Grandchildren," published in 1931 in "Essays in Persuasion."

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